1961 - Fleury - o Livro Didatico
1961 - Fleury - o Livro Didatico
1961 - Fleury - o Livro Didatico
DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
SUMARIO
Págs.
Editorial 3
Estudos e debates:
ABREU, J a i m e — A n a c r o n i s m o educacional da classe d o m i n a n t e brasileira 6
FREIRE, P a u l o — Escola p r i m á r i a p a r a o Brasil 15
Góis, P a u l o de — A investigação cientifica: dever social da Universidade 34
LOURENÇO P I L H O , M. B. — A educação e os estudos pedagógicos no Brasil 52
Documentação:
X X I I I Conferência I n t e r n a c i o n a l de I n s t r u ç ã o Pública 67
Discurso do Prof. F e r n a n d o de Azevedo assumindo a Sec. de E d u c a ç ã o
da P r e f e i t u r a de S. P a u l o 83
U m a a u l a de ciências n a t u r a i s — A b g a r R e n a u l t 90
F i n a n c i a m e n t o do ensino p r i m á r i o — Carlos Correia Mascaro e comen-
tários de J a i m e Abreu 95
Universidade do T r a b a l h o 107
INFORMAÇÃO DO P A Í S 112
ANÍSIO TEIXEIRA
Diretor do INEP
Estudos e debates
JAIME ABREU
Do C . B . P . E .
PAULO FREIRE
Da Universidade do Recife
PAULO DE GÓIS
Da Universidade do Brasil
LOURENÇO FILHO
professor Emérito da Univ. do Brasil
CONDIÇÕES G E R A I S D O D E S E N V O L V I M E N T O EDUCACIONAL
CONCLUSÃO
RECOMENDAÇÃO N.° 50
A Conferência,
considerando o interesse que a questão dos programas de
estudo despertou nos organismos internacionais de educação e
notadamente na comissão consultiva internacional dos programas
escolares instituída pela Organização das Nações Unidas para
Educação, a Ciência e a Cultura;
considerando a Recomendação n.° 46, aos Ministérios de Ins-
trução Pública, relativa à elaboração e à promulgação dos pro-
gramas do ensino primário, adotada em 15 de julho de 1958
pela Conferência Internacional de Instrução Pública, reunida em
sua vigésima primeira sessão;
considerando que a crise de crescimento, que atravessa o
ensino do curso secundário, impõe, além das modificações de
estrutura, ordenação dos planos de estudo e dos programas esco-
lares em função das diversas necessidades verificadas no plano
nacional e internacional;
considerando que, em vista das informações submetidas à
Conferência pelos Ministérios da Instrução Pública, mais da me-
tade dos países acham-se atualmente empenhados em trabalhos
de elaboração ou revisão dos programas do ensino secundário;
Transcrito do Bulletin du Bureau International d'Education, n.º 136, em
tradução da P r o f Marta de Albuquerque.
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
RECOMENDAÇÃO N.° 51
A Conferência,
considerando os princípios já enunciados pela Conferência
Internacional de Instrução Pública sobre a organização do ensino
especial em sua 7. a Recomendação, adotada em quatorze de julho
de mil novecentos e trinta e seis, em sua quinta sessão;
considerando que o direito à educação, proclamado pela Decla-
ração Universal dos Direitos do Homem, aplica-se a todos os
indivíduos, que dela se podem beneficiar, inclusive os menos
dotados;
considerando que a idéia do ensino obrigatório para todos é
universalmente aceita e que já é aplicada em numerosos países;
considerando a desvantagem econômica, social e cultural que
representa para um povo a existência em seu meio de deficientes
mentais, em número apreciável, muitos dos quais poderiam tor-
nar-se elementos úteis se fossem convenientemente educados;
considerando que se deve tirar proveito das aptidões indi-
viduais demonstradas por uma criança débil mental, com o obje-
tivo de encaminhar sua educação;
considerando que, graças aos progressos alcançados pela
medicina, pela psicologia da criança e pela pedagogia clínica,
existem meios de identificar as crianças que sofrem de deficiên-
cia mental, e de promover sua formação por métodos baseados
na diferenciação e na individualização do ensino;
considerando que a aplicação de métodos de educação dife-
renciada não deve implicar a segregação completa da comuni-
dade infantil, que tem necessidade de participar da vida em co-
mum para nela vir a integrar-se e que o professor avisado pode
tirar partido desta situação, suscitando nas crianças dotadas
de aptidões diversas atitudes que favoreçam melhor compreensão
mútua;
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
READAPTAÇÃO
ADMINISTRAÇÃO E CONTROLE
PESSOAL
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
— Terça-feira.
