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ESTUDO TEÓRICO
ABSTRACT
Social representations are understood as the individual opinions constructed, reworked and
redeemed to a specific social object, influenced by the life story of each one. Its operation is based
on flavors built and shared socially, a version of reality according to the satisfaction and justification
of the needs, interests and values of the group that produced it. For the present research, a
bibliographic study was made with materials published by classic and contemporary authors about
the theoretical approaches of the Theory of Social Representations and the use of Content
Analysis as an instrument that supports the research in these approaches. The theoretical
approaches in Social Representations are: Cultural Approach (Sociogenetics) by Denise Jodelet,
Societal Approach by Willen Doise, and Structural Approach by Jean-Claude Abric.
1
Endereço eletrônico de contato: adriana.tome@gmail.com
Recebido em 15/05/2020. Aprovado pelo conselho editorial para publicação em 02/07/2020.
RESUMEN
1 INTRODUÇÃO
está apoiada na interação e comunicação nos grupos sociais, e as pesquisas buscam caracterizar
as influências recíprocas entre os indivíduos e os grupos sociais, permitindo a compreensão da
formação do pensamento social (Moscovici, 2007).
Etimologicamente, a palavra ‘representação’ deriva do latim ‘repraesentare’ – ‘fazer
presente’ ou ‘apresentar de novo’. Desta forma, pode-se conceituar a representação como o ato
de fazer presente uma ideia, coisa ou pessoa que esteja ausente fisicamente em determinado
contexto (Reis & Bellini, 2011).
Por meio da obra “A Representação Social da Psicanálise” (Moscovici, 2003) o autor lança
olhares para o conhecimento originado no senso comum, que frequentemente é percebido como
inferior em relação ao conhecimento científico, focando nos conhecimentos oriundos da vida e
relações individuais cotidianas, pois estes são capazes de construir uma compreensão própria
sobre determinado fenômeno, mesmo que este não seja de interesse do campo científico.
Moscovici (1978, p. 44) acreditava que as representações sociais são “umas das vias de
apreensão do mundo concreto”, pois estão presentes a todo momento na sociedade, tanto no
campo simbólico quando nas práticas cotidianas.
Segundo Santos e Ichikawa (2018) a representação social é um saber do senso comum, e
como objeto de estudo apresenta uma legitimidade quanto conhecimento científico. Sendo assim,
as representações podem se tornar senso comum; para Moscovici (2007, p. 8):
Rev. Psicol Saúde e Debate. Set., 2020:6(2): 97-117.
elas entram para o mundo comum e cotidiano em que nós habitamos e discutimos com
nossos amigos e colegas e circulam na mídia que lemos e olhamos. Em síntese, as
representações sustentadas pelas influências sociais da comunicação constituem as
realidades de nossas vidas cotidianas e servem como o principal meio para estabelecer as
associações com as quais nós nos ligamos uns aos outros.
O enfoque dado pela TRS não se encontra no reconhecimento da interação entre indivíduo
e meio social, mas no dinamismo desta relação, pois, a representação é uma construção do
indivíduo, porém sua origem e o seu destino são sociais (Moscovici, 1961/2003).
Moscovici (1961/2003) define as representações sociais como um corpo organizado de
conhecimentos e uma das atividades psíquicas por meio das quais os indivíduos se integram ao
grupo ou em relações diárias de trocas; um sistema de valores, noções e práticas que fornecem
aos indivíduos meios para se orientarem no contexto social e material, para dominá-lo. Com isso,
o foco da RS consiste em compreender como o meio social interfere na elaboração das
representações sociais pelos indivíduos e como estas representações sociais individuais
interferem na elaboração das representações nos grupos que pertencem.
A respeito do funcionamento das representações sociais, pode-se dizer que estas se
baseiam nos saberes socialmente construídos e compartilhados, uma versão da realidade
conforme a satisfação e justificativa das necessidades, interesses e valores do grupo que a
produziu (Jodelet, 2003). 99
Sendo assim, as representações sociais são compreendidas como as opiniões individuais
construídas, reelaboradas e redimensionadas à um determinado objeto social, influenciado pela
história de vida de cada um (Moscovici, 1978).
