O Homem Delinquente Cesare Lombroso
O Homem Delinquente Cesare Lombroso
O Homem Delinquente Cesare Lombroso
O Cavaleiro no século XX: As Represent ações da Cavalaria Medieval em AS Brumas de Avalon (1983)
Lucas Trévia de Oliveira
A permanência da filosofia na obra adorniana. Um est udo sobre o significado da filosofia após a sua n…
amaro fleck
.;::;
~~~' .;1\/,
'".
,-
Cesare Lombroso
D a d o s I n te r n a c io n a is d e C a ta lo g a ç ã o n a P u b lic a ç ã o (C IP )
( C ã m a r a B r a s ile ir a d o L iv r o , S p ' B r a s il)
L o m b ro so , C e sa re , 1 8 8 5 -1 9 0 9 . o HOM EM D E L IN Q U E N T E
O h o m e m d e lin q ü e n te / C e s a r e L o m b r o s o ;
tr a d u ç ã o S e b a s tiã o J o s é R o q u e . - S ã o P a u lo :
Íc o n e , 2 0 0 7 . - ( C o le ç ã o f u n d a m e n to s d e d ir e ito )
1 . A n tr o p o lo g ia c r im in a l 2 . C r im e s e c r im in o s o s
3 . C r im in o lo g ia 4 . D ir e ito - F ilo s o f ia I . T ítu lo . . Tradução e Seleção:
lI . S é tie . S e b a s tiã o José R oque
.. A d v o g a d o e A s s e s s o r J u r íd ic o E m p r e s a r ia l
P r o f e s s o r d a U n iv e r s id a d e S ã o F r a n c is c o ,
0 7 -1 2 5 8 C D U - 3 4 3 .9 1 • • •c a m p i" d e S ã o P a u lo e B r a g a n ç a P a u lis ta
tr P r e s id e n te d a A s s o c ia ç ã o B r a s ile ir a d e A r b itr a g e m - A B A R
Í n d ic e s p a r a c a tá lo g o s is te m á tic o : L A u to r d e 2 6 o b r a s ju r íd ic a s
1. D e lin q ü e n te s : A n tr o p o lo g ia c r im in a l: Á r b itr o e M e d ia d o r
D ir e ito p e n a l 3 4 3 .9 1
r
fi1<
l' r e im p r e s s ã o - 2 0 1 0
--Icone
j
i
i edi.tora
I
I
I
- - - - - - ~ ._ - ---~ -~ ------~ -
;
II
@ C o p y rig h t 2010.
Íc o n e E d ito ra L td a .
T ítu lo O rig in a l
L 'U o m o D e lin q u e n te
T ra d u ç ã o
S e b a stiã o Jo sé R o q u e
1 . B io g ra fia d e C e sa re L o m b ro so
P ro ib id a a re p ro d u ç ã o to ta l o u p a rc ia l d e sta o b ra ,
d e q u a lq u e r fo rm a o u m e io e le trô n ic o , m e c â n ic o , C e sa re L o m b ro so n a sc e u m i c id a d e d e V e ro n a , b e m
in c lu siv e a tra v é s d e p ro c e sso s x e ro g rá fic o s, c o n h e c id a c o m o a te rra d e R o m e u e Ju lie ta , e m 1 8 3 5 . Q u is
se m p e rm issã o e x p re ssa d o e d ito r e stu d a r m e d ic in a , m a tric u la n d o -se n a U n iv e rsid a d e d e P a v ia ,
(L e i n º 9 .6 1 0 /9 8 ). la u re a n d o -se e m 1 8 5 8 , a o s 2 3 a n o s. P ro fissio n a lm e n te , fo i
m é d ic o , e in te le c tu a lm e n te u m filó so fo .
~ C om eçou o e x e rc íc io d a m e d ic in a im e d ia ta m e n te ao
T o d o s o s d ire ito s re se rv a d o s p e la se r la u re a d o m é d ic o , e sp e c ia liz a n d o -se m a is n a p siq u ia tria .
, A o se r n o m e a d o d ire to r d o m a n ic ô m io n a c id a d e d e P e sa ro ,
•.
ÍC O N E E D IT O R A LTDA.
I in ic io u su a lig a ç ã o c o m o s d o e n te s m e n ta is, a q u e m d e d ic o u
R u a A n h a n g u e ra , 5 6 - B a rra F u n d a
!';'
g ra n d e p a rte d e se u s e stu d o s e su a v id a . Im p o rta n te fo i su a
C E P 0 1 1 3 5 -0 0 0 - S ã o P a u lo - S P t
v iv ê n c ia p siq u iá tric a , a o re la c io n a r a d e m ê n c ia c o m d e lin -
F o n e !F a x .: (1 1 ) 3 3 9 2 -7 7 7 1 ••f q ü ê n c ia . S u a s e x p e riê n c ia s n e ssa á re a fo rn e c e ra m a e le a s
w w w .ic o n e e d ito ra .c o m .b r ~ b a se s p a ra a p ro d u ç ã o d e su a o b ra G ê n io e L o u c u r a , p u b lic a d a
li
II
e -m a i!: ic o n e .le n d a s@ ic o n e e d ito ra .c o m .b r fiJ em 1870.
.J.•.
I
I
!
C edo tam bém passou a ser m édico da penitenciária de quem L om broso fala constantem ente. A E scola P ositiva do
T urim e de outras cidades; foi nom eado m édico m ilitar, o D ireito P enal surgiu com a vida de L om broso, no século X IX .
que justifica seu vínculo intelectual com os delinqüentes e
U m apego positivo aos fatos, por exem plo, é o estudo
os m ilitares, m orm ente os m arinheiros. G rande parte de suas
dedicado às tatuagens, com base nas quais L om broso fez elas-
pesquisas contou com a-participação-de m arinheiros.
sificaçãodos aiversõs tipos de crim inosos. "D edicou ex;íus~ tivos
A os 30 anos assum e a cátedra na F aculdade de M edi- estudos a essa questão, investigando centenas de casos e lou-
cina de T urim , que só deixou no final de sua vida. vando-se nos estudos sobre as tatuagens, desenvolvidos por
vários cientistas, com o L acassagne, T ardieu, de P aoli, e até
2. O bras m esm o os da antiga R om a. F ato constatado e positivo é que
os dem entes, em grande parte, dem onstram tendência à
• 1874 -G ênio e loucura tatuagem , a par de outras tendências estabelecidas, com o a
• 1876 -O hom em delinqüente insensibilidade à dor, o cinism o, a vaidade, falta de senso
• 1891 -O delito m oral, preguiça, caráter im pulsivo .
• 1891 -O anti-sem itism o e as ciências m odernas O utro apego científico, para justificar suas teorias, foi
a pesquisa constante na m edicina legal, dos caracteres físicos
• 1893 -A m ulher delinqüente, a prostituta e a m ulher
e fisiológicos, com o o tam anho da m andíbula, a conform ação
,. norm al
do cérebro, a estrutura óssea e a hereditariedade biológica,
• 1893 -A s m ais recentes descobertas e aplicações da
referida com o atavism o. O crim inoso é geneticam ente deter-
psiquiatria e antropologia crim inal
m inado para o m al, por razões congênitas. E le traz no seu
• 1894 - O s anarquistas âm ago a rem iniscência de com portam ento adquirido na sua
• 1894 - O crim e, causas e rem édios evolução psicofisiológica. É um a tendência inata para o crim e.
P elas idéias de L om broso, e é o ponto m uito criticado
3. A E scola P ositiva do D ireito P enal de sua teoria, o crim inoso não é totalm ente vítim a das cir-
cunstâncias sociais e educacionais desfavoráveis, m as sofre
L om broso não foi só criador da A ntropologia C rim inal, pela tendência atávica, hereditária para o m al. E nfim , o delin-
m as suas idéias revolucionárias deram nascim ento a várias qüente é doente; a delinqüência é um a doença.
iniciativas, com o o M useu P siquiátrico de D ireito P enal, em
T urim . D eu nascim ento tam bém à E scola P ositiva de D ireito
, A reação desfavorável à teoria lom brosiana baseia-se
na consideração de que ele despreza o livre-arbítrio e não
P enal, m ovim ento de idéias no D ireito P enal, constando da
deve o crim inoso ser responsabilizado, um a vez que ele não
form a positiva de interpretação, baseada em fatos e inves-
tem forças para lutar contra seus ím petos. E ssa idéia seria a
tigações científicos, dem onstrando inspiração do positivism o
~ form a de defesa dos advogados crim inalistas. T odavia,
de A ugusto C om te. M ais precisam ente, a escola de L om broso
I
L om broso não era defensor dos crim inosos; o crim inoso de
é a do positivism o ev.olucionista, inspirada por D arw in, de
ocasião deveria ser segregado da sociedade, por ser perigo
~-
c o n s ta n te p a ra e la . E le n ã o fa la e m p e n a d e m o rte , m as se 4. Id é ia s s u c e s s o ra s à s d e L o m b ro s o
m o s tra fa v o rá v e l a e la e à p ris ã o p e rp é tu a .
É p a te n te a in flu ê n c ia d e L o m b ro s o s o b re s e u s p o s te rio -
N um o p ú s c u lo p u b lic a d o em 1 8 9 3 , d e n o m in a d o As
re s , n a s á re a s d o D ire ito P e n a l, d a C rim in o lo g ia e d a M e d ic in a
~mais recen.cesflescobercase aplicações d a psiquiatria e antropologia L e g a l. É p rin c ip a lm e n te n a A n tro p o lo g ia C rim in a l, c iê n c ia
criminal, L o m b ro s o e x p re s s a o s e g u in te p e n s a m e n to : d a q 'u a l'e lê fo i o fu n d a d o r, 'é o m a c o la b o n iç a o â in d a em v id a
d e F e rri e G a ro fa lo , que L o m b ro s o assum e papel d e m a io r
" N a re a lid a d e , p a ra o s d e lin q ü e n te s -n a to s re le v â n c ia . Ín tim a s u c e s s o ra d e le fo i s u a filh a , G in a L o m b ro s o
a d u lto s não há m u ito s re m é d io s ; é n e c e s s á rio F e rre ro , b ió g ra fa e c o la b o ra d o ra , re s p o n s á v e l p e la d iv u lg a ç ã o
is o lá -lo s p a ra s e m p re , nos casos in c o rrig ív e is , e in ic ia l d e s u a s id é ia s . A liá s , G in a c o la b o ro u com o pai em
s u p rim i-lo s quando a in c o rrig ib ilid a d e o s to rn a v á ria s o b ra s .
li'l
I'
1'1'1 .,~;4.,..
"" ~ ~ -~
:J
junto de conhecim entos referentes ao crim e e ao crim inoso.
seu esforço e pelo tipo de educação que receber. O ser hum a-
Seus estudos previram a form ação da Psicologia Crim inal.
no é, portanto, fruto do m eio em que vive e se desenvolve.
Por outro lado, Enrico Ferri (1856-1929), professor da Ele pode nascer doente, m as a doença pode ter cura, o que,
U niversidade de Turim , era advogado crim inalista e pendeu ~?ttás, Lom !:>Joso nunç~J)egou. ,,~_
m aispara0 aspecto sociológiéô;~éoque atesta sua m ais i~por-
Segundo os crim inalistas, o autor de um crim e deveria
tante obra: Sociologia Criminal, publicada em 1892. Fez parte ser então encam inhado a um m édico e não a um juiz. O utros
da com issão elaboradora do Código Penal italiano, m as o afirm am que m uitos crim inosos se recuperam e outros en-
projeto dessa com issão foi substituído por outro. Ferri form ou traram na vida crim inal em fase adiantada de sua vida, tendo
com G arofalo, Ferrero, Carrara, G ina e Paola, os grandes revelado anteriorm ente vida norm al. Poderíam os estar gene-
vultos da Escola Positiva do D ireito Penal, m as esta escola ralizando alguns fatos isolados. É a razão pela qual a Escola
teve poucos seguidores, um a vez que as idéias da M edicina Positiva do D ireito Penal teve curta duração, e sua revives-
Legal evoluíram para outra direção. cência, m uitos anos m ais tarde, m udou os critérios adotados,
a princípio, por Lom broso.
5. Superação da M edicina Legal Lom brosiana Todavia, o m undo todo reverenciou a figura de Lom -
"
,; broso, com o a cidade de São Paulo, que deu o nom e de "Pro-
O s m odernos cultores da M edicina Legal consideram
fessor César Lom broso" a um a rua no bairro do Bom Retiro.
fracas as teorias lom brosianas. A s pesquisas nos crânios e
Entretanto, são incontáveis os m éritos de Lom broso,
esqueletos não chegam a form ar segura conclusão sobre as
segundo reconhecem os próprios críticos. Estudou apaixo-
correlações da ossatura com o com portam ento psicológico.
nadam ente, m as com seriedade e dedicação, durante anos e
O s fatos são insuficientes para autorizar a tendência heredi-
sem esm orecim ento, o crim e e suas causas, bem com o a figura
tária (atávica) de um ser hum ano para a vida crim inal, cau-
do crim inoso. M uitas de suas conclusões tornaram -se rele-
sada pela conform ação física.
vantes e úteis ao direito. É m arcante seu em penho à procura
A s pesquisas de Lom broso ocorreram por volta de 150 das causas do crim e e seus rem édios; procurou ainda conhecer
anos atrás, quando não havia recursos suficientes para os o crim inoso e suas diferenças do ser hum ano com um e norm al.
exam es, com o por exem plo, o D N A . Lom broso não pôde
É conveniente ainda ressaltar que não apenas os fatores
contar com dados m ais seguros e científicos em que pudesse
atávicos, hereditários, influenciaram a tendência para o
se basear.
t. crim e. O m eio am biente, a educação, o clim a e vários outros
A lguns de seus críticos se apegam até m esm o na litera- fatores foram analisados e invocados por Lom broso. O livre-
tura, com o a história dos irm ãos corsos: eram xifópagos e do t' arbítrio não foi colocado à m argem . H á pois um com plexo
m esm o sangue; nasceram ligados e foram separados. Todavia, •..l'I' de fatores influenciando a form ação do delinqüente.
viveram em am bientes diferentes e cada um form ou seu tipo •• U m fato, porém , foi confirm ado pela psicologia m oder-
de personalidade. Portanto, pode o crim inoso nascer com
na e por m uitas teorias m édicas e psicológicas: há correlação
certos caracteres degenerados, m as poderá m odificar-se por
entre o físico e o psíquico, ou seja, a conform ação física pro-
,I'
11:1, '"~ti,-(.""i'"
voca caracteres psicológicos e psiquiátricos, e vice-versa. P or
outro lado, os sucessores de L om broso defenderam a teoria
de que fatores psicológicos influenciam a form ação fisiológica
e os caracteres físicos. P or exem plo, a vida crim inal acaba na
form ação de caracteres fís;cos,~de iiC fõrm a que o crim inoso
pode trazer na face os traços reveladores de sua vida facino-
rosa. D a m esm a form a com o estados de angústia, inveja, in-
conform ism o, revolta, vingança, ódio, desavenças na fam ília,
no trabalho e dem ais am bientes em que vive o ser hum ano,
podem causar transtornos na sua fisiologia, com o diabete, ,
úlceras, desacertos de pressão, hipertensão arterial, aum ento Indice
da, taxa de colesterol e outros fatores patológicos.
1. O S D E L IT O S E O S O R G A N IS M O S IN F E R IO R E S , 21
1. A s aparências do delito nas plantas e nos anim ais, 2I
2. O delito no m undo zoológico, 23
3. M orte para o uso das fêm eas, 24
4. M orte por defesa, 25
5. M orte por cobiça, 25
6. M ortes belicosas, 26
7. C anibalism o sim ples, 26
8. C anibalism o com infanticídio e parricídio, 26
2. T A T U A G E N S NOS D E L IN Q Ü E N T E S , 29
1. C olaboradores, 29
2. C rim inosos, 32
3. O bscenidade, 33
4. M ultiplicidade, 34
5. P recocidade, 36
6. A ssociação. Identidade, 36
7. C ausas: R eligião - Im itação - E spírito de vingança -
" O ciosidade - V aidade - E spírito gregário - P aixão -
I ;..,"
1, P ichação - P aixões eróticas - A tavism o, 37
I lili ~. 13
:''t" -ç
'F<.,o("'"'I''''~''''~
':i ~.-<'F,-",t!;!
•
I
8 . P reg u iça e ó cio , 6 7 4 . R elaçõ es co m a ten d ên cia ao crim e, 1 0 3
9 . G íria, 6 8 " 5 . A n tag o n ism o , 1 0 4
14 (~, 15
:" '~ ~ - .
~
, , • • •;O ~ '"
r
l' 18
17. Astúcia, 206
18. Preguiça, 206 ,,'
I
1t
1% <-
19
!t
'!', ," ., ...• ,'~'"' '.
',' -
', ,,! ~ """-"'~..
.
r
,-
,
1. Os D E L IT O S E OS
O R G A N IS M O S IN F E R IO R E S
A pós te r E s p in e s a p lic a d o o e s tu d o d a z o o lo g ia à s c iê n -
c ia s s o c io ló g ic a s e A g n e tti à s e c o n ô m ic a s e H o u g la n à s p s ic o -
se rv e d o s m o d e rn o s e s tu d o s s o b re a e v o lu ç ã o , p ro c u ra sse a p li-
e um e s tu d o , q u e , s e p o d e ria d iz e r, q u a s e c o m p le to , d e F e rri.
21
..•.•. .- ....•••• - .,....- ,. ----- . -~ -- - '~ 7 - _ .- ._ ,
J;,
,
nós, com o m ais crim inosos, sejam os m ais naturais. S ão " se m ais que as crinas cruzadas deixam escapar o inseto m iúdo
lifusos e freqüentes nas espécies anim ais e até nas plantas, que não servia para sua nutrição.
, ndo-nos com o bem disse R enan na natureza o exem plo N as Pinguicoles, as gotas de água não fazem encrespar
'"ais im placável.insensibilidacle e clfl IT laiqJi111or~ Jidad~ ~ '., as folhas e nem absorvem a substância sólida que não seja
Q uem não conhece as belas observações que, depois
ot'
orgâci~ a. O s fluídos não';';itrogénados~ m as densos,provocam ..
~ '
'arw in, D rude, K olm , R ies e W ill, fizeram sobre as plantas a secreção das glândulas, m as não copiosa nem ácida, en-
lÍvoras, em não m enos do que onze espécies de droserá- quanto que m uito copiosa e fatal seja a secreção e o rápido
, quatro de saracênias, cinco de nepentáceas, onze de ultri- encurvam ento quando se trata de um corpo azotado (com o
rias, além do Cephalotus follicularis, que com etem verda- de um inseto).
;.os assassinatos entre os insetos. Q uando, por exem plo, A Genlisea ornara prende os pequenos anim ais precisa-
inseto, por m enor que seja, até m esm o m ais leve do que m ente com o os pescadores usam na arm adilha para a enguia .
.,i m ilésim o de gram a fica sobre o disco folhar de um a dro-
':a e parece que nem sem pre isso acontece por acaso, m as
2. O delito no m undo zoológico
,crai com o odor de certas secreções da folha, é, por esta
r4:
.~ ,;;tam ente envolvido e com prim ido por num erosos tentá- T anto m ais clara se torna a analogia quando se passa ao
; .•. : '.los, cerca de 192 por folha, que se com prim em nas costas m undo zoológico. E já pelos crim es de m orte entre os anim ais,
~~
.
,',' 1 dez segundos, e atingem em um a hora e m eia o centro da
..• ~-
F erri pôde distinguir não m enos de 22 espécies, das quais não
}
~j ;("na. S ó se relaxam quando a vítim a estiver m orta e parcial- poucas são análogas àquela contem plada nas nossas coletâneas.
'"."... " 'ente digerida, graças a um ácido e um ferm ento m uito aná-
~ -;
A ssim , a m orte pela procura de alim ento, da qual creio
,C ;oà nossa pepsina, segregada em grande quantidade pelas
inútil dar exem plos, tantos são eles com uns, e correspon-
'Jndulas. E stas glândulas agem sobre o tentáculo vizinho e
deriam aos nossos delitos por causa da fom e ou da carestia.
us circunstantes, com m ovim ento sim ilar, crê D arw in, àque-
D a m esm a form a, os m aus-tratos e a m orte pela chefia do
do m oto reflexo nos anim ais.
grupo, que seriam os nossos delitos por am biç~ o e outros, e
• Q uando um inseto pousa de um lado do disco folhar, que se vêem nos cavalos, touros e veados.
tentáculos circunstantes se curvam sobre o ponto de exci-
B asta um a m acaca entrar na jaula de um jardim zooló-
ção, em qualquer parte que seja; o im pulso m otor, quando gico, as com panheiras exam inam os m úsculos e os dentes
defende de um a ou m ais glândulas, atravessa o disco, pro- dela, exam inando os lábios para ver se é o caso de respeitá-
~ ga-se até a base dos tentáculos vizinhos, age por sua vez
la, ou se a possam m altratá-la im punem ente. A i dos m acacos
ÍJre um ponto de excitação, aum enta a secreção das glându- pequenos e débeis, de dentes curtos, ou vacilantes, se não
" e a acidifica, e estas por sua vez, agem sobre o protoplasm a.
encontrarem protetores que gostam de proteger e acariciar
N a Dionea muscípula não se provocam as contrações os pequenos, ainda que sejam de espécies diferentes.
i
's crinas hom icidas com sopro ou corpo líquido, m as apenas O m acaco que tenha dente m ais robusto e m ais longo
,m corpo sólido, que sejam nitrogenados e úm idos. N ota- é adulado, esfregado, acariciado pelos m ais débeis; as hom e-
\
23
I"",
."i~l.J.l i,.;-,';" .•.
""~n.
".~
••
~
f"
n a g e n s se e ste n d e m ta m b é m à su a p ro le , a in d a q u e se ja fe ia o s d o is a d v e rsá rio s, e n tre la ç a n d o c o m v ig o ro so g o lp e d e c a b e -
e ra q u ític a .
••
ç a o s se u s c h ifre s, n ã o c o n se g u e m m a is p a ra r e su c u m b e m .
-.
O s g o rila s c o stu m a m te r u m só c h e fe , u m m a c h o a d u l-
to . A ra z ã o é a d e q u e o m a is fo rte c a ç a se m p re o s o u tro s e o s
4 . M o rte ~ e ,< > rd e fe sa
m a ta ~ 'O s jo v e n s m a ê h o s; d e p 6 isq ü e c i-e s'c e m 'e a .d q tiire m ~ ' -
to d a a su a fo rç a , a ta c a m o s v e lh o s e n ã o se d e tê m e m m a tá - S a b e -se q u e o s h a b ita n te s d e u m a c o lm é ia n ã o a c e ita m
lo s q u a n d o q u e re m liv ra r-se d e le s. O s rarpans, c a v a lo s se lv a - a b e lh a s e stra n g e ira s e m se u m e io . U m a p ic u lto r p e g o u u m a
g e n s d a R ú ssia , se b a te m c o m irrita ç ã o p e lo c o m a n d o , que a b e lh a e a c o lo c o u n o m e io d e o u tra s q u e e sta v a m d e se n ti-
c a b e a u m só . n e la n a e n tra d a d a c o lm é ia . E sta s c a íra m so b re a in tru sa in -
A s a b e lh a s só tê m u m a ra in h a e se a c a so su rg ire m a lg u - v o lu n tá ria , m a ta ra m -n a e a a tira ra m fo ra d o lo c a l. P o d e a c o n -
m a s c o n c o rre n te s, e sta s sã o m o rta s. T a m b é m é c o lo c a d a à te c e r q u e u m a ra in h a te n d o -se p e rd id o , v o lta n d o do vôo
m o rte a v e lh a ra in h a q u a n d o n a sc e a su a riv a l. A v e lh a so b e - n u p c ia l, se in tro d u z a n u m a c o lm é ia a lh e ia , c u ja e n tra d a e ste ja
ra n a , p o r su a v e z , fa z to d a s a s te n ta tiv a s p a ra to rn a r im p o ssív e l m a l p ro te g id a ; nada p o d e ria sa lv á -la d a m o rte c e rta ,p e la
; fo m e , p o r su fo c o o u p o r v e n e n o .
a a sc e n sã o a o tro n o d e su a riv a l; p re c ip ita -se n o s a p o se n to s ,
q u e g u a rd a m a ra in h a -la rv a , fe re e m a ta to d a s a s h a b ita n te s. É sa b id o q u e o s m a c h o s tê m a ú n ic a m issã o d e fe c u n d a r
a ra in h a , e n q u a n to q u e a s a b e lh a s o p e rá ria s p ro v ê m à m a n u -
te n ç ã o d a so c ie d a d e d e la . P o ré m , n o o u to n o , a o fim d o v e rã o ,
3 . M o rte p a ra o u so d a s fê m e a s
u m a v e z te rm in a d o o v ô o n u p c ia l e c o m e ç .a n d o a e sc a sse z d e
P a ra to d o s o s a n im a is d e g e ra ç ã o se x u a l é tã o c o m u m a lim e n to s, a s o p e rá ria s a p u n h a la m o s m a c h o s c o m se u s fe r-
a lu ta d o s m a c h o s p a ra sa tisfa z e r o in stin to d e p ro c ria ç ã o ou rõ e s, o u o s e x p u lsa m d a c o lm é ia , q u a n d o e n tã o e le s m o rre m
a p o ssa r-se d a fê m e a e e ste fa to d e u o rig e m à h ip ó te se d a rw i- d e frio e m e la n c o lia .
n ia n a d a e sc o lh a se x u a l.
,
24
J_ 25
I
l'
d o m a io r n ú m e r o
q u e e la s c r ia m
p o s s ív e l d e c r is á lid a s d e f o r m ig a s e s c r a v a s ,
e m r e g im e d e s e r v id ã o . P e lo m e s m o m o tiv o
J e m m u ita s e s p é c ie s
r o s , u m a in f e r io r id a d e
a n im a is , c o m o e m a lg u n s p o v o s b á r b a -
d o c o rp o p o d e se r c a u sa d e d e sp re z o
a s f o r m ig a s sanguines a s s a lta m o s n in h o s d a s a m a z o n a s e e m - ~ e v e rg o n h a . V im o s u m a g a lin h a que tin h a . a lg u n s f ilh o te s .1 .
6 . M o r te s b e lic o s a s l ,
in f e liz e s ..,
í, C om o c e r to s p á ssa ro s ro m p e m s e u o v o e d e s tr o e m
T o d o s s a b e m q u e m u ito s a n im a is , a in d a q u e d a m e s m a seu n in h o quando p e rc e b e m que fo ra m to c a d o s ; com o
e s p é c ie , tr a v a m , f r e q ü e n te m e n te ,
d a s in d ir e ta m e n te
g u e r r a e n tr e s i, d e te r m in a -
p e la lu ta p o r s u a s o b r e v iv ê n c ia , m as com
I
I
c e r to s r a to s d e v o r a m
E n tr e os m acacos,
s e u s f ilh o te s q u a n d o
a s fê m e a s d o hapales
s ã o p e r tu r b a d o s .
com em a cabeça e
\
. o f im im e d ia to d e m a ta r p o r m a ta r . É f a to s u g e s tiv o que o jo g a m s e u s f ilh o s c o n tr a u m a á rv o re , q u a n d o e s tã o c a n s a d a s
.;;-
g o r ila , la n ç a n d o - s e
c o m p a rá v e l
a o c o m b a te ,
a o d o s e lv a g e m ,
s o lta
e s e a r r e m e te
um g r ito d e g u e rra ,
s o b r e o in im ig o II
d e le v á - lo s .
;'"
':t,
t\.
c o m a f ú r ia e o e x c e s s o d o h a b ita n te
m e n to
d a f lo r e s ta . M a s , o s e n ti-
d e e x c lu s ã o e d e o p o s iç ã o n ã o s e m a n if e s ta e m p a r te I
~.
,-
"'".;;.,
. a lg u m a tã o n o tá v e l
7 . C a n ib a lis m o
c o m o e n tr e
s im p le s
a s f o r m ig a s e o s c u p in s .
•,
:.in .
" M a lg r a d o o p r o v é r b io , o s lo b o s s e c o m e m e n tr e s i; a s s im
a c o n te c e ta m b é m c o m o u tr o s a n im a is : u m e n g o le o o u tr o .
N o z o o ló g ic o d e L o n d r e s , d u a s s e r p e n te s v iv ia m na m esm a
g a io la ; u m d ia o g u a r d a d o z ô o te v e te m p o d e s a lv a r a s e r p e n te
m e n o r q u e já e s ta v a n a g o e la d a m a io r .
I
8 . C a n ib a lis m o com in f a n tic íd io e p a r r ic íd io I L
,-
ú n ic a
T am bém
f a n ta s ia
m a te r n o
p a r a o s a n im a is , n o ta r a m
s o b r e a f o r ç a in a ta do sangue,
e f ilia l s o f r e g r a v e s d e s m e n tid o s
H ouseau e F e r r i, a
so b re o a m o r
p e la o b s e r v ã n c ia
II "
d o s J a to s m a is c o m u n s . I
-!
A s f ê m e a s d o s c r o c o d ilo s com em , m u ita s vezes, seus
,< '.
,1,
f ilh o te s q u e n ã o s a b e m ;. n a d a r . M a s , é p r e c is o o b se rv a r que ~, ti.,
N
~l 'iV"'
<,(-
~ ,z:
26 27
"1',t~.
••.•~
-;!< ~ .
-- - -~ .•. i; '",,*I.
",.~ ...••.
~- ~ - - - - - - - --- ---~ ----------
r
•,
._ -;::" : . _ ~ , '" ,. ~ - _ . ~ . ~ . . - - .
2. TATUAGENS NOS D E L IN Q Ü E N T E S
1 . C o la b o ra d o re s o - 2 . C rim in o so s - 3 . O b sc e n id a d e
4 . M u ltip lic id a d e - 5 . P re c o c id a d e - 6 . A sso c ia ç ã o .
':-, '::.~~ Id e n tid a d e - /. C a u sa s: R e lig iã o - Im ita ç ã o - E sp írito
d e v in g a n ç a - O c io sid a d e - V a id a d e - E sp írito g re g á rio _
";,,,.
P a ix ã o - P ic h a ç ã o - P a ix õ e s e ró tic a s - A ta v ism o
8 . T a tu a g e m n o s d e m e n t e s - 9 . T ra u m a s
1 . C o la b o ra d o re s
O q u e c o rre s p o n d e b a s ta n te à q u e la g ra n d e d iv e rs id a d e
e m re la ç ã o à re in c id ê n c ia c rim in a l, d a q u a l in s is te F e rri n o s
s e u s e s t u d o s s o b r e L im ite s d a A n tro p o lo g ia C rim in a l, q u e m u d a -
29
I'.~
ra m a o rie n ta ç ã o
c o n e c ta n d o -a
q u e e u h a v ia im p rim id o
c o m a p rá tic a fo re n s e .
a e s ta p e s q u is a ,
.~
'"l
.1
v e z n o te i
ponesa,
a fig u ra in te ira
com
d e u m a m u lh e r
u m a flo r n a m ã o , e , o u tra
v e s tid a de cam -
v e z , v i u m b re v e
~ v e rs o d e a m o r.
D e s te s h o m e n s q u e c o n c e n tra m n o o rg a n is m o h u m a n o
~
ta n ta s a n o m a lia s , c o m o n o s c rim e s , ta n ti'L c o o s tã n c ia .o a s r~ L n - O s s ím b o lo s d e g u e rra s ã o o s m a is fre q ü e n te s n o s m ili-
c id ê n c ia s , p re te n d o e s tu d a r a b io lo g ia e a p s ic o lo g ia . E c o m e - 'f
.~
ta re s e é riâ i:ú ra l; c o m o o s q u e c o n c e rn e m à p ro fis s ã o
tu a d o , e s ã o d e s e n h a d o s c o m ta l fin u ra e re a lis m o n a s m in ú -
d o ta -
ç a re i d a c a ra c te rís tic a q u e é m a is p s ic o ló g ic a d o q u e a n a tô - i
m ic a : a ta tu a g e m . ~ c ia s , q u e tra z e m à m e n te a m in u c io s a p re c is ã o d a a rte e g íp c ia
o p e ra ç ã o
o u e m e s ta d o
q u e s e s o b re p õ e a e s ta ,
q u e re c e b e u
d e s e lv a g e ria
a n te s
e x a ta m e n te
c irú rg ic a
é a fre q ü ê n c ia
do que
em
e s té tic a ,
d e u m a lín g u a o c e â n ic a ,
I p ie m o n te s e s e lo m b a rd o s , O s s ím b o lo s , d e p o is , s e re d u z e m à
é p o c a d o a lis ta m e n to , e s c rita e m c ifra s , c o m o p o r e x e m p lo
o nom e d e ta tu a g e m . T am bém na Itá lia e s ta p rá tic a se 1 8 6 0 , o u n a d a ta d e u m a b a ta lh a m e m o rá v e l, à q u a l a s s is tira
e n c o n tra d ifu n d id a sob o nom e de marca, sinal, m as só o s o ld a d o ; o u a a rm a d o p ró p rio c o rp o ; o u a to d a s e s s a s c o is a s
n a s ín fim a s c la s s e s s o c ia is ; n o s c a m p o n e s e s , m a rin h e iro s , re u n id a s . U m c a n h ã o d a n d o tiro s ; o u d o is c a n h õ e s c ru z a d o s
" o p e rá rio s , p a s to re s , s o ld a d o s , e m a is a in d a e n tre o s d e lin - I n u m triâ n g u lo s u p e rio r, o u u m a p irâ m id e d e b a la s n u m triâ n -
.~,~
.. , q ü e n te s ; e s ta , p e la g ra n d e fre q ü ê n c ia , c o n s titu i um novo
I g u lo in fe rio r, s ã o s ig n o s p re fe rid o s d a a rtilh a ria d e c a m p a n h a ,
;-:
I !I
b a é o s ig n o d a a rtilh a ria
m a rin h e iro s .
d e te rra ; u m a b a rc a , u m b a rc o
v a p o r, u m a â n c o ra s ã o o s s in a is p re fe rid o s p e lo s fu z ile iro s e
D o is fu z is e m c ru z , d u a s b a io n e ta s
s ã o s ím b o lo s p re d ile to s d a in fa n ta ria ;
e n tre la ç a d a s
o c a v a lo , d a c a v a la ria .
a
C onsegui a lc a n ç a r is to c o m o e s tu d o d e 9 .2 3 4 in d iv í-
U m a v e z e n c o n tre i u m c a v a lo n u m c a v a le iro e u m e lm o n u m
duos, d o s q u a is 3 .8 8 6 s o ld a d o s h o n e s to s e 5 .3 4 8 c rim in a is ,
e x -b o m b e iro .
o u m e re triz e s o u s o ld a d o s d e lin q ü e n te s , e n tre e le s 2 0 0 m u lh e -
re s , 3 7 8 fra n c e s e s e is s o g ra ç a s a a ju d a e p a c iê n c ia d e m a is D e p o is d o s s ím b o lo s p ro fis s io n a is , o s p re d o m in a n te s
de um a dezena d e m é d ic o s . s ã o o s d a re lig iã o , e é n a tu ra l a quem conhece o e s p írito
d e v o to d e n o s s o p o v o . T o d a v ia , d e v o a c re s c e n ta r q u e m u ito s
O lh a n d o o s v e rd a d e iro s s ím b o lo s , a q u e a s ta tu a g e n s
d e le s fo ra m fe ito s a n te s d e e n tra r n a m ilíc ia , e que são
a lu d e m , o c o rre u -m e d is tin g u ir ta tu a g e m s o b re o a m o r, re li-
fo rn e c id o s p e lo s p a s to re s d a L o m b a rd ia o u p e lo s p e re g rin o s
g iã o , g u e rra e p ro fis s ã o . S ã o tra ç o s e te rn o s d a s id é ia s e d a s
d e L o re to . C o n s is te , o m a is d a s v e z e s , d e u m a c ru z p o s ta e m
p a ix õ e s p re d o m in a n te s n o h o m e m d o p o v o . O s d e a m o r e ra m
c im a d e u m a e s fe ra , e m u m c o ra ç ã o (lo m b a rd o s ).
com uns e n tre o s lo m b a rd o s e p ie m o n te s e s . São o nom e ou
'I".~;.
a s in ic ia is d a m u lh e r a m a d a , e s c rito s e m le tra s m a iú s c u la s ; D esenho quase e x c lu s iv o d o s h a b ita n te s d a E m ilia -
ou a época d o p rim e iro a m o r; o u u m o u m a is c o ra ç õ e s tre s p a s - R o m a g n a e d a p o p u la ç ã o d e C h ie ti e d e Á q u ila é o c o n ju n to
sados por um a fle c h a ; ou d u a s m ã o s q u e s e a p e rta m . Uma d e trê s le tra s IH S c o m u m a c ru z n o a lto . À s v e z e s , e s s e
30 31
J , .i.'..;.
,~.,
~•,1 ,'>,';;
rj
sím b o lo e n c o n tra -se e m in d iv íd u o s d e o u tra s re g iõ e s, c o m o ' .• d e v irilid a d e , e e ra n a a rm a d a p ie m o n te sa a d o ta d o s p e lo s
c a la b re se s, lo m b a rd o s, q u e fo ra m a A n c o ra e d e p o is a L o re to , m a is c o ra jo so s.
p o r a c a so o u d e p ro p ó sito , ta lv e z e m p e re g rin a ç ã o , e re c o rd a m
a ssim a c o n te c im e n to fe liz n a p ró p ria c a rn e . 1 O e stu d o m in u c io so d o s v á rio s d e se n h o s a d o ta d o s p e lo s
d e lin q ü e n te s d e m o n stra c o m o a lg u m a s v e z e s a ssu m e m não
o' E n tre 'o s v á rio s d e se n h o s, a lg u n s sã o d e p o u c o sig n ifi- ~ "t só 'e sjje c ia l fre q ü ê n c ia , m a s u m 'c u n h 6 to â b p a rtic u la r, c rim i~
c a d a , c o m o flo r, á rv o re , a n e lo u a s p ró p ria s in ic ia is. O u tro s n a l. R e a lm e n te , e m q u a tro so b re 1 6 2 d e le s a ta tu a g e m ex-
sã o m a is im p o rta n te s; u m c o m o re tra to d a ra in h a d e N á p o le s p rim ia e stu p e n d a m e n te o â n im o v io le n to , v in g a tiv o , o u tra ç o
e a p a la v ra G a e ta , e ra c o m o rg u lh o m o stra d o p o r u m v e te - d e d e sp u d o ra d o s p ro p ó sito s. U m tin h a , n o p e ito , n o m e io d e
ra n o , u m b o u rb o n . C in c o v e z e s n o te i u m d e se n h o m u ito b iz a r- d o is p u n h a is, in sc rito o triste c h iste : " ju ro v in g a r-m e " ; e ra
ro , q u e m e fo i re v e la d o , o ra fig u ra n d o u m a ta rã n tu la , o ra u m a n tig o m a rin h e iro p ie m o n tê s, e ste lio n a tá rio e h o m ic id a
u m a rã , q u a tro v e z e s e m n a p o lita n o s, c in c o v e z e s e m sic ilia - p o r a to d e v in g a n ç a . U m v ê n e to , la d rã o e re in c id e n te , tin h a
n o s, su je ito s d e se re m filia d o s à C a m o rra : m a s n ã o m e fo i n o p e ito a s p a la v ra s: " m íse ro e u , c o m o d e v e re i a c a b a r? " , lú g u -
p o ssív e l sa b e r o sig n ific a d o p re te n d id o , n e m e u fic a ria su r- b re s p a la v ra s q u e re c o rd a v a m a q u e la s ta m b é m lú g u b re s q u e
p re so e m a c re d ita r q u e fo sse u m re c o n h e c im e n to , c o m o , se F e lip e , o e stra n g u la d o r d e m e re triz e s, tin h a d e se n h a d o , m u i-
não m e engano, u m n ã o m u ito d ife re n te , tin h a m o s c a rb o - to s a n o s a n te s da condenação, n o b ra ç o d ire ito : " n a sc id o
n á rio s e m 1 8 1 5 . U m a rtilh e iro tin h a ,u m a se re ia , q u e a p e rta v a so b m á e stre la " . T a rd ie u n o to u u m m a rin h e iro , já e n c a rc e -
u m p e ix e n a s m ã o s, d e se n h a d a c o m e sm e ro d e u m a m in ia - ra d o , c o m a ta tu a g e m : " se m e sp e ra n ç a " , e m la rg a s le tra s n a
tu ra , d e c o r v e rm e lh a e a z u l. T rê s in d iv íd u o s q u e e stiv e ra m fro n te . D ir-se -ia q u e o d e lin q ü e n te te m g ra v a d o n a p ró p ria
n a le g iã o e stra n g e ira n a Á fric a tin h a m u m a m e ia -lu a ; d o is c a rn e o p re ssá g io d e se u fim . O u tro c o lo c o u n a fro n te : " m o rte
o u tro s, v in d o s d a Á fric a , o ste n ra v a m a fig u ra d e u m tu rc o a o s b u rg u e se s" , so b o d e se n h o d e u m p u n h a l.
c o m o c e tro n a m ã o e u m a fa ix a n o d o rso .
3 . O b sc e n id a d e
2 . C rim in o so s
O u tro in d íc io n o s o fe re c e a o b sc e n id a d e d o d e se n h o ,
É e sp e c ia lm e n te n a triste c la sse d o h o m e m d e lin q ü e n te o u a re g iã o d o c o rp o e m q u e a ta tu a g e m v e m se n d o p ra tic a d a ,
q u e a ta tu a g e m a ssu m e u m c a rá te r p a rtic u la r, e e stra n h a te n a - c o m o o s p o u c o s q u e m o stra ra m d e se n h o s o b sc e n o s, o u tra ç a -
c id a d e e d ifu sã o . V im o s já , c o m o a tu a lm e n te n a m ilíc ia , o s d o s e m p a rte s im p u d ic a s, e ra m fre q ü e n te s e n tre a n tig o s d e se r-
d e te n to s a p re se n ta m u m a fre q ü ê n c ia o ito v e z e s m a io r de to re s e n c o n tra d o s n o s c á rc e re s. E m 1 4 2 d e lin q ü e n te s, e x a m i-
ta tu a g e n s d o so ld a d o liv re ; a o b se rv a ç ã o to rn a -se tã o c o m u m , n a d o s p o r m im ,c in c o tin h a m ta tu a g e n s n o p ê n is. T rê s tra z ia m
q u e u m d e ste s, so lic ita d o p o r m im p o r q u e n ã o tin h a ta tu a - a o lo n g o d o p ê n is a fig u ra d e m u lh e r; u m tin h a d e se n h a d o
g e m , re sp o n d e u -m e : " p o rq u e sã o c o isa s q u e fa z e m o s c o n d e - n a g la n d e o ro sto d e m u lh e r; u m tin h a a in ic ia l d e su a a m a n te ,
n a d o s" . S o u b e p o r u m ilu stre m é d ic o m ilita r, c o m o o s ta tu a - o u tro u m m a ç o d e flo re s. E sse s fa to s re v e la m n ã o só a im p u d i-
d o s se c o n sid e ra m , a priori, c o m o m a u s m ilita re s. E sta m o s c ic ia , m a s a e stra n h a in se n sib ilid a d e d e le s, p o r se r e sta u m a
lo n g e d a é p o c a e m q u e a ta tu a g e m c o n sid e ra v a -se p ro v a d a s re g iõ e s m a is se n sív e is à .d o r.
32 33
L~
~
U m m o r to p o r e s f a q u e a m e n to tin h a o b ra ç o e o p e ito em to d a s a p a r te s d o c o r p o . O b se rv e i n e le s 1 0 0 s in a is n o s
ta tu a d o s com desenho d e m u lh e r e s suspendendo a s s a ia s . "1 b ra ç o s, n o tr o n c o e no abdom e, c in c o n a s m ã o s , tr ê s n o s
O u tr o q u e tin h a e s ta d o n a le g iã o e s tr a n g e ir a , d e p o is d e p r a ti- •• d e d o s , o ito n o p ê n is , tr ê s n a c o x a .
c a r h o m ic íd io ta tu o u s e u m e m b r o v ir il n o b r a ç o . L a c a s s a g n e , 1
t, .._. _ _ . L a c a s S ! lg n g , e m 3 6 7 t! ltu a d o s .e n c o n tr o u :
•••••••••••• _. __ ••••• _ •• 0 .0 ••••••
u m n o s d o is " '_
e n l 1 " :3 3 3 ta tu a g e h s â F ttim in O s O s ; e h c o n tr o u O h z e 'n ó p ê n is ,- = ="
b r a ç o s e n o v e n tr e a p e n a s , q u a tr o n o s d o is b r a ç o s e n a s c o x a s ,
2 8 0 e m b le m a s a m o r o s o s , o u m e lh o r lú b r ic o s : b u s to d e m u lh e r , j o ito n o p e ito , q u a tr o s 6 n o v e n tr e , o n z e n o p ê n is , 2 9 e m
• m u lh e r n u a , f ig u r a s q u e r e le m b r a m c o ito e m p é ; m a is u m a
I to d o o c o r p o , 4 5 n o s d o is b r a ç o s e n o p e ito , 8 8 s 6 n o b r a ç o
s é r ie d e c e n a s e r ó tic a s im p o s s ív e is d e se re m d e s c r ita s . No ! d ir e ito , 5 9 só n o e sq u e rd o , 1 2 7 s ó n o s d o is b r a ç o s . O u tr o ,'
v e n tr e , e m b a ix o d o u m b ig o p r e f e r e m
c o s , c o m o in s c r iç õ e s d e s s e tip o : " to r n e ir a
s e m p r e a s s u n to s
d o a m o r", "p ra z e r
lú b r i-
I
1
q u e tin h a p a s s a d o m u ito s a n o s e m p r is ã o , n ã o tin h a , f o r a a s
I f a c e s e a s c o s ta s , u m a s 6 s u p e r f íc ie la r g a q u e n ã o e s tiv e s s e
d a s m u lh e r e s " , "venham , s e n h o r ita s , à to r n e ir a d o a m o r",
" e la p e n s a e m m im " . T ã o v a r ia d o é o s e n tim e n ta lis m o que I ta tu a d a .
c im a , u m a s e r p e n te
N a te s ta e s ta v a e s c r ito " m á r tir d a lib e r d a d e "
d e o n z e c e n tím e tr o s e s o b o n a r iz u m a
e, em
",
f a z a s m u lh e r e s h is té r ic a s
O s p e d e r a s ta s , te n d o
b a b a re m -se
m a io r
to d a s .
te n d ê n c ia q u e o s o u tr o s
I
\
c r u z q u e tin h a
T a r d ie u o b s e r v o u
te n ta d o c a m u f la r c o m tin ta .
u m la d r ã o ta tu a d o to ta lm e n te com
~:
,.,~~
p a r a a g r a d a r a o u tr e m , tê m m a is ta tu a g e n s , e ta lv e z d a s e s p e - ! u n if o r m e d e a lm ir a n te . Um p o e ta s e n tim e n ta l tin h a , a lé m
c ia is . Q u a tr o d e le s , p e s q u is a d o s por L acassagne, tin h a m as I,
i:.l>_~.