— não. Segunda-feira. E por quê?
— Come-se mais no domingo e bebe-se mais água na 2. a -
feira.
— não. Você aí, Tom.
— Porque... todos saem de casa e a s s i m . . .
— Nada disso. Se ninguém sabe, vou logo dizer porque a
campainha já vai bater. Por que é, Master Dana? Diga.
— Por que há pratos mais sujos para lavar na 2. a -feira.
— não. Vocês não são capazes mesmo de descobrir. É
porque 2. a -feira é dia de lavar roupa em todas as casas de
Chicago.
FINANCIAMENTO DO ENSINO PRIMÁRIO
QUADRO I
Em Cr$ 1.000,00
Exercidos Impostos Sec. Ensino E. Prim.
Educação Primário
S. Educ.
1920 74.782 24.07S 18.923 78,6
1930 332.192 79.214 61.309 77,4
1940 561.700 142.288 98.180 69,0
1950 4.159.950 835.068 731.771 87,6
1960 69.446.950 9.878.888 6.672.049 67,5
QUADRO II
índices de Crescimento Nominal das Receitas de Impostos e Despesas
da Secretaria da Educação e Ensino Primário
Exercidos Impostos Secretaria Ensino
Educação Primário
1920 100 100 100
1930 444 329 324
1940 751 591 519
1950 5.563 3.468 3.867
1960 92.866 41.029 35.259
QUADRO III
Relação percentual entre Despesas com Ensino
Primário e Receita de Impostos.
Impostos
1920 25,39
1930 18,45
1940 17,47
1950 17,59
1960 9,60
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
QUADRO IV
QUADRO VI
Confronto entre os índios de crescimento real da arrecadação de
Impostos, das despesas e matricula efetiva do ensino primário
ENSINO PRIMÁRIO
Exercícios Impostos Despesas Matrícula
1940 100 100 100
1950 186 188 150
1960 935 294 321
II
JAIME ABREU
O Presidente da República, usando das atribuições que lhe confere o artigo 87,
inciso I. da Constituição Federal, decreta:
Art. 1.° Fica instituída, junto ao Gabinete Civil da Presidência da República, a
Comissão Executiva da Universidade Nacional do Trabalho.
§ 1.° Incumbem à Comissão Executiva providências para constituir a Fundação
Universidade Nacional do Trabalho, e, até sua organização definitiva, planejar e ministrar,
diretamente ou mediante convênios, em caráter experimental e na forma deste decreto,
todos os serviços, docentes e de pesquisas, a que ela deverá devotar-se.
§ 2.° A Comissão Executiva gozará de plena autonomia para a experimentação
de novos currículos e novos regimes didáticos para os cursos técnicos de nível superior,
mas lhe será vedado conferir diplomas que assegurem prerrogativas legais em cursos
de duração menor que a mínima estatuída na legislação vigente.
Art. 2.° São atribuições da Comissão Executiva:
a) assegurar, precipuamente aos jovens trabalhadores, maiores oportunidades de
estudo e acesso aos cursos de nível superior, visando formação tecnológica e espe-
cialização profissional que o atual regime não proporciona;
b) formar e aperfeiçoar a mão-de-obra qualificada necessária para incremento da
produção, mediante ampliação e eventuais modificações no sistema nacional do ensino
médio;
c) formar técnicos em nível superior capazes de atender à diversificação do
mercado de trabalho, exigida pelo desenvolvimento econômico do País.
