JOSÉ ALCIDES PINTO - O Dragão - 20231012 - 0001
JOSÉ ALCIDES PINTO - O Dragão - 20231012 - 0001
JOSÉ ALCIDES PINTO - O Dragão - 20231012 - 0001
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l,h,ltlítru rlritur tle incluir, no n.úmero **üo +t,+d-:-h T
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t('ilttttt!l.tl(), () tk)ntc de losé AlcilleS
l\ttttt, tlt( t,rilt tla poesia e guardou
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t ttilt., (,'ttinrdrUcs Ilos4 cl gttstO pelA
S^*k,." Lev\Cr,,^',/
ttrtt'trlúl( yrx,ulwlor que o tmto com
t' lk,t'tttt irtJittula.
() nttnrutt.r, 0 DRÁGÃO é aos )\ d- I
(l,tt, tr§sqltrant u José Álcides pinto
um
htyltr imlxtrtante na renovação
Itt't'iltnal út País E esse lugar
r't»ttlttisla-o ele sem imitar Guimardes
h' Lr-- L c, (,4,F)
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llft,s l,lNl'o José AIcüüês Pinto
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l.rr.rrrlrrrlt. ( irsíckr Iiralco, 255
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rilttl-t( ) tcfl'/\,rúuNlClPAL ..
lhhrrr B;trrcira 0' '' t '
lllilltilHo PlGq
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Capa e ilustrações de
ATJDIFAX RIOS
ffte - Finâl de
EDSON DO VÁ,I.J
Revisiin de
MABIA DO CÉU
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I # A
Luis Sérgio Santos
- jornalista
I
sobre sua poesia, intitulâdo O Universo Mí-
l: ) José Alcides Pinto, puliicado pela Imprensa
em 1979, e que se constitui a principal fonte
isa de sua obra poática.
ru
ffi
la parte
I
BRUMA envírlvia o povoado. Chovera
a noite
A
Uma vaca levantou-se da malha.
Tornou a Sacudiu a cabeça derru-
toda r:omo uma mulher.
NÍijou dernorada-
o talo verde do rabo' Nlijorr "
toda a chuva
como se o corPo tivesse abson'ido
T no chão. llm
caíra naquela noite' Àbriu rrm lago
do
riacho foi represar suas aguas numâ depressão
vezes
Llm rasga-mortalha cruzou o povoado várias
ceu no rumo do cemi
seu terrível agouro' E desaPare
com o cabo
Amarante destravou a porta. Esmagou
nos
um morcego Pregado no portal. Cuspiu Pés.
15
- ii
'l
.. I
'
16
à frente do cavalete' A
lrtrlt'tvtrr de uma mulher atravessou-se
r irrlr;r rrs",\'iitttrlo. I)evi6 ,t,, alt<l pei<i solrl (ltle vinha tle A línzua de fora' Os peitos inchados' O
lur,r,
.r.ir l'lllr o ll.itirrtttttrlo Neco. 'Icldo nrundo tl conltet:ia' ^,r,*r.lr. golpe forte
\,rrr, rr rl,,rrnirt. l'lslitva -settllrre a-*soviantlo. apaixc'nado ltor
;;;;;"-;"; nuvens. Estava grávida' Com-um Viu-o
;;; ; negro dewiou-se do corPo' Benzeu-se'
l, rrl:r: ;t: nrtlllt('r('s tltl povoado depois' soltando ágtra
mergulhar num remornho e emergir
l)r'1rois rlr' Iotttar o tafé. Amaraltte scgtliu para a ilha' beijando a cosjta
e pelo nariz' Benzeu-se de novo'
lr*tu'tro"a
I rr prtri:,r ( ()trr{'(tlr it t:tttprcita que fizera no dia anterior'
,lo. -ãos e encomendou-lhe a alma:
[ ,,,,, ,,',1,t,'ititrla arttlat:iosa. Ningtí:rn qllisera Iechar o negô-
- Deus te guarde'
,', N'I,t.,'lr' lrcgtttt. l[á rlrras sclllllllils ni-to dar':r rrm dia de
as primeiras vidas
, r\i( ()- l)()Í ('allsil (l('tttttit esltltllrlil tlttc lcvitrit ntr perna' A No povoado de Alto ilos Angicos
sem sentido' Vidas
rr,, , ssirl;rrlc itg()rit () r,lrrig:rr:t [\lto lrorliit rll'irirr pllssilr qllal- despertavam. Vidas apagadas, -inúteis',
as portas' se
r1u, r' pr.1t.sl;t I tlt lotttr', irttr'ltlrt rlt ltigtt:r t'tttt'iit ttlt llodega *"i,".. Algumas criaturas idiotas abriam até a beira da
esDresuiÇavam; davam dois passos
dormentes
,1,,.1,,-;r l'illr,, \,, lorlo. ltczrttlos l st lr'ltl;t rrril reis o espe-
r,r\,nn I lrrt ,lttt,l;t , ttollllt'. l'l st rtltrl litlrrirl;rsst'rlt'tttrc» tlo ;;í;;ã;;';,i";r* " fi"'vu* olhando o tempo' Espresuiça-
a cara' os homens coçavam
;,,.rr,, l,,,rl,,,ttt lto;tlp,,,,tt ,1,, 1,,,v,,lttlt, llrl colrlrltriir ttttf vin- ;;;--" novimente. Esfregavam forte e engas-
li'rrr \rtty'ttt ttt rllli.r'lil Ittlptt'il:tt o lt lrt lltt ttttttittl() rlc cast'a- os tadalos. Espirravam' Tossiam' (Tossiam
gado, como cachorros') Depois de
muito tempo apanhavam
\ r'r ,' , :tt:utgttr'.i,'ir':ts, '\,;ttcla lllrir <I' 5('rr()tÍ: dos tliabOS'
I rrrir solrlt rlr' lrlirrrlaçâo (l() itllo Pa§sa(lo' Llrna t aptrcira' as cabaÇâs e iamtropicatdo t'" pedras (como se não pudes-
rio'
,,rr,lr' , ,rlrrrs v('rl{'tlosits sc enroscavam nas totlceiras e esPrei- sem -;; o corpo) apanhar água no
""- com ,
poleiros'
tir\rnl:r r'ítirrra de soh os buracos entre as pedras' Nlas a pri*ài,á. galinhasiambém saltavam dos
o sobrecu' Soltavam
sitrrl('ão tlo rleflo Antarante não oler:ecia escolha' Abriam sofregamente o bico' Coçavam
E os galos co-
Agora csiava a carninho do trabalho' E para comeÇírr' uma cuspidal C""rreluv"m' Agachavam-se'
o rio botava uma das suas nraiores en(rhentí-'s' Quantas briam uma'a uma, sistematicamente'
de lundum' A
r,ítirnas não teria feito durante a noite? Quantos animais'l Também as mulhere§ levantavam-se
cós da saia' CoÇando
I
(]uant.as mulheres? Quantas crianças? Quantos lares destruí- cara enferrujada' Catando pulgas nos
como a§ vacas) no qurn-
,los'l Amarante teve uma ponta de soçobro Por dentro' A a bunda . ,. uirilhu.. Mijavam ile pé
o sungão e faziam o
l,nrma esgarçou um pouco, e ele pôde fazer trma idéia da ;i;;;" terreiro' E'*T g*'"*-'e com
tlcstruiçâo qlle as águas haviam causado' Uma enchente café.Asvezesiamatéabodeg"eingeriamumdobrãode
com
Calçavam o queixo
rlaquela-" era uma calamidade. Arvores enôrmes arrancadas cachaça' Cuspiam ao pó do balcão'
proietadâs no rio' Mesmo a masca de fumo e rePetiam
o trago'
5riir violentas trombas-dágua eram
â-§sim o negro Amarante atirou-se com seu cavalete' [J uru
rla hóia com o faoão, a enxada e a foice feito um feixe mon-
tado na cabeça, preso ao cinturão de cipó oom o nó de bar-
bir:acho. Caiu nágua remando com os pés, afastando com âs
mãos os batumes de paúes e vergônteas de espinheiro' O
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onde tra-
r rlui'r'('rrr rlt, Ltrrlo. Não sei como não esquecem
,,',,, ,,,,,1,,,,,',,.'fambérn só comem carne de bodel
o vigário veio muittl cedo - gemeu com humil-
r l;t r L'.
