Daniela 2016 Pensamentos Intrusivos
Daniela 2016 Pensamentos Intrusivos
Daniela 2016 Pensamentos Intrusivos
UNIVERSIDADE DO ALGARVE
2016
DANIELA ALEXANDRA JESUS COSTA
UNIVERSIDADE DO ALGARVE
2016
Agradecimentos
É com grande orgulho que chego ao fim desta importante etapa. Queria, por isso,
destacar o meu agradecimento a algumas pessoas que, direta ou indiretamente
proporcionaram a concretização da conclusão da presente dissertação.
Em primeiro lugar, à professora Antónia Ros, que como orientadora desta
dissertação, desde o início, me ajudou no desenvolvimento de todo o processo, a
encontrar as melhores soluções para os obstáculos que foram surgindo e fornecendo-me
apoio e motivação em todas as palavras expressas.
Aos meus pais e irmãos, por todo o apoio dado, por, estarem sempre presentes e
prontos para me ajudar no que pudessem, apoiando as minhas decisões e festejando as
vitórias comigo.
Aos meus amigos, em especial, à Tatiana, ao David, à Iolanda e à Raquel, por
todas as palavras de encorajamento e todos os momentos de maior “desespero”
partilhados.
Queria ainda deixar o meu agradecimento a todos aqueles que preenchendo o
QUPIDES tornaram a recolha da amostra necessária possível.
This investigation’s main objective was to explore and to describe the intrusive
thoughts pertaining to obsessive behaviors, body dysmorphia, anxiety and health in a
non-clinical portuguese population, as well as the way as these individuals evaluate
these intrusions and what strategies they use to control them.
In this investigation there was a total of 312 individuals that were part of the
non-clinical population, with ages between 18 and 65. A majority of the participants
were female (69,7%). After providing their informed consent, the participants answered
a sociodemographic questionnaire, as well as the questionnaire about unpleasant
intrusive thoughts.
The results show that the big majority of the participants (94,6%) acknowledged
having experienced, at least once in their lives, intrusions of the four types under study.
Thought was the most common manifestation of the four types of intrusions.
2. Metodologia ....................................................................................................................... 16
3. Resultados .......................................................................................................................... 18
3.1.2. Associação entre os conteúdos de intrusões com base na frequência com que se
experimentam ...................................................................................................................... 20
5. Conclusão ........................................................................................................................... 50
Tabela 10. Diferenças na utilização da estratégia Não fazer nada entre os quatro tipos
de conteúdos de intrusões. Resultados do Pair-Sample t Test. ....................................... 35
Tabela 11. Diferenças na utilização da estratégia Não fazer nada entre os quatro tipos
de conteúdos de intrusões. Resultados do Pair-Sample t Test. ....................................... 36
Figura 10. Diferenças entre os quatro tipos de intrusões no que refere à realização de
avaliações disfuncionais; ................................................................................................ 31
Índice de Anexos
G3 - PA – Perturbações Alimentares
1. Introdução
Berry e Laskey (2012) realizaram uma revisão teórica onde teceram algumas críticas
aos estudos publicados acerca das intrusões de tipo obsessivas. Os autores
3
Não só com o objetivo de estudar as intrusões de forma mais rigorosa, mas também
para ultrapassar as críticas realizadas pelos estudos anteriores, foi recentemente
realizado um estudo transnacional efetuado em 13 países diferentes espalhados pelos
seis continentes com indivíduos da população não clínica sobre pensamentos intrusivos
(Radomsky, Alcolado, Abramowitz, Alonso, Belloch, Bouvard, & Wong, 2014;