..~ :- . j
d e ta tu a g e m o b s c e n a , u m n a v io n o b r a ç o e s q u e r d o , c o m d u a s
><:'-,-
;:~' m ãos m a rc a d a s, as duas com in ic ia is e em c im a d e la s a in ic ia is d a a m a n te e e m b a ix o o d a m ã e ; n o p e ito u m a s e r p e n te
!;t- in s c r iç ã o " a a m iz a d e u n e d o is c o r a ç õ e s " . Q u a tr o o u tr a s in i- I,
e d u a s b a n d e ir a s ; n o b r a ç o d ir e ito o u tr a s e r p e n te , um a ânco-
'.~t'
t
c ia is d o a m a n te e s o b u m c o r a ç ã o in f la m a d o o u c o m a p a la v r a
" a m iz a d e " . Q u a tr o vezes o nom e d o a m ig o ; e m u m c a s o o
i r a , e u m a m u lh e r v e s tid a to ta lm e n te .
a n é is n o s d e d o s , u m a c o b r a n o b r a ç o d ir e ito e u m a b a ila r in a
O u tr o hom em tin h a
s e u n o m e e , e m c im a , o r e tr a to d e le . P e d e r á s tic a ta m b é m me n o e sq u e rd o .
p a r e c e a in s c r iç ã o " a m ig o d o c o n tr á r io " .
O lu g a r d a ta tu a g e m , e s o b r e tu d o o n ú m e r o , s ã o d e g r a n -
É p ro v á v e l q u e e s te s f o s s e m a q u e le s p r is io n e ir o s em d e im p o r tâ n c ia a n tr o p o ló g ic a , p o r q u e p r o v a m a v a id a d e in s tin -
que L acassagne e n c o n tr o u , n a s n á d e g a s , s ím b o lo s lú b r ic o s ; tiv a q u e é c a r a c te r ís tic a n o c r im in o s o . U m la d r ã o v e n e z ia n o
u m o lh o e m c a d a n á d e g a , u m m e g a n h a c tu z a n d o u m a b a io - I tin h a n o b r a ç o d ir e ito u m a á g u ia d e d u a s c a b e ç a s , a o la d o o
""f n e ta q u e s u s te n ta u m a b a n d e ir o la e m q u e e s tá e s c r ito "não i n o m e d a m ã e e o d a a m a n te L u ig ia , c o m e s ta e p íg r a f e , s in g u -
. e n tr a " , u m a s e r p e n te q u e s e d ir ig e a o â n u s . la r p a r a u m la d r ã o : " L u ig ia , c a r a a m a n te , m e u ú n ic o c o n f o r to " !
O u tr o c a r a c te r ís tic o d o s d e lin q ü e n te s , q u e tê m e m c o -
I
I b r a ç o d ir e ito
O u tr o
g o s, u m a c ru z , u m c o ra ç ã o
tr a z ia n o p e ito e n o s b r a ç o s tr ê s in ic ia is d e a m i-
p e rfu ra d o .
u m p á ssa ro c o m u m c o ra ç ã o
O u tr o la d r ã o tin h a n o
n o b ic o , e s tr e la s ,
u m a â n c o ra e u m m e m b ro v ir il. U m vagabundo tin h a d o is
m u m c o m o s s e lv a g e n s e o s m a r in h e ir o s é o d e im p r im ir d e s e -
.:.{
v a so s, d u a s c ru z e s, u m c a c h im b o , r o s to d e b e d u ín o , nom e
n h o s n ã o s ó n o s b r a ç o s 'e n o p e ito , c o m o é d e u s o g e r a l, m a s o u so b re n o m e .
34
~: 35
"~ :~u.:
;~ar.
r
\1
lid a d e
T o d a e ssa m u ltip lic id a d e é n o v a p ro v a d a p o u c a se n sib i-
à d o r, q u e o s d e lin q ü e n te s tê m e m c o m u m com os
nJ A ssim , 2 2 tin h a m a d a ta d e a p re se n ta ç ã o
m e n to c o m o m ilita r, 2 4 a in ic ia l d e se u n o m e , 7 o n o m e d e
e e n g a ja -
d e 3 9 4 m e n o re s d e u m re fo rm a tó rio , 3 1 d o s q u a is e ra m o s
p io re s; u m d e le s, p o r 'e x e m p lo , tra n sfe rid o d o re fo rm a tó rio I n a c a se rn a , q u a tro
D e 5 0 ta tu a g e n s,
n o s sa n tu á rio s, q u a tro n a p ró p ria c a sa .
3 7 e ra m c o lo rid a s d e a z u l, 6 d e v e rm e lh o ,
I
1 d e p re to , 6 d e a z u l e v e rm e lh o .
p o r se r in c o rrig ív e l, a n te s d e p a rtir tra ç o u n a p a re d e , p a ra
a lg u n s a m ig o s, e x o rta ç ã o v e e m e n te p a ra p e rd u ra re m n o m a l;
e sse s a m ig o s e ra m to d o s ta tu a d o s. 7 . C a u sa s
I
36 37
d"_'"
O s p rim itiv o s c ris tã o s u s a v a m g ra v a r c o m fo g o o n o m e o a n o d o fa to , 1 8 6 8 , e u m v a s o n o " b ra ç o q u e d e v e g o lp e a r"
d e C ris to o u a c ru z n o s b ra ç o s e n a p a lm a d a m ã o , q u e s ã o o s e m e d e c la ro u q u e a iria c o n s e rv a r p o r 1 0 0 m il a n o s , a té q u e
m a is u s a d o s e n tre n ó s . E n tre 1 0 2 d e lin q ü e n te s ta tu a d o s , 31 fo s s e v in g a d o , m a ta n d o a q u e le p o lic ia l.
tin h a m desenhos re lig io s o s . A té 1 6 8 8 , e ra u s o d o s c ris tã o s ,
q u e fic a v a m e m B e lé m , ta tu a r-s e n o s a n tu á rio .
D - Ociosidade
A o c io s id a d e te m s u a p a rte n is s o . É p o r is s o q u e se
B - Imitação n o ta m n u m e ro so s desenhos n o s d e s e rto re s , n o s p ris io n e iro s ,
n o s p a s to re s , n o s m a rin h e iro s . E n c o n tre i 7 1 e m 8 9 q u e e ra m
A segunda c a u s a é a im ita ç ã o . U m b o m s o ld a d o Lom -
ta tu a d o s n o c á rc e re . O s e m b le m a s d e p e n d e m d a fa n ta s ia dos
b a rd o , q u e tin h a a ta tu a g e m d e u m a s e re ia , d iz ia -m e rin d o ,
ta tu a d o s , que s e to rn a fre q ü e n te nos c á rc e re s, s e ja p a ra
" v e ja , n ó s s o m o s c o m o a s o v e lh a s ; não podem os ver um de
g a n h a r o u s ó p a ra s e d is tra ir: " is s o fa z p a s s a r o te m p o " , d is s e -
n ó s fa z e r u m a c o is a , q u e não o im ite m o s lo g o , a in d a que
m e um d e le s , e o u tro : " g o s to d e d e s e n h a r e não havendo
c o m o ris c o d e n o s p re ju d ic a r" . P ro v a c u rio s a d e s s a c a u s a é o
p a p e l, a d o to a p e le d e m e u s c o m p a n h e iro s " . M u ito s ig n o ra -
fa to d e q u e a m iú d e u m b a ta lh ã o in te iro tra z d e s e n h o ig u a l,
vam o s ig n ific a d o d a p ró p ria ta tu a g e m , que, m u ita s vezes,
com o p o r e x e m p lo , u m c o ra ç ã o .
re p re s e n ta v a a re p ro d u ç ã o de um desenho q u a lq u e r: g a z e la
N um a p ris ã o , la p re so s tin h a m fe ito ta tu a g e m p a ra s e lv a g e m , g a lo , c h in ê s , s e re ia . A o c io s id a d e fo i c e rta m e n te
im ita r u m c o le g a , c o m a e x p re s s ã o n o b ra ç o : " p a s d e c h a n c e "
u m a d a s c a u s a s d e s s a s ta tu a g e n s .
(se m c h a n c e ). U m d e le s d is s e q u e o fe z p o rq u e to d o s n o c á r-
c e re a tin h a m . E m u m re g im e n to , c o m b o a p a rte d o s m e m b ro s
E - Vaidade
ta tu a d o s c o m o s e m b la n te d e C ris to , p o rq u e u m s o ld a d o d e s s e
re g im e n to é d e v o to d e C ris to e re a liz a e ssa o p e ra ç ã o por M a is a in d a in flu e n c ia a v a id a d e . T am bém a q u e le s q u e
pouco d in h e iro e u m a ra ç ã o d e p ã o . n ã o s ã o a lie n is ta s sabem q u e e s ta p re p o te n te p a ix ã o , q u e s e
e n c o n tra e m to d a s a s c la s s e s s o c ia is , e ta lv e z a té n o s a n im a is ,
p o s s a im p e lir a s a ç õ e s m a is b iz a rra s e m a is to rp e s . É p o r is s o
C - Espírito de vingança
q u e o s s e lv a g e n s , que andavam n u s , p o s s u ía m os desenhos
c id a e x ib ia d iv e rs a s ta tu a g e n s n o s b ra ç o s (c a v a lo , ã n c o ra , m a is e x p o s ta e m a is fá c il d e s e r v is ta , c o m o o b ra ç o , e m a is o
t
~ 39
38 I
~-~ .
Jl A t:,
!1l __~.
~.
1
II
m e n to p rim itiv o , c o m o d is tin tiv o d e s u a fa c ç ã o , c o m o a d o ta v a o s c e n te " ; e le tin h a a ta tu a g e m de um a m u lh e r a rm a d a com
a n é is , c o rre n te s e c e rto s tip o s d e b a rb a . E n tre o s s e lv a g e n s das espada, com a in s c riç ã o a b a ix o : " lib e rd a d e " .
Ilh a s M a rc h e s i, a ta tu a g e m d is tin g u e a s v á ria s fa c ç õ e s in im ig a s : N o s e m b le m a s -m e tá fo ra s , o e s p írito d o p o v o e v id e n c ia -
u m a te m u m triâ n g u lo , o u tra s u m o lh o . T a m b é m a s trib o s n e g ra s s e . A s n a tu re z a s pouco e v o lu íd a s p ro c u ra m s e m p re re p re s e n -
\
s e d is tin g u e m p e lo c o rte q u e e le s fa z e m n a fa c e . O u tta s trib o s
tê m v in te c o rte s d e c a d a la d o d o ro s to , s e is p a ra c a d a b ta ç o , s e is
. p a ra a s p e rn a s , q u a tro p o r p e ito , a o to d o 9 1 . N a Id a d e M é d ia
Ii ta ç õ e s o b je tiv a s
ç õ e s a b e rto s ,
d a s a lv a ç ã o
d e u m a id é ia ; d e p o is
e s tre la s ,
o u d a m a rin h a ;
s in a is d e b o m
m ãos
a fre q ü ê n c ia
o u m a u a g o u ro ,
e n tre la ç a d a s com o
d o s c o ra -
â n c o ra s
s in a l
h a v ia .ta tu a g e n s e s p e c ia is p a ra o s a rte s ã o s , os desenhos de sua I d e a m o r e c o m u m a v io la ; p u n h a l n a re g iã o m a m á ria e s q u e r-
;,
p ro fis s ã o , c o m o n a F ra n ç a , o s 's a p a te iro s e o s a ç o u g u e iro s . d a , q u e s im b o liz a um fe rim e n to m o rta l o u a b e rto , havendo
a b a ix o a lg u m a s g o ta s d e s a n g u e .
G - Paixão O e m b le m a m a is c o m u m é a v io le ta ; a o in v é s , s e ria a
e s p é c ie p re v a le n te n a flo ra , c o n ta n d o -s e e m m a is d e 9 7 flo re s
A té u m c e rto p o n to devem c o n trib u ir ta m b é m o s e s tí-
u m a s ó m a rg a rid a , s e te e n tre ro s a s e flo re s e x ó tic a s e 3 9 v io -
m u lo s d a s m a is n o b re s p a ix õ e s hum anas. Os rito s da casa
le ta s c o m a in s c riç ã o : " a m im , a v o c ê , à m in h a m ã e , à irm ã ,
p a te rn a , a im a g e m d o s a n to p a d ro e iro , a in fâ n c ia , a a m ig a
a u s e n te ,
tin u a m e n te ,
é c o is a m u ito n a tu ra l q u e re to rn e m
fa to s m a is v iv o s d a le m b ra n ç a .
e re c o rre m , con-
I a M a ria " .
c o n tra
F re q ü e n te m e n te ,
s o b re a flo r e s u a s p é ta la s
o re tra to d a m u lh e r
e e m b a ix o
am ada
o seu nom e.
en-
N a s c la s s e s c iv is e n c o n tre i u m a s ó ta tu a g e m , p o r a s s im
Paixões eróticas
d iz e r e n d ê m ic a : fo i e n tre o s c o le g ia is d e u m c o lé g io b a s ta n te
re n o m a d o d e C a s te lo m o n te , em quase v in te ra p a z e s no m o- {
'
C o n trib u e m , e n tre o u tra s , a s p a lx o e s a m o ro s a s , ou
m e n to e m q u e e s ta v a p a ra fe c h a r, s e fiz e ra m ta tu a r com dese- m e lh o r, a s e ró tic a s , com o d e m o n s tra m a s fig u ra s o b s c e n a s e
n h o s q u e a lu d ia m à m e m ó ria d o d ile to c o lé g io , c o m o p o r e x e m - ::e t: a s in ic ia is a m o ro s a s d e n o s s o s d e lin q ü e n te s e d a s m e re triz e s .
'. "~'{'
p lo , o n o m e d o d ire to r o u d e u m c o le g a . T o d o s ig n o ra v a m que -
N a O c e a n ia a lg u m a s m u lh e re s desenham a v u lv a com s ím -
a ta tu a g e m fo s s e u s o d é 'b á rb a ro s e condenados à p ris ã o .
".
..
â':~
-1j,
,
j,>
,.~
- '; . . " , ; " r ~ '~ ;
,C {\
,,"':; b o lo s o b s c e n o s . A s m u lh e re s ja p o n e s a s , h á a lg u n s a n o s , ta tu a -
40
~
~:~. -~ :~ ~ .
IE ..
,; . "• .- k _
i~;' 'r'".-. 41
;.'.: ',,: .ít;;.
.
1
v a m a s m ã o s c o m sin a is a lu siv o s a se u s a m a n te s, q u e c o b ria m Atavismo
quando o tro c a v a m p o r o u tro .
A p rim e ira , a p rim e iríssim a c a u sa d a d ifu sã o d o u so d a
A s in d íg e n a s se ta tu a m c o m lin h a s e sp e c ia is e c ic a triz e s
ta tu a g e m , e n tre n ó s, c re io q u e se ja o a ta v ism o (h e re d ita rie -
p a ra d e m o n stra ç ã o d e se re filx irg e n _ sg llp re te n d e n te sd e ç ,a sa :
m e n to . T am bém nos hom ens a ta tu a g e m c o in c id e m u ita s- 1
, ,'d a d e ); oua e sp é c ie d e -a ta v ism o -h istó ric o , q u e é a tra d iç ã o , I
v e z e s c o m a v irilid a d e ; é u m in d íc io , e ta lv e z , c o m o im a g in a v a
, c o m o se a ta tu a g e m fo sse u m d o s c a ra c te re s e sp e c ia is d o h o -
m e m p rim itiv o e do hom em e m e sta d o d e se lv a g e ria .
D a rw in , u m m e io d e o p ç ã o se x u a l.
N a s g ru ta s p ré -h istó ric a s e n o s se p u lc ro s d o a n tig o E g i-
A s p ro stitu ta s á ra b e s e x ib e m c ru z o u flo r n a s fa c e s e
, to se v ê e m o s e stile te s q u e se rv e m a in d a a o s se h .a g e n s m o d e r-
n o s b ra ç o s, e â n c o ra s n o s se io s, n a v irilh a , n a v u lv a e n a s , n o s p a ra ta tu a r-se . O s a ssírio s, se g u n d o L u c ia n o , o s d á c io s e
p á lp e b ra s. E m trê s c a so s, o n o m e e a s fe iç õ e s d e u m a m a n te i
sa m a to s, se g u n d o P lín io , p in ta v a m fig u ra s n o c o rp o e n a fro n -
n u m b ra ç o e u m a m u lh e r n o o u tro , E ste sím b o lo d a s p a ix õ e s,
te e n a s m ã o s o s fe n íc io s, e o s h e b re u s c o m lin h a s, q u e c h a m a -
lig a d o à m enor se n sib ilid a d e d o lo ro sa e x p lic a o sa c rifíc io
v a m "sin a l d e D e u s".
m o n e tá rio a q u e se su b m e te m p a ra se fa z e r ta tu a r.
1 E n tre o s b ritâ n ic o s o u so e ra d e ta l fo rm a d ifu n d id o
E m P a ris e L y o n , o s ta tu a d o re s p ro fissio n a is tê m o fic in a ,
II
l"!
,;"
q u e o p ró p rio nom e "b ritâ n ic o " p a re c e te r d e riv a d o d e le .
w.1 ,r' á lb u n s d e d e se n h o s e c o b ra m b e m p e lo tra b a lh o . Q uando
f"., n ã o u sa m tin ta n a n k in , q u e p ro v o c a m enos re a ç ã o e d u ra E le s m a rc a v a m , d isse C é sa r, fig u ra s c o m fe rro n a c a rn e d o s
~ '~
m e n in o s, e c o lo ria m o s g u e rre iro s c o m tin ta s, p a ra to rn á -lo s
f:~~
1;0~
m a is, u sa m o c a rm in , q u e p ro d u z v iv a irrita ç ã o e c o c e ira ,
m a is te rrív e is n a g u e rra . O s e sc o c e se s, d iz Isid o ro , d e se n h a -
c o m g ra v e s in c o n v e n ie n te s.
I vam com e sp e to s e stra n h a s fig u ra s n o c o rp o . O s so ld a d o s
I E sse e stím u lo d a p a ix ã o , lig a d o a o e x a to c o n h e c im e n to
ro m a n o s o ste n ta v a m n o b ra ç o d ire ito o n o m e d o im p e ra d o r
d o s p o rm e n o re s, p a ra a q u e le s q u e , te n d o p o u c a in te lig ê n c ia , a
e a d a ta d o e n g a ja m e n to n o e x é rc ito .
d e sc re v e m , e x p lic a ria a su tile z a q u e m e fa z e m re c o rd a r a d o s e g íp -
c io s, c h in e se s e m e x ic a n o s, p a ra o s q u a is, n o s se u s m o n u m e n to s N ã o h á , p e n so , se lv a g e m q u e n ã o se ja m a is o u m e n o s
ta tu a d o . O s p a riá g u a s p in ta m o ro sto d e a z u l n o s d ia s d e
a n tig o s p o d e -se d istin g u ir m u ito b e m a fo rm a d o s a n im a is e I
v e g e ta is e o s in stru m e n to s q u e d e se ja v a m re tra ta r, E ssa p e rfe iç ã o
d o s d e se n h o s m e le m b ra a d e lic a d e z a d a s c a n ç õ e s p o p u la re s, e m II fe sta e d e se n h a m
n e g ro s d istin g u e m -se ,
triâ n g u lo s, a ra b e sc o s n a s fa c e s. O s p o v o s
d e trib o a trib o , e sp e c ia lm e n te os B am -
q u e a p a ix ã o , à s v e z e s, su p e ra o s e la b o ra d o s a rtifíc io s d a a rte . b a ra s, fa z e n d o c o rte s h o riz o n ta is o u v e rtic a is n o ro sto , n o
'm '~ n te , o s m a rin h e iro s, q u e v ã o n u s n o p e ito e b ra ç o s, e a s I o d e a z u l. O s "b o rn u s" d a Á fric a c e n tra l d istin g u e m -se por
m
~:~,_.-.
42 43
- -'"" - ~ '
- - - - _ .- -~ ------ ._ - - - - - - - - - - - - - - - - '- - - - - _ . _ - - - - - - - - ~ - - - - - - -
n o lo m b o , n o tó ra x , o re lh a s. N o T a iti, a lg u m a s m u lh e re s na ç ã o p re g re ssa , d a p re se n ç a d a ta tu a g e m , m o rm e n te se fo i e m
v u lv a e no abdom e (u m a tin h a d e se n h a d o sím b o lo s o b sc e - p e sso a e stra n h a à c la sse d o s m a rin h e iro s, d o s m ilita re s, d o s
n o s); o s h o m e n s p o r to d o o c o rp o , a té n o n a riz , c o u ro c a b e lu - p e sc a d o re s, e q u e te n h a a d o ta d o d e se n h o o b sc e n o o u m ú l-
do, g e n g iv a s, e fre q ü e n te m e n te , n a sc e m g a n g re n a s p e lo tip lo , o u a in d a fa ç a a lu sã o a a lg u m a fo rm a d e v in g a n ç a , o u
c ~ rp ó . P á ra -p ro i:e g e t q u e ii:n e n h a sid o o p e ra d o sã o -re c e ita d o s d e d e se sp e ro . ~ _ _ "_,~ " .' '" ,_ _ _ ~ _ ~ . _ ~_~-"
_ .. " _
d ie ta e re p o u so . O ta tu a d o r é re sp e ita d o e a c o lh id o , re c o m -
C e rta m e n te , a p re d ile ç ã o p o r e ste c o stu m e b a sta rá
p e n sa d o c o m p re se n te s, c o m p o rc o s.
p a ra d istin g u ir o d e lin q ü e n te d o d e m e n te , m a lg ra d o te n h a
N a s ilh a s M a rc h a ta tu a g e m é u m a v e stim e n ta e um em com um com e le a fo rç a d a re c lu sã o e a v io lê n c ia das
sa c ra m e n to . D o s 1 5 a o s 1 6 a n o s c o lo c a -se n o s ra p a z e s u m a p a ix õ e s o u o lo n g o ó c io . D e v id o a isso , e le re c o rre a o s m a is
c in tu ra e se c o m e ç a a ta tu a r n o s d e d o s, n a s p e rn a s, m a s se m - e stra n h o s p a ssa te m p o s: a fia p e d ra s, c o rta a s v e stim e n ta s,
p re e m u m b o m lu g a r sa g ra d o . T o d a fa m ília ric a te m o se u fa z ta tu a g e n s.
m a q u ia d o r q u e tra n sm ite a h o n ra ria d e p a i p a ra filh o , d e
T a m b é m o e g ré g io D e P a o li e m Notas sobre a Tatuagem
m o d o q u e n a m o rte d o p rim e iro é n e c e ssá rio e sp e ra r a lg u n s
no Manicômio d e Gênova (1 8 8 0 ), e n c o n tro u 1 9 ta tu a d o s e n tre
a n o s p a ra q u e o se g u n d o p o ssa su c e d ê -lo . À s m u lh e re s, m e s-
2 7 8 d e m e n te s, m a s d e sse s 1 9 , 1 1 e ra m p ro v e n ie n te s das
. m o a s p rin c e sa s, fa z e m só n o s p é s e se e m b a ix o o d e se n h o é
p risõ e s. E n tre o s o u tro s 8 , u m p e rte n c ia à C a m o rra d e G ê n o v a
d e lic a d o , 'n o ro sto g ro te sc o e h o rrív e l, p a ra fa z e r m e d o .
e ta n to e ste c o m o o u tro s 5 fo ra m ta tu a d o s quando a tu a v a m
A , ta tu a g e m é a v e rd a d e ira ' e sc ritu ra d o se lv a g e m , o n a m a rin h a e n o e x é rc ito . D o is fo ra m ta tu a d o s n o m a n ic ô m io ,
. p rim e iro re g istro . d o e sta d o c iv il. C o m c e rta s ta tu a g e n s, os m a s d e sse s,. u m e ra m a rin h e iro e fo i ta tu a d o a se u p e d id o
d e v e d o re s le m b ra m a o b rig a ç ã o d e se rv ir o c re d o r p o r d e te r- p a ra m o stra r-se b e m a o s se u s c o m p a n h e iro s; a su a ta tu a g e m
m in a d o te m p o , e in d ic a v a m a q u a lid a d e e o n ú m e ro dos ob- q u e e x a m in e i e ra D e u s n u m triâ n g u lo e u m a n jo v o a n d o , o q u e
je to s re c e b id o s e m g a ra n tia . O s ja p o n e se s ta tu a m o c o rp o , in d ic a a n a tu re z a d e se u d e lírio .
d e se n h a n d o le õ e s, d ra g õ e s e sím b o lo s o b sc e n o s.
A in flu ê n c ia p o is d o a ta v ism o e d a tra d iç ã o p a re c e -m e 9. Traumas
c o n firm a d a a o e n c o n tra r a ta tu a g e m d isse m in a d a e n tre o s h a -
b ita n te s d o c a m p o , o s c a ip ira s e o s p a sto re s, tã o te n a z n a s a n tig a s O u tro sin a l q u e p o d e to rn a r-se p re c io so a o m é d ic o
tra d iç õ e s e d e v ê -la já a d o ta d a n a Itá lia , e sp e c ia lm e n te p e lo s le g ista p o r, d istin g u ir u m m a la n d ro e u m la d rã o de um ho-
p ie m o n te se s e lo m b a rd o s; o s p o v o s c e lta s e ra m o s ú n ic o s n a a n tig a m e m h o n e sto e p a c ífic o c id a d ã o , é a fre q ü ê n c ia d a s c ic a -
E u ro p a q u e tin h a m c o n se rv a d o e ste u so d e sd e o te m p o d e C é sa r. triz e s n a c a b e ç a e n o s b ra ç o s. C o n te i só 1 7 d e le s e m 3 9 0 , e
a n te rio re s à é p o c a e m q u e fo i c o m e tid o o d e lito . E isso se
a p lic a ta m b é m à s p ro stitu ta s. P a re n t-D u c h a te le t, em 391
8 . T a tu a g e m n o s d e m e n te s ,
., m e re triz e s a b rig a d a s e m h o sp ita is p o r g ra v e s d o e n ç a s não
T u d o o q u e fo i d ito b a sta p a ra d e m o n stra r à m e d ic in a
I. ;, sifilític a s, e n c o n tro u 9 0 , u m q u a rto d o to ta l, a tin g id a s por
1" ,
le g a l q u e isto d e v e a ju a a r c o m o in d íc io lo n g ín q u o d e d e te n -
.
fI'. ~ .'. .
..•. _ 'r." ,~~.
. ..:d n .
~.~':';.,,~
fe rim e n to s e c o n tu sõ e s g ra '(e s.
44 -.~t~-.\'i'"",,'~
~ : f ( .t +,'t, " 45
t;ji;~
... t';.f-~ t- ..
'1
i
~
•,
.~
1
.=<-_--
.•. ~ . ,.. - -= -
~
,./'
"',
I ,::
'.
A ~.~ 47
:ªL1i{;:~..
rI,
que lhe am putasse um a perna, e depois, tom ando o m em bro toU total insensibilidade quando houve pressão dolorosa sobre
cortado entre as m ãos e fazendo piada sobre ele. Um ladrão o dorso da m ão, m as entre os delinqüentes a sensibilidade
condenado já treze vezes recusava-se a trabalhar sob o pretex- zero atingiu 4 e em outros foi bem fraca a sensibilidade.
to de dores na perna direita; o m édico lhe disse que haveria •
,
='-~' necessidadede-am putá-lae
concordância dele. Algum
colocar,um a de m adeira, com ao
tem po depois, o enferm eiro da ,
"-~--,
• 4:- Sensioilidade tátil ~... -, _. -'"'":7" -- _.~::::-
prisão descobriu que ele tinha realm ente séria lesão na perna, Num conjunto de 27 indivíduos sãos encontrei 8 com
m as era a esquerda. Evidentem ente era um im becil, que bloqueio m aior na esquerda e só 5 com bloqueio na direita,
depois foi internado num m anicôm io. sendo em parelhado em 14; em m édia 2,2 no lado direito e
2,0 no esquerdo, ao contrário do que ocorre com os crim i-
1 nosos, nos quais o lado em que prevalece a resistência é o
2. Sensibilidade geral I
direito, em 10 sobre o núm ero de 37, sendo 20 nos dois lados
O argum ento da sensibilidade dolorífica dos delinqüen- 1 e só em 7 se nota m aior insensibilidade no esquerdo.
tes era m uito im portante e delicado para que pudéssem os ! Olhando o tato no tocante aos vários crim es, encontra-
nos contentar com dados com pletam ente aproxim ativos e m os a seguinte estatística sobre a sensibilidade obstruída:
não controlados pela experiência direta.
Exam inam os 66 delinqüentes, dos quais 56 eram reinci- • Ladrões: Direita: 1,60 Esquerda: 1,78
dentes ou habituais e 4 ocasionais; havia ainda um a prostituta
• Agressores: 2,30 2,00
e 2 ladrões alienados m entais e 3 alcoólatras. Esse exam e foi
não apenas para averiguar a insensibilidade à dor, m as tam -
• Assaltantes: 1,92 1,74
bém a sensibilidade geral e topográfica. • Estelionatários: 1,58 1,80
Estudando esta últim a com o sim ples contato de dedo,
foi ela encontrada em 38 dos 66. Em 46, em que se notou a 5. Visão
diferença entre os dois lados, em 16 no lado direito e em 12
Quanto à vista, o Dr. Bono, em inteligente estudo no
no esquerdo; em 18 em am bos os lados.
m eu laboratório, em 227 crim inosos, a m aior parte adoles-
centes, encontrou 15 daltônicos (6,6), ou seja, cego às cores,
3. Algom etria o dobro do que encontrou em 800 estudantes (3,09) da
M ais im portante é o estudo da dor, conseguido pelo m esm a faixa etária e em 590 operários (3,89).
m eu m étodo de algom etria (apertão) do são e do alienado, Tam bém Holm gren em 321 crim inosos encontrou 56
com experiência no dorso da m ão. A m édia de sensibilidade daltônicOS, enquanto a m édia geral era de 32. Esta descoberta
em 21 hom ens norm ais foi de 49,1, enquanto nos delin- torna-se tanto m ais im portante, porque todo dia m ais se vai
qüentes foi de 34,1. Nos,hom ens norm ais, nenhum apresen- apurando com o no processo de sensação das cores tom a um a
.
" :~.
,',
':-,.~ ..;v_
.a..
>. ~""::~
,,,,,,,,'w:l<. 49
48 :fr~~.
W":'I\:ol'".
,it >'%'...1
" ..
L
I ,,~
i til-.,
p arte im p o rtan te o céreb ro em co n fro n to co m a retin a, e 9 . D in am o m etria b
p o rq u e as p esq u isas d e S ch m itz m o straram q u e m u ito s d esses • :'
d eficien tes têm g rav es d istú rb io s n o sistem a n erv o so , ep i- ~ Q u em q u iser in d ag ar as co n d içõ es d a fo rça m u scu lar
l d o s d elin q ü en tes n ão co n seg u e, m esm o co m p erfeito s d in a-
'1"1
... -..•",+
lep sia, co réia, trau m as m en tais.
=- <"'~.-; 'c'. ~ ::.~ -~ -.~ .-'--7 -= -.-'- ,.,. --""._-"-.'-"""""~---.-' ~ m ô m etro s (ap arelh o .d estin ad o ,a .m ed ir.aJo rça .m u scu lar),
I
q ü en tes, o s m ais n o v o s in tern ad o s em refo rm ató rio s e alg u n s jo - d o q u e são . N ão reag em ao d in am ô m etro q u an to p o d eriam .
v en s m en o res d e 2 6 an o s, lad rõ es o u b an d o leiro s, 2 estelio n atário s, P u d e v erificar em A n co n a, n as casas d e d eten ção , em q u e
co n fro n tav a co m 2 2 0 o lh o s d e o u tro s jo v en s co etân eo s h o n esto s, eles ex ercem trab alh o co n tín u o , a fo rça m u scu lar se m o stra
» in tern ad o s n o in stitu to ag ríco la B o n afo u rs, su jeito s à m esm a
lim itação d e lib erd ad e e ao m esm o tratam en to , o b tev e resu ltad o s
!I m ais en érg ica
trab alh a.
d o q u e n o s lo cais em q u e p o u co o u n ad a se
;.
'I
q u e d em o n stram a fraca acu id ad e v isu al d o s d elin q ü en tes. C aracterística d e m u ito s crim in o so s é a ex trao rd in ária
J~
f,t, ag ilid ad e, esp ecialm en te n o s assaltan tes; assim era o C e-
~.
gp,: 7 . S en sib ilid ad e m ag n ética ch in i, o P ietro rro , o R o ssig n o l, q u e fu g iu n ão só d o cárcere,
;:&, I m as p ro cu ro u ain d a a ev asão d e su a am an te n o m esm o d ia.
~•..-:~: E n q u an to
ciam en co b ertas,
as v árias esp écies d e sen sib ilid ad e p erm an e-
a m ag n ética é, ao rev és, m ais v iv a. É cu rio so
E ssa ag ilid ad e assem elh a-se à m acaq u ice, co m o a d e M aria
P ierin o , q u e trep av a n as árv o res e d elas saltav a so b re o s
q u e ao in v erso d o q u e o co rre n as p esso as n o rm ais, ao m en o s, telh ad o s, en trav a n as casas e p o d ia assim su b trair-se à ação
seg u n d o n o ssa ex p eriên cia, h o u v e seis q u e se m o straram sen - I d a p o lícia.
sív eis ao ím ã n a n u ca, três n a fro n te e n ão em o u tras reg iõ es
d o co rp o . E m d o is, o ím ã tin h a p ro d u zid o v erm elh ão em to d o
•l, 1 0 . C an h o tism o
o ro sto , em b o ra esse n ão ap resen tasse q u alq u er sen sação .
••
• F ato cu rio so é q u e a d in am o m etria ap resen ta p ro p o rção
8 . S en sib ilid ad e m eteó rica m ais elev ad a d e can h o to s, o u q u e ten h am m ais fo rça n a m ão
esq u erd a d ó q u e n a d ireita. E sses d ad o s m e fazem su sp eitar
O u tra sen sib ilid ad e esp ecial é a d a v ariação m eteó rica, d iferen ça d e m o v im en to m en o r n a d ireita d o q u e n a esq u erd a.
q u e tem sid o en co n trad a b em clara em 1 9 d e 1 0 2 ex am in ad o s: D ig o q u e su sp eito ap en as, p o rq u e p o u cas p ro v as d in am o -
u m em 7 h o m icid as e saltead o res, 1 0 em 4 7 lad rõ es, 2 em 2 5 m étricas já b astam p ara co n v en cer d e q u e d ão id éia d e fo rça
ag re'sso res, 3 em 1 0 estelio n atário s, 2 em 7 v ad io s, 2 em 6 e ain d a m esm o d a d estreza m u scu lar e q u e to d o m o d o n em
estu p rad o res. D estes, 8 acu sam p ro stração , 7 frio , 6 trem o res sem p re co rresp o n d em à am b id estria (am b id estro é q u em u sa
n o co rp o , 7 to rn aram -se ag ressiv o s. a d ireita e a esq u erd a d e fo rm a ig u al).
50
51
",.,
J
1 1 . A n o m a lia s d a m o b ilid a d e ,
I
,.
í
J á o e s tu d o d e V irg ílio , q u e s o b re 1 9 4 c rô n ic o s e n c o n tra
u m a c o ta p ro p o rc io n a l e n o rm e d e e p ilé tic o s , a tá x ic o s e m o r-
m e n te
p e ita r
n o s la d rô e s
co~o
e m c o n fro n to
a 'm o b i l i d a d e
com h o m ic id a s ,
s e ja -m u ito a n ô m a l~
fa z -m e su s-
n e le s p a ra le la -
.~,
,
I
m e n te à s e n s ib ilid a d e . É fre q ü e n te s o b re tu d o a e p ile p s ia .
"
i
I, 4 . SOBRE A SENSIBILIDADE AFETIVA
r
! 1 . A u s ê n c ia d e la (L a c e n a ir e e M a r t i n a t i )
1 . A u s ê n c ia d e la
I
o de seu g a to . " A v is ã o de um a g o n iz a n te não p ro d u z em
m im q u a lq u e r e fe ito . E u m a to um hom em com o bebo um
copo d e v in h o ."
;"., '\
'f ; t _ ~ .
52 :L~
~ ¥ { :: 53
.'l.~.""
k - .'"
. -
-,
I
I
É realm ente com pleta a indiferença diante das próprias
de seus delitos. É o
I B outellier, aos 21 anos, m atou a m ãe com 50 facadas e
sentindo-se cansado, deitou-se ao lado do cadáver da m ãe e
,
vítim as e ante o sanguinário testem unho
! dorm iu tranqüilam ente, e, ao acordar, tom ou sua refeição. C lau-
caráter constante de todos os delinqüentes habituais, que bas-
taria para distingui-lo do caráter do hom em norm al. M arti-
.
~
sen e L uck falavam de seus delitos perante o tribunal com tanta
II
nari visava sem pestanejar a fotografia dà própria m ulher, cons- . frieza el:iariqüilidáde, com o se fossem testem unhas e não autores:' .
'"ratava a identidade dela, e tranqüilam ente lhe dava um golpe, E sta estranha apatia, essa insensibilidade ante a desventura
com o se depois lhe pedisse perdão, que não lhe seria concedido. alheia, devida talvez ao egoísm o, o ponto de partida para a falta
de com paixão, não raro a conserva para si m esm a, pois, em bora
L a M arquet jogou num poço a própria filha, para poder
tenham sido encontrados facilm ente alguns casos, com o o da
acusar a vizinha que o ofendera. V itou envenenou o pai, a
I
M arquesa de B rinvilliers, A ntonelli, B oggia, V allet, B ourse, que
m ãe e o irm ão para herdar um a ninharia. M ilitelo, m uito
foram tom ados de terror diante da execução deles, a m aior parte
jovem , assim que com etera hom icídio de um seu com pa-
nheiro e am igo, estava tão pouco com ovido, que tentou I• conserva um a singular frieza e indiferença até a sua últim a
hora. M ostram -se assim isentos do am or à própria conservação,
subornar 'os serviçais que tentaram im pedir seu ato. I
que é a m ais universal e o m ais forte instinto do ser hum ano.
~ ,~
r Pantoni, nosso em érito facínora, m e contou que quase
\I
e
2. T roppm ann e B outellier: Indiferença à própria m orte
todos os assaltantes e hom icidas cam inhavam à m orte brin-
A ssim se explica com o T roppm ann pediu, do cárcere, cando. U m assaltante de V oghera com o seu últim o pedido,
I
",1'
'i? ao seu irm ão, com o se pedisse um a laranja, ácido prússico e poucos m inutos antes de m orrer, para com er um frango cozido
..;:t éter para m atar seus carcereiros. C om o tivesse ânim o de re- e com eu-o calm am ente. U m outro quis escolher, entre três
'. carrascos, o seu, que cham ava de "professor". V alle, o assas-
produzir, acreditando auxiliar sua própria defesa, a cena da
horrível m atança, da qual foi só ele o autor e a testem unha sino da cidade de A lessandria, que tinha ferido de m orte
sobrevivente de seu grosseiro projeto, forneceu-m e os porm e- dois ou três de seus com panheiros por puro capricho, en-
nores dele em que duas de suas vítim as já eram cadáveres e quanto o levavam ao patíbulo, gritava a plena voz: "N ão é
as outras quatro levantavam desesperadam ente as m ãos sob verdade que a m orte seja o pior de todos os m ales".
• os seus golpes. Para com pletar com o últim o torm ento, calu- O rsolato, levado à pena capital, acenava, zom bando a
nia a vítim a após m atá-la, e ainda tenta provar, ou m elhor, quantas m oças que via pelo cam inho, que, se fosse livre, repe-
acusar com o autor da carnificina o próprio pai, o pobre K ink, tiria seus horrendos crim es. D um olard, ao padre que o exor-
com essa expressão: "E assim aconteceu que K ink, o pai m ise- I tava ao arrependim ento antes de m orrer, cobrou um a garrafa
rável que m e enveredou à perdição, m atou toda a sua fam ília".
I de vinho que lhe tinha prom etido
que quis fazer foi recom endar
dias antes. A últim a coisa
à sua m ulher e cúm plice para
i
Q ualquer delinqüente de ím peto ou de ocasião sentiria
horror de um a cena sim ilar e teria necessidade de apagá-la da cobrar um crédito de 37 liras.
jr
m em ória de todos, e ele, ao contrário, tenta eternizá-la, entrando
:t ".:y O s livros estão cheios de epigram as de delinqüentes
a com placência ao crim e"que é especial nesse tipo de pessoas. i.l;"~ levados ao cadafalso. C om en,ta-se sobre aquele assassino que
~
...•."M3'
~
_. -
, .•....t-..•....
"""'-
::- ~.:.'....,"';'
54 ,_.~~:J:ftlji' 55
t~ tJ
:';;.;j'illl"
.•.•
T I
i
'i
d iz ia a o se u c o m p a rsa q u e se la m e n ta v a d a so rte : "N ã o sa b ia
C la ir tin h a m g a n h o m e d a lh a d e v a lo r m ilita r e m c a m p o d e
q u e e stá v a m o s su je ito s a u m a d o e n ç a a m a is!" U m p o e ta n a
b a ta lh a . C o p p a jo g o u -se d e sa rm a d o d e fu z il e m m e io a o n o sso
R ú ssia , R y le se ff, d e sc o n te n te c o m a d e m o ra d e su a e x e c u ç ã o
b a ta lh ã o , m a ta n d o e sa in d o ile so . F o i m o rto e x a ta m e n te p e lo s
d e v id o à le n tid ã o d a fo rc a , e x c la m o u : "N e m m e sm o e n fo rc a r i se u s c o m a n d a d o s, q u e n ã o tiv e ra m c o ra g e m d e a c o m p a n h á -
se sa b e n e ste p a ís!" .i lo n a q u e la a v e n tu ra im p o ssív e l e te m ia m a v in g a n ç a p o r p a rte
C la u d e o b se rv o u o s ú ltim o s m o m e n to s d e m u ito s c o n -,
'( d e le . O u tro c h e fe d e q u a d rilh a , P a lm ie ri, fe z -se m a ta r, la n ç a n -
d e n a d o s à d e c a p ita ç ã o , V e rg e r se p re o c u p a v a c o m su a s o b ra s ! d o -se n o m e io d a s b a la s. M a sin i, F ra n c o lin o , N in c o , C a n o sa ,
m é d ic a s. L a P o m m e ra is d a v a a u la s d e h ig ie n e a o s c a rc e re iro s. P e rc u o c o , p re fe rira m a m o rte c o m o h e ró is, à p risã o ,
B o c a rm é , a o c a rra sc o q u e o a d m o e sta v a q u e já tin h a p a ssa d o T o d a v ia , a m a io r p a rte d o s d e lin q ü e n te s se d istin g u e
a h o ra m a rc a d a , fa z ia h u m o r: "N ã o se in q u ie te ; se m m im p e la g ra n d e v e lh a c a ria quando e n fre n ta m o p e rig o a sa n g u e
n ã o se c o m e ç a !" frio e in e sp e ra d o . P o u c o s a n o s a trá s, o in tré p id o q ü e sto r de
R avenna, S e ra fin i, m a n d o u , c h a m a r u m d o s m a is te m id o s
3 . O s c rim in o so s d ia n te da execução a ssa ssin o s, q u e se g a b a v a d e q u e re r m a tá -lo . P ô s-lh e u m re -
m ic id a s pouco
d e d u z d a s d iv e rtid a s
in stru m e n to s
d e p o is d a c o n d e n a ç ã o c a p ita l, p e lo q u e se
p a la v ra s q u e , n o ja rg ã o , se re fe re m
e a o s e x e c u to re s d a p e n a , o u se ja , d o s c a rra sc o s,
aos II T am bém E la m -L in d s
, m a is fe ro z e s e n c a rc e ra d o s
fe c h o u -se n a c e la c o m
e q u e lh e h a v ia p ro m e tid o
um dos
m a tá -
lo e m a n d o u -lh e fa z e r a b a rb a . D e sp e d iu -o a p ó s, d iz e n d o :
e d o s re la to s q u e fa z e m n o s c á rc e re s e m q u e o e n fo rc a m e n to •I
i "S a b ia q u e su a in te n ç ã o e ra m a ta r-m e , m a s e u o d e sp re z o
é o te m a p rin c ip a l. E ste é u m d o s m a is p o te n te s a rg u m e n to s ! d e m a is p a ra a c re d ita r q u e v o c ê se ja c a p a z d e ta n to . S ó e se m
p a ra a a b o liç ã o d a s p e n a s d e m o rte . A p e n a c a p ita l c e rta - !
a rm a s e u so u m a is fo rte d o q u e v o c ê s to d o s ju n to s".
m e n te d issu a d e d o c rim e u m n ú m e ro b e m e sc a sso d e fa c ín o - I
O m e sm o E la m , q u a n d o u m a re v o lta se m a n ife sta v a
ra s. T a lv e z se ja m e n o r d e o u tra s
im ita ç ã o
c a u sa s q u e o s in d u z e m ,
q u e d o m in a p e sso a s v u lg a re s e a o tip o d e h o rre n d o
p re stíg io c ria d o e m to rn o d a "v ítim a d a ju stiç a ", a o a p a re lh o
a
I e n tre o s se u s d e te n to s, a c a lm o u -a
d e le s. E m S in g -S in g , 9 0 0 d e te n to s
c o lo c a n d o -se
tra b a lh a v a m
n o m e io
no cam po
É p ro v á v e l q u e o s a to s d e c o ra g e m d o s m a lfe ito re s
E m 167 condenados à p e n a c a p ita l n a In g la te rra ,
tin h a m a ssistid o à ú ltim a e x e c u ç ã o . E sta in se n sib ilid a d e
164
p e la s
I ja m só o e fe ito d a in se n sib ilid a d e e d a in fa n til im p e tu o sid a d e ,
se -
56
57
~~f;'
"".'I~',~-
)i~~:
•
4. C o n c lu s ã o
5. A D E M Ê N C IA M ORAL E O
D E L IT O ENTRE AS C R IA N Ç A S
E m s u m a , a a b e rra ç ã o d o s e n tim e n to é a n o ta c a ra c te -
rís tic a dos c rim in o s o s , com o d o s d e m e n te s , podendo um a
1 , C ó le r a - 2 . V in g a n ç a - 3 , C iú m e s - 4 . M e n tir a s
g ra n d e in te lig ê n c ia c o in c id ir com u m a te n d ê n c ia c rim in o s a
e d e m e n te , m as nunca com ín te g ro s e n tim e n to a fe tiv o . Is to
5 , S e n s o m o r a l- 6. A fe to - 7, C r u e ld a d e - 8, P r e g u iç a e ó c io
fo i o b s e rv a d o p o r P u g lia e d e p o is p o r P o le tti. Is to ta m b é m
9 , G ír ia - 1 0 . V a id a d e - 1 1 . A lc o o lis m o e jo g o
1 2 . T e n d ê n c ia s o b s c e n a s - 1 3 . I m ita ç ã o
fic a d e a c o rd o c o m o fa to d e q u e c e rta m e n te te rá s e n s ib iliz a d o
• os m eus le ito re s desde o s p rim e iro s c a p ítu lo s : q u e a s a lte ra -
1 4 . D e s e n v o lv im e n to d a d e m ê n c ia m o r a l.
ç õ e s d a te s ta p re d o m in a m m a is d o q u e a s d a s fa c e s , q u e a d a
cabeça e d o s o lh o s s o b re to d a s a s o u tra s .