Venho a hora que quero' Hoie acordei-me às drras
do
,lrr rrltdrugada. Não ao, p"g'içoso como essa gente
\1t,,. lJanão de morrinhas' Só são esPertos para mentir e
24 25
o
o
l)i:rlr,r os ( ar'reSie! Eu eitudci! Para qur: {oique estudr:i'l
l':rlrr r1u,' l'oi rlue nte ordenei? \ão {oi para clefet ar 116;11lcio
rl. ltrrrpo. (iaranto que não foil Se não prtdr:m dar ttma
lr(,:l,('(l;rgi:Ill digna a um vigário durante algumas horas' para
,1rr,'rliulro 1icam a perlir missa? Como não prrdr: vir no
,l,,rrringtt pa."sado. I)orqtre fui r:eleltrar no Sapó' outra
rrri.i'r'iit {'orno esta, rccehi uma carta dn hispo de Soirral, «
irl,'girnrlo que tinha contra rtrim utna retllatnaqão do pessoal
rlo Âlto, qrie eu nuncâ rÍIais tinha apar:trt irlo Vlentirosos!
Sc cu arlivinhas-.e querrr foi o patile. lltrt rrsfr.garia agora
nrr:srno o focinho na iama. l'lm l'arla nílt'lco rlc pt'-*soas há
s(:rrtpro LIm Ju{las. rrnl Silvério r'l<is Iteis' l)ô-rttt: unr copo
,lagra- !)spero illle Ítão estcja cotn gosto rle rnijo tlc anirnal'
Niio -são ('a[)ltz('s tt,tttt tle botar urn t:trirão rla t:at:inrba' t)s
.itrrncntos sapatr:irtttt tlcntrt».'l'cnr tlia quc a
ápga fecle a
lrosta rle port o. !itr dissc:hotcrn tttlt cará na á5n-ra' Iiotaram?
Ilotei, parlre geÍncu a zelar'lora' - Já faz quinze
rlils que botei. 0 Marinheiro me deu dois bem vivinhos'
(llaro. Só podiarn ser vivos. Mortos, você já os teriâ
ltvarlo ao espeto. Urn cará! Sim. Mas fui etr que tive a idéia'
V.r'ôs, aqui do Alto, sào ocos oomo um cano. Eu dis'qe;
"llotcrn um trará-''. Um cará para comer o loclo da á5'tra c os ç
rrriclirlrios. NIas não duvido que já nâo o tenham comido'
lirr nâo Íaria isso, padre; eu não faria isso' Juro
,,,rno ttiit» faria.
Nrio digo você. Acho que você tem mais medo das
,,1,inlr;rs rl,r cará do que rtesmo da'jura. Mas seus netos.
I l, ,ir. ( irl)irzes de tudo. Capazes até de ilotar farinha no
I','l, pi.;r ,'rtg.rtlar o cará. O cará! 0 cará ou os carás? Tern
rrr.rt ,1, trrrr'l \irl r''l
-. lxrl.i rlois. Mas outro dia quando fui lavar o
1trrlt 1l t 1111 11
26
1i;1 11r'\eriii'
unl ir.ri(li'l lt'ioue ciente dissol Nlanrlci oôr r:ará e nâo tinr tlt:l'ilIli{ ir'i' rva]t'
(.)ue lanru ordinária ó e,qta qlre yocês aqui do AIto
,rr,'l h i'iio:il ilrrP|iitia:.-' !d
'1" ' r', Lt, "
ria irnialttiatie'
1'11";sl. !ilrU
' licúrril os ntr'illl)r()ri
lr,,,ll' r'-l:l nlr;i'lllla
l;,'lrtrrr. r'a;rrz de reproduzir l"anto? Qrie tipos rlc bodó-. são j,,,,'1,,, ,,tn urlr dr: paina rir:irairo rio irraço I sala oc ('tlse eril
,''1,'.1 'tr'llvr':l a orocria(râo não scjr del'iJo à origeror dos gône:o' "icparc §nl ('oil"()
,,r-l: 1,r'riintitr:tia f olltrli[liçào t:it
lrrr':,s. 5r' lirr, é coisn rneslÍro ila natureza. Não há leito a cL-rÍlais' \ã'r Iarnos:-laIi.{ornltll
,,,,'t,,1 ,,.tio para p;tiarclar or
rlrrr'. l)r'rrs salre o que fez c o que ql;cr. Talvez a infestação depó:ito tie prcll'irnertos^ oior é
rr (,it:it do Sentroi truln
scirr rlr,vitio ao dcpó-qit() riágrra. [iomprant uns potes baés, i'nl tl'o('ll tia: palalra: tic
r',','r'lrer ullla nilllliiria ttt" """t]o
,:rrrrlrrrios, de irarro orr.linário c reveriores de áEra como um 'laLrtrnitculo"' olttit o i'ii rnetal reiirzia
N'l.stre, colIIo llos
rrrcitino nri.jão.'lrr"t.es t:io ruiitt slto irrtirrestáveis como tlterlená-
('nl:'(' ilr secitts prolaI-'as lta's lttãtl'' tie utucacit.lres
(Jur,rn ()s Iaz. Os ,lil,iu. rli, (lltont sulrrrnr frzci nada! Passam eieri]o: ireljão' arro2l' reriniuiis'
ri,,.. Isso ilqili u tlIrI te mplo
,, rli;r cltl:rrtlr, ,,r,o tlr' :tnunr. Os llt'scrtr',os rlc sot'ó-hoi como volurne' tit,a"g']-h:^::
l,,,t"tan, :cja o que fr.". tiuttutlt' Íizel
unrir \';r':r cslrcl;r:rrio r ( ()i)ir tirrs lin,orts. llltla dc glente o nlcrcàtio rie Saniana' La \ot't te;a
ltrtttcntos tl toqiie i')era
lrrilr ,'.lr' ,,r'rl;t,',, rl:r iilrti;-rr tl,r ,\r'lir:,ít ltir, t'iti drl (lrrrral- lxra proPosta, fará lrua venda'
( jr;rrrrl, ;r Il, l:r ( llrr;r ,\ilrrl:r lrtrl (ilr(' liz('rilrrr li!r'lâ louca ^ à porta'
Pá. t:.., altura, aiç;órn ira'-eu iri"irnâ'!
