Formação Dos Primeiros Estados de Moçambique
Formação Dos Primeiros Estados de Moçambique
Formação Dos Primeiros Estados de Moçambique
Objetivo Geral
Objetivos Específicos
O Estado do Zimbabwe
O estado do Zimbabwe existiu entre 1250 e 1450. Ele foi um dos primeiros, senão mesmo o
primeiro a surgir no território que é hoje Moçambique, se bem que a sua maior parte se
localizasse no actual Zimbabwe. A palavra “Zimbabwe” (plural madzimbabwe), significa casa de
pedra e a designação “estado do Zimbabwe” advem do facto de as classes dominantes terem
feito rodear as suas habitações por amuralhados de pedra (Newitt, 1997). Seu ponto de origem
e centro do Estado localiza-se no território do actual zimbabwe, mas em Moçambique teve
uma das suas ramificações em Manyikeni.
O Estado do Zimbabwe foi fundado por povos que praticavam a cultura Leopards Kopje, cuja
base económica era a prática de agricultura e mineração (Newitt, 1997).
O Estado dos Mwenemutapa
A decisão de Mutota mudar- se para o próximo do rio Zambeze com uma parte da população
karanga foi motivada pelos seguintes factores (Hedges, 1993):
a) Políticos: As contradições surgidas entre os chefes dos clãs Rozwi e Torwa pelo
controlo do comércio com a costa.
c) Demográficos: O aumento populacional numa região pouco fértil, como era a região
do grande Zimbabwe.
Os Estados Marave
De acordo com Hedges (1993), os estados marave foram formados entre os séculos XIII e XV,
na região a sul do malawi, incluindo Tete em Moçambique, por povos vindos da região de
Luba, no Congo.
Segundo Medeiros (1988), os estados Marave começaram a formar-se após a chegada, ao sul
do Malawi, de emigrantes, provavelmente oriundos da região Luba do Congo, liderados pelo
clã Phiri. Segundo dados arqueológicos afixação dos Phiri-Caronga terá ocorrido entre 1200-
1400.
Os povos phiri cuja linhagem dominante era a dos Caronga não constituíram apenas um
estado, mas vários, na medida em que registaram-se, entre os invasores, conflitos dinásticos
que levaram a fragmentação do clã original e ao surgimento de novas linhagens que se
estabeleceram a Oeste, Sul e Sudeste do território ocupado pelos Caronga, dando lugar a
novos estados (Medeiros, 1988).
Acredita-se que a chegada dos árabes a costa de Moçambique se deu no século VI devido a
escavações no sul de Moçambique que revelaram peças de cerâmica do Golfo Pérsico que
datam um período anterior aos 700. No entanto, o estreitamento dessas relações só iria
ocorrer no século XII, quando para além das relações comerciais estabelecidas a muito, os
árabes começaram a fixar-se na Costa Oriental de África e consequentemente em
Moçambique (Cachat, 2018)
Para Jesus (2020) , aos poucos os árabes começaram a se estabelecer, preferencialmente nas
ilhas por motivos estratégicos: defesa de possíveis ataques dos nativos7 e o controle e
participação no comércio marítimo. Essa fixação não se interiorizou, mas ainda assim
estabelecia contatos com os nativos aos quais recebiam a denominação árabe zanji (pretos).
Este contato acabou por ocasionar a conversão de muitos chefes locais para a religião
muçulmana e a união matrimonial entre mulheres africanas das famílias reinantes e árabes
com intuito de afunilar as relações comerciais e exercer alguma influência política nas chefias
locais. O resultado dessas uniões será uma miscigenação e a mescla das culturas bantu e
árabe, dando origem aos chamados suaílis (Jesus, 2020).
O comercio resultaram impactos e influências mútuas nas formas de vida económica política e
sócio-cultural (João, 2013):
No Plano Económico
Desenvolvimento do comércio;
No Plano Cultural
No Plano Político
Segundo Souto (1996), Cidades costeiras como Sofala se tornaram importantes centros
comerciais e pontos de troca. O ouro, o marfim e outros recursos do interior eram trazidos
para essas cidades e trocados por bens de luxo trazidos pelos comerciantes estrangeiros.
Ainda, Souto argumenta que à medida que o comércio se desenvolvia, as cidades cresciam e se
tornavam locais de interação cultural, onde diferentes grupos étnicos e religiões se
encontravam e influenciavam mutuamente.