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
Jânio Quadros
Oscar Pedroso Horta
Brígido Tinoco
Castro Neves
Artur Bernardes Filho
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
DECRETO DE 23 DE M A I O DE 1961
Designar
II
O ensino na nova Universidade visa, por um lado, facultar aos jovens brasileiros
um padrão de vida mais alto e, por outro, assegurar â indústria nacional a necessária
mão-de-obra qualificada, que possa conduzir e dinamizar todo o sistema de produção
nacional.
O empirismo e a importação da mão-de-obra estrangeira, muito onerosa aos
investidores nacionais, já chegaram ao limite extremo e impatriótico, porque deixam
em desigualdade o operariado brasileiro.
somente um novo sistema de formação profissional poderá atender a essas neces-
sidades, em substituição às escolas de moldes tradicionais que, superadas pela própria
Revolução Industrial que se processa, foram incapazes de se adaptar às novas solicitações
e exigências do mercado de trabalho. Acresce, ainda, o aspecto negativo do atual
sistema de educação, que discrimina oportunidades, favorecendo apenas parcela redu-
zida da mocidade brasileira, que consegue, vencendo dificuldades de toda natureza,
ingressar no ensino superior.
Anualmente, 14 mil jovens brasileiros se candidatam às escolas de engenharia, e
só são aproveitados 2 500. O ensino técnico superior que será ministrado na Univer-
sidade do Trabalho, onde serão aproveitados os excedentes, nSo é uma experiência
nova; existe nos países industrializados como a Inglaterra, os Estados Unidos e a
União Soviética.
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
OPORTUNIDADES IGUAIS
TRÊS "CAMPUS" EM 62
FORMAÇÃO DE professores
ENTIDADES MANTENEDORAS
A Universidade será mantida por uma fundação, criada pelo Governo e que rece-
berá recursos da indústria e do comércio, maiores beneficiários da instituição Farão
parte de sua direção representantes da Confederação Nacional da Indústria, da Con-
federação Nacional do Comércio e dos trabalhadores, indicados por seus órgãos de
classe. A formação, como se vê, é efetivamente democrática, propiciando o entendi-
mento das classes patronais, nesse esforço do Governo para atingir a meta homem.
A Universidade não pretende substituir ou destruir instituições existentes; ela
tem a força de uma instituição nova, oriunda da própria realidade brasileira, na luta
contra o subdesenvolvimento, É um passo além do trabalho que realizam, por exemplo,
SENAI e SENAC. O apoio e a determinação do Presidente Jânio Quadros para a
consecução desse plano são os fatores de maior estímulo para os membros da comissão
que o estudou e a própria antecipação do êxito da Universidade.
INFORMAÇÃO DO PAÍS
10. — E x i g ê n c i a em relação às
escolas s u p e r i o r e s p a r t i c u l a r e s de
condições p a t r i m o n i a i s e bem assim I I I SIMPÓSO D E O R I E N T A Ç Ã O
de r e n d a p a r a o regular funciona- EDUCACIONAL
m e n t o de seus cursos.
Promovido pela CADES, reuniu-se
11. — Adoção de exame de E s - em Recife de H a XI de janeiro
t a d o p a r a os p o r t a d o r e s de diplomas
do corrente ano, com a participa-
de curso profissional de nível supe-
ção de orientadores, professores
rior, devendo esse exame ser reali-
e inspetores do ensino secundário,
zado p e r a n t e órgãos disciplinados da
aprovando para cada tema rela-
classe à m e d i d a que t a i s ó r g ã o s
tado estas conclusões:
s e i n s t i t u a m p a r a c a d a classe e m
50% das unidades federadas.