nl]ma scie-
;,]r';r o inlt r:rr: ll,,rr,1 ,lC ril,'s, l:r :lzttl. r'onto se o VarSO
- Quem é e'se ãoido'i
Se hatem paimas
l(,sir' rinr lr,( :ull. llr:r solrllrrl,r rlrso. Alrcsltr rlc ridículo, é rridade quando o orador inicia
o seu discurso ou te:rnina'
rrr,'1,'rivr'l i,,1rr,'i,','u,'o rlc,rnrto tr';rrnr.lo a nretade da boca" alocuç.ão l'eliz' interrom-
,,; ;;r"ã" o político profere Lrma
s{'nr (llr{' r'rillss,r ()s ('lrrlirus prrlarem irara dentro. L;m dia as ovaçõcs da platéial ou Ínesrto nÜnl
,,.r'tà*.", aErarrlando I'Ias não se baierrl
.lrcir Iroure ul:r bílitr deles na cinecâ. Não foi, Jacó? itniversÍlrio. ao par"lr o troio sinlbôXi'co'
\1inha lr:itcnclo o pepo -- conÍirrnorr o sacristão. palrnas simplesmente para avisar que be está do laio de fora'
qttc nrai se orlíe o
É. -§e vinhal E que lhe fiz eu? Esburrachei-o contra Nesse particular, irre{iro os n}atntos'
iugar à rrtesa
a nilrrrtle, hein. .Jacô? Vá cagar na caneca rio I)ialio! "ô-6e-casa" já e,stão nil cozinha ou iorlando
-- N4a.s. qailre. isso não rcontecerá nrsis. Agort r áp.ua
lretlildo llnl prato
tle comicla'
fnz gosto de se vcr. E uma pr:xta. Coada no pano de elgo- De ,,orlo o visitante bateu Paina-s'
entre' iaco'
<lÍozinho dc duas peças.
- E. N4as não quero uma famíliâ de bodos no pote. E - lliz a este corno que
Era o Gonzaga'
Í)roniis()tririrde! arlüilciar i)ar a enii'ar ne-ssa
urlrt Faça rrrn cozido dos pais. Dos tios. Dos
- Você precisa se fazel Passou por corno porque
solrlirihos. Faça c, cue ihe ordeno. Só quero um órfâo. nrapuca? - b,",lou o padre' -
()rrlr:r roise, vou exteírniniir com a Irr,ranCade dos Vicen- t1u is.
peganclo uin Üochilo'
tir:os. Ontcnr ierguntei ao Presidente, o Virgílio. Fensei que o vigário es:ivesse
-
(.)ruuri.o rendeu a cota ds últirna sessão dos vicenti-
Vi os trotes dos cavalos muito ceÍfo'
um baruih') não so ve'
tt,r-i
- Vr, não: ouvi' Gonzaga' d': luga'r'
I f r iiití'rrs. ( )rtvrr-se. Yocê, que é o chefe poiitico
o resto' Você precisa '"O"t-lf:l
toinar u:nas auras
ll r iirti'rrs'l Qrrantia três vezes superior a esta quâl- ,,r.u,,1i,""g,"á-*
1A
28
o ti" ltão
, r, nt. S,' ,, tttt'ttiÍlo nâo tivesse pr'lgretlidrl' de stlleqão''r
plra ril{.i;l{-itar o Portrt;rris. ltt otrrrt: o ltai a exallle
lriu lrl irliu'('s t, r lr l.r;trlrt, Pois ele vai sul)rrle[erse
\r'r'o oir a i,;r;-lninila r\itraranr.c.:e [lnt r,.:rgtrnira rie o levado direto para â (lapital'
11;r;J11l,r I ;,,'rrt rlttt lio
o não tenha
o deirara'
s.rrl;rr-sr'r'trni a ntelritta,.la lros lia:rros r]a esr:tria,ia iaiá. N'lassapê' ondc rne corlrta que
,,,,', ,; ,',1,"girt de Fe confie a edu-
(,r»'rl [>or- iií irnr irr,rato quÊ a {,afminha ,"tnrarante r,r'r t tstill)('ltcimentrl il" e"ti"o 'r que
r'.1Í rlrrcnte do peit-o. i,om rrrna tc-.se doir.la. tlng4linfl6 ,',,,,,,, U,'',,rl filho. (ionheço o IJiretor'
o 1'lrpá \{ilério'
ateu detllarado' f)s
g,',nlr Cle ov()ts, (|oÍncn(lrr casca de umhu co!'n rnâstruz e Ílei t,,r,ltir,,,',,' ('orllo o Diabo' NIas é um
tamtrém
,l,..i,rrrrllíra. i,ii,,,l ,r,, Antônio (larolin. e do Zemaranhão
- "{,orre por aí uril i,'oaíii''J i\il ,"lllo tltl;r'ia ()s h(,'il- .,ltttl;ttttlir.masessesnãovãorlarparanada.Sóe'ctâodcs
[.rs dcixariirn iit lortc; :rcln rilixa;io. i,iiiii irr-s()ii ria rtapital
a noit* na Itutz
p, ,r,,,.t,, o clinhciro tlt-'' 1'ai"' Passall.l
não podem ourit
rrlio cttlttntleria ncc;t" tilt trirn, itrt t ilr'.tir,;il rli" riizcr. \ãrl i1,,,r,,,,',,o, (2). Srio tloidàs por 'otnbu'
tri"te "'do,r:rr1:a do ircilrr' - { } rittc erisirt ó it I)i'(}:lq!lití). r{ o. que o trouxe aqul'
l,,rlr,r' urn pandeiro. Agora nte -dlg'
não
{rrlr.rctrlrr-*r.. Â ;lngilr.r (r (rlrlros rttalt.. 'i'ariti,órtt tril"o .e diz (,,rrzitga. Q.,"rrt é esse (raPalrga'l .trnt homenr religioso
"rttitstrltz^',,' sirli t,tastrur.tl.'l'o:;tl: ;lt,í-;1. i.,, ,1" ,:o1r",,gn' Você não é rrrligioso'f
1,,,', do Ba-'tiãtr
I'ois l,tlo tltr:ltiirt aqrri lai;t it*sll;,. Não í: rapanga, é nos'so eleitor' sohrinlro
\ão
dlrvi,l<,. {,o111 (',1,'1'ç;i11 (lrt t iili'o pit:s:.t,as. L) IIc- ,lrr ( lrrlina.