1 . C ó le ra
A s a lte ra ç õ e s fa c ia is , e s p e c ia lm e n te a s o c u la re s , a o in -
v é s d o s e n tim e n to , q u e ta n to s ã o fre q ü e n te s e in s e p a rá v e is É u m fa to fu g id io ta lv e z a o s o b s e rv a d o re s , e x a ta m e n te p e la
no v e rd a d e iro c rim in o s o -n a to , e que tê m , d e o u tra p a rte , s u a s im p lic id a d e e fre q ü ê n c ia , e a p e n a s le v a n ta d o p o r M o re a u ,
um a base o rg â n ic a . T em c e rta m e n te um a conexão com a P e re z e B a in , q u e o s g e rm e n s d a d e m ê n c ia m o ra l e d a d e lin q ü ê n c ia
s e n s ib ilid a d e o b tu s a e n a q u e la re a ç ã o , o ra e x c e s s iv a o ra m u ito e n c o n tra m -s e , n ã o e x c e p c io n a lm e n te , m a s n o rm a lm e n te n a s p ri-
escassa. C o n s e g u im o s re c o lh e r p ro v a s e x p e rim e n ta is d is s o . m e ira s id a d e s d o s e r h u m a n o . N o fe to , e n c o n tra m -s e fre q ü e n te -
M as e s te a rg u m e n to é bem v ita l, ra z ã o p e la qual não nos m e n te c e rta s fo rm a s q u e n o a d u lto s ã o m o n s tru o s id a d e s . O m e-
s e n tim o s n o d e v e r d e re to rn a r m a is m in u c io s a m e n te n a s p ró - n in o re p re s e n ta ria com o um ser hum ano p riv a d o d e s e n s o m o ra l,
x im a s c o n s id e ra ç õ e s . e s te q u e s e d iz d o s rre n ó lo g o s u m d e m e n te m o ra l, p a ra n ó s , u m
d e lin q ü e n te -n a to . H á n is s o to d a a v io lê n c ia d a p a ix ã o .
P e re z d e m o n s tra a fre q ü ê n c ia e a p re c o c id a d e d a c ó le ra
n a s c ria n ç a s . N o s p rim e iro s .d o is m e s e s e le s m o s tra m com o
I
I ,
58
t ~ :.'i ~ 59
1i
I
"
i
",
m o v im e n to d a s s o b ra n c e lh a s , d a s m ã o s , v e rd a d e iro s acessos • Uma m e n in a , que e ra u m ta n to v io le n ta , to rn o u -s e
d e c ó le ra , q u a n d o n ã o q u e re m to m a r b a n h o , q u a n d o q u e re m •
)
b o a c o m 2 a n o s . V i o u tra , d e 1 1 m e s e s to rn a r-s e fu rio s a p o r-
pegar u m o b je to . A u m a n o d e id a d e a s u a c ó le ra le v a -o a
q u e n ã o c o n s e g u ia to rc e r o n a riz d o a v ô , e u m a o u tra de 2
b a te r n a s p e s s o a s , q u e b ra r p ra to s , jo g á -lo s c o n tra quem os
f
t,
a n o s p o rq u e v iu u m m e n in o c o m m a m a d e ira ig u a l à s u a ; p ro -
d e s a g ra d a , p re c is a m e n te com o o s s e lv a g e n s . É com o os i c u ro u m o rd ê -lo e to rn o u -s e d o e n te p o r trê s d ia s , O u tra d e 2
d a c o ta s , q u e e n tra m e m fu ro r q u a n d o m a ta m o s b is õ e s , c o m o
a n o s tin h a ta l a c e s s o d e ra iv a q u a n d o a c o lo c a v a m p a ra d o rm ir.
o s fid ja n e s q u e s e m o s tra m , nas em oções, m u ito e x c ita d o s ,
f Um m e n in o de 1 5 m e s e s m o rd ia a m ãe quando lh e
m as pouco te n a z e s (P e re z ).
i d a v a b a n h o . U m o u tro d e 3 a n o s , a fa s ta d o d a s a la d e ja n ta r,
A c ria n ç a s e e n ra iv e c e q u a n d o s o fre d o r o u q u a n d o te m
jo g o u -s e p o r te rra n o v ã o d a p o rta , d a n d o g rito s fe ro z e s . A
n e c e s s id a d e
h á b ito s ,
d e d o rm ir o u d e m o v e r-s e , q u a n d o
fa z e r c o m p re e n d e r
o u s e q u e re m
ra iv a o d o m in a q u a n d o
o u s e lh e in te rro m p e m
im p e d i-lo
não pode se
a lg u m de seus
d e c h o ra r, d e d e s a b a fa r. A
é o b rig a d o a fa z e r fe s ta p a ra o s e s tra -
I c ó le ra p o rta n to é u m s e n tim e n to e le m e n ta r no ser hum ano,
q u e d e v e s e r d irig id a , m a s n ã o s e d e v e e s p e ra r q u e s e ja e x tra íd a .
2 . V in g a n ç a
n h o s , o u v e m in te rro m p e r d u a s c ria n ç a s q u e s e b a te m . F re -
~
q ü e n te m e n te a c a u s a é , a b s u rd a : p o rq u e d o m in a n e le s , c o m o E s s e s c a s o s m o s tra m a , fre q ü ê n c ia e a p re c o c id a d e do
b e m d is s e P e re z , a o b s tin a ç ã o e a im p u ls iv id a d e , que bem se s e n s o d a v in g a n ç a n o s m e n in o s . P u d e v e r ta m b é m aos 7 ou
v ê e m q u e m s e la v a , s e d e s p e , o u v a i d o rm ir. E a c ó le ra e n tã o 1 8 m e s e s u m m e n in o a rra n h a r a a m a d e le ite q u a n d o p ro c u ra v a
to m a a e x p re s s ã o a g u d a d o c a p ric h o , d o c iú m e , d a v in g a n ç a , I re tira r a te ta . C o n h e c i u m m e n in o h id ro c e fá lic o , d e d e s e n v o l-
e p re ju d ic a o d e s e n v o lv im e n to d e le s , p rin c ip a lm e n te n o s p re -
! v im e n to e e n te n d im e n to ' ta rd io , q u e s e irrita v a à m a is le v e
d is p o s to s a d o e n ç a s c o n v u ls iv a s e a tin g e p ro p o rç õ e s e s p a n to s a s . a d v e rtê n c ia a té a id a d e d e 6 a n o s . S e p u d e s s e g o lp e a r a q u e le
C e rto s ra p a z e s , d is s e M o re a u e m 1 8 8 2 , n ã o p o d e m e s ta r q u e o tin h a irrita d o , te r-s e -ia tra n q ü iliz a d o ; s e n ã o c o n tin u a v a
u m s ó m o m e n to n a e x p e c ta tiv a d a s o rte p ro c u ra d a , sem en- a g rita r. M o rd ia a s m ã o s , a to q u e e u o v i re p e tir, q u a n d o não
tra r e m c ó le ra . E le c o n h e c e u u m m e n in o d e 8 a n o s , in te lig e n - p o d ia v in g a r-s e d a a m e a ç a fe ita a e le . À s v e z e s re a g ia m u ita s
tís s im o , q u e à m ín im a o b s e rv a ç ã o d o s p a is o u d e e s tra n h o s , h o ra s a p ó s a s ú b ita irrita ç ã o e s e m p re p ro c u ra v a g o lp e a r o u -
e n tra v a e m c ó le ra v io le n ta ,
q u e lh e c a ía à s m ã o s e q u a n d o
q u a n to s o b je to s p o d ia a p a n h a r.
N ã o s e p o d ia p õ r n o b e rç o
tra n s fo rm a n d o e m a rm a tu d o o
s e v ia im p o te n te ,
u m m e n in o
q u e b ra v a
de 4 m eses a
I tro s n o p o n to e m q u e fo ra a tin g id o o u a m e a ç a d o .
tís s im o , s o b re tu d o
s u p o s to ó d io . M e lh o ro u
s e a c re d ita s s e s e r p u n id o
a o s la a n o s . O u tro
s im o a o s 4 a n o s , a té b a te r n a m ã e e m p le n a ru a . A o s 1 1 a n o s
E ra v io le n -
o u s e r a lg o d e
q u e e ra fe ro c ís -
to rn o u -s e d ó c il e b o m .
n ã o s e r c o m a u x ílio d e o u tra s pessoas. A os 6 m eses a m ãe
te n to u c o lo c á -lo e n tre a lm o fa d a s n o p ró p rio le ito , m a s o fu ro r
t
re c o m e ç a v a quando ia p a ra o b e rç o . C o m 1 a n o e ra a le g re , I 3 . C iú m e s
1,<
m a s a in d a te n a z e m c e rto s h á b ito s , c o m o p o r e x e m p lo , ser .1 _ • •,.
~' •• i, É c o m u m a to d o s o s a n im a is e s e m o s tra ta m b é m n o s
c o lo c a d o n o le ito p e lo ~ s e u p a i. •• I' C~F~.-
1.
~ -~ i.~ _ ", s e re s h u m a n o s m a is c a lm o s . O ra e x p lo d e com o in c ê n d io ,
':,.t.,-
,.~
~...~.,';<
60 ~
-.f -t! ~ -; 61
..•.. .. ...•..
:.~:tJíi;!+.. ;.
- - ..
.Is_i".
""-
':~;'
~,
I
!j
"l'
i
11
não parecer que a m erecem . O utras vezes m entem por causa
ora am oita com o cinza. P ode ter com o excitante o am or, m as 1',
,
t,.;I'
da m erenda, fingindo não a ter com ido antes e sob a im pressão
tam bém a posse. É violento nos m eninos. P erez notou o ciúm e de um a forte dor após um a queda, ou para m ostrarem -se
1:11
i~
num que não só era cium ento de quem chegasse perto de sua f fortes, ou querendo im aginar-se não estarem na aviltante
I
am a-de-leite, m as tam bém um objeto, para não cedê-lo a outrem . posição em que estão. O u ainda por ciúm e (um a m enina,
_ F énélon escreveu: "N os m eninos o ciúm e é m ais vio- vendo a m ãe acariciar seu irm ãozinho, inventou que foi agre-
. lento do que se im agina e há m uitos que em agrecem insensi- dida por ele); ou por preguiça (por exem plo, não querendo
I
velm ente ao sentir-se m enos acariciados do que outros. T ie- fazer algum a coisa dizem estarem doentes). E u m e recordo
dem ann, em um m enino de 22 m eses observou que queria ter, com tal pretexto, evitado por m eses um a enfadonha lição
ser louvado quando fosse louvada sua irm ã, e batia nela se de aritm ética; tinha 5 ou 6 anos, enganando até os m édicos.
não lhe cedia de súbito o que ela ganhava. U m garoto de 3 D epois dos 3 ou 4 anos, eles m entem por m edo de serem
anos, que falava com grande prazer da futura irm ã, quando punidos e a isso são levados da m aneira com que são interro-
a viu nascer e ser acariciada logo perguntou se ela devia gados e pressionados para darem a resposta. F reqüentem ente
.•... m orrer logo. m entem para satisfazer a vaidade. H á m eninos que por vai-
1.-
~ V i esse sentim ento desenvolvido no prim eiro m ês, nos dade se dão prêm ios im aginários. U m a m enina se dava ao
E
{
prim eiros dias do nascim ento em um a m enina que não to- gosto de narrar a si m esm a fábulas em que se tornava rainha
m ava m ais o leite quando via sugado o outro seio pela irm ã I e ficava absorta com elas todo o dia.
~~:---
~ gêm ea, razão porque era separada im ediatam ente. C om 4 U m a das razões das freqüentes m entiras deles é a im -
anos, ela não com ia m ais se via pela janela um a m enina vesti-
~ pulsividade e o senso m enos com pleto, m enos profundo do
"'<l'. da com o ela. C om 14-15 anos, depois de um grave tifo, com e- verdadeiro, que custa m enos para eles do que para os outros
çou a tornar-se boa; era porém m uito tarde. A os 25 anos, em dissim ulá-los, m udá-los diante de um objetivo, m esm o
m ais hipócrita que boa, com crânio hidrocéfalo e hiperestesia leve de atingir, exatam ente com o nos selvagens e delinqüen-
histérica. V albust fala de um m enino de 6 anos, cium ento de tes. P or isso, vê-se aplicar a dissim ulação, da qual acreditam os
seu irm ãozinho, que apresentava freqüentem ente aos próprios que sejam incapazes pessoas m ais m aduras. C onheci um a
pais a faca para que o m atassem . m enina que, com 4 anos, roubava o açúcar com tanta destreza
que não se deixava surpreender, e depois fazia crer que a
-
cesso escandaloso; alguns dias depois ela inventou que
los, etc. E les m entem p;lra conseguir aquilo que lhes foi proi- ('I.
Ii
a b a n d o n o n u m q u a rto e s c u ro , n ã o s e a d a p ta v a , ju lg a v a -s e
s o b re a m e n tira e n tre o s m e n in o s , c o n ta -n o s q u e u m m e n in o in ju s tiç a d o e g rita v a .
in v e n to u te r u m c o rp o e s tra n h o n o o u v id o e g rita v a d e d o r,
A d o r p e lo c a s tig o , p o rta n to , n o s m e n in o s , v a ria s e g u n -
p a ra c h a m a r a a te n ç ã o s o b re s i. O u tro , com o m esm o fim ,
I
d o a s p e s s o a s q u e o a p lic a m . A id é ia d e ju s tiç a , d e p ro p rie -
s im u lo u um a doença c o m p lic a d a . D o is m e n in o s de 5 ou 6
d a d e , v e m a o m e n in o a p ó s h a v e r p ro v a d o a dor de ser desa-
a n o s , n a m e s a , e s ta b e le c e ra m a c o rd o e n tre e le s d e e s c o n d e r
p ro p ria d o e te r o u v id o d iz e r q u e is to é m a u . O d e ia g e ra lm e n te
I
da m ãe um pequeno c rim e d e u m d e le s (d e te r d e rru b a d o
a in ju s tiç a , p rin c ip a lm e n te quando e le p ró p rio a s e n te . P a ra
v in h o n a to a lh a ), e c o m is s o im p e d i-lo d e ir a o te a tro , que
e le , e la c o n s is te e m u m d e s a c o rd o e n tre o m o d o h a b itu a l d e
fo ra p ro m e tid o s ó a e le . tra ta m e n to e o a c id e n ta l.
U m a m e n in a d e a p e n a s 3 a n o s , c u ja m ã e p ro ib iu de
E m c irc u n s tâ n c ia s n o v a s e s tá e m p le n a in c e rte z a . U m
e s m o la r c o m id a d is s e a u m a s e n h o ra : " S e m e d e s s e n e g a rá à
m e n in o le v a d o d e s u a c a s a a P e re z m o d ific o u s e u s h á b ito s
..m ã e h a v e r a c e ita d o " ..É a m b ic io s a , e , d e s e ja n d o ser bem ves- t
JI
s e g u n d o a n o v a s itu a ç ã o : com eçou a d irig ir a fú ria d o s g rito s
tid a , d is s e à m ã e : ''A q u e la s e n h o ra m e re p re e n d e u por ser
e s ó o b e d e c ia a e s s a fú ria . O s e n s o m o ra l é , p o rta n to , um a
in d e c e n te " . E n tre ta n to n ã o e ra v e rd a d e . Q uando fo i re p re -
d a s fa c u ld a d e s m a is s u s c e tív e is d e s e r m o d ific a d a p e lo a m -
e n d id a por essa nova m e n tira negou v e e m e n te m e n te . E la
í b ie n te m o ra l. A noção d o b e m o u d o m a l q u e é o g e rm e
m e s m a u m d ia n e g o u
E s te c a s o é fre q ü e n te
te r a lm o ç a d o
n o s m e n in o s .
p a ra te r n o v o a lm o ç o .
i in te le c tu a l d e la n ã o s e c o n s ta ta a n te s dos 6 aos 7 m eses.
I
;
P e re z v iu u m m e n in o d e 7 m e s e s , c u ja m ã e tin h a
q u e e ra e rra d o g rita r q u a n to
e n s in a d o
to rn a v a b a n h o . A o re v é s , q u a n to
5 . S e n s o m o ra l , m a is g rita v a m a is s e irrita v a , o b s tin a v a e c h o ra v a .
O p rim e iro a c e n o d o s e n s o m o ra l é q u a n d o c o m p re e n -
O s e n s o m o ra l fa lta c e rta m e n te n o s m e n in o s n o s p ri-
d e m c e rta s a titu d e s e c e rta s e n to n a ç õ e s q u e te n h a m o b je tiv o
m e iro s m e s e s e a té n o p rim e iro a n o d e v id a . P o r is s o , o b e m
re p re s s iv o , q u a n d o com eçam a obedecer por m edo ou por
e o m a l é o q u e fo r p e rm itid o o u p ro ib id o p e lo p a i o u p e la
h á b ito . O in te re s s e , o a m o r p ró p rio , a p a ix ã o , o d e s e n v o lv i-
m ã e , m a s , a lg u m a v e z , s e n te m por si quando u m a c o is a s e ja
m e n to d a in te lig ê n c ia e d a re fle x ã o d e te rm in a m a e x te n s ã o
m á . D is s e u m m e n in o a P e re z : "É v il m e n tir e desobedecer
d o b e m e d o m a l e m a is , ta lv e z , a s im p a tia , a fo rç a d o e x e m p lo ,
- is to d e s a g ra d a à m am ãe". D iz ia u m g a ro to : " Q u a n d o cho-
o m e d o d a re p re e n s ã o ; d e to d o s e s s e s e le m e n to s s e fo tm a a
ro , m a m ã e m e p õ e a d o rm ir e e n tã o m e d á u m a a lm o fa d a " .
c o n s c iê n c ia m o ra l. O m e s m o p o d e s e r m a is o u m e n o s e n c a m i-
A s s im fa z e m p e la s a ç õ e s m o ra is o u e n c o n tra m a quem os
n h a d o s e g u n d o a s a titu d e s d o c a rá te r e d o s a c id e n te s do m o-
lo u v e . U m m e n in o d e 2 a 5 a n o s a c re d ita v a te r fe ito b e m .
m e n to . A filh a d e L u ig i F e rri d is s e -lh e u m d ia : " S in to q u e
D iz ia : " O m u n d o d ir8 .: é u m b o m ra p a z " (P e re z ). U m a v e z
h o je n ã o p o s s o s e r b o a " .
64
65
;:r-
:'t,
6. A feto
t G eralm ente ele prefere o m al ao bem ; é m ais cruel que
É escassa neles a afeição. Provam sim patias sobretudo tf bom , porque experim enta assim m aior em oção e pode provar
I'('~'~
66 4 ;~ ;
67
:';~--4: ...
,
1--
•
O s m e n in o s se fa z e m p e tu la n te s d e sd e 7 e 8 m e se s,
,
1 ~;,
".:
c o n tin u a m e n te d e p o sto , d e te r n o v a s d o id ic e s, e n c o n tra r-
se ju n to a m u ito s c o m p a n h e iro s, m a lg ra d o se ja m p o u c o a fe i- d ã o -se b o ta s e c h a p é u s e lu ta m p o r n ã o q u e re r p e rd ê -lo s. V i
ç o a d o s u m c o m o o u tro , fa z e n d o o rg ia s, d e v o z e s e m o v im e n - c a so s p a re c id o s d e m e n in o s q u e se re v e la ra m d e p o is d e p o u c o
t, engenho e pouca p re c o c id a d e , a 9 ou la m e se s c h o ra re m
to , p rin c ip a lm e n te c o m o fo i n o ta d o d o s m e te o ro ló g ic o s, o
d ia p rim e iro d o s te m p o ra is, e n ã o ra ra s v e z e s n a s c o sta s d o s p a ra q u e fo sse m v e stid o s c o m d e te rm in a d a ro u p a v isto sa .
v e lh o s, d o s c re tin o s e d o s c o m p a n h e iro s m a is d é b e is. U m , d e 2 2 m e se s q u e ria ro u p a a z u l, u m o u tro d iz ia se m p re
Isto , c o m o n o s d e lin q ü e n te s,
g u iç a . E le s se to rn a m
n ã o c o n tra sta c o m a p re -
a tiv o s d ia n te d e u m p ra z e r fá c il d e c o n -
1 q u e q u e ria ro u p a d e c a sa m e n to .
F a z e m -se o rg u lh o so s d o p a i p ro fe sso r, c o n d e , e m p re sá rio ,
se g u ir e m u m d a d o m o m e n to . A m am a s in o v a ç õ e s quando e tc . H á a lg u n s q u e , m e sm o se n d o re strito s, re v e la m p a ra a s a m ig a s
e sta s n ã o sa c rifiq u e m o s m io lo s e q u a n d o sa tisfa z e m o p ra z e r e m p ro p o rç ã o re le v a n te , p a ra se p a ssa r p o r ric o s. O s m e n in o s
d o m ú tu o c o n ta to q u e n ã o te m re la ç ã o d ire ta c o m a in te n - m a is ig n o ra n te s n ã o a d m ite m ja m a is se re m re p re e n d id o s, g e ra l-
sid a d e d o a fe to e q u e e x a ta m e n te a ssim se o b se rv a n o s c rim in o so s. \ m e n te p e lo s m e stre s, p e la in c a p a c id a d e . E x p lic a m a s re p re e n -
sõ e s c o m fa lsa s ra z õ e s, se m p re e stra n h a s a o s p ró p rio s e rro s.
I
ç õ e s .. O b se rv o u P e re z u m m e n in o q u e n o b a la n ç o g rita v a :
"'-..
E sse h á b ito te m a té in tro d u z id o e n tre e le s u m a e sp é - " O h ! V e ja m c o m o m e b a la n ç o b e m ! C o m o v o u fa c ilm e n te ;
c ie d e g íria , c o m o s sin a is d e m ã o s d ife re n te s p a ra su b tra ir-se n in g u é m p o d e fa z e r c o m o e u !" . T o d a v ia , o s se u s c o m p a n h e i-
à p re ssã o d o s su p e rio re s, q u e n o te i e m u so n o s m u ito s c o lé g io s ro s ta m b é m fa z ia m . E is a í u m a ilu sã o tra z id a p e lo a m o r-p ró p rio .
e e sc o la s p ú b lic a s, e n tre m e n in o s d e 7 a 1 2 a n o s. A p e rso n a lid a d e n o g a ro to v a i a té o e g o ísm o , à p re -
1 0 . V a id a d e
I su n ç ã o , a té o p e d a n tism o , e fre q ü e n te m e n te c o m te n d ê n c ia
à sim p a tia , à te rn u ra e à c re d u lid a d e o q u e c o n trib u i a o d e se n -
T a m b é m e ste fu n d a m e n to d a m e g a lo m a n ia e d a c rim i-
I
I
v o lv im e n to d o se n so m o ra l. A id é ia d a p e rso n a lid a d e
e sb o ç a d a n o p rim e iro a n o , c o m o n a s fe ra s. E n tre
é apenas
os 2 e 4
n a lid a d e n a ta , q u e é a v a rie d a d e e x c e ssiv a , a p re o c u p a ç ã o a n o s, o se n tim e n to p e sso a l a firm a -se a té o e x a g e ro . Um
d e si m e sm o , é e n o rm e
q u e o s p rin c íp io s
n o s m e n in o s.
d e ig u a ld a d e
E m d u a s fa m ília s, e m
sã o in a to s n o s g e n ito re s, os 1 g a ro to d e 2 6 m e se s g rita v a p o r q u a lq u e r a rra n h ã o . T om ado
I!
d e a m o r-p ró p rio , m o d ific o u -se , e m e sm o g o lp e a d o , n ã o se
filh o s a in d a a o s 3 a n o s re v e la v a m a s p re te n sõ e s, d ife re n ç a s q u e ix a v a e le v a v a tu d o p e lo la d o c ô m ic o . U m d ia n ã o q u is
d e c la sse s so c ia is, e tra ta v a m c o m a rro g â n c ia o s p o b re s. a p re n d e r a le r d ia n te d e u m a g a ro ta d iz e n d o : " E la ri d e m im !"
U m a m e n in a m u ito ta c itu rn a , d e m e d ío c re d e se n v o lv i-
m e n to in te le c tu a l, educada p o r m ã e b o n íssim a , c h e ia de t 11. A lc o o lism o e jo g o
id é ia s n o b re s, b rin c a n d o c o m a filh a d a se rv e n te , im p u n h a -
;{
lh e p re te n so s se rv iç o s e a re p re e n d ia . H á n e ssa a titu d e um Q uem v iv e n a a lta so c ie d a d e n ã o te m id é ia d a p a ix ã o
p o u c o d e im ita ç ã o , m a s a in d a m u ita id é ia d e g ra n d e z a . ~~Q~'~'::.i.
~
".; :.' :.~
q u e tê m a s c ria n ç a s p e lo á lc o o l, m a s n a b a ix a so c ie d a d e é
:' -.~f" ~
"',
'" '::' t'F,:~:
~:.:.. 69
68 '!*J~?,::+:'~
*!i ttil(::';;-.t-~,
~ - .< ,~ l;.,_
rr
I
I
m uito óbvio observar até os lactentes tom arem vinho e licor Por pouco, disse M arc, um m eu am igo de infância não
com vontade toda especial e os genitores se divertirem em sucum biu ao jogo do enforcado. Tendo assistido na cidade
vê-los cair na em briagues (M oreau). M uitas vezes os presidiá-
i de M etz a um a execução, ele e outros com panheiros pensa-
.rios m e contaram que se em briagavam desde a infância e ram em im itá-lo. Ele foi escolhido com o paciente, outro com o
diante dos genitores. A paixão pelo jogo é um a nota caracte-
I
confessor e um outro com o o carrasco. Prenderam -no no
.' rística da vida infantil. balaústre de um a escada e, com o foram perturbados no jogo
deles, fug(ram , esquecendo o pobre garoto, que teria m orrido
12. Tendências obscenas se alguém 'que chegou a tem po não o soltasse e o reanim asse.
O s m eninos têm em com um com os selvagens e os
N em quando lim itado pelo desenvolvim ento incom -
delinqüentes a m esm a previdência: um futuro que não seja
pleto faltam as tendências obscenas desde a prim eira idade,
de 3 a 4 anos. Em todos os asilos foram apresentados um ou
I im ediato ou não pareça assim , não tem qualquer influência
I
;t;-
sobre a im aginação deles. Ter um prazo após oito dias ou
'. dois m eninos dedicados ao onanism o. Todos os am ores anô- após um ano é igual para eles.
•
m alos e m onstruosos, com o quase todas as tendências crim i- !
lf'>
''j-''
5.:.;,
~}
~,
nosas, têm princípio na prim eira idade .
II 14. D esenvolvim ento da dem ência m oral
70 71
•
72 I 73
~
~.
w-
4 . U m b a n d id o e sc o c ê s, c o n d e n a d o p o r a n tro p o fa g ia ,
U v iv o s, a o s 8 a n o s c o m e ç o u a ro u b a r. N e to d e u m a ssa ssin o ,
d e ix o u u m a m e n in a q u e a o s 1 2 a n o s e ra u m a fe ro z a n tro p ó - ~ g a b a v a d e tê -lo se g u id o n o s g o lp e s d e le e te r o rg a n iz a d o b a n d o
:...
fa g a . P e rg u n to u e la : "E p o r q u e te r d e sg o sto ? S e to d o s so u - J: d e la d rõ e s d a s e sm o la s d a s ig re ja s, e te r ro u b a d o a m iú d e a
b e sse m c o m o é b o a a c a rn e h u m a n a ,
filh o s" (M o re a u ).
to d o s c o m e ria m o s se u s
~i
~t
p a rte q u e p e rte n c ia a se u s c ú m p lic e s m e n o re s, o que deu
./ c a u sa a e le s p a ra q u e o d e n u n c ia sse m .
bundo,
5 . A .M ., d e 1 1 a n o s, d e tid o p e la o ita v a v e z c o m o v a g a -
d e c la ro u q u e e ra b e m n u trid o
m a s q u e se n te n e c e ssid a d e
se m p re d a m ã e se fo r e n c a m in h a d o
e c u id a d o p e lo s p a is,
d e se r liv re e q lle e le se lib e rta rá
a e la . E stá n o se u sa n g u e ;
I
I
9.
~i
L B ., de G ênova, c râ n io a m p lo , fro n te e stre ita , ta -
tu a d o n o b ra ç o c o m a fra se : "M o rte a o s v is, e v iv a a a lia n ç a "
(ro u b o u d e sd e o s 8 a n o s). G a tu n o , te m se te irm ã o s, d o s q u a is
trê s e stã o p re so s.
p re fe ria fic a r n a c a sa d e c o rre ç ã o q u e fic a r n a p ró p ria c a sa .
I I
1 0 . U m c e rto G., d e fa m ília h o n e sta , com 7 anos co-
6 . E m L a g n y , d o is m e n in o s,
1 0 , te n d o m o tiv o d e ra n c o r c o n tra
u m d e 1 3 a n o s, o u tro
u m se u c o m p a n h e iro
de
de
t m e ç o u a ro u b a r n a e sc o la , e sp o lia n d o a té o s p ro fe sso re s. T e v e
.~ 7 a n o s, c o n v id a ra m -n o a n a d a r n a m a rg e m d o M a rn e , em
~ u m a irm ã su sp e ita d e fu rto e litig io sa . C h e g o u a sim u la r p e -
.~ .:
",',
.\ ra n te a ju stiç a m a u tra ta m e n to , p a ra fa z e r e n c a rc e ra r se u s p a is .
::.,.. lu g a r a fa sta d o . Jo g a ra m -n o e m lu g a r p ro fu n d o e a g o lp e s d e
~;
p é e d e p e d ra re p e lira m
g u in te ,
a te n ta tiv a d e sa lv á -lo . N o d ia se -
u m d e le s, o m e n o r, c o n fe sso u a v e rd a d e (M o re a u ).
I
I 1 1 . U m m e n in o , L .P ., a o s 1 9 a n o s se m o stro u e ste lio -
J. I n a tá rio h a b ilíssim o , la d rã o c o m te n ta tiv a d e h o m ic íd io , p e r-
fe ita a p a tia m o ra l, e sta tu ra a lta , te sta p e q u e n a a lo n g a d a , se m
7 . A o s 1 3 a n o s, B .A ., b ra q u ic é fa lo , ín d ic e 8 7 , o x c é fa lo , í• b a rb a , n a riz d e sp ro p o rc io n a l e re c u rv o . F ilh o d e a lc o ó la tra e
c o m o lh o s o b líq u o s, z ig o m a s sa lie n te s, m a n d íb u la s v o lu m o sa s,
! m ã e la sc iv a , c o m a v ô m a te rn o su ic id a . C o m a id a d e d e 3
o re lh a s d e a sa , c o m p a p o , fe riu m o rta lm e n te c o m u m fa c ã o I a n o s, a n d a n d o c o m se rv e n te s n o m e rc a d o , c o m e ç o u a ro u b a r
n o c o ra ç ã o u m c o m p a n h e iro q u e lh e n e g o u d in h e iro v e n c id o c e sta s d e d in h e iro , p e ix e s, fru ta s, e se g u iu ro u b a n d o e m c a sa ,
n o jo g o . C o m 1 2 a n o s já e ra e n c o n tra d o n o s p ro stíb u lo s. d e p o is n a e sc o la .
I
S e is v e z e s fo i c o n d e n a d o p o r fu rto . T in h a u m irm ã o la d rã o ,
u m a irm ã m e re triz e a m ã e c rim in o sa . E ra re lig io so , p o is fre -
1 2 . O b a n d id o a n tro p ó fa g o F . S a lv a to re , d e C a tâ n ia ,
q ü e n ta v a a o m e n o s a s ig re ja s, m a s n u n c a d isse a o c o n fe sso r
q u e , p o r trê s v e z e s, sim u lo u d e m ê n c ia , m e d e ix o u e m le m -
o s d e lito s c o m e tid o s.
! b ra n ç a e sc rita c o m o já n o s 6 a n o s ro u b a sse d o s p a is a s re fe i-
[ ç õ e s, p a ra d a r a o s c o m p a n h e iro s. M a is ta rd e , a o s 9 a n o s,
8 . M a in e ro , u m m e n in o d e fisio n o m ia p re c o c e e d e se n - ro u b a v a d o re sta u ra n te p e ç a s in te ira s d e q u e ijo . E m u m a lid e
v o lv im e n to e sc a sso , u m a v e z q u e a o s 1 2 a n o s a p a re n ta v a 6;
i; .. p o r jo g o c o m u m a m ig o , a rra n c o u -lh e u m p e d a ç o d a o re lh a ,
'[
f ~.
a ltu ra
74
d e 1 ,2 4 m , o re lh a s d e a sa , z ig o m a s sa lie n te s, o lh o s
~~.""~.
1._~~~i.'
";li c,' ;".t~
m a lg ra d o o p a i fo sse h o n e stíssim o e o c a stig a v a p o r sa n ta s
75
~ - ---_ ._ - - - - '" '- - - ~ - - - ~ - - - _
'r
'J
I
r a z õ e s p a r a c o r r ig i- lo . A o s 1 4 a n o s f e r iu c o m u m f a c ã o g r a v e -
iI
V á r ia s v e z e s , te n to u s u ic id a r - s e d e v á r ia s m a n e ir a s . T i-
m e n te u m c o m p a n h e ir o d e jo g o . C o m f a ls a c h a v e ro u b o u o n h a e s tr a n h a s p r á tic a s r e lig io s a s ; q u a n d o ia p a s s e a r , à s v e z e s
d in h e ir o d o p a i. A o s 1 9 a n o s m a to u um hom em . c a ia d e jo e lh o s . N ã o q u e r ia c o m e r g o r d u r a s e m d ia s d e v ig ília ,
1 3 . D e u m a m ã e h is té r ic a d e g r a n d e ta le n to e p a i ta m -
I a p e s a r d a s c o n c e s s õ e s e c le s iá s tic a s . Q u a n d o
à m is s a f o r a d a s f e s ta s r e c a lc itr a v a , a p e la n d o
q u e r ia m le v á - lo
a té a o s in s u lto s .
b é m ta le n to s o
u m c a p a c ita d o ,
m a s b iz a r r o e a b u s a d o r
o u tr o a lie n a d o ,
d o tr a b a lh o ,
d e r iv a r a m q u a tr o
d o is tio s ,
f ilh o s : u m I C o m e tid o p o r é m o a to a n te s n a r r a d o , e m b o r a n ã o m o s -
tr a s s e a r r e p e n d im e n to e d is s e s s e q u e e s ta v a p r o n to a c o m e te r
h o n e s tís s im o ,
m ic íd io c o m e tid o
m e r c a n tis ,
m e n in o
u m e x c e s s iv a m e n te
d e s d e jo v e m
r a q u ític o
la s c iv o , s u ic id a a p ó s o h o -
p o r p a ix ã o ; u m b r a v ís s im o n a s n e g o c ia ç õ e s
a v e s s o a q u a lq u e r
c o m f r o n te e s tr e ita ,
e s tu d o ; u m o u tr o
f o i la d r ã o tã o te n a z a
I o u tr a
a lf a b e to
v e z o d e lito ,
e n c o n tr o u m odo
s u p o r to u
d e c o m u n ic a r
c u ja s le tr a s e r a m
p á lid a , e r a s u je ito a f r e q ü e n te s
c a lm a m e n te
r e p r e s e n ta d a s
c o n v u ls õ e s
a p r is ã o .
a o c o m p a n h e ir o
P o ré m ,
com
p o r g o lp e s . D e c o r
n o s m ú s c u lo s d a s
um
p o n to d e r o u b a r a té o r e ló g io e o s o b je to s q u e e n c o n tr a v a na f a c e s , d o s d e d o s e d o tr o n c o . D e c a b e lo s lo ir o s , o r e lh a s d e a s a .
c a s a d o s p a is . A o s 1 6 a n o s s e f e z h o n e s to , ta lv e z p e lo g r a n d e 1
c u id a d o d a m ã e . T o rn o u -se h a b ilís s im o n a s n e g o c ia ç õ e s . ! 1 5 . B .R ., d e 7 a n o s e m e io , m o r e n a , in d o le n te , e s tr á -
. b ic a , m a c r o c é f a la , d e m ã e d e s o r g a n iz a d a e p o u c o b e n é v o la à
-i
1 4 . E n tr e d o is m e n in o s c e g o s e n c o n tr a d o s e m u m in s ti- f ilh a e n a d a a f e iç o a d a a o m a r id o d o e n tio , pegava em casa
tu to p r iv a d o o c u lta v a r e c íp r o c o m a l- e s ta r . U m a ta r d e , p a s s a n -
d o a c o n v e rsa r, c h e g a ra m à s v ia s d e f a to . O m a is d é b il, p o r é m
I la r a n ja s e c o n f e ito s q u e v e n d ia p o r d in h e ir o . C o m p r a v a
q u e d o s c o m d in h e ir o ro u b a d o da casa da m ãe. D eu um a vez
b r in -
a s s o c ia d o a o u tr o c o m p a n h e ir o q u e a n te s h a v ia p r e v e n id o , !
f
d u a s lir a s , o u tr a v e z 5 0 c e n ta v o s , a u m a c o m p a n h e ir a p a ra
d o m in o u s e u a d v e r s á r io : e n q u a n to u m o se g u ra v a p e la s p e r - te r u r n a m e d a lh a . T ir o u d a ir m ã u m a m o e d a d e o u r o d e v in te
n a s , e le o e s g a n a v a , ta n to q u e o te r ia m a ta d o s e o b a r u lh o - lir a s e m o s tr o u - a à c o m p a n h e ir a d iz e n d o tê - la g a n h o d e p r e -
1
não tiv e s s e f e ito a c o r r e r o u tr a s p e s s o a s . E s te é d e 1 2 a n o s , s e n te ; d e p o is - r e c o lo c o u - a n o lu g a r , c o m m e d o d e s e r d e s c o -
~
f ilh o d e u m c id a d ã o h o n e s to , e m b o r a ig n o r a n te . D e sc u ra d o b e r ta . Q u a n d o s o u b e q u e s e r ia in te r r o g a d a a d v e r tiu a c o m p a -
.!
na sua educação, f o i a b r ig a d o c o m 8 a n o s e d e m o n s tr o u m e- 1 n h e ir a p a r a q u e d is s e s s e a h is tó r ia a o s e u m o d o e in v e n to u
l u m a f á b u la .
i,~
m ó r ia e x tr a o r d in á r ia , a ta l p o n to d e r e c o r d a r - s e d e u m a lis ta
d e n o m e s n a o rd e m e m q u e f o r a m p r o n u n c ia d o s .
76 77
r
!
,
{
p o n to d e c o n d u z i-lo
E le já a p re s e n ta v a
a o e s tu p ro quando v ia ro u p a s ín tim a s .
e s s e e s tra n h o s in to m a n a p rim e ira in fâ n c ia ,
•, a q u e le e não o u tro s . P o d e ria
c o is a s , m a s s ó p e g a ria a v e n ta is .
te r à d is p o s iç ã o
P o r q u a tro
m ilh a re s
v e z e s fo i c o n d e -
de
.i
p ro v o c a v a -lh e p ra z e r c o m o s e fo s s e o c o n ta to c o m o u tra m u -
t 1 8 . S in g u la r fo i o c a s o d e M .X ., d e 1 4 a n o s , q u e te m
lh e r. F o i e s ta a c a u s a d e o u tro s e s tu p ro s e d a n e c e s s id a d e
c o n tín u a d e c o ito e p a ra s a tis fa z ê -lo te rm in o u c o m o la d rã o . I fim o s e e p re p ú c io m a is lo n g o q u e a g la n d e , n a s c id o d e g e n i-
I
to re s n e u ró tic o s , q u a s e d e m e n te s . D e in te lig ê n c ia p re c o c e
E le fo i a tin g id o , quando c ria n ç a , na cabeça por um d e s d e c ria n ç a . J á lia c o m 3 a n o s , m a s d é b il d e fo rç a , d e 6 a
fo rte tra u m a e s o fre u lo n g a m e n te c o m e le , e c o m o d e h á b ito , 8 a n o s e ra d o ta d o d o h á b ito in s tin riv o e s tra n h o , d e o lh a r
d e s c e n d ia d e n e u ro p á tic o s ; a m ã e s o fria d e e m e c ra n ia , a irm ã o s p é s d a s m u lh e re s , p a ra v e rific a r s e n ã o h a v ia p re g o n o
e ra h is té ric a , o a v ô m o rre u d e q u e d a d e â n im o e m s e g u id a a s a p a to d e la s , e a v is ta d a q u e le s p re g o s o e n c h ia d e e x tra o r-
'. u m d e s a s tre fin a n c e iro , a a v ó m o rre u e n v e n e n a d a , u m p rim o d in á rio p ra z e r.
é s e m i-im b e c il, u m irm ã o b a lb u c ia n re .
A p o s s a v a -s e d o s c a lç a d o s d e d u a s d e s u a s p rim a s p a ra
~f.\ N ã o s e p o d e a c re d ita r, a p rin c íp io , d a v e ra c id a d e das c o n tá -la s e re c o n tá -la s . À n o ite , n a c a m a , p e n s a v a n o s a p a te i-
.~~
':'~. s u a s c o n fis s õ e s , p o r s e tra ta r d e u m c rim in o s o q u e p o d e te r ro q u e o s fa z ia e n a to rtu ra d e u m a g a ro ta e m q u e o s p re g o s
~ir" s e u s in te re s s e s e m u m a s im u la ç ã o , quando m e vi em duas e n tra v a m n o p é , c o m o n o s c a v a lo s , e , a o m e s m o te m p o , s e
:~.. ~ : h is tó ria s d e M a g n a n e C h a rc o t,
c o m a m in h a in te rp re ta ç ã o ,
q u e o fe re c e m
p ro v a v e lm e n te
ta n ta a n a lo g ia
n ã o tã o s e g u ra s .
m a s tu rb a v a . F o i e n tã o e s te o p o n to d e p a rtid a q u a s e p re d o m i-
~; n a n te , s e b e m q u e p re fe ria a v is ta d o s s a p a to s d e m u lh e re s à s
'tt
"t? re la ç õ e s s e x u a is . F o i p re s o e n q u a n to s e m a s tu rb a v a e m fre n te
1 7 . O u v i fa la r d e u m c a m p o n ê s de 37 anos, com pai a u m a s a p a ta ria .
a lc o ó la tra , tio a lie n a d o , m ã e e irm ã n e rv o s a s e m e la n c ó lic a s ,
F a z a ju s ta r a im a g in a ç ã o à v e rd a d e desses a m o re s
u m irm ã o d e m e n te , e le m e s m o c o m p ro b le m a s c e fá lic o s . A o s
p a ra d o x a is , a a n a lo g ia c o m o u tro s d e s c rito s p o r m im n o s
1 5 a n o s , v e n d o s e c a r a o s o l, u m a v e n ta l b ra n c o , a p o s s o u -s e
a lie n a d o s , e , o q u e é p rin c ip a l, a a n a lo g ia re c íp ro c a . Todos
d e le , e n ro lo u -o n o c o rp o e s e m a s tu rb o u . D e p o is d a q u e le
e s s e s a m o re s s e n o ta m e m n e u ro p á tic o s , e m u ito n o s c rim i-
d ia , n ã o p o d ia v e r a v e n ta is s e m u s á -lo s c o m o m e s m o o b je -
nosos, por a p ro x im a ç ã o , e s e m p re ou quase s e m p re ,
tiv o , jo g a n d o -o s fo ra a p ó s . Q u a n d o v ia a lg u m a p e s s o a c o m
m a s tu rb a d o re s . E m to d o s se vê, com o o c o rre n a s m a n ia s
a v e n ta l, n ã o s e e x c ita v a , m a s à v is ta d e s s a c e n a s e g u ia a trá s
im p u ls iv a s e n a s id é ia s s is te m a tiz a d a s , um a dada sensação
d e le p a ra d e rru b á -lo .
q u e o s a tin g iu n o m o m e n to d a in fâ n c ia , e n q u a n to nos de-
E m 1 8 6 1 o s p a is o p u s e ra m n a m a rin h a , e , d e fa to , n ã o m a is fa v o re c e a e re ç ã o c o m o d e s e jo s e c u n d á rio , por asso-
v e n d o a v e n ta is s e a c a lm o u . T o d a v ia , e m 1 8 6 4 , re to rn a n d o à c ia ç ã o de id é ia s que s u b s titu e m a id é ia -m ã e e pouco a
v 'id a a n tig a , re p e tia a e s tra n h a te n d ê n c ia e ro u b o u o u tra v e z pouco age com o c e rto s v íru s , não s ó fix a n d o , m a s in v a -
u m a v e n ta l. À n o ite , p e n s a n e le , a o d ia , im a g in a -o ta l c o m o d in d o o o rg a n is m o a té d o m in á -lo , a to rn a r-s e irre s is tív e l,
lh e a p a re c e u p e la p r~ ~ e ira v e z e s e s e n te le v a d o a ro u b a r im p e lin d o a té a a to s c rim in o s o s .
78 79
,[..,..,..
r '
~
t
19. Amor precoce - E to d o s esses am o res se fo rm aram I
~
2 2 . Z am b aco n o s d escrev e u m a m en in a d o m in ad a por
o u g erm in aram ao m en o s n a p rim eira in fân cia. O p rim eiro estran h a p aix ão o n an ística e crim in al. N .R ., d esd e a id ad e
J
d esd e 3 o u 4 an o s, sen d o a p reco cid ad e u m o u tro d e seu s d e 1 0 an o s, co m ar d e m atu rid ad e p reco ce n a fisio n o m ia e
1
caracteres. A in v ersão d o sen so g en ital fo i n o tad a q u ase sem - • n o trato , v aid o sa, o rg u lh o sa, p rep o ten te n o s jo g o s, fazia-se
p re p reco cem en te ao s 8 an o s, p o r ex em p lo ,
W etfalia. E is n o v o s ex em p lo s.
n o d o en te de
I
P .R . co m eço u a sen tir o im p u lso p ara d esfru tar a v ista
m en te, m as n eg av a o b stin ad am en te o s fu rto s.
d e h o m en s n u s, m o rm en te d e su a g en itália e d esd e en tão
ten tav a v estir-se d e m u lh er. D esd e essa h o ra m an ifesto u -se D e im ag in ação q u en te, am av a a b eleza, m as d esd e-
a ten d ên cia ao s fu rto s. U m d ia, p o r ex em p lo , ro u b o u um n h av a D eu s. C o m 8 an o s co m eço u a so frer d e leu co rréia
tin teiro d o p ro fesso r. N asceu d e u m p ai v elh o e tev e u m a (co rrim en to b ran co ), q u e se atrib u i ao o x iú ro , ju n to co m o
I
av ó ex cên trica. A d u lto , era b astard o , p ro g n ato , m as co m o re- em ag recim en to . N o to u -se d esd e en tão q u e p ro cu rav a iso lar-
lh as v o lu m o sas. se em u m a cab an a co m m en in o s p ara jo g ar, m as, em v ez d isso ,
m astu rb av a-se co m eles.
,
1-
E d ep o is: "S ei q u e é in co n v en ien te, m as n ão p o sso fazer d e
I
m en o s". À s v ezes se arrep en d ia, ch o rav a ao v er as lág rim as
2 1 . D e u m p ai co n v u lsio n ário , ep ilép tico , d e fam ília
d a m ãe, m as d ep o is era to m ad a d e n o v o s acesso s. E n q u an to
d e n eu ro p ático s, n asceu u m a sen h o ra p eq u en a, d o lico céfala,
u m p ad re a aco n selh av a, ela se m astu rb av a co m a so tain a.
in telig en te, m en stru ad a ao s 1 2 an o s. C o m 8 an o s, in stru íd a
p o r u m a co leg a, co m eço u a m astu rb ar-se
tam b ém ap ó s o m atrim ô n io p rin cip alm en te
e co n tin u o u assim
q u an d o g ráv id a.
T ev e d o ze filh o s, d o s q u ais cin co m o rto s p reco cem en te, q u a-
II' ' '
I
C h eg o u a q u eim ar o clitó ris, m as in u tilm en te.
e m eio . - .
~,,,
.' ~~,'" p ú b is, o q u e ag u ço u su a cu rio sid ad e. D aí p o r d ian te to cav a-
~~/ 81
80 '" .' o"':!"
-""'-'-,--
•••. - Oi.!'.
