0% acharam este documento útil (0 voto)
25 visualizações18 páginas

Setting Suficientemente Bom

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1/ 18

Artigo

4545
Resumo O SETTING
SUFICIENTEMENTE BOM
A técnica do atendimento infantil
pode ser estudada a partir do
pensamento de Winnicott e de
sua forma peculiar de conduzir E O MANEJO CLÍNICO
determinados casos nos quais
percebeu que a interpretação NA PSICOTERAPIA
encontrava-se ineficaz. Para esses
casos, o autor propôs um novo INFANTIL: RELATO
tipo de manejo e condução das
sessões e ressaltou a importância
da estabilidade do setting para
DE CASO
o desenvolvimento emocional. O
principal objetivo deste artigo é
ilustrar e ampliar a discussão do
tema por meio da apresentação de
um caso clínico infantil, no qual
pudemos identificar a necessidade
Julia Archangelo Guimarães Höfig
dessa postura diferenciada do Sandra Aparecida Serra Zanetti
tera­peuta para o resultado do
tratamento.
Descritores: psicanálise da
criança; caso clínico; desenvolvi-
mento emocional.
DOI: http//dx.doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v21i1p45-62.

S abemos que, no início da psicanálise, Freud não se dedicou


ao estudo da técnica para a infância; no entanto, faz uma primeira
menção ao atendimento infantil com o caso do Pequeno Hans, o
qual ajudou indiretamente por meio das orientações que deu ao pai
da criança. Apesar deste não ter sido um atendimento propriamente
dito, pôde-se considerá-lo a primeira brecha para a possibilidade de se
pensar em uma técnica de psicanálise com crianças. Posteriormente,
foram outros psicanalistas tais como Anna Freud, Klein e Winnicott
que se debruçaram na investigação de um método aplicável ao mundo
infantil (Ferreira & Campos, 2014).

■ Psicóloga. Graduada pela Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil.


■ ■ Professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina, PR, Brasil.

45
A primeira autora que se destacou nesses estudos foi Melanie
Klein, que adotou o lúdico como a principal técnica na psicote­
rapia infantil. A autora, percebendo o uso que as crianças faziam da
brincadeira, entendeu que nesse ato a criança estava expressando
seus conteúdos, conflitos e angústias relacionados com as fantasias
inconscientes. Esses conteúdos manifestados no brincar deveriam ser
traduzidos e interpretados para a criança, tornando-se conscientes a
ela (Ferreira & Campos, 2014).
Kupermann (2011) relata em um artigo de caráter histórico
como a clínica foi se modificando em seu modo de atuar de acordo
com o tipo de paciente que recebia. Na práxis freudiana clássica,
a criança era entendida como um símbolo do sexual recalcado, e
as interpretações serviam como fonte de tornar consciente o que
estava inconsciente. No entanto, foi-se percebendo os limites da
interpretação para determinados casos graves em pacientes com
traumas severos. Para estes, a associação livre e a interpretação do
recalcado não surtiam efeito terapêutico. A partir disso, com estudos
de autores como Ferenczi e Winnicott, estabeleceu-se uma clínica
na qual se compreendia que os traumas infantis, ocorridos devido a
falhas ambientais, interrompiam o percurso da organização psíquica
(Kupermann, 2011).
Além de interpretar e revelar os conflitos intrapsíquicos do
inconsciente infantil, Winnicott propôs um novo modo de atuação
para essa modalidade de atendimento. Este modelo se baseia na
compreensão do contexto ambiental e desenvolvimento emocional
primitivo da criança. Portanto, não são todos os casos que devem
ser conduzidos de maneira verbal, pois com alguns pacientes a inter­
pretação e a compreensão está inabilitada e é inviável (Januário &
Tafuri, 2008).
São os apontamentos feitos por Winnicott e sua forma peculiar
de conduzir determinados casos que fundamentam este artigo. Dessa
forma, serão trazidos alguns conceitos cruciais para o entendimento
da teoria winnicottiana sobre a importância do ambiente na constitui-
ção psíquica do sujeito. Trataremos também da forma de condução
e manejo clínico para determinados casos a partir de uma revisão
bibliográfica de artigos atuais. O principal objetivo deste artigo será
ilustrar e ampliar a discussão do tema por meio da apresentação
de um caso clínico, no qual se pôde identificar a necessidade dessa
postura diferenciada do terapeuta para o resultado do tratamento,
salientando os benefícios dessa vivência para a criança.