me vem com
riiclito. o llairuurrrlo Neco. a nluiata (lal'nrirrhlr Àlnarante, a Outro crimt-''i Já s':i Qrrando você
laiir r o "lnvettlor". Llste c malrito. ri!.is sahe r.rride tern as rrrrr "eleitor" í: para pedir
"auríiio'" esconder algrrrna
vrnta-s. ()uvi Í.alar qlre ufir parcnl-r-' rlco lÉlvou Lir;i i pe'r;r ,'r ,,,i.a-Nlastrirneeut'ãnpt"u""\pesardeserpa«lre'não
muito en-
, trlégio, ó verdarie? .slott isento tle ir para ir L'fe"lo' Yocê está
E uerdade. I,.ri c, c,.,:rhario. O idelfon-.o. Rcsidr.rnie girnado. O que fiz pelo Sebastião'
foi dentro da-t duas
ele se entre-
crn Í'itombeira-.. i,'i., ,.lu Igreja e a da Ju-rtiqa' Mandei que advogado
Dtpois hotei um
- ,§ei - sr:i. Na esÍrada de Ícrro de tlanrocirn. lião gasse à Justiça e ele se tntt"qou
grrslo de rÍIe lcrnt-,rar desse il:gar. Deu urit padre (' ( om menos de um mês àei-lhe a liberdade' mas sob a
rrrrrilo nrirn. E Íiiho de ttnta família tào hoai Âqtiele caso ,,rrrrliç:ão de não ntatar mais nenl
uma barata' N'lesmo
remorsos pelos quais
,lir lrrrça rl<t flÍart:rr. Êadres não foraÍn {eitc's para niiilheres" sob essa condição, você não sabe o-s
S,r,r rll oyrinilio de gue os piidres dttviam ser castraílos. ltnho Pas-sado.
balbuciou o rapaz'
l',,r rrrirrr, :r,:eitaria corn aleryia esse sacrifício. Até iá Íiie -- l\{as eu não matei ninguém -
matou' NIas garanto que colsa
l,'rrrlrr, i rlc ltr,-ior urn c[ír:io rlcsse sentido à Sua Santi'lade - Bem. Você não
. l);r1r;r, rrr:rs t crir(r pú\r iâirsa dos r:qut",'o,.:es" i'{ão }ror elo. l,.lavocênãofez.f)ocontrário,nãoperliriaapoioao
rlr. i unr ilrrrrrinarlo. q11a-r pelos seus auxillartts. As nrás (i onzaga.
Irr;,,r;r llí'rr, nrils deixenros tssti de lado. Vani,.rs âo que - El" f"' uma besteira aí' ' '
n,,: nrlí'r, s.:r. ( ) ''lttvtrtirlr" nâc teve ínÉld.J da doença rla - Já - sei - sei' "l-urou"
alguma moça'
pr,,lr'"r,,,r;q Ir'1;r r) rlir. (' l'liça tle volrlatle. Tirou ató lfiesnlo
,,s nr,',rrn," ,l:t ,'.,,r1:t ,la iaiá. p{}r'{!.rêr ar:horr o ensiníl defi- I ).1 '/.ona de mulheres liwes
31
30
I
t
() riipirz iia,xorr a t,aire,ç;1. Conzaga luiou por eie: .1,, nr)r,ri() r'Lritorado. Para que diabo matuto com idéias
., it:na prinrl. |,,1r111'115'/ Nao têm consciência
do que fazem. Yotam
blusa de algodâo-
tirila priii,ra'í ( ) qu:l t rrru i,rirna? Flutâo está 1,,rlr ;.lrrrrlrar um par de quinaipos, uma
corrrle;t.itio. i\ão ilá saivaçáo. irrlrrr, tlrll pefu.
0 rapaz eb;rt,'irioccir : l'rr:cisamos desta vez atranc:u da aba do Mucuripe
trsio é:a Íie:)os qrje ,, l','rllo Gualberto e sua ninhada. Ele terá que vir ao Alto
se case. !ocê. iá cio fuiucuripe
(.i), r'irupar:<iros rie rraju, sâo de ur,',, l.i;iência inr:1.ível. ',,ti' nn(), nem que seja escoltâdo pelo exército. Onde já
I- o ft'rro. ittpararrri,.r irelrr,6âe tônl i;i n*ritl t:ulpa. [,,n,a .rr v ilr urn homem com cinqüenta anosi metido nas brenha§,
ín, la át:ilia prtde unt:ui:;o iitirio oncil:1.ijn511jygr , .rrt(, lrm bicho?
s.*r rris.
Iu lre r:aso. si,,r. st,rr r..igiirio; cr: inc {ra,co. Só
qi,e ei"()ri út'st,.nril-eg.llj()
- E exislc aigr.,lrr r,;iri
1,,.i,r r.r:ri'l{irza rio Aitr.r
(il;(' -\ejê ernplegarioi'
Qrr;irr,io rLio unl riia dt,
sil:t! ilÁs clirci;lcs Sir ".;rr,i,,,(), ilas_
"iir,r,rrt iiizr:r íojo. il-iiÍiilcai caqtar
r,1,,,r. l:tl;iti,.ir,,. ,,rl;i.lr. iiir,; r,itlrilr rlr: r,,l,r.r ntutarli.ra.
*rirFi,r-;io, (.iriiiilliriiJ. l irrr,,iir_r.1.:rttar,iir.6 rr rcsiila de :ingiço.
