Emmanuel - Chico Xavier - Vida e Sexo
Emmanuel - Chico Xavier - Vida e Sexo
Emmanuel - Chico Xavier - Vida e Sexo
ÍNDICE
Vida e Sexo
Em torno do sexo
Família
Namoro
Ambiente doméstico
Energia sexual
Compromisso afetivo
Casamento
Divórcio
União infeliz
Filhos
Alterações efetivas
Desajustes
Tédio no lar
Vinculações
Desvinculações
Aversões
Aborto
VIDA E SEXO
1. EM TORNO DO SEXO
Pergunta - O Espírito que animou o corpo de um homem pode animar o de
uma mulher, numa nova existência, e vice-versa?
Resposta - Sim, pois são os mesmos os Espíritos que animam os homens e as
mulheres. Item nº 201 de "O livro dos espíritos". Ante os problemas do sexo, é forçoso
lembrar que toda criatura traz os seus temas particulares, com referência ao assunto.
Atendendo à soma das qualidades adquiridas, na fieira das próprias reencarnações, o
Espírito se revela, no Plano Físico, pelas tendências que registra nos recessos do ser,
tipificando-se na condição de homem ou de mulher, conforme as tarefas que lhe cabe
realizar. Além disso a individualidade, muitas vezes, independentemente dos sinais
morfológicos, encerra em si extensa problemática, em se tratando de vinculações e
inclinações de caráter múltiplo. Cada pessoa se distingue por determinadas
peculiaridades no mundo emotivo. O sexo se define, desse modo, por atributo não
apenas respeitável mas profundamente santo da Natureza, exigindo educação e controle.
Através dele dimanam forças criativas, às quais devemos, na Terra, o instituto da
reencarnação, o templo do lar, as bênçãos da família, as alegrias revitalizadoras do afeto
e o tesouro inapreciável dos estímulos espirituais. Desarrazoado subtrair-lhe as
manifestações aos seres humanos, a pretexto de elevação compulsória, de vez que as
sugestões da erótica se entranham na estrutura da alma, ao mesmo tempo que seria
absurdo deslocá-lo de sua posição venerável, a fim de arremessá-lo ao campo da
aventura menos digna, com a desculpa de se lhe garantir a libertação. Sexo é espírito e
vida, a serviço da felicidade e da harmonia do Universo. Conseguintemente, reclama
responsabilidade e discernimento, onde e quando se expresse. Por isso mesmo, nossos
irmãos e nossas irmãs precisam e devem saber o que fazem com as energias genésicas,
observando como, com quem e para que se utilizam de semelhantes recursos,
entendendo-se que todos os compromissos na vida sexual estão igualmente
subordinados à Lei de Causa e Efeito; e, segundo esse exato princípio, de tudo o que
dermos a outrem, no mundo afetivo, outrem também nos dará.
2. FAMÍLIA
Há, pois, duas espécies de família: as famílias pelos laços espirituais e as
famílias pelos laços corporais. Duráveis, as primeiras se fortalecem pela purificação e se
perpetuam no mundo dos Espíritos, através das várias migrações da alma; as segundas,
frágeis como a matéria, se extinguem com o tempo e, muitas vezes, se dissolvem
moralmente, já na existência atual. Do item 8, no Cap. XIV, de "O Evangelho Segundo
o Espiritismo". De todas as associações existentes na Terra excetuando naturalmente a
Humanidade - nenhuma talvez mais importante em sua função educadora e
regenerativa: a constituição da família. De semelhante agremiação, na qual dois seres se
conjugam, atendendo aos vínculos do afeto, surge o lar, garantindo os alicerces da
civilização. Através do casal, aí estabelecido, funciona o princípio da reencarnação,
consoante as Leis Divinas, possibilitando o trabalho executivo dos mais elevados
programas de ação do Mundo Espiritual. Por intermédio da paternidade e da
maternidade, o homem e a mulher adquirem mais amplos créditos da Vida Superior.
Daí, as fontes de alegria que se lhes rebentam do ser com as tarefas da procriação. Os
filhos são liames de amor conscientizado que lhes granjeiam proteção mais extensa do
Mundo Maior, de vez que todos nós integramos grupos afins. Na arena terrestre, é justo
que determinada criatura se faça assistida por outras que lhe respiram a mesma faixa de
interesse afetivo. De modo idêntico, é natural que as inteligências domiciliadas nas
Esferas Superiores se consagrem a resguardar e guiar aqueles companheiros de
experiência, volvidos à reencarnação para fins de progresso e burilamento. A parentela
no Planeta faz-se filtro da família espiritual sediada além da existência física, mantendo
os laços preexistentes entre aqueles que lhe comungam o clima. Arraigada nas vidas
passadas de todos aqueles que a compõem, a família terrestre é formada, assim, de
agentes diversos, porquanto nela se reencontram, comumente, afetos e desafetos,
amigos e inimigos. Para os ajustes e reajustes indispensáveis, ante as leis do destino.
Apesar disso, importa reconhecer que o clã familiar evolve incessantemente para mais
amplos conceitos de vivência coletiva, sob os ditames do aperfeiçoamento geral,
conquanto se erija sempre em educandário valioso da alma. Temos, dessa forma, no
instituto doméstico uma organização de origem divina, em cujo seio encontramos os
instrumentos necessários ao nosso próprio aprimoramento para a edificação do Mundo
Melhor.
3. NAMORO
Pergunta - Além da simpatia geral, oriunda da semelhança que entre eles
exista, votam-se os Espíritos recíprocas afeições particulares?
Resposta - Do mesmo modo que os homens, sendo, porém, que mais forte é o
laço que prende os Espíritos uns aos outros, quando carentes de corpo material, porque
então esse laço não se acha exposto às vicissitudes das paixões. Item no. 291, de "O
Livro dos Espíritos". A integração de duas criaturas para a comunhão sexual começa
habitualmente pelo período de namoro que se traduz por suave encantamento. Dois
seres descobrem um no outro, de maneira imprevista, motivos e apelos para a entrega
recíproca e daí se desenvolve o processo de atração. O assunto consubstanciaria o que
seria lícito nomear como sendo um "doce mistério" se não faceássemos nele as
realidades da reencarnação e da afinidade.
Inteligências que traçaram entre si a realização de empresas afetivas ainda no
Mundo Espiritual, criaturas que já partilharam experiências no campo sexual em
estâncias passadas, corações que se acumpliciaram em delinqüência passional, noutras
eras, ou almas inesperadamente harmonizadas na complementação magnética,
diariamente compartilham as emoções de semelhantes encontros, em todos os lugares da
Terra.
Positivada a simpatia mútua, é chegado o momento do raciocínio.
Acontece, porém, que diminuta é, ainda, no Planeta, a percentagem de pessoas,
em qualquer idade física, habilitadas a pensar em termos de auto-análise, quando o
instinto sexual se mães derrama do ser.