Ora, o comércio não apenas trouxe bens materiais, mas também influências culturais e
religiosas. Muitos dos comerciantes que navegavam para Moçambique eram muçulmanos, o
que levou à disseminação do Islã ao longo da costa (MINEDH, 2014). Mesquitas foram
construídas, e a religião islâmica se enraizou nas comunidades locais, deixando um impacto
duradouro na cultura e nas práticas religiosas.
Interações e Complexidade
O comércio regional e de longa distância com o interior da África foi importante para o
desenvolvimento econômico, cultural e político das sociedades africanas ao longo da história.
Essas redes comerciais permitiram que as comunidades trocassem bens, conhecimentos e
culturas em uma escala que abrangeu todo o continente africano e além. Segundo Medeiros
(1988), essas interações comerciais exerceu um papel essencial no desenvolvimento das
sociedades africanas, permitindo a troca de recursos valiosos entre diferentes regiões.
De acordo com Newitt (1997), as rotas comerciais terrestres, fluviais e marítimas conectavam
diferentes partes da África e ligavam o continente a outras partes do mundo, como o Oriente
Médio, a Ásia e a Europa. Os produtos comercializados variavam de acordo com as regiões e as
necessidades locais, mas incluíam comumente itens como ouro, marfim, sal, escravos,
produtos agrícolas, minerais, objetos artesanais e até mesmo gado (Hedges, 1993; Ki-Zerbo,
2009).
A influência do comércio não se limitava à troca de bens; também tinha um impacto profundo
na cultura e na sociedade. O contato com diferentes grupos étnicos e culturas resultava em
intercâmbio de ideias, práticas religiosas, línguas e tecnologias (Cachat, 2018). Muitas cidades
africanas, como Timbuktu no Mali, Gao na Nigéria e Axum na Etiópia, floresceram como
importantes centros comerciais, como destacado por Jesus (2020). Essas cidades se tornaram
locais de aprendizado, onde estudiosos e mercadores se reuniam para trocar conhecimento e
bens.
Os impérios africanos também tiveram um papel importante nesse contexto. Segundo Ki-
Zerbo (2009), impérios como o Mali, Songhai e Axum prosperaram devido ao controle de rotas
comerciais lucrativas.
Infelizmente, como apontado por Newitt (1997) e Jesus (2020), uma parte sombria do
comércio de longa distância na África envolveu a captura e o comércio de escravos, que eram
vendidos principalmente para mercados europeus e árabes. Essa parte sombria do comércio
deixou cicatrizes profundas na história africana.
O declínio das rotas comerciais tradicionais ocorreu durante o período colonial, quando as
potências europeias impuseram seu controle sobre muitas regiões africanas e reorganizaram
as economias locais para atender às suas necessidades (Medeiros, 1988; Newitt, 1997). As
rotas comerciais foram interrompidas ou redirecionadas para atender às demandas coloniais."
Os árabes, devido à sua experiência em navegação e conhecimento das rotas marítimas, foram
pioneiros na construção de laços comerciais com a África Oriental, incluindo Moçambique. Eles
trouxeram especiarias, seda, porcelana e outros produtos do Médio Oriente e da Ásia para
trocar por ouro, marfim e escravos africanos. Essa interação contribuiu para a diversificação
econômica e cultural da região.
Conclusão
Ao longo da história, Moçambique desempenhou um papel vital nas rotas comerciais que
ligavam diferentes partes do mundo. O comércio moldou a formação dos primeiros estados,
como o Estado do Zimbabwe e o Estado dos Mwenemutapa, influenciando sua estrutura
política e econômica. As interações comerciais com os árabes e persas enriqueceram a cultura
local e introduziram novos produtos e conhecimentos. Além disso, o comércio regional e de
longa distância com o interior da África fomentou o desenvolvimento econômico e cultural das
sociedades locais.
Este estudo oferece uma visão abrangente das interações comerciais que moldaram a história
de Moçambique e destaca a importância desses eventos para a compreensão da evolução
social, econômica e cultural do país. A pesquisa enfatiza a necessidade contínua de explorar as
conexões entre o comércio e a história das sociedades africanas, a fim de capturar plenamente
a rica tapeçaria de influências que moldaram o continente ao longo dos séculos.
Referências bibliográficas
KI-ZERBO, Joseph. História da África Negra. Mem Martins: Publicações Europa-América, 2009.
CACHAT, Séverine. Ilha de Moçambique uma herança ambígua. Maputo: Alcance Editores,
2018.
Jesus. C., N.., (2020) Tráfico de escravos e comércio árabe em Moçambique, Revista Eletrônica
Discente História.com, Cachoeira, v. 7, n. 14, p. 144-155