.iri vi gr:rlr: rio Ali<» ale arr;jncarrrlo rrraLazetjo come r.
ilara
!'r'lr',, r.arrrilil,s síl erlr:.nLio geirte Íazenria
caietâ, chupanr.l. W
v.rgr';rs oe i-a rnarincio. Não fossc a natlrreza {ão
pr,iiligrr,
.já leriilr:; l-o, ie {one. Você vai," ,,rr,r. l,r,g,,
os rnr»'i-icio
.trnr:::ha. !ar-a o oa; ria ritoça rijcrü. iranqiiiio. E vou lte
rja;: nma foice e uilia cn)\ada pa;.a trairaihar. L.aço_ihc a
u;..ião ce g;eça. QL^írrn r,ota ilais clo siru pesmal.l Este
ano \/()u tirar o ,;ítuio ce íocia aqueia cabraihada da serra
rio À'iucuripe e acjacênr:ias. Frer_is<; de você para iimpar
âs vere{ie"c. E você, Conzaga. rerrr que aprritrier o portu-
guês irefa f'ar:ir e;n público. Votê será o che{e do
Comitê
(lenllai. ?e,rá qre coxvenccl os
ma:ui.os pors este âno,
coÍiro os acriais, lós os k[arre;r;s (4). vamos garihâr.
Que
r,, l-)iabo (-rariegüe as üefti(,cía;osl Este
ano só tàço batizatlo
í
33
J
I
34 í
Íebre tifóide. O gado, que escapou da enchente, foi ata-
r:ado de aftosa. As vacas esbugalhavam os olhos. Um tre-
nror violento sacudiaJhes todo o corpo e elas giravam sob
os cascos traseiros e caíam fulminadas numa atitude dra-
mática. Cachomos hidrófobos corriam pela rua afora
mordendo as patas.
Padre Tibúrcio providenciou a vinda do farmacêu-
tico de Santana, o Minervino, para aplacar a epidemia.
Foi aplicada imediatamente uma vacina em cada braço;
isolado o gado doente; mortos os cachorros a pedradas.
Os entulhos foram removidos para distante do po-
voado. O farmacêutico passou uma semana entre os enfer- A EPIDEMIA grassava por toda a ribeira do Acaraú'
Padre Ti-
mos, tomando banhos de álcool e lavando as casas com l)epois da febre up"."""u um surto de sezão'
lrrlrcio nâo sossegava. Achava que o povo do Alto
era
.."rlirr". Depois passou a tarefa ao Zémend,es, o oodr."
prático do lugar, pois tinha que atender aos chamados "rrns morrinhas", mas parecia amá-lo como â nenhum
de socorros que vinham do Sapó, Mutambeiras e Intans. outro. Nâo se cansava de auxiliá-lo' Parecia uma lança-
rlr:ira, trafegando em seu cavalo, transportando gêneros'
rrrcdicamentos, roupa, leite enlatado, tudo'
A sezão come-
Zê'mendes nâo acom-
lrru a fazer suas primeiras vítimas'
distribuía os remédios'
i"rfrru" o curso da moléstia, apenas A doença progredia'
l,orno o farmacêutico lhe prescrevera'
Não havia uma casa no povoado que não tivesse
duas
37
36
onl São Paulo ou no Rio." E, na verdade, só aí se encontra. F
Ç
Usse mistério é que não entendo. Nem quero entender.
Tambérn é muito positivo. Quando nâo há remédio, diz
logo na cara do enfermo: "Nem o Dialo dá jeito,,. O
bom médico tem a noção da fatalidade. Vive com o nome a
do Demônio na boca. Mas o coração é puro. Onde esse
)
pó-de-pato adquiriu o dom de adivinhar? Um dia lhe per_
guntei: 'João da Mata, você tirou mesmo pauta com
o Diúo?'" - "Com o Diabo? Ora se tirei! É o único amigo
que tenho. Viajamos juntos. Moranros juntos. Dormimos \
juntos. Você não sente eln mim uma inhaca de bode? pois
este é o cheiro do Diabo".
"Você esrá hêhado, Joâo r,la Mata. Olhe que está
Íãlando com o vigário". "Bêbatlo nada! respondeu.
Estou lhe confessando os meus pecados. perdoe-me se ÊE
38
I
ri
o l
2^ parte
I
DLARIAMENTE, às cinco da manhã, o vulto obscuro
do velho Miguel Lourenço atravessava o quadro
ruas arrastando, na grama orvalhada, o saco rendido,
dos tocos e das moitas de carrapicho - um
balão azulado e transparente, entremeado de linhas
as paralelas do Globo Terrestre.
Chegava na bodega, as pernas trêmulas, o suor pingan-
das pestanas, vencido pelo cansaço, respirando com
como se arrastando o mundo pelas
viesse
Arrumava o estranho planeta no fundo da rede de
e com o auxílio da bengala fazia-a executar uma
perigosa.
Dada a dificuldade que tinha de se movimentar, os
mergulhavam sob o balcão e escolhiam a m erca-
que -queriam, depositando o dinheiro numa carxa de
ao pé da rede,
Homens de calças furadas nos fundos, barba crescida,
a toa e abrindo a boca de preguiç4, estiravam
bruço no chão, fumando cigarros de palha de milho ou
mascando fumo, contando mentiras. Outros ficavam acoco-
rados, coçando a bunda, as virilhas, o saco) fazendo cócegas
barriga das porcas que transitavam pelo mercado, junta-
com cachorros e gatos, numa vrvencla comum,
farelos.
43
Com a blusa desabotoada, coçando o umbigo, os
sovacos, examinando a ourela da ceroula, matando pulgas,
os rapazes caminhavam alheados pelas ruas, espiando o céu,
contando os urubus, fazendo caretas para o sol, cuspindo
para cima e fechando os olhos, aparando a saliva na cara,
desenhando obcenidades nos tijolos das calçadas. Paravam
nas esquinas. Coçavam a sola dos pés. Caminhavam nova-
mente sem destino, perguntando, a quem encontravam, o
dia da semana) o mês, o ano, como se a todo momento
estivessem a fazer a estatística de sua inutilidade. Abotoa-
vam e desabotoavam continuamente a hraguilha. Gtavam
lagartas nas ervas. I)esenterravam minhotxs, acompanhavam
o vôo dos urubus pela sombra.
As galinhas catavam insetos na gr?ma, voavam para â§
janelas com eles presos no bico, engoliam corrr voracidade.
Os meninos agarravam-nas,. examinando-lhes o sobreou, f:tLrzoLÉ,
atrás de um ovo imaturo.