46 Estilos clin., São Paulo, v. 21, n. 1, jan./abr. 2016, 45-62.


O desenvolvimento infantil pode-se desenvolver um falso self como
em Winnicott estratégia para adaptar-se a essas falhas
maternas. Segundo Maggi (2007), na
concepção de Winnicott, o pro­cesso
Para Winnicott (1971/1975), os de crescimento ocorre de forma gra-
bebês nascem com uma tendência dual e deve ser compreendido como
inata ao desenvolvimento e integra- uma condição para não se co­locar em
ção, ou seja, com uma tendência a risco a espontaneidade pessoal. No
desenvolver seu self e sua persona­ início a criança encontra-se em um
lidade. Porém, para que consigam estado de dependência absoluta de um
amadurecer emocionalmente pre­ cuidador, em que a mãe ou quem faz
cisam sentir-se existindo enquanto a função desta deve garantir todos os
um ser, e só assim, futuramente, cuidados necessários à sobrevivência
serão capazes de relacionar-se com e ao investimento do bebê. A mãe (ou
o mundo de forma real. No entanto, substituta) que se identifica com o
isso só será possível mediante um filho em suas necessidades e o acolhe
ambiente proporcionado pela família promoverá a criação de um espaço
que deve ser preparado para acolher entre os dois, intersubjetivo.
essa criança quando nascer e deve Para que haja essa construção,
estar disponível para que o que é inato primeiro a mãe deve contribuir com
do desenvolvimento possa emergir. a fantasia de onipotência do bebê, de
A criança nasce não-integrada e que tudo que ele necessita consegue
indiferenciada da mãe, mas com uma de modo mágico. À medida que a mãe
tendência inata ao desenvolvimento, percebe que o bebê já tem condições
e será a conduta suficientemente de ir lidando gradativamente com a
boa da mãe – ou substituta – que realidade, ela deve ceder espaço para
proporcionará esse ambiente seguro a criança sentir e solicitar o que lhe
e estável, que atende às necessidades falta, o que inaugura na criança o
fisiológicas e emocionais do bebê, reconhecimento de ser dependente e
que darão base para que esta criança o entendimento do quanto sua mãe
possa amadurecer de forma saudável é necessária. Durante esse processo
(Winnicott, 1971/1975). a criança oscila entre momentos em
A falta desses cuidados iniciais que fantasia e outros em que percebe
pode comprometer o desenvolvi­ a realidade; une e separa-se da mãe.
mento emocional e psíquico in- Se a mãe for suficientemente boa, ela
fantil. Nas palavras de Winnicott se oferece para ficar no lugar que seu
(1988/1990b), “na ausência dos bebê a imaginou (Maggi, 2007).
cuidados pessoais e contínuos da Winnicott (1987/1994b) explica
mãe esse desenvolvimento não pode que aos poucos o bebê passará a
ocorrer.” (p. 90), e por consequência relacionar-se com o objeto, podendo

47
atacá-lo e, se isso não tiver efeitos sobre o bebê, como uma retaliação,
desenvolve-se a capacidade de usar os objetos, compreendendo-o
como uma entidade externa e diferenciada dele e de suas fantasias.
Ou seja, à medida que o bebê vive sua espontaneidade e motilidade
sem o sentimento de culpa de que com isso é capaz de destruir
quem ama, não alimenta uma fantasia de que é um ser destrutivo
e segue para a posição depressiva, vendo-se a si mesmo e ao outro
como inteiros. A posição depressiva em Winnicott tem o caráter de
possibilitar a entrada da criança no mundo real e compartilhado, ao
começar a conseguir diferenciar fantasia de realidade e ir inte­grando­
‑se como uma unidade. Assim irá perceber também os outros como
seres inteiros e passará a desenvolver a capa­cidade de preocupação
pelo objeto. Todo esse processo psicológico somente será possível
diante de um ambiente facilitador (Winnicott, 1971/1990a).
Kahtuni (2014) explica que esse processo é estruturante da
organização psíquica, e é papel da mãe sobreviver aos ataques de
seu filho para que forneça um ambiente propício ao processo de
integração. Se a mãe sobrevive aos ataques, a criança se acalma ao
perceber que não é onipotente a ponto de destruir a mãe que ama, e
isso permite a integração das partes do ego identificadas como boas
ou más. A capacidade de sobrevivência da mãe pode ser traduzida
em capacidade de compreensão, acolhimento e não retaliação, pois
isso mostra para a criança que sua agressividade não é destrutiva.
No entanto, em casos em que houve falha ambiental nesse
sentido, as pulsões destrutivas não puderam ser integradas e aco-
lhidas. Será papel do analista fazer com que o paciente internalize
experiências boas para que haja progresso no desenvolvimento que
ficou estagnado (Kahtuni, 2014).

Necessidade de vivenciar, presenciar e atestar

Winnicott nunca desconsiderou a prática clássica da psicanálise:


a escuta, a transferência e a interpretação. No entanto, o que este
autor observou a partir de sua prática e contato com crianças é que
alguns pacientes sofrem de patologias cujas raízes encontram-se em
falhas no estágio primitivo do desenvolvimento, anterior ao complexo
de Édipo. Nesses casos, as patologias são mais graves em função de
falhas na aquisição de um self integrado, da consequente dificuldade

48 Estilos clin., São Paulo, v. 21, n. 1, jan./abr. 2016, 45-62.


de diferenciação entre realidade interna e externa, e em
processos elaborativos da mente como a simbolização,
associada à capacidade do ser humano em lidar com a
frustração, ao aceitar a falta e a separação da mãe. Isso só
se torna possível quando a vivência da onipotência e apre-
sentação gradual da realidade foram oferecidas ao bebê.
Dessa forma, Winnicott aponta que o mais importante
é ajudar o paciente a retomar o processo de desenvolvi-
mento de onde aconteceram essas falhas, substituindo
a técnica clássica da interpretação por outra. Nesses
casos, Winnicott passou a se oferecer como suporte
para o paciente, participando com sua presença sensível
e respeitando o ritmo de cada um (Kupermann, 2011).
Nesse tipo de manejo, de acordo com Winnicott, a
interpretação fica suspensa por um tempo e proporciona­
‑se um ambiente que se equipara com a função materna.
Acolhendo-se as manifestações espontâneas do paciente,
será possível que uma regressão ocorra. No entanto,
esse é um aspecto positivo da regressão, que estará a
favor de uma comunicação primitiva do paciente com
o terapeuta que só é possível devido a uma segurança,
empatia e estabilidade vivida no setting, proporcionado
pelo terapeuta. Seria uma regressão há um tempo precoce
do desenvolvimento, uma etapa que precisava ter sido
vivenciada adequadamente, mas que não foi em razão
de uma falha ambiental inicial (Telles, 2011). De acordo
com Galván (2012), essa regressão está relacionada a um

retorno a uma condição anterior ao congelamento da si-


tuação da falha, na qual é essencial a adaptação do ambiente às
necessidades do indivíduo como uma nova oportunidade deste
encontrar a provisão ambiental adequada e, assim, descongelar
a situação da falha. (p. 47)