Como sofrem influência do contexto de produção, as representações sociais se
diferenciam de um grupo para outro, dependendo do modo como ocorre o processo de difusão
entre os diferentes segmentos culturais que compõem as sociedades (Moscovici, 2003). Desta
forma, como afirma Jodelet (2001, p. 41) as Representações Sociais
De acordo com Jodelet (2001), as dificuldades iniciais encontradas por Moscovici para
apresentar os limites do pensamento, ficavam em explicação circular, ora as discussões se
centravam no sujeito, ora no social. Assim, na concepção da autora supracitada, seria possível
apresentar uma nova perspectiva metodológica, integrando ambos aspectos, os quais,
compreendiam as representações como processos pelos quais os indivíduos constroem e
interpretam sua vida e o mundo onde estão inseridos conforme a sua história, permitindo a
integração de fatores sociais e culturais na compreensão das relações e representações que se
constroem a partir daí.
Triani, Bizerra e Novikoff (2017, p. 9) afirmam que na perspectiva sociológica e
antropológica, o conceito de cultura “pode ser entendido como abstração transmissora de
referências simbólicas” acumulativas inseridas no homem. Estas referências simbólicas estão no
mundo desde a concepção do homem e se acumulam, instituindo na mente humana, juízos de
valor, motivações, centros de interesses entre outros. Este sistema de referências torna possível o
convívio em sociedade.
Abordagem Societal
Esta abordagem tem como principal teórico Willen Doise (2002). Este autor problematiza a
divisão entre as explicações “psicológicas” e “sociológicas” existentes na Psicologia Social, e
acredita que a TRS supera essa dicotomia, pois seus objetos de estudos se situam no espaço de
conexão entre o indivíduo e o coletivo, admitindo explicações tanto em nível sociológico quando
leva em conta as diferentes posições que os atores sociais ocupam no tecido das relações
sociais, características de uma sociedade e analisa como suas posições modulam os
processos do primeiro e segundo níveis [...]. São, sobretudo, as pesquisas com grupos de
status diferentes, dominantes e dominados, majoritários e minoritários, que se situam neste
nível (Doise, 2002, p. 28).
Por sua vez, as representações são sustentadas por quatro funções, conforme
Abric (2000, p. 28):
107
os elementos periféricos, ao mesmo tempo, tornam imediatamente compreensíveis e
transmissíveis a formulação da representação em termos concretos (concretização).
Constituem seu aspecto móvel e evolutivo (regulação) e onde poderão aparecer e ser
toleradas as contradições (defesa), uma vez que o núcleo central é resistente à mudança,
posto que sua transformação provocaria uma completa alteração.
Abric (1994) afirma que não existe nenhuma técnica que, por si só, permita identificar os
componentes necessários para que se conheça uma RS: conteúdo, estrutura interna e núcleo
central. Desta forma sugere uma abordagem plurimetodológica, dividida em três etapas.
O primeiro passo é o uso de entrevista para que se possa levantar o conteúdo das
representações. O segundo passo é a pesquisa da estrutura e núcleo central, onde ocorre a
organização do conteúdo em categorias, identificação das relações e hierarquia entre os 109
elementos que compõem a representação. Aqueles elementos que forem identificados como mais
significativos devem ser testados para que se possa verificar a centralidade, para tal, verifica-se
se, ao retirar os elementos da representação, ela perderá seu significado (Abric, 1994).
Para analisar a estrutura das RS, Abric desenvolveu um questionário de evocação que
deve ser respondido a partir de um termo indutor. Alves-Mazzotti (2002, p. 26) afirma que as
entrevistas centradas na abordagem estrutural repousam sobre o mesmo princípio “pedir ao
próprio sujeito que faça, sobre sua produção, um trabalho cognitivo de análise, comparação e
hierarquização”.
Posteriormente, as evocações podem ser organizadas pelo software EVOC (Ensemble de
Programmes Permettant l’Analyse dês Évocations), que, através dos critérios de frequência e
ordem de evocação, possibilita uma Análise das Evocações e o reconhecimento da estrutura e a
organização interna das RS. Os dados são apresentados pelo software em quatro quadrantes: no
eixo vertical estão aqueles relacionados à frequência de evocação, e no horizontal, relacionados à
ordem (Bertoni & Galinkin, 2017).