Os cegos do Gonzaga, de braços dados, a pele do
rosto e das mâos vermelha e fina como a das mulheres, pei-
tavam nas carnaubeiias, esmurravam-se, atirando um ao
outro a culpa do esbarrâo, praguejavam contra a sorte e,
finalmente, voltavam a procurar em torno de si, no ar vazio,
ae €
as mãos desamparadas pelo infortunio para novamente se
protegerem.
O aleijado Manuel Adonias assemelhava-se a um
macaco russo, com a espinha quebrada, arrastando os
quartos chochos no chão, as facas de cabo de chifre e os
cornibogues fazendo uma zoada doida dentro da mochila
atada às costas.
Josa Lourenço parecia um canapum maduro, as
orelhas brancas como velas, os pés de cururu. Estava sempre
ansiado, como se acabasse de chegar de uma longa viagem.
Pela manhã, às vezes durante o decorrer do dia, as
mulheres saíam das camarinhas escuras com seus urinôis
cobertos com abanos, Juntavam-se nas calçadas atagarelar,
44
Íalarrrio da vida alheia e merrtirrdo. Os porcos rodeavarn-nas i,r,,r ,,rlr,r I )t2,,'trr tlttt' tlocnça do rnundo deira o homem
irrrpalientes. fuÇando-llres a! saias. ,lr r r tl,lllltrt
- Olha o Dedô, bicho nojento. Está ernpestado dos l,j'r rr'irrr(). O l)cdô cstá assim' Se cata na frente
piolhos das mulheres. ,1, l,,rl,, lrttttrl,, lrt'rrott o grllpo comagessividade'
As "mulheres", a quem se referiam, eram as duas
putas que Íazam vida em Santana e que, vez por outra,
apareciam no povoado pâra uma visita à sua freguesia.
Dedô passava a manhã inteira na beira do rio ensa-
boando-se com raspa de juazeiro, catando chato. Cabeludo
e irnundo como um porco, as mulheres espiavam-no com
nojo:
- Descarado, emporcalhando a água - e jogavam
uma cusparada no rio, onde os piolhos imundos flutuavam,
resistindo à ação da química do sabâo vegetal.
Dedô vivia dando guerra aos bichos, engalicado de
doenças venéreas, com comichão no saco, engolindo doge-
nan como se fosse vitaminas. Enfiava as unhas nas virilhas,
arrancava os parasitas grudados à cabeça dos dedos, liqui-
dava-os entre as unhas dos polegares. Ouvia-se um "treque,,,
como o estalo de uma espoleta.
Os meninos nâo perdiam o espetáculo. E Dedô orgu-
lhava-se de exibir-se publicamente.
- Vamos dar-lhe uma fllrra - juraram um dia as
mães de família.
- Que falta de moral!
- A culpa não é do pobre, coitado, ![ue está aí para
morrer. A culpa é daguelas duas cachorras! Sem-vergonhas!
Tantos homens Iá em Santana, por que vêm mexer nos
daqui?
- E isso mesmo! A culpa é delas concordaram to-
-
das.
Uma opinou: - Meu marido anda mancando. Tem
ferida até nos olhos. A ceroula podre, coberta de uma
crosta amarela. Eu que vou lavar aquela imundice? Pode
cair-me as mãos. Não se deita mais comigo eu já avisei I
- Acaba ficando inutilizado como o Jledô lem-
-
46 47
( )e rrgrrrl içnrftrtr Íariam ju*iça com a8 prôprias mãos,
adiantava o
lia .1r.' !ilI.) lurvi:r aul.oridade no povoado- Que
rl,,l.HprLr? llrrr lxrlre velho de setenta e tantosanoe, magro
r orro unr ti;xi, ul arrimando na bengala, com uma "perna
*,*Iretrrln"- Qrralque-r zoada no m€rcado arrastava-o a88om-
lrrarftr ;rrrn tittra onde §e hancava a eete-chave§' Se lhe
Lllhrrr ri lxrrta, ntandava os filhos dizer que estava em San-
llrm r" rúo rvrbia quando voltava. Gente do lugar não podia
rlxrçnr a nutoridade' Era um cocho onde todos metiaÍn o
Írx'trrho, r:hupavam o mesmo caldo- Tinha que Ber gente de
NUM dia de sá.bado, pelo meio da tarde, as duas rapa- íorr, rk: boa natureza para não cirüsar Per§eguiçâo a nin-
rigas apareceram no povoado. Como sempre vinham de grrôrn. Unra pessoa digna, sem vaidade da profissão'
bom humor. Os vestidos de chita estampada, com grandes ()s dois soldados (à paisana) que vierarn destacadoe
rosas vermelhas. .Sempre se vestiam igual, como se fosse um rle lfuntana para ohrigar a "olho de gato", Arrtônio Pixuim,
sirul da profisúo. Calçaram os sapatos ao entrar na rua. a vrstir um calção, fracassaram, Porque aPregoâvam aos
Dirigiram-se à barbearia do Mingueira, onde passaram o dia rgrrnlrrr ventos que iriam caPar o rapaz, metnr-lhe oe badalos
a seduzir os homens. p,.ln grrela adentro.
Na manhã do dia seguinte, o grupo de mulheres se Loló e a nra equipe, ilue eram os "ltomens" do lugar,
reuniu. Quem encabeçava a volante era a Loló, mulherona lr;xrlmram-nos a pedradas e a chicotes de cansanção'
sanguínea, valente como uma galinha indiana. fumado de Sim, era preciso que Antônio Pixuim vestisse roupa,
facões, espingardas, pedaços de paus, e bandas de tijolos, o ,'r»no todo mundo. Que esüanho capricho aquele? Melhor
grupo caminhou silencioso para o Espalhado, lugar onde as Hr comproenderia o Antônio do Joao I-p"c que tinha
mulheres tomavam bando. As duas putas se encontravam ,,,,do dã gente, não cortava nunül o cabelo e as unhas eram
nuas, nas ribanceiras do rio, correndo urna atrás da outra rnriores que os próprios dedoe- Nas eleições, para tirar o
como duas éguas folgando. O grupo revolucionário as lítulo de eleitor, twe que ser escoltado pelo delegado, de
cercou e começou a chacina: apossaram-se da roupa, pea_ qucm era aparentado. Sim, este, embora Tk'g"ot' não era
ram-nas com corda de tucum e tocaram-nas despidas até a r,xxndaloso Gescera na âba da Sera do Mucuripe, tornan-
rua, sob uma infernal orquestra de gritos e pancadas. Foi do cabritos das garras das onças, chupando caju e com
o espeláculo mais deprimente jamais visto no povoado, e ouvido no Eonco das árvores, caçandoiandaíra ou catando
tudo isso sob o lema da moral, de que ignoravam, até ovo de paca, fazendo fojo, corendo atrás dostaürg atiran-
mesmo, o significado. do noa mocóq cantando nas noites de lua' Tinha uma voz
Contudo, a atitude hostil das mães de família serviu rk: ccreia. Tanto gue, depois que o trouxoram definitiva-
de alerta a outras irregularidades que feriam a .,moral,' nrcnte pa.ra o povoado, perdeu a cisrna-e aos Poncos foi-se
dos habitantes do lugar. r(:omodando no eeio da famílfo, e acabou comPrando um
vioho. As moças frcavam na calçada, pedindo que ele cân-
48
49
t
tasse urna rnodinha. Do fundo
da alcova escura ele largava
o canto, enfeitiçando as donzelas.