Moulding, Coles, Abramowitz, Alcolado, Alonso, Belloch, & García-Soriano, 2014;
Clark, Abramowitz, Alcolado, Alonso, Belloch, Bouvard, & Ghisi, 2014). Para este
estudo a amostra foi constituída por 777 estudantes universitários, com idades
compreendidas entre os 17 e os 50 anos. De modo a ultrapassar as limitações dos
estudos em que foram apenas utilizados questionários estes autores construíram uma
entrevista, a International Intrusive Thoughts Interview Schedule Version 6. Esta
entrevista é constituída por oito secções, nomeadamente: Secção A-C: Informações
demográficas, clinicas e psiquiátricas; Secção D: definição e um exemplo de um
4
Segundo alguns autores (OCCWG, 1997), no geral das teorias cognitivas, presume-
se que as avaliações específicas e as ações resultantes - neste caso, as avaliações dos
5
Em finais dos anos 90, uma grande parte da investigação sobre a POC centrou-se no
estudo das crenças e dimensões avaliativas disfuncionais que os indivíduos realizavam
do pensamento, pois estas crenças são consideradas, como foi anteriormente exposto,
variáveis centrais nos modelos cognitivos. Foram identificados seis domínios principais
das crenças, nomeadamente: (a) a responsabilidade excessiva, (b) o viés de pensamento
fusão pensamento-ação (TAF), (c) a preocupação excessiva acerca da importância de
controlar os pensamentos; (d) a sobrestimação da ameaça; (e) a intolerância da incerteza
e (f) o perfecionismo (OCCWG, 1997). No entanto, as investigações deste grupo de
investigadores não conseguiram evidências a favor de que estes domínios de crenças
pudessem ser específicos ca POC, pelo que parece possível que estas dimensões se
encontrem presentes também no desenvolvimento de outras perturbações além da POC.
Outros autores (Belloch, Morillo, Lucero, Cabedo, & Carrió, 2004; Tolin,
Abramowitz, Hamlin, Foa, & Synodi, 2002; Yorulmaz et ai, 2008), referem ainda que
estratégias de controlo do pensamento como a preocupação, punição e a supressão do
pensamento, são ineficazes na medida em que, tal como as anteriores, podem fornecer
alívio temporário, mas exacerbam os sintomas a longo prazo, e então, fortalecerem as
avaliações negativas e a frequência das intrusões.
medo de engordar e a autoimagem corporal são constructos mais amplos. Por exemplo,
a sobre-estimação do tamanho do corpo é entendida como um viés cognitivo, que
resulta da existência de esquemas cognitivos disfuncionais relacionados com a comida e
a forma corporal.
Este ciclo de feedback pode ser experimentado como uma obsessão e/ou ansiedade
esmagadora. A obsessão com o tamanho do corpo e com os alimentos, serve para
agravar o estado emocional de tal forma que a pessoa sente que deve e tem de fazer
alguma coisa para escapar desses sentimentos. Esta reação pode ser interpretada como
um "impulso", isto é, um sentimento de urgência de que é preciso fazer alguma coisa
para "desfazer" este estado afetivo. A partir desta perspetiva não há alternativa senão a
de se envolver em vários comportamentos de fuga/evitamento (isto é, comportamentos
purgativos, de restrição alimentar, e realização de exercício excessivo).
Os dados obtidos neste estudo vêm reforçar a importância do estudo deste tipo de
pensamentos intrusivos na população não clínica.
com PDC constrói uma representação mental distorcida da imagem corporal própria.
Estas representações ativam valores idealizados sobre a importância da aparência e, em
alguns casos, os valores sobre perfeccionismo ou simetria e do pensamento do eu como
um objeto estético. Isto leva a uma apreciação negativa de si e à realização de
comparações entre três imagens diferentes: (1) a imagem corporal distorcida, (2) a
representação externa (geralmente no espelho), e (3) a imagem corporal ideal. Deste
modo, estas comparações repetidas deixam o indivíduo com mais dúvidas sobre a sua
aparência, fazendo com que preste mais atenção ao que considera defeituoso na mesma.
O que incentiva ainda mais autoapreciações e verificações, bem como estimula o
desenvolvimento de mais pensamentos negativos (Veale, 2001).