Estudiosos do mundo, perquirindo a questão apenas no "lado físico", dirão
talvez tão-somente que a libido entrou em atividade com o seu poderoso domínio e,
obviamente, ninguém discordará, em tese, da afirmativa, atentos que devemos estar à
importância do impulso criativo do sexo, no mundo psíquico, para a garantia e
perpetuação da vida no Planeta. É imperioso anotar, entretanto, em muitos lances da
caminhada evolutiva do Espírito, a influência exercida pelas inteligências desencarnadas
no jogo afetivo. Referimo-nos aos parceiros das existências passadas, ou, mais
claramente, aos Espíritos que se corporificarão no futuro lar, cuja atuação, em muitos
casos, pesa no ânimo dos namorados, inclinando afeições pacificamente raciocinadas
para casamentos súbitos ou compromissos na paternidade e na maternidade, namorados
esses que então se matriculam na escola de laboriosas responsabilidades. Isso porque a
doação de si mesmos à comunhão sexual, em regime de prazer sem ponderação, não os
exonera dos vínculos cármicos para com os seres que trazem à luz do mundo, em cuja
floração, aliás, se é verdade que recolherão trabalho e sacrifício, obterão também
valiosa colheita de experiência e ensinamento para o futuro, se compreenderem que a
vida paga em amor todos aqueles que lhe recebem com amor as justas exigências para a
execução dos seus objetivos essenciais.
4. AMBIENTE DOMÉSTICO
Freqüentemente, o Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu,
estabelecendo de novo relações com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes
haja feito. Se reconhecesse nelas os a quem odiara, quiçá o ódio lhe despertaria outra
vez no íntimo. De todo modo, ele sentiria humilhado em presença daquelas a quem
houvesse ofendido. Do item 11, no Cap. V, de "o Evangelho Segundo o Espiritismo" Na
comunhão de dois seres para a organização da família, prevalece o compromisso de
assistência não só de um para com o outro, mas também para com os filhos que
procedem do laço afetivo. Não possuímos ainda na Terra institutos destinados à
preparação da paternidade e da maternidade responsáveis. A evolução e o
aprimoramento das ciências psicológicas de hoje, porém, garantir-nos-ão no futuro
semelhante evento. Identifiquemos no lar a escola viva da alma. O Espírito, quando
retorna ao Plano Físico, vê nos pais as primeiras imagens de Deus e da Vida. Na tépida
estrutura do ninho doméstico, germinam-lhe no ser os primeiros pensamentos e as
primeiras esperanças. Não lhe será, contudo, tão fácil seguir adiante com os ideais da
meninice, de vez que, habitualmente, a equipe familiar se aglutina segundo os desastres
sentimentais das existências passadas, debitando-se-lhe aos componentes os distúrbios
da afeição possessiva, a se traduzirem por ternura descontrolada e ódio manifesto ou
simpatia e aversão simultâneas. Pais imaturos, do ponto de vista espiritual, comumente
se infantilizam, no tempo exato do trabalho mais grave que lhes compete, no setor
educativo, e, ao invés de guiarem os pequeninos com segurança para o êxito em seu
novo desenvolvimento no estágio da reencarnação, embaraçam-lhes os problemas, ora
tratando as crianças como se fossem adultos ou tratando os filhos adultos como se
fossem crianças.
Estabelecido o desequilíbrio, irrompem os conflitos de ciúme e rebeldia,
narcisismo e crueldade, que asfixiam as plantas da compreensão e da alegria na gleba
caseira, transformando-a em espinheiral magnético de vibrações contraditórias, no qual
os enigmas emocionais, trazidos do pretérito, adquirem feição quase insolúvel. Decorre
daí a importância dos conhecimentos alusivos à reencarnação, nas bases da família, com
pleno exercício da lei do amor nos recessos do lar, para que o lar não se converta, de
bendita escola que é, em pouso neurótico, albergando moléstias mentais dificilmente
reversíveis.
5. ENERGIA SEXUAL
Pergunta – É a mesma a força que une os elementos da matéria nos corpos
orgânicos e nos inorgânicos?
Resposta - Sim, a lei de atração é a mesma para todos, Item nº 60, de "O livro
dos Espíritos". A energia sexual, como recurso da lei de atração, na perpetuidade do
Universo, é inerente à própria vida, gerando cargas magnéticas em todos os seres, à face
das potencialidades criativas de que se reveste. Nos seres primitivos, situados nos
primeiros degraus da emoção e do raciocínio, e, ainda, em todas as criaturas que se
demoram voluntariamente no nível dos brutos, a descarga de semelhante energia se
opera inconsideradamente. Isso, porém, lhes custa resultados angustiosos a lhes
lastrearem longo tempo de fixação em existências menos felizes, nas quais a vida, muito
a pouco e pouco, ensina a cada um que ninguém abusa de alguém sem carrear prejuízo a
si mesmo. À medida que a individualidade evolui, no entanto, passa a compreender que
a energia sexual envolve o impositivo de discernimento e responsabilidade em sua
aplicação, e que, por isso mesmo, deve estar controlada por valores morais que lhe
garantam o emprego digno, seja na criação de formas físicas, asseguradora da família,
ou na criação de obras beneméritas da sensibilidade e da cultura para a reprodução e
extensão do progresso e da experiência, da beleza e do amor, na evolução e burilamento
da vida no Planeta. Através da poligamia, o espírito assinala a si próprio longa marcha
em existências e mais existências sucessivas de reparação e aprendizagem, em cujo
transcurso adquire a necessária disciplina do seu mundo emotivo. Fatigado de
experimentos dolorosos, nos quais recolhe o fruto amargo da delinqüência ou do
desespero que haja estabelecido nos outros, reconhece na monogamia o caminho certo
de suas manifestações afetivas. Atento a isso, identifica na criatura que se lhe afina com
os propósitos e aspirações o parceiro ou a parceira ideais para a comunhão sexual,
suscetível de lhe granjear o preciso equilíbrio e capaz de lhe revitalizar as forças com
que se põe no encalço do trabalho imprescindível à própria evolução. Em nenhum caso,
ser-nos-á lícito subestimar a importância da energia sexual que, na essência, verte da
Criação Divina para a constituição e sustentação de todas as criaturas. Com ela e por ela
é que todas as civilizações da Terra se levantaram, legando ao homem preciosa herança
na viagem para a sublimação definitiva, entendendo-se, porém, que criatura alguma, no
plano da razão, se utilizará dela, nas relações com outra criatura, sem conseqüências
felizes ou infelizes, construtivas ou destrutivas, conforme a orientação que se lhe der.
6. COMPROMISSO AFETIVO
O dever íntimo do homem fica entregue ao seu livre arbítrio. O aguilhão da
consciência, guardião da probidade interior, o adverte e sustenta; mas, muitas vezes se
mostra impotente diante dos sofismas da paixão. Fielmente observado, o dever do
coração eleva o homem; porém, como determiná-lo com exatidão? Onde começa ele? O
dever principia sempre, para cada um de vós, do ponto em que ameaçais a felicidade ou
a tranqüilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha
com relação a vossa. Do item 7, no Cap. XVII, de "O Evangelho Segundo o
Espiritismo" A guerra efetivamente flagela a Humanidade, semeando terror e
morticínio, entre as nações; entretanto, a afeição erradamente orientada, através do
compromisso escarnecido, cobre o mundo de vítimas. Quem estude os conflitos do
sexo, na atualidade da Terra, admitindo a civilização em decadência, tão-só examinando
as absurdidades que se praticam em nome do amor, ainda não entendeu que os
problemas do equilíbrio emotivo são, até agora, de todos os tempos, na vida planetária.