50
I
I
valera como
homens de doenças venóreas. Ah, aquilo lhes
mões gigantes (pois ele era um homem na luta contra qual-
corpulento, de mais um forte estirnulante, para pro§§eguir
de um metro e oitenta e forte como um touro)
reboou por ouer coisa que viesse ernpanar a boa moral'
todo o povoado. =-- -Al , àrtlrugada Làló reuniu o grupo' Sabia que "ollro
- Está morrendo de rir _ gritava a um só tempo a de gato" (Assim*apelidado, porque tinha as
pálpebras pre-
população.
erdãr, por uma Pequena abertura) dormia
A casa ficou enfupida de curiosos. Finalmente, i\{in_ "rr*..gandoilo i^do de foia da casâ' no alpendre da
gueira acabou por aparar-lhe as barbas, como
loir.'r* 5irL,
fizera ao cozinha. E*bora possuísse ouvido de tetéu' Lolô conee-
cabelo, com o auxílio de uma tesoura de folhas duplas, pé ante pé'
de guiu cercar a ár.a que o delimitava" Agachada-'
alfaiate. tucum' As
E agora ãiet.rrd"o sohre o corpo do Adão uma rede de
_ eÍa a vez de Antônio pixuim.
Como dizia *olh"r"s avançaram incontinenti' Conseguiram derrubá-lo
padre Tibúrcio, no ',Alto tinha coisa que
só u"r,ao.,. R.p"_ no chão. Embaraçaram-no na rede o mais que puderam'
rando bern, não lhe cabia a culpa. Aiulpa como se
era da me")
que o pai morrera muito moço, quando eie contava ia Fir"r"* o*" ,.fé"i" de "bolo", houvesgem
52
L.-
&
3a parte
I
o horizon&' O ar
A NIIVEIT{ ile poeira etcitzentava
owidos como fogo'
ouente. seco, edalante;;;;;;
os pulrnões-
;;h*; p"ú, retalhava --^ -:
"Nossa s'or'*"iiá' ano úo es.rrpa ninguóm'
Não
- ahrd.,ôúa'
Íica sement€ PaÍa contâr
* "h"l-1,E* iuúo
e
Em luúo " '"-'"';-;;
ncm roga, p"ra.cavar,ru::f ;lH:Ty"";.;: ffi"
tos tran§fornau* :ii*- *o,""t'ão' "o-o
As carnaúeirat
:"#,",ã*"#tr;*'ãtfr
suas agulhas no
'ãã*p"r'dos'osmanda-
ar de'brasas'
ã*t *rf"'iao cristão paÍa sement€'
- Ddavez'aol*p" "m - A b-oca de praga ila
tõ*"i:
Tinha siilo '*;;i;;^' a desgraça
Raimunda Amarante' *Por+*::oca'
isso qpe o povoado úo
dava Í.,ta.go* ,"td;;ádo'
ProspeÍx,a' - úrr ,,egano horizonte'
Umaaurora
estranho sinar' se
,, l"J"T;;;;ã-o 1-
"i,lilil
*; **'a: Il#:'rffi
mãte srfocarla tooo il"Ir',ffi
*"*
âtrfrffi#'mmx,#ffi+=
.,n
ffit# flfr ffi*t" *; somo uivo rouco'
alucinailo'
57
I
_ Meu Deus! É o fim do
que chegou!
mundo! 0 firn do mundo
. As portas bateram-se violentament,
guém as Or.r"rn*irri"'i.oi
o pó do"orprrrr....
châo. As telhas voavarn-1"*ã "dH:I J[rjTf
mulheres, crianças. u"lr.. Homem,
atirados uo ,olo, ;;;;"
olhos injetados de medo, as paredes; os
*_
bramido da venrania. .t, ,,ru._"ü-.àr'"or*am no meio do
o povoado como um bando de
ã"';;;í;_." de repenre
forte_loucura. pedaços
a"_a-". acometidos de
de paus, f"lh;,
de toda natu_
reza flutuavam como se "i;, imundo
o ar fosse um cocho
natureza acúasse d.e lavar. que a
Morreram ;;;r*u, e velhos.
Aves domésticas: gatinhas,
rtesabaram, o sino Ladata";
,ro;;;.:^ "ü.1 ,,*.nrs casas
Sarrtana, padre Tihírrcio
; á;:;tb;u,iil,ro.r"_"nre. De
pôde iur". ,-u riéia da
rlrrc i:r desgraça
Jrr:L» Âllo:
*rt,l.sou supcrstir:ioso, não
,.
.llrr() (luo arlriln saiu da_ boca da
creio em bruxaria, mas
Raimunda Amarante.
IVlontou n6 cavalo^e
parriu. A;;;;""nrrava
notícia da catástrofi pedia
nuvem de muitos nâo podia ser' uma
-,;;^*:''-"-T"inho
,h"' ;;;,;;: ;",::;""itfi:
ffifr ,ff .,.;Trffi:: "fi
31: .:l tangida por uma *"lt ã* d"môr,ios. Algumas
Bichos, ao_i.*icas __
H:[.;J:"lneocrianÇas. "u". expti-
Velhos e crianças! E os
pobres dos bichos e
aves! das
A .,assassina" continrrava incólume. Era justamente
essa falta de justiça que o fazia
à,
sas sagradas. Um Deus ";;-;;;nfiar das coi
injusto,
mente, tivera uma vr ""*o ";;";;;;? Mas, feliz_
edu cação .*"1'ü1,,".:'Ti'-.':h
em Roma
t:"ür";:
'1
-, aprende., mrrirro ^^,"^^--l^ ,91 +,mi
r,,'"
"""',u"'
açoitada por
ffi :;#:ü[T[T Hffi f,TH,fl:I;
deqgraças sucessivas, ain.if_unà .e conserva-
58
hr
t
60
61
h-- )-_
E
asneira que trazem na cachola. Coronéisl Mas coronéis de oh, como o Deus da França, da ftália, da Ílolanda, do
quêl Porque possuem cem reses (ou melhor, possuíam) Japão, mesmo o da Rússia, parece ser urn só. Ern todas as
ganham tamanha patente! Coronel é aquele gue derrota o paragens, em todo o mundo! Mas o do Ceará. . . o l)eus
rio
inimigo, salvando com o próprio sangue a dignidade da Ceará, francamente, eu não sei bem qual é.