Trata-se então, expressa a autora, de uma regressão


à dependência.
Kahtuni (2014) entende que a regressão do paciente
que está em análise é resultado de um processo relacional.
Pacientes com grandes traumas no início da vida pos-
suem uma dissociação do ego, ou seja, um ego bastante
cindido que aceita e ao mesmo tempo rejeita a realidade,

49
pois houve falhas no processo de integração da personalidade. Esses
pacientes não se encaixam na classificação de neurose, pois os neuró-
ticos são pacientes que sofrem com fantasias e conflitos inconscientes
infantis. Já os pacientes regredidos sofreram perturbações reais do
mundo, que foram sentidas como um choque e que distorceram o
rumo do desenvolvimento psíquico. A marca psíquica deixada por
esses traumas é a cisão do ego, e essa cisão resulta em uma dificul-
dade de lidar com os afetos ambivalentes direcionados ao objeto de
amor. A pessoa permanece em uma condição de vulnerabilidade e
fragilidade egoica, o que não permitirá que se estabeleça um ego
integrado e verdadeiro, dando margem para a construção de um
falso-self (Winnicott, 1986/1999), ou seja, um falso-eu que oculta o
verdadeiro eu, deixando-o empobrecido pela falta de experiências.
Para Galván (2012), a regressão à dependência na terapia inaugura
um momento de manifestação dos elementos saudáveis da perso-
nalidade, “em busca de se desfazer de uma existência baseada no
falso si-mesmo e retomar o amadurecimento a partir do si-mesmo
verdadeiro” (p. 47). Assim, para a autora, esse tipo de experiência só
se torna possível se houver um ambiente suficientemente confiável,
passível de se adaptar à necessidade do paciente e adequado para o
atendimento aos pacientes que necessitam regredir à dependência.
Ou seja, um ambiente “cujo parâmetro é a maternagem nos estágios
iniciais da primeira infância” (p. 48).
Winnicott (1955/2000a) descreve uma série de eventos que
devem ocorrer para que a regressão aconteça, cujos benefícios são
a retomada do desenvolvimento e da saúde:

O fornecimento de um contexto que proporciona confiança. A regressão


do paciente à dependência, com a devida percepção do risco envolvido. O
paciente sente o eu de um modo novo, e o eu até aqui oculto é entregue ao ego
total. Novo progresso do indivíduo a partir de onde o processo havia parado.
Descongelamento da situação da falha original. A partir da nova posição de força
do ego, raiva relativa à situação da antiga falha, sentida no presente e explicitada.
Retorno da regressão à dependência, num progresso organizado em direção à
independência. Necessidades e desejos instintivos tornados realizáveis com
vigor e vitalidade genuínos. E tudo isso repetindo-se inúmeras vezes. (p. 384)

Januário e Tafuri (2008), refletindo sobre a importância da relação


estabelecida entre a criança-paciente e o terapeuta, assinalam que no
manejo clínico com crianças em estado de sofrimento psíquico, em
alguns casos, vale muito mais que a interpretação, pois deixa emergir

50 Estilos clin., São Paulo, v. 21, n. 1, jan./abr. 2016, 45-62.


atitudes não-verbais que fortificam e estabelecem um vínculo entre o paciente
e o terapeuta. Para essas autoras, seguindo o pensamento winnicottiano, isso
ocorre com pacientes que ainda não se integraram e ainda não estabeleceram
uma unicidade egóica.
A partir da ilustração de um caso clínico, Januário e Tafuri (2008) mostram
que, diante dos sentimentos despertados na terapeuta pelo paciente, ela opta por
acompanhar o sofrimento da criança, estando ao seu lado e tentando encontrar
formas de contato pessoal para além da patologia apresentada, pois percebeu
que qualquer contato verbal levava a criança a um estado confusional e era vivido
como invasivo. Então, buscou-se primeiro estabelecer uma relação transferencial
por meio de uma postura cuidadosa e silenciosa na observação da criança. Nessa
vivência, conclui-se que para crianças em estado de sofrimento psíquico grave, a
função de holding (adaptação ativa e completa às necessidades dela) e permissão
do analista para que use seu corpo e seu olhar, permite à criança apropriar-se
de suas próprias partes corporais e limites.
Winnicott (1987/1994a) afirma que o paciente vivencia o que não aconteceu,
ou seja, o que não existiu psiquicamente, e encena o vazio dessa experiência
que não pode ser lembrada nem esquecida. A repetição é uma demanda de
integração que se volta para o ambiente na intenção de que alguém acolha essa
necessidade de integração do self.
A análise, portanto, nesse ponto de vista, deve propiciar as condições que
faltaram na vida desses pacientes. No setting, o terapeuta deve estar disponível
para “ir sendo junto com o paciente, podendo chegar lá, diante do irreconhecível,
do estranho, do absurdo” (Palhares, 2008, p. 103) e possibilitar que este revisite
suas experiências não verbais e corrija falhas ambientais. O analista deve estar
a serviço da continuidade do desenvolvimento do ser de seu paciente até que
este possa ir, aos poucos, descobrindo a alteridade. O processo psicoterapêutico
infantil nesses moldes é o que permite ao ser a construção de um passado, no
presente.