Outro tipo de pensamentos intrusivos com relevância para o nosso estudo, são os
relacionados com a perturbação de ansiedade em relação à saúde/doença (hipocondria
de acordo com o DSM-IV APA, 1994)
O sinal mais facilmente observável desta patologia parece ser a tentativa persistente
de procurar confirmação sobre os sintomas ou doenças temidas. Os indivíduos com esta
condição geralmente procuram de forma repetida e persistente o médico, pedem exames
adicionais, realizam pesquisas em sites da Internet de forma repetitiva, leem artigos
médicos e procuram garantias junto de pessoas significativas sobre as suas sensações
corporais. Esta preocupação com a doença/saúde pode ser prejudicial para o
desenvolvimento social, ocupacional e para o funcionamento familiar, e está associada
com custos económicos substanciais (Olatunji, Kauffman, Meltzer, Davis, Smits &
Powers, 2014).
Ou seja, este modelo (Abramowitz, Deacon, & Valentiner, 2007) sugere que, as
crenças disfuncionais sobre os sintomas corporais e doença desempenham um papel
significativo no desenvolvimento da patologia. Tais crenças, muitas vezes aumentam a
probabilidade da existência de cognições catastróficas quando o indivíduo é exposto a
sintomas corporais benignos ou informações relacionadas com a saúde. Uma vez
preocupado com a possibilidade de adquirir uma doença, esse indivíduo torna-se
vigilante para detetar quaisquer sinais de doença sentindo extrema necessidade de
reduzir a sua preocupação e confirmar o seu estado de saúde. As crenças disfuncionais
são mantidas (apesar de informações contraditórias e confirmações de plena saúde por
parte de profissionais médicos) por estratégias mal adaptativas utilizadas para lidar com
essa ansiedade. Essas estratégias são focadas nas tentativas de impedir as doenças
temidas e pela prevenção excessiva de alcançar a certeza sobre o seu estado de saúde
(idas constantes ao médico, realização de exames constantes, etc.). Estes
comportamentos de segurança (resultantes e confirmatórias das crenças cognitivas
disfuncionais) impedem que estas pessoas adquiram informações que refutem as suas
crenças disfuncionais sobre os seus sintomas (Abramowitz, Deacon, & Valentiner,
2007).
- Intolerância da - Intolerância à
incerteza incerteza (Perpiña,
(OCCWG, 1997); Roncero & Belloch
(2008);
- Perfecionismo
(OCCWG, 1997). - Perfecionismo
(Perpiña, Roncero &
Belloch (2008)
desadaptativa
- Substituição do (Phillips, Menard
pensamento & Weisberg,
(Freeston, 2005)
Ladouceur,
Provencher, e
Blais, 1995);
- Falar sobre
(Freeston,
Ladouceur,
Provencher, e
Blais, 1995);
- Parar o
pensamento
(Freeston,
Ladouceur,
Provencher, e
Blais, 1995);
- Convencer-se de
que o pensamento
não é importante
(Freeston,
Ladouceur,
Provencher, e
Blais, 1995);
2. Metodologia
2.1.Participantes
2.2. Instrumentos
2.2.1. Questionário de dados sociodemográficos elaborado para esta
investigação (Anexo II)
2.3.Procedimentos
2.3.1. Recolha de dados:
3. Resultados
Parte I QUPIDES
3.1.Frequência de intrusões
Além disso, 79.7% dos participantes referiram já ter experimentado, pelo menos
uma vez na vida, uma intrusão de cada um dos quatro conteúdos de intrusões em estudo.
18
** ** **
16 n.s
**
14 n.s
12
10
0
G1-G2 G1-G3 G1-G4 G2-G3 G2-G4 G3-G4
Nota: G1= Intrusões de conteúdo obsessivo compulsivos, G2= Intrusões de conteúdo dismórfico, G3= Intrusões de
conteúdo alimentar e exercício físico; G4= Intrusões de conteúdo de ansiedade na saúde.* p <.05, ** p <.01; n.s.
diferença não significativa.
3.1.2. Associação entre os conteúdos de intrusões com base na frequência com que
se experimentam
Figura 2. Medidas de associação das frequências dos quatro conteúdos de intrusões estudadas
(Coeficiente de correlação de Pearson)
Nota: PI= POC (G1)= Intrusões de conteúdo obsessivo-compulsivo, PDC (G2) = Intrusões de conteúdo dismórfico,
PA (G3)= Intrusões de conteúdo alimentar e exercício físico; PSA (G4) = Intrusões de conteúdo de ansiedade na
saúde.* p <.05, ** p <.01.