As Leis do Universo esperar-nos-ão pelos milênios afora, mas terminarão por se
inscreverem, a caracteres de luz, em nossas próprias consciências. E essas Leis
determinam amemos os outros qual nos amamos.
Para que não sejamos mutilados psíquicos, urge não mutilar o próximo. Em
matéria de afetividade, no curso dos séculos, vezes inúmeras disparamos na direção do
narcisismo e, estirados na volúpia do prazer estéril, espezinhamos sentimentos alheios,
impelindo criaturas estimáveis e nobres a processos de angústia e criminalidade, depois
de prendê-las a nós mesmos com o vínculo de promessas brilhantes, das quais nos
descartamos em movimentação imponderada. Toda vez que determinada pessoa convide
outra à comunhão sexual ou aceita de alguém um apelo neste sentido, em bases de
afinidade e confiança, estabelece-se entre ambas um circuito de forças, pelo qual a
dupla se alimenta psiquicamente de energias espirituais, em regime de reciprocidade.
Quando um dos parceiros foge ao compromisso assumido, sem razão justa, lesa o outro
na sustentação do equilíbrio emotivo, seja qual for o campo de circunstâncias em que
esse compromisso venha a ser efetuado. É dada a ruptura no sistema de permuta das
cargas magnéticas de manutenção, de alma para alma, o parceiro prejudicado, se não
dispõe de conhecimentos superiores na auto-defensiva, entra em pânico, sem que se lhe
possa prever o descontrole que, muitas vezes, raia na delinqüência. Tais resultados da
imprudência e da invigilância repercutem no agressor, que partilhará das conseqüências
desencadeadas por ele próprio, debitando-se-lhe ao caminho a sementeira partilhada de
conflitos e frustrações que carreará para o futuro. Sabemos que a Justiça Humana
comina punições para os atos de pilhagem na esfera das realidades objetivas,
considerando a respeitabilidade dos interesses alheios; no entanto, os legisladores
terrestres perceberão igualmente, um dia, que a Justiça Divina alcança também os
contraventores da Lei do Amor e determina se lhes instale nas consciências os reflexos
do saque afetivo que perpetram contra os outros. Daí procede a clara certeza de que não
escaparemos das equações infelizes dos compromissos de ordem sentimental,
injustamente menosprezados, que resgataremos em tempo hábil, parcela a parcela, pela
contabilidade dos princípios de causa e efeito. Reencarnados que estaremos sempre,
nesse sentido, até exonerar o próprio espírito das mutilações e conflitos hauridos no
clima da irreflexão, aprenderemos no corpo de nossas próprias manifestações ou no
ambiente da vivência pessoal, através da penalogia sem cárcere aparente, que nunca
lesaremos a outrem sem lesar a nós.
7. CASAMENTO
Pergunta: - Será contrário à lei da Natureza o casamento, isto é, a união
permanente de dois seres? Resposta - É um progresso na marcha da Humanidade. Item
n°. 695, de "O Livro dos Espíritos". O casamento ou a união permanente de dois seres,
como é óbvio, implica o regime de vivência pelo qual duas criaturas se confiam uma à
outra, no campo da assistência mútua. essa união reflete as Leis Divinas que permitem
seja dado um esposo para uma esposa, um companheiro para uma companheira, um
coração para outro coração ou vice-versa, na criação e desenvolvimento de valores para
a vida. Imperioso, porém, que a ligação se baseie na responsabilidade recíproca, de vez
que na comunhão sexual um ser humano se entrega a outro ser humano e, por isso
mesmo, não deve haver qualquer desconsideração entre si. Quando as obrigações
mútuas não são respeitadas no ajuste, a comunhão sexual injuriada ou perfidamente
interrompida costuma gerar dolorosas repercussões na consciência, estabelecendo
problemas cármicos de solução, por vezes, muito difícil, porquanto ninguém fere
alguém sem ferir a si mesmo. Indiscutivelmente, nos Planos Superiores, o liame entre
dois seres é espontâneo, composto em vínculos de afinidade inelutável. Na Terra do
futuro, as ligações afetivas obedecerão a idêntico princípio e, por antecipação, milhares
de criaturas já desfrutam no próprio estágio da encarnação dessas uniões ideais, em que
se jungem psiquicamente uma à outra, sem necessidade da permuta sexual, mais
profundamente considerada, a fim de se apoiarem mutuamente, na formação de obras
preciosas, na esfera do espírito.
Acontece, no entanto, que milhões de almas, detidas na evolução primária,
jazem no Planeta, arraigadas a débitos escabrosos, perante a lei de causa e efeito e,
inclinadas que ainda são ao desequilíbrio e ao abuso, exigem severos estatutos dos
homens para a regulação das trocas sexuais que lhes dizem respeito, de modo a que não
se façam salteadores impunes na construção do mundo moral. Os débitos contraídos por
legiões de companheiros da Humanidade, portadores de entendimento verde para os
temas do amor, determinam a existência de milhões de uniões supostamente infelizes,
nas quais a reparação de faltas passadas confere a numerosos ajustes sexuais, sejam eles
ou não acobertados pelo beneplácito das leis humanas, o aspecto de ligações
francamente expiatórias, com base no sofrimento purificador. De qualquer modo, é
forçoso reconhecer que não existem no mundo conjugações afetivas, sejam elas quais
forem, sem razões nos princípios cármicos, nos quais as nossas responsabilidades são
esposadas em comum.
8. DIVÓRCIO
O divórcio é lei humana que tem por objeto separar legalmente o que já, de
fato, está separado. Não é contrário à lei de Deus, pois que apenas reforma o que os
homens hão feito e só é aplicável nos casos em que não se levou em conta a lei divina.
Do item 5, do Cap. XXII, de "O Evangelho Segundo o Espiritismo".
Partindo do princípio de que não existem uniões conjugais ao acaso, o
divórcio, a rigor, não deve ser facilitado entre as criaturas. É aí, nos laços matrimoniais
definidos nas leis do mundo, que se operam burilamentos e reconciliações endereçados
à precisa sublimação da alma.