~
r,I
s e s e m p r a z e r m a s p o r p u r a c u r io s id a d e . D e p o is s e im a g in o u - A h! m am ãe, is to é p a r a m im d e e n o r m e d e sp ra z e r.
e s ta r d o e n te e , p o r d iv e r tim e n to a p lic o u c a ta p la s m a e e sfre - P o d e r e i à n o ite m a tá - la c o m u m f a c ã o ,"
gava com u m b a s tã o a s p a r te s pudendas. D e p o is , o s d e s e jo s
- " P o r q u e v o c ê n ã o f e z is s o q u a n d o e s ta v a d o e n te ? "
lh e v ie r a m e m h o r a s d e te r m in a d a s . C o rro m p e u a ir m ã q u e
- " M a m ã e , p o r q u e v o c ê e s ta v a c o n tin u a m e n te g u a r d a d a ,"
tin h a 4 a n o s e q u e n ã o s e n tiu p r a z e r a n ã o s e r q u a n d o a tin g iu
8 a n o s . D e p o is s e d e p r a v o u c o m m e n in o s . - " E p o r q u e n ã o o f e z d e p o is ? "
- " P o r q u e v o c ê tin h a o s o n o le v e e p e lo m e d o d e q u e
v o c ê m e v is s e p e g a r o f a c ã o " .
2 3 . E s q u ir o l e M a r c n a r r a m d o is c a s o s c u r io s o s e m q u e
ju n to c o m a s te n d ê n c ia s o b s c e n a s , e e m p a r te p o r c a u s a d e s ta s , - " M a s , s e v o c ê m e m a ta s s e , n ã o te r ia m in h a s c o is a s ,
m a n if e s ta v a m - s e a s v e le id a d e s m a tr ic id a s . U m a m e n in a d e s c r ita p o is tu d o f ic a r ia p a r a te u p a i" .
- V o c ê n ã o s a b e o q u e é a m o r te . S e u e u tiv e s s e q u e ta d o s e n ã o s e tr a ís s e e m s u a s m e m ó r ia s : e r a u m im b e c il m o r a L
m o rre r n e s ta n o ite , r e s s u s c ita r ia am anhã. O Senhor não E a in d a b e m q u e s e p o d e d iz e r q u e e s te s s ã o c a s o s d e
m o rre u e r e s s u s c ito u ? d e m ê n c ia : q u e e s s e s o b s e r v a d o s c o m o a d u lto s , s e r ia m a b s o lu -
- O Senhor r e s s u s c ito u p o rq u e e ra D e u s, m as você ta m e n te c o n s id e r a d o s c r im in o s o s . D e q u a lq u e r m o d o , p ro -
n ã o r e s s u s c ita r á ; a m in h a ir m ã m o r r e u e n ã o v o lto u m a is . v a m n ã o p o d e r c o lh e r - s e n a p r im e ir a r e v o lta d e le s a d if e r e n ç a
e n tr e o d e lito e a d e m ê n c ia .
- C o m o fa re i p a ra m o rre r?
- N ã o p e n se q u e e u n ã o a n d a re i n u n c a e m u m b o sq u e
p a r a f a z e r - m e m a ta r ! '
82 ,
l, "! 83
lii
,c ,:' o - o " ,'
';'.fr~:.;:x
,'t';';~~'
1 ':'I/t'tlr'
.!l~"~
; l' + I " '~ .- _ .
- ~V;';',,-~'
l,'"S ,
ft_.~L.*,"
,',~
..•...
.
,
:'
',:' ""
:: ': .~
r '.
I
I.
1:'-
I~
t- '~"-
t ;';, . 7. SANÇÕES E M E IO S P R E V E N T IV O S
I '
I D O C R IM E D O S M E N IN O S
I, .
t~ i~
f,,.,,...;.';•••..• '
I' -c ,.
F ic a e n tã o d e m o n s tr a d o
c r im in o s o s a r a iz d o c r im e r e m o n ta
que em u rn a c e r ta c o ta
d e s d e o s p r im e ir o s a n o s d o
de
I- n a s c im e n to , in te r v e n h a m o u n ã o c a u s a s h e r e d itá r ia s ,
d iz e r m e lh o r , q u e s e h á a lg u n s c a u s a d o s p e la m á e d u c a ç ã o , e m
o u p a ra
I'
,
m u ito s n ã o in f lu i n e m m e s m o a b o a . A s u a g r a n d e a ç ã o b e n é f ic a
~
s u r g e e x a ta m e n te d o f a to d e s e r g e r a l a te n d ê n c ia c r im in o s a n o
1 .-
,
I m e n in o , d e m o d o q u e s e m e s s a e d u c a ç ã o n ã o s e p o d e r ia e x p lic a r
a n o r m a l m e ta m o r f o s e q u e a c o n te c e n a m a io r p a r te d o s c a s o s .
I .-'
.1 "
85
r:r-
t
orientadas para evitar que surja em terreno adequado à proli-
.1
feração de idéia fixa que vem os tornar-se tão fatais na infância. t
Tam bém a sanção aqui não se m ostra tanto eficaz com o
I
certos m eios preventivos, tais com o condições favoráveis do ar,
da luz e de espaço, de alim entação, com prevalência, por exem plo,
de vegetais nas privações sanguinárias dos alcoólatras, abstinência
com pleta e, em determ inados casos, de prudente ginástica sexual. I
I
O corre evitar os fáceis ciúm es para im pedir a violência im -
pulsiva, acalm ar o orgulho precoce com provas palpáveis e tão
fáceis de revelar a hum ana espécie infantil, inferioridade, cultivar
o intelecto por via dos sentidos e do coração, com o faz adm iravel- 8. DAS PEN A S
m ente o sistem a Froebeliano. H á crianças tristes, violentas,
m asturbadoras, porque estão doentes de raquitism o, de oxiúros, 1. O s prim órdios das penas - 2. V ingança privada
etc. e a cura hem atológica ou verm ífuga só é feita por correção.
I
3. V ingança religiosa e jurídica - 4. Prepotência dos chefes.
..
~) Im pedir a conjunção fecunda dos alcoólatras e dos cri- D elitos contra as propriedades - 5. Transform ação da pena.
..
""0.°
m inosos seria pois a única prevenção do delinqüente nato, D uelo - 6. C astigo. Restituição - 7. O utras causas da
i~ que, quando é tal, com o se vê em nossa história, nunca se com pensação - 8. Posses Patrim oniais - 9. C hefes
~~A m ostra
Roussel,
suscetível de cura. Se com Bargoni, com Benelli, com
com Barzillai e com Ferri encontram os
casos de correção, que com triste discussão
censuráveis
poder-se-ia dizer
I
;
10. Religião - 11. Seitas - 12. Antropofagia
13. C onclusão
jurídica
I
de oficial correção, acreditam os que seria de enorm e vanta;
gem do país, em vez do m anicôm io crim inal, m elhor ainda 1. O s prim órdios das penas
seria um a casa de abrigo perpétuo de m enores afetados pelas
1
tenazes tendências crim inosas e da dem ência m oral. D e tudo o que tem os exposto, com eça a se ver com o as
Para esses, o m anicôm io crim inal torna-se útil quase
( penas se originaram : por m eio do próprio abuso do m al e graças a
tanto e m ais do que nos adultos,
os efeitos das tendências
pois sufoca no nascim ento
que não levam os em consideração
I novos delitos. N ão havendo ainda conceito do delito, não se so-
nhava sequer com as sanções penais. A vingança era não só per-
m itida m as, antes, um dever. N as ilhas Caraíbas, a adm inistração
I.
a não ser quando se tornam fatais. Essa idéia não é algo novo
- ou revolucionário. Sob um a form a m ais radical e m enos hu- da justiça não era feita pelo príncipe; a pena se reduzia a um a
m anitária, a Bíblia já a havia ordenado ao pai apedrejar o filho "' .. . vingança pessoal do ofendido e de seus am igos: quem se crê lesado
_ o.£:
...,.."
_..
....
~
faz justiça com o pode e não deixa que outros se introm etam .
'
m aldoso. A educação pode im pedir os que nasceram bons de •.•.
.
: '.:co
passarem da crim inalidade infantil transitória para a habitual. D o ponto de vista sociológico, os indígenas da Califór-
/
O s que nasceram m aus nem sem pre se conservam m aus. nia seriam quase exem plos para os fulganis. V ivendo ainda
86 87
nr--
n a a n a r q u ia ig u a litá r ia , e le s n ã o c o n h e c ia m o u tr o s d ir e ito s a a v in g a n ç a s o b r e o u tr o b ra n c o q u a lq u e r . P e lo v is to , c o m o
não s e r o s d o s m a is f o r te s . T o d o s o s v íc io s , to d o s o s d e lito s to d a m o r te d e r iv a d e u m m a le f íc io c a u s a d o e d e v e s e r v in -
f ic a m s e m p u n iç ã o , e , a n te s , n o p e n s a m e n to d e le s , n ã o h á g a d a , e x p lic a - s e e s s a c o n tín u a s é r ie d e d e v e r e s s a n g u in á r io s
v íc io s n e m h á d e lito s . C a d a u m d e v e d e f e n d e r - s e c o m o p u d e r. q u e d e v e m s e r c u m p r id o s . C a d a u m e x e r c ia p o r s i a r e a ç ã o e
A s s im d e sc re v e o je s u íta B a e g e r t, q u e v iv e u e n tr e e le s p o r a sanção p e n a l; s 6 m a is ta r d e p a s s o u a e x e r c ê - I a d e a c o rd o
d e z e s s e te a n o s . E n tr e o s to n g a n is , e s c r e v e u M a r in e r , n ã o h á c o m s u a tr ib o . A v in g a n ç a a q u e s e r e d u z ia e s s a r e a ç ã o e ra
p a la v r a s p a ra e x p r im ir a id é ia d e ju s tiç a e d e in ju s tiç a , de u m d e v e r r e lig io s o e c ív ic o .
c r u e ld a d e e d e s u m a n id a d e . O f u r to , a v in g a n ç a , o r a p to e
a s s a s s in a to , n ã o s ã o c o n s id e r a d o s p o r e le s , e m m u ita s c ir c u n s -
3 . V in g a n ç a r e lig io s a e ju r íd ic a
tâ n c ia s , c o m o d e lito s .
A v in g a n ç a e r a a p a ix ã o dos deuses d e W a lh a la , do
2 . V in g a n ç a p r iv a d a d e u s d o s h e b re u s e ta n to s o u tr o s . G u d r u n a , q u e p a r a v in g a r
o s ir m ã o s m o r to s p o r Á tila , m a to u u m f ilh in h o d e le e o f e z
O s á r a b e s b e d u ín o s n ã o q u e re m q u e o h o m ic id a s e ja c o m e r o c o r a ç ã o , e r a to m a d o c o m o m o d e lo d e v ir tu d e . N a B í-
t
f e r id o p e lo s o b e r a n o ; q u e r e m f a z e r g u e r r a a e le e à s u a f a m ília b lia , r e c o n h e c e - s e , e n tr e p e s s o a s p r iv a d a s , o d ir e ito e o d e v e r
e a tin g ir a q u e le s q u e e le s e s c o lh e r e m , d e p r e f e r ê n c ia o c h e fe d e v in g a r o s a n g u e , is to é , a m o r te d e p a r e n te p r 6 x im o , a in d a
d a f a m ília , a in d a q u e e le s e ja in o c e n te . O s a b is s ín io s e n tr e g a m q u e p o r im p r u d ê n c ia . N a s le is g e r m â n ic a s m a is v e lh a s d á - s e
. o m a ta d o r a o m a is ín tim o p a r e n te d o m o r to , q u e p o d e p u n i- .~ u m a a u to r iz a ç ã o ilim ita d a à v in g a n ç a . N a s le is b á r b a r a s v ê - s e
lo a o s e u b e l ta la n te . E n tr e o s c u r d o s , s e n in g u é m la m e n ta r a v in g a n ç a s e r to m a d a c o m o m e d id a o f ic ia l. T a m b é m a p e n a ,
u m h o m ic íd io , e s te f ic a o r d in a r ia m e n te im p u n e ; O ll são os If c o m o n o s a n im a is e n o s s e lv a g e n s , c o m e ç a c o m o c a r á te r d e
v iz in h o s que devem o b te r a re p a ra ç ã o ; to d a v ia , é m a is v in g a n ç a , o u s e ja , c o m o e s p é c ie d e d e lito . A r e a ç ã o c o n tr a o
h o n ro so v in g a r - s e p o r si m e sm o d o q u e re c o rre r à ju s tiç a . m a is f o r te e p r e p o te n te im p e le a v in g a n ç a p o r a s s o c ia ç ã o e
s e e s ta s tr iu n f a m , o d e lito to r n a - s e u m in s tr u m e n to m o r a l.
E n tr e o s k u r a n g o s , o h o m ic íd io é p u n id o c o m a m o r te ,j;
P o r é m , e s ta v in g a n ç a n ã o e r a ju s tiç a ; e ra u m a re a ç ã o
d o h o m ic id a ,
in d e n iz a n d o
m as o condenado
o s a m ig o s
p o d e se m p re se re sg u a rd a r,
e p a r e n te s d o m o r to ; a q u e s tã o é
ir q u e v a r ia v a e x a ta m e n te d e a c o r d o c o m a g r a v id a d e d a o f e n s a
c o n s id e r a d a in d iv id u a l, s e m q u e a lg u é m p e n s e n o in te r e s s e
.,-:1' e , o q u e é p io r , d a s u s c e tib ilid a d e d a v ítim a e d e s e u s p a r e n te s e
~ :-t
~ a m ig o s . D e p o is , q u a s e s e m p r e s e r e d u z ia à m o r te o u a o ta liã o ,
s o c ia l. E s te c o n c e ito to r n a v a a ju s tiç a d e s s a f o r m a g r o s s e ir a ,
e a in d a e x is tia e m v á r io s lo c a is d a Á f r ic a . N ã o h á m a is d e lito
.\ .
"'c -;;.' o lh o p o r o lh o , d e n te p o r d e n te ( D e u te r o n ô m io ) , m u tila ç ã o
m a s a p e n a s d a n o s a o c h e f e o u a u m p a r tic u la r .
~. d o s d e d o s o u à r e s titu iç ã o d o o b je to f u r ta d o .
O s a u s tr a lia n o s s e n te m c o m g r a n d e v io lê n c ia a p a ix ã o
d a v in g a n ç a q u e e le s s a tis f a z e m in d if e r e n te m e n te e m c im a d e 4 . P r e p o tê n c ia d o s c h e fe s. D e lito s c o n tr a a s p r o p r ie d a d e s
q u a lq u e r m e m b r o d a tr ib o a q u e p e r te n c e o o fe n so r. S e , p o r
A s s im c o m o a v id a h u m a n a te m pouco v a lo r p a r a o s
e x e m p lo , u m in d íg e n a ' f o i o f e n d id o p o r u m b r a n c o , b a s ta - lh e
p o v o s p r im itiv o s , a m o r te d e s p e r ta v a re a ç ã o m enor ou ne-
88
89
~I~
nhum a, n e m s e to rn a v a u m c rim e g ra v e , s e n ã o fo s s e p e rp e - s e c o rta r e m p e d a ç o s a n a v a lh a d a s o o u riv e s q u e a d u lte re o
I
~>
j:t." d o q u e o h o m ic íd io c o m e tid o p o r u m c h e fe . to rn a r-s e e s c ra v o d a v ítim a d o ro u b o . E m L o b u k e e n tre o s
;'!';!j
'R ~i a s te c a s o fu rto e ra p u n id o c o m a m o rte . N a A m é ric a , e n tre o s
U m a v e z p o ré m , c o m o c re s c im e n to d o n e p o tis m o e
-~ g u a ra n is , d o is d e lito s s ã o s e v e ra m e n te p u n id o s : são as duas
p e la fo rç a d a s a rm a s n a s in v a s õ e s g u e rre ira s , e m v e z d a trib o , ,!.,
'., fo rm a s d e a te n ta d o s à p ro p rie d a d e : o fu rto e o a d u lté rio . N a
o s c h e fe s s e fiz e ra m p ro p rie tá rio s d e tu d o . O fu rto c o n tra
Á s ia , e n tre o s m o n g ó is , o s tib e ta n o s e o s b irm a n e s e s , o fu rto
e le s , p e la p rim e ira v e z , to rn o u -s e d e lito , e c o m o e ra m e le s
O i~
e ra c o n s id e ra d o c o m o c rim e m a is g ra v e d o q u e o h o m ic íd io .
q u e d ita v a m e a p lic a v a m a s le is , to rn o u -s e o m a io r d o s d e lito s .
-- D o m e s m o m o d o q u e o a d u lté rio , quando e ra a d a n o d e le s e
c a s o p e s s o a l, p a s s o u d e p o is a s e r a p lic a d a a e le a m e d id a p u - 5 . T ra n s fo rm a ç ã o da pena. D u e lo
n itiv a e ta m b é m quando s e tra ta v a d e o u tra s pessoas. P or
A v irtg a n ç a e a p e n a , c o n fu n d in d o -s e u m a c o m a o u tra ,
" is s o o fu rto é q u a s e s e m p re o lh a d o c o m o m a is c rim in o s o do
re d u z ia -s e a u m fe rim e n to ta l q u e b a s ta s s e p a ra re s s a rc ir a
'. q u e o a s s a s s in a to d e s d e q u e n ã o im p lic a s s e a p ro p rie d a d e e
o s in te re s s e s d o s c h e fe s . C o m o b e m o b s e rv a F e rri, h á ra ç a s , v ítim a o u s e u s a m ig o s , o u a d o r c a u s a d a a o o fe n d id o . M as,
91
90
W, f~-
"'I,
:
••
;
". o.,
trib o v iz in h a e n q u a n to e ste se a b a ix a v a p a ra c o lh e r a a rm a ; a o s p a re n te s d o la d rã o .
;;
v in g a n ç a e ra p e rm itid a por um a n o e m e io a o s p a re n te s e '.' 9 . C h e fe s
.,.
..
r
a o s p re s e n te s a o d e lito . D e p o is d e tra n s c o rrid o e s s e te m p o ,
A d ic io n e -s e q u e fo ra m m a n tid a s as penas quando os
n ã o s o b ra v a o u tro m e io d e v in g a n ç a a n ã o s e r a v ia ju d ic iá ria .
p riv ilé g io s q u e tin h a m o s c h e fe s e o s s a c e rd o te s s e m u d a ra m
P e rm itia -s e a v in g a n ç a p e s s o a l c o m o u m a e x p lo s ã o d e c ó le ra ;
p a ra a s c o m p e n s a ç õ e s . N o T ib e te , o ric o p o d e re m ir u m h o m i-
p o ré m , quando e ra p a s s a d o u m c e rto te m p o , s ó s o b ra v a o
c íd io , p a g a n d o in d e n iz a ç ã o a o ra já , a o s g ra n d e s fu n c io n á rio s
dano p e s s o a l, que d e v e ria ser com pensado. T am bém na
e à fa m íli:;l d o m o rto . S e fo r p o b re , o h o m ic id a p o d e s e r a ta d o
•• m e n o s re m o ta le g is la ç ã o d o g u la th in g s e n a s le is irla n d e s a s
a o c a d á v e r d a v ítim a e jo g a d o n a á g u a . E m U g a n d a , e ra c o n -
p o d ia -s e v in g a r c o m a m o rte a lg u m d a n o o U fe rim e n to , desde
denado à m o rte quem d e ix a s s e a p a re c e r a p e rn a a o s e n ta r
que não e s tiv e s s e c ic a triz a d o ; quando s e tra ta s s e só de
d ia n te d o re i, o u n ã o e s tiv e s s e v e s tid o d e a c o rd o c o m o p ro -
c o n tu s ã o , n ã o s e p o d e ria v in g a r a n ã o s e r n a q u e le m o m e n to .
to c o lo , o u s e to c a s s e n o re i e n a s s u a s v e s te s o u n o tro n o .
P o r is s o s e v ê q u e s e o fe rim e n to e ra le v e , c o m e ç a v a , a um
c e rto p o n to , a s u b tra ir-s e à v in g a n ç a , q u e e ra n a tu ra lm e n te N o ta -s e e m tu d o is s o a in flu ê n c ia d o p o d e r d e s p ó tic o ,
p ro p o rc io n a l à causa. q u e , u m a v e z in ic ia d o , a tin g e o a b s u rd o , m a s p a re c e c e rto q u e
m u ito s d e s s e s d e lito s d e le s a -m a je s ra d e tiv e s s e m s id o in v e n -
4., A s s im a le i m o s a ic a p e rm itia a o v in g a d o r m a ta r o h o m i-
~r-
~,
:"'.:•..•.
c id a , a in d a
p ro v ia
q u e fo s s e o c rim e
trê s c id a d e s
apenas c u lp o s o ,
d e a s ilo a fa v o r d o c u lp a d o .
m a s d e p o is
No F u e ro
ta d o s p e lo re i, c o m o m a is ta rd e s e v iu c o m o s C é s a re s . C o n ta
S p e k e q u e u m o fic ia l n ã o e s ta v a n a C o rte v e s tid o c o m e le g â n -
1 f .J
c ia , e p o d e ria p e rd e r a c a b e ç a , m a s , e n tre ta n to , a p e n a fo i s u b s -
~. )u z g o e s p a n h o l n ã o s e p e rm itia a pena de talião a o s d e lito s
:C ; .. titu íd a p o r u m a m u lra e m a n im a is , c o m o c a b ra s , g a lin h a s , e tc .
1:;r.t'" d o c h e fe p o rq u e a re p a ra ç ã o e x c e d ia à o fe n s a . E n ã o s e c o n -
! : '~
"'..-o i"
-;"Y..( c o rd a v a a in d a s e o d e fu n to n ã o c o n ta s s e c o m u m p a re n te
~ 1 0 . R e lig iâ o
m u ito d e s p ro v id o d e m e io s .
C o m o s e m p re , a re lig iã o a tu a p a ra u s u fru ir e p e rp e tu a r
8. P osses p a trim o n ia is o u s o e a s s im fo i a p rim e ira a p re v a le c e r-s e m a is d o e le m e n to
te o c rá tic o d o q u e o d o g u e rre iro ; e s s a p e rp e tu a ç ã o v e io a té
S o b re tu d o c o n trib u iu a v a n ta g e m s o b re v in d a e a posse
n ó s . E m s e g u id a , o in s tru m e n to m a is p o d e ro s o à re a ç ã o c o n tra
d e u m a p ro p rie d a d e , c o m a q u a l s e p o d e ria m com pensar m a is
o s d e lito s , b e m e n te n d id o , s e m p re te n d o c o m o p re fe rê n c ia o s
p ro p o rc io n a lm e n te os danos. E s s a d is p o s iç ã o , por sua vez, ,
d e lito s s U lie rs tic io s o s , q u e , p a ra n ó s , n ã o s e ria m n e m m e s m o
a u m e n to u o p o d e r d o s c h e fe s , q u e e ra m c o m p e te n te s p a ra '
c o n tra v e ~ ç õ e s , fo ra m , d e p o is d o s c h e fe s , o s s a c e rd o te s , fre -
d e te rm in á -lo s e in frin g i-lo s . U m a v e z in tro d u z id o o uso da
q ü e n te m e n te ta m b é m c o n s id e ra d o s m é d ic o s e a d iv in h o s . Is o -
com pensação, e m v e z d a v in g a n ç a , p a ra o h o m ic íd io v in h a
la d o s o u a lia n d o -s e a o s c h e fe s , to m a v a m c o m o p re te x to não
• n a tu ra lm e n te a in te rv e n ç ã o d a te rc e ira p e s s o a d a a u to rid a d e , ,:::".,;.
s ó to d o d e lito o u p e c a d o , m a s ta m b é m to d o d e s a s tre , to d a
q u e d e v ia fix á -la . V in h a ta m b é m a e x te n s ã o d o m e s m o s is te - ,."""".
~" m o rte , to d a e s ta ç ã o d o a n o , p a ra m o s tra r q u e d e v ia h a v e r'
m a a to d o s O s o u tro s d e lito s , q u e s e m p re s e re s o lv e m n a a p re -
a lg u m p e c a d o p a ra s e r p u n id o . E s c o lh ia m u m a v ítim a , p e rs e -
c ia ç ã o d e u m d a n o re a l.
g u ia m o s c u lp a d o s v e rd a d e iro s o u s u p o s to s , e a c re s c e n ta v a m
94 95
-1-.
a s c h a m a s. sa n g u in o le n to s: e le s e ra m m o lh a d o s c o m u m a m istu ra p re p a -
ra d a a n te s e m u m a c u ia d e c o c o e fe ita c o m su c o d e lim ã o ,
sa l, e tc . N o s c a so s d e a d u lté rio , o m a rid o tin h a d ire ito de
11. S e ita s e sc o lh e r o p rim e iro bocado. E ta n ta e ra a b rig a q u e m u ita s
v e z e s u n s fe ria m o s o u tro s n o s c h o q u e s.
A lg u m a s v e z e s c o n trib u í p a ra e ssa tra n sfo rm a ç ã o e p a ra
a in tro d u ç ã o da pena o su rg im e n to d e a lg u m a a sso c ia ç ã o T a m b é m n a s Ilh a s B o w se d e v o ra v a m o s a ssa ssin o s e e ste
se c re ta , m u ita s vezes com a p a rê n c ia re lig io sa , com uns nas é o c o stu m e d a P o lin é sia , o n d e fo i c o n sta ta d o o c a n ib a lism o
ra ç a s p o u c o e v o lu íd a s e n o s p a íse s m a l d e se n v o lv id o s e o p ri- ju ríd ic o , q u e , se g u n d o B o u rg a re l, p ra tic a v a -se ta m b é m n a N o v a
m id o s p e la tira n ia . S ã o , a o m e n o s, o s d é b e is, que to c a d o s C a le d ô n ia , c o m o v in g a n ç a p ú b lic a , c o n tra o s c o n d e n a d o s à m o r-
p e lo d e se jo d e re a g ir c o n tra a p re p o tê n c ia d o s m a is fo rte s, te , e q u e , se g u n d o M a rc o P ó lo , e ra u sa d o e n tre o s tá rta ro s. Q u e m
c o m e te m d e lito s q u e , n o fu n d o , sã o a p lic a ç õ e s g ro sse ira s d a p o d e rá sa b e r q u a n ta s se n te n ç a s te rã o sid o p ro v o c a d a s p e la g u la ,
p e n a , in stru m e n to s e sp ú rio s m a s e fic a z e s d a m o ra l e p o r isso p e lo a p e tite p o r u m b ife h u m a n o ? E q u a n to e ssa h o rrív e l p rá tic a
a c a b a m u ita s v e z e s p o r triu n fa r. c rim in o sa q u e se c o n se rv o u q u a n d o a c iv iliz a ç ã o e ra u m p o u c o
m a is a v a n ç a d a , p ô d e c o n trib u ir p a ra e rra d ic a r o s d e lito s?
A ssim o c o rre u , a p rin c íp io , c o m a C a m o rra , q u e e ra u m a
e sp é c ie d e d e fe sa d o s p re p o te n te s re g im e n ta is c o n tra o s p re p o -
te n te s a n a rq u ista s. E a ssim fo ra m n a Á fric a o s sin d ig is, a sso c ia - 1 3 . C o n c lu sã o
ç õ e s se c re ta s p a ra fa z e r o s d e v e d o re s p a g a re m . E ssa s a sso c ia ç õ e s
..t..•. R e c o rd a n d o tu d o : re c o rd a n d o com o o im p u lso que
a p a re n te m e n te m o ra liz í\d o ra s, n o fu n d o , sã o c rim in o sa s.
m a is c o n trib u iu p a ra a re a ç ã o c o n tra o d e lito fo i o d a v in -
96
97
V"-
'
..,", ~.,.'
'1 :'
g a n ç a ; c o m o a p ro m is c u id a d e
a o in c e s to in tro d u z id o
d a lib id o fo i e lim in a d a
p o r u m a fa n ta s ia
tiria e p o lig e n ia , o rig in a d a p e la p re d ile ç ã o
g ra ç a s
d e n o b re z a , p o lia n -
q u e tin h a o c h e fe
l t
'li
í
'.
'j1
o u o m a is p re p o te n te d a trib o p o r d e te rm in a d a m u lh e r. A s s im
ta m b é m a c o n te c e ria e m u m h a ré m p e la v io lê n c ia de um
.a m a n te , e m a is ta rd e p e la a g re s s iv id a d e e m a io r p re d o m ín io
~ d e u m c h e fe . D o m o d o q u e e ra d e lito to c a r n a m u lh e r do
c h e fe , n ã o e ra to c a r n a s o u tra s m u lh e re s .
C om o a p e n a p e lo fu rto c o m e ç o u a a p a re c e r s o b re a
p re v a lê n c ia d a s c o n q u is ta s d o s c h e fe s o u d o s m a is p re p o -
te n te s , q u e q u e ria m c o n s e rv a r a s p o s s e s s u rru p ia d a s e não 9. S U IC ÍD IO D O S D E L IN Q Ü E N T E S
d iv id i-la s c o m o s m a is fra c o s , c o m o e ra s o b re tu d o d o fu rto
c o n tra a p ro p rie d a d e d o s c h e fe s q u e s e in ic ia v a a ju s tiç a ,
1 . F req ü ên cia . T em p era tu ra - 2 . P risã o . É p o ca d a d eten çã o
c o m o ta m b é m s e in ic io u a re a ç ã o c o n tra o a d u lté rio d o ro u b o d o s d elin q ü en tes - 3 . Im p revid ên cia e im p a ciên cia
tiO .
r.1
L
d a s m u lh e re s d o s c h e fe s - p o d e -s e c o n c lu ir, s e m q u e p a re ç a 4 . R ela çõ es co m a ten d ên cia < to crim e - 5 . A n ta g o n ism o
'-~'
.•.:..
~ ~- u m a b la s fê m ia , q u e a m o ra lid a d e e a p e n a n a s c e ra m , e m g ra n - 6 . S u icíd io in d ireto e m isto 7 . S u icíd io p o r su p erstiçã o
~~.
'. .,;,.... d e p a rte d o c rim e . 8 . S u icíd io sim u la d o - 9. S u icíd io d u p lo
1 0 . S u icíd io n o s d em en tes crim in o so s.
""; •.
I
! 1 . F re q ü ê n c ia . T e m p e ra tu ra
98 99
;rl--
Para distinguir m ais m inuciosam ente a cota de suicídios • 11 nos prim eiros m eses da detenção
com etidos pelos grandes delinqüentes, calcula-se um a base • 7 no prim eiro ano de detenção
de 4,52 por m edo da justiça, 2,65 por vergonha, rem orso,
• 7 no segundo ano de detenção
preguiça, 2,4 nos hom ens e 1,47 nas m ulheres, 0,96 apreensão
pelas penas disciplinares nos soldados e o desgosto pelo • 7 no terceiro ano de detenção
serviço m ilitar. • 4 depois do terceiro ano de detenção
2. Prisão. Época da detenção dos delinqüentes Por isso, abundam m uito m ais nos cárceres judiciários
do que em outros e m ais entre aqueles que devem cum prir
A m aior freqüência dos suicídios não se pode crer que
pequenas condenações. A o revés, ele não se nota entre os
seja só o efeito da condenação ou da tortura, causada pela
condenados só há quinze dias. Esta freqüência parece tríplice
longa prisão, ou pela falta de m aior convívio. A penas é sen-
se nós ajuntarm os os num erosos casos de suicídio tentados
sívelo aum ento dos suicídios nas prisões celulares em com pa-
nas prisões, que na Inglaterra sobem ao triplo e entre nós
ração com as m istas. Isto se coaduna, certam ente, nas prisões
quase ao dobro dos suicídios consum ados.
celulares pela m inoria e notando-se o m aior núm ero nos •
. Evidentem ente esta freqüência de suicídios, entre os
denunciados (Itália: 38% ) e entre os condenados, inúm eras
.. delinqüentes, na prim eira fase da Teclusão, e tam bém antes
vezes, se não exclusivam ente, nos prim eiros m eses da detenção.
'da.condenação, e por condenações leves, depende de um a
A ssim , em M azas, em 79 suicídios, ocorreram :
. tendência especial. A ntes de tudo, dessa insensibilidade, dessa
15 - do 2 Q ao 5 Q dia da entrada faltado instinto de conservação, de que, pouco atrás, aduzi-
10 - do 5 Q ao 10 Q dia da entrada m os tantas provas, e que aparece nos estranhos m odos de
Q
8 - do 1O º ao 15 dia da entrada suicídio, com o do uxoricida G ranié, m orto depois de 63 dias
5 - do 15 Q ao 20 Q dia da entrada de com pleto jejum . É tam bém o caso de Bruno, citado por H off-
m ann, que se m atou engolindo um enornle pedaço de osso.
2 - do 20 Q ao 25 Q dia da entrada
5 - 25 Q ao 30 Q dia da entrada
3. Im previdência e im paciência
25 - do 1Q ao 2 Q m ês da entrada
4 - do 2 Q ao 3 Q m ês da entrada D eve-se adicionar nisso a im previdência e a im paciên-
2 - do 3 Q ao 6 Q m ês da entrada cia que os dom ina. Para eles, preferem suportar um m al gravís-
sim o e rápido a um m al leve e por m uito tem po. Eles acham
1 - no 12 Q m ês da entrada.
m enos dura a m orte do que ver insatisfeitas as próprias pai-
xões m om entâneas. La Lescom bat escreveu à sua am ante,
A estatística das prisões européias
suicídios ocorridos, os seguintes dados:
apresenta, em 36 -
,. ':\T'
exortando-o a m atar seu m arido. "N ão tem o a m orte; farei
de bom grado o sacrifício da vida para que fique aliviada
t':'-~f
100
~ :ll>.\..
.~ =--=
"Ibi,~~
101
; ,ôl'ri"
'->\:••
~
.'.'i,.'
i..
. :'.
T
desse bárbaro que eu odeio. Se eu vir você ao voltar, darei f 4. R elações com a tendência ao crim e
m il vidas por você".
"D ou adeus ao m undo, porque viver com um a paixão
I• C om o aconteceu com m ais freqüência o suicídio dos
I
m e m atarei, m as prim eiro falarão de m im ". E pouco depois: 14 bairros franceses, que apresentaram , em 100 denunciados,
"A cunhada não m e am a, m as se arrependerá disso; com prei m ais delitos contra a pessoa, não se encontrou senão 14 suici-
dois revólveres, um para m im , outro para ela". das em 460 m il habitantes. A o revés, em 14 outros que deram
Tam bém a M arquesa de B rinvilliers tentou várias vezes m enos de crim es de sangue, houve 14 suicídios em 170 m il
o suicídio; envenenou-se um a vez para provar a eficácia do habitantes. A C órsega, célebre pela sua tradição sanguinária,
contraveneno (singular prova da im paciência deles). Tentou em 100 denunciados, 83 por crim es contra a pessoa e um
m ais tarde para dem onstrar seu am or a Santacruz, a quem suicídio em 55 m il habitantes. O bairro de Sena dá em 100
enviou diretam ente carta assim redigida: "A chei oportuno denunciados 17 só por delitos contra a pessoa e um suicídio
para 2.341 habitantes.
term inar m inha vida; por isso será dotada de veneno que r
--você m e vendeu a preço tão caro e você notará nisso com o \" Enquanto a m aior tendência ao suicídio se encontra
eu a sacrifiquei voluntariam ente. N ão prom eto, porém , que vou ..•...
o.
,. na R ússia, no N ordeste há no B áltico 65 suicídios para um
esperá-lo antes de m orrer para dar-lhe o extrem o adeus" (pa- .•.1.+'" m ilhão, em Petroburgo 102 e no Sudeste em Poltava 50 e em
lavras estas que nos fazem entrever a sim ulação de suicídio). ,-...:I;l~ Podólia 44, geralm ente nos G overnos do O este o hom icídio
. ~r •
• ~t'-'"
102
-~
joo-;'~ -
_"o..~
,., .~,~,
---:; ~{'1"'1:l
'rt'< ~~,,"1
103
~ ).,
,'.' _ _ IF""
,11
j\~
~i
."'f'
t."
W4'
- .~ c ~~>
a u m e n ta em d ir e ç ã o o p o s ta . A R ú s s ia e u r o p é ia pode ser
".'t:
d iv id id a e m d u a s p a r te s s e g u n d o s u a te n d ê n c ia a o h o m ic íd io . ..;.'. " 6 . S u ic íd io in d ir e to e m is to
U m a a b r a n g e o L e s te e o S u l d a R ú s s ia , c o m m u ito h o m ic íd io .
A o c o n tr á r io , e m a lg u n s c a s o s r e a lm e n te r a r ís s im o s n ã o
Na o u tr a , N o r o e s te d o B á ltic o eao S u d e s te d a P o d ó lia , a J é m a is o s u ic íd io q u e p r e s e r v a o h o m ic íd io , m a s e s te é a c a u s a
te n d ê n c ia a o h o m ic íd io
m e n o s d o q u e n o s U r a is .
c h e g a a o m ín im o . U m a v e z e m e io
! d a q u e le . G e n te v il, lo u c a m e n te s u p e r s tic io s a e d e s e jo s a d e
!
m o r r e r , m a ta p a r a s e r c o n d e n a d a à m o r te e liq u id a r - s e p e la s
m ã o s d e o u tr e m . E s tr a n h a f o r m a d e e g o ís m o e d e p a ix ã o
5 . A n ta g o n is m o r e lig io s a . D e s p in e r e c o lh e u q u a tr o d e s s e s c a s o s . P o r e x e m p lo ,
J o b a r t e r a u m jo v e m c o m e r c ia n te , q u e , d e v id o à v id a d is s o -
I s s o e x p lic a b a s ta n te bem p o rq u e a e s ta tís tic a s o c ia l
.f;_ .•
lu ta , c o n tr a iu d é b ito s e s e r v iu - s e d a c a ix a a lh e ia . O r e m o r s o
tin h a n o ta d o u m a e s p é c ie d e a n ta g o n is m o e n tr e a c if r a d o s
f e z n a s c e r n e le a id é ia d o s u ic íd io , m a s m u d o u p a r a h o m ic íd io
d e lito s de sangue e a d o s s u ic íd io s , e p o rq u e e s te s ú ltim o s , : ~."
p o r a s c e tis m o , q u e lh e te r ia d a d o te m p o d e a r r e p e n d e r - s e . A
e s c a s s e ia m n o s p a ís e s m a is q u e n te s , onde o s p r im e ir o s são
p r in c íp io pensou e m a lis ta r - s e e c o m u m a in f r a ç ã o fa z e r-se
m a is n u m e r o s o s , c o m o p o r e x e m p lo , n a E s p a n h a , C ó rse g a e
f u z ila r d e p o is d e m a ta r o P r e s id e n te d a R e p ú b lic a . F in a l-
e n tr e n ó s n a s p r o v ín c ia s m e r id io n a is e in s u la r e s .
m e n te , c o m u m a f a c a d a , m a ta u m a jo v e m g r á v id a , e p e r m a -
.h'"
'~.
-.
O c o n tr á r io o c o r r e n a I tá lia d o N o r te e C e n tr a l, onde
l - ~ '- \ . n e c e p a r a d o e m s e u p o s to , d iz e n d o a o m a r id o : " N e m m e s m o
m u ito s h o m ic íd io s f o r a m , p o d e - s e d iz e r , p r e v e n id o s , e d im i-
conheço v o c ê s ; s o u u m m is e r á v e l; m a te i p a r a s e r m o r r o " .
n u íd o s d o q u e o s s u ic íd io s . E x p lic a - s e
e .a s c o n tr a v e n ç õ e s
f r e q ü e n te s
n o s c á rc e re s
a in d a c o m o o s d e lito s
sã o , c o m o v e re m o s,
n o s p a ís e s e m q u e m a is s ã o o s s u ic íd io s . O m e s m o
m enos l
,:- M a r g a r id a , d e 2 3 a n o s , s e n d o la n ç a d a n a C a s a d e R e c u -
p e ra ç ã o , e x p e r im e n to u ta l d e s p r a z e r q u e r e s o lv e u c o m e te r
u m h o m ic íd io p a ra se r c o n d e n a d a à m o r te . F o i d e ix a d a ju n to
s e d ig a , e m g e r a l, d o s p a ís e s e é p o c a s m a is c iv iliz a d a s e em f, -,
p" com u m a im b e c il e lh e c o r to u a g a r g a n ta com u m fa c ã o .
q u e a c u ltu r a c r e s c e , e n g r o s s a a c if r a d o s s u ic íd io s ( n a F r a n ç a
"
" Q u is a c a b a r c o m a e x is tê n c ia d e la , m a s p e n s e i q u e , m a ta n d o
d e 1 8 2 6 a 1 8 6 6 a u m e n ta r a m q u a s e u m tr ip lo ) e d im in u iu a
o u tr a p e s s o a , p e r d e r ia ig u a lm e n te a v id a , m a s te r e i te m p o
d o h o m ic íd io .
d e a rre p e n d e r-m e e D e u s m e p e rd o a rá ". D e p o is d o d e lito ,
O n ú m e r o m a io r d o s d e lin q ü e n te s s u ic id a s r e c o lh e - s e
r e z o u p a r a D e u s e d o r m iu tr a n q ü ila . Q uando a c o n v e n c e ra m
e n tr e a q u e le s q u e c o m e te r a m in f r a ç õ e s c o n tr a a pessoa (2 4
d e q u e , e m v e z d e te r c o n q u is ta d o o p a r a ís o , te r ia a tr a íd o a
n a I tá lia ) e c o n tr a a o rd e m p ú b lic a ( 1 2 ) , o u m u ito s (1 2 ), ir a d e D e u s , c h o r o u a m a r g a m e n te .
c o n tr a a p r o p r ie d a d e .
O r a é n a tu r a l q u e q u a n to m a is o s u ic íd io s e ja a u m e n -
7 . S u ic íd io p o r s u p e r s tiç ã o
ta d o , e x o r b ita n te , d im in u ir ã o o s h o m ic id a s ; ta n to m e n o r s e r á
o n ú m e ro d e d e lito s c o n tr a a p e sso a . S e a M a rq u e sa d e B re - O u tr a v e z , c o m o e r a o c a s o d e N a g r a l, a lg u n s c o m e te m
v illie r s e L a c e n a ir e tiv e s s e m s e s u ic id a d o r e a lm e n te , quando u m a s s a s s in a to p o rq u e e s tã o cansados d e v iv e r e n ã o tê m
te n ta r a m , p o r e s s a r a z ã 9 .te r ia m e c o n o m iz a d o o n ú m e r o d e v ítim a s . f o r ç a d e s u ic id a r - s e . E s ta p a r e c e ta lv e z a c a u s a d o te n ta d o
r e g ic íd io d e P a s s a n a n te , pouco a p ro fu n d a d o na sua causa
104
105
"\
q u e d e v ia e s tu d a r. V e n d o -m e , d is s e e le a o q u e s to r, m a ltra ta d o p o is , a s s a s s in o u -a , d e u s u m iç o a o re v ó lv e r e s e fe riu , p a ra
p e lo s m e u s p a trõ e s , sendo a m in h a v id a s o m b ria , a n te s de p o d e r a le g a r u m a p ro v a d a in te n ç ã o d e m a ta r-s e . Q uando a
s u ic id a r-m e , b ro to u -m e a id é ia d e " a te n ta r c o n tra a v id a d o g u a rd a e n c a rre g a d a d e p re n d ê -lo , c o m o v id a , o fe re c e u -lh e
" re i, n a s e g u ra n ç a d e q u e , e m to d o c a s o , e s ta ria m o rto . o p o rtu n id a d e d e jo g a r-s e d a p o n te , re c u s o u -s e , a le g a n d o q u e
lá h a v ia m u ita g e n te .
8 . S u ic íd io s im u la d o
II E s s a e s tra n h a te n d ê n c ia te m , n o s p re s id iá rio s , fre q ü e n -
te m e n te 'p o r c a u s a , o p ra z e r d a v in g a n ç a c o n tra o s g u a rd a s ,
O ser hum ano m u ito m a is te n d e a s im u la r e fin g ir a lg u - o s d ire to re s , a e s p e ra n ç a d e la n ç a r s o b re e le s a s u s p e iç ã o d e
m a a ç ã o p a ra a q u a l s e s e n te in c lin a d o . A s s im s e e x p lic a o h a v e r im p e lid o a o d e s e s p e ro , fa z ê -lo fa la r d e s i, m u d a r d e
c o m o e n tre o s d e lin q ü e n te s , m u ito s s ã o o s s im u la d o re s de c á rc e re . O u tra c a u s a , s o b re tu d o , é a in c lin a ç ã o a o fin g im e n to ,
s u ic íd io , q u e fa z e m e m s i .s im p le s c o rte s s u p e rfic ia is , ta n to q u e fa z d o c á rc e re u m v e rd a d e iro te a tro . P a ra q u e m e s tiv e r
q u e N ic h o ls o n d e c la ro u q u e , d e trê s s u ic íd io s te n ta d o s no s o lto é u m m e io ta n to m a is p re fe rid o , p o rq u e m e lh o r c o rre s -
c á rc e re , d o is s ã o s im u la d o s . E le c h e g a a d u v id a r, a té , q u e p o n d e à s u b ita n e id a d e e à v io lê n c ia d a ín d o le d e le s q u a n d o
I
ta m b é m a lg u n s d o s s u ic íd io s c o n s u m a d o s p e rte n c ia m a essa q u e re r a tin g ir d e te rm in a d o o b je tiv o , o u ju s tific a r a s i m e s m o s
~~ e s p é c ie e c ita u m q u e s e e n fo rc o u n a h o ra e m q u e d e v ia s e r e a o s o u tro s u m h o m ic íd io o u s im u la r u m a lu ta . A s s im fe z o
~;,I;i le v a d o p e lo s g u a rd a s e m o rre u , te n d o o s g u a rd a s chegado, C ic a re lli q u e fo i s u rp re e n d id o quando ro u b a v a M a ria , s u a
'1lt" e v e n tu a lm e n te , m u ito ta rd e . v ítim a fe rid a , o u p a ra e s c o n d e r-s e d a ju s tiç a , c o m o fe z B ra n c a rd .
,~
\~
'-"I!>
Q u e e u m e re c o rd o , o a s s a s s in o d r. B ra n c a rd , que não O fa ls o s u ic íd io é , e n tã o , u m a e s p é c ie d e á lib i p ro c u ra d o
s ó s im u lo u o s u ic íd io e s c re v e n d o c a rta s a o s s e u s p a re n te s , e m o u tro m u n d o . F re q ü e n te m e n te e le s a g e m c o m o c ria n ç a s
a m ig o s , a o irm ã o , e m q u e re c o m e n d a a o ú n ic o a m ig o o s e u v ic ia d a s , q u e s im u la m m a ta r-s e o u fe rir-s e p a ra c o a g ir o s
c ã o , m a s d e ix o u p re p a ra d o o e p itá fio : " A q u i re p o u s a u m fra n - p a re n te s a c e d e r a o s d e s e jo s d e le s .
c ê s q u e fo i in fe liz , J u lio B ra n c a rd . G ra n d e s d e s v e n tu ra s m an-
c h a ra m s u a ju v e n tu d e . S e m p re fo i e le to m a d o p e la tris te z a .
9 . S u ic íd io duplo
V is ita n te s , d e d iq u e m -lh e u m a lá g rim a " .