21
16 ** ** n.s **
**
14
12
n.s
10
0
G1-G2 G1-G3 G1-G4 G2-G3 G2-G4 G3-G4
Nota: G1= Intrusões de conteúdo obsessivo compulsivos, G2= Intrusões de conteúdo dismórfico, G3= Intrusões de
conteúdo alimentar e exercício físico; G4= Intrusões de conteúdo de ansiedade na saúde.* p <.05, ** p <.01; n.s.
diferença não significativa.
Nota: PI= Pensamentos Intrusivos; POC (G1)= Intrusões de conteúdo obsessivo compulsivos, PDC (G2)= Intrusões
de conteúdo dismórfico, PA (G3)= Intrusões de conteúdo alimentar e exercício físico; PSA (G4)= Intrusões de
conteúdo de ansiedade pela saúde.* p <.05, ** p <.01; n.s. diferença não significativa.
Parte II QUPIDES
Imagem
16% Pensamento
67%
A intrusão de tipo dismórfica mais desagradável foi a número 2 “Do nada, sem
nenhum motivo especial, vem-me à cabeça o pensamento de que o meu corpo funciona
mal (mau odor, suor, mau hálito, flatulências, cara oleosa, mãos ou cabelo oleoso,
etc.).” que, foi selecionada por 19.6% dos participantes, seguida da nº4 “Quando me
olho ao espelho ou me vejo refletido/refletida em algum sítio, vem-me à cabeça: “Que
se nota muito o defeito que tenho (nariz, orelhas, mãos, suor, aspeto gorduroso,
borbulhas, etc.)” que foi selecionada por 13.1% dos participantes. A intrusão menos
selecionada pelos participantes como sendo a mais desagradável foi a nº 3 “Do nada,
sem nenhum motivo especial, vem-me à cabeça a intrusão mental: “Batia em mim
próprio/a ou o que fosse preciso para retirar esse defeito” que foi selecionada apenas
por 1.3% dos mesmos.
Forma de apresentação da
intrusão de tipo Dismórfica
Sensação física
12%
Impulso
4%
Imagem
18% pensamento
66%
Imagem
18% pensamento
66%
Imagem
18% pensamento
66%
5
** ** **
4,5
4
n.s ** **
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
G1-G2 G1-G3 G1-G4 G2-G3 G2-G4 G3-G4
Figura 9. Diferenças entre os quatro tipos de intrusões no que refere às emoções negativas
causadas;
3.4.1. Medo
Tabela 2. Diferenças entre os quatro grupos na intrusão ser ou não assustadora. Resultados do
Pair-Sample t Test
3.4.2. Tristeza
Tabela 3. Diferenças na tristeza causada pelos quatro grupos de intrusões. Resultados do Pair-
Sample t Test.
3.5.Grau de interferência
Verificamos que o grupo de intrusões que parece ser avaliado de modo mais
disfuncional pelos indivíduos, são as intrusões obsessivas e compulsivas (M=6.95;
31
8
** ** **
7
6
n.s n.s
5 **
4
0
G1-G2 G1-G3 G1-G4 G2-G3 G2-G4 G3-G4
Figura 10. Diferenças entre os quatro tipos de intrusões no que refere à realização de avaliações
disfuncionais;
*valores significativos p <.05; **valores muito significativos p <.01; n.s valores não significativos.
Como pode ser observado na Tabela 8, os participantes estimaram que por pensar
nessa intrusão, o pensamento poderia tornar-se real com maior probabilidade ou ser
real se, se tratassem de conteúdos obsessivos em relação às intrusões dismórficas
(t(282)=2.43; p<.001; r=.08) ou às relacionadas com a saúde (t(289)=4.08; p<.001; r=.13)
no entanto, essas diferenças não se verificam no caso das intrusões alimentares
(t(266)=.71; p=.475; r=.02). Além disso, as intrusões alimentares foram igualmente
avaliadas com maior probabilidade de serem ou se tornarem reais do que as dismórficas
34
(t(257)= -1.25; p=.211; r=-.03) e do que as relacionadas com a saúde (t(259)=3.35; p<.001;
r=.10).
