Psicologia Social e Comunitaria
Psicologia Social e Comunitaria
Psicologia Social e Comunitaria
IESDE BRASIL
2020
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2 Constituição do sujeito 25
2.1 Psicologia do desenvolvimento e a constituição do sujeito 25
2.2 Dimensões do sujeito 28
4 Sujeito e cultura 55
4.1 Representações sociais 55
4.2 Ideologia 61
4.3 Sociedade e cultura 64
4.4 Estereótipos, estigma e preconceito 67
• escolar/educacional;
• organizacional e do trabalho;
• de trânsito;
• jurídica;
• psicomotricidade;
• do esporte;
• clínica;
• hospitalar;
• psicopedagogia;
• social;
• neuropsicologia.
O aspecto social deve ser entendido como tudo aquilo que se refere
à vida coletiva e psicológica do indivíduo, atuando de modo determi- Atividade 1
nante sobre o comportamento individual e se inscrevendo no corpo e Discorra sobre o modo de
atuação da psicologia social e
psiquismo humano. Assim, se considera a complexidade envolvida na
comunitária.
construção de conhecimento e sua efetivação prática (CAMPOS, 2015).
Leitura
In: BOCK, A. M. B; GONÇALVES, M. G. G.; FURTADO, O. (orgs.). Psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica
em psicologia. São Paulo: Cortez, 2001.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, pudemos conhecer um pouco a trajetória da psicologia
e como ela se instituiu como ciência. É importante pensar que o ser huma-
no sempre se sentiu intrigado e procurou compreender a vida psíquica.
Por vezes, é comum buscar essa compreensão em caminhos diferentes
da psicologia científica e encontrar explicações e aconselhamentos em
fontes como misticismo, religião, astrologia, entre outros.
A psicologia teve seu processo de construção científica e, com isso, des-
cobriu muito sobre o ser humano e seu psiquismo. Diversas hipóteses foram
levantadas e, por meio de métodos científicos, foram elaboradas teorias.
REFERÊNCIAS
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Petrópolis: Vozes, 2001.
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perspectivas e desafios para a psicologia social. Petrópolis: Vozes, 2003.
LANE, S. T. M. Avanços da psicologia social na América Latina. In: LANE, S. T. M.; SAWAIA, B.
GABARITO
1. A atuação prática da psicologia social é condicionada ao contexto e às demandas so-
ciais, que variam. Sua aplicação ocorre em subáreas, como a psicologia comunitária,
ambiental/ecologia, do trabalho, da saúde, dos movimentos sociais, além de práticas
psicossociais específicas – por exemplo, direitos humanos, situações de emergência e
desastres, grupos de mulheres, populações em situação de rua, terceira idade etc. Os
trabalhos comunitários devem se efetivar com base em um levantamento das neces-
sidades e carências do grupo em questão, por exemplo, condições de saúde, educa-
ção e saneamento básico. Na sequência, há a utilização de métodos e processos de
conscientização no trabalho com os grupos populares, a fim de que os indivíduos se
apropriem progressivamente do seu papel de sujeitos ativos, conscientes e busquem
soluções para os problemas.
Constituição do sujeito 25
manidade. Desde o nascimento e por todo percurso da vida, nós nos
relacionamos socialmente com pessoas e grupos, bem como com con-
textos históricos e culturais.
Constituição do sujeito 27
criaturas físicas, cognitivas, sociais e emocionais; cada um desses com-
ponentes do “eu” depende parcialmente das mudanças que ocorrem
em outras áreas do desenvolvimento.
2.2.1 Identidade
Embora a ideia de identidade faça parte do nosso cotidiano – temos
até documentos instituídos, como o RG, que nos identifica como únicos
e diferentes –, não costumamos parar para refletir sobre isso. Para a
questão humana que jamais cessa – “quem sou eu”? –, as respostas,
sempre parciais, por vezes mutáveis, são incapazes de totalizar nosso
ser. Assim, vamos nos recobrindo de representações que nos referen-
ciam e trazem notícias sobre nós.