R e c o rd o -m e a in d a d a e n v e n e n a d o ra e a d ú lte ra D u b la s - H á s u ic íd io s -h o m ic íd io s , o u m e lh o r, s u ic íd io s p o s te rio -
s o n , q u e , d e s c o b e rta , e n v e n e n o u -s e c o m o m a rid o , s e u c ú m p lic e ,
re s a o s h o m ic íd io s , q u e p e rte n c e m , e s s e n c ia lm e n te a o s d e lito s
d e o rg ia s e d e d e lito s , m a s a d v e rtin d o a n te s , c o m m u ita s c a rta s , p o r p a ix ã o , q u e s ã o a c ris e fin a l e q u e s ã o o s g ra n d e s p a ro x is -
a s a m ig a s , p a ra q u e a s a lv a s s e m a te m p o , com o re a lm e n te m o s d o a m o r, n a id a d e m a is jo v e m , n o s s o lte iro s , e n o s m a is
a c o n te c e u . A s s im ta m b é m a c o n te c e u ta lv e z , a o m e n o s d u a s m a d u ro s p o r e x c e s s o d e a m o r filia l: p a rric íd io -s u ic íd io .
v e z e s , e n tre a s m u ita s te n ta tiv a s d a m a rq u e s a d e B rin v illie rs . A s s im , o c a b o R e n o u a rd , d e 2 3 a n o s , e n a m o ra -s e de
D a v id , a n te s d e m a ta r, p o r a m o r in s a tis fe ito , a c u n h a d a , u m a flo ris ta , c o n s o m e o q u a n to te m , re d u z -s e à m is é ria e lh e
v á ria s v e z e s fa lo u a e la e a o s o u tro s e m s u ic id a r-s e . E s c re v e u - p e rg u n ta a té q u e p o n to o s e g u iria . O u v in d o -a re s p o n d e r:
lh e a n te s : " R e c e b a o s < h te u s b e ijo s a n te s q u e e u m o rra " . D e - " A té a m o rte " , p re p a ro u tu d o p a ra o d u p lo s u ic íd io . P o u c o s
106 107
T
i
d ia s d e p o is se fe rira m , o u m e lh o r, e le fe riu -a c o m a u to riz a ç ã o D a n ie l V o lk u e d , d u a s v e z e s so ld a d o , fo rm o u , e m 1 7 5 3 ,
d e la e a p ó s a si m e sm o , d e ix a n d o so b re a m e sa u m e sc rito e sta n h a s id é ia s so b re o h o m ic íd io . A id é ia d e g o z a r a b e a titu d e
e m q u e sa u d a v a m o s a m ig o s. E le tin h a p a i e irm ã a ta c a d o s a n im a -o a m a ta r p a ra se r m o rto , d e p o is d e fa z e r a s p a z e s
d a m a n ia su ic id a . c o m D e u s. U m d ia d e p o is d e d iv id ir a re fe iç ã o com duas
M u ito c o m o v e n te n a F ra n ç a fo i o c a so d o o fic ia l m e n in a s d e g o la u m a c o m fa c ã o p re p a ra d o u m d ia a n te s, e
sa n itá rio B ancai (1 8 3 5 ), q u e , v o lta n d o d e u m a e x p e d iç ã o d e p o is fo i e n tre g a r-se , n a rra n d o c o m o a in q u ie ta ç ã o que o
lo n g ín q u a , e n c o n tro u a e sp o sa , q u e fic a ra m ã e . O s a m o re s tin h a d o m in a d o tin h a d e sa p a re c id o n o m o m e n to d o c rim e .
se re a ta ra m , m as não podendo c o n tin u a r e m d e so n ra , com - D o rm iu d e p o is tra n q ü ila m e n te . Foi condenado.
b in a ra m um d u p lo su ic íd io , c u jo s p re p a ra tiv o s d u ra ra m U m a jo v e m d e D e p tfo rd , p e rto d e L o n d re s, S a ra D i-
d ia s in te iro s; e le so b re v iv e u e re n o v o u a te n ta tiv a duas c k e n so n , fo i e n c o n tra d a , u m d ia , b a n h a d a n o p ró p rio sa n g u e ,
v e z e s. F o i a b so lv id o . e e ste n d id a a o la d o d e se u s d o is filh o s, q u e e la tin h a d e g o la d o .
A lg u m a ra ra v e z o d u p lo su ic íd io p o r p a ix ã o se a sso c ia O p a i, o p e rá rio , e ra h á m u ito te m p o d o e n te e a g o ra a fa m ília
e c o n fu n d e c o m c rim e p u ro , c o m o n o c a so d o D e n u re . São e sta v a re d u z id a à m isé ria . S a ra , p a ra liv ra r se u s filh o s d a a n -
h o m e n s c o n stra n g id o s a o su ic íd io p a ra su b tra ir-se a u m a p e n a g ú stia d e u m a e x istê n c ia tã o triste , c o m o te v e q u e c o n fe ssa r
in fa m a n te , e in d u z e m o s m a is c a ro s a se g u ir a so rte d e le s. n o a to d e su a p risã o , a rm o u -se d e u m a n a v a lh a , c o rto u o
p e sc o ç o d o s d o is m e n o re s q u a n d o d o rm ia m e fe riu le v e m e n te
o te rc e iro , d a n d o -lh e te m p o d e fu g ir e c o rre r n a ru a e d a r o
1 0 . S u ic íd io n o s d e m e n te s c rim in o so s
a la rm e . E la , n o e n ta n to , a sse g u ra -se d a m o rte d e su a s v ítim a s
O su ic íd io é , p o ré m , m a is fá c il a in d a d o q u e n o s d e lin - e q u e r se g u ir o d e stin o d e la s. D á u m a n a v a lh a d a n o p e sc o ç o ,
q ü e n te s p u ro s, n o s p o r p a ix ã o , a in d a m a is n o s d e m e n te s- m a s fa lta -lh e c o ra g e m e só fa z u m a le v e in c isã o . U m m é d ic o ,
c rim in a is, Isto é n a tu ra l. O su ic íd io , se n d o fre q ü e n te nos e n v ia d o p a ra e x a m in a r o e sta d o m e n ta l d e S a ra , d e c la ra -a
d e m e n te s, se rá ta n to m a is n o s d e lin q ü e n te s e d e v e se r a in d a c o m o a fe ta d a d e m a n ia in te rm ite n te .
m a is n a q u e le s q u e sã o u m e o u tro ju n ta m e n te , ta n to m a is se Z a n e tti, q u e fe riu p o r v in g a n ç a d u a s v e z e s n o e sp a ç o
fo r e x c ita d o p o r u m a fo rte p a ix ã o . d e se te a n o s M a g g io to , d e q u e m tin h a sid o d e sp e d id o , e p o r
V e m o s d e sse je ito o P a lm ie ri, a ssa lta n te e d e m e n te e d u a s v e z e s fe ito a p e n a s o fe rim e n to , te n ta v a su ic id a r-se ; tin h a
trê s v e z e s su ic id a . T a m b é m M a ssa g lia , u m se m i-d e m e n te , que sid o já in te rn a d o n o m a n ic ô m io d e S ã o S é rv u lo , e m V e n e z a .
se c o n fe ssa v a c u lp a d o d e 1 2 8 d e lito s, m a s e ra só d e 4 0 , te n ta r E d ig a -se a ssim d o s su ic id a s e p a rric id a s a lc o ó la tra s V a le ssin a ,
d a r m o rte a si m e sm o jo g a n d o -se d o a lto . B u sa la , d e p o is d e C a lm a n o , q u e d e sp e rd iç a m tu d o , la n ç a m -se so b re se u s filh o s
m a ta r o irm ã o , te n ta r a fo g a r-se , e p e rg u n ta r p rim e iro : se o e o s m a ta m , d o s q u a is fa la re m o s m a is ta rd e .
tin h a m a ta d o , " p o rq u e a g o ra m e a fo g o ; se n ã o fo r, c o n su lto
u m a d v o g à d o " . D e lita la , d e m e n te , o u m e lh o r, se m i-d e m e n te ,
d e u -se trê s tiro s d e re v ó lv e r
v á rio s h o m ic íd io s,
na cabeça
d o s 'q u a is a in d a fa la re m o s ..
d e p o is d e c o m e te r J~c
. '~,:"" ,
(:.: ,i«.~'.
' •.
;~ ~->;r.-
108 iJ!i:;:;
109
~
'~r
\
I
II 10. AFETOS E P A IX Õ E S N O S D E L IN Q Ü E N T E S
I
I
.~
jI;-o " r . .,
:.~ . 8 . O u tra s te n d ê n c ia s - 9 . C o m p a ra ç ã o c o m o s d e m e n te s
.•~, ')/;.'t
1 0 . C o m p a ra ç ã o c o m o s se lv a g e n s.
;."õ f' I
~ $ r.;''''j;
,-
~" '& ,C
I
,
,1 , ,! 1 . A f e to s
i
,1 ~ S e r ia p o ré m g ra v e e rro su p o r que to d o s o s s e n tid o s
I te n h a m s id o e x tir p a d o s d o s c r im in o s o s . À s v e z e s , a lg u m
I s o b r e v iv e a o d e s a p a r e c im e n to d o s o u tr o s . T ro p p m a n n , que
tin h a m a ta d o ta n to m u lh e r e s c o m o c r ia n ç a s , c h o ro u a o o u v ir
o nom e de sua m ãe. O ' A vanzo, que assou e com eu a b a r r ig a
d a p e rn a d e u m h o m e m , com punha v e r s o s d e a m o r . B e z z a tti
a m a v a a m u lh e r e o s f ilh o s . L a S o la , q u e a m a v a o s f ilh o s " u m
p o u c o m a is q u e o s g a tin h o s " , c o m o e la d is s e , e q u e f e z m a ta r
o a m a n te , e r a a f e iç o a d a a o c ú m p lic e A z z a r io e c o m p ô s o b r a s
d e v e r d a d e ir a c a r id a d e , f ic a n d o , p o r e x e m p lo , n o ite s in te ir a s
n a c a b e c e ir a d e p o b r e s m o r ib u n d o s .
L a c e n a ir e , n o d ia e m q u e m a to u L a C h a rd o n , s a lv o u ,
/
e n f r e n ta n d o p e r ig o , u m g a to q u e e s ta v a p a r a c a ir d o te to , e
•
~':~";
.
:.,.' '.
- - ,." ~ '
,h ~ .
,,;'; 111
\l-
i
\
poupou Scribe que o havia socorrido. O s ciganos, que são 2. Instabilidade
delinqüentes natos, estelionatários, têm vivíssim o afeto
fam iliar, e as m ulheres (não na Índia) têm senso singular de •
I,
N a m aior parte, entretanto, os nobres afetos dos delin-
qüentes vão tom ando sem pre um traço doentio, excessivo e .
pudor. A "lacki" (integridade virginal) é a coisa m ais preciosa
I
que tu tens; não vás perdê-la", dizem as zíngaras às suas filhas. instável. Pissem bert, por um am or platônico, envenenou sua
esposa. A M arquesa de Brinvilliers m atou o pai para vingar
N oelle, por am or ao filho preso, fez-se pianista célebre,
seu am ante, m atou os parentes para enriquecer os filhos. Cur-
a protetora, e com o a cham avam , a "m ãe dos ladrões". O
I
ti e Sureau m ataram as m ulheres porque não queriam se re-
assassino M oro, piem ontês, vestia e dava banho nos seus
com por com elas. M abille, para alegrar os am igos im provisa-
garotos. Feron, assim que com etia um crim e, corria para os
filhos de sua am ante e presenteava-os com doces. M aino
, dos de urna cantina executou um assassinato. M aggiu m e disse:
''1\ causa de m eus delitos é porque sou m uito levado pela
della Spinetta era fiel e apaixonado e foi preso por causa da
m ulher. Pela sua esposa o terrível Spadolino se fez assaltante,
M orcino ladrão, Castagna
am ante.
envenenador.
~~~
112 :fr~!~ 113
:if;1!Jt.
A vaidade dos delinqüentes supera à dos artistas, dos capaz de cometer um homicídio, indicou o sacerdote que
literatos e das mulheres galantes, Na cela de La Galla encon- saiu da igreja e pouco depois, em pleno dia, o matou. Matou
trei escrito pela mão dele: "Hoje, 24 de março, La Galla apren- só para provar que era capaz de matar.
deu a fazer as meias", Crocco procurava salvar o irmão, dizen-
Os bandos de ladrões ingleses, disse Mayhew, cotejam
do: "Senão a estirpe de Crocco será perdida", A denúncia
um com os outros os seus golpes. Gabam-se de superar o
capital, a própria condenação, não comoviam Lacenaire,
rival; garantiriam, se pudessem, as páginas dos jornais.
como a crítica de seus sofríveis versos, e o medo do desprezo
Cotto as prostitutas, dividem-se em vários graus profis-
, público, Disse ele: "Não temo ser odiado, mas ser desprezado",
sionais; atribuem-se pertencer a um grau superior, e a frase "Você
Satisfazer a própria vaidade e brilhar no mundo é o
é mulher de uma lira" é tida como ofensa máxima. Também nas
que mal se chama "figurar"; é a causa mais comum dos mo-
prisões, os ladrões de milhares de liras riem do ladrãozinho vulgar.
dernos delitos, Denaud e sua amante mataram, ele a esposa,
Os homicidas, ao menos na Itália, acreditam-se superiores aos
ela o marido, para poderem se casar e conservar a "reputação"
ladrões e aos assaltantes. Os falsários se crêem superiores aos
no mundo. O equivocado ponto de honra: não poder pagar
homicidas e evitam contatos com eles. Por outro lado, os
;. suas dívidas, foi o ponto de partida dos crimes de Faella.
,.
J
114
~I~-
!~~-
lustrar-lhe os sapatos. Ledue matou um amigo porque o con-
115
iIi
, ..
.l't.;,
.; ..
'.;-:t.
~';
d e n a ra p o r ro u b a r só um a c a ix a d e fó s fo ro s . M ilite llo , por m e s m a c o is a . G a le to a s s a s s in o u u m a m e re triz p a ra fu rta r, e c o m o
um a pequena o fe n s a d o c o m p a n h e iro d e in fâ n c ia , m e d ito u e s ta s ó tiv e s s e u m re ló g io , d e ra iv a c o m e u a c a rn e d e la . C a rp in -
s o b re e la e d e p o is o m a to u , achando q u e e le m e re c ia a m o rte . te ri, p a s to r e c ria d o r d e p o rc o s , d ó c il e b o m a té o s 1 8 a n o s ,
s e n d o in s u lta d o p o r u m c o m p a n h e iro , to m o u -s e d e re p e n te fe ro z
A m esm a te n d ê n c ia s e m o s tra nas p ro s titu ta s . D is s e
P a re n t: " d ir-s e -ia que o senso d a p ró p ria b a ix e z a excede o a a rre b e n to u -lh e a cabeça. T o m o u -s e s a lte a d o r, c o m e te u 29
o rg u lh o e o a m o r p ró p rio d e la s q u e le v a m a u m g ra u e x c e s s i- h o m ic íd io s e m m e n o s d e n o v e a n o s e m a is d e c e m a s s a lto s .
116 117
-l-
..~ ;,-:-s u a sed e n atu ral, em q u e n ão só se p ro jeta m as se u su fru i o M ich el o b serv aram u m p reso q u e, d o en te, jo g av a a m ag ra
-}J- ração d e so p a o u v in h o , até q u e m o rreu d e in an ição . B eau -
d elito , e p ara m u ito s é o ú n ico e v erd ad eiro d o m icílio .
seg u i era d e tal fo rm a m erg u lh ad o n a p aix ão d o jo g o a p o n to
A d icio n e-se en fim q u e o b ar é o b an co e b an q u eiro fiel,
d e esq u ecer-se d a ex trem a ex ecu ção q u e o esp erav a. A co n -
em m ão s d o q u al o d elin q ü en te d ep o sita o ren d im en to m al
teceu ao b an d o d e L em aire jo g ar p o r d o is d ias em seg u id a
p erceb id o . E m 1 8 6 0 , em L o n d res, co n tav am -se 4 .9 3 8 b ares, em
q u e eram en co n trad o s só lad rõ es e p ro stitu tas. E m 1 0 .0 0 0 crim es i
j.
sem p arar. E m 3 .2 8 7 h o m icíd io s
fo ram cau sad o s
e ferim en to s
p elo jo g o . A s p ro stitu tas
n a Itália, 1 4 5
são ap aix o n ad as
san g ren to s n a F ran ça, 2 .3 7 4 fo ram co m etid o s n o s b ares, E m
p elo jo g o d as cartas, esp ecialm en te p ela tô m b o la.
4 9 .4 2 3 crim in o so s d e N o v a Y o rk , 3 0 .5 0 7 eram alco ó latras; 8 9 3
.~~ ão en tre 1 .0 9 3 p reso s d a A lb ân ia. E m T o rin o , d ez an o s atrás, ! tin h a
O falsário D u ran d
ed u cad o
n arro u ao m éd ico co m o su a m ãe o
n o jo g o , n o q u al ela d issip av a seu s b en s.
;o rg an izav a-se u m b an d o co m o ú n ico o b jetiv o d e ro u b ar g arrafas. I "Q u an d o ela p erd ia, co m íam o s tristem en te o p ão seco . D ep o is
É ao álco o l q u e p ro v av elm en te d ev em o s atrib u ir certas
d o en ças q u e v em o s rep etir n o s d elin q ü en tes e n as p ro stitu tas.
L d e u m a n o ite d e jo g o , co stu m av a m an ter-m e aco rd ad o to d a
a n o ite p ara ten tar sen ão o p razer d e g an h ar, ao m en o s o d a
D isse P aren t-D u ch atelet: "O s rico s ab u sam d o ch am p ag n e, o s
v itó ria. E sto u aq u i p o rq u e tiv e o ô n u s d e rep arar a p erfíd ia
p o b res d o ag u ard en te, p rim eiro p ara afastar as tristes lem b ran ças,
d e u m a carta. P ara m im as cartas eram sereias; a v ista d e
d ep o is p ara co n q u istar \Im m o m en tân eo v ig o r, n ecessário à
u m a "d am a" m e cau sav a u m sen tid o m ág ico ; era p ara m im
118 119
r
8 . O u tr a s te n d ê n c ia s
m a is a g r a d á v e l d o q u e q u a lq u e r p in tu r a . Q uando m a is a r d ia
o jo g o , e u , a p e r ta n d o a m ã o n o c o ra ç ã o , s e n tia - m e tr e m e r
O s d e lin q ü e n te s tê m , e m b o r a m e n o s v iv a , o u tr a s te n -
d e a n s ie d a d e . S e a s o r te s e to r n a v a a d v e rsa , e u , s e m s e n tir ,
d ê n c ia s , c o m o à m e s a , a o e r o tis m o , à d a n ç a . U m d o s p o u c o s
e n te r r a v a as unhas n a c a r n e ." E a s s im d iz e n d o , m o s tr a v a ao
la d r õ e s q u e m e c o n f e s s a r a m s e u c r im e e r a u m to s c a n o q u e a o
m é d ic o o s s in a is d a a n s ie d a d e , q u e o tin h a jo g a d o n a p r is ã o . d is c o r r e r s o b r e c o m id a , c o m e ç a v a a s o lu ç a r e m e d iz ia q u e h a v ia
A p a ix ã o p e lo jo g o e x p lic a a c o n tín u a c o n tr a d iç ã o que com eçado a ro u b a r p a ra c o m p ra r m a c a rrã o . C h a n d e le t não
m e x e c o m a v id a d o s m a lf e ito r e s , a q u a l, d e u m la d o m a n if e s ta p o d ia f ic a r q u ie to n o c á r c e r e , a n ã o s e r c o m a a m e a ç a d e lh e s e r
a a v id e z d e s e n f r e a d a p e la s c o is a s d o s o u tr o s , d e o u tr o o des- d im in u íd a a c o m id a . Os la d r õ e s jo v e n s , d iz ia F a u c h e r,
c u id o e m d is s ip a r o m a l c o n q u is ta d o d in h e ir o , ta lv e z , ta m b é m c o m e ç a ra m ro u b a n d o f r u ta s e c a rn e ; m a is ta r d e pequenas
p o rq u e m u ito f a c ilm e n te c o n q u is ta d o . E x p lic a com o quase m e r c a d o r ia s , q u e r e v e n d ia m p a r a c o m p r a r d o c e s . N o v e e n tr e
to d o s o s m a lf e ito r e s , m a lg r a d o possuam , à s v e z e s, e n o rm e s d e z la d r õ e s to r n a r a m - s e ta is p o r s e r e m s e d u z id o s p e lo s m a is
so m a s, p e rm a n e c e m q u a s e s e m p r e p o b r e s . A o jo g o d o f u r to , v e lh o s c o m a o f e r ta d e f r u ta s o u d e p ã o , s e f o s s e m m is e r á v e is , e
e sc re v e M a y h e w , p e rd e -se s e m p r e . T u d o te r m in a e m o r g ia e s e f o s s e m r ic o s , c o m m e r e tr iz e s , im p u ls io n a n d o - o s a o d e lito .
em despesas com a ju s tiç a . M ayhew conheceu um la d r ã o L u c k e s e f e z a s s a s s in o p e la p a ix ã o p o r b a ile s . H o lla n d e C o s ta
g e n ia l, q u e tin h a n a m e n te o s m é to d o s m a is g e n ia is d e f u r to , f o r a m d a n ç a r n a n o ite d o h o m ic íd io c o m e tid o . M u ito s e m P a r is
c o n h e c ia to d o s o s ju íz e s d a I n g la te r r a , to d o s o s a r tig o s do e e m T u r im f iz e r a m - s e la d r õ e s p a r a p a g a r e n tr a d a e m e s p e tá c u lo s .
C ó d ig o Penal e a h is tó r ia d o s d e lito s d o s ú ltim o s 25 anos, i . R a r a m e n te o d e lin q ü e n te e x p e r im e n ta v e r d a d e ir a p a i-
I
m as nem p o r is s o a m e a lh o u u m s ó to s tã o . I x ã o p e la m u lh e r . Seu am or é m a is c a r n a l e s e lv a g e m , um
com um
P o r o u tr o
p a re c e
la d o , a quem e s tu d a
n ã o s e r a a v id e z p o r s i u m im p u ls o
a v id a d o m a lf e ito r
a o d e lito . !
I a m o r d e b o r d e l, q u e s e v e r if ic a n u m
em L o n d re s d o is te r ç o s
p r o s tíb u lo ( c e r ta m e n te
d e s s e s s ã o c o v is d e m a lf e ito r e s ) e
A a v id e z e n tr a apenas p o rq u e s e m d in h e ir o n ã o p o d e r ia m I.
f. te m p o r e s p e c ia l c a r a c te r ís tic a a p r e c o c id a d e e a in te r m itê n c ia
s a tis f a z e r à s b r u ta is p a ix õ e s . O a v a r e n to é in c lin a d o a o c r im e . q u e o s f a z p a s s a r r a p id a m e n te d o a m o r a o ó d io m a is in te n s o .
P a r e n t c a lc u la v a s e r e m r a r ís s im o s o s c a s o s d e p r o s titu ta s E x e m p lo c lá s s ic o é o d e A s s u n ta d e A n g e lis , q u e . m a l s e c a s o u
e n r iq u e c id a s ; a m a io r ia te r m in a n o s a b r ig o s d e m e n d ic id a d e . E s s a jo g o u - s e n o s b r a ç o s d e s e u a n tig o a m a n te . Q uando e s te c a iu
I
a m a n te s e a p r e s e n ta , m a ta - o c o m o ito p u n h a la d a s .
d a s p r in c ip a is c a u s a s d a m o r te p r e c o c e d e le s . E la é n o tá v e l p o r q u e
in d u z in d o a v e r s ã o e s u s p e iç ã o n a s o u tr a s p e s s o a s é o b s tá c u lo a o s L o c a te lli c o n h e c e u u m g a tu n o q u e a o s n o v e a n o s ro u -
s e u s p r o p ó s ito s d e s o n e s to s . T o d a v ia , d e v e ta m b é m p a r tic ip a r a b a v a , n ã o p a r a s a tis f a z e r g u lo d ic e , m a s d a r p r e s e n te s às suas
n a m o r a d in h a s , d e ta l f o r m a q u e d e f u r to e m f u r to to r n o u - s e
f a lta d e c u id a d o d a f a m ília , e s o b r e tu d o a in é r c ia e a p a tia , q u e é
u m d o s e s p e c ia is c a r a c te r e s d e le s , c o m o é d o s p o v o s s e lv a g e n s .
I. a o s q u in z e a n o s u m d o s m a is d e s c a r a d o s h a b ita n te s d a s p r i-
C r e io d e v e r te r tr a ç a d o a q u i e s te c a r á te r d o s d e m e n te s , p o r q u e s õ e s e d o s b o r d é is , e c o m p r o n tu á r io a b e r to n a ju s tiç a , q u e
b e m s e h a r m o n iz a c o m u m ju s to p r o v é r b io , s e g u n d o o q u a l a f a r ia in v e ja a o m a is f ic h a d o m a lf e ito r . O g a tu n o ro u b a v a p a ra
p u r e z a d o c o r p o s e r ia o i! íÍ c io d a p u r e z a d o â n im o . a lim e n ta r s u a in te m p e s tiv a te n d ê n c ia à lib e r tin a g e m , com a
120 121
r-
fuga im petuosa dos seus quinze anos e com a paixão que um A lgum as raras vezes, tam bém os assassinos com uns,
de sua idade teria aplicado nos m ais clam orosos e solícitos por exem plo, Franco, M ontely, Pom m erais, D em m e, parece-
passatem pos da adolescência. ram nutrir um afeto único e potente e um am or verdadeira-
B runo G alli, com apenas vinte anos m ata a golpes de por- m ente ideal, com o m ostraram em poucos versos de bandidos
rete a própria benfeitora e rouba sua casa. Para quê? Para dar sicilianos e corsos, m as casos raríssim os, aos quais podem os
presentes a um a m ulher da vida. C om m ãos ainda ensangüen- dar pouco crédito quando pensam os no estranho sentim enta-
tadas afogava sua libido em ter os braços de um a prostituta que lism o daqvele tatuado, do qual dem os alguns traços.
" presenteava com algum as quinquilharias roubadas da assassinada. M enos óbvio é encontrar o am or platônico e entre os
O utro hom icida e assaltante, certo G uido, com pouco m ais ladrões; M ayhew diz que os ladrões de L ondres não cantam
de vinte anos, depois de haver consum ado o hom icídio de um canções obscenas, m as as sentim entais. A s ladras, unidas sem -
velho casal, para depredá-los de tudo que possuíam , corre afanoso pre em m atrim ônio m ais ou m enos legítim o, am am ver seus
e sequioso ao bordel em que m orava sua am ante e a faz depositária. am antes ornados de correntes de ouro, enquanto elas se ves-
tem bem , e os ajudam quando estão doentes ou presos, e lhe são
Faz apenas poucos m eses, nossos tribunais
de três jovens, precocem ente depravados,
ocuparam -se
os quais foram I- fiéis, quando a prisão não for m uito duradoura. A s prostitu tas
l
,<" repelidos de um bordel por estarem desprovidos de dinheiro,
"',.
têm um am or que as distingue das m ulheres norm ais. São apaixo-
;:: agrediram e depredaram do relógio e de poucas liras o prim eiro nadas pela dança, pelas flores e pelo jogo. São dadas ao tribadism o.
~
~. que encontraram e precisam ente um cocheiro de pequena E ntretanto, esses prazeres do jogo, da gula, do sexo, etc., e
;~; cidade. O assassino T avolino não podia estar um dia sem m ulher. até o da vingança, são interm ediários de um m áxim o, que m ais
~~~ C ibolla, desde garoto, roubava para poder esbanjar nos bordéis. do que todos predom ina o da orgia. E sses seres tão avessos à
D o m oedeiro falso A m élio, constava num processo, ter tantas sociedade têm um a estranha necessidade de vida social, um a vida
"" de alegria, barulhenta, agitada, sensual, no m eio de seus cúm plices,
am antes, que poderiam form ar um a fila de um a cidade a outra"
W olff, logo que com etia um assassinato, instalava-se a verdadeira vida de orgia. C reio que e os prazeres da gula e do
em um bordel e fazia desfilar todas as prostitutas. D unant, vinho sejam um pretexto para dar-lhes desafogo, por isso, m algrado
perguntado se ele am ava deveras a m ulher cujo m arido tinha .•. o evidente perigo, apenas com etido um hom icídio, ou efetuada
.",,',. um a evasão após um a longa prisão, retom am àquele lugar.
m atado, respondeu: "O h! Se você a tivesse visto nua!". G ui-
guand m atou o pai e a irm ã para gastar o pouco dinheiro que
I""•...•."
.' "',..
.. "-,,.,," T am ~ém as prostitutas têm necessidade de agitação e estré-
, possuíam com um a prostituta. H ardouin, M artinati e Paggi, pito, de associar-se e até na penitência conservam a num erosa
~I-~"
122 123
vi."....
n e le s, c o m o ta m b é m n a s p e sso a s n o rm a is. C o n tu d o , o que O u tro c a so : B ru n o G a lli, a ta c a d o d e lo u c u ra c o m p a re -
d istin g u e a s p a ix õ e s d e le s é a fo rm a in stá v e l, se m p re im p e - sia , c o n fe sso u n a su a v id a p u b lic a d a n o m e u Diário do Hospício
tu o sa e v io le n ta , p a ra sa tisfa z e r à p rim e ira q u e v ie r, m e n o s de Pesara: " A s g ra n d e s d e sv e n tu ra s e n d u re c e m o c o ra ç ã o . E u
to d o p e ilsa m e n to d o fu tu ro . P a re n t, a o sa b e r d a g ra v id e z d a q u e c h o re i a o v e r u m a g o ta d e sa n g u e , a g o ra fic o im p a ssív e l
irm ã , d isse : " Q u a n d o v ie r o m e n in o , e u o m a ta re i; é um a à v ista d o m a is a tro z e sp e tá c u lo " . U m o u tro , L .M ., e sc re v e u :
c o isa c h a ta le v á -lo a o b a n h o , m a s te n h o m in h a s id é ia s fix a s" . " O u ç o fa la r d e fe lic id a d e d o m é stic a , d e a fe to re c íp ro c o e n tre
E le s n ã o v ê e m a s c o n se q ü ê n c ia s d o d e lito , v ê e m só o p e sso a s, m a s e u n ã o p o sso p ro v a r c o isa a lg u m a d isso " .
p re se n te , o ú n ic o p ra z e r d e d e sa fo g a r su a re v o lta d a p a ix ã o . D e sse C o n tu d o , o s a lie n a d o s ra ra m e n te tê m p a ix ã o p e lo jo g o
la d o , o h o m e m n ã o h a b itu a d o a o c rim e e q u e o c o m e te p o r u m a e p e la o rg ia , fre q ü e n te m e n te o s m a lfe ito re s a d q u ire m ó d io
fo rte p a ix ã o , a v iz in h a -se a o d e lin q ü e n te c o m u m . L e m a ire d isse p e la s p e sso a s q u e rid a s, c o m o m u lh e r e filh o s. E n q u a n to o
a o ju iz q u e sa b ia b e m q u e c a iria n a s m ã o s d e le , m a s n o e n ta n to d e lin q ü e n te n ã o p o d e v iv e r se m c o m p a n h ia e a p ro c u ra , m e s-
. tin h a d e sfru ta d o d a v id a , e q u e n ã o te ria a c e ita d o a v id a m o c o m risc o , o s d e m e n te s p re fe re m se m p re a so lid ã o e fo g e m
acom panhada d e p o ssib ilid a d e d e d e sfru ta r. E le tin h a a p e n a s d o c o n v ív io c o m o s o u tro s. A s su b le v a ç õ e s sã o m u ito ra ra s
n e c e ssid a d e d e d in h e iro , te n ta v a u m g o lp e a in d a o m a is d u v id o so . n o s m a n ic ô m io s ta n to q u a n to sã o fre q ü e n te s n a s p risõ e s.
D u ra n te a p rim e ira n o ite d e p risã o , o a ssa ssin o L a c e -
n a ire se o c u p a v a , n ã o d o p ró p rio fa ta l d e stin o , m a s d a c a m isa
1 0 . C o m p a ra ç ã o com o s se lv a g e n s
i'.•..
d e fo rç a q u e lh e c o m p rim ia o s rin s, d a c o rre n te p e sa d a ; e sta s
. e ra m a s d o re s q u e . lh e . a rra n c a v a m p ro te sto s c o n tra a h u m a n i- M u ito m a is q u e a o s d e m e n te s, o d e lin q ü e n te , e m re la -
d a d e . L a T ro ssa re llo fa la , e m u m a c a rta a o c o m issá rio T o rti, ç ã o à se n sib ilid a d e e à s p a ix õ e s, a v iz in h a m -se a o s se lv a g e n s.
d e u m a d e c isã o d e a n d a r re sig n a d o d e e n c o n tro à m o rte o u T am bém a se n sib ilid a d e m o ra l é a b ra n d a d a o u a n u la d a nos
a o e rg á stu lo , e d e p o is su b ita m e n te n e m o d e se jo d e u m x a le se lv a g e n s. O s C é sa re s d a ra ç a a m a re la se c h a m a m T a m e r-
p a ra fa z e r o tra je to n o in v e rn o ! lõ e s; o s m o n u m e n to s d e le s sã o p irâ m id e s de cabeças hum a-
n a s se c a s. D ia n te d o s su p líc io s c h in e se s, D io n ísio e N e ro
fic a ria m p á lid o s.
9 . C o m p a ra ç ã o com o s d e m e n te s
" T o d a v ia , o n d e to d o s m a is se e x c e d e m é n a im p e tu o si-
P o r m u ita s d e ssa s c a ra c te rístic a s, a p ro x im a m -se o s d e lin - d a d e e in sta b ilid a d e d a s p a ix õ e s. O s se lv a g e n s, d isse L u b b o c k ,
q ü e n te s d o s a lie n a d o s, c o m o s q u a is rê m e m c o m u m a v io lê n c ia tê m p a ix õ e s rá p id a s, m a s v io le n ta s. T ê m a c a ra c te rístic a das
e a in sta b ilid a d e d e a lg u m a s p a ix õ e s, a fre q ü e n te in se n sib ilid a d e c ria n ç a s, c o m a s p a ix õ e s e a fo rç a d o s h o m e n s. O s se lv a g e n s,
d o lo rífic a e m a is a fe tiv a , o se n so e x a g e ra d o d o " e u " e a lg u m a s d isse S c h a ffh a u se n , e m m u ito s a sp e c to s sã o c o m o a s c ria n ç a s;
v e z e s a p a ix ã o d o á lc o o l e a n e c e ssid a d e d e re c o rd a r o c rim e se n te m v iv a m e n te e p e n sa m pouco; am am o jo g o , a d a n ç a ,
c o m e tid o . A lto n , e p ilé p tic o , a tra i u m a m e n in a e a fa z e m p e d a - o s o rn a m e n to s; sã o c u rio so s e tím id o s. N ã o tê m m u ita c o n s-
ç o s; v o lta d e p o is p a ra la v a r a s m ã o s e e sc re v e n o se u d iá rio : c iê n c ia d o p e rig o . N o fu n d o , sã o v e lh a c o s, v in g a tiv o s e c ru é is
" H o je , m o rta u m a m e n Ílla , o te m p o e ra b e lo e c a lm o " . n a v in g a n ç a . U m c a c ic o , v o lta n d o d e u m a e x p e d iç ã o m a lo -
124 125
-f'
." " ",','o
grada, esrava com seu filho nas pernas. Para afogar a raiva,
pega-o pela perna e o arrem essa contra a rocha.
Tam bém nesses é fortíssim a a paixão pelo jogo, sem
que seja viva a avidez. Tácito conta que os bárbaros germ anos,
depois de haver jogado nos dados todos os seus haveres, che-
gavam a vender até a si próprios. O vencedor, ainda que
_, fosse m ais jovem e m ais forte do que o adversário, deixava- I ,.'
,;':
;c- esposos ficam unidos até que venha o filho; depois podem A credita-se há m uito tem po que os delinqüentes sejam
''':r
t;
,lI''''-
dente, um negro selvagem vende não só os com patriotas,
m as até a m ulher e os filhos.
Lacenaire, Lem aire, M andrin, G asparone ou delinqüentes
das grandes cidades, encontram um m odo de liberar-se desse
.~"~
.•. últim o freio ao im pulso das grandes paixões. A m aior parte
O s indígenas da A ustrália foram m ais destruídos pelo
deles porém , m orm ente os do interior do país, é constituída
crim e do que pelas arm as européias. O s m auris, de 120.000
de ateus, em bora tenha sido form ada em favor deles um a
em 1849 eram , em 1876,47.060; o álcool foi a ruína deles e
religião sensual e acom odatícia que faria do D eus da Paz e
explica a índole perniciosa aparente das doenças deles. E
da Justiça, um benévolo tutor dos crim es.
aqueles povos em que a selvageria e a religião têm im pedido
de conhecer as substâncias inebriantes que substituíram o C asanova observa que todos aqueles que vivem de
~"". atividades ilícitas confiam na ajuda de D eus. Todo ladrão
álcool por outros m eios singulares de em briaguez.
'1 tem sua devoção, diz o provérbio. E nós, em 20480 tatuagens
" A preguiça é ainda um dos caracteres dos selvagens.
O s neocaledônios odeiam qualquer trabalho: "Sofrer por
...
i;.
nos delinqüentes encontram os 238 com sím bolos religiosos.
t
N a gíria, D eus é o "Prim eiro de M aio", a alm a a "perpétua".
sofrer é m elhor m orrer sem trabalhar". A ssim eles dizem ,
O que m ostra a crença deles em D eus e na im ortalidade da
repetindo quase literalm ente a confissão de Lem aire. -i'.,
." :~
~ T ,;;~
.'''':'t''''"
alm a é que até na gíria espanhola a Igreja é a "Saúde".
O s assassinos alem ães acreditando-se seguros de toda
-~ suspeição costum am defecar no local em que com etem o
,1':~,
;;~
'~~
126 127
crim e. O s ciganos, após o hom icídio, acreditam obter o perdão
ao cárcere de Pisa, recusaram obstinadam ente de com er na
divino vestindo por um ano a m esm a cam isa usada na hora
sexta-feira de quaresm a.
do delito. E m um a curiosa canção, em gíria, divulgada por
B iondelli, um ladrão responde a quem lhe objeta com o o A m aior parte dos ladrões de L ondres, disse M ayhew ,
furto ofende os princípios religiosos, que um santo ladrão, confessa acreditar na B íblia. N ão é m uito; os ladrões e os
São D im as, crucificado junto com Jesus C risto, foi para o cam orristas napolitanos faziam m agníficos dons a São Pascoal,
céu, a convite de Jesus. T ortora, que tinha m atado doze solda- do que se enriquecia o belo convento. H á poucos anos atrás,
dos com as próprias m ãos e tam bém um padre (m as dizia que o arcebispo publicava, com o nos revelou o patriota V incenzo
tinham sido excom ungados), achava-se invulnerável, porque M aggiorani, nas portas da catedral, a "com ponenda", isto é,
levava um a hóstia no peito. a lista dos preços de indenização à Igreja, para purgar qualquer
crim e com etido.
O s fam igerados incendiários da França tinham adotado
um a série de ritos religiosos para o nascim ento e o casam ento O s assassinos B ertoldi, pai e filho, costum avam assistir
dos m em bros do bando. T inham , um pouco por paródia, um à m issa, prostrados de joelhos, com o olhar para baixo. U m
pouco de sério, seu tipo de capelão, que presidia às núpcias, napolitano de24 anos,.que m atou seu pai a golpes de porre te ,
balbuciando algum as orações em latim . A cerim ônia nupcial era devoto de um a certa "Senhora da Serra": "E certo foi
consistia, além dessas orações, no dever im posto aos dois que ela m anteve m inha m ão, pois ao prim eiro golpe, m eu
esposos de saltar sobre dois bastões cruzados, suspensos pelo I pai caiu por terra". Q uando
despedaçou
M aria Forlini, que estrangulou
um a m enina para se vingar dos pais dela ou pro-
e
chefe do bando;
esposar-se.
este os interrogava se am bos pretendiam
I nunciar a pena capital, virou a seu advogado: "A m orte não
é coisa algum a; quero salvar m inha alm a. Salva m inha alm a,
O curioso era que o divórcio era severam ente proibido
1
e só passou a ser perm itido após ser legalm ente adotado pelas iI o resto não m e im porta".
O bando M anzi era carregado de am uletos. O bando 1, Y idocq encontrou um a dupla de ladrões que m andou
C aruso colocava no bosque e nas grutas im agens sacras, dian- rezar um a m issa por m elhores dias, pois há m eses não conse-
te das quais acendia velas. V erzeni, estrangulador de três m u- ..;--~ guia sucesso. G iovanni M io e Fontana, antes de m atar o ini-
lheres, era dos m ais assíduos e sinceros freqüentadores da ;1; m igo deles iam confessar-se. M io, disse após o hom icídio:
,l~"
~•••.'t "D eus não quis incom odar-se, nem o padre; porque vou m e
igreja e do confessionário; ele veio de um a fam ília não só , .. 0",
religiosa, m as beata. O s com panheiros de L a G ala, levados .'i~ incom odar?" M arc, um jovem parricida napolitano, carregado
". de am uletos, confessou a m im e a m eus alunos que para exe-
128
129
.~.:,1
,,.Ci'>
"!I' H ',
4: ,'.1;',
'#< :::;"',
curar o horrível crim e, invocou a ajuda da "Senhora da Serra". +.....-.:;,.
V igna B i, antes de m atar o m arido ajoelhou-se para orar à .~'L~:'~ tada, que lhe desse a com unhão com a hóstia consagrada .
. 'I.~ ._ .~ U m ladrão, form ado na Escola La Salle, escondia seus furtos
V irgem M aria, para que lhe desse força para executar o crim e.
;.[:t;,.. atrás do quadro de La Salle, o fundador da escola que ele
M ichielin, recebendo o plano de um assassinato, disse ao .....•..
fora educado. Ele acreditava ser m ais seguro seu furto sob o
~ com parsa: "V erei e farei aquilo que D eus te inspirou". G all
patrocínio desse m eio-santo.
conta sobre um ladrão que roubou para erguer um a capela e >, ...;.
~ M uitas das prostitutas, disse Parente, assum em a posi-
roubou m ais para m obiliá-la. C onta ainda de um bando de
:~;~.:
<-.",~ ção de irreligiosas com outras de sua espécie e colegas de
assassinos que acreditava rem ir seus assassinatos recitando ....:
o padre-nosso para cada vítim a, bem com o de um certo Eltis, orgias, m as no fundo não são assim , conform e atestam nu-
que, após m atar sua m ulher, acreditava-se isento de todo m erosas observações. U m a delas estava no fim da vida, e o
pecado m andando rezar um a m issa. ~I,
•••.
~ sacerdote, recusando-se a entrar na casa infam e, fez com
itI'-
M asini, com os seus, encontrou três conterrâneos, entre eles '\:.:, .••
,".-~\
qüentes a um freio frágil e relaxado, que não im pediria um
~,
um sacerdote; de um cortou o pescoç.o com um facão m al cavalo caprichoso enfurecido e rebelado de ir à sua baia, des-
afiado, e ao sacerdote/ordena com a m ão ainda ensangüen- prendendo-se de tudo que o fizesse m anter-se na linha, que
: ..~,t"
I,
~ não o guiasse, portanto, para o bem ou para o m al, se não
~~'
130 ,~.
-. ,:1Pir<to<
._ ...•.~;: 131
..f:=;,~"
.~.rp~"
""':.;
O ',,
'"o
~ '-li"'"'
talvez para iludir quem passa por perto. Q uanto ao ateísm o ,
~ 'io
..I'l'
12. IN T E L IG Ê N C IA E
., ~.
IN ST R U Ç Ã O D O S D E L IN Q Ü E N T E S
1. D ados estatísticos
;..,;'
'-:l.i'it.
j'Tk- dida do crânio, creio que se chegaria a igual resultado, ou
t.'.'.:~
;-l~ ; seja, encontrar-se-ia um a m édia inferior ao norm al.
!:. li
• 0 ,7 5 % - c o m in te lig ê n c ia p é s s im a ; O s c ig a n o s , e m b o ra in d u s trio s o s , sã o se m p re p o b re s,
• 2 ,7 1 % - c o m i n t e l i g ê n c i a n ã o id e n tific a d a . p o rq u e n ã o g o s ta m d e tra b a lh a r, s e n ã o o q u a n to b a s ta p a ra
n ã o m o rre r d e fo m e . O s la d rõ e s , e s c re v e Y id o c q , n ã o q u e re m
a to s o u q u a lq u e r tra b a lh o q u e e x ija m e n e rg ia e a s s id u id a d e .
Ig n o ra -se p o ré m q u a is c rité rio s fo ra m a d o ta d o s p a ra
N ão podem e não sabem fa z e r o u tra c o is a a n ã o s e r ro u b a r.
se chegar a e s s a d e lic a d a c la s s ific a ç ã o .
L e m a ire d iz ia a o ju iz : " e u fu i s e m p re o c io s o ; é v e rg o -
F e r r u s , e m 3 .6 3 2 e n c a r c e r a d o s c h e g o u a e s s e s r e s u l t a d o s :
n h o s o , e u e n te n d o , m a s e u s o u m o le n o tra b a lh o . P a ra tra b a -
lh a r é p re c is o e sfo rç o : n ã o p o sso e n e m q u e ro fa z ê -lo . N ã o
• 1 .6 0 7 - c o m b o m t a l e n t o ; s in to e n e rg ia a n ã o se r p a ra fa z e r o m a l. E u n ã o n a s c i p a ra
o s in c e n d iá rio s , e 4 5 p o r 1 .0 0 0 e n t r e o s e s tu p ra d o re s . u m s u p líc io . J a c q u a rd m a to u o p a i p o rq u e o re p re e n d ia p e la
s u a v a d ia g e m .
N ão é sem ra z ã o que quase to d o s , com o p re te n d e
T o m p s o n , s e ja m d e e s c a s s o in te le c to , o u d e m e n te s , o u im b e c is É ta lv e z p o r is s o q u e q u a s e to d o s o s g ra n d e s m a la n -
(e le s q u e s e to rn a m d e m e n te s em 2 % e im b e c is e m 1 2 % ), d ro s , ta m b é m o s d e ta le n to , re s u lta m d e p ro c e s s o s d e te re m
I 135
L
134
"1'' '-
3 . In c o n s tâ n c ia m e n ta l E s s a s c o n fis s õ e s fá c e is d e p e n d e m , e m g ra n d e p a rte ,
são de um a
N ic h o ls o n
m o b ilid a d e e de um a
fa la d e u m p ris io n e iro ,
c re d u lid a d e s in g u la r.
a o q u a l o c o m p a n h e iro
I
I •
ao m enos
p a re c e
não a v a lia m
a te n u a d a , d ilu íd a .
a g ra v id a d e d e la , q u e s e m p re lh e
O s m a io re s d e lin q ü e n te s , s e ta m b é m u s a m d e g ra n d e
E s ta in c o n s tâ n c ia m e n ta l e x p lic a p o r q u e o s la d rõ e s
h a b ilid a d e p a ra p re p a ra r o s d e lito s , n ã o s a b e m m a is d o q u e
fa la m , e a té c o m a p o líc ia , s o b re s e u s d e lito s e c o m o d iz o
g u a rd á -la p a ra m a is ta rd e e te rm in a m , e m b ria g a d o s p e la im -
p ro v é rb io com um n o s m e io s c a rc e rá rio s :
p u n id a d e , p o r p e rd e r to d a p ru d ê n c ia e tra ir-s e . T e m o s ta m -
b é m n o F a lla c i u m a p ro v a s e g u ra .