Relato clínico

O relato trata-se do atendimento de uma menina de 5 anos de idade, a qual


demos o nome fictício de Carolina, atendida num contexto de clínica-escola.
As primeiras sessões foram realizadas com a mãe, já que o pai recusou-se a
participar. Lydia, nome fictício, relatou que a filha não ingeria a maioria dos ali-
mentos, tendo uma alimentação extremamente restrita. A criança se comportava
como se tivesse repúdio ou aversão em relação à comida, não conseguindo muitas

51
vezes sequer olhar para o prato ou
sentar-se à mesa. Na escola, Carolina
alimentava-se apenas quando lhe era
oferecido alimentos que gostava e,
quando isso não ocorria, ela passava o
dia inteiro sem comer, já que estudava
em período integral.
Lydia explicou que a filha também
tinha alguns rituais nas refeições. As
comidas da menina não podiam ser
misturadas e deviam ser cortadas em
tiras. Carolina não conseguia tomar
água no mesmo copo em que alguém
tivesse bebido, ou usar o mesmo talher
que outra pessoa tivesse usado, pois
alegava sentir o gosto do ali­mento
que a pessoa comeu. Isso nos deu a
sensação de que a criança sentia que
o alimento a “contaminava” quando
se misturava com elementos de outras
pessoas, principalmente da mãe.
Um dos alimentos que Carolina
mais solicitava era o leite, porém que-
ria que este fosse servido na mama­
deira. No entanto, Lydia não queria
mais oferecer a mamadeira para a
filha devido a sua idade, justificando
que poderia acarretar problemas den-
tários. Carolina ainda roia as unhas,
tanto das mãos quanto dos pés, e
apresentava forte ansiedade e muita
dificuldade para dormir.
Lydia contou que quando Carolina
nasceu engasgava e regurgitava em
todas as mamadas. Em uma dessas
engasgadas, aos 20 dias de vida, a
situação se agravou e ela teve que ir
para o hospital por falta de oxigênio.
Realizados alguns exames identifi-
cou-se a existência de um desvio na

52 Estilos clin., São Paulo, v. 21, n. 1, jan./abr. 2016, 45-62.


traqueia e um trato intestinal muito apertado. Por conta
disso, Carolina passou a fazer uso de medicamentos para
aliviar sua dor.
Ao completar um ano, Carolina realizou vários exa-
mes para verificar como estava seu desvio e seu trato, e
descobriram que ela já estava muito melhor. Depois disso,
Lydia trocou Carolina de escola por causa de questões
financeiras. Na primeira semana de adaptação, a mãe
levou a mamadeira da filha, mas depois a escola proibiu
por questões de higiene. Foi por volta desse período que
a menina começou a se recusar a comer. Depois de 15
dias, a escola chamou a mãe para avisar que a criança
não estava comendo absolutamente nada. Em casa ela
também começou a recusar os alimentos.
Devido à gravidade da situação, a mãe levou a filha
à pediatra aos três anos de idade, que a orientou a fazer
um acompanhamento com uma nutricionista e com
uma psicóloga. Durante o acompanhamento com a
nutricionista, esta disse para Lydia suspender o leite da
alimentação para ver se Carolina comia ou experimen­
tava outros alimentos. Entretanto, o quadro da criança se
agravou já que ela passou a rejeitar até os alimentos aos
quais habitualmente comia, até que adoeceu e teve que
ser internada com início de desnutrição.
Após esse episódio a mãe decidiu abandonar os
acompanhamentos. No entanto, com o agravamento do
caso, a pediatra de Carolina insistiu no encaminhamento
psicológico, explicando para Lydia que seria somente
assim que os problemas se resolveriam.
A única estratégia que Lydia conseguiu adotar foi a
de castigar Carolina. Recusava-se a comprar algo que a
menina pedisse, justificando que não o faria pois Carolina
não estava “colaborando” quando não se alimentava. Pela
mesma razão ela também não levava a filha para brin-
car no parquinho. Além disso, havia episódios em que
Lydia tentava forçar a filha a comer algumas fatias dos
ali­mentos e fazia com que ela ficasse sentada, de castigo,
até comer algo. Carolina permanecia sentada, olhando
para a co­mida, virando-a e mexendo com o garfo, mas
não conseguia comer, então chorava e tinha crises de

53
ânsia de vômito. Lydia ficava brava e fazia
ameaças, mas a menina não cedia. A mãe
falou que era muito difícil para ela manter
uma postura calma, e que muitas vezes aca-
bava perdendo o controle e gritando muito
com Carolina por conta da alimentação.
Tanto o pai como a mãe faziam chantagem
emocional com Carolina, dizendo que ela
os deixava muito tristes por não comer.
Havia momentos, inclusive, que a mãe dizia
que a abandonaria num hospital caso ela
ficasse doente por não comer.