Constituição do sujeito 29
O conceito de personalidade remete a características classificá-
veis em categorias, desconsiderando, de certo modo, as variantes do
ambiente. Segundo Laurenti e Barros, a história social e singular do
indivíduo era considerada como um cenário para a manifestação de
comportamentos reconhecidos como habituais.
Constituição do sujeito 31
O processamento singular do que se apreende do meio, da cultura e
como se inscreve subjetivamente caracteriza nossa forma de interagir
e nos relacionarmos com os aspectos da vida.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-29072002000100003&lng=pt&nrm=iso
2.2.3 Afetividade
No ser humano, pensamentos, sentimentos, crenças, valores etc.
são entrelaçados no tecido da subjetividade; entre as dimensões do
sujeito, temos a complexa dimensão afetiva.
Constituição do sujeito 33
Agora que já entendemos que a afetividade se relaciona com a cog-
nição, podemos nos fazer a seguinte pergunta: como a afetividade se
constitui? A afetividade participa da constituição do sujeito. Como vi-
mos, o ser humano precisa ser amparado para viver, se desenvolver e
se humanizar. O amparo é fisiológico e afetivo, de maneira integrada e
simultânea, realizado por alguém que faz a função materna.
2.2.4 Consciência
Como vimos, a separação entre o individual e o social deve ser to-
mada apenas de maneira didática, pois, na verdade, as dimensões do
sujeito se articulam e interdependem umas das outras; a vida psíquica
se relaciona com a construção social. O sujeito deve ser sempre en-
tendido como ativo, como alguém que é influenciado, mas também
influencia seu entorno. Essa ideia é importante, também, para enten-
dermos a dimensão da consciência no sujeito.
Lane (2006) explica que, nos grupos nos quais se relaciona, o ser
humano se encontra com normas balizadoras, algumas podem ser
mais sutis e outras, mais rígidas. Essas normas caracterizam os pa-
péis e constituem as relações sociais. Além disso, os papéis sociais
acabam tendo a função de localizar o sujeito socialmente – o lugar
que ele o
cupa na sociedade.
Constituição do sujeito 35
Atividade 3 Nesse sentido, é importante compreender como esses conceitos
Comente a seguinte afirmativa: se relacionam, pois esse conjunto de papéis desempenhados pelo su-
“A consciência de si pode ser
jeito também constitui a identidade social, que passa pela consciência
compreendida como algo condi-
cionado à consciência social”. de si. Os papéis atendem à manutenção das relações sociais repre-
sentadas pelo o que os outros esperam de nós, com suas expectativas
e normas (LANE, 2006).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo da subjetividade é complexo e se estabelece por meio da
relação do indivíduo com a sociedade. A constituição do sujeito e seu pro-
cesso de desenvolvimento precisam da afetividade; trata-se de processos
necessários para possibilitar sua construção identitária, bem como para
que ele encare os papéis sociais e obtenha consciência social e de si.
É importante que o ser humano possa se apropriar de sua história. É
importante, também, que ele compreenda seus grupos sociais de uma
perspectiva mais ampla para que possa exercer sua cidadania e seu lugar
de sujeito ativo, capaz de operar transformações sociais.
REFERÊNCIAS
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fev. 2015. Disponível em: https://psicologado.com.br/atuacao/psicologia-social/nocao-de-
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BARBOSA, P. M. R. Representações de crianças sobre a relação afetiva com seus professores:
uma contribuição para compreensão do desejo de aprender. 2009. Dissertação (Mestrado
em Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009.
GABARITO
1. A construção da identidade se inicia com as relações que o sujeito começa a esta-
belecer. Com o avanço no desenvolvimento e a aquisição de mais experiências, as
relações sociais se ampliam e os papéis sociais mudam de acordo com o momento
vivido. Assim, é possível sustentar que a identidade é, também, uma construção social
e, por isso, algo mutável.