Uma nova análise pode ser feita a partir da Análise de Evocação, denominada Análise das
Palavras Principais. Nesta análise se realiza uma comparação entre os elementos do núcleo
central e do sistema periférico, analisando a frequência de evocação e a frequência das palavras
escolhidas pelos entrevistados como sendo as mais importantes (Bertoni & Galinkin, 2017).
Pela Análise de Conteúdo, “a partir dos resultados da análise se pode regressar às causas,
ou até mesmo aos efeitos das características das comunicações” (Bardin, 2009, p. 22). Assim, a
Análise de Conteúdo é mais uma ferramenta a ser utilizada pelo pesquisador, principalmente em
casos de investigação científica no campo social, pois é uma técnica que tem por objetivo a
interpretação de textos e do sentido das palavras, baseada na dedução, na inferência.
O autor ainda complementa afirmando que pertencem ao domínio da análise do conteúdo
todas as
Silva e Fossá (2013) sugerem que nesta etapa o texto coletado é recortado em unidades
de registro (parágrafos de cada entrevista, textos de documentos, e/ou anotações de diários de
campo). Destes parágrafos, identificam-se as palavras-chaves e se resume cada parágrafo para
realizar uma primeira categorização.
Nesta primeira categorização, os temas são agrupados conforme sua correspondência.
Posteriormente, estas categorias são agrupadas tematicamente, e originam as categorias
intermediárias. Que, por último, são combinadas em função de sua ocorrência e resultarão em
categorias finais, que possibilitam as inferências. Por meio desse processo inferencial
compreende-se o sentido da fala explicita dos entrevistados, mas também se procuram outras
significações e novas mensagens por meio da mensagem primeira (Silva & Fossá, 2013).
Durante o processo de codificação os dados brutos da entrevista vão se transformando e
sendo agregados às unidades, que irão permitir a descrição das características pertinentes a
determinado conteúdo.
A etapa de categorização não é obrigatória, no entanto, é uma forma eficaz de organizar 112
os procedimentos de análise. Nela, os temas são agrupados em quadros, conforme as categorias
definidas previamente (e em outras que possam vir a surgir posteriormente). Nesta etapa ocorre a
classificação e agrupamento de elementos em categorias conforme a similaridade dos elementos
(Bardin, 2009).
Após a elaboração de categorias sínteses, deve-se construir a definição de cada categoria.
Esta definição pode ser baseada no referencial teórico que sustenta a pesquisa, ou nas
verbalizações relativas aos temas apresentadas pelos entrevistados.
Ainda no processo de categorização é possível, para facilitar o trabalho do analista e
também tornar o processo uniforme, a criação daquilo que Bardin (2009) denominou index, ou
dicionário. O index é um
O entendimento do homem como um ser social dotado de percepções que permitem uma
interpretação própria da sua realidade, têm distanciado as pesquisas sociais da visão positivista e
aprimorado pressupostos dentro do paradigma interpretativo. Isso faz com que a pesquisa em
psicologia social acompanhe a evolução do homem em sociedade (Silva, Gobbi & Simão, 2005).
A Teoria das Representações Sociais aborda a interpretação subjetiva feita pelo indivíduo
a respeito da própria realidade, pois, durante o processo de interação entre o indivíduo e o
fenômeno social é envolvido por conceitos e significados construídos socialmente (Wachelke &
Camargo, 2007).
A análise de conteúdo, como método de análise do discurso pode ser fundamentada pela
TRS, pois com ela, se propõe a decompor o discurso e identificar unidades de análise ou grupos
de representações para, posteriormente, categorizar os fenômenos e reconstruir os significados
para compreender de forma aprofundada a interpretação da realidade do grupo estudado (Bertoni
& Galinkin, 2017).
Esta revisão de literatura buscou apresentar os instrumentos metodológicos utilizados em
pesquisas sobre Representações Sociais. Para tal, resumiu-se as informações existentes a
respeito da contextualização teórica de cada instrumento e suas particularidades. 114
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