Acórdão N.º 05CC2007
Acórdão N.º 05CC2007
Acórdão N.º 05CC2007
Acórdão nº 05/CC/2007
de 06 de Novembro
Processo nº 03/CC/07
6. Zelar pelo funcionamento correcto dos órgãos do Estado (última parte do artigo 146 da
Constituição) deve entender-se como a faculdade que o Presidente da República tem para
usar das competências que a Constituição e a lei lhe conferem para, se e quando o
entender, praticar os actos autorizados, nomeadamente, pelos artigos 159, 160, 161, 162,
183, nº 1, al. d), 200, 201, 203, 204, 207 e 268, nº 2, todos da Constituição.
5. “É dado adquirido, como princípio universal, que as instituições afins podem e devem,
segundo determinadas plataformas institucionais, funcionar de modo harmónico, o que
pressupõe coordenação da sua acção”.
13. Também resulta claro que o CCLJ não foi concebido, nem foi criado, com o intuito
de usurpar as competências atribuídas, pela Constituição da República, aos Conselhos
17. A visão da justiça não é apanágio apenas dos Tribunais e do Ministério Público mas
também do Presidente da República e do Governo, e importa que as políticas, as
estratégias e a utilização dos parcos recursos nacionais sejam percebidas em conjunto e
não de forma isolada.
18. O mesmo se aplica quanto à afirmação feita pelos requerentes que se prende com o
facto de, alegadamente, a alínea d) do artigo 2 do Decreto Presidencial nº 25/2005, de 27
de Abril, violar os artigos 212, 236 e 239, nº 3, da Constituição da República. O CCLJ
pretende simplesmente avaliar o grau do acesso à justiça e do cumprimento da legalidade.
Os requerentes têm legitimidade processual activa, nos termos do artigo 245, nº 1, al. c)
da Constituição da República. O Conselho Constitucional é competente nos termos do
artigo 244, nº 1, alínea a) da Constituição. Não há outras questões prévias que se devam
conhecer, pelo que cumpre apreciar e decidir sobre o mérito do pedido.
Importa referir que, por um lado, o artigo 146 da actual Constituição tem precedente no
artigo 117 da Constituição de 1990, cujo texto permaneceu inalterado aquando da revisão
constitucional de 2004, à excepção da inclusão da epígrafe “Definição”. Por outro, a
Constituição de 1975 tratava do estatuto do Presidente da República no artigo 47,
atribuindo-lhe, tal como nas Constituições de 1990 e de 2004, as funções de Chefe do
Estado, de simbolizar a unidade nacional e de representar a Nação no plano interno e
internacional. A diferença que se verifica é que a Constituição de 1975, conforme a al. a)
do artigo 48, incluía nas competências do Presidente da República, e não no estatuto
deste, o “fazer respeitar a Constituição e assegurar o funcionamento correcto dos órgãos
estatais”.
Portanto, a última parte do nº 1 do artigo 146 da Constituição não podia, por si só,
constituir fundamento da aprovação do Decreto Presidencial nº 25/2005, de 27 de Abril,
que criou o CCLJ.
No que concerne ao argumento dos requerentes segundo o qual a criação do CCLJ fere o
princípio da separação de poderes, consignado no artigo 134 da Constituição, este
Conselho entende o seguinte:
- As instituições representadas no CCLJ (Tribunal Supremo, Tribunal Administrativo,
Ministério da Justiça, Ministério do Interior e Procuradoria-Geral da República) têm
Esta necessidade de diálogo, coordenação e articulação, que sempre existiu, foi sendo
satisfeita de diferentes formas consoante as fases do processo de evolução constitucional
do Estado moçambicano.
Portanto não se pode pretender pôr em causa a necessidade de articulação que vise um
alto grau de eficiência e de qualidade na defesa da legalidade e na organização da justiça.
Por outro lado, importa referir que o n°2 do artigo 3 do citado Decreto Presidencial,
configura uma clara violação ao princípio da separação de poderes, uma vez que coloca o
Ministro da Justiça, membro do Governo e, por conseguinte, titular do poder executivo,
subordinado ao Presidente do Tribunal Supremo que é o representante dos Tribunais
Judiciais. O mesmo Ministro da Justiça, quando tivesse de assumir as funções de
Assim se conclui que o Decreto Presidencial impugnado fere, pelo seu conteúdo, a
Constituição da República, padecendo de inconstitucionalidade material que decorre
especialmente da contradição entre os artigos 1, 2 e 3 do Decreto em causa com os
artigos 134, 219, 222, alínea d) e 233, todos da Constituição, acabando por afectar a
validade do diploma na sua globalidade.
V
Decidindo:
Rui Baltazar dos Santos Alves, Lúcia da Luz Ribeiro, Orlando António da Graça,
Teodato Mondim da Silva Hunguana, João André Ubisse Guenha, Lúcia F.B. Maximiano
do Amaral e Manuel Henrique Franque.