12. — Racionalização dos servi- 1 — Tema: A ORIENTAÇÃO EDUCACIO-
ços de educação de m a n e i r a a impe- NAL E A ESCOLA
dir que q u a l q u e r interferência de
política p a r t i d á r i a ou de o r d e m reli- a) Corpo Docente.
giosa prejudique os interesses do en-
sino. 1) — Os professores que a p r e s e n t e m
dotes propícios â O r i e n t a ç ã o
13. — O p o d e r público não pode
a b d i c a r dos seus deveres de a d m i - E d u c a c i o n a l poderão d a r s u a
n i s t r a r o ensino e a educação que colaboração:
g a r a n t e m a p r ó p r i a unidade nacional. a) como conselheiros (regen-
14. — O dinheiro público só po- tes, monitores, etc.) de t u r -
de s e r aplicado na m a n u t e n ç ã o e no m a s , d e v i d a m e n t e escolhi-
desenvolvimento da escola pública. dos e p r e p a r a d o s ;
Os auxílios oficiais dados aos estabe-
b) incumbindo-se de c e r t a s
lecimentos p a r t i c u l a r e s d e v e r ã o ser
t a r e f a s auxiliares d o S . O .
exclusiavmente fornecidos pelos ins-
E . , especialmente ativida-
t i t u t o s de crédito oficiais, tais como
B a n c o do Brasil, Banco do E s t a d o , des extraclasses;
Caixas Econômicas e outros, de acordo com as c) servindo de contato h u m a -
n o r m a s vigentes nessas no propício ao a j u s t a m e n t o
instituições. do a l u n o ;
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
Espera o Prof. Lauro que somente tes e livros de texto (quando há),
um treinamento assim tão real será e memorizam inutilmente definições,
capaz de dar à escola normal seu classificações, leis etc.
verdadeiro sentido de profissionali- Acreditamos que nesse ponto re-
zação definida que a deve caracte- sidirá a grande dificuldade para a
rizar. execução da reforma: professores
2. Afigura-se-nos muito reco- capazes de orientar com segurança
mendável a estruturação dos cursos suas alunas com vistas ao magisté-
em "departamentos" — de cultura rio primário. E, mais grave ainda,
geral, de fundamentos da educação, quando esses docentes são improvi-
de artes e técnicas — e também que sados: o médico que leciona Anato-
os planos de curso se desenvolvam mia Humana, o pároco que leciona
à base de "unidades de trabalho" ou Sociologia ou Português. Todos to-
"unidades profissionais", mediante talmente desvinculados da escola
observação sistemática, leitura, de- primária.
bates, seminários, estágios, pesquisas Mesmo os diplomados por facul-
etc, tudo na linha de um legítimo dade de filosofia, geralmente não
treinamento — dentro — do traba- possuem nenhuma vivência com a
lho, no qual "dar aula" às alunas organização e problemática da esco-
da Escola Normal não tem pratica- la primária.
mente mais sentido, uma vez que o Por isso, nossas escolas de for-
ensino deverá ser vitalizado por uma mação (alguns já dizem que elas são
vivência da realidade da escola pri- de deformação...) do professor pri-
mária, com o caráter eminentemen- mário não têm o menor sentido de
te prático, funcional, objetivo de in- "profissionalização", que as deveria
tegração profissional do futuro professor identificar por excelência, transfor-
primário. madas hoje em meros "anexos" a
3. Somos de parecer que o ginásios, simples escolas de "forma-
maior óbice para a execução da Re- ção geral para moças" e de objetivos
forma do ensino normal do Ceará propedêuticos a escolas superiores,
residirá nos professores que lecio- especialmente faculdades de filoso-
nam em suas escolas normais, que fia, nas quais domina a discrimina-
não hão de ser muito diferentes da ção de disciplinas por séries, estuda-
generalidade dos professores dessas das isoladamente, sem nenhuma
escolas do restante do País. esses, articulação funcional ou correlação
ao lado da formação científica em com outras atividades, num estan-
nível universitário, devem possuir quismo dissociativo, impossibilitando
experiência anterior de magistério o clima de unidade do curso, a coe-
em escola primária, e hão de ser rência progressiva e aglutinadora da
capazes de reformular totalmente aprendizagem, que se resume, assim,
seu ultrapassado método de "aulas- num acervo heterogêneo e afinalís-
expositivas", monologadas, num res- tico de informações e conhecimentos
trito e exclusivo ensino oral, em que que as alunas devem "armazenar"
os alunos organizam os malfadados apenas para as provas e os exames.