" O p ró p rio ré u , s e m q u a lq u e r in s is tê n c ia , .~
~ - ; ,~ -
S ã o , e m s u m a , p o u c o ló g ic a s e im p ru d e n te s ; e não só
in a d v e rtid a m e n te s e m a n ife s ta " (A rio s to ) . -o i " '_
m u ita s v e z e s h á d e s p ro p o rç ã o e n tre o d e lito e a c a u s a , m a s
- h á , q u a s e s e m p re , u m e rro n a e x e c u ç ã o , e rro d e q u e , c o m
136 137
-l-
p o u c a s in c e r id a d e , o s a d v o g a d o s a p r o v e ita m - s e p a ra d e m o n s- s a f a d o s d o q u e h á b e is e s e a s c o m b in a ç õ e s d e le s s ã o e n g e -
tr a r a in o c ê n c ia d e s e u s c lie n te s . P o r m a is q u e o d e lin q ü e n te I nhosas, f a lta m - lh e s a c o e r ê n c ia e a te n a c id a d e .
s e ja h á b il, h á n a e x e c u ç ã o d o c r im e , a im p r e v id ê n c ia , que é
I
I A penas a tin g e m o o b je tiv o im e d ia to , q u e é f r e q ü e n te -
p a r te d e s e u c a r á te r . A v io lê n c ia e a p a ix ã o p r e p o te n te põem m e n te o d a s a tis f a ç ã o d e u m a n e c e s s id a d e m a te r ia l m om en-
um véu a o c r ité r io . A té o p ra z e r d e e x e c u ta r o d e lito , de tâ n e a , a c a b ru n h a m -se , a té q u e n o v o s a p e tite s o s la n c e m a
\
a p r o v e ita r a e x e c u ç ã o d e le , d e c o m u n ic a r a o s o u tr o s a n o tíc ia , I novos e m p r e e n d im e n to s . P o r é m , n ã o é a s s im q u e s e f a z e m
s ã o c a u s a d e ta is e r r o s n a e x e c u ç ã o . f o r tu n a s . "
L a fa rg e , u m a e n v e n e n a d o ra , m andou a o m a r id o um a M u ita s v e z e s p a re c e e x tr a o r d in á r ia a h a b ilid a d e de
m a c a rro n a d a envenenada, m a s ju n to u um a c a r ta p e d in d o a lg u n s d e lin q ü e n te s . C o n tu d o , s e o lh a r m o s b e m , c e s s a to d a
a o m a r id o p a r a e x p e r im e n tá - la . N ão pensou q u e o m a r id o m a r a v ilh a . E le s s e d ã o b e m p o r q u e r e p e te m f r e q ü e n te m e n te
f o s s e in te r p r e ta r q u e fo sse só p a ra e x p e r im e n ta r . A lé m do os m esm os a to s . T am bém o s id io ta s , em um m o v im e n to
m a is , a c a r ta d e n u n c io u a a u to r a d o a tr o z d e lito . c o n tin u a m e n te r e p e tid o , podem p a r e c e r h a b ilís s im o s . E n tr e
R ognoni m a to u o ir m ã o e p ro c u ro u u m á lib i, m a s s e o s la d r õ e s , h á a q u e le s q u e s ó a ta c a m a s lo ja s e o u tr o s s ó a s
esqueceu d e la v a r a s m a r c a s de sangue n a p r ó p r ia ro u p a , c a s a s . A lé m d is s o , e n tr e e le s m e s m o s h á a s s u b d iv is õ e s do
1 c d e ix o u , d u r a n te a execução d o d e lito , a c e so o fo g o , q u e in f a m e tr a b a lh o . A s s im , Y id o c q f a la d o s la d r õ e s d e c a s a s q u e
l:' p o d e r ia c o n d u z ir o s p o lic ia is e o s v iz in h o s p a ra o lo c a l e e n tr a m num a a v e n tu r a , o u s e ja , te n ta m m u d a r d e e s p e c ia li-
...,~
.;: d e s c o b r ir o s tr a ç o s d o c r im e . E sse e rro é s e m e lh a n te ao d a d e . F a la a in d a d e o u tr o s q u e p r e p a r a m p o r lo n g o te m p o o
~~
.
de R o s s ig n o l, que g u a rd o u no seu baú duas b e n g a la s de d e lito , p e g a n d o u m a p a r ta m e n to v iz in h o .
••
M
s u a v ítim a .
E s c r e v e L o c a te lli q u e o s m a lf e ito r e s q u a s e s e m p r e tê m
F u s il f u g iu a te m p o d e p o is d e c o n s u m a d o o c r im e d e um m é to d o p r ó p r io e r e a lm e n te e s p e c ia l d e c o m e te r suas
ro u b o , tr o c a n d o de nom e e m s e g u id a , m a s d e p o s ito u o d i- v e lh a c a r ia s . N ã o to d o s , p o r e x e m p lo : o s a s s a lta n te s , ao espo-
n h e ir o ro u b a d o n a C a ix a E c o n ô m ic a e m s e u p s e u d ô n im o e lia r s u a s v ítim a s usam p a la v r a s a m e a ç a d o ra s que a c re n ç a
n ã o p ô d e d e p o is r e tir a r p o r te r d e p o s ita d o em nom e de pessoa p o p u la r s e m p r e p õ e n a b o c a d e le s . T a m b é m la d r õ e s h a b ilís -
in e x is te n te . O a s s u n to te v e q u e s e r c o m u n ic a d o à p o líc ia , s im o s e m a r r o m b a m e n to s , la d r õ e s q u e a o m a is le v e r u m o r
q u e id e n tif ic o u o a u to r d o r o u b o . m a n tê m - s e e m f u g a , e la d r õ e s q u e s e r ia m c a p a z e s d e in tr o -
d u z ir - s e e m u m a s a la d e c o n v e r s a ç ã o p le n a d e g e n te ; la d r õ e s
q u e tê m ta 'n ta le v e z a d e m ã o a ta l p o n to d e s e r e m c a p a z e s d e
5 . E s p e c ia lis ta s d o d e lito
ro u b a r a c a m is a d o c o r p o d e u m h o m e m s e m q u e e s te s e d ê
C o m e n ta - s e q u e s e o s m a lf e ito r e s c é le b r e s tiv e s s e m c o n ta d is s o , e d e p o is , e n tr e ta n to , n ã o te r a a u d á c ia d e tr a n s -
I
I')
a p lic a d o n o tr a b a lh o h o n e s to a m e s m a in te lig ê n c ia e p e rse - p o r a s o le ir a d e u m a c a s a o u d e u m a lo ja d e ix a d a s e m v ig ilâ n -
v e ra n ç a q u e a p lic a r a m n o d e lito , te r ia m c h e g a d o a a lta s p o s i- ..:~ : c ia . H á a in d a la d r õ e s que ro u b a m tu d o que chegar à sua
ções, m as não é o q u e a c o n te c e . E le s tê m g ra n d e ta le n to , .~'. m ã o , e la d r õ e s q u e n ã o s e d ig n a m a in c o m o d a r - s e c o m c o is a s
m a s é p a r a o d e lito ; é RÓ d e lito q u e e le s o a p lic a m . S ã o m a is '~
~ d e p o u c o v a lo r , c o m o ta m b é m la d r õ e s e s p e r tís s im o s n o c o m e -
,~.
~
138
~. IIf' 139
'7j!'"
I
ti m enta de roubo de gado não tendo a audácia de im pedir a I que viajando em país estrangeiro. N ão saberem os com pre-
fuga de um a galinha.
t ender, nem acreditarem os, sem a correspondência
por C asper e Tardieu, com o os am ores infam es possam se
revelada
um la d rã o o u u m e s p iã o . T e n d e m a a s s o c ia r-s e n o c rim e ;
~
.'
v iv e m bem n o m e io d o s ru m o re s e d o s g rito s d a s g ra n d e s 1 2 . O c io s o s e vagabundos
c id a d e s ; fo ra d e la s s ã o c o m o p e ix e fo ra d a á g u a . S ã o in c a p a z e s
d e u m tra b a lh o c o n tin u a d o , m e n tiro s o s d e s c a ra d o s , e pouco O já c ita d o L o c a te lli e s c re v e u : " 0 o c io s o e v a g a b u n d o
:: s u s c e tív e is d e c o rre ç ã o , e s p e c ia lm e n te s e m u lh e r, n a m a io ria é quase s e m p re d e h u m o r h ilá rio e a le g re , ra z ã o p e la q u a l
i. m e re triz e s . e le é o p a lh a ç o p re d ile to d o s la d rõ e s e a s s a s s in o s , n o s c á rc e -
re s . E le é , m e lh o r d iz e n d o , s ó b rio e d e te m p e ra m e n to c a lm o ,
~ I
I
"
~ ra z ã o p o rq u e s e a fa s ta d a s a lte rc a ç õ e s c la m o ro s a s , e s o b re -
1 0 . E s te lio n a tá rio s
li tu d o d a s rix a s e d o s a n g u e . C onheci a lg u n s d e le s , c o n d e -
O s e s te lio n a tá rio s s ã o c o m o o s jo g a d o re s (e s te s s ã o fre - l. nados um a dezena d e v e z e s à p ris ã o . E n d u re c id o s a n te o
q ü e n te m e n te ) s u p e rs tic io s o s , e s p iritu o s o s , m u ito . la s c iv o s . e s p e tá c u lo c o tid ia n o d a s m is é ria s e d a s m a ld a d e s h u m a n a s ,
M a is c a p a z e s d o q u e o s o u tro s c rim in o s o s , de um a boa ou a rre p ia m -s e à n o tíc ia d e u m a s s a s s in a to , e c e n s u ra m v iv a e
p é s s im a a ç ã o . S ã o c a ro la s e h ip ó c rita s , c o m a r d o c e e b e n e v o - a b e rta m e n te o a u to r e m p le n o c o n s ó rc io c a rc e rá rio , com
le n te , v a id o s o s , e , p o r is s o , p ró d ig o s c o m a m a l c o n q u is ta d a ; . ris c o d a s e g u ra n ç a .
riq u e z a , m u ita s v e z e s d e m e n te s o u s im u la d o re s d e d e m ê n c ia , .-.~
1'""-
" N a e s c a la d a d e lin q ü ê n c ia , d ific ilm e n te e le s u ltra p a s -
o u o s d o is c a s o s ju n to s . ""Í'!" s a m o s p rim e iro s p o s to s , n ã o p o rq u e lh e s im p o rta a c e n s u ra
I
d a o p in iã o p ú b lic a , m a s p o rq u e re p u g n a v e rd a d e ira m e n te
i-
11. A s s a s s in o s l'.~:. a o â n im o d e le s u ltra p a s s a r a m a is g ra v e o fe n s a à s p e s s o a s e à
O s a s s a s s in o s a p re s e n ta m , c o m e s tra n h o s , m o d o s d o c e s
h p ro p rie d a d e . N ã o m e le m b ro d e a lg u m o c io s o q u e te n h a a le -
g a d o , p o r ju s tific a ç ã o p ró p ria , a fa lta d e fo rç a m u s c u la r (s a lv o
e c o m p a s s iv o s , a r c a lm o . S ã o p o u c o v o lta d o s a o v in h o , m a s n o c a s o d e m o lé s tia ), e n q u a n to to d o s o u q u a s e to d o s a le g a m ,
m u ito a o a m o r c a rn a l. M o s tra m -s e a u d a z e s e n tre e le s , a rro - p a ra e s c u s a r-s e , a d ific u ld a d e d e e n c o n tra r tra b a lh o de sua
g a n te s , s o b e rb o s d o s p ró p rio s d e lito s , n o s q u a is d e s p e n d e m e s p e c ia lid a d e . N ã o p o u c o s d o s h a b itu a d o s à o c io s id a d e abo-
142 143
1"
m inam
grandes
o trabalho,
são dom inados
m ovim entos
m anufaruras
não só pela fadiga m aterial
pelo tédio insuportável
m usculares,
condena
a que a divisão
o operário.
m as porque
da uniform idade
do trabalho
O utros
dos
nas
ociosos,
I
I
de vezes e fez cair nas m ãos da Justiça um a centena de delin-
qüentes e traçar com suas m em órias um a verdadeira psicolo-
gia do delito. Tam bém o era o C agliostro que roubava e ta-
peava príncipes e reis, e quase se fazia passar por um hom em
ao invés de trabalhar na especialidade para a qual foram pre- inspirado, um profeta.
parados, preferem até arriscar a saúde e a vida em em presas G ênio especial tinha o N orcino e o Pietrotto, que ne-
m uito perigosas. nhum a prisão da Toscana conseguiu m anter preso por m ais
U m certo G uido, sapateiro de profissão, dem onstrando de um m ês. Fugiam depois de avisar seus carcereiros. E tam -
invencível repugnância pela avareza e pelo com prom eti- bém o D uboisce, que, não só conseguiu, depois de um a
~,.
m ento, às vezes andava esm olando com um a perna dobrada, condenação à m orte, evadir-se, m as levou tam bém sua
de m odo a sim ular um a incurável contrarura. A rriscava a am ante, da prisão.
vida paradar caça aos gatos no teto dos vizinhos em plena G R uschovich, alto e destro pessoalm ente, de olhos
noite rigidam ente invernal. Procurava anim ais que pertur- inteligentes e sagazes, falava perfeitam ente árabe, grego, ro-
bassem , arriscando-se a m ordidas e arranhões a tal ponto de m eno e alem ão. Era conhecedor de ciências físicas, especial-
dilacerar a pele. m ente da quím ica. N ão era tam pouco ignorante das belas
Eles não são, de ordinário, suscetíveis de violentas pai- j letras e sobrerudo da história e da m edicina. C ondenado em
xões eróticas, das paixões que têm o poder de im pelir ao 1845, pelo Tribunal de Trieste, à prisão, e depois pela C orte "
."
-.,;.,
delito os verdadeiros m alfeitores. M ayhew divide-os em m en- C rim inal de Londres, a seis anos de servidão penal por crim e
dicantes navais, m ilitares, m ostradores de docum entos
sim uladores de doenças e m udez. A necessidade
cansar e as alegrias descuidadas,
caráter deles, tornam -nos
artísticas,
estranhos inventores
falsos,
de não se
que form am
de profissões,
o I
"I..•.....
~
de falsificação, conseguiu com nova falsidade, não só ser liber-
tado da prisão, m as tam bém obteve indenização de 200 libras
esterlinas. la conseguir m ais 500 quando
era falsa a carta de um a alta autoridade
foi descoberto
endereçada
que
à R ainha
que ninguém fora deles adota, porque ninguém tem o instinto da Inglaterra, contando que um inglês fora condenado à
do ócio espiriruoso. U m especializou-se em dar bofetões tão
f revelia por falsidade, encontrando-se no fim da vida em um
t
barulhentos com o os de um a briga e que atraíam a m ultidão, hospital de Paris e tinha sido declarado culpado pela falsidade
m as sobretudo os policiais. atribuída a R uschovich.
Fugindo da Inglaterra, refugiou-se na B élgica, onde sob
13. D elinqüentes geniais ".~
o nom e de O sm anJussuf envolveu-se em im putação de assas-
, , .+
~ :.:; sinato e falsidade com A llah-B ey. N a França, sob o nom e de
'1«
N ão se pode negar, todavia, que apareçam , cá e lá, de- Frank W eber, apresentou-se em Paris aos banqueiros B laques
linqüentes verdadeiram ente geniais, criadores de novas for-
m as de delito, autênticos inventores do m al. C ertam ente era
it" com um a letra de 800 libras, com assinarura
em presa e conseguiu
falsa de um a
receber 400 libras. Por este fato e por
hom em genial o Y idocq;,que conseguiu evadir-se um a vintena outras três falsificações foi processado pelo Tribunal de Paris.
144 145
r-
C onseguiu, porém , fugir para a Itália, m unido de passaporte
I
E m V iena, em 1869, foi preso um ladrão que inventou
da legação italiana, com nom e fictício. 32 instrum entos para abrir fechaduras secretas. E m S ing-S ing,
,
P ara obter esse passaporte, ele escreveu ao prefeito de no cárcere judiciário, um detento construiu um a destilaria
M elegnano para ter um a certidão de nascim ento, dizendo que com restos de m açãs e batatas da m erenda carcerária. C on-
seus genitores em igrando da L om bardia o tinham levado criança tudo, tam bém esses delinqüentes geniais apresentavam falta
para a A m érica. P ouco depois a m orte atingiu seus genitores,
sem m ais saber de sua fam ília, pois os registros foram queim ados
_nas guerras que assolaram a região. D a resposta do P refeito forjou
I de previdência
infam es. T am bém
característica
ou de astúcia para levar a cabo seus desígnios
no gênio deles aparece
dos delinqüentes. O R uschovich,
a inconstância
de cuja inte-
a carta que apresentou à legação italiana. ligência extraordinária já havíam os falado aqui, escreveu no
Indo a M ilão, exerceu ilegalm ente a m edicina, distri- I
cárcere à sua am ante para que fizesse desaparecer de certos
buiu rem édios grátis aos pobres, discutia em reuniões com lugares do seu apartam ento, diversos objetos que pudessem
outros m édicos; tratou de um advogado com sucesso e nam o- com prom etê-lo. P ediu ainda para que, de diversas origens,
I
•.."'"
rou sua filha, preparando até o casam ento, ao m esm o tem po fizessem chegar às m ãos da autoridade cartas que pudessem
em que m antinha am ores com um a m eretriz. desviar os traços do culpado. T odavia, os encarregados do
O m esm o L ocatelli conhece um ladrão que sabia de I envio das cartas não com preenderam a sutileza do plano, e a
J-'
.J
.!:..
cor as disposições do C ódigo P enal e do C ódigo de P rocesso
P enal, não só o italiano, m as tam bém o austríaco sobre os
II polícia na posse daquelas cartas exam inou
o apartam ento
m inuciosam ente
nos pontos indicados e acabou encontrando
~.. quais fazia confrontos m uito argutos. E le dava consultas aos assinaturas de em presas e estudos caligráficos para im itá-los,
.
,.
~ próprios colegas, que o cham avam de "doutor em direito" e carim bos e sobretudo o passaporte m ostrado em L ivorno ao
tinham nele m ais confiança do que nos verdadeiros advogados. banqueiro U zielli, sobre o qual o estudo dos peritos caligrá-
ficos levantou a falsidade com etida, m udando o nom e do
B aum ont esvaziou, em pleno dia a caixa da polícia t .~ m orto C harles R eadly para o de B eadham .
francesa, fazendo-se de guarda durante um a operação, com o r.'.>
se fosse um a sentinela, da verdadeira guarda de honra. O utro, C onheci um ladrão de tão bela inteligência, que tinha
.- o Jossas, m editava anos inteiros, levantando o sistem a de !,-
l.
podido até fazer carreira na área científica com o na vida so-
cial, m as tam bém nesta faltava a m obilidade. U m traço de
fechadura com expedientes sofisticados. U m caixa que nunca i'.:.:,;.-
l~.,:
havia m ostrado a chave a quem quer que seja, um dia fez t::"- espírito, um epigram a, fazia-lhe às vezes de recom endação.
}
com Jossas um passeio no cam po e no m eio do cam inho en- H abilíssim o em im itar, era porém incapaz de criar. G ranjeava
[-
contraram um a m ulher grávida, que lhes pediu socorro por
estar com hem orragia no nariz. H avia necessidade de um r:.
~: •.._
a estim a pública só com a fácil verbosidade,
eloqüência quando
que se tornava
era anim ado por algum a paixão.
objeto m etálico para furar um tum or e o caixa lhe em prestou .k -.. E m sum a, geralm ente, todos estes, tam bém os gênios
a chave, do que aproveitou Jossas para fazer um m olde, com o
o qual fez cópia da chave, que lhe perm itiu roubar a caixa de
t
._""',~~
-'" . ..f~4i
:~}t~::~
~~"
têm m ais safadeza (com o os selvagens)
talento. N ão têm coerência
e m ais espírito, não
nem continuidade no trabalho
um a em presa. ;/ psíquico - potente, m as de ím pl"to - e quase nunca perseverante.
146 147
TI
1 4 . D e lin q ü e n te s c ie n tífic o s I in sp ira ç ã o , sã o m e n o s fre a d a s p e lo s c rité rio s d a v e rd a d e e
I
p e la s se v e ra s d e d u ç õ e s d a ló g ic a . D e v e m o s in c lu ir e n tre o s
É p o r isso q u e , m a lg ra d o o g ê n io te n h a u m a e sp é c ie d e I d e lin q ü e n te s B o n fa d io , R o u sse a u , A re tin o , C e re sa , F ó sc o lo
n e u ro se c o n g ê n ita , c o m o a c rim in a lid a d e , m u ito e sc a sso s sã o II
e ta lv e z a té B y ro n . E n ã o fa lo d o s te m p o s p o r d e m a is a n tig o s
o s d e lin q ü e n te s no m undo c ie n tífic o . D e ste s a in d a , a lg u n s I
e d e p a íse s se lv a g e n s, e m q u e o b a n d itism o e a p o e sia se
n ã o sã o b e m a c e rta d o s. N ã o p u d e re c o lh e r c o m se g u ra n ç a , a
não se r o d e B a c o n e , c u jo s d e lito s d e p e c u la to fo ra m em I d a v a m a s m ã o s; c o m o m o stra m o s p o e m a s d e K a le iv a P e a g e
â n im o p e rv e rso ; d e S a lú stio e d e S ê n e c a , a c u sa d o s ta m b é m
I g a ti,c o m e d ió g ra fo p e rte n c e n te à a lta a risto c ra c ia e fo i u x o ri-
1 5 . C o m p a ra ç ã o c o m a in te lig ê n c ia d o s d e m e n te s
C o n fro n ta n d o , e m re la ç ã o à in te lig ê n c ia , o s d e m e n te s
c o m o s d e lin q ü e n te s , v e m o s n a q u e le s p re v a le c e r b e m m e n o s
!
a p re g u iç a . E n tre o s d e m e n te s s e m o s tra um a a tiv id a d e
e x a g e ra d a m a s e s té ril, q u e s e c o n s u m a e m a s s o n â n c ia e u fô -
n ic a , e m tra b a lh in h o s in ú te is e im p ro fíc u o s . C onheci um a
d e m e n te q u e re c o b ria d e p a p e l o s tijo lo s e a té o s u rin ó is , e
a m a rra v a o s liv ro s p o r a m o r à s im e tria , e c o rta v a às vezes
\
p a rte d e u m te x to .
O s d e lin q ü e n te s n ã o d e s e n v o lv e m s u a a tiv id a d e a não
s e r p o r p ró p ria s , d ire ta s e im e d ia ta s v a n ta g e n s , m a is p a ra o
m a l d o q u e p a ra o b e m . V ic e -v e rs a , e n q u a n to e s s e s tê m p o u -
q u ís s im a ló g ic a , o s m o n o m a n ía c o s a tê m d e s o b ra . P o r is s o , é
m a is fá c il e n c o n tra r a lie n a d o s d e a lto s a b e r d o q u e e n tre o s
d e lin q ü e n te s . E b a s ta d iz e r q u e a p e n a s a lg u n s , c o m o B a c o n e ,
S a lú s tio e S ê n e c a s e in c lin a ra m p a ra o c rim e , m a s p o d e m o s
c ita r C o m te , A m p e re , N e w to n , P a s c a l, T a s s o , R o u s s e a u e
ta n to s o u tro s com o m a is ou m enos m e la n c ó lic o s e
m o n o m a n ía c o s .
O s p in to re s , a o c o n trá rio , p a re c e m -m e abundar m a is
e n [fe o s d e lin q ü e n te s d o q u e e n tre o s a lie n a d o s . C o n tu d o ,
d e fo rm a b e m d ife re n te a C G n te c e c o m o s g ra n d e s m e s tre s d a
150 151
- _ . ,o ,_ _ • ~ _ _ • ~ • _
-I~
\,
13. R E IN C ID Ê N C IA P R Ó P R IA E IM P R Ó P R IA .
M ORAL DOS D E L IN Q Ü E N T E S
n o s d e lin q ü e n te s . V e rd a d e é q u e e m a lg u n s p a ís e s a re in c id ê n -
c ia p a re c e m u ito e s c a s s a . Is to d e p e n d e , n ã o d a fa lta d e re in c i-
153
T
jurídicos e com a introdução dos registros. Na Itália, de 1876 sem na própria casa, e os companheiros ficam felizes de revê-
a 1880, os reincidentes condenados pelos tribunais aumen- lo e saudá-lo com a alcunha de "viajante".
raram de 18 a 19,45%. Os condenados pelo tribunal do júri Bréton (Presídios e Presidiários - 1875) fala de um mise-
subiram em 1878 a 13%, em 1880 a 21,5% e 1882 a 22%. rável que cometeu pequenos furtos para voltar à prisão, mas,
Portanto, em doze anos dobraram. Entre os condena- em vez do cárcere comum, foi parar numa solitária. Lamen-
dos, foi observado em quatro anos (de 1872 a 1875) um au- tava-se: "A justiça me tapeou e não me acolhem mais nesta
mento de reincidentes de 17 a 21%;"Enfim, do ano de 1870 província" .
a 1879, enquanto os condenados por uma só vez cresciam Queixava-se o chefe de bando Hessel, encarcerado 26
na proporção de 100 a 121, os reincidentes aumentavam na vezes, que o cárcere não o tivesse melhorado e não pudesse
proporção de 100 a 176. querer a liberdade, que era a miséria e a fome. Ele respondeu
Na França, o acusado reincidente (tribunal de júri) no depoimento: "Tranqüilizai-vos para que tenhamos dez
t~
aumentou só 10% em 1826, mas em 1850 a 28%. Em 1867, ": dedos; não sofreremos miséria a céu aberto. Onde vocês
isto é, 17 anos após, depois que foram introduzidas as estatís- O" encontrarão melhor abrigo do que na cadeia? Eu vi uma fa-
l-:\
ticas judiciárias foram a 42%. Em 1871-1875,44%, em 1876, mília inteira de ciganos ser condenada 16 vezes por vadiagem.
44%, em 1877,48%, em 1878, 49%, e em 1879, 50%.
t'7-', Na boa estação saía e mendigava com ar ameaçador; no inver-
•••. ..;1;
'"t
Na Bélgica, calcula-se 70% para os reincidentes em no fazia-se prender para encontrar pão e roupa: a prisão tor-
.j;..
t nou-nos melhores? Se tivéssemos encontrado modo de viver
1869-1871. Na Dinamarca, nos estabelecimentos penais em
largamente em todas as estações, certamente teríamos pre-
1872-1874 notaram-se 74% para os homens e 71% para as
ferido o ar livre".
mulheres, de reincidentes. Na Prússia, havia uma cifra osci-
lante entre 77 e 80% nos saídos dos estabelecimentos penais
"i ~ Sobretudo, parece constante a reincidência nas mulhe-
de 1871 a 1877 para os homens e 74 a 84% para as mulheres. res. Como veremos mais adiante, as reincidências repetidas
são mais freqüentes do que nos homens. Prostitutas, disse
154 155
T
e d e fa to s o b e d e 6 0 a 7 0 % o n ú m e ro d o s re in c id e n te s , c ifra d o ré u e a s u a c u lp a b ilid a d e , o u s e ja a d is tin ç ã o q u e o s c ó d ig o s
e s ta d e 7 0 % q u e s e te m e x a ta m e n te n a B é lg ic a , e m L a u v a in , e n riq u e c e m : a re in c id ê n c ia p ró p ria e im p ró p ria . E s ta ú ltim a ,
onde o s is te m a c e lu la r é a p lic a d o há doze anos. d e re s to , é s e m p re a m a is e s c a s s a . A c u m u la re a lm e n te a re in -
c id ê n c ia p ró p ria e n tre nós em 1 8 7 2 -1 8 7 5 , bem e n te n d id o
3 . R e in c id ê n c ia e in s tru ç ã o c o m e x c e ç ã o d o s d e lito s d e ím p e to , o s q u a is n ã o tê m , a b e m
d iz e r, q u a s e n u n c a re in c id ê n c ia .
S e p o u c a in flu ê n c ia o s s is te m a s p ris io n a is tê m n a re in c i-
A c ifra d o s re in c id e n te s to rn a -s e s e m p re m a io r s e fo re m
d ê n c ia , a ju d a m e n o s (e u m a c o is a s e lig a à o u tra ) o g ra u d e
c o n s id e ra d o s a lg u n s g ru p o s d e c rim e s , n o s q u a is e s te s s e
in s tru ç ã o . A o in v é s , e s te p a re c e a u m e n ta r a re in c id ê n c ia .
re p e te m e e m q u e n ã o re in c id ir to rn a -s e quase um a exceção.
D e n tro e m p o u c o v e re m o s c o m o a in s tru ç ã o , que segundo
Is s o s e v e rá n a e s ta tís tic a d o s re in c id e n te s de 1874 a 1878,
c rê e m p e s q u is a d o re s s u p e rfic ia is d e s s e a s s u n to , s e ja u m a p a -
d a q u a l a p a n h e i o s c rim e s d e ín d o le re a lm e n te p o lític a (e x p u l-
n a c é ia d e d e lito s , é u m a d a s c a u s a s d a re in c id ê n c ia e , p e lo
s ã o d e re fu g ia d o s e s tra n g e iro s , d e lito s d e im p re n s a ) e não
m enos, u m d e s e u s fa to re s in d ire to s .
re a lm e n te d e d e lin q ü ê n c ia n o s e n tid o a n tro p o ló g ic o (a rm a s
Q u e m , c o m o L o c a te lli, q u e in d a g a c o m o p o d e a c o n te - p ro ib id a s ), e a ju n ta n d o c rim e s e d e lito s tid o s c o m o c a te g o ria
c e r e s s a in flu ê n c ia p e rn ic io s a d a in s tru ç ã o , n o ta rá q u e o d e lin - q u e p ro p o rc io n a m a m á x im a re in c id ê n c ia .
q ü e n te n a p ris ã o a p re n d e c o m a a rte d e fe rre iro o u d o c a líg ra -
P o n d o à p a rte o s q u e s e to rn a m c rim e s d e e n fu re c e r o s
fo o s m e io s d e d e lin q ü ir c o m m e n o r p e rig o e m a io r v a n ta g e m .
p a rtid o s p o lític o s o u q u e s e d e v a m à m u ito m in u c io s a p o líc ia
-N o ta rá , a in d a , q u e .o .a g re s s o r s e tra n s fo rm a e m fa ls á rio , o
fra n c e s a (re b e liã o ), p o d e -s e d iz e r q u e e s ta s c ifra s re p re s e n ta m
la d rã o e m e s te lio n a tá rio o u m o e d e iro fa ls o . N ã o h á , p o d e -s e
a c o ta d o s d e lin q ü e n te s n a to s . E q u e m a s e s tu d a s e m le v a r
d iz e r, e n tre a s v á ria s c a te g o ria s , n a d a a lé m d e m e n o r g ra u d e
e m c o n s id e ra ç ã o a d ife re n ç a d o s d e lito s , c o m o fa z e m o s , d e d u -
c u ltu ra p a ra o c rim e , s e n d o p s ic o lo g ic a m e n te e m u ita s v e z e s
z in d o a s ta b e la s d e F e rri, a c h a q u e re s o lv e m e m re v o lta d a s
a n a to m ic a m e n te ig u a is u n s a o s o u tro s .
fo rç a s a rm a d a s e a s s o c ia ç õ e s p a ra d e lin q ü ir, fu rto s , v a d ia g e m ,
E is p o r q u e v e m o s , s e g u n d o B e ttin g e r, q u e o s re in c id e n - fe rim e n to s , b ig a m ia , v e ria m e m u m a re a ç ã o b e m m a is e s c a s s a
te s a b u n d a m s e m p re e n tre o s d e lito s d e re fle x ã o e m a is e n tre o s a s s a s s in a to s , o s m o e d e iro s fa ls o s , o s p a rric id a s , o s in c e n d iá -
a q u e le s c o n tra a p ro p rie d a d e , d a n d o o s fu rto s 2 1 % , a ra p in a rio s , o s h o m ic id a s , o s e s tu p ra d o re s , o s fa ls á rio s , fa ls o te s te -
1 0 % , o s h o m ic íd io s só de 5 a 3% . m u n h o , tra p a ç a s , a m e a ç a s , e m ú ltim o , a fa lê n c ia fra u d u le n ta
e a e x to rs ã o .
156
157
:"17.' .-.'' .
"1 :>
alg u m d eles q u e n ão seja rein cid en te. E n isso m e ap raz en co n - rio d e seu s d elito s, eu m e g ab o d eles. R o u b ei, m as, m ais d e
trar-m e d e aco rd o co m u m ilu stre ad v ersário , o T an cred i, q u e la m il liras: atacar a p eso tão g ran d e creio ser m ais esp ecu -
escrev eu n a su a d o u ta o b ra: O Delito e a Uberdade da Vontade- lação d o q u e u m fu rto . E ch am am d e ch av es falsas as q u e
1 8 7 5 : "A rein cid ên cia é b astan te a reg ra g eral p ara o s co n d e- n ó s em p reg am o s, m as eu as ch am o ch av es d e o u ro p o rq u e se
n ad o s, m al ap en as se en co n tram em lib erd ad e". L em b ro -m e ab rem o s co fres d o s rico s sem esfo rço ".
d e h av er lid o a esse p ro p ó sito , q u e ap en as saíd o d a p risão , E u m o u tro seu d ig n o co leg a d isse: "F eia ação d e ro u b ar,
o n d e estev e p o r ro u b ar v in te liras d e u m co m p an h eiro de d izem o s ;u tro s, n ão eu ; eu ro u b o p o r in stin to . P ara q u e u m
cela, ro u b o u sessen ta n a m esm a circu n stân cia, d e u m o u tro . h o m em n asce n esse m u n d o ? P ara d esfru tá-lo . S e n ão ro u b asse
O q u e m ais im p o rta é q u e a co n sciên cia p o p u lar sen ten - n ão p o d eria d esfru tá-lo , p o rtan to , n ão p o d eria v iv er. N ó s
cio u h á sécu lo s: so m o s n ecessário s ao m u n d o co m o eles. S e n ão fô ssem o s n ó s,
o S em el m alu s sem p er m alu s = Ig u al ao m al é sem p re q u e n ecessid ad e h av eria d e ju ízes, d e ad v o g ad o s, d e carce-
o m al. reiro s. S o m o s n ó s q u e o s m an tem o s".
158 159
- - --~ --- - - - - ._ - - - - - - - - - - - - - - - - - -
"TI<:
dos. M as, quem conviveu, ainda por pouco tem po, no m eio
~",,- ilusões dos filantropos, e apagar ou m elhorar as condições
desses infelizes, adquire a certeza de que eles não têm rem orso. 1
presentes.
S egundo E lam e T ocqueville, os piores detentos são os que ik.;
1:'
A ssim , L acenaire, depois da prim eira condenação,
.m elhor se com portam nas prisões, porque tendo m ais talen to
do que outros e por serem m ais bem tratados conseguem 1,.
-~~
,-'
escrevia ao am igo V igouroux, para pedir proteção e dinheiro:
sim ular honestidade.
declarou não haver jam ais com preendido o que seja rem orso.
390 deles, não econom izando qualquer m eio para ganhar a ~
confiança, e apenas 7 adm itiram ter com etido delito e 2 se
~j E m P ávia, R ognoni pronunciou no júri palavras com o-
orgulhavam de suas ações. T odos os outros negavam veem en-
~~r ventes que aludiam ao seu arrependim ento. R ecusou vários
",o
tem ente e falavam da injustiça dos outros, das calúnias, da ,-lt ' dias o vinho, alegando que ele recordava o sangue de seu
,,',"
inveja de que foram vítim as. ~ii:..,. irm ão, assassinado por ele. N o entanto, procurava na prisão
l-:~ ~ ~ '
y~ contatos com outros condenados. Q uando alguns destes m os-
U m filósofo m uito m ais célebre do que seus m éritos, o
C aro, escreveu: "V ejam com o os próprios crim inosos acham .-
1" ,- travam repúdio às suas propostas, am eaçava-os com as pala-
vras: "Já m atei quatro, e pouco m e im porto em m atar o quinto".
justa a pena; eles negam o delito m as concordam com a pena".
I~~
O pinião ridícula, ainda m ais absurda. A trevem -se a negar L ê C lerc se declarou arrependido perante o tribunal
J::.,. .•-
, 161
_.,
~
com panheiro: "V eja que fom os traídos porque não desconfia- rou que ainda naquele m om ento lhe vinha a idéia de lascívia
m os devidam ente de B . A h! Se o tivéssem os m atado .... !".
e de vingança. E aludindo ao seu m arido: "Poderia ele perm a-
H á nos tem orsos sim ulados um a desculpa para os deli- ,.+ necer no m eio daqueles que m e odiaram ?"
tos. M ichielin assim justificava o golpe de graça dado à sua
E ncontrei um só caso de verdadeira m etam orfose
. vítim a: "V ê-la naquele estado causava-m e tanto rem orso,
m oral em um delinqüente nato. A peguei-m e à pessoa de
.'
que a em brulhei para não lhe ver o rosto".
L em aire disse: "N ão m e arrependo, a não ser. de não
•. U . M elicone,
subm icrocéfalo,
40 anos, assaltante, com tio dem ente,
olhos turvos, lábios sutis, que após 20 anos
crânio
ter sido hábil em m atar todos (pai e filho). Se depois de conde- de pena teve alucinações religiosas, e se acreditou revestido
nado pudesse divertir-m e e passear, paciência; m as, antes que . ~. .,
N ão raram ente
c~rta
162
163
q u e s e a rre m e tia v io le n ta m e n te
fo s s e e s ta q u e tiv e s s e c o m e tid o
c o n tra
o d e lito .
a ju s tiç a , com o se filó s o fo s d o c rim e e o s la d rõ e s e n riq u e c id o s ,
p ro s titu ta s ,
a s s im c o m o a s
fa z e n d o to d o o p o s s ív e l p a ra q u e s e u s filh o s n ã o
II
O s la d rõ e s d e L o n d re s , o b s e rv a M a y h e w , a c re d ita m que o s s ig a m n a tris te c a rre ira . Q u e m a is ? H á o s q u e a in d a p re -
n ã o c a u s a m m a is m a le fíc io d o q u e o s fa lid o s . A c o n s u lta c o n - v e n d o a s p e n a s n ã o s ó a s o lh a m c o m d e s d é m , m a s a s to m a m
tín u a d o s p ro c e s s o s c rim in a is e d o s jo rn a is o s p e rs u a d e de c o m o ra z ã o d a m a is re fin a d a c ru e ld a d e .
que há tra ta n te s ta m b é m n a a lta s o c ie d a d e . P o b re s c o m o R a ffa e le P e rro n e , ju n to c o m s e u irm ã o F o rtu n a to , se
s ã o d e in te lig ê n c ia c o n fu n d e m a re g ra c o m a e x c e ç ã o , e d e d u - a lte rc a n d o c o m u m ta l F ra n c h i, g o lp e a ra m -n o a m a rte la d a s .
z e m d is s o n ã o p o d e r s e r m u ito m a ld o s a u m a a ç ã o q u e é c o m e - R a ffa e lle v e n d o q u e a v ítim a a in d a d a v a s in a is d e v id a , p is o -
tid a p o r ric o s e p o r is s o n ã o b a s ta ria p a ra c o n d e n á -lo s . E s c re - te o u -o d iz e n d o : " V o c ê n ã o e s tá m o rto ? T a n to q u e d e v o p e g a r
v e u o a s s a s s in o R a y n a l n o s e u liv ro Desgraça e Sorte: "S abendo p o r v o c ê 2 5 o u 3 0 a n o s d e g a le ra , e n tã o q u e ro a c a b a r c o m v o c ê !"
que 3 /4 d a s v irtu d e s s o c ia is s ã o v íc io s m e d ro s o s , c re m o s ser
N ã o é o c rité rio , n e m a c o n s c iê n c ia d a v e rd a d e , n e m o
m e n o s ig n ó b il o a s s a lto b ru s c o a u m ric o d o q u e a c o n d e n a ç ã o
s e n tim e n to ju ríd ic o , e m s u m a , q u e fa lta s e m p re a e le s , s e
c a u te lo s a d a fra u d e . D ife re n te d e m u ito s q u e m is tu ra m a
b e m q u e s e re v e la a a titu d e d e c o n fo rm a r-s e a e s te c rité rio .
p ro b id a d e d e le s à e s p e s s u ra d o c ó d ig o , n ã o q u e re n d o a d a p ta r
D is s e H o rw ic k : "U m a c o is a é te r c o n h e c im e n to te ó ric o de
a m in h a in te lig ê n c ia à m a la n d ra g e m , m e fiz b a n d id o " .
u m fa to , o u tro é a g ir e m c o n s e q ü ê n c ia ; p o rq u e o c o n h e c i-
O la d rã o G ia c o s a d iz ia q u e h á d u a s ju s tiç a s n o m u n d o : m e n to s e tra n s fo rm a e m d e s e jo v o lu n tá rio , c o m o o s a lim e n to s
a " n a tu ra l" , o u s e ja , a q u e p ra tic a v a quando d a v a a a lg u n s e m c a rn e e s a n g u e , o q u a l re q u e r u m fa to r: o s e n tim e n to ; e
p o b re s u m a p a rte d o s o b je to s ro u b a d o s , e a " c o m p o s ta " , is to e s te fa lta n e le h a b itu a lm e n te .
é , a p ro te g id a p e la le i s o c ia l, a q u e e le n ã o lig a v a .
Q uando s ã o re u n id o s e q u e s ó o s e n tim e n to d e le s n ã o
T o d a v ia , é m is te r c o n v ir q u e a id é ia d o ju s to e d o in ju s to s e o p o n h a , m a s te n h a u m d ire to in te re s s e (v a id a d e s a tis fe ita ,
n ã o é a p a g a d a , p le n a m e n te , e m to d o s o s d e lin q ü e n te s , m as m a io r s e g u ra n ç a ) p a ra fa z e r triu n fa r a ju s tiç a , e n tã o a p lic a m
e s ta s e to rn a e s té ril, p o rq u e é m a is c o m p rim id a n a m e n te do a e n e rg ia que usam p a ra fa z e r o m a l. E m u m a re u n iã o de
q u e é s e n tid a n o c o ra ç ã o e é s e m p re s u fo c a d a p e la p a ix ã o e jo v e n s la d rõ e s , p ro m o v id a e m L o n d re s p o r u m filó s o fo d o
p e lo h á b ito . c rim e , fo ra m s a u d a d o s c o m p a lm a s e a p la u s o s o s re in c id e n te s
P re v o s t, fa la n d o d o a u to r a in d a d e s c o n h e c id o dos ho- d e 1 0 a 2 0 v e z e s . U m la d rã o c o n d e n a d o p e la v ig é s im a v e z fo i
m ic íd io s c o m e tid o s , d iz ia : " A e s te a g u ilh o tin a não deve a c o lh id o c o m o h e ró i e m triu n fo . P o ré m , q u a n d o o p re s id e n te
fa lta r" . L e m a ire d iz ia : " S e i q u e fa ç o m a l; s e a lg u é m v ie s s e a e n tre g o u -lh e um a m oeda d e o u ro p a ra tro c a r e m d in h e iro
m im e m e d is s e s s e q u e fa ç o b e m , e u lh e re s p o n d e ria : "você é n o b a n c o , m a s o h e ró i n ã o re to rn o u . A in q u ie ta ç ã o e ra g ra n d e
u m c a n a lh a c o m o e u , m a s n ã o p o r is s o , s e g u iria o b o m c a m in h o " . e c o m e ç a ra m a g rita r e m c o ro : " S e n ã o v o lta r, n ó s o m a ta -
N o ta -s e q u e a s m e re triz e s re p e le m a le itu ra d e liv ro s re m o s , m a s e le re to rn o u c o m a s o m a d e v id a , p a ra a le g ria g e ra l.
obscenos, com o os condenados à p ris ã o re p e le m o s re la to s E s te la d o b o m d a s p a ix õ e s d e le s p o d e c o lo c a r-n o s no
d e a ç õ e s in ju s ta s o u in fa m e s . U m a p ro v a q u e m u ito s c o m p re - c a m in h o p a ra o b te r a m e lh o ria d o d e lin q ü e n te , to m a n d o -o
endem s e r d o m a u c a rií.'in h o , n ó s a te m o s ta m b é m ao ver os p e lo la d o d a p a ix ã o e d o c a p ric h o m a is d o q u e d o la d o d a
164 165
3;~'1'
'". .,:',;!J-~
.•"':,
~!ti
•.. ,
.. '. ~
••
-' ..•~ ...• .
razão; m ais com a com oção, com a estratégia dos sentim entos
do que com a ginástica intelectual ou com a catequização
...
~.t"'~
."~'
,'~ .. m ulta em dinheiro. A cabra não se paga em dinheiro m as com
sangue, disse o condenado encarregado de neo-jurista. Em
pedantesca, com o se faz (com desperdício de tem po e de seguida, com golpes furiosos de pedra e estilete m atou-o e jogou
dinheiro) nas prisões. o cadáver pelos despenhadeiros da ilha. A cabra, colocada
A ssim , A nderson, condenado perigoso, considerado in- no m eio do pátio, serviu de terrível exem plo aos ladrões.
corrigível, tornou-se um cordeiro quando M oconoch o em - D ois am igôs de Sabbia tiveram a vida poupada a m uito custo
pregou para dom ar touros selvagens, e retornou a ser o terror porque dem onstraram isenção de cum plicidade no furto.
,-~
da colõnia penal quando foi reconduzido à cadeia e ao ócio. % ;;~
U m certo C entrella, acusado de ter posto a m ão no
;,
Em M oscou, colocaram para julgar os atos dos delinqüentes, ~ -~
que não era seu, tendo provado lum inosam ente seu álibi, foi
l~
os próprios com panheiros, e foram encontrados vereditos de ~tMilt".o.o absolvido depois de longa detenção, m as foi expulso da com is-
fazer corarem os nossos jurados. U m a vez, tendo com etido ~
.( são legislativa, da qual era m em bro, pois que essa com issão
, pequeno furto um delinqüente jovem instigado por um velho _;<t~\
<+'.:i'<'
não queria que um seu m em bro tivesse sido posto sob suspeita
ladrão, foi ele condenado a 40 chibatadas e o velho ladrão a 80. ~:~~~
por ter infringido o código de honra.
;:.~. O s ladrões de Londres são exatíssim os nas repartições, ,.~ 4;
.•...;
.'
-p.
e quando alguém se m ostra infiel é m orto ou denunciado
polícia. N a Ilha de Santo Estevão, em 1860, os condenados,
à """,
;:,'t""
':,rt 7. Injustiça recíproca
;l:'<'i'••
..;
c' ''''~.,
~-- ;,~
deixados a si m esm os, para não correr O perigo de m orrerem '~
N ão é que essa espécie de m oral e de justiça relativa,
i&;:' ,'.:~~'
.~ :
de fom e com o furto das escassas provisões e de serem truci- saída de im proviso no m eio de um a coletividade injusta seja
'I;" .~
dados todos pelas lutas intestinas entre puglieses e calabreses, ~ '::)~ forçada e efêm era. Q uando, em vez de ser favorecido, for
, :t{
~,
lutas que um a custódia regular não poderia m oderar, form u- prejudicado o interesse de alguém , ou se a desordem provoca
laram um código draconiano com posto pelos chefes dos parti-
dos rivais que foi aplicado por estes últim os com extraordi- ~-
,
,. ~
paixão, então este critério de verdade, que não se apóia no
senso m oral, chega rapidam ente.
nária severidade. A ssim , Pasquale O rsi, por um leve furto de A o contrário do que m uitos crêem , os delinqüentes,
'I",f
farinha, foi condenado a 50 chicotadas e trinta dias de restrição. ., ''''-'''!<'-~ na m aioria das vezes, faltam à lealdade com os próprios com -
.t""i-.•
U m outro,
com panheiro
que tinha roubado
foi condenado
duas bengalas de um
a girar por toda a ilha com essas '.a:
:,o'
panheiros e até com os cúm plices da m esm a fam ília, Enquan-
to eles acham ignóbil e infam e a delação, quando conseguem ,
bengalas am arradas no corpo. Era condenado à m orte quem ~~i,;.,. a dano de outrem , por um a dessas contradições que se observa
m atasse um com panheiro, quem som ente am eaçasse e ofen- ;~ : m uitas vezes no coração hum ano, não hesitam em delatar os
-desse a pessoa e o patrim ônio dos guardas ou dos "ilhéus". ,.:~, outros. O que é um instrum ento precioso para a justiça, é
Essa norm a salvou a honra das m ulheres e a vida dos guardas, ,!t um a das causas das contínuas turbulências e das vinganças
e foi a causa da m orte de vários condenados.