Como pode ser observado na Tabela 9 não houve diferenças na utilização da estratégia
de ignorar o pensamento na generalidade dos conteúdos, no entanto, as intrusões
35
alimentares tendem a ser mais ignoradas do que as de saúde (t(262)=-2.04; p=.041; r=-
.07) .
Tabela 10. Diferenças na utilização da estratégia Não fazer nada entre os quatro tipos de
conteúdos de intrusões. Resultados do Pair-Sample t Test.
Tabela 11. Diferenças na utilização da estratégia Não fazer nada entre os quatro tipos de
conteúdos de intrusões. Resultados do Pair-Sample t Test.
3.7.4. Autopunição
3.7.5. Neutralização
relacionados com a ansiedade perante a saúde do que para lidar com conteúdos
alimentares (t(260)=-3.60; p<.001; r=-.10). Não houve diferenças na frequência com que
os participantes recorreram a comportamentos de neutralização para lidar com
conteúdos dismórficos e de saúde (t(273)=-1.68; p=.094; r=-.05).
nossos participantes, referiram já ter experimentado, pelo menos uma vez na vida, uma
intrusão de cada um dos quatro conteúdos de intrusões em estudo. Este dado vai ao
encontro da hipótese da existência de um contínuo, ao longo do qual se situariam todos
os indivíduos, entre a normalidade das intrusões e a patologia onde se encontram as
obsessões clínicas. Esta hipótese foi desenvolvida tendo por base os modelos cognitivos
da POC (Clark & Inozu, 2014), estendida a outros modelos explicativos de outras
perturbações com características semelhantes à POC, como a perturbação dismórfica, as
perturbações alimentares e à perturbação de ansiedade em relação à saúde, nas quais a
experiência de pensamentos intrusivos se tornaria um fator de risco para o
desenvolvimento e manutenção das mesmas.
alimentares foram, por sua vez, avaliadas como mais frequentes do que as dismórficas.
Como referido no estudo de Perpiña, Roncero e Belloch, (2008), algumas intrusões
relativas às perturbações alimentares podem fazer parte de um grupo de conteúdos
“socialmente aceitáveis” que dizem respeito às preocupações com a alimentação
saudável e o exercício físico, bem como aos comportamentos (fazer dieta e exercício) a
elas associadas, que, na nossa perspetiva, podem contribuir para o aumento da
frequência deste tipo de pensamentos em relação aos de conteúdo dismórfico.
a lógica da frequência, pelo facto de o instrumento ser mais sensível a estes conteúdos
de intrusões em relação aos restantes. Como referido a maior parte dos estudos na
população não clínica tem apenas em consideração a intrusão na sua forma de
pensamento, sabemos que alguns dos conteúdos obsessivos, (por exemplo, sexuais e
religiosos) são descritos pela população clínica como surgindo na forma de imagens e
impulsos (Radomsky et al., 2014; Rachman, 2014). Pareceu-nos importante referir, que
tendo em conta as suas características base, as intrusões de conteúdo alimentar, teriam
uma componente de “sensação física” maior, o que não aconteceu, é de relevância
teórica e prática perceber a razão deste fenómeno. Isto porque, segundo o modelo
cognitivo-comportamental para esta perturbação (Williamson, White, York-Crowe &
Stewart 2004) através de estímulos externos (comida “proibida”, por exemplo) são
ativados auto esquemas corporais negativos que fazem o indivíduo focalizar a sua
atenção no próprio corpo e para esses estímulos e “sentir-se gordo”.