O processo psicoterapêutico

Após as entrevistas iniciais com a mãe,


iniciou-se o atendimento com a crian-
ça. Em todas as sessões com a menina
disponibilizou-se peças de lego, cubos,
boneca, bonecos pequenos, fogãozinho de
brinquedo, panelinhas, carrinhos, material
gráfico, massa de modelar, copos plásticos
e lenço de papel. Estes materiais ficavam
visíveis para Carolina e era ela quem de-
terminava quais iria utilizar. Os materiais
de uso pessoal e gráfico ficavam guardados
em uma gaveta na sala de atendi­mento,
trancada à chave. O intuito da gaveta,
como de uma caixa lúdica, é o de que esta
represente o mundo interno da criança
(Winnicott, 1988/1990b). A cada sessão
repunha-se o material gráfico que fosse
necessário, tanto por ter acabado ou por
solicitação da paciente, quanto por ter sido
“destruído”, quando o objeto passou a ser
inutilizado como quando Carolina mistu-
rava todas as cores de tintas nos potes ou
colocava vários lenços de papel dentro dos

54 Estilos clin., São Paulo, v. 21, n. 1, jan./abr. 2016, 45-62.


tubos de cola. Esse tipo de manejo queria ver se sua mãe ainda estava
visava ao estabelecimento de um setting esperando-a. Entende-se desse fato
suficientemente bom, adaptando-se que, provavelmente, a menina sentia
a todas as necessidades do paciente. medo de que sua mãe fosse embora,
Nos primeiros atendimentos, pois, além da mãe sempre lhe fazer
Carolina testou o ambiente, verifi- ameaças de que iria abandoná-la se
cando o que era permitido ali ou não, esta não comesse, Carolina sentia que
buscando perceber se poderia confiar estava “atacando” a mãe na sessão
nele. A cada movimento olhava para e, portanto, tinha medo que Lydia a
a terapeuta, esperando uma autori­ retaliasse indo embora. Ao mesmo
zação/desautorização. Suas brinca­ tempo, podemos pensar também que
deiras consistiam em utilizar as peças se tratava de um momento da terapia
de lego e fazer construções de prédios. em que a criança ainda não tinha
Também tinha preferência em brincar conseguido confiar plenamente na
com os bonecos, os representando terapeuta e no ambiente.
como uma família, e fazia vários de- Passada algumas sessões, após
senhos dela. Nesse início, os desenhos várias afirmações da terapeuta de
que ela considerava muito “feios” ou que aquele espaço podia ser usado
“estragados” eram jogados no lixo, da maneira como a paciente quisesse,
pois não queria guardá-los dentro Carolina passou a ter preferência por
de sua gaveta. A terapeuta então in- atividades com tinta, cola, água e len-
tervinha assinalando que todos nós ços de papel. De início, as atividades
podemos fazer coisas que achamos com a tinta eram feitas de forma bas-
feias e outras que achamos bonitas, tante controlada. Colocava pequenas
mas que isso não tinha problema e quantidades de tinta nas tampinhas
que podíamos guardar tanto os de- para não pingar, sujar ou desperdiçar,
senhos que gostamos como os que conforme explicou à terapeuta. Aos
não gostamos dentro da gaveta. Esse poucos, percebendo que ela poderia
apontamento visou garantir a ideia de confiar e fazer o que quisesse, co­
um ambiente acolhedor a tudo o que a meçou a deixar alguns pingos de tinta
criança poderia apresentar em termos cair na mesa. Olhava para a terapeuta
do seu verdadeiro self. para ver sua reação e, percebendo que
Um dos aspectos notados pela ela realmente autorizava esse tipo de
terapeuta é que, nesses primeiros comportamento, começou a experi-
atendimentos, Carolina olhava vá- mentar outros tipos de vivência com
rias vezes para o relógio e, quando a tinta, esparramando-a pela mesa,
questionada, comentava que queria fazendo várias misturas com água e
ir ver sua mãe. Quando a terapeuta cola e utilizando os dedos e as mãos
perguntava se Carolina queria ir para manusear suas misturas.
embora, ela dizia que não, mas que

55
Com o tempo, Carolina passou a utilizar todos os
potes de tinta levados em cada sessão, misturando-os,
espalhando pela mesa e pelo chão da sala. Junto a isso
também utilizava muita água e cola, adicionando-os à
mistura de tinta e esparramando-os pela sala também.
As sessões passaram a se constituir dessas vivências com
esses materiais, já que Carolina não realizava nenhum
outro tipo de atividade. Portanto, as sessões eram cheias
de experimentações, que representavam, supomos, ala-
gamentos na sala e afogamentos dos pedaços de papel,
já que ela os afundava nas misturas de tinta, água e cola.
Em seguida, utilizava todo lenço de papel disponível para
absorver a água esparramada. Como manejo, a terapeuta
permitia todos esses tipos de brincadeiras e permanecia
disponível para a menina utilizar-se dela como quisesse.
Em alguns momentos, a criança mandava bastante na
terapeuta ou tentava “destruí-la”, sujando-a com essas
misturas de tinta e água propositalmente, as quais jogava
e espirrava para acertar a terapeuta. Entendemos que na
transferência essa vivência representava a necessidade de
usar o objeto impiedosamente, sem retaliações. Após dois
meses em que as sessões eram utilizadas somente com
essas vivências com as tintas, alguns outros movimentos
foram aparecendo. Um deles foi com a utilização de cai-
xas (caixa da massa de modelar, da tinta, do lenço) para
fazer construções. Outra atividade foi a de contornos,
como contornar os pés e as mãos. Compreende-se que
quando ela fazia isso, representava as falhas constitutivas
em termos de delimitações de seu self, reforçando bordas
ou limites da construção corporal. Outra atividade que
se seguia a essas era recortar os pedaços de corpos ou as
caixas e colá-los juntos, com muita cola, formando “bo-
necas” ou pessoas, o que corroborava a nossa hipótese.
Posteriormente, ela resolveu montar circuitos na sala
de atendimento, planejando alguns caminhos, delimi­
tando percursos e colocando obstáculos, divertindo-se
com a simbolização de sua construção corporal. Aos
poucos ela foi tornando os circuitos mais complexos,
deixando-os mais difíceis para atravessar, e também
expe­rimentando algumas experiências com barulhos com