"pontos", depois confrontam (ou 4. Um aspecto que ficou neces-
não) com o que está nos livros-fon- sariamente explícito na justificativa
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
A EDUCAÇÃO NA GUANABARA'
Entrevistado pela imprensa carioca, A situação educacional no Esta-
o Prof. Darci Ribeiro abordou a do da Guanabara melhorou sensivel-
situação do ensino no Estado da mente nos últimos meses, em primei-
Guanabara e suas implicações na ro lugar porque há um Secretário
elaboração do texto constitucional de Educação que se tem revelado
promulgado em março do corrente muito atento. As medidas iniciais
ano. Apresentamos o teor desse são promissoras, entretanto, isto é
pronunciamento: muito pouco diante do que precisa
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
195 milhões, total que a equipara à tarefas exigidas pelos novos sistemas
União Soviética, calcula-se que che- econômicos e sociais e pela melho-
gue a 400 milhões em 1980. não ria e expansão intensiva das insti-
sendo iniciada já uma ação coorde- tuições de educação superior.
nada, esse aumento de população Oitenta milhões de latino-ameri-
tornará ainda mais precário o nivel canos são analfabetos, dezenove mi-
de vida atual que, para milhões de lhões de crianças em idade escolar
latino-americanos, se expressa no
não podem freqüentar as escolas,
rendimento anual inferior a 70 dóla-
apenas 2.500.000 alunos matriculam-
res por pessoa. não obstante isso
se no curso secundário (12.500.000
tudo, trata-se de região bem provida
alunos freqüentam escolas secundá-
em recursos humanos e naturais,
rias em nosso país) o qual se des-
dispondo ainda de considerável po-
tencial econômico. tina, quase de maneira exclusiva, a
preparar candidatos à Universidade.
Estudos ultimamente realizados Em toda a América Latina, apenas
confirmaram existir definida relação 500.000 estudantes freqüentam as ins-
entre o desenvolvimento econômico tituições de educação superior. Para
de um país e o seu sistema educa- um número correspondente de habi-
cional. Aproximadamente cem mi-
tantes, temos quase 4.000.000 de es-
lhões de dólares do crédito solicitado
tudantes!
destinam-se â educação e treinamen-
to dentro desse programa, dando-se A tarefa a realizar é imensa.
destaque à autodeterminação, seja Aos Estados Unidos compete entrar
na construção de escolas em peque- já em ação. não podemos admitir
nas comunidades, treinamento de que outra "Cuba" com 200, mais
professores, ampliação de bibliotecas tarde com 400 milhões de habitantes,
centrais ou na construção de labora- grite "Ianques não!" desde o Rio
tórios em universidades. Nós, que Grande até a Terra do Fogo.