O casamento será sempre um instituto benemérito, acolhendo, no limiar, em
flores de alegria e esperança. aqueles que a vida aguarda para o trabalho do seu próprio
aperfeiçoamento e perpetuação. Com ele, o progresso ganha novos horizontes e a lei do
renascimento atinge os fins para os quais se encaminha. Ocorre, entretanto, que a
Sabedoria Divina jamais institui princípios de violência, e o Espírito, conquanto em
muitas situações agrave os próprios débitos, dispõe da faculdade de interromper,
recusar, modificar, discutir ou adiar, transitoriamente, o desempenho dos compromissos
que abraça. Em muitos lances da experiência, é a própria individualidade, na vida do
Espírito, antes da reencarnação, que assinala a si mesma o casamento difícil que faceará
na estância física, chamando a si o parceiro ou a parceira de existências pretéritas para
os ajustes que lhe pacificarão a consciência, à vista de erros perpetrados em outras
épocas. Reconduzida, porém, à ribalta terrestre e assumida a união esponsalícia que
atraiu a si mesma, ei-la desencorajada à face dos empeços que se lhe desdobram à
frente. Por vezes, o companheiro ou a companheira voltam ao exercício da crueldade de
outro tempo, seja através de menosprezo, desrespeito, violência ou deslealdade, e o
cônjuge prejudicado nem sempre encontra recursos em si para se sobrepor aos processos
de dilapidação moral de que é vítima.
Compelidos, muita vez, às últimas fronteiras da resistência, é natural que o
esposo ou a esposa, relegado a sofrimento indébito, se valha do divórcio por medida
extrema contra o suicídio, o homicídio ou calamidades outras que lhes complicariam
ainda mais o destino. Nesses lances da experiência, surge a separação à maneira de
bênção necessária e o cônjuge prejudicado encontra no tribunal da própria consciência o
apoio moral da auto-aprovação para renovar o caminho que lhe diga respeito, acolhendo
ou não nova companhia para a jornada humana. Óbvio que não nos é lícito estimular o
divórcio em tempo algum, competindo-nos tão-somente, nesse sentido, reconfortar e
reanimar os irmãos em lide, nos casamentos de provação, a fim de que se sobreponham
às próprias suscetibilidades e aflições, vencendo as duras etapas de regeneração ou
expiação que rogaram antes do renascimento no Plano Físico, em auxílio a si mesmos;
ainda assim. é justo reconhecer que a escravidão não vem de Deus e ninguém possui o
direito de torturar ninguém, à face das leis eternas. O divórcio, pois, baseado em razões
justas, é providência humana e claramente compreensível nos processos de evolução
pacifica.
Efetivamente, ensinou Jesus: "não separeis o que Deus ajuntou", e não nos
cabe interferir na vida de cônjuge algum, no intuito de arredá-lo da obrigação a que se
confiou. Ocorre, porém, que se não nos cabe separar aqueles que as Leis de Deus reuniu
para determinados fins, são eles mesmos, os amigos que se enlaçaram pelos vínculos do
casamento, que desejam a separação entre si, tocando-nos unicamente a obrigação de
respeitar-lhes a livre escolha sem ferir-lhes a decisão.
9. UNIÃO INFELIZ
Pergunta - Qual o fim objetivado com a reencarnação?
Resposta - Expiação. melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto,
onde a justiça? Item n° 167, de "O livro dos Espíritos". Dolorosa, sem dúvida, a união
considerada menos feliz. E, claro, que não existe obrigatoriedade para que alguém
suporte, a contragosto, a truculência ou o peso de alguém, ponderando-se que todo
espírito é livre no pensamento para definir-se, quanto às próprias resoluções. Que haja,
porém, equilíbrio suficiente nos casais unidos pelo compromisso afetivo, para que não
percam a oportunidade de construir a verdadeira libertação.
Indiscutivelmente, os débitos que abraçamos são anotados na Contabilidade da
Vida; todavia, antes que a vida os registe por fora, grava em nós mesmos, em toda a
extensão, o montante e os característicos de nossas faltas. A pedra que atiramos no
próximo talvez não volte sobre nós em forma de pedra, mas permanece conosco na
figura de sofrimento. E, enquanto não se remove a causa da angústia, os efeitos dela
perduram sempre, tanto quanto não se extingue a moléstia, em definitivo, se não a
eliminamos na origem do mal. Nas ligações terrenas, encontramos as grandes alegrias;
no entanto, é também dentro delas que somos habitualmente defrontados pelas mais
duras provações. Isso porque, embora não percebamos de imediato, recebemos, quase
sempre, no companheiro ou na companheira da vida intima, os reflexos de nós próprios.
É natural que todas as conjunções afetivas no mundo se nos figurem como sendo
encantados jardins, enaltecidos de beleza e perfume, lembrando livros de educação, cujo
prefácio nos enleva com a exaltação dos objetivos por atingir. A existência física,
entretanto, é processo específico de evolução, nas áreas do tempo, e assim como o aluno
nenhuma vantagem obterá da escola se não passa dos ornamentos exteriores do
educandário em que se matricula, o espírito encarnado nenhum proveito recolheria do
casamento, caso pretendesse imobilizar-se no êxtase do noivado. Os princípios cármicos
desenovelam-se com as horas. Provas, tentações, crises salvadoras ou situações
expiatórias surgem na ocasião exata, na ordem em que se nos recapitulam oportunidades
e experiências, qual ocorre à semente que, devidamente plantada, oferece o fruto em
tempo certo. O matrimônio pode ser precedido de doçura e esperança, mas isso não
impede que os dias subseqüentes, em sua marcha incessante, tragam aos cônjuges os
resultados das próprias criações que deixaram para trás. A mudança espera todas as
criaturas nos caminhos do Universo, a fim de que a renovação nos aprimore. A jovem
suave que hoje nos fascina, para a ligação afetiva, em muitos casos será talvez amanhã a
mulher transformada, capaz de impor-nos dificuldades enormes para a consecução da
felicidade; no entanto, essa mesma jovem suave foi, no passado - em existências já
transcorridas -, a vítima de nós mesmos, quando lhe infligimos os golpes de nossa
própria deslealdade ou inconseqüência, convertendo-a na mulher temperamental ou
infiel que nos cabe agora relevar e retificar. O rapaz distinto que atrai presentemente a
companheira, para os laços da comunhão mais profunda, bastas vezes será
provavelmente depois o homem cruel e desorientado, suscetível de constrangê-la a
carregar todo um calvário de aflições, incompatíveis com os anseios de ventura que lhe
palpitam na alma. Esse mesmo rapaz distinto, porém, foi no pretérito - em existências
que já se foram – a vítima dela própria, quando, desregrada ou caprichosa, lhe
desfigurou o caráter, metamorfoseando-o no homem vicioso ou fingido que lhe compete
tolerar e reeducar. Toda vez que amamos alguém e nos entregamos a esse alguém, no
ajuste sexual, ansiando por não nos desligarmos desse alguém, para depois somente
depois - surpreender nesse alguém defeitos e nódoas que antes não víamos, estamos à
frente de criatura anteriormente dilapidada por nós, a ferir-nos justamente nos pontos
em que a prejudicamos, no passado, não só a cobrar-nos o pagamento de contas certas,
mas, sobretudo, a esmolar-nos compreensão e assistência, tolerância e misericórdia,
para que se refaça ante as leis do destino. A união suposta infeliz deixa de ser, portanto,
um cárcere de lágrimas para ser um educandário bendito, onde o espírito equilibrado e
afetuoso, longe de abraçar a deserção, aceita, sempre que possível, o companheiro ou a
companheira que mereceu ou de que necessita, a fim de quitar-se com os princípios de
causa e efeito, liberando-se das sombras de ontem para elevar-se, em silenciosa vitória
sobre si mesmo, para os domínios da luz.