56 Estilos clin., São Paulo, v. 21, n. 1, jan./abr. 2016, 45-62.


os materiais da sala. Compreendemos isso como, novamente, uma
tentativa de explorar o ambiente, testando a capacidade da tera­peuta
de estar inteiramente disponível para ela. Em alguns momentos
de seus circuitos, a terapeuta dizia que iria ajudá-la segurando sua
mão para que não caísse ou se machucasse, o que contribuiu para
que Carolina se sentisse cuidada e amparada para poder explorar e
vivenciar sua motilidade e espontaneidade.
Outro período desse processo de retomada das falhas do am-
biente no desenvolvimento psíquico da criança apareceu quando ela
começou a querer brincar de apagar a luz da sala e de esconde-escon-
de com a terapeuta. Entendemos esse movimento como uma possi-
bilidade que surgia de brincar com a ideia de estar só, intercambiando
momentos de presença e ausência do objeto, finalmente adentrando
o período de dependência relativa, quando o outro começa a ganhar
estatuto de outro. Aos poucos, essa brincadeira se tornou frequente
e um modo de se despedir da terapeuta, encenando um ritual ao
final das sessões.
Nessa fase ela ainda começou a fazer desenhos e produções com
a massinha, montando bolinhos e enfeitando-os. Seus bolos come-
çaram a ganhar uma forma mais complexa e ela passou a dedicar
mais tempo da sessão para confeccioná-los.

Análise e discussão do material clínico

Nesse caso, as primeiras intervenções da terapeuta partiram no


sentindo de orientar os pais a ter atitudes mais acolhedoras e com-
preensivas em relação ao problema da filha e para que não fossem
punitivos e retaliadores, pois se acredita que isso só contribuiu para
o aumento da ansiedade da criança e sua identificação com seu lado
destrutivo. Compreendemos que o que a menina apresentava não
era uma birra em relação aos horários da refeição, e sim um medo,
uma angústia em relação à comida, fruto das fantasias persecu­tórias
alimentadas no início de sua vida, agravadas pela deformidade fisio-
lógica que a impossibilitava de ter uma experiência satisfatória com
a amamentação.
Além disso, uma hipótese, pelo modo como a mãe se apresentou,
é que o ambiente vivenciado pela menina nos primeiros anos de vida
não foi um ambiente capaz de acolher as angústias, a destrutividade e

57
os movimentos espontâneos dela, tal como Winnicott (1958/2000b)
preconiza. Sem essa função materna suficientemente boa, a criança
não conseguiu desenvolver seu verdadeiro self e integrar-se. A falta de
pessoas com quem estabelecer vínculos seguros e confiáveis, assim
como ambiente previsível e constante, pode levar a criança a ter uma
grave cisão da personalidade (Winnicott, 1942/1982).
Além disso, Carolina possuía a peculiaridade do desvio na tra-
queia, o qual, provavelmente, não foi seguido de uma continência
das sensações de desconforto e dor que a criança tinha, o que faz
pensar que ela identificou-se com a fantasia de que era retaliada ao
alimentar-se por ser destrutiva ao usufruir do leite. Dessa maneira,
Carolina encontra como mecanismo de defesa a projeção de sua
destrutividade na comida, passando a necessitar de total controle
sobre o que estava sendo ingerido.
Ao longo das sessões fica claro que Carolina passou a poder
vivenciar seu verdadeiro self, experimentando sua motilidade e expres-
sando sua agressividade. Para isso, concebemos que primeiramente
a criança teve que regredir ao estágio do desenvolvimento em que
ocorreu a falha no ambiente para poder revivenciá-lo. Essa regressão
só foi possível porque foi tomado o devido cuidado de providenciar
um setting que se adaptasse completamente às necessidades da criança,
tal como uma mãe suficientemente boa (Winnicott, 1942/1982). Por
meio desse processo de regressão, buscando o descongelamento de
elementos saudáveis da personalidade, como aponta Galván (2012),
foi possível retomar aspectos muito primitivos da constituição da
subjetividade, no qual a condução da terapia deve ser da ordem do
acolhimento de um verdadeiro self em detrimento da interpretação.
Vivencia-se o indizível, o caos e a angústia, e o manejo principal
está na sobrevivência do terapeuta em possibilitar essas vivências
e ter condições de suportá-las igualmente, disponibilizando esse
espaço em sua mente, o que sustenta o setting e o faz sobreviver a
essa experiência.
Segundo Winnicott (1942/1982), as crianças só depositarão seu
ódio e agressão no meio que conhecem e confiam, pois sabem que
o retorno desse ódio e violência do meio não retornará para elas.
Um bom ambiente será o capaz de tolerar essa agressividade, e o
adulto deve oferecer sua presença com a intenção de acolher essas
demandas emocionais.
Percebe-se que no começo não houve relação alguma com um
objeto, estando a terapeuta ali apenas como uma extensão do corpo