trabalhamos no campo da educação
particular, já estamos colaborando
em diversos programas desse gênero, A EDUCAÇÃO NA CHINA
embora de âmbito restrito, com re-
sultados animadores. O dr. Kurt Mendelssohn, cientis-
ta britânico, expõe, em artigo em
Torna-se evidente que, se os paí-
The New Scientist (10/11), as con-
ses da América Latina precisam dis-
dições da ciência na China. desse
por de sistemas econômicos e polí-
artigo retiramos alguns trechos que
ticos viáveis e equilibrados, devem
se referem, especificamente, às opor-
contar com líderes educados e habili-
tunidades oferecidas pela jovem Re-
tados. E esses líderes só podem sur-
pública Popular nos diversos graus
gir pela ampliação dos fundamentos
do ensino:
educacionais obtidos na escola ele-
mentar, pelo desenvolvimento de Em 191/9, possuía a China SOO
oportunidades vocacionais e técnicas, instituições de ensino superior, em
na escola secundária, de forma que grande parte desmanteladas, quando
os jovens realizem treinamento nas não desertas, em conseqüência da lu-
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
De modo que o nosso aluno sai desta nossa escola não apenas abso-
lutamente jejuno quanto às grandes questões controvertidas de nosso tempo,
em torno às quais lhe exigem opções para as quais não está preparado,
como também em relação às mais comezinhas noções de cidadania, direitos
civis, economia, organização política, conhecimento do meio etc.
Terá ouvido para exame e esquecido depois, detalhes eruditos sobre a
Tasmânia, sobre Felipe da Macedônia, ou sobre exceções à quarta declina-
ção latina, mas o que não é da escola é falar-lhe e esclarecer-lhe sobre os
problemas reais de seu tempo, de sua terra e de sua vida.
esforços no sentido de ministrar-lhe noções introdutórias de cidadania,
economia, direito usual etc, integradas com estudos históricos e geográficos,
sob a forma de "Estudos Sociais", nas séries iniciais do curso médio, onde
é um despropósito a tentativa de se introduzir um pretenso início de espe-
cialização em geografia e história, têm malogrado sistematicamente por
oposição decorrente do prevalecimento de uma deformação profissional de
especialistas, sem sentido educativo.
E assim transita o nosso aluno, por nossa escola, com sete longos
anos compulsórios de latim, de geografia descritiva, história de memoriza-
ção, sem sequer ser iniciado na abordagem de problemas que vão constituir
os pequenos e grandes temas imediatos de sua vida de cidadão.
Se nos Estados Unidos da América do Norte, país onde a tecnologia,
a ciência, o desenvolvimento chegaram ao nível que conhecemos e onde os
"Estudos Sociais" são ministrados na escola da forma sistemática que
sabemos, ainda se apuram as gritantes falhas na concepção do que deve
ser uma cidadania democrática, como aquelas aqui referidas, imaginem-se
os danos que a defecção de nossa escola em cuidar do assunto estarão
produzindo entre nós, no clima do nosso subdesenvolvimento, e a geratriz
de incompreensões, equívocos, confusões e tensões sociais que esta deserção
da escola estará representando!... — (Correio do Senac, Rio).
A ESCOLA EM ISRAEL
OTA GINZ e KIRJAT JAM
Nada menos exato. Dewey começou a sua vida profissional como edu-
cador prático. Foi professor e diretor de escola e, precisamente, nos pro-
blemas que então defrontou, é que veio a elaborar hipóteses diretamente
relacionadas com a aprendizagem e a experiência que já no trabalho escolar
procurou validar. Só depois é que as propôs em sistemas interpretativos
mais amplos ou de caráter propriamente filosófico. Claro que, então, por
implicações de diversa natureza, grande trama de idéias veio a refletir-se no
pensamento pedagógico, por via dedutiva. Mas, o trabalho inicial foi indu-
tivo, da ação intencional de educar para as razões que a expliquem, não
ao inverso.
Note-se que, em seus primeiros trabalhos, nenhuma referência expressa
fêz à filosofia. Note-se também que, quando desta veio a tratar, sempre
fêz empenho em declarar que entre a educação e a elaboração filosófica
via estritas relações de interdependência. O exame de alguns fatos permi-
tirá compreender essa posição, ou esse pressuposto metodológico, que jamais
deveria abandonar.