10 - FILHOS
Os laços do sangue não criam forçosamente os liames entre os Espíritos. O
corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porquanto o Espírito já
existia antes da formação do corpo.
Não é o pai quem cria o Espírito de seu filho; ele mais não faz do que lhe
fornecer o invólucro corpóreo, cumprindo-lhe, no entanto, auxiliar o desenvolvimento
intelectual e moral do filho, para fazê-lo progredir. Do item 8, do Cap. XIV, de "O
evangelho Segundo o Espiritismo" Entre os casais, surge comumente o problema do
abandono, pelo qual o parceiro lesado é compelido à carência afetiva. Criaturas
integradas na comunhão recíproca, o afastamento uma da outra provoca, naturalmente,
em numerosas circunstâncias, o colapso das forças mais íntimas naquela que se viu
relegada a escárnio ou esquecimento. Justo observar que toda criatura prejudicada
usufrui o direito de envidar esforços na própria recuperação. Análogo princípio
prevalece nas conjunções do sentimento, sempre efetuadas com fins determinados em
vista. O companheiro ou a companheira menosprezada no círculo doméstico detém a
faculdade de refazer as condições que julgue necessárias à própria euforia, com base na
consciência tranqüila. Não existem obrigações de cativeiro para ninguém nos
fundamentos morais da Criação. Um ser não dispõe de regalias para abusar
impunemente de outro, sem que a vítima se veja espontaneamente liberta de qualquer
compromisso para com o agressor. Em matéria afetiva, porém, se a união sexual trouxe
filhos à paisagem terrestre, é razoável que as Leis da Vida reconheçam na criatura
lesada a permissão de restabelecer a harmonia vibratória em seu mundo emotivo,
logicamente dentro da ética que sustenta a tranqüilidade da vida intima; entretanto,
essas mesmas Leis da Vida rogam, sem impor, às vítimas da deslealdade ou da
prepotência que não renunciem ao dever de amparar os filhos, notadamente se esses
filhos ainda não atingiram a puberdade que lhes traçará começo à compreensão dos
problemas sexuais que afligem a Humanidade. Em sobrevindo semelhantes crises, haja
no parceiro largado em desprezo uma revisão criteriosa do próprio comportamento para
verificar até que ponto haverá provocado a agressão moral sofrida e, embora se
reconheça culpado ou não, que se renda, antes de tudo, à desculpa incondicional, ante o
ofensor, fundindo no coração os títulos ternos que tenha concedido ao companheiro ou à
companheira da comunhão sexual no título de irmão ou de irmã, de vez que somos
todos espíritos imortais, interligados perante Deus, através dos laços da fraternidade
real. Aprenda o parceiro moralmente danificado que só pelo esquecimento das faltas uns
dos outros é que nos endereçaremos à definitiva sublimação e que nenhum de nós, os
filhos da Terra, está em condições de acusar nos domínios do sentimento, porquanto os
virtuosos de hoje podem
ter sido os caídos de ontem e os caídos de hoje serão possivelmente os
virtuosos de amanhã a quem tenhamos talvez de rogar apoio e bênção, quando a Justiça
Eterna nos venha descerrar a imensidão de nossos débitos, acumulados em existências
que deixamos para trás nos arquivos do tempo. Homem ou mulher em abandono, se tem
filhos pequeninos, que se voltem, acima de tudo, para essas aves ainda tenras do pábulo
doméstico, agasalhando-as sob as asas do entendimento e da ternura, por amor a Deus e
a si mesmos, até que se habilitem aos primeiros contactos conscientes com a vida
terrestre, antes de se aventurarem à adoção de nova companhia; isso porque podem usar
a atribuição natural que lhes compete, no que se refere a possíveis renovações, sem se
arriscarem a agravar os problemas dos filhos necessitados de arrimo e sem complicarem
a própria situação perante o futuro.
12. DESAJUSTES
"Sede indulgentes, meus amigos, porquanto a indulgência atrai, acalma, ergue,
ao passo que o rigor desanima, afasta e irrita." Do item 16 do Cap. X, de "o evangelho
segundo o espiritismo".
É comum observar-se que o casamento promissor repentinamente adoece.
Desvelam-se empeços dos cônjuges no ramerrão do cotidiano. Conflitos,
moléstias, desníveis, falhas de formação e temperamento. Em certos lances da
experiência, é a mulher que se consorciou acreditando encontrar no esposo o retrato
psicológico do pai, a quem se vinculou desde o berço; em outros, é o homem a exigir da
companheira a continuidade da genitora, a quem se jungiu desde a vida fetal. Ocorre,
porém, que o matrimonio é uma quebra de amarras através da qual o navio da existência
larga o cais dos laços afetivos em que, por muito tempo, jazia ancorado. Na viagem, que
se inicia a dois, parceiro e parceira se revelarão, um à frente do outro, tais quais são e
como se encontram na realidade, evidenciando, em toda a extensão, os defeitos e as
virtudes que, porventura, carreguem. Desajustes e inadaptações costumam repontar,
ameaçando a estabilidade da embarcação doméstica, atirada ao navegar nas águas da
experiência. é razoável se convoque o auxílio de técnicos capazes de sanar as lesões no
barco em perigo, como sejam médicos e psicólogos, amigos e conselheiros, cuja
contribuição se revestirá sempre de inapreciável valor; entretanto, ao desenrolar de
obstáculos e provas, o conhecimento da reencarnação exerce encargo de importância
por trazer aos interessados novo campo de observações e reflexões, impelindo-os à
tolerância, sem a qual a rearmonização acena sempre mais longe. Homem e mulher,
usando a chave de semelhante entendimento, passam mecanicamente a reconhecer que é
preciso desvincular e renovar sentimentos, mas em bases de compreensão e serenidade,
amor e paz. Urge perceber que o "nós" da comunhão afetiva não opera a fusão dos dois
seres que o constituem.
Cada parceiro, no ajuste, continua sendo um mundo por si. E nem sempre os
característicos de um se afinam com o outro. Daí a conveniência do mútuo aceite, com a
obrigação da melhoria do casal. Para isso, não bastarão providências de superfície. Há
que internar o raciocínio em considerações mais profundas para que as raízes do
desequilíbrio sejam erradicadas da mente. Aceitação, o problema. Forçoso admitir o
companheiro ou a companheira como são ou como se aboletam na embarcação
doméstica. E, feito isso, inicie-se a obra da edificação ou da reedificação recíprocas.