58 Estilos clin., São Paulo, v. 21, n. 1, jan./abr. 2016, 45-62.


da paciente, auxiliando-a a pegar os materiais e atender suas neces-
sidades, proporcionando a sustentação de um ambiente suficiente-
mente bom. Nesse sentido, parece visível a capacidade da criança de
utilizar-se do setting visando à regressão ao estado de dependência,
em que há uma relação mágica com o ambiente, pois quando o tera­
peuta adapta-se às necessidades do paciente promove a ilusão da
onipotência. Aos poucos, ao começar a se integrar, delimitando seu
self e conferindo ao outro a existência de outro (posição depressiva),
passou a elaborar esse processo por meio das atividades de junção das
partes do corpo e dos contornos de suas mãos e pés. Nesse sentido,
também passou a brincar de esconde-esconde, que diz respeito a uma
atitude de legitimar a existência do outro – ao encontrá-lo – e na
capacidade de estar só – ao esconder-se –, próprios de uma criança
que começou a se perceber como um objeto integrado sem tantas
angústias e sentimentos de culpa em relação a isso. As brincadeiras
de confeccionar bolos também apontam para a ideia de que ela estava
procurando retomar a fase de entrada na posição depressiva, já que
entendemos que o processo de desenvolvimento havia estacionado
antes da vivência dessa fase. Assim, o bolo era como uma tentativa
de reparação, depois de ter podido viver toda a angústia ligada as
suas fantasias de destrutividade e suas ansiedades derivadas delas.
Concluindo, entendemos que a condução da terapia possibilitou
à criança retomar suas principais angústias e ansiedades iniciais, e
elaborá-las para seguir seu processo de desenvolvimento, integrando­
‑se e podendo com isso perceber o outro sem tanto receio de tê-lo
destruído, já que, inclusive, esse outro se mostra também inteiro e
não destruído pela criança.
Tal como preconizam Januário e Tafuri (2008), Kupermann
(2011) e Palhares (2008), entende-se que essa evolução no caso só
foi possível devido ao manejo realizado pela terapeuta em aguentar
e acolher os momentos iniciais da regressão da menina, estando ali
silenciosamente, com sua presença sensível, respeitando as manifes-
tações da paciente. A interpretação perde nessas circunstâncias seu
estatuto terapêutico, ao contrário, é vista pelo paciente como uma
intrusão em seu processo de continuar a ser.
Ao longo do atendimento alguns sintomas desapareceram, como
o de roer as unhas e a dificuldade que ela tinha para dormir, e outros
foram cedendo, como a diminuição dos rituais para se alimentar, de
usar um copo ou talher já usado por alguém antes e a impossibilidade
de ingerir mais alimentos durante o dia. Após 10 meses de tratamento,

59
a criança encontrava-se com vontade queria descartar, dizendo que não te-
de experimentar novos alimentos, ria problema guardá-las já que todos
vivenciando com prazer o cheiro dos possuímos e fazemos tanto coisas
alimentos e se apresen­tando muito feias como bonitas, inaugurou e abriu
menos ansiosa. Vale acrescentar que, espaço para dizer que se aceitava tudo
como se percebeu que a mãe apresen- o que vinha dela, uma aceitação incon-
tava dificuldades com a maternidade, dicional, liberando a possibilidade dela
ela foi encaminhada para terapia explorar o setting e experimentar a si
individual, e mantiveram-se sessões mesma, pois no início da vida o “eu
regulares de escuta e orien­tação. sou” não significa nada, a não ser que
Entendemos que certamente isso se seja com um outro que testemunha
contribuiu para o bom andamento do sua existência e confere valor a ela.
processo terapêutico com a criança, Com a postura e manejo da tera-
principalmente na manutenção de peuta apresentados foi possível que
suas conquistas no setting. o setting se mantivesse estável, dando
sustentação emocional e segurança,
possibilitando a regressão à depen-
Considerações finais dência e a expressão de vivências
inconscientes e a sustentação de um
verdadeiro self.
Percebeu-se que nesse caso foi de Finalmente, ressaltamos a impor-
suma importância a sensibilidade da tância das supervisões clínicas para
terapeuta em compreender a neces­ que a terapeuta tivesse um espaço
sidade da criança, que era poder ter para expressar seus sentimentos,
um espaço no qual tivesse a opor- raivas e angústias vividas no setting,
tunidade de vivenciar experiências para que retornasse às sessões com
primitivas e constituintes que não pu- o psiquismo capaz de suportar as
deram ser expressas e experimen­tadas manifestações da paciente e não a
anteriormente de forma saudável. retaliasse, sabendo da importância
Essa compreensão acerca do mane- dessa sobrevivência para o processo
jo adequado pelo caso se deu pela maturacional da criança.
obser­vação dos tipos de brincadeiras
escolhidos pela criança, e também GOOD ENOUGH SET TING AND
pela percepção de que, quando inda- CLINICAL HANDLING IN CHILD
PSYCHOTHERAPY: A CASE STUDY
gada sobre algo, a menina sentia-se
paralisada e não respondia mais para Abstract
a terapeuta. The technique of child clinical care can be studied from
the theory developed by Winnicott and his peculiar way
A intervenção que a terapeuta
of conducting some cases in which he realized that the
fez de acolher as produções que a interpretation was ineffective. In these cases, the author
criança descrevia como “feias” e que proposed a new form of handling and conduction

60 Estilos clin., São Paulo, v. 21, n. 1, jan./abr. 2016, 45-62.


during sessions and stressed the importance of setting stability for emotional development. The
main objective of this article is to illustrate and expand the discussion about the topic, through
the presentation of a child’s clinical case, in which the need of this differentiated therapist’s stance
was identified and requested for the result of treatment.
Index terms: child psychoanalysis; clinical case; emotional development.