.~l=, que ocorrem nas prisões.
Por exem plo, um tal de Sabbia tinha roubado um a ca- Esses delatores agem para m elhorar um pouco a sua
bra. D escoberto, pregáva em vão de pagar o crim e com um a posição ou para piorar a inveja dos outros, e não serem os
166 167
ú n ic o s a s o fre r, o u p a ra v in g a r-s e d e u m a v e rd a d e ira o u im a g i- v in te s e q u a z e s . F u z ilo u o irm ã o p o r te r d e m o lid o u m c a s e b re
n á ria d e la ç ã o . O c é le b re c h e fe a s s a s s in o H a a s d e c la ro u que s e m s u a o rd e m .
e le a rre b a n h a v a c ú m p lic e s e x a ta m e n te p a ra n ã o s e r, n o c a s o
N esse m esm o s is te m a a d o ta d o p e lo s p re s id iá rio s de
d e s e r d e s c o b e rto e p re s o , c o n d e n a d o s o z in h o . N o p ro c e s s o
S a n to E s te v ã o , u n s c a u s a ra m fe rim e n to s a o u tro s , p o r v in -
A rtu s , e m B e llu n o , e ra h o rrív e l v e r o s filh o s la d rõ e s d e p o re m
gança, te n d o o c a s io n a d o fa m o s o p ro c e s s o . P re c is a m e n te o
c o n tra o p a i, a p o n ta n d o a s c irc u n s tâ n c ia s m a is a g ra v a n te s ,
c h e fe d e s s a e s tra n h a c o m is s ã o " ju ríd ic a " , p a ra v in g a r-s e d e
in v e n ta n d o a té fa ls id a d e s .
u m c e rto F e d e le , q u e , c io s o d e s u a fo rç a m u s c u la r, m o s tra v a -
E n tre o s la d rõ e s , e s c re v e V id o c q , p o u c o s há que não
s e p o u c o re s p e ito s o , a p u n h a lo u -o c o m a p ró p ria m ã o , p ro i-
c o n s id e ra m um a s o rte s e r c o n s u lta d o p e la p o líc ia . Q uase
b in d o a u m a p a tru lh a q u e o s u rp re e n d e ra n a p rá tic a d o c rim e ,
to d o s s e d e s d o b ra m e m q u a tro p a ra d a r a e la p ro v a d e z e lo .
d e d a r n o tíc ia a a lg u é m . T ã o frá g il e in c o n s ta n te é n o s m a lfe i-
O s m a is z e lo s o s e ra m o s q u e m a is tin h a m a te m e r p o r p ró p ria
to re s e s ta h o n e s tid a d e re la tiv a , e s s a p s e u d o ju s tiç a , que nasce
c o n ta . A lé m d o m a is , o s la d rõ e s n ã o tê m in im ig o s m a is c ru é is
s ó d e u m m o m e n tâ n e o in te re s s e o u d e u m a fu g a z p a ix ã o ,
d o q u e o s a n tig o s c o n d e n a d o s , q u e a p lic a m o m á x im o c u id a d o
m a is v io le n ta , m a s m e n o s ig n ó b il.
n a p ris ã o d e u m a m ig o . N a fa lta d e fa to s v e rd a d e iro s , são
c a p a z e s d e im a g in a r o u tro s , e , o q u e é m a is e s tra n h o , são ca-
p a z e s d e a trib u ir a o s o u tro s o s p ró p rio s d e lito s , m esm o com 8 . C o m p a ra ç ã o com o s d e m e n te s
168 :~~
':'~ 'f"t":;: 169
",i,~,
'-~;fttt'
Q uem m a ta p o r u m a v io le n ta com oção d e â n im o , e n - E m T a iti, o in f a n tic íd io e r a q u a s e u m c o s tu m e r e lig io s o ,
q u a n to s e to r n a com um a im p r e v id ê n c ia d e to d o a c o n te c i- c u ja s m ã e s m a ta v a m c e r c a d e d o is te r ç o s d e s e u s f ilh o s . O s
m e n to f u tu r o , d if e r e p e lo s ú b ito a r r e p e n d im e n to que se segue p a ta g ô n io s c o s tu m a m a lim e n ta r - s e d a p e r n a d o s in im ig o s , e ,
a o d e lito e p e lo d e s e jo d e d a r u m d e sa fo g o com o f a to de quando h á f a lta d e s te s , pegam a s m u lh e r e s m a is v e lh a s d a
d e n u n c ia r - s e à ju s tiç a . tr ib o , su fo c a m -n a s n a fu m a ç a e as com em to ta lm e n te . Os
bechuanos quando q u e re m p re n d e r u m le ã o n o la ç o , d e s s e s
A a n tr o p o f a g ia é u m d o s c o s tu m e s m a is c o m u n s dos u m n o v o p o n to d e a n a lo g ia e n tr e o s s e lv a g e n s e o s d e lin q ü e n te s .
s e lv a g e n s . O hom em n a s I lh a s F e e g e é r e f e r id o com o lo n g o
p o r c o . N a A u s tr á lia , O b f ie ld n ã o e n c o n tr o u s e p u ltu r a de m u-
lh e r e s e c o n c lu iu d is s o q u e o s p a is e o s m a r id o s a s m a ta v a m
a n te s q u e f ic a s s e m v e lh a s e m a g r a s , e d e m a u s a b o r . P o u c a s
d e la s f o r a m e n c o n tr a d a s v iv a s , s e m q u e e s tiv e s s e m m a rc a d a s
d e c ic a tr iz e s p e lo c o r p o .
170
171
"I~
II l
'I
I
I
11
; 11
".~I
14. J A R G Ã O (G ÍR IA )
i
5. A rcaísm os - 6 . C aracteres e índole das gírias - 7 . D ifusão
8. G ênesis do jargão - 9. G íria em sociedades
10. C aracteres: extravagâncias - 1 1 . C ausa: contato
1
12. C ausa: tradição - 1 3 . C ausa: atavism o
I
14. C ausa: prostitutas - 15. D em entes
i
I
iI'
1 . A trib u to s
U m
m a z e a s s o c ia d o ,
s u b s titu to s
d o s c a ra c te re s
é o u s o d a lin g u a g e m
p a rtic u la re s
c o m o a c o n te c e
to d a
d o d e lin q ü e n te
se m p re n o s g ra n d e s
p a rtic u la r, em que o lé x ic o
c o n tu -
c e n tro s ,
é m u-
I
i
dado c o m p le ta m e n te , e n q u a n to n o c o s tu m e g e ra l, o tip o g ra -
t
I m a tic a l e s in tá tic o c o n se rv a -se ile s o . E s ta m u ta ç ã o vem de
v á rio s m odos. O m a is p ró x im o e c u rio s o , e que a p ro x im a a
~ g íria à lín g u a p rim itiv a , é o d e c h a m a r o o b je to p e lo s s e u s a tri-
'n
b u to s , c o m o " s a lta d o r" p o r c a b rito , " m a g ra " o u " c e rta " a m o rte .
!7 .
" O ja rg ã o é que a u x ilia o filó s o fo p a ra p e n e tra r nos se-
"":
1;1, ;"
:f:v
173
d.'-
',. .- ,
"',-.'~. .- - .....,
;. .
.r",'"r,.,o,","~ .:"
p o r e x e m p lo , q u e id é ia s e f a z d a ju s tiç a , d a v id a , d a a lm a e d a
a g ír ia n ã o e v ita a lo n g á - lo ; com a in te r c a la ç ã o d e a lg u m a
~"
m o r a l. A a lm a , d e f a to , é c h a m a d a d e " f a ls a " , a v e r g o n h a de
s íla b a , s e g u n d o n o r m a s f ix a s ; is s o a lo n g a s e m p r e a p a la v r a .
"v e r m e Iho n a "11
e s a n g u m. o s a , Ilu""é
veu o c o rp o , "1"1
ve oz a ua. i,~
I' A te n d ê n c ia m a is c o m u m é , p o r é m , a d e a b r e v ia r .
O advogado é cham ado d e "b ra n c ã o ", c o m o a q u e le q u e d e v e
"
"
I
lim p a r a c u lp a d e le s . !
A lg u m a s v e z e s , a tr a n s f o r m a ç ã o
e m p r o c e s s o q u e s e p o d e r ia d iz e r d e " s e m e lh a n ç a
m e ta f ó r ic a c o n s is te
d e rru b a d a ",
f~
I.
4 . P a la v r a s e s tr a n g e ir a s
A s p a la v r a s e s tr a n g e ir a s s ã o f o n te v a s ta d o lé x ic o : h e -
c o m o p o r e x e m p lo , " s a b e d o r ia " p o r s a l, p o r in f lu ê n c ia do sen- J~ b r a ic a s n o ja r g ã o g e r m â n ic o ; a le m ã e s e f r a n c e s e s n o s ita lia -
tid o d e lín g u a s a lg a d a d o s m a le d ic e n te s , p r ó p r ia d o s d e lin - n o s ; ita lia n o s e c ig a n o s n o s in g le s e s . A lín g u a h e b r a ic a , ou
q ü e n te s ,m a is r ic o s d e e s p ír ito d o q u e d e ju íz o . O u tr o e x e m p lo m e lh o r , a ju d ia , d e u a m e ta d e d a s p a la v r a s d o ja r g ã o h o la n d ê s
é a lo c u ç ã o " e n g o lir u m p e r iq u ito " , s ig n if ic a n d o to m a r um e c e r c a d e u m q u a r to d o a le m ã o : e u c o n te i 1 5 6 n o c o n ju n to
g o le d e a b s in to , le m b r a n d o a a lu s ã o à c o r , já q u e a m b o s s ã o de 700.
v e rd e s. A s m e r e tr iz e s re c e b e m o nom e d e " h o te l" , a lu s ã o a
q u e to d o s p o d e m usar desde que paguem .
5 . A r c a ís m o s
j~'
~l'J'':;''
2 . D o c u m e n to s h is tó r ic o s ":r«< O m a is c u r io s o c o n tin g e n te d o s ja r g õ e s é d a d o p e la s
c: .~.
1."
~ p a la v r a s a n tiq u a d a s e p e r d id a s c o m p le ta m e n te n o s lé x ic o s
J.
".
".
L
d a lh a
À s v e z e s , a m u d a n ç a d e n o m e c o n s titu i v e r d a d e ir a
h is tó r ic a q u e m e r e c e r ia f ic a r n a lín g u a com um ,
m e-
em I "
v iv o s . U m avanço a r c a ic o
h ie r ó g lif o s é o te r m o " s e r p e n te "
q u e re c o rd a a té o s te m p o s
p a r a d e s ig n a r " a n o " , c o m o o
dos
p a r te consegue. M u ita s e x p re ssõ e s d a lín g u a d e m a la n d r o s s á b a d o é o " d ia d o v e lh o " e te r r a é " m ã e " ; e a in d a " b r e v iá r io "
~.
p e n e tr a m n a lín g u a e r u d ita . M u ita s p a la v r a s f o r a m c r ia d a s , p o r le tr a .
com o e n tr e o s s e lv a g e n s , p o r o n o m a to p é ia , com o " tiq u e -
ta q u e " , d e s ig n a n d o r e ló g io . O u tr a s tr a n s f o r m a ç õ e s c o n s is te m j..
6 . C a r a c te r e s e ín d o le d a s g ír ia s
e m a u to m a tis m o s r e s u lta n te s d e r e p e tiç ã o d e s íla b a s , c o m b i-
~."
. n a d o s c o m s u p r e s s õ e s , m e tá te s e s e o u tr a s . '!•.••
E s s e s a r c a ís m o s s ã o ta n to m a is s in g u la r e s quando se
;.'1
'~
.. p e n sa n a g ra n d e m o b ilid a d e e m u ta b ilid a d e d a s e x p re ssõ e s
I~;. d e g ír ia . P o r is s o v i e m P a v ia e T o r in o in tr o d u z id a s e m udadas
3 . D e s f ig u r a ç ã o d e p a la v r a s ~.i
g r a n d e q u a n tid a d e d e s ig n if ic a d o s , c o m o p o r e x e m p lo , " g r ã "
O u tr a f o n te d e s s e lé x ic o v e m d a d e s f ig u r a ç ã o f o n é tic a
p o r la d r ã o , " m ic h ig o " p o r r a p a z , " p ila a " p o r d in h e ir o , " s p ig a "
d a s p a la v r a s , m a is f r e q ü e n te m e n te por um d e sse s g ra n d e s
p o r r u a , " g ia n " p o r s o ld a d o . É im p o r ta n te n o ta r a e s tr a n h a
p rõ c e sso s q u e o g ra n d e M a r z o lo c h a m a v a d e f a ls a r e d u ç ã o
r iq u e z a d e s in ô n im o s p o r c e r to s o b je to s q u e m a is in te r e s s a m
e tim o ló g ic a . O u tr a s d e f o r m a ç õ e s s ã o d e v id a s p e la ju n ç ã o de
a o s d e lin q ü e n te s , e a s s im s e r e v e la o ín tim o d o â n im o d e le s .
d e s in ê n c ia s a u m e n ta tiv a s , e p r in c ip a lm e n te p e jo r a tiv a s .
A s s im C o u g n e t e R ig h in i e n c o n tr a r a m 1 7 p a la v r a s p a r a d e s ig -
Q uando s e tr a ta d e e s c < ;> n d e ro s ig n if ic a d o d e u m v o c á b u lo , n a r " g u a r d a ! O u " p o lic ia l" .
174
175
:1
176 177
d o s a u m a v id a n ô m a d e ou a um a d e te n ç ã o te m p o r á r ia e g e m e m c ir c u la ç ã o e e n a lte c ê - la . E la é e s tim u la d a p e lo e s p ír ito
s u b m e tid o s a s u je iç ã o , o u e m f a c e d o p ú b lic o . C o m a lin g u a - e p ig r a m á tic o e ir ô n ic o , q u e s e c o m p r a z c o m a s q u e v a i e n c o n -
g e m e s p e c ia l a f ir m a m a p r ó p r ia v id a c o m u m ; o u s e s u b tr a e m tr a n d o , ta n to m a is quando s e ja m e s tr a n h a s , obscenas e
à v ig ilâ n c ia d e o u tr e m . A s s im e n c o n tr e i, n u m a m e s m a c o le ti- e x tr a v a g a n te s .
v .id a d e , u m a g ír ia d e f a x in e ir o s , o u tr a d e v in h a te ir o s , dos
A te n d ê n c ia à s tr a n s f o r m a ç õ e s f o n é tic a s , c o m o s e v iu
lix e ir o s , d o s p e d r e ir o s , g ír ia a n á lo g a e f r e q ü e n te m e n te id ê n -
n o s e x e m p lo s a q u i r e f e r id o s , é q u a s e s e m p r e ir ô n ic a e b o b a .
• tic a à d o s c r im in o s o s .
P o ré m , a ir o n ia s e m a n if e s ta ta m b é m com r e la ç ã o à id é ia
Q u a n to s n ã o d e v e m s e n tir im p u ls o d e f o r m u la r e m u m a s e m im p lic a ç ã o c o m a p a la v r a , n e m c o m a h o ~ o f o n ia , nem
lin g u a g e m p a r tic u la r a s p r ó p r ia s id é ia s , u m a g e n te q u e te m c o m a p r o x im a ç ã o f o n é tic a . E ssa p ro p e n sã o q u e s e v ê n o la d o
h á b ito s , in s tin to s tã o e s p e c ia is e que ta n ta s pessoas tê m a r id íc u lo d o s f a to s é c o n s e q ü ê n c ia d o h u m o r h ilá r io e e x tr a v a -
te m e r e a e n g a n a r! A c r e s c e n te - s e q u e e s s a g e n te se re ú n e g a n te , q u e c o n s ta ta m o s n o s o c io s o s e v a g a b u n d o s , c la s s e d e
se m p re nos m esm os c e n tr o s , p r is õ e s , p r o s tíb u lo s , h o té is , e in d iv íd u o s em que s e r e c r u ta m ta n to s d e lin q ü e n te s e que
n ã o a d m ite m s o c ie d a d e c o m a q u e le s q u e n ã o te n h a m a m es- s ã o o s v e r d a d e ir o s d iv u lg a d o r e s d o ja r g ã o . D a m o s e x e m p lo s
m a te n d ê n c ia . U n s c o m o u tr o s s e c o n f r a te r n iz a m c o m im p r e - d e a lu s õ e s ir ô n ic a s n a s q u a is a m e n te não f o i g u ia d a p e la
~ v id ê n c ia e f a c ilid a d e e x tr a o r d in á r ia s , e n c o n tr a n d o e x a ta - a n a lo g ia d o s o m , m a s d a r e la ç ã o d e id é ia s .
'.", m e n te n a g ír ia u m a f o r m a d e r e c o n h e c im e n to , u m a p a la v r a
~.
~
d e o r d e m . S e n ã o u s a s s e m s e u ja r g ã o , a n e c e s s id a d e de expan- 11. C ausa: c o n ta to
1:: d ir - s e tu m u ltu o s a m e n te , q u e é u m a d a s c a r a c te r ís tic a s d e le s ,
~ s e e x p o r ia m u ito c e d o à s in v e s tig a ç õ e s p o lic ia is e p r e v id ê n c ia H á p a r tic ip a ç ã o , e c o n s id e r á v e l, d o s c o n ta to s com pes-
d e s u a s v ítim a s . s o a s e s tr a n h a s à r e g iã o o u à c o le tiv id a d e , q u e a b r ig a a in f o r tu -
n a d a e q u a se se m p re n ô m a d e p r o f is s ã o . I s to e x p lic a p a r c ia l-
m e n te a f r e q ü ê n c ia d e p a la v r a s h e b r a ic a s e c ig a n a s n o s ja r g õ e s
1 0 . C a r a c te r e s : e x tr a v a g â n c ia s
a le m ã e s , in g le s e s , e tc . D e o u tr a p a r te , e s s e s c o n ta to s pode-
178
179
I
•
'"~il
t:
buraco na lua), "m ontrer le cul" (m ostrar o traseiro"), que o porque são selvagens, vivendo no m eio da florescente civili-
jargão adota com o sinônim o de "falir", pertencem à tradição zação européia. A dotam , então, com o os selvagens, freqüen-
histórica. F oi a pena e castigo dos falidos m ostrar as partes tem ente a onom atopéia, o autom atism o, a personificação dos
traseiras em público e batê-las no chão. E m F lorença, no objetos abstratos. E vem em m inha ajuda nisso as belas pala-
M ercado V elho, conservou-se até há pouco (e talvez se con- vras de B iondelli:
serve ainda) a pedra sobre a qual se fazia sentar os falidos,
cham ada popularm ente de "pedra dos falidos" ou "pedra dos
"P or que os hom ens de várias estirpes, sepa-
caloteiros". A ssociam -se às três expressões precedentes, com o
rados por barreiras naturais e políticas, nos secretos
efeito de tradição "andorinha de praia" por "policial". A praia
conciliábulos, seguiram o m esm o cam inho, e form a-
era local dos suplícios. ram secretam ente m ais línguas, ainda que diferentes
E sta influência da tradição é confirm ada pelo fato de no som na raiz, m as se fizeram idênticas na sua
que o jargão, exatam ente com as expressões atuais, rem onta essência! O hom em estúpido, privado de senso
à época antiqüíssim a, encontrando-se traços dela até em 1350 m oral e abandonado às perversas inclinações natu-
na A lem anha (A vé- L allem ant). O léxico do jargão intitulado rais, que form a um a nova língua, é pouco diferente
"m odo novo de entender a língua zerga", publicado em V e- do hom em selvagem , que faz os prim eiros esforços
neza, em 1549, m ostra-nos com o quase todas as expressões na sociedade. N as línguas prim itivas abundam as
usadas naquela época conservam -se ainda com o "m aggio" onom atopéias: os nom es de anim ais são expressos
= D eus; "perpetua" = alm a, "cantare" = falar, "dragão" = doutor. no jargão do m esm o m odo, em bora figurado".
C om o esses infelizes, que não têm fam ília, possam trans-
m itir tão fielm ente as tradições e expressões, não é bem com - E u acrescentarei (e talvez serei m uito ousado) que até
preensível. C ontudo, fato análogo, m ais evidente, está nas ta- a desfiguração pela redução etim ológica, e pela inversão da
tuagens. O ferecem ainda um a espécie de hieróglifos, cham ados sílaba, é natural na língua, com o por exem plo, "lobo" de
"zink", sinais que usam os incendiários para revelar o lugar de "w olf", e tam bém a fusão de dois significados etim ológicos:
encontro ou apontar o lugar do golpe, e que foram transm itidos cabelo de "caput" (cabeça) e pêlo de "pilus". P or isso as ex-
de tem pos bem antigos, talvez anteriores às escrituras (A vé- pressões de jargão, com o "m am ãe" (terra) que reproduzem a
L allem ant). E não vem os, por outro lado, entre os soldados e m itologia da deusa da fartura, e de "serpente" (ano), que
m arinheiros, estes tam bém sem fam ília, e m uitas vezes sem renova o hieróglifo egípcio, eu o interpretarei, antes da pes-
pátria, revelarem -se usos e tradições de tem pos m uito rem otos? quisa dos eruditos, com o retom o psicológico da época antiga.
_.
'<0'",;'
:l~
180 181
1'1;1<">"
1.<'1~:<'
II
ja rg ã o , m a s o tin h a m n o s te m p o s a n tig o s . A lín g u a e ró tic a
c ia tu s " e s ta v a tra d u z id a " a b a s ta d i" , q u e o d e m e n te e n te n d e u
I
d o s é c u lo X V I e ra v e rd a d e iro ja rg ã o d a s p ro s titu ta s : o a to
" à b a s T a rd y " , o u s e ja , a m e s m a p ro n ú n c ia d e " a b a s ta rd i" . O
s e x u a l tin h a 3 0 0 s in ô n im o s , a s p a rte s s e x u a is 4 0 0 , p ro s titu ta
v ic ia tu s e ra a tra d u ç ã o d e u m a h o m o fo n ia .
1 0 3 e e ra n o s te m p o s d a a n tig a R om a, onde e la s tin h a m um
N em o d e lin q ü e n te nem a p ro s titu ta podem s e r c o n s i-
ja rg ã o d e g e s to s . Segundo se re fe re Sêneca, in tro d u z in d o o
d e ra d o s c o m o d e m e n te s ; é p o r is s o q u e s ã o d irig id o s c o n s c ie n -
dedo m é d io n a o u tra m ã o fe c h a d a a lu d e -s e à s o d o m ia .
te m e n te à v id a to rta . O s d e lin q ü e n te s tê m p o ré m a lg u m a
A lg u m a p a rte d o ja rg ã o é u s a d a , a in d a h o je , n o s p ro s tí-
p a rc e la d e d e m ê n c ia . A s p ro s titu ta s por um a im a g in a ç ã o
b u lo s : b a s ta ria re c o rd a r a fre q ü ê n c ia d e p a la v ra s q u e a lu d e m
d e s e q u ilib ra d a , p e la irrita b ilid a d e im b e c il, m a s a m b o s p e la
a c o ito . A p ró p ria p ro s titu iç ã o d e a lto b o rd o d e P a ris te m
v a id a d e e x u b e ra n te , p o r a q u e le s e n tim e n to q u e s e p o d e ria
u m a e s p é c ie d e ja rg ã o , c o m o " c o c o te " = g a lin h a , d e s ig n a n d o
cham ar com a e x p re ssã o d e T a in e : " h ip e rtro fia do eu".
u m a p ro s titu ta o u m u lh e r p o r d e m a is lib e ra l. " P e re D o u illa rd
E a in d a a lin g u a g e m d e le s o p ro v a , c o m a a b u n d â n c ia
é o m a n te n e d o r d e u m a m u lh e r (c o ro n e l); " p is te u r" (c o rre to r
d a s m e tá fo ra s , c o m o s o u s a d o s tra s la d o s , c o m a s s e q ü ê n c ia s d a s
d e h o té is ) é o hom em q u e s e g u e a m u lh e r p e la v id a .
h o m o fo n ia s , jo g o d e p a la v ra s , tro c a d ilh o s , com um liris m o
d e id é ia s e m q u e a ra z ã o d e q u e m fria m e n te o e x a m in e , s e v a i
];< 15, D e m e n te s
p e rd e n d o . A fra s e " te r a s id é ia s d e s c o o rd e n a d a s " , e u fe m is m o
-
',t,'
N o s d e m e n te s n ã o s e e n c o n tra u m ja rg ã o , m a s a c ria ç ã o d a lín g u a v u lg a r p a ra in d ic a r o e s ta d o
m u ita s v e z e s a p lic á v e l ta m b é m
m e n ta l
a o d e lin q ü e n te .
d o d e m e n te , é
.'
-~.
fre q ü e n te
causa,
d e p a la v ra s
é e s p e c ia l p a ra
p o r h o m o fo n ia
e le s . E a q u i m e
e p a la v ra s
a p ra z c ita r
novas, sem
a lg u m a s
:;: n o ta s de um o b se rv a d o r, q u e , m a lg ra d o não s e ja a lie n is ta ,
v iu m a is lo n g e q u e m u ito s a lie n is ta s . A lin g u a g e m b u rle s c a
d á m u ita s v e z e s u m a id é ia s e m n e x o a p a re n te . P o d e -s e d iz e r
que há fa lta de nexo? N ão! O d e m e n te vê na sua fé rv id a
im a g in a ç ã o c e rta s re la ç õ e s d e id é ia s que escapam de nós,
ta lv e z p o r s e re m m u ito lig e ira s , fu g a z e s , lo n g ín q u a s . L e m b ro -
m e d e u m jo v e m fra n c ê s a fe ta d o p e la d e m ê n c ia , p a ra q u e m
a fa m ília tin h a dado um a io e v ig ila n te s a c e rd o te de nom e
T a rd y , q u e o jo v e m n ã o a p re c ia v a , p o r o u tro la d o , u m ó tim o
e re s p e itá v e l hom em . A p ó s a lg u m te m p o , o jo v e m passou a
cham ar seu p re c e p to r com o nom e d e " V ic ia tu s " sem que
n in g u é m p u d e sse c o m p re e n d e r q u e n e x o p o d e ria h a v e r e n tre .,
e s s e v o c á b u lo
la tin o -fra n c ê s
la tin o
d o irm ã o
e a a u s te ra
A p ó s a lg u n s a n o s , c o n s e g u ira m
d o jo v e m
pessoa a quem
d e m e n te ,
e ra a p lic a d o .
d e s c o b rir q u e n u m d ic io n á rio
a p a la v ra " v i-
i
:,1 ;t.
•••>¥.
~.
182 II
.~~~ 183
15. A S S O C IA Ç Ã O PARA O M AL
E s s a a s s o c ia ç ã o p a ra o m al é um d o s fe n ô m e n o s m a is
im p o rta n te s do tris te m undo do c rim e , não s6 p o rq u e no
m a l s e v e rific a a g ra n d e p o tê n c ia d a a s s o c ia ç ã o , m a s p o rq u e
d a u n iã o d e s s a s a lm a s p e rv e rs a s b ro ta um fe rm e n to m a lig n o
que fa z re s s a lta r a s te n d ê n c ia s s e lv a g e n s . E s s a s te n d ê n c ia s ,
re fo rç a d a s por um a e s p é c ie d e d is c ip lin a e p e la v a id a d e do
d e lito , im p e le a u m a a tro c id a d e q u e re p u g n a ria à m a io r p a rte
d o s in d iv íd u o s is o la d o s .
C om o s e ria n a tu ra l, ta is s o d a líc io s se fo rm a m m a is
a m iú d e onde abundam o s m a lfe ito re s , com a im p o rta n te ex-
ceção de que e le s re fre ia m a te n a c id a d e e a c ru e ld a d e em
c e rto s p a ís e s , tra n s fo rm a n d o -o s em a s s o c ia ç õ e s e q u ív o c a s ,
,.
"1~, p o lític a s o u m e rc a n tis . O o b je tiv o d a s a s s o c ia ç õ e s m a ld o s a s
" 'I;~;
-.;;.~ é quase se m p re o de a p ro p ria r-s e do a lh e io , a s s o c ia n d o -s e
~
~ : 185
•••
g'
•••
,.
com bom núm ero de pessoas exatam ente para fazer frente à A lgum as vezes, notou-se nos grandes bandos verda-
defesa legal.
deira subdivisão de trabalho. U m atua com o carrasco, outro
. O utrora, foram notadas associações para abortos, para com o chefe, com o secretário, com o caixeiro-viajante, algum a
envenenam ento, e, em alguns lugares, foram notadas para a vez enferm eiro ou m édico. T odos seguem um a espécie de
pederastia, que encobtiam o vício com a aparência de ternura, código ou de ritual, que, m esm o sendo im pessoal, form ado
e até m esm o para o hom icídio sem fins lucrativos, só pelo espontaneam ente e não por escrito, é seguido à risca.
prazer de fazer o sangue jorrar, com o foi o caso dos "E sfaquea- c E ntre bandidos de R avena havia um a espécie de hierar-
dores de L ivorno", e ainda para o canibalism o e o estupro quia; estes, com o tam bém os cam orristas, cham avam de
por fanatism o religioso dos sicários russos. "m estre" os seus chefes, e, antes de deliberarem sobre algum
fato atroz, faziam juram ento sobre um punhal. A ntes de
2. S exo, idade, condição m atar, m andavam freqüentem ente um aviso à vítim a, com
am eaça sim bólica.
A s condições dos m alfeitores associados correspondem ,
naturalm ente, às do m aior núm ero de delinqüentes. O s do
4. C am orra
sexo m asculino têm a m áxim a predom inância, em bora se en-
contrem esporadicam ente bandos chefiados por m ulher, A m ais com pleta organização é dada por esse bando
com o o de L uiza B ouviers, que dirigiu por volta de 1828 um perverso, que dom ina N ápoles, com o nom e de C am orra.
bando de ladrões. V erem os nas m ulheres, porém , inclinação C onstitui-se quando se agrupam vários presidiários e ex-presi-
~ para m ales dom ésticos; predom inavam há tem pos em R om a diários; em pequenos grupos independentes entre si, m as
e P aris associações para o envenenam ento. sujeitos a um a vida hierárquica.
A idade dos m alfeitores é quase sem pre a da m ocidade; A C am orra não podia tom ar graves providências sem
entre 900 bandidos da B asilicata e a C am pânia 600 eram consultar os m em bros reunidos em assem bléia, que discutia
m enores de 25 anos. com a m esm a gravidade e acerto as pequenas m inúcias com o
as questões de vida ou de m orte. A ssistido por um auditor,
3. O rganização um tesoureiro e um secretário, o m enos ilustrado de seus
subordinados, deveria indicar o desafeto, regular as lides,
O bserva-se que m uitos bandos de m alfeitores, em bora , .~ propor à assem bléia as punições que variam da perda parcial
inim igos da ordem e da sociedade, apresentam um a espécie ir.. ou total dos despojos, os roubos, à censura ou até à m orte, ou
de organism o social. Q uase todos têm um chefe, arm ado de • m esm o ao perdão .
poder ditatorial que, com o nas tribos selvagens, depende m ais
íl A ssim é cham ado o fruto das regulares extorsões dos
de seus dotes pessoais do que da turbulenta aquiescência fi.
1£... jogadores, dos bordéis, dos vendedores de m elancias, de jor-
II
dos dem ais, e todos têm afilhados externos ou protetores em
~>
186
187
- - - - - - - _ .~ ~
~ --~ . - -
d e v e r ia
to d o s
p a g a r o " ó le o p a r a a m a d o n a " ;
o s se u s h a v e re s. D e v ia
pagava u m d é c im o
p a g a r p a ra b e b e r, p a ra
de
c o m e r,
O n o v o " c o m p a n h e ir o "
ju n to
a p r e s e n ta v a - s e
a u m a m e s a e m q u e s e e n c o n tr a
p e r a n te
o r e tr a to
d o is " ir m ã o s "
o u a p in tu r a
I~
p a r a jo g a r , p a r a v e n d e r , p a r a c o m p r a r . O s m a is d e s p r o te g id o s d e u m s a n to o u d e u m a s a n ta e lh e s e s te n d e o b r a ç o d ir e ito .
e ra m c o n s tr a n g id o s a vender a m e ta d e d e s u a r e f e iç ã o ou O s ir m ã o s f a z e m u m f e r im e n to n a m ã o o u n o b ra ç o d o c o m p a -
p a r te d e s u a r o u p a p a r a p o d e r f u m a r o u jo g a r . n h e ir o q u e d e r r a m a s a n g u e s o b r e a im a g e m d o s a n to . D e p o is ,
O c ó d ig o d e le s n ã o e r a f o r m u la d o nem e s c r ito , m as com a cham a d a v e la , q u e im a o r e tr a to . F a z o ju r a m e n to de
n e m p o r is s o d e ix a v a d e s e r s e g u id o m in u c io s a m e n te . O con- s e r v ir à M á f ia a n te a s c h a m a s d o r e tr a to d o s a n to ~ ~ .'
denado não p o d ia m a ta r um c o le g a sem a p e r m is s ã o do Q uem f a lta s s e a o ju r a m e n to e r a d e c la r a d o " in f a m e " , o
" c a p o " . N ã o p o d ia r e la c io n a r - s e c o m a p o líc ia . E r a c o n d e n a d o q u e s ig n if ic a s e r c o n d e n a d o à m o r te d e n tr o e m b r e v e , a in d a q u e
à m o r te quem tr a ís s e a " s o c ie d a d e " o u ro u b a sse o u m a ta s s e e s te ja p r e s o . A lg u n s s e s u ic id a m o u e n lo u q u e c e m p e lo te r r o r
se m o rd e m d o s c h e f e s o u q u e v io la s s e a m u lh e r d e le s . T a m - d o f u tu r o .
b é m m o r r ia q u e m r e c e b e s s e o r d e m d e m a ta r e n ã o a c u m p r ia .
A lg u m a s d e s s a s o r g a n iz a ç õ e s , b a se a n d o -se n a s in g u la r
te n a c id a d e r itu a l e n a te n d ê n c ia c a v a lh e ir e s c a , o u n o c o lo r id o
a s r e g r a s d o s e u c ó d ig o , a n ô n im o ,
Á",
te r r iv e lm e n te o b e d e c id o , p a r a e n c o b r ir a s a ç õ e s m a ld o s a s , p a r a c o m b a te r a s le is r e p r e s -
I
I
da "O M E R T r e v e la d o p o r C r u d e li e M a g g io r a n i e que se s o r a s d o c r im e , s o b o m a n to d e c o m b a te r o G o v e rn o . E , r e a l-
I
e x p r e s s a e m c e r to s d ita d o s p o p u la r e s , com o "a quem nega o m e n te , o s c a m o r r is ta s e m a f io s o s s e lig a r a m a o s r e v o lu c io n á -
pão, você nega a v id a " . O s a r tig o s p r in c ip a is desse c ó d ig o r io s n o s te m p o s d o G o v e r n o d o s B o u rb o n s, e a o u tr o s m o v i.
s ã o : a b s o lu to s ilê n c io s o b r e o s d e lito s c o m e tid o s p o r o u tr e m , ;
m e n to s d e o p o s iç ã o . ,
a o b r ig a ç ã o d e p r e s ta r f a ls o te s te m u n h o p a ra c o n f u n d ir a
P o r o u tr o la d o , o s m a is r e f in a d o s m a la n d r o s se m p re
J u s tiç a , o p o r-se à p o líc ia p a r a f a z e r a p a g a r o s tr a ç o s , andar
II
tiv e r a m u m a c e r ta a u r é o la d e c a v a lh e ir is m o , u m p o u c o p e la
a rm a d o , tr a v a r d u e lo a q u a lq u e r p r e te x to , r e a g ir à to d a
g e n e r o s id a d e q u e c o m u m e n te c a r a c te r iz a o hom em m uscu-
o f e n s a . D e v e r ia a ju d a r c a d a ir m ã o m a f io s o a r e a g ir à s o f e n s a s
lo s o , u m p o u c o p e la n e c e s s id a d e d e te r a s im p a tia do povo
e a ju d a r o s q u e c a ís s e m n a s m ã o s d a J u s tiç a e fo rm a r um
s im p le s , q u e lh e d á s o c o r r o e a b r ig o . N o f u n d o , a C a m o r r a e
p e c ú lio p a r a c u s te a r a d e f e s a d e le s .
£
a M á f ia s ã o v a r ia n te s d a m a la n d r a g e m v u lg a r . B a s ta d iz e r
A e n tr a d a
r itu a l. N o p e r ío d o
d e n o v o m e m b ro
d e in ic ia ç ã o
d a M á f ia o b e d e c ia
e ra c h a m a d o d e "c o m p a re "
a um .~".
j:i..,:_c • q u e o s c a m o r r is ta s e o s m a f io s o s a p r e s e n ta m o s c a r a c te r e s
j
p r ó p r io s d o s d e lin q ü e n te s c o m u n s , c o m o p o r e x e m p lo , g o s -
g
(c o m p a d re ) n u m a s e s s ã o e s p e c ia l d a " a s s e m b lé ia d o s s ó c io s " .
.~.
ta m d e u s a r jó ia s e a n é is , v e s tir q u a s e q u e u m u n if o r m e , u s a m
...I~,
188 -~ - 189
":'.;. .•. y:
a g ír ia p e c u lia r d e le s , c h a m a m d e ir m ã o s e u s c o le g a s d e d e lin - c r a v o s e m s u a te r r a p e lo s r ic o s ; p o r is s o n ã o s e
q ü ê n c ia , b e ija m - s e e n tr e s i. p o d e rá nunca n u tr ir u m ó d io p r o f u n d o c o n tr a
c o m o a m a io r ia d o s d e lin q ü e n te s d o c r im e o r g a n iz a d o . E n tr e - p r e z ív e is . T o d a p r o p r ie d a d e c o n q u is ta d a com o
tr a b a lh o d e o u tr e m é ile g ítim a . A s o c ie d a d e de-
ta n to , e le s s e m o s tr a m im p la c á v e is p a r a c o m o s in im ig o s .
c la r a o s r ic o s f o r a d o s d ir e ito s h u m a n o s , e , p a ra
c o m b a tê - lo s , to d o s o s m e io s s ã o b o n s , s e m e x c e -
6 . C ó d ig o d o s c r im in o s o s tu a r o f e r r o , o f o g o e n e m m e s m o a c a lú n ia " .
A in q u ie ta b a le la d e n o s s o s é c u lo p e n e tr o u n a s o r g a n i-
z a ç õ e s c r im in o s a s . P o r is s o , c r e io q u e s e o b s e r v o u em nosso V in h a m e m s e g u id a o s v á r io s a r tig o s d o c ó d ig o , r e p e -
te m p o v e r d a d e ir o c ó d ig o e s c r ito num a q u a d r ilh a d e P a r is ; tin d o a s n o r m a s g e r a is d a M á f ia e d a C a m o r r a , p re sc re v e n d o
e s s e c ó d ig o lim ita a 1 4 o n ú m e r o d e m e m b r o s e im p õ e c e r to s a o b r ig a ç ã o d e g u a r d a r s e g r e d o , d e c u m p r im e n to d o s e n c a rg o s
m é to d o s o p e r a c io n a is n a p r á tic a d o s c r im e s , c o m o d e s e m b a - im p o s to s p e la M ã o N e g r a , s o b p e n a d e s e r c o n s id e r a d o tr a i-
ra ç a r d e ro u p a s q u e p o ssa m c o n s titu ir in d íc io s o u tr a ç o s d a d o r , n e g a r e m p ú b lic o q u a lq u e r lig a ç ã o c o m a M ã o N e g r a o u
a ç ã o o u s a p a to s q u e r a n g e m , c a m in h a r p a r a tr á s p a r a ilu d ir a s s im p a tia c o m s u a c a u s a , p a s s a r p e lo n o v ic ia d o .
in v e s tig a ç õ e s , usar a p e lid o s ou nom es f a ls o s , n ã o d e ix a r
a n o ta ç õ e s d o p r ó p r io p u n h o , e v ita r a m a n te s d u r a d o u r a s , usar
l
, a r m a s s ó e m c a s o d e n e c e s s id a d e . A m a io r p a r te d a s in f r a ç õ e s
a e s s e c ó d ig o p o d e le v a r o in f r a to r à m o r te .
1
N a E spanha r e c e n te m e n te d e s c o b r iu - s e u m a e x te n s a
q u a d r ilh a com o nom e de M Ã O NEGRA, c o m p o s ta por
v is io n á r io s , q u e n ã o v ia m s o lu ç ã o p a r a a p o b r e z a s e n ã o nas
c a tá s tr o f e s s o c ia is . S e u c ó d ig o d e c la r a v a o o b je tiv o d e d e f e n -
d e r o s p o b r e s e o p r im id o s c o n tr a s e u s c a r r a s c o s e e x p lo r a d o r e s
d e s e u tr a b a lh o . P r o je ta m u m v e r n iz s o c ia l, b e n e f ic e n te , p o lí-
tic o - id e o ló g ic o , p a r a e n c o b r ir a s m a n if e s ta ç õ e s d e p e r v e r s i-
d a d e e b a ix e z a d e s u a s o p e r a ç õ e s . A a b e r tu r a d e s e u c ó d ig o
tr a z u m c o n s id e r a n d o f ilo s ó f ic o :
190 191
;"~
,.~
E D E L IN Q Ü E N T E S NATOS
"t
..i:;
.' 2 6 . H isto lo g ia p a to ló g ic a d a d e m ê n c i a m o ra l
2 7 . A h e re d ita rie d a d e n a d e m ê n c ia m o ra l
r"
1 . J u s ta s h e s ita ç õ e s
A n te s de passar a o e s tu d o do d e lin q ü e n te -d e m e n te ,
f.: d e v e m o s c o m e ç a r a tra ta r, o u m e lh o r, e x c lu ir d e s s a c la s s e o d e -
:'\'
~.
lin q ü e n te m o ra l, d o q u a l já h a v ía m o s tra ta d o a o e s tu d a r o
, t.;!\ d e lin q ü e n te -n a to . S o b re o p rim e iro , o nosso le ito r ou o ho-
'- ," , ~:
~ .:' -"'","';,X
m em com um , e x p e rim e n ta rá , c e rta m e n te , g ra n d e re p u g n â n -
,,~;'f~
'.~ ~
194
195
_ ..~
"
.'c
3. P eso ré u n a to . A n te s M o re i, d e p o is L e g ra n d d e S a u lle e a g o ra
d e m e n te s m o ra is , 2 2 e ra m d e p e s o e ro b u s te z ig u a lo u m a io r
I d e n te s m a l c o n fo rm a d o s c o m p re c o c e c a íd a n a s fo rm a s m a is
4 . C râ n io v o lu m o s a s , a s s im e tria fa c ia l, o re lh a s d e s ig u a is , fa lta d e b a rb a
n o s h o m e n s , fis io n o m ia v iril n a s m u lh e re s , â n g u lo fa c ia l b a i-
Q u a n to à s m e d id a s d o c râ n io , e s ta m o s ta m b é m re d u z i-
x o . E m n o s s a s ta b e la s fo to lito g rá fic a s d o á lb u m g e rm â n ic o
dos a poucos c a s o s , q u e n ã o b a s ta m c e rta m e n te p a ra d a r- o b s e rv a r-s e -á q u e 4 e n tre 6 d o s d e m e n te s m o ra is tê m v e rd a -
n o s u m c rité rio s e g u ro p a ra a n a lo g ia . E m 1 4 d e m e n te s m o ra is d e iro tip o c rim in a l. M e n o re s s ã o ta lv e z a s a n o m a lia s n o c râ n io
d e V irg ílio e n c o n tra m o s u m a c a p a c id a d e c râ n ic a d e 1 .4 5 0 e n a fis io n o m ia d o s id io ta s , e m c o n fro n to c o m o s c rim in o s o s ,
n a s m u lh e re s , 1 .5 3 8 n o s h o m e n s , c o m o m á x im o d e 1 .6 9 3 e o q u e s e e x p lic a ria p e lo m a io r n ú m e ro d e d e m e n te s m o ra is ,
m ín im o d e 1 .5 1 8 .J u s tific a re m o s a d ia n te e s ta fa lta d e a n a lo g ia , a o m e n o s n o m a n ic ô m io , s u rg id o s n a id a d e ta rd ia , m o tiv a d a
a q u e c o n trib u iu a in d a m a is q u e o p e s o a e s c a s s e z d e s s a s p o r tifo , e tc . P a ra e s te s , a fis io n o m ia n ã o te v e te m p o p a ra
m e d id a s . P o r o u tro la d o , C a m p a g n e te ria (e e u c re io e x a g e ro ) to m a r fe iç ã o s in is tra m e n te , c o m o n o s ré u s n a to s . E le s fre -
e n c o n tra d o 1 2 v e z e s e m 1 3 o c râ n io d im in u íd o e e s c o n d id o q ü e n te m e n te acom panham e s s a s d e fo rm id a d e s q u e s ã o p ró -
o o c c ip ita l n o s d e m e n te s m o ra is . K ra fft- E b b in g e L e g ra n d d e p ria s n a s p a ra d a s d e d e s e n v o lv im e n to , o u d a d e g e n e ra ç ã o : e
S a u lle fa la m d a fre q ü e n te m ic ro e n c e fa lia . É u m fa to d e s e ta is e ra m e x a ta m e n te a s lo u c u ra s c u id a d a s p o r S a le m i-P a c e
n o ta r q u e o s m ic ro e n c é fa lo s to rn a d o s a d u lto s , m a is a in d a e B o n v e c c h ia to .
q u e a p e rd a d a in te lig ê n c ia , m o s tra m a p e rv e rs ã o d o s a fe to s
É n e c e s s á rio re c o rd a r q u a n to p a ra a fis io n o m ia dá
d o s e n s o m o ra l.
e x e m p lo o m ilita r, o p a d re , o s a c ris tã o , u m d a d o e n d e re ç o
É fre q ü e n te m e n te g e ra l o a c o rd o d e n ã o a d m itir nos c o n tin u a d o desde a p rim e ira in fâ n c ia em m e io a com pa-
d e m e n te s m o ra is a g ra n d e fre q ü ê n c ia d a s a n o m a lia s c râ n ic a s n h e iro s d o m a l, q u e p la s m a a fa c e , o o lh a r, c o m u m s in a l
e fis io g n o m ô n ic a s , q u e v im o s c a ra c te riz a d a s m u ita s v e z e s n o ",f'
com um , d e c o rre n te d a c o n v iv ê n c ia p ro lo n g a d a e im p o s ta
J'
í:"'
.",_'t
196 z- 197
.~ i.