Os primeiros estudos de Dewey foram de psicologia experimental. De-
ve-se-Ihe uma das primeiras e mais claras demonstrações de que a unidade
a considerar, nesse dominio de estudos, não deveria ser, como então se
supunha, estados de consciência, ou reações. Deveria ser o "arco nervoso"
completo, isto é, uma situação estruturada, que envolvesse estimulação, con-
dução e resposta. A justo título, por esse e outros trabalhos, Dewey figura
entre os criadores da psicologia funcionalista, cujo pressuposto básico está
em considerar os fatos psicológicos em todo o seu conjunto dinâmico, como
instrumento de adaptação.
Ainda nessa fase inicial, Dewey tomou contato com Francis Wayrland
Parker, um dos precursores da renovação pedagógica nos Estados Unidos
com quem passou a trabalhar. Parker, que adotara as idéias de Herbart,
procurou nelas aprofundar-se, realizando estudos na Universidade de Berlim.
De regresso, foi chamado a dirigir uma escola normal em Chicago, onde
também, na Universidade, logrou obter a instalação de uma escola primária
experimental. Muitos atribuem a Dewey a criação dessa escola, o que não
é exato. O que êle fêz foi dar-lhe maior expansão e brilho, dirigindo-a por
vários anos.
Seu ponto de partida foi uma feliz associação dos princípios da psico-
logia funcional com os da pedagogia de Herbart. estes últimos traduziam-se
especialmente nestes pontos: a introdução de um modelo genético da didá-
tica, na feição de passos graduais ou formais, e um princípio dinâmico,
consubstanciado na noção do interesse do aluno. Certo é que tal noção
ainda não se havia desprendido dos moldes intelectualistas. Para Herbart,
o interesse seria certa propriedade de as idéias se ligarem umas às outras,
não ainda a impulsão das atividades, sua intensidade e continuidade.
O papel de Dewey foi, precisamente, proceder à elaboração desse cons-
tructo central, de tanta importância na elaboração da moderna pedagogia,
como depois na proposição de mais amplos modelos explicativos sobre o
conhecimento, a vida social e moral.
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
e nas crianças, como Schiller e Gross, por exemplo, definiam certos ele-
mentos mais tarde seriados numa compreensão evolutiva do jogo, ou brinquedo,
ao trabalho. Essa evolução, como Dewey anunciou, funda-se numa crescente
tomada de consciência dos propósitos definidos de cada indivíduo.
não será difícil verificar que esse mesmo esquema, construído e aper-
feiçoado no trato com os alunos da escola de Chicago, é que Dewey traba-
lhou no domínio da filosofia: "A atitude filosófica é geral no sentido
de que se opõe à consideração de uma coisa qualquer tomada isoladamente,
fora de seu encadeamento, o que é o mesmo que dizer fora de seu signi-
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO
ANTÔNIO PINTO DE CARVALHO
a filhos, mas é uma criação que cada geração tem de refazer desde a
principio, é uma essência que deve recrescer segundo as condições das
necessidades e dos problemas da vida social. Nada mais fútil e desanimador,
em face dos problemas sempre novos de ordem política e econômica, do
que voltar-se embevecido para soluções do passado. De nada vale a tra-
dição, se não fôr sempre de novo incorporada no esforço ativo de adapta-
ção às circunstâncias presentes. E que estas mudem sem trégua, declara-o
eloqüentemente a história dos últimos cem anos.
Ê costume associar à idéia de democracia a de liberdade de ação;
mas uma liberdade de ação que não suponha uma livre capacidade de pen-
samento é puro caos. Deve pois a educação, relativamente à democracia,
ter em conta e reforçar esses universais princípios de força espiritual.
Atualmente a escola parece não satisfazer de modo integral a esta sua
finalidade, tanto no que concerne ao mestre como no que se refere ao
escolar.