Constituição do sujeito 37
2. A subjetividade se refere ao singular do sujeito, mas, ao mesmo tempo em que se
caracteriza como um mundo interno, é totalmente interdependente do meio, isto é,
do mundo externo. O sujeito apreende ou subjetiva por meio da sua relação com o
mundo; a subjetividade, portanto, é composta por causas internas e externas, na qual
a maneira como o sujeito interpreta suas experiências e seu entorno se estabelece
com as relações sociais. A capacidade subjetiva nasce com a constituição do sujeito e
está vinculada a condições sócio-históricas.
3. É por meio do contato com o outro que é possível construir a noção da existência por
meio da diferenciação. Na relação com o outro, esse outro é significado e também sig-
nifica para que o “eu” possa se significar. Desde o início, por meio do seu contato com
aquele que encarna a função materna, o sujeito vive sucessivas diferenciações. Na inser-
ção social, são construídas a identidade, a subjetivação, a afetividade e a consciência de
si. Para ter consciência de si, é necessário consciência social e vice-versa.
3.1.1 Família
É consenso entre estudiosos que o primeiro grupo social do ser hu-
mano é a família. Para Fontana (2002), a família é o grupo mais impor-
tante ao longo de toda a infância, mesmo quando, em um segundo
momento, a escola passa a fazer parte da vida do indivíduo.
Segundo a autora, as famílias são consideradas espaços propícios para PASSOS, M. C. Mente & Cérebro, São
Paulo, Duetto Editorial, 2008.
a constituição psíquica e socialização do bebê e da criança.
3.1.2 Escola
Assim como a família, a escola representa um dos agentes socia-
lizadores do ser humano na forma como a sociedade se organiza na
contemporaneidade. Como vimos, as formas de estruturação familiar
se ampliaram e, além disso, o aumento da participação da mulher no
mercado de trabalho antecipou a ida das crianças à escola.
A escola é um ambiente social condições de trocas e interação. Além disso, ela proporciona o encon-
bastante importante. Com base tro com as diferenças e oportunidades de cooperação, permitindo aju-
nessa premissa, descreva qual é dar, compartilhar e fazer atividades individuais e grupais, de maneira
a função social da escola e como
ela se efetiva. que o aprendizado não se dê apenas por meio dos conteúdos, mas
também pelas relações sociais.
3.1.3 Trabalho
O trabalho ocupa grande parte da vida da maioria dos seres huma-
nos. Ele é importante não somente como forma de relacionamento e
socialização, mas também por ser capaz de sustentar, para o sujeito,
sua identidade, o sentimento de pertença, seu papel e sua inserção
social. Percebemos isso quando a profissão, assim como nosso local de
trabalho, é uma forma de apresentação social.
3.1.4 Comunidade
da psicologia organiza-
cional, de modo que o
leitor possa entender as
relações do trabalho, os Vamos iniciar nossas reflexões com a definição de comunidade, en-
aspectos relacionados à
comunicação, motivação, contrada em uma enciclopédia:
liderança, entre outros
1. Qualidade ou estado do que é comum. 2. Qualquer grupo so-
temas relevantes para
a ampliação do nosso cial cujos membros habitam determinada região têm o mesmo
conhecimento. governo e se irmanam cultural e historicamente. 3. Qualquer
REGATO, V. C. Rio de Janeiro: LTC, conjunto populacional considerado como um todo, em virtude
2005. de aspectos geográficos, econômicos e/ou culturais comuns.