Obvio que conclusões e atitudes não se impõem no campo mental; entretanto, não se
arrependerá quem se disponha a estudar os princípios da reencarnação e da
responsabilidade individual no próprio caminho. Obtém-se da vida o que se lhe dá,
colhe-se o material de plantio. Habitualmente, o homem recebe a mulher, como a
deixou e no ponto em que a deixou no passado próximo, isto é, nas estâncias do tempo
que se foi para o continuísmo da obra de resgate ou de elevação no tempo de agora,
sucedendo o mesmo referentemente à mulher. O parceiro desorientado, enfermo ou
infiel, é aquele homem que a parceira, em existências anteriores, conduziu à
perturbação, à doença ou à deslealdade, através de atitudes que o segregaram em
deploráveis estados compulsivos; e a parceira, nessas condições, consubstancia
necessidades e provas da mesma espécie. Tão-somente na base da indulgência e do
perdão recíprocos, mais facilmente estruturáveis no conhecimento da reencarnação, com
as imbricações que se lhe mostram conseqüentes na equipe da família, conseguirão o
companheiro e a companheira do lar o triunfo esperado, nas lides e compromissos que
abraçam, descerrando a si mesmos a porta da paz e a luz da libertação.
14. VINCULAÇÕES
Os que encarnam numa família, sobretudo como parentes próximos, são, as
mais das vezes, Espíritos simpáticos, ligados por anteriores relações, que se expressam
por uma afeição recíproca na vida terrena. Do item 8, do Cap. XIV, de "O evangelho
Segundo o Espiritismo".
Estudos e pesquisas se multiplicam, nos domínios da psicologia, quanto às
complexidades do mundo infantil, e o exame das vinculações se destaca à vista. Cada
pequenino é um campo de tendências inatas, com tamanha riqueza de material para a
observação do analista, que, debalde, se lhe penetrará os meandros da individualidade,
Baseando-nos no trabalho biológico de construção do ser, assente em milênios
numerosos, é indubitável que surpreenderemos na criança todo o equipamento dos
impulsos sexuais prontos à manifestação, quando a puberdade lhe assegure mais amplo
controle do carro físico. E, com esses impulsos, eis que lhe despontam do espírito as
inclinações para maior ou menor ligação com esse ou aquele companheiro do núcleo
familiar. O jogo afetivo, porém, via de regra se desenrola mais intensivamente entre ela
e os pais, reconhecendo-se para logo se os laços das existências passadas estão mais
fortemente entretecidos com o genitor ou a genitora. Debitando-se ao impulso sexual
quase todos os alicerces da evolução sobre os quais se nos levanta a formação de
espírito, é compreensível que o sexo apareça nas cogitações dos pequeninos em seu
desenvolvimento natural, e, nesse território de criações da mente infantil, ser-nos-á fácil
definir a direção dos arrastamentos da criança, se para os ascendentes paternos ou
maternos, porquanto aí revelará precisamente as tendências trazidas de estâncias outras
que o passado arquivou. Com freqüência, mas não sempre, as filhas propendem mais
acentuadamente para a ligação com os pais, enquanto que os filhos se pronunciam por
mais entranhado afeto para com as mães. Subsistirá, no entanto, qualquer estranheza
nisso, quando não ignoramos que toda a estrutura psicológica, em que se nos erguem os
destinos, foi manipulada com os ingredientes do sexo, através de milhares de
reencarnações? e, aceitando os princípios de causa e efeito que nos lastreiam a
experiência, desconheceremos, acaso, que os instintos sexuais nos orientaram a
romagem, por milênios e milênios, no reino animal, edificando a razão que hoje nos
coroa a inteligência?
Apreciando isso, recordemos o cipoal das relações poligâmicas de que somos
egressos, quanto aos evos transcorridos, e entenderemos. Com absoluta naturalidade, os
complexos da personalidade infantil. Assim sucede, porque herdamos espiritualmente
de nós mesmos, pelas raízes do renascimento físico, reencontrando, matematicamente,
na posição de filhos e filhas, aqueles mesmos companheiros de experiência sentimental,
com os quais tenhamos contas por acertar. Atentos a semelhante realidade, somos
logicamente impulsionados a concluir que os vínculos da criança, de uma forma ou de
outra, em qualquer distrito de progresso e em qualquer clima afetivo, solicitam
providências e previdências, que sintetizaremos tão-somente numa palavra única:
educação.
15. DESVINCULAÇÕES
Pergunta - A algumas pessoas a doutrina da reencarnação se afigura
destruidora dos laços de família, com o fazê-los anteriores à existência atual. Resposta -
Ela os distende; não os destrói. Fundando-se o parentesco em afeições anteriores, menos
precários são os laços existentes entre os membros de uma mesma família. Essa
doutrina amplia os deveres da fraternidade, porquanto, no vosso vizinho, ou no vosso
servo, pode achar-se um Espírito a quem tenhas estado presos pelos laços da
consangüinidade. Item nº 205, de "O livro dos Espíritos". A desvinculação entre os que
se amam com a necessidade de sanar os enganos e erros do amor assume habitualmente
o aspecto de dolorosa cirurgia psíquica. Por semelhante razão, a Divina Sabedoria
concede às criaturas tempo e condições renovadas na preparação gradual do
acontecimento. Essa desvinculação, via de regra, se verifica numa constante digna de
nota - a posição de pais e filhos, incluindo-se nela os pais e filhos adotivos -, de vez que,
no enternecimento do lar, todos os jogos da ternura são colocados na mesa do cotidiano,
revestidos de encantamento construtivo.
No fundo, porém, da personalidade paterna ou do maternal coração,
descansam os remanescentes de grandes afeições, às vezes desequilibradas e menos
felizes, trazidos de outras estâncias, nos domínios da reencarnação. A libido ou o
instinto sexual na forma de energia psíquica, tendente à conservação da vida,
permanece, em muitos casos, na carícia dos pais, vestida em veludíneo manto de
carinho e beleza, mas o amor é ainda, no adito do espírito, qual fogo de vida que se
nutre do próprio lenho. Por sua vez, nos entes queridos que retornam à estação da
esperança doméstica, essa mesma afetividade reponta, insopitável e genuína, conquanto
metamorfoseada nos brincos da infância. Os pequeninos, porém, recém-vindos da
amnésia natural que a reencarnação lhes impõe, não conseguem esconder as próprias
disposições no campo das preferências. E surgem neles, de inopino quase sempre, as
inclinações descontroladas, nos caprichos com que se mostram, exigindo especial
atenção de pai ou mãe. a revelarem, de modo claro. para que rumo se lhes dirigem os
laços mais fortes. Geralmente, com muitas exceções, aliás, as filhas se voltam para os
pais e os filhos para as mães, patenteando a natureza das ligações havidas em
existências passadas e prenunciando a obra de desvinculação que se executará,
inevitável, no futuro próximo.
Óbvio que nem todos os filhos aparecem no lar categorizados à conta da
desvinculação afetiva, porquanto milhões de Espíritos no corpo da Humanidade tomam
a estrutura física, no desempenho de encargos simples ou complexos, valendo-se da
colaboração dos pais, à maneira de amigos que se entreajudam, nas faixas da confiança
e da afinidade recíprocas.
