A Semente Do Ódio
A Semente Do Ódio
A Semente Do Ódio
Tanto o senso comum como o senso crítico fazem parte das formas de encarar, se posicionar e
conhecer a realidade, cada qual com a sua maneira e implicação. O senso comum possui a
marca do ordinário, normal, coletivo, caracterizado pelo pensamento superficial, irrefletido e
inocente. Ele não possui rigor quanto à coerência e lógica de seus conceitos, o que faz com que
sejam mais facilmente massificados, manipulados, alienados e o indivíduo não é capaz de
entender as relações de força que definem uma determinada situação.
O analfabeto político é aquele que não entende de história política, que não sabe interpretar os
acontecimentos históricos e contextualizá-los. Ele não sabe as relações de força de uma
determinada situação, não tem noção da profundidade dos problemas políticos do país. Seu
conhecimento limita-se à construção coletiva do senso comum, construção essa que atualmente
é potencializada através da internet. Não conhece – e talvez nem saiba o que é a nossa
Constituição. É inocente, pensa que a corrupção foi inventada pelo Partidos dos Trabalhadores,
ou qualquer outro partido político, não conhece a promíscua história brasileira marcada pelas
relações fisiológicas entre o público e o privado.
Não há democracia sem respeito à singularidade e aos direitos fundamentais assegurados pelo
Estado, que cada instituição e cada cidadão deve ao outro com quem compartilha a vida, seja
ela pública ou privada. A essência da democracia é a aceitação da pluralidade, o que implica a
coexistência pacífica das diferenças, sejam elas de ideias partidários, de gênero, de interesses
etc.
A filósofa Hannah Arendt dedicou-se a reflexões sobre dois temas fundamentais do período pós-
guerra: o totalitarismo e a banalização do mal. Segundo a pensadora, os regimes totalitários de
esquerda ou de direita tiveram como pressuposto a aniquilação das classes sociais, a
atomização das pessoas, e a uniformidade e homogeneidade sociais. A banalização do mal,
fenômeno necessário e correlato ao totalitarismo, se caracteriza por não ser mero fruto da
perversidade ou da crueldade pessoais, pois, em sua radicalidade desumana, consiste da recusa
em examinar atos e ações inerentes à existência humana. Em virtude disso, Hannah Arendt
aponta como antídoto à ascensão totalitária e à banalização do mal, a atividade autônoma do
pensamento. Assim, para a pensadora, somente a preservação da capacidade de reflexão
crítica permite que o indivíduo possa resistir à atomização e ao mal.
Por isso, atualmente, tornou-se urgente reinventar um modelo de educação voltado a uma
forma de pensar mais complexa, voltada à conquista da autonomia intelectual, para o exercício
da atividade crítica coerente e consistente, de forma que os valores humanos estejam sempre
em vista.
Para isso, é preciso renovar nossa capacidade de diálogo com propostas de um novo projeto de
sociedade. Uma sociedade mais humanizada. Por enquanto, mesmo parecendo ineficaz, é
preciso combater a intolerância e o ódio com todas as garras. Não podemos assistir
passivamente a este fenômeno de “olhos fechados”. É nossa responsabilidade moral e ética
combater a inanição intelectual em voga. E a ferramenta de combate que por hora dispomos é
o diálogo.
Luiz Claudio Tonchis é Educador e Gestor Escolar, trabalha na Secretaria da Educação do
Estado de São Paulo, é bacharel e licenciado em Filosofia, com pós-graduação em Ética pela
UNESP e em Gestão Escolar pela UNIARARAS. Atualmente é acadêmico em Pós-Graduação
(MBA) pela Universidade Federal Fluminense. Escreve regularmente para blogs, jornais e
revistas, contribuindo com artigos em que discute questões ligadas à Política, Educação e
Filosofia.
Contato: lctonchis@gmail.com
Referências
2. Callegaro, R., “Notas Sobre a Crise na Educação, no Pensamento de Hannah Arendt”, Revista
Educação e Políticas em Debate - v. 1, n. 1, - jan./jul. 2012.
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