A própria desigualdade social faz com que ela seja mantida, de modo
a se perpetuar. No âmbito da saúde, é possível nomear a desnutrição,
a alta mortalidade infantil e as doenças de maneira geral. Em virtude
da precariedade das habitações, é insustentável manter a saúde e as
condições de higiene básicas. No âmbito socioeconômico, é possível re-
A obra Crime: o social pela Concluímos, desse modo, que essas são as bases que devem sus-
culatra, embora escrita
tentar a atenção para os problemas comunitários em articulação com
antigamente, é bastante
atual. Nela, ao autores for- os problemas psicossociais específicos, como evasão escolar, violência
necem uma leitura crítica
familiar, abuso de substâncias, gravidez precoce, abuso sexual, traba-
e sociológica dos sujeitos
que possuem problemas lho infantil, adolescente em conflito com a lei, entre outros. Como vi-
com a lei. Uma leitura
mos, a intervenção se inicia com a identificação do problema e, com
fácil, fluída e de grande
conteúdo reflexivo. base nele, são promovidas reflexões, tomada de consciência, amparo
e construção de conhecimento. É necessário que sejam feitos encami-
MISSE, M.; MOTTA, D. Rio de Janeiro:
Edições Achiamé, 1979. nhamentos contextualizados, adequados ao problema levantado, com
a implicação dos sujeitos nas ações resultantes desse processo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A constituição do sujeito é um processo complexo que se inicia no
contato com a mãe (função materna) e se desenvolve na inserção do ser
humano em seu primeiro grupo social, a família. Esta se mostra inseri-
da em uma cultura com características de sua própria história, a qual é
transmitida de maneira significativa. O sentimento de pertença é capaz
de sustentar o sujeito como ser biopsicossocial, juntamente com algumas
garantias de segurança e afeto.
Na sequência, o ser humano é inserido em seu segundo grupo social,
que é a escola. Considerando a constante interação que ocorre em todas
as instâncias da vida, tanto a escola quanto a família se influenciam mu-
tuamente. A socialização que decorre da inserção da criança na vida esco-
lar marca significativamente seu desenvolvimento em todos os aspectos.
Mais tarde, o trabalho também ocupará um lugar importante na vida do
sujeito. Assim como a família e a escola, o trabalho carrega representações
que contribuem para a formação identitária e para o sentimento de pertença.
REFERÊNCIAS
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Campinas, 1997. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Faculdade de Educação
Física, Universidade Estadual de Campinas.
GABARITO
1. A família é o primeiro grupo social do ser humano. O cuidado e a socialização que a
família dispensa ao sujeito, mesmo antes do seu nascimento, o humaniza e o insere
em uma rede simbólica, na qual se articula a história familiar, assim como o contexto
sociocultural presente na sociedade em que passa a fazer parte.
3. O trabalho, além de ser uma forma de inserção social, tem importante função na vida do
ser humano. Ele contribui para nossa identidade social, para o sentimento de pertença
e para a autoestima, gerada pela vivência de se sentir capaz de ser produtivo. Nesse
sentido, o trabalho ocupa um lugar fundamental na vida e na história da humanidade.
Sujeito e cultura 55
Trata-se de uma maneira de o sujeito assimilar e significar a realidade
da vida cotidiana, ao mesmo tempo que ele participa da construção
dessa realidade. Para Moscovici (1978, p. 41), as representações sociais
“circulam, cruzam-se e se cristalizam incessantemente através de uma
fala, de um gesto, um encontro, em nosso universo cotidiano, [impreg-
nando] as relações sociais estabelecidas, os objetos produzidos ou con-
sumidos, as comunicações trocadas”.
Sujeito e cultura 57
Piaget e Vygotsky, referentes às atividades representacionais, e desta-
cou a importância das relações com o outro na produção de sentido, o
que favorece a aprendizagem (MOURA, 2004).
Abric (1995 apud SÁ, 2002, p. 64), explica que as “representações so-
ciais são o conjunto organizado de informações, atitudes, crenças que
um indivíduo ou um grupo elabora a propósito de um objeto, de uma
situação, de um conceito, de outros indivíduos ou grupos apresentan-
do-se, portanto, como uma visão subjetiva e social da realidade”.
Sujeito e cultura 59
Moura (2004, p. 70) explica que
essa ação realiza um movimento de familiarização com o real,
atribui sentido e organiza informações revelando que os indiví-
duos não são máquinas passivas para obedecer a aparelhos, re-
gistrar mensagens e reagir às estimulações exteriores, mas que
possuem a imaginação e o desejo de dar um sentido à sociedade
e ao universo a que pertencem.