O mestre não tem maneira de tomar iniciativas ou de levar por diante
um esforço construtivo. não é consultado, nem escutado, naquilo que diz
respeito à escola, a livros de texto, a programas etc. Interessa, é claro,
a discussão inteligente e não a prescrição imposta a um corpo de gente
passiva quem sabe se por parte de um competente: esta é sempre res-
trição da inteligência e aprisionamento do espírito. não basta a prática
esporádica, que freqüentemente se observa, devida a iniciativas pessoais
dos diretores de escolas, ou, o que pior é, de burocratas de gabinete, que
porventura nunca se sentaram numa cátedra de aula, mas se julgam idôneos
para legislar em matéria de ensino. Nem se objete que muitos dos docen-
tes são porventura incapazes de tomar parte em tais discussões. Justamente,
o que se pretende é formá-los para isso e só há maneira de formá-los,
levando-os a participar em tarefas de responsabilidade.
O escolar encontra-se em condições que impedem, ou ao menos não
favorecerem, o desenvolvimento de suas faculdades mentais individuais e
da responsabilidade em se servir delas.
Esta é a natural conseqüência da imposição imoral, mais que antide-
mocrática, proveniente de uma instrução rigidamente fixa e imutável. com,
isto fica também excluído o trabalho da inteligência, que exige experiência,
problemas pessoais e imaginação que sugere as soluções.
Em confirmação do que dizemos, podemos citar as seguintes palavras
de Dewey: "Só existe educação plena, quando se verifica uma participação
responsável de toda a pessoa, proporcionada a sua capacidade, em dar forma
às aspirações e modos de Governo dos grupos sociais de que ela faz parte".
A título complementar, permita-se-nos fazer referência a uma interes-
sante polêmica, em que o mesmo Dewey tomou parte, acerca da atitude
que devem assumir os professores perante a luta de classe.1
terá que dizer a educação sobre os modos como deve ser efetuada a mudança
social? Pode acaso um educador aceitar os métodos violentos sem perder
toda a fé na educação?
De preferência, a partir de um conceito de classe, deve o educador
arrancar de um ponto-de-vista social que, enquanto não o obrigar a fechar
os olhos às injustiças presentes, não deve levá-lo a esquecer sua respon-
sabilidade na escolha dos meios da mudança social. Excluindo portanto
a posição marxista, a posição acima apontada repousa na confusão dos
dados do problema com a sua solução, na idéia de que basta "dar conta"
ou "adquirir consciência" das injustiças sociais para que por si fiquem
determinados a conduta política da educação e seus métodos. Aceitar, ao
invés, o ponto-de-vista social em lugar do ponto-de-vista da classe, significa
aceitar a idéia democrática como diretiva da ação educativa: uma coisa
é que os educadores devam participar no processo de transformação social
e outra coisa que tal participação seja determinada e guiada pelo con-
ceito de classe.
O ponto-de-vista democrático não é aquiescência apática, mas atividade
capaz de dirigir qualquer ação, incluindo a educativa. Por isso se evita
confundir a orientação para uma classe (que pode ser legítima) com a
orientação que deriva dos interesses de uma classe; neste caso, temos
idéias e valores limitados e portanto falsos, no outro caso, temos o senso
de um interesse social compreensivo. não se requer, por conseguinte, que
os educadores sejam neutros, mas que participem na luta pela reorganização
social sem esquecerem que o necessário é justamente a reorganização social,
empreendida no interesse de todos, e não de uma só classe. — (O Estado
de São Paulo.)
LIVRO DIDÁTICO
RENATO SÊNECA FLEURY
— fato que me faz lembrar as mães inglesas, ao tempo das Cruzadas (ate-
morizavam as crianças traquinas ou difíceis com o nome do rei Ricardo
Coração-de-Leão); ou me faz lembrar o famigerado "Cabeleira" a quem, na
época do governador José César de Meneses, as babás pernambucanas invo-
cavam com a intenção de fazer medo aos meninos levados:
PROJETOS EDUCACIONAIS