EL SETTING SUFICIENTEMENTE BUENO Y EL MANEJO CLÍNICO EN


LA PSICOTERAPIA INFANTIL : RELATO DE CASO
Resumen
La técnica de atendimiento infantil puede ser estudiada a partir del pensamiento de Winnicott y
de su manera peculiar de conducción de algunos casos en los cuales percibió que la interpretación
se encontró ineficaz. Para estos casos, el autor propuso un nuevo tipo de manejo y conducción de
las sesiones y destacó la importancia de la estabilidad del setting para el desarrollo emocional. El
principal objetivo de este artículo es ilustrar y ampliar el debate del tema mediante la presentación
de un caso clínico infantil en lo cual se identificó la necesidad de una postura diferenciada del
terapeuta para el resultado del tratamiento.
Palabras clave: psicoanálisis del niño; caso clínico; desarrollo emocional.

REFERÊNCIAS

Ferreira, L. J. S., & Campos, M. (2014). O brincar e sua função no processo analítico
infantil. Connection line, (11).
Galván, G. (2012). O conceito de regressão em Freud e Winnicott: algumas dife-
renças e suas implicações na compreensão do adoecimento psíquico. Winnicott
e-prints, 7(2), 38-51.
Januário, L. M., & Tafuri, M. I. (2008). O olhar e o corpo na relação transferencial
com uma criança em sofrimento psíquico grave. Estilos da Clínica, 13(25), 192-
209. doi: http://dx.doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v13i25p192-209
Kahtuni, H. C. (2014). O engano da analista e seus desdobramentos. Psicologia
Revista: Revista da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde, 15(1), 77-108.
Kupermann, D. (2011). A criança, o infantil e o que o psicanalista (não) sabe. Estilos
da Clínica, 16(2), 324-337. doi: http://dx.doi.org/10.11606/issn.1981-1624.
v16i2p324-337
Maggi, N. (2007). O espaço potencial de criatividade em crianças que experimentam
situações de privação. Estilos da Clínica, 12(22), 158-175. doi: http://dx.doi.
org/10.11606/issn.1981-1624.v12i22p158-175
Palhares, M. do C. A. (2008). Transferência e contratransferência: a clínica viva.
Revista Brasileira de Psicanálise, 42(1), 100-111.
Telles, K. K. P. (2011). O manejo terapêutico em Winnicott: a clínica contemporânea.
(Tese de doutorado). Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e
Letras de Assis, São Paulo.
Winnicott, D. W. (1975). O brincar e a realidade. Rio de Janeiro, RJ: Imago.
(Trabalho original publicado em 1971)

61
Winnicott, D. W. (1982) A criança e seu mun- psicanalíticas, (Vol. 2, pp. 170-193). Porto
do. Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho Alegre, RS: Artes Médicas. (Trabalho ori-
original publicado em 1942) ginal publicado em 1987)
Winnicott, D. W. (1990a). A posição depres­ Winnicott, D. W. (1999). Tudo começa em
siva. In D. W. Winnicott, Natureza humana casa. São Paulo, SP: Martins Fontes.
(pp. 89-103). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho original publicado em 1986)
(Trabalho original publicado em 1971) Winnicott, D. W. (2000a). Aspectos clínicos
Winnicott, D. W. (1990b). Natureza huma- e metapsicológicos da regressão dentro
na. Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho do setting analítico. In D. W. Winnicott,
original publicado em 1988) Textos selecionados: da pediatria à psicanálise
Winnicott, D. W. (1994a). O medo do co- (pp. 374-392). Rio de Janeiro, RJ: Imago.
lapso. In D. W. Winnicott, Explorações (Trabalho original publicado em 1955)
psicanalíticas (Vol. 2, pp. 70-76). Porto Winnicott, D. W. (2000b). Desenvolvimento
Alegre, RS: Artes Médicas. (Trabalho ori- emocional primitivo. In D. W. Winnicott,
ginal publicado em 1987) Textos selecionados: da pediatria à psicanálise
Winnicott, D. W. (1994b). Sobre o uso de um (pp. 218-232). Rio de Janeiro, RJ: Imago.
objeto. In D. W. Winnicott, Explorações (Trabalho original publicado em 1958)

julia.a.g@bol.com.br
Rua Paranaguá, 539
86020-030 – Londrina – PR – Brasil.

sandra.zanetti@gmail.com
Rodovia Celso Garcia Cid/Campus
Universitário da UEL
86.057-970 – Londrina – PR – Brasil.

Recebido em fevereiro/2015.
Aceito em dezembro/2015.

62 Estilos clin., São Paulo, v. 21, n. 1, jan./abr. 2016, 45-62.

Você também pode gostar