Sujeito e cultura 61
Segundo Lipiansky (1991), a ideologia traduz posições e interesses,
especialmente de um grupo, o apresentando de modo a naturalizá-lo
como universais e comuns. Assim, essas posições e esses interesses
são validados como descrição e explicação da realidade.
Não podemos perder de vista que esses processos tem como pano
de fundo a intenção de manutenção do status quo (estado das coisas).
Karl Marx (1818-1883) foi outro teórico que estudou o conceito de ideo-
logia; para ele, o ideólogo inverte as relações entre o real e as ideias,
porque as ideias não são somente produzidas com base no real, pois
elas próprias criam a realidade. Chauí (2008) explica que a ideologia
foi inicialmente compreendida como uma ciência natural da aquisição
Sujeito e cultura 63
pectos relacionados à dominação, é importante distinguir relação de
dominação da relação de poder. Thompson (1995) esclarece que o
poder é uma competência individual, uma potência no trabalho, na
escrita e na fala e que todos os sujeitos o têm, em menor ou maior
grau, de acordo com sua singularidade. Já a dominação consiste em
uma relação capaz de desapropriar o poder, pois é imposta ao outro,
ainda que, por vezes, injustamente.
Lane (1994, p. 13) aponta que “a sociedade tem normas e/ou leis
que institucionalizam aqueles comportamentos que historicamente
vêm garantindo a manutenção desse grupo social”. Desse modo, em
cada sociedade haverá normas que regem as relações interpessoais;
essas normas caracterizam, também, os papéis sociais e suas relações.
A cultura pode ser lida por meio dos fenômenos e fatos sociais.
Para Weber (2004), o estudo da cultura na sociologia observa pa-
drões estabelecidos socialmente; um exemplo é a família, que se
institui e se regula por meio das leis que a formalizam – leis de
filiação, casamento, divórcio, adoção etc. Weber (2004) também
Sujeito e cultura 65
analisa as culturas que se regulam informalmente, por intermédio
da tradição; um exemplo são as sociedades indígenas, que geral-
mente não possuem sistemas burocráticos.
mem não chora”, “mulher é sensível”, bem como re- GOFFMAN, E. Rio de Janeiro: LTC, 2017.
Sujeito e cultura 67
Outra faceta dos estereótipos é que, de maneira geral, eles aca-
bam sendo determinados de acordo com características que não são
comuns à maioria das pessoas; dessa forma, os estereótipos frequen-
temente incidem sobre grupos específicos. Os traços característicos,
nesse caso, podem servir para uma manipulação da identidade do su-
jeito estereotipado (GOFFMAN, 1988).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo das representações sociais e da ideologia são importantes
para o entendimento do conceito de cultura. Representações sociais,
ideologias, estereótipos, estigmas e preconceitos são processos que de-
terminam as relações sociais; por essa razão, torna-se fundamental a
compreensão desses elementos.
As teorias nos ajudam a entender e subjetivar o conhecimento que
instrumentaliza a ação. É necessário que a psicologia social comunitária
Sujeito e cultura 69
intervenha a favor de melhorias nas relações sociais, de modo que mi-
nimize a exclusão social e o sofrimento causado por ela, que, de certa
forma, sustenta sua reprodução.
O preconceito, como a própria palavra explicita, é constituído por um
conceito prévio, anterior ao conhecimento. Pode ser considerado um re-
curso de leitura e interpretação simples, conforme visto no conceito de
estereótipo. Essa interpretação simples pode ser útil em alguns momentos,
contudo, se torna um grande problema quando sustenta a segregação e
a desigualdade social.
A educação é uma das formas de investimento nas transformações so-
ciais, pois é por meio da conscientização, da construção de pensamento
crítico e do desenvolvimento da autonomia que conquistamos a igualda-
de, conhecemos nossos direitos e cumprimos, também, nossos deveres.