Referimo-nos, porém, ao lar como pouso de desligamento, porque, na Terra, as
relações entre pais e filhos e, conseqüentemente, as relações de ordem familiar
constituem clima ideal para a libertação de quantos se jungiram entre si, de modo
inconveniente, nos desregramentos emotivos em nome do amor. É assim que a
sabedoria da Natureza faculta o reencontro, sob as teias da parentela, de quantos se
desvairaram, em outro tempo, nos desmandos de ordem sexual, reencontro esse que
persiste em condições mais íntimas e mais profundas, até que os companheiros do
pretérito, reencarnados na posição de filhos, atinjam a juventude, na existência nova,
elegendo novos parceiros para a sua vida afetiva, ante a presença ou a supervisão dos
pais ou de familiares outros. nem sempre satisfeitos ou tranqüilos com as escolhas que
são obrigados a assistir ou a aprovar pela força das circunstâncias. Pais que sofrem na
entrega das jovens que o lar lhes confiou, aos companheiros que as requisitam para os
misteres do casamento, quase sempre estão renunciando à companhia de antigas
afeições que eles mesmos, no passado, mal conduziam, ao passo que as mães
experimentam análogo fenômeno de dilaceração psíquica, em se separando de filhos
que lhes recordam, embora inconscientemente, as ligações empolgantes ou menos
felizes de tempos que já se foram. E, através das lutas e adeuses em família, com a
criação de núcleos diferentes na parentela, pela transferência habitual dos filhos, seja a
noras e genros, ou a tarefas e experiências diversas das deles, os pais, sempre que
respeitem as necessidades e resoluções dos seus rebentos, alcançam a vitória sobre si
mesmos, no rumo da própria emancipação na imortalidade.
16. AVERSÕES
Os que encarnam numa família, sobretudo como parentes próximos são, as
mais das vezes, Espíritos simpáticos, ligados por anteriores relações, que se expressam
por uma afeição recíproca na vida terrena. Mas, também pode acontecer sejam
completamente estranhos uns aos outros esses Espíritos, afastados entre si por antipatias
igualmente anteriores, que se traduzem na Terra por um mútuo antagonismo, que aí lhes
serve de provação. Não são os da consangüinidade os verdadeiros laços de família e sim
os da simpatia e da comunhão de idéias, os quais prendem os Espíritos, antes, durante e
depois de suas encarnações. Do item 8, do Cap. XIV, de "O Evangelho Segundo o
Espiritismo". Somos defrontados, em todos os departamentos da família humana, pelas
ocorrências da aversão inata. Pais e filhos, irmãos e parentes outros, não raro, se
repelem, desde os primeiros contactos. Claramente verificáveis os fenômenos da
hostilidade, entre adultos e crianças, trazidos pelo imperativo do berço à intimidade do
dia-a-dia. Pais existem nutrindo antipatia pelos próprios rebentos, desde que esses
rebentos lhes surgem no lar, e existem filhos que se inimizam com os próprios pais, tão
logo senhoreiam o campo mental, nos labores da encarnação. Arraigado no labirinto de
existências menos felizes, decerto que o problema das reações negativas, culpas,
remorsos, inibições, vinganças e tantos outros está presente no quadro familiar, em que
o ódio acumulado em estâncias do pretérito se exterioriza, por meio de manifestações
catalogáveis na patologia da mente. Nessa base de raciocínio, determinada criança terá
sofrido essa ou aquela humilhação da parte dos pais ou tutores e se desenvolveu
abafando propósitos de desforço, com o que intoxicou a si mesma, no curso do tempo, e
certos pais haverão sentido inesperada animosidade por esse ou aquele filho recém-nato,
alimentando ciúme contra ele, embora sufocando tal sentimento, com benéficas atitudes
de convenção. Não muito raro, os cadastros policiais registam infanticídios em que pais
ou mães aniquilam o corpo daqueles mesmos Espíritos aos quais favoreceram com a
encarnação na Terra. Indubitavelmente, o tratamento psicológico, visando à cura mental
e à sublimação da personalidade, é o caminho ideal para semelhantes pacientes; urge
entender, porém, que médicos e analistas humanitários conseguirão efetuar prodígios de
compreensão e de amor, liberando enfermos dessa espécie; no entanto, o estudo da
reencarnação é igualmente chamado a funcionar, nos alicerces da obra de salvamento.
Quantos milhares de existências terminam anualmente, no mundo, pelos
golpes da criminalidade? Claro está que as vítimas não foram arrebatadas para céus ou
infernos teológicos. Se compenetradas, quanto às leis de amor e perdão que dissipam as
algemas do ódio, promovem-se a trabalho digno na Espiritualidade, às vezes até mesmo
em auxílio aos próprios algozes. Na maioria das circunstâncias, todavia, persistem no
caminho daqueles que lhes dilapidaram a vida profunda, transformando-se em
perseguidores magoados ou vingativos, jungidos mentalmente aos antigos ofensores, e
finalmente reconduzidos, pelos princípios cármicos, ao renascimento junto deles, a fim
de sanarem, no clima da convivência, os complexos de crueldade que ainda se lhes
destilem do ser. Quando isso aconteça, o apostolado de reajuste há-de iniciar-se nos
pais, porquanto, despertos para a lógica e para o entendimento, são convocados pela
sabedoria da vida ao apaziguamento e à renovação. Observemos, no entanto, que em
semelhantes domínios da alma o apoio da fé religiosa se erguerá em socorro e
terapêutica. É indispensável amar e desculpar, compreender e servir, tantas vezes
quantas se façam necessárias, de modo a que sofrimento e dissensão desapareçam e a
fim de que, nas bases da compreensão e da bondade de hoje, as crianças de hoje se
levantem na condição de Espíritos reajustados, perante as Leis do Universo, garantindo
aos adultos, nas trilhas das reencarnações porvindouras, a redenção de seus próprios
destinos.
17. ABORTO
Pergunta - Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período de
gestação? Resposta - Há crime sempre que transgredis a lei de Deus.
Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a
uma criança antes do seu nascimento, por isso que impede uma alma de passar pelas
provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava formando. Item n° 358, de
"O Livro dos espíritos".