Tabela 15. Síntese dos principais resultados encontrados no impacto emocional, avaliação e
estratégias utilizadas para lidar com as intrusões mais desagradáveis a partir da comparação dos
diferentes tipos de intrusões em função do conteúdo.
as outras
As intrusões dismórficas, por sua vez, causaram o mesmo grau de medo do que
as intrusões alimentares e menos do que nas obsessivas e de saúde, e mais tristeza do
que nos restantes conteúdos (obsessivos, alimentares e relacionados com a saúde). Os
conteúdos dismórficos, comparados com os outros conteúdos, causam maior
interferência apenas do que os conteúdos alimentares. Uma justificação plausível para
estes conteúdos causarem maior grau de tristeza remete-nos às características da
perturbação dismórfica corporal, na qual os indivíduos que sofrem com esta condição
percecionam "falhas" na sua aparência que causam uma enorme angústia e vergonha
com significativa interferência na vida do paciente, podendo acarretar problemas
adicionais como a depressão, o isolamento, ou ideação suicida (Veale, 2004). Como
referido estas falhas percebidas causam vergonha, podendo causar interferência elevada
também no pensamento e comportamento do indivíduo, fazendo com que se perceba
como inferior, afetando a autoestima.
47
Como no caso das intrusões dismórficas, também nas intrusões relacionadas com
a saúde, não foram encontrados estudos sobre estes conteúdos na população não clínica.
Neste sentido, as avaliações disfuncionais e estratégias de controlo observadas nos
nossos resultados não encontram equivalência teórica. Na literatura as avaliações mais
empregues encontram-se relacionadas com o catastrofismo e a preocupação obsessiva
dos sintomas de doença, que estão diretamente ligados às populações que sofrem desta
patologia. Consequentemente, as estratégias empregues estão relacionadas com estas
avaliações e dizem respeito à procura de informações que confirmem o seu estado de
saúde. Os nossos resultados, são direcionados à população não clínica, a avaliação deste
conteúdo como inaceitável, importante e importantes de serem controlados, pode estar
relacionada, como já referido, com o facto de estes pensamentos estarem diretamente
ligados à saúde e vida do indivíduo. Abramowitz, Deacon, e Valentiner, (2007), referem
que indivíduos que sofrem com esta patologia utilizam estratégias de busca de
informações (idas ao médico, pesquisas na internet, perguntar a outras pessoas…) uma
50
das estratégias com maior relevância nos nossos resultados é a reaseguração, estando a
utilização desta estratégia de acordo com o que seria esperado teoricamente, no entanto,
a neutralização e a paragem do pensamento encontram-se fora dos limites da literatura
analisada, podendo estar relacionado com o anteriormente mencionado.
5. Conclusão
É ainda de salientar, que este estudo apresenta algumas limitações, que podem
ser corrigidas em estudos futuros. Como, futura aplicação do QUPIDES numa amostra
clínica, possivelmente dividida em quatro grupos, para obtenção de informação
pertinente sobre o papel das intrusões no desenvolvimento das obsessões, a fim de
fundamentar melhor, a hipótese de continuidade intrusões-obsessões.
respostas, pode, por outro lado, restringir em demasia as respostas fornecidas pelo
participante.
Para concluir, intrusões e obsessões parecem ligadas por uma linha imaginária
de continuidade, na qual se inserem todos os indivíduos, dada a universalidade dos
pensamentos intrusivos. As obsessões poderiam desenvolver-se, através de
vulnerabilidades em indivíduos específicos. A existência de esquemas cognitivos
alterados, levaria à realização de avaliações disfuncionais e que resultariam na
implementação de estratégias para controlar/eliminar as intrusões, que, como descrito
nos modelos teóricos das perturbações estudadas, trariam alívio a curto prazo, mas que,
a longo prazo poderiam auxiliar no aumento da frequência e do mal-estar causados por
este tipo de pensamentos. Assim, quanto maior o significado pessoal atribuído ao
conteúdo dos pensamentos intrusivos, maior a probabilidade de serem avaliados de
forma disfuncional, refletindo-se num maior esforço para os eliminar, entrando num
ciclo vicioso, que culminaria no desenvolvimento e manutenção de perturbações como a
obsessivo-compulsiva, dismórfica, do comportamento alimentar e de ansiedade em
relação à saúde.
6. Referências Bibliográficas
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55
Anexos
57
Anexo I
Consentimento informado
58
Anexo II
Questionário de dados
sociodemográficos
60
Anexo III
Questionário de Pensamentos
Intrusivos Desagradáveis (QUPIDE
62