REFERÊNCIAS
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DURKHEIM, E. Formas elementares da vida religiosa: o sistema totêmico na Austrália. São
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JODETET, D. Os processos psicossociais da exclusão. In: SAWAIA, B. As artimanhas da
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KANT, I. Crítica da faculdade do juízo. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002.
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LIPIANSKY, M. Representations sociales et idéologies. Analyses conceptuelles. In:
AEBISCHER, V. et al. (org.). Idéologie et Representations Sociales. Cousset: Del Val, 1991.
GABARITO
1. A teoria das representações sociais surge da articulação entre psicologia social, so-
ciologia e psicanálise. Um dos objetivos primordiais das representações sociais é
tornar familiar algo que, até então, era desconhecido, possibilitando, desse modo,
categorizar, classificar e nomear novas ideias e eventos com os quais não tínhamos
contato no passado. Além disso, ela permite o entendimento desses novos aconte-
cimentos por meio de valores, ideias e teorias anteriormente existentes, internaliza-
das por nós e aceitas pela sociedade. No processo que se permite a interiorização,
compreensão e manipulação de algo novo, vinculam-se teorias, valores e ideias já
existentes e aceitas pela sociedade.
2. Karl Marx demonstra que a ideologia é produzida por meio das relações socioeconô-
micas e das contradições que estão presentes na sociedade. Nesse sentido, estudá-la
consiste em entender e esclarecer as maneiras com que as simbologias são utilizadas
para a manutenção e implantação das relações de dominação entre as classes. As
ideologias dominadoras podem modificar os desejos e as necessidades daqueles que
a ela são submetidos, assim como naturalizar conceitos. Para que a ideologia seja
correspondente, é necessária sua apropriação para que sua visão seja reproduzida.
Sujeito e cultura 71
Em resumo, a ideologia responde de acordo com as necessidades cognitivas e psí-
quicas do indivíduo que lhe dá aprovação, pois nela encontra-se um modelo de
representação, de crença e de ação, no qual ela pode se manifestar e ter sua rela-
ção com o ambiente.
3. Podemos entender cultura como uma forma de manifestação social, fruto da história,
e de construção de conhecimentos, valores de vida, tradições e costumes relaciona-
dos a um povo. A cultura é uma maneira de entender o mundo e a existência do ho-
mem, englobando toda a produção de conhecimentos sobre a vida.
• ética da solidariedade;
• promoção das relações humanas;
• direitos humanos fundamentais;
• busca de justiça social;
• igualdade entre pares;
• defesa da cidadania;
• posicionamento democrático;
• compromisso ético e político.
Além desse olhar dirigido a cada sujeito – possível por meio do tra-
balho e para além das avaliações já citadas –, pensa-se na atuação na
realidade vivida dentro dos presídios. A psicologia pode contribuir para
Artigo
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/ssrevista/article/view/13751/12474
Dissertação
http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/11183/Artigo_MPGPP_FINAL.pdf?sequence
Artigo
https://psicologado.com.br/atuacao/psicologia-comunitaria/a-atuacao-do-psicologo-no-creas
Artigo
https://psicologado.com.br/atuacao/psicologia-comunitaria/a-praxis-do-psicologo-comunitario-desafios-e-possibilidades
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A atuação do psicólogo social e comunitário é complexa, pois deman-
da dos profissionais mais do que conhecimento e técnica, exige recursos
subjetivos para que eles possam cumprir seu papel sem restringi-lo à pro-
dução de laudos e relatórios. A intenção é que esse profissional não cor-
ra o risco de encarnar uma posição apenas avaliativa, que centraliza um
saber sobre as pessoas, pois a amplitude do trabalho se dá exatamente
no inverso, no sentido de que o profissional possa acolher o saber das
pessoas e da comunidade sobre elas mesmas para poder alcançá-lo e
interagir sobre ele.
Para que o trabalho nas comunidades seja possível, é preciso que o
psicólogo social e comunitário seja aceito por elas. Essa inserção é chan-
celada com a compreensão das diferenças e dos contextos históricos e
sociais das comunidades. Nesse sentido, sua postura é determinante.
REFERÊNCIAS
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