~ I
•••••• T_
reformatórios e no cárcere. A ela se adiciona a modifi- É portanto a analgesia (insensibilidade à dor) um dos caracte-
lO especial pelo medo da surpresa, das apreensões de uma res mais freqüentes do demente moral, como também dos
" que é fora da lei. Esta última é a ra;:ão com que justa- criminosos natos. Lembro-me como nos poucos casos de his-
'1te me explicava o ilustre astrônomo Tacchini, a fisiono- terias hipnóticas com a desintegração da personalidade, a
., habitual de alguns bandidos nos países em que o bandi- irrupção das tendências imorais se manifestasse muitas ve;:es
"110 não fosse protegido pela população. na completa anestesia e analgesia.
M elhor ainda se houver analogia nas anomalias funcio- Da sensibilidade tátil bem pouco foi estudada nos de-
lis constatadas por Legrand de Saul1e, Krafft-Ebbing, Bon- mentes morais, mas é curioso que de 4 observados por Amadei
.,cchiato: estrabismo, nistagmo, motoconvulsismo de rosto, e Tonnini um apresentava mancinismo sensório. Outro caso
':asia em leve grau, pé eqüino, hiperestesia temporânea e de Berti o revelava como o mais saliente e um ou dois demen-
, .:riódica, exagero ou falta de excitamento genérico, intole- tes morais por mim examinados, para os quais se teria notado
: :'incia dos alcoólatras. 4 em 8 e 5 em 9, foi admitido por Cal1isto Grandi que os
Entre os caracteres biológicos poder-se-ia crer que a apresentou.
:
_. :malgesia e a anestesia fossem privativas dos criminosos, mas
:. ;lS últimas histórias recolhidas na ciência provam precisa- 8. Tatuagem
': :nente o contrário. Comuniquei como na prática privada en-
Nem mesmo a tatuagem, que parece tão característica
"' contrei um demente moral que, mesmo tendo blenorragia,
no delinqüente, pode ser excluída dos verdadeiros dementes
continuava a cavalgar e fe;: uma escalada alpina, e ria en-
morais, visto que se constatarmos os belos casos de De Paol1i,
quanto lhe era extraído um membro. Renaudin relata o caso
achamos que a maior parte di;: respeito a dementes morais.
de um jovem, a princípio bom, e, de repente, se fe;: estranha-
O único demente moral que pude encontrar no manicômio
mente perverso. Embora não fosse reconhecido absoluta-
de Turim era tatuado, e, por outro lado, os mais astutos delin-
mente demente, tornou-se insensível; voltando depois de
qüentes recusam a tatuagem, tanto que todo ano vemos uma
um certo tempo à vida sensata de antes, sua sensibilidade
cifra menor dela.
cutânea foi reintegrada, mas, recaindo na perversão moral
até o homicídio, recaiu também na insensibilidade.
9. Reação etílica
Tamburini e Seppil1i, no estudo de um fratricida, parri-
cida e demente moral, acharam-no analgésico. Assim é que , A única prova feita com hidrosfigmógrafo em um de-
furando, com um alfinete, as carnes, a língua, a fronte, não mente moral revela identidade da escassa reação etílica, e
1-
viam nele sinais de dor. Um dos examinados apresentou dimi- L;,. Krafft-Ebbing notou também reação etílica irregular, como
nuta sensibilidade elétrica n<!opalmae outro no dorso da mão.
tI' ',
,. ainda nenhuma reação dos akoólatras à 1m.
198 -
~
;~ ~ 199
i~" "
1 0 . A g ilid a d e A s noções d e in te re s s e p e s s o a l d o ú til o u d o n o c iv o ,
d e d u z id o s d a ló g ic a p u ra , podem s e r n o rm a is ; vem daí um
Em trê s d e m e n te s m o ra is n o te i a a g ilid a d e e x a g e ra d a
frio e g o ís m o , q u e re n e g a o b e lo , o b o m , a a u s ê n c ia de am or
que em u m c a s o e ra v e rd a d e ira m a c a q u ic e , e fic a c o n fo rm e
. filia l (n ~ c ;rd a m o s a q u e le a le m ã o que m a to u a m u lh e r e a
o q u e n o ta m o s n o s c rim in o s o s , d o s q u a is tín h a m o s e s q u e c id o ,
m ã e p a ra poupar a e la s a s d o re s d a d o e n ç a ), a in d ife re n ç a
m a s a g o ra re c o rd a m o s a s fa m o sa s e v a sõ e s d e S h e p p a rd e de
p a ra com a in fe lic id a d e a lh e ia . S e e le s e n tra m em c o lis ã o
H a g g a rd .
com a le i, e n tã o a in d ife re n ç a se m uda em ó d io , v in g a n ç a ,
fe ro c id :ld e , n a p e rsu a sã o d e e s ta r n o d ire ito d e fa z e r o m a l.
1 1 . S e x u a lid a d e
E le s tê m n o ç ã o d a c u lp a b ilid a d e e m c e rto s c a s o s d a d o s ,
A p re c o c id a d e d a p e rv e rsã o s e x u a l, o e x a g e ro s e g u id o m as é um a noção re a lm e n te a b s tra ta e quase m e c â n ic a da
d a im p o tê n c ia , já tin h a m s id o n o ta d o s p o r K ra fft- E b b in g n o s le i. E le s fa la m d e o rd e m , ju s tiç a , m o ra lid a d e , re lig iã o , h o n ra ,
d e m e n te s m o ra is , c o m o p o r m im . E le s tê m a n o m a lia p a te n te p a trio tis m o , fila n tro p ia (v o c á b u lo s p re fe rid o s d o v o c a b u lá rio
d o s in s tin to s , p rin c ip a lm e n te o s s e x u a is , fre q ü e n te m e n te p re - d e le s ), m a s o q u e lh e s fa lta é e x a ta m e n te o s e n tim e n to re la -
m a tu ro s o u a n ti-n a tu ra is , o u p re c e d id o s d e a to s fe ro z e s , s a n - tiv o à q u e la s p a la v ra s . É n e s ta fa lta q u e s e e n c o n tra a e x p lic a -
g u in á rio s . N ó s , a lé m d e re c o rd a rm o s v á rio s c rim in o s o s , le m - ç ã o d e p e n s a m e n to s tã o e s tra n h o s e c o n tra d itó rio s so b re o s
b ra m o s ta m b é m a p re c o c id a d e s e x u a l n o ta d a n o s la d rõ e s e o m e s m o s fa to s e e s ta é a ra z ã o p e la q u a l e m v ã o s e te n ta con-
e x a g e ro s e x u a l d o s a s s a s s in o s e a e s tra n h a e s c o lh a d o s e s tu - v e n c ê -lo s d e s e u s e rto s , d a im o ra lid a d e d e s e u s a to s , d o a b s u r-
p ra d o re s e d o s m e n in o s a n ô m a lo s . d o d a s o p in iõ e s , a in ju s tiç a d e s u a s a m b iç õ e s .
Em sum a, n is to se e n c e rra o se g re d o p ro v o c a n te da
200
201
•
.• 0lIIiili.
m e n to s , e le s s e d e ix a m g u ia r u n ic a m e n te p e lo in s tin to , só se 1 3 . A fe tiv id a d e
p re o c u p a m c o m o p re s e n te , d e s p re z a n d o o fu tu ro .
É p ró p rio d o s d o is tip o s d e c rim in o s o s o ó d io , a in d a q u e
A pós um a tris te a ç ã o , s ã o in d ife re n te s com o se não
s e m c a u s a , e n a tu ra lm e n te a in d a n i~ ;s Ó d io , in v e ja e v in g a n ç a
fo s s e m o s a u to re s , d o rm in d o u m s o n o tra n q ü ilo . N a s c o n v e r-
quando a c a u s a s e ja le v e . E s s e s d o e n te s , e s c re v e u M o te t, s ã o
s a s e m a lta v o z , e n fá tic a s , n o s e s c rito s , e n c o n tra m -s e fra s e s
e s tim u la d o s p e lo d e s e jo d e c a u s a r o m a l. In c a p a z e s d e v iv e r
s o n o ra s , e lo q ü e n te s , e s p iritu o s a s , m as sem nenhum s e n ti-
e m fa m ília , d a q u a l fo g e m p o r m o tiv o s fú te is o u s e m m o tiv o ,
m e n to . Q u a lq u e r in fe lic id a d e que g o lp e ie a lg u m p a re n te
p re fe re m d o rm ir d e b a ix o d a p o n te d o q u e n a c a s a p a te rn a .
ín tim o , c o n h e c id o o u a m ig o , o s c o m o v e . F a la m d e v irtu d e e
U m g a ro to d e 1 0 a n o s , d e o lh o s n e g ro s e e x p re s s ã o d e s c a ra d a ,
d e v íc io , m a s s ã o fra s e s q u e re p e te m , d a s q u a is c o n h e c e m o
s e m p re a v e s s o à e s c o la , jo g o u u m c o m p a n h t;iro na água, só
s ig n ific a d o , m a s n ã o o s e n te m ; p o r is s o , p ra tic a m a to s v irtu o -
p a ra v ê -lo a fo g a r-s e . E ra filh o d e u m la d rã o . N o c á rc e re c o rta v a
s o s s ó p o r v a id a d e .
a s c o b e rta s e n e n h u m a p u n iç ã o e ra s u fic ie n te p a ra im p e d i-lo .
B ra n c a le o n e re tra ta o lo u c o m o ra l: v a riá v e l d e c a rá te r,
C a ta rin a B (e s c re v e B o n v e c c h ia to ) fa la m a l d o s o u tro s
v e rs á til, e x c ê n tric o , p a ra d o x a l, s is te m a tic a m e n te h o s til a to d a
e s e d iv e rte c o m is s o e s p e c ia lm e n te s e a o fe n d e m , m a s ta m -
" te n d ê n c ia m o ra liz a d o ra , in d e c is o n o s p ro p ó s ito s , e x tre m a -
bém se chegam p e rto d e la . O d e ia c a d a u m q u e s e ja b e m d is -
- m e n te e x c itá v e l, in s e n s ív e l à s a le g ria s d o m é s tic a s , in a c e s s ív e l
p o s to , c o m o s e e s tiv e s s e fa z e n d o d e s fe ita a e la , o u a in d a s e
à s d o ç u ra s d o a fe to , in s tin tiv a m e n te le v a d o à re b e liã o , à e x -
a lg u é m lh e fiz e s s e a lg u m b e m . U m d ia p e d iu p a ra q u e a d e i-
'7 tra v a g â n c ia e a o e s c â n d a lo . D e c la ra a lta m e n te n ã o a c re d ita r
x a s s e m e s p a n c a r d o is c ã e s . P o r q u ê ? p e rg u n ta ra m -lh e . P o rq u e
n a v irtu d e , s u s te n ta n d o c o m u m lu x o d e e ru d iç ã o e d e ló g ic a ,
m e irrita v ê -lo s a c a ric ia r o s o u tro s !
a s te o ria s m a is im o ra is , a s m a is le s iv a s à d ig n id a d e hum ana e
à o rd e m s o c ia l.
14. A ltru ís m o
L e v a d o a a v a lia r ju s ta m e n te o b e m e o m a l e a v a lo riz a r
a s re la tiv a s c o n s e q ü ê n c ia s , e s tim a n a tu ra lm e n te a h ip o c ris ia e V e rd a d e é n ã o ra ra m e n te , e m v e z d e e x c e s s iv o e g o ís m o ,
a m e n tira quando p u d e r tira r p ro v e ito d e la s . A o d e c a n ta r a s e n o ta a ltru ís m o . H o lla n d e r conheceu u m a d e m e n te m o ra l
s u a c o ra g e m e n o tra b a lh o d e d e fe s a , d e s c u id a d a s re g ra s q u e te n to u o s u ic íd io a p ó s a m o rte d e u m a a m ig a . F a la ta m -
c o m u n s d a p ru d ê n c ia , d e s c o n h e c e n d o o q u a n to d is s o lh e p o d e bém de um ra p a z q u e , m a lg ra d o u m a v id a d e o rg ia s e d e
s e to rn a r d a n o s o . R e p re s e n ta n d o u m m o d o d ife re n te d o v e rd a - v io lê n c ia d o e n tia , e ra e x c e le n te filh o e irm ã o .
d e iro , p o u c o p e rc e b e a d e s o rd e m d e p e rc e p ç ã o e re p ro d u ç ã o L e g ra n d d e S a u lle n o s fa la d e u m a m ã e q u e , c o m p re -
d a s id é ia s e a c a p a c id a d e d e re s is tir a o s im p u ls o s p e rv e rs o s . te x to d e p re s e rv a r o filh o d a s ífilis o u d e o u tro m a l, e n c a m i-
O s c a ra c te re s q u e a p o n te i n o h o m e m d e lin q ü e n te n a to n h a v a -o a a m o r c a rn a l d e fo rm a ra c io n a l, n o d iz e r d e la . U m
re p e te m e x a ta m e n te e s te q u a d ro . L e m a ire d iz ia : " S e i q u e fiz p a c ie n te m e u , c o m o p re te x to d e fa z e r s e u s filh o s e s tu d a re l1 1 ,
m a l, s e a lg u é m m e d is s e s s e q u e fiz b e m , d iria q u e s e tra ta d e n ã o lh e s c o n c e d ia te m p o p a ra d o rm ir, n e m m e s m o q u a n d o
u m c a n a lh a , m a s n ã o p o d e ria fa z e r d e o u tra fo rm a " . L a c e n a ire a d o e c e ra m . Q uando u m d e le s m o rre u , n ã o s e s u rp re e n d e u e
la m e n ta v a a m o rte d o s o u ti6 s c o m o s e fo s s e a d e u m g a to . v o lto u e m b re v e a e s s a c ru e l e d u c a ç ã o .
202 203
.•.~
.
..~
1 5 . V a id a d e e x c e ssiv a F e rla n d , G ra y , p o r e x e m p lo , a d m ite m u m e n fra q u e c im e n to
e m a is o u tro s u m a irre g u la rid a d e . M o re i e n c o n tra n e le s u m a
N isso e n tra a in d a a m e d ita ç ã o re lig io sa , q u e jo g a n a s
a titu d e in te le c tu a l e sp e c ia l,_ fa c ilid a d e e m e sc re v e r e fa la r e
c o sta s d e D e u s a p ró p ria in se n sib ilid a d e e q u e e la b o ra a té
n a p ro d u ç ã o a rtístic a , su p e ra d a fre q ü e n te m e n te p o r te n d ê n - .
u m a le i: a e x c e ssiv a v a id a d e , p a ra a q u a l g a sta m e e x c e d e m a
c a rid a d e , p a ra a tra ir a e stim a p ú b lic a , o u e n tã o m o stra r ou c ia s p a ra d o x a is. C am pagne n o to u n a e x tra v a g â n c ia d e le s a
fa lta d e se n so c o m u m .
sim u la r riq u e z a . E sta m e g a lo m a n ia , o u se ja , a e x c e ssiv a v a i-
dade, é p ró p ria ta n to n o s c rim in o so s n a to s com o n o s d e -" .." .~ ~ . T am bém K ra fft-E b b in g ,.e llq u a n to n ã o e n c o n tra ano-
m e n te s m o ra is. A g n o le tti re p e tia c o n tin u a m e n te : "É D eus ." m a lia s d e in te lig ê n c ia , c o n fe ssa q u e e le s sã o sim p le s'd e e sp í-
q u e m e p e rm ite so b re v iv e r p a ra p u n ir o s se u s d e tra to re s" . rito , a b su rd o s, se m p ru d ê n c ia n a p rá tic a d e c rim e s, m a s te rm i-
" F o i D e u s q u e fe z m o rre r u m d e se u s a d v e rsá rio s" . É c u rio so n a m p o r a c re d ita r c o m o v e rd a d e iro s o s fa to s q u e in v e n ta m ,
a té p a ra a h istó ria d a re lig iã o v e r o q u a n to é com um a trib u ir e a a trib u ir a si m e sm o s o s a c o n te c im e n to s o c o rrid o s com
a D e u s o s p ró p rio s im p u lso s, ta lv e z p o r se re m irre sistív e is. o u tra s p e sso a s.
A ssim d iz o d e lin q ü e n te G u id e a u : " E u n ã o p o sso se r lo u c o ; E le s tê m , e sc re v e B a tta n o li, n o s d o is c a so s, u m a v a sta
D e u s n ã o e sc o lh e se u s o p e rá rio s e n tre o s lo u c o s" . c o rre n te d e c o g n iç õ e s, m a s sã o se m p re sa p ie n te s m e n in o s;
A o q u e p a re c e , e le s se ju lg a m o s re p re se n ta n te s de D eus e sc re v e u , fa la n d o c o m g ra ç a , c o m b rio , m a s c o m o p a p a g a io s
n a te rra . in stru íd o s e e n g e n h o so s. E sse s c a ra c te re s c o n tra d itó rio s que
T ra te i d e u m q u e a ssin a v a n ã o SÓ c a rta s, m a s c a m b ia is, se e n c o n tra m e x a ta m e n te n o s c rim in o so s d e riv a m d o fa to
c o m fa lso s títu lo s n o b iliá rq u ic o s, e se g a b a v a d e te r tid o c o m o d e q u e n e m to d o s o s d e m e n te s m o ra is sã o .e n q u a d ra d o s n u m
a m a n te s se n h o ra s c o n h e c id a s d a so c ie d a d e e m q u e v iv ia e , m e sm o p a d rã o , c o m o n e m m e sm o to d o s o s c rim in o so s. C o m o
e le p ró p rio , fo rja v a c a rta s a m o ro sa s, c o m b e la le tra d e m u - a c o n te c e c o m o s a n im a is, q u e , q u a n to m a is n u m e ro so s, m a is
lh e re s e e n v ia d a s a o e n d e re ç o d e le , e d e p o is a s m o stra v a se in d iv id u a liz a m e o fe re c e m m a io r e m a is re a lç a d a v a rie d a d e ,
im p ru d e n te m e n te a se u s c o m p a n h e iro s. a té a d iv id ir-se e m su b e sp é c ie s, d a m e sm a fo rm a a c o n te c e
c o m o s d e m e n te s m o ra is e m re la ç ã o à in te lig ê n c ia , fic a n d o
se m p re a le v ia n d a d e , a a stú c ia , c o m o o c a rá te r p rin c ip a l.
1 6 . In te lig ê n c ia
A d ife re n ç a d e riv a ta m b é m d o fa to d e q u e te n d o e le s
Q u a n to à in te lig ê n c ia , c e rta m e n te n ã o é tã o a p a g a d a e n g e n h o v iv a z d e sd e jo v e m , v ã o e n to rp e c e n d o n a id a d e a d u l-
c o m o o se n tim e n to e o a fe to . M a s, p e lo v ín c u lo que une ta e q u e , e sta n d o su je ito s a c o n g e stõ e s c e re b ra is, d e v e m a p re -
Ito
, d a s a s fu n ç õ e s p síq u ic a s, n ã o se p o d e d iz e r q u e se ja c o m p le - se n ta r n a tu ra lm e n te e rro s in te le c tu a is v a ria d o s. P o r isso se
ta m e n te sã . S e m u ito s p siq u ia tra s e stã o d e a c o rd o , e sp e c ia l- p o d e re c o lh e r n o s p e sq u isa d o re s g ra d a ç õ e s que vão de ho-
m e n te P ritc h a rd , P in e l, N ic o lso n , M a u d sle y , T o m a ssia , e m m e n s d e g ê n io (q u e sã o ra ríssim o s e n tre o s c rim in o so s) a té
e n c o n tra r n o s c rim in o so s u m a in te g rid a d e p e rfe ita , c o m e x - o s se m i-im b e c is, c o m o sã o g ra n d e p a rte d o s la d rõ e s e d o s
c lu sã o n ã o a p e n a s d e a lu c in a ç õ e s e ilu sõ e s, m a s ta m b é m de im b e c is, e n tre o s q u a is n ã o h e sita e m c o lo c a r G ra n d i d i M o r-
d e fe ito e d e so rd e m , m u ito s o u tro s, a o c o n trá rio , Z e lle , M a c - se lli, q u e fo i c o n d e n a d o .
204 205
~.
j.
1 8 . P re g u iç a
2 0 . P re te n sõ e s d e d ife re n ç a s
N ã o fa lta a p re g u iç a p a ra o tra b a lh o n o s d e m e n te s m o-
ra is, e m c o n tra ste c o m a a tiv id a d e e x a g e ra d a n a s o rg ia s e n o O s c a ra c te re s q u e , c o m fa tig a n te a n á lise , o s a n a lista s
m a l, e x a ta m e n te c o m o n o s c rim in o so s n a to s. S e i d e u m q u e c h e g a ra m a e n c o n tra r p a ra d istin g u ir o s d e m e n te s m o ra is
p e rm a n e c ia a se m a n a in te ira n o le ito , m a s e ra c a p a z d e e sta r d o s d e lin q ü e n te s n a to s só c o n se g u e m c o n firm a r a a n a lo g ia .
1 0 d ia s e m b a ile s o u e m p a sse io s fo ra d e c a sa . O u tro a le g a v a K ra fft-E b b in g n o ta o a n d a m e n to p ro g re ssiv o d a c ó le ra m o r-
m il d o e n ç a s p a ra n ã o tra b a lh a r. E m g e ra l, d isse K ra fft-E b b in g , b u s n o s d e m e n te s m o ra is - e n ó s re c o rd a m o s a a ssim c h a m a d a
fa lta m -lh e s a tiv id a d e , e n e rg ia , q u a n d o n ã o se tra ta r d a sa tis- "e sc a la d o c rim e ". E sc re v e P in e l q u e m o stra m na execução
fa ç ã o d e se u s d e se jo s im o ra is. O d e ia m o tra b a lh o h o n e sto . d e a to s im p u lsiv o s, im p re v id ê n c ia , c ru e ld a d e m o n stru o sa , c i-
A m e n d ic id a d e e a v a d ia ~ ín sã o a v o c a ç ã o d e le s. n ism o , g a b a n d o -se d e p o is d o . c rim e , se m re m o rso , m a s, e le s
206 207
p ró p rio s , c o n fe ssa m a p ó s q u e e s s e s c a ra c te re s s e e n c o n tra m p o r e la p a ra a p ro je ta d a e x c u rs ã o . A s s im a c o n te c e u . E le n ã o
n o s v e rd a d e iro s c rim in o s o s . fo i re c o n h e c id o e quando e s ta v a p e rto d o S e n a te n to u d e rru -
m u n s p o r h a v e r a fe iç õ e s c e re b ra is , c o n g ê n ita s o u a d q u irid a s , lo g ro , e o d o id o fo i e n v ia d o p a ra o m a n ic ô m io .
d is fa rç o u -s e e a lu g o u u m a c a rru a g e m q u e a c o n d u z ia p e ra n te q u a n ta te n a c id a d e v in g a tiv a re p o u sa n e le s , ta n to q u a n to
.-u ..
t'á.i:<
N en h u m d o s au to res citad o s n o to u um fato que
E ssas p erg u n tas d en u n ciaram -n o p elo crim e e d em o n s-
en co n trei n o s d elin q ü en tes co m freq ü ên cia, co m o ex ata-
traram a n ecessid ad e d e falar d o p ró p rio d elito e d eix ar u m a
m en te n o m aio r n ú m ero d e crim in o so s: o d esejo d e v iv er
lem b ran ça d ele p o r escrito . C o m o b em ad v ertem T am b u rin i
n o seio d a so cied ad e q u e eles freq ü en tam , em b o ra d etestem ,
e S ep p illi, o q u e d izer d aq u ele d em en te citad o p o r M au d sley ,
p rin cip alm en te--'so cied ad e~ d e h o m en s d a m esm a sú cia:-.---~ -".~
q u e, assim q u e m ato u ú Ín am en in a, lav o u as m ão s, e escrev eu
R eco rd am o -n o s d e u m certo R o sa, q u e estran g u lo u sem
n o seu d iário : "M o rta, u m a m en in a era b o a e q u en te".
cau sa u m a n eta, d ep o is p o r v in g an ça, m atg u n o m eu m an i-
cô m io u m alien ad o . M as, n ão p o d ia v iv er iso lad o . A ssim
q u e o co lo q u ei n u m a cela, am eaço u e d ep o is ten to u estran - 2 4 . S im u lação
g u lar-se, e teria p erp etrad o o su icíd io , se n ão o tiv esse co lo -
A té a freq ü ên cia d a sim u lação d e d em ên cia, q u e en co n -
cad o n o m eio d e u m g ru p o , ao q u al era h o stil, m as d o q u al
tram o s m u itas v ezes n o s crim in o so s, en co n tra-se an o tad a em
n ão se p o d ia afastar.
alg u m as o b serv açô es d ilig en tes.
2 3 . V aid ad e d o d elito
2 5 . S in to m ato lo g ia d a d em ên cia m o ral n as o u tras
T am b ém a v aid ad e d o d elito , o u m elh o r, o estran h o
A o b jeção , q u e m u itas d o en ças m en tais têm em seu
d esejo d e etern izá-lo n as an o taçõ es, tem o s n o tad o co m m u itas
sistem a d e ten d ên cias p ró p rias d a d em ên cia m o ral, n ão traz
p ro v as, q u e rev elam esp ecial ten d ên cia d o s crim in o so s. Foi
q u alq u er p reju ízo à ex istên cia d ela, co m o o s caso s d e ín d o le
p o ssív el o b serv á-la p elo estu d o acu rad o d e alg u n s caso s em
sifilítica, satu rn in a, h istérica n ão trazem à ex istên cia d a p ara-
~ q u e o d iag n ó stico d a d em ên cia m o ral era in d iscu tív el. Ao
lisia, d a ep ilep sia, d a d em ên cia.
rev és, ex am in ad o s n o s réu s co m u n s, o s caso s serv em p ara
d ar in d ício freq ü en te, e alg u m as v ezes, u m a ex p licação do
crim e. A ssim , u m d em en te m o ral, d ep o is d e ter to m ad o to d as 2 6 . H isto lo g ia p ato ló g ica d a d em ên cia m o ral
as p recau çõ es p ara esco n d er o fratricíd io e o p arricíd io , red ig ia
N o s três caso s d e d em ên cia m o ral, em q u e se fez au tó p -
essas lin h as secretam en te:
sia, fo ram en co n trad as m en in g ite e ap o p lex ia av an çad as n o s
v aso s. F altam -n o s estu d o s av an çad o s so b re este assu n to . M as,
- "Q u al é o d estin o d e m in h a m ãe, e q u e m o rte d ev erá u m a v ez reco n h ecid a a an alo g ia co m o u tras n eu ro p ato lo g ias,
ter? S e co n seg u irei elim in á-la co m arsên ico ; se n ão , d e q u e so co rrem -n o s as p recio sas o b serv açõ es d e A rn d t d e q u e "m u i-
m o d o e q u an d o ?
tas célu las g an g lio n ares são n o s n eu ró tico s em estad o d e
- E m q u e an o m o rrerá, e d e d o en ça, n ão se sab en d o ? d esen v o lv im en to in ferio res co m o n o s rép teis, n a salam an d ra.
C o n seg u irei m atá-la; e d e q u e m o d o , o u n ão co n seg u irei!
E m alg u n s o "cilin d er ax is" se ap resen ta m ais su til o u
- O m eu d estin o , q u al será?" co b erto d e g rân u lo s sem su ficien te iso lam en to co m resp eito
;..,-"
às p artes q u e o circu n d am ,. p ara o s q u ais a ex citação m ais
I'~
210 J'<
211
I. :r.
~
facilm ente se irradia; falta realm ente em parte destes, algum as fazem -se a princípio tím idos e após se entregam aos vícios
vezes, e é substituída pela acum ulação de células protoplasm ática. com energia que antes aplicavam aos estudos. Procuram com
altos ganhos com pensar a hum ilhação da glória perdida, e
-
:'''"...
im pacientes do êxito, um pouco fechados no raciocínio, exe-
2 7. A hereditariedade na dem ência m oral
cutam cinicam ente qualquer obra m aldosa.+E m .outros ter-
A prova m ais segura é no desenvolvim ento, na origem m os, a puberdade só, sem outra, foi a causa das tendências im orais.
da doença. T anto do delinqüente nato com o o dem ente m oral R ecordem os, a propósito, o caso de V erzeni, L em aire e
datam quase sem pre da infância e da puberdade. L ivi escre- outros, em que n'enhum a outra causa a não ser esta, a de que
veu: "os dem entes m orais nascem plasm ados naturalm ente estam os falando, explica a tendência estranham ente perversa.
para o m al". Savage distingue, com o M endel e K rafft- E bbing, T am bém involução da idade senil e a decadência da atividade
um a form a de dem ência m oral prim ária, que se m anifesta genital podem indicar, provocar de repente, o recrudesci-
freqüentem ente dos 5 aos 11 anos, com o furto, caráter excên- m ento desta tendência e dar um a explicação, com o era o
trico, com aversão aos costum es fam iliares, agitabilidade, in- caso de G arrayo, a princípio virtuoso e honestíssim o e após
capacidade de educação, crueldade e cinism o extraordinário, os 40 anos um assassino, estuprador de nove m ulheres, ou
sexualidade precoce devido à qual são m asturbadores desde m elhor, um necrom aníaco.
o início da vida. A hereditariedade, a descendência de dem entes, en-
R ecordo-m e de dois que na idade de 4 anos com eçaram contra-se tam bém neles, m as exatam ente com o verem os nos
a ser o desespero dos próprios pais, com furtos, m entiras, delinqüentes natos, em proporção m enor do que nos com uns,
ódio à m ãe, aos irm ãos, e um no com ércio e outro na arit- enquanto é em m aior proporção a cifra dos pais egoístas,
m ética tinham singular habilidade. T odi conta a história de viciosos e crim inosos. V ê-se que a influência hereditária da
um a m enina que picava os olhos dos cavalos e dos cães de dem ência não é tão grande quanto a do vício e da crim ina-
sua casa, e tornou-se m ãe e m ulher desnaturada. D epois se lidade - exatam ente com o nos crim inosos - e recordarei
revelou um a dem ente m oral. A ssim tam bém aconteceu com sobretudo o tipo m ais clássico de dem ência m oral, que tinha
um rapaz que arrancava a língua dos pássaros. C onstatam os avô hom icida por C iúm e, tio incendiário e pai estuprador e
exatam ente com o os delinqüentes natos apresentam as ten- que m atou um a m ulher para testar um fuzil.
dências im orais m uito precoces. A continuação da prim eira R ecordam os a dem ente m oral, citada por Salem i-Pace, com
idade, que é a m ais clara explicação, nos dá a chave de sua m ãe adúltera e pai crim inoso; C atarina, citada por B onvecchiato,
difusão, visto que no fundo é um a continuação, seja por causa com pai beberrão; F.A .,de G .B . V erga, com pai de caráter grosseiro,
patológica, seja por um estado fisiológico. irm ão pederasta, um outro ladrão, um outro epiléptico e irm ã
A lgum as vezes há o recrudescim ento na puberdade. im becil; a M aria, de C antarano, com irm ão vagabundo e dois
E screvem T odi e L egrand de Saulle que sem elhantes casos pacientes m eus que tiveram m ãe obscena e pai beberrão.
parece que na infância são dotados de extraordinário gênio É precisam ente esta expressão um pouco m enor que
artístico e apego aos estudos;"m as quando vem a puberdade encontram os nos delinqüentes cuja hereditariedade da de-
212
\~ 213
m ência não ultrapassa a 22% , enquanto nos dem entes co- Tive, em longo tratam ento, um jovem que confirm a
m uns vai além de 50% , se bem que seja m aior talvez nos essa observação. Filho de pai alcoólatra, de m ãe erótica e
grandes culpados, com o Faella, A lberti, etc. É esta m esm a com tendência suicida, m uito estranho, com avô suicida, ir-
proporção m enor que a que Som m er verificou nos dem entes m ãos honestíssim os, era ele o predileto dos pais e m orm ente
crim inosos-"em confronto com os outros. de um a"ca"m areira que o protegia encontrando sem pre um a" 11
Enquanto os dem entes com uns têm 30% de heredita- desculpa às m alvadezas dele. Encam inhou-se ao furto desde
riedade, os dem entes crim inosos têm 22% , m as nestes a here- a infância. C om três anos, indo ao m ercado, apropriava-se
ditariedade é m ais realçada, nos vários ram os colaterais, e de peixes, frutas, cestas de dinheiro. Q uando cresceu, gastava
m ais nos casos com avô, pai, tio dem entes e todos os irm ãos em guloseim as o quanto conseguia furtar da m ãe ou da cam a-
neuróticos, outros com avô, m ãe e irm ãs dem entes, o pai reira, que não faziam caso. N a escola apoderava-se dos objetos
beberrão, três irm ãs dem entes. dos com panheiros.
A influência direta dos alcoólatras é notada por C am - Isto se com preende do quanto vim os no início, sobre
pagne seis vezes, e três juntos com doentes venéreos. N ós já as tendências crim inosas dos m eninos que apresentam fisiolo-
c a encontram os e m elhor a encontrarem os no delito. gicam ente um estado sim ilar à dem ência m oral, de m odo
K rafft-Ebbing falava dos afetados pela m eningite, trau- que quando não encontram circunstâncias favoráveis à trans-
m as na cabeça, com o causa da dem ência m oral, e nós verem os form ação norm al em hom em honesto, essas tendências perduram .
com o o sejam de tendência ao delito, com o por exem plo, o Este estado patológico se faz com o tem po costum eiro,
,; furto, indicado por A crell, M orei, O all, e que recordam os a em sum a, tam bém quando o indivíduo não teria tendências
• freqüência do traum a na cabeça dos delinqüentes; 7% segun- especiais ao delito, quando não seria um hom em com o todos
do m inha pesquisa, e os 21 em 58 de D el B ruck, os 3 em 28 os outros, m as, m ais facilm ente o atinge a influência hereditá-
casos de Flechs. N arrei a história de um ladrão depois de um ria. Isto explica os casos de crim inosos aparentem ente natos
traum a na cabeça. A inda recentem ente, A rduin notou um a com o tais e sem anom alias de crânio ou das faces.
fratura no crânio em um que encontrou entre 19 assassinos. A ssim se explicam essas dem ências m orais dos déspo-
Im portantíssim a sobre todas é a cota, escassa é ver- tas, seja do trono, com o a grande parte dos C ésares, seja do
dade, m as provada com certeza, de dem entes m orais, que poder, com o M arat, seja com o os tiranos da república hispa-
surgiram de um a educação m aldosa. H olandêr e Savage no-am ericana, os quais, de tranqüilos e até hum anos que
fazem notar a freqüência de estado m órbido naqueles que eram a princípio, ante o contato com o poder ilim itado, com
por dem asiada bondade ou negligência dos pais não conta- ou sem influência hereditária, tornaram -se cruéis, m esm o
ram com os freios na infância, nem se habituaram àqueles sem vantagem própria, m as por puro capricho.
lim ites que a lei im põe e pelos quais um hom em se form a Im portantíssim os são os casos notados por V ergílio, 2
m oralm ente. A contece igualm ente em alguns delinqüentes, vezes em 14 e por C am pagne, 7 vezes em 15, e um notado
especialm ente nos países selvagens e pouco civilizados, por Salem i-Pace, um por Todi, em que a dem ência m oral se
com o é o costum e da vingança. encontra seguida de infelicidade profunda ou de vivas im pres-
214 215
li
1-
fo i p ro v o c a d a , com o a c o n te c e a a lg u m a s doenças m e n ta is ,
por causas p s íq u ic a s e m v e z d e fís ic a s , m a s o s e fe ito s s ã o o s
m esm os. E v id e n te m e n te , a d e m ê n c ia m o ra l s e v a i c o n c a te -
nando c o m u m g ru p o d e c rim in o s o s , ta m b é m e sse s se m g ra n -
d e s a n o m a lia s : o u p o r p a ix ã o o u p o r o c a s iã o . ~
17. FORÇA IR R E S IS T ÍV E L N O IN T IM O
1 . F o rç a irre s is tív e l
216 217
's m o tiv o s m a is fú te is , d is s e T a b u rin i a re s p e ito de D e p o is , a u m a s é rie re p e tid a d e s s e s a c e s s o s , a ju n ta -s e
,e n te m o ra l, q u a n d o fo re m o b s tá c u lo s p a ra a c o n s e - o h á b ito d o p ró p rio a to . A s s im é q u e n a a p a rê n c ia , fa lta a
..:s u a s a m b iç õ e s , b a s ta m p a ra fa z ê -lo e x p lo d ir e m a c e s - p ro p o rc io n a lid a d e e n tre a c a u s a e o e fe ito e h á a ç õ e s q u e à
ile ra , d o s q u a is n ã o h á m a is fre io . C o m o n o s m e n in o s p rim e ira v is ta n ã o p a re c e m depender d e u m m o tiv o . E is a q u i
is fiã o -h á p ro p o rç ã o e titre a re -a -ç ã o 'e 'o 'm o tiv o que os ~ '= ~ t . 7 _ - _ ~ - ~ . e x p liG a d a s 'a q u e la s ' e s tra n h a s 'te n d ê n c ia s " o b s c e n a s ;" p a ra d o - ,-_ o . ----' • • =
, A s s im , a s m a is le v e s c a u s a s d e ó d io c o n tra a lg u é m x a is , q u e v im o s s u rg ir n a in fâ n c ia e m in d iv íd u o s p re d is p o s to s
a s c e r n e le s im p u ls o s irre s is tív e is d e m a ta r seu desa- p e la h e re d ita rie d a d e , te n d ê n c ia q u e , a in d a q u e à p rim e ira
e s ta lh e v ir a o s lá b io s u m a fó rm u la d e in s u lto , s e n te - v is ta " is o la d a s e s e m le s õ e s d e o u tra s fu n ç õ e s a 'fe tiv a s n ã o
10 a re p e ti-la c e n te n a s de vezes. p o d e ria m c o n s titu ir-s e sem u m s u b s tra to d e s e n s ib ilid a d e
)e tu d o is s o s e e n te n d e q u e s e a fo rm a im p u ls iv a n ã o é q u e , c re s c e n d o d e fo rm a d e s p ro p o rc io n a l à c a u s a , fa z e m e s -
,r s ó a o s d e m e n te s m o ra is , o c e rto é q u e n ã o s e p o d e d iz e r q u e c e r o g e rm e d e q u e s e o rig in a m o u p o rq u e re a lm e n te se
_i n u triç ã o d e s d e o n a s c im e n to , e d e p o is n e le s s e ra d ic a e
e m o u tra .
u m a d a q u e la s m il te n d ê n c ia s m ó rb id a s q u e s e m a n ife s ta m A s s im , c o m o V e rz e n i e c o m a S a c c a m a n te c a s to d a a
,s e to d o s n ó s n u m a h o ra m á d o d ia , e s p e c ia lm e n te n a in fâ n - p e rd a d a a fe tiv id a d e s e m a n ife s ta p o r p e río d o s , e n o b á rb a ro
~ d e s g a s ta m n a s b o a s tê m p e ra s e s o b u m a b o a e d u c a ç ã o . m o d o d e e s tra n g u la m e n to fe m in il, m a s a a p a tia q u e m o s tra -
1E rá rio ,p e rm a n e c e m q u a n d o s ã o fa v o re c id a s p e lo o rg a n is - ra m a p ó s o d e lito , p e lo s p a is , p e la v ítim a , e p e lo p ró p rio s u -
d o a b a n d o n o , o u e x p lo d e m n e c e s s a ria m e n te e m in d iv í- p líc io , m o s tra q u e a a fe tiv id a d e e ra le v a d a fo ra d a s te n d ê n c ia s
,1 u e c a la m to d o s o s s e n tim e n to s a ltru ís ta s . S ã o v iv o s e e s p e c ia is q u e o s im p e lira m a o c rim e .
5, e m q u e n ã o h á o u tra fo rç a q u e d e te rm in e a ç ã o d ife re n - N ã o é , e m s u m a , a n ã o s e r q u e s tã o d e g ra u , q u e s tã o d e
'e s , to d o s o s m o tiv o s irp .p e le m a o m a l e n e n h u m ao bem . a c id e n te d e d ire ç ã o a u m a d a d a c o rre n te , a n te s q u e e m o u tra
219
I
I ••
d ire ç ã o , m a s o fu n d o é se m p re n e u ro ló g ic o ; é se m p re u m a N a c a sa d e d e te n ç ã o d e M ilã o , h á p o u c o s m e se s fo i
p a ra d a d o d e se n v o lv im e n to d e a lg u m a s fa c u ld a d e s que pe~- m o rto u m c a rc e re iro tã o d ó c il q u e n ã o e ra o d ia d o p o r n e -
m anecem n o e sta d o in fa n til; e , c o m o n a in fâ n c ia , se tra n sfo r- nhum d o s se u s e n c a rc e ra d o s. In te rro g a d o o h o m ic id a so b re
m am su tilm e n te e m a ç ã o , se m q u e se p o n h a u m fre io d o o m ó v e l d e se u d e lito , d isse q u e n ã o tin h a ó d io c o n tra su a
ra c io c ín io e a p re v id ê n c ia d e p o ssív e is d e sg ra ç a s e o h o rro r v ítim a , m a s q u e se n tia n e c e ssid a d e d e m a ta r a lg u é m , e te ria
d o o fe n d id o se n so m o ra l. ta m b é m m a ta d o o d ire to r d o p re síd io se o tiv e sse e n c o n tra d o .
E ra u m a ssa lta n te c o m u m , filh o d e u m m a lfe ito r.
220 221
•••
- - -- ~ -~ ------- -- --- ~ - - - - - - _ . - - - _ .~ .- - - - - - - -
E a d ia n ta : " C r e io a s s im q u e a J u s tiç a m e f a r ia u m f a v o r A s s im a c o n te c e u c o m o s o u tr o s s e is , m a s p o r b o a in te n -
s e m e d e ix a s s e p a r a s e m p r e n o c á r c e r e e m q u e m e e n c o n rro , ç ã o . E le q u e r ia e n r iq u e c e r a c iê n c ia , c o n s e r v a n d o - lh e te s o u -
d a n d o -m e um a ocupação q u a lq u e r . N ã o h a v e n d o m a is h o n r a , r o s . S e e u f iz m a l, f a ç a m d e m im o q u e q u is e r e m , m as não
n a p r is ã o e s ta r ia m e lh o r d o q u e n o s e io d a c o m u n id a d e . O . d iv id a m o s m e u s liv r o s . N ã o é ju s to p u n i- lo s p o r m im . E a o
s u s te n to q u e m e d ã o é u m p o u c o e s c a s s o , m a s o a c h o ó tim o . p r e s id e n te q u e lh e p e r g u n to u c o m o p ô d e a te n ta r c o n tr a c r ia -
A s d u a s c o b e r ta s e o c o lc h ã o d e p a lh a m e g a r a n te m um sono tu r a s d e D e u s : " O s h o m e n s s ã o m o r ta is ; o s liv r o s p r e c is a m
tr a n q ü ilo . A s o lid ã ( ) m e a g r a d a . T endo o ç o ra ç ã o fe c h a d o se r c o n se rv a d o s p o is s ã o a g ló r ia d e D e u s " . E n ã o la m e n to u
a o s a f e to s , n a d a m a is a n s e io d o q u e o r e p ~ u s o " . sua condenação à m o r te ; s 6 la m e n to u s a b e r q u e o e x e m p la r
A lg u m a c o is a p o d e d is tin g u ir o e s ta d o d e â n im o d e s s e s q u e e le a c r e d ita v a s e r ú n ic o n ã o o e r a ( D e s p in e ) .
in d iv íd u o s , q u e s ã o v e r d a d e ir o s c r im in o s o s , d o e s ta d o d e â n i- E m E s tr a s b u r g o , f o r a m e n c o n tr a d o s a s s a s s in a d o s d o is
m o d o s d e m e n te s m o r a is , a ta c a d o d e te n d ê n c ia s in s tin tiv a s in d iv íd u o s , sem que se soubesse a ra z ã o ; p re so p o u c o s a n o s
ir r e f r e á v e is ? d e p o is o a b a d e T r e p .k , c o n f e s s o u tê - lo s m a ta d o s ó p e lo p r a z e r
. P ie r o tin h a o c a p r ic h o d e r o u b a r to d o s o s o r n a m e n to s d e v ê - lo s m o r r e r . Q u a n d o e r a r a p a z tin h a le v a d o d o is m e n in o s
d a s s e p u ltu r a s , a té lá p id e s q u e su p e ra v a m su a s fo rç a s. E s- a o b o sq u e ; e n fo rc o u -o s e o s q u e im o u . Foi condenado ( G a ll) . \.
p a lh a v a o s o b je to s r o u b a d o s ju n to a o s a m ig o s . E r a o p r im e ir o T o d o s e s s e s in d iv íd u o s a q u i r e f e r id o s fo ra m c o n d e n a -
a p ô r o s o u tr o s s o b r e a s p is ta s d o p r ó p r io f u r to . E n in g u é m o dos, m as quem n ã o v ê n e s s e s c a s o s q u e o d e lito s e c o n f u n d ia
ju lg a v a u m a lie n a d o . c o m o f o r m a im p u ls iv a d o s d e m e n te s m o r a is ?
D o n V ic e n te d e A r a g o n a , a p ó s a a b o liç ã o d a s c o r p o r a -
ç õ e s , m o n to u u m a liv r a r ia . V e n d ia liv r o s p o u c o p r e c io s o s , m a s 4 . L iv r e - a r b ítr io
" n â o s e d e s f a z ia d o s r a r o s . E m u m le ilã o ju d ic iá r io , u m c e r to P a s -
to t p ô d e , s u p e r a n d o - o n a o f e r ta , c o m p r a r u m liv r o q u e e r a c a r ís - N a s p e s s o a s s ã s é liv r e a v o n ta d e , c o m o d iz a m e ta f ís ic a ,
s im o . P o u c o s d ia s d e p o is , P a s to t e s u a c a s a e s ta v a m e m c h a m a s . m a s o s a to s s ã o d e te r m in a d o s p o r m o tiv o s q u e c o n tr a s ta m
D a li a a lg u n s m e s e s , o ito c a d á v e r e s f o r a m e n c o n tr a d o s n a ru a ; c o m o b e m - e s ta r s o c ia l. Q u a n d o s u r g e m , s ã o m a is o u m e n o s
e ra m e s tu d a n te s abonados e tin h a m d in h e ir o n o b o ls o . D o n f r e a d o s p o r o u tr o s m o tiv o s , c o m o o p r a z e r d o lo u v o r , o te m o r
V ic e n te f o i p r e s o ; d e c la r o u q u e s e u s liv r o s p r e d ile to s n ã o p o d e - da sanção, d a in f â m ia , d a I g r e ja , o u d a h e r e d ita r ie d a d e , ou
r ia m f ic a r d is p e r s o s , m a s r e c o lh id o s n a B ib lio te c a d e B a r c e lo n a . d e p r u d e n te s h á b ito s im p o s to s p o r u m a g in á s tic a m e n ta l c o n -
C o n f e s s o u te r s id o in d u z id o p o r P a s to t p a r a le v a r - lh e u m liv r o tin u a d a , m o tiv o q u e n ã o v a le m m a is n o s d e m e n te s m o r a is
e e x p o r tá - lo , e tê - lo e s tr a n g u la d o e p o s to f o g o n a c a s a d e le . o u n o s d e lin q ü e n te s n a to s , q u e lo g o c a e m n a r e in c id ê n c ia .
N um o u tr o d ia , u m c o m p r a d o r q u is a d q u ir ir u m a p r im e ir a
e d iç ã o d a s m a is p r e c io s a s ; e le p r o c u r o u d is s u a d i- lo , m a s o o u tr o
I.
in s is tiu e p a g o u o q u a n to f o i p e d id o . A r r e p e n d e u - s e d e r e p e n te
e f o i a tr á s d o c o m p r a d o r p a r a q u e lh e d e v o lv e s s e o liv r o m a s
e s te r e c u s o u ; m a to u - o a p ó s 1 1 led a r a a b s o lv iç ã o " in e x tr e m is " .
222 223
',;-L