Falamos naturalmente acerca de relações internacionais, sociais, públicas,
comerciais, clareando as obrigações que elas envolvem; no entanto, muito
freqüentemente marginalizamos as relações sexuais - aquelas em que se fundamentam
quase todas as estruturas da ação comunitária. Esquece-se, habitualmente, de que o
homem e a mulher, via de regra, experimentam instintivo horror à solidão e que, à vista
disso, a comunhão sexual reclama segurança e duração para que se mostre assente nas
garantias necessárias. Impraticável, sem dúvida, impor a continuidade da ligação entre
duas criaturas, a preço de violência; no entanto, à face das contingências e contratempos
pelos quais o carro da união esponsalícia deve passar pelas estradas do mundo, as leis da
vida, muito sabiamente, estabelecem nos filhos os elos da comunhão entre os cônjuges,
atribuindo-lhes a função de fixadores da organização familiar; com a colaboração deles,
os deveres do companheiro e da companheira, no campo da assistência recíproca, se
revelam mais claramente perceptíveis e o lar se alteia por escola de aperfeiçoamento e
de evolução, em marcha para a aquisição de mais amplos valores do espírito, no Mundo
Maior. De todos os institutos sociais existentes na Terra, a família é o mais importante,
do ponto de vista dos alicerces morais que regem a vida. É pela conjunção sexual entre
o homem e a mulher que a Humanidade se perpetua no Planeta; em virtude disso, entre
pais e filhos residem os mecanismos da sobrevivência humana, quanto à forma física, na
face do orbe. Fácil entender que é assim justamente que nós, os espíritos eternos,
atendendo aos impositivos do progresso, nos revezamos na arena do mundo, ora
envergando a posição de pais, ora desempenhando o papel de filhos, aprendendo,
gradativamente, na carteira do corpo carnal, as lições profundas do amor - do amor que
nos soerguerá, um dia, em definitivo, da Terra para os Céus. Com semelhantes notas,
objetivamos tão-só destacar a expressão calamitosa do aborto criminoso, praticado
exclusivamente pela fuga ao dever. Habitualmente - nunca sempre – somos nós mesmos
quem planifica a formação da família, antes do renascimento terrestre, com o amparo e
a supervisão de instrutores beneméritos, à maneira da casa que levantamos no mundo,
com o apoio de arquitetos e técnicos distintos. Comumente chamamos a nós antigos
companheiros de aventuras infelizes, programando-lhes a volta em nosso convívio, a
prometer-lhes socorro e oportunidade, em que se lhes reedifique a esperança de
elevação e resgate, burilamento e melhoria. Criamos projetos, aventamos sugestões,
articulamos providências e externamos votos respeitáveis, englobando-nos com eles em
salutares compromissos que, se observados, redundarão em bênçãos substanciais para
todo o grupo de corações a que se nos vincula a existência. Se, porém, quando
instalados na Terra, anestesiamos a consciência, expulsando-os de nossa companhia, a
pretexto de resguardar o próprio conforto, não lhes podemos prever as reações negativas
e, então, muitos dos associados de nossos erros de outras épocas, ontem convertidos, no
Plano Espiritual, em amigos potenciais, à custa das nossas promessas de compreensão e
de auxílio, fazem-se hoje - e isso ocorre bastas vezes, em todas as comunidades da Terra
- inimigos recalcados que se nos entranham à vida íntima com tal expressão de
desencanto e azedume que, a rigor, nos infundem mais sofrimento e aflição que se
estivessem conosco em plena experiência física, na condição de filhos-problemas,
impondo-nos trabalho e inquietação. Admitimos seja suficiente breve meditação, em
torno do aborto delituoso, para reconhecermos nele um dos grandes fornecedores das
moléstias de etiologia obscura e das obsessões catalogáveis na patologia da mente,
ocupando vastos departamentos de hospitais e prisões.
21. HOMOSSEXUALIDADE
Pergunta - Quando errante, que prefere o Espírito: encarnar no corpo de um
homem, ou no de uma mulher? Resposta: - Isso pouco lhe importa. O que o guia na
escolha são as provas por que haja de passar. Item n° 202, de "O Livro dos Espíritos".
A homossexualidade, também hoje chamada transexualidade, em alguns
círculos de ciência, definindo-se, no conjunto de suas características, por tendência da
criatura para a comunhão afetiva com uma outra criatura do mesmo sexo, não encontra
explicação fundamental nos estudos psicológicos que tratam do assunto em bases
materialistas, mas é perfeitamente compreensível, à luz da reencarnação. Observada a
ocorrência, mais com os preconceitos da sociedade, constituída na Terra pela maioria
heterossexual, do que com as verdades simples da vida, essa mesma ocorrência vai
crescendo de intensidade e de extensão, com o próprio desenvolvimento da
Humanidade, e o mundo vê, na atualidade, em todos os países, extensas comunidades de
irmãos em experiência dessa espécie, somando milhões de homens e mulheres,
solicitando atenção e respeito, em pé de igualdade ao respeito e à atenção devidos às
criaturas heterossexuais. A coletividade humana aprenderá, gradativamente, a
compreender que os conceitos de normalidade e de anormalidade deixam a desejar
quando se trate simplesmente de sinais morfológicos, para se erguerem como agentes
mais elevados de definição da dignidade humana, de vez que a individualidade, em si,
exalta a vida comunitária pelo próprio comportamento na sustentação do bem de todos
ou a deprime pelo mal que causa com a parte que assume no jogo da delinqüência. A
vida espiritual pura e simples se rege por afinidades eletivas essenciais; no entanto,
através de milênios e milênios, o Espírito passa por fileira imensa de reencarnações, ora
em posição de feminilidade, ora em condições de masculinidade, o que sedimenta o
fenômeno da bissexualidade, mais ou menos pronunciado, em quase todas as criaturas.
O homem e a mulher serão, desse modo, de maneira respectiva, acentuadamente
masculino ou acentuadamente feminina, sem especificação psicológica absoluta. A face
disso, a individualidade em trânsito, da experiência feminina para a masculina ou vice
versa, ao envergar o casulo físico, demonstrará fatalmente os traços da feminilidade em
que terá estagiado por muitos séculos, em que pese ao corpo de formação masculina que
o segregue, verificando-se análogo processo com referência à mulher nas mesmas
circunstâncias. Obviamente compreensível, em vista do exposto, que o Espírito no
renascimento, entre os homens, pode tomar um corpo feminino ou masculino, não
apenas atendendo-se ao imperativo de encargos particulares em determinado setor de
ação, como também no que concerne a obrigações regenerativas. O homem que abusou
das faculdades genésicas, arruinando a existência de outras pessoas com a destruição de
uniões construtivas e lares diversos, em muitos casos é induzido a buscar nova posição,
no renascimento físico, em corpo morfologicamente feminino, aprendendo, em regime
de prisão, a reajustar os próprios sentimentos, e a mulher que agiu de igual modo é
impulsionada à reencarnação em corpo morfologicamente masculino, com idênticos
fins. E, ainda, em muitos outros casos, Espíritos cultos e sensíveis, aspirando a realizar
tarefas específicas na elevação de agrupamentos humanos e, conseqüentemente, na
elevação de si próprios, rogam dos Instrutores da Vida Maior que os assistem a própria
internação no campo físico, em vestimenta carnal oposta à estrutura psicológica pela
qual transitoriamente se definem. Escolhem com isso viver temporariamente ocultos na
armadura carnal, com o que se garantem contra arrastamentos irreversíveis, no mundo
afetivo, de maneira a perseverarem, sem maiores dificuldades, nos objetivos que
abraçam. Observadas as tendências homossexuais dos companheiros reencarnados nessa
faixa de prova ou de experiência, é forçoso se lhes dê o amparo educativo adequado,
tanto quanto se administra instrução à maioria heterossexual. E para que isso se
verifique em linhas de justiça e compreensão, caminha o mundo de hoje para mais alto
entendimento dos problemas do amor e do sexo, porquanto, à frente da vida eterna, os
erros e acertos dos irmãos de qualquer procedência, nos domínios do sexo e do amor,
são analisados pelo mesmo elevado gabarito de Justiça e Misericórdia. Isso porque
todos os assuntos nessa área da evolução e da vida se especificam na intimidade da
consciência de cada um.
FIM