Pátria. NÍelhor patente, empregam os matutos, designando Neste ínterim, a vaca soltou urrr profundo gemido.
André de "Inventor". Pois, em verdade, André inventou o Numa contraçâo brusca, as pernas estiraram_se, o rabo
compasso. Embora antes dele alguém o houvesse feito, retesou-se eriçando os calrelos, a língua esticou_se
pa.ra
ele desconhecia. Bem, mas isso ó outra história, o que fora, larnbendo o pó da terra, urinou e rlefecou simulta_
querem f,azer ao animal? O que vem a ser esta lenha arnon- neamente, ergueu e deixou cair, corn violência, a calreça
toada? sobre a pedra gue a apoiava.
- O padre entende, tâo bem quanto a gente, desse É o fim proclamou o padre, apertando o cruci_
-
rlxo nas mãos. Isso é o fim da vida. A
arranjo
- rosnou urn dos homens. - Só a fogueira a levan_ - vida que é uma só
tará. Ninguém agüenta mais, cada vez que a colocamos na em qualquer corpo. A vida que é única. A vida gue
é antes
rede torna a cair. Com o susto, pode ser que se sustente. e apósqualquer coisa a Vida.
-
Tirem-lhe a rede da barriga, esta não morderá mais
- Tocar fogo na vaca! kliotas! De quem foi a idéia? a
Os cabras vergaram a cabeça. Coronel Eduardo gague- grama do Buzil.
jou:
- Bem, seu vigário, a idé,ia foi minha, mas eu não
pretendia fazer o mal.
- Queimar uma vaca! Ah, se estivéssemos na Anti
güidade! Se estivéssemos no Fgito, onde a vaca era um
animal sagrado, a esta hora você já estaria caminhando para
o suplício. Osíris e Anron já o teriam condenado à morte. A
felicidade é gue estas coisas ó acontecem no Ceará.
onde
nâo existe a Justiça.
- Disseram-me que com o zusto talvez ela retesasse
os nervos e sustentasse as munhecas.
,ê
62 63
i
L
I
I
I
gente tossindo, gente se lastimando, gontc atrelada de
pavor.
* Até agora oito mortos, paclre, - inÍorrnou o Rai-
mundo Neco, o delegado: Seis adultos e duas t,riarrças.
-
- Oito mortos! Não morreranr tarn [rí:rn insetos,
gatos, passarinhos? Não morreram bichos?
- Sim, de tudo morreu um bocado. Mas pensei gue
só lhe interessâsse as criaturas.
65
64 \
estar cansado demais pârâ câvar a sua. Abriu muita cova
rasa, dizem que aparava os braços dos defuntos para fazer
pífano. Que Deus me perdoe, pois esta gente do Alto fala
até de Jesus Cristo. Mas que o urinol que tinha em casa e a
quengâ de tomar cachaça eram de casco da cabeça dos
defuntos, isso é verídico, pois uma vez fui com o Jacó na
tapera e arrebentei os utensílios macabros no chão. A pobre
da Maria Donato, em sua escuridão terrível, teria que fatal-
mente quebrar urn dia o pescoço. É dess, rnaneira que mor-
re a maioria dos cegos; o Josa, coitado, redondo e inchado
como um canapum. está visto que o vento o carregaria pelo
campo afora, como uma almofada, crucificando-o nas agu-
lhas dos mandacarus As crianças. . . As crianças úo como
as âves irnplurnes; fora do aconchego do ninho, qualguer
brisa as devora. Mas o Josr foi parar naYárzea do Saco? A
dois quilômetros tlo Alto? Mas que diabo de ventania foi
essa?f)e Santana a gente aüstava o mundo de pó. Parecia
um mar de cinza, enlaçando o horizonte, empretando o
céu. De início, im;rginei que os cabras do Riozinho hou-
vessem tocado fogo nos roçados, todos a um ú tempo.
Depois, lembreirne que estávamos na seca, e fiquei assom-
brado.Foi aí que chamei Jacó para arrear os cavalos.
- O Chelego já havia dito: nestes dois dias o Diabo
rebenta as cercas e correrá pelo Alto. O melhor seria todos
fugirem, enquanto é tempo. Arribar com fudo: filhos,
gatos, roupa, coÍnida, porque hldo será destruído a um
só tempo. Mas todo mundo pensou que ele estivesse de-
lirando. Há dias jejuava, sem provar bocado, e estava
tarnbóm com múta febre.
- Chelego, o beato? indagou o vigário.
-
- Sim. Aquele que botou o Pecaca doido
- con-
firmou o delegado. - Disse ao ir.rnão que ú conresse
inesto e ó bebesse a prôpria urina. E Pecaca fez o que
ele ordenou, pois queria, um dia, adivinhar corno o irmão.
Só comia lagarta, besouro, gafanhoto, cabra-cega.
66
- Ah,
o novo Isaías do AIto, o novo João Batista
(só que João Batisra não bebia
, aqui é mais
um manicômio que mesmo um povoado ".i"4-1r*
qualqu-er. Talvez
::",Tj: *.1r. mais pelo espírito de' anarquia, pelo
oeslelxo, 1.:,,
pela orgia. eue Deus me perdoe! Mas-que
turas bizarras! Estou virando, cria-
po. ,ssi* Jir"., .,_ lor.o,
um cínico. Não compreendo este poro.
tgno.*te que só
um cavalo, e que pretensaor
euerer até aãivinha.. outros
põem o nome dos filhos.pelo calendário,
,gno.rnao;;;;:
cedência, o valor histórico, ,o"ia. ptãi-'reu,
Zola, Bis-
marck, Sôlon, Galileu, Hércules. . .
"Ptolomeu, astrônomo do segundo
sráculo da era
cristâ, foi o criador do sistema
ptur""tario qre considerava
a Terra como cr:ntro do Univers.r. ---
'1'
LARGANDO os animais na calçada da zeladora.
Zola, advogado e romancista francês, padre Tibúrcio encaminhou-se de esporâs e chibata e#
^
Processo Dreyf{ui, autor do famoso
defensor do
.Jhccuse,,,
-*U"u,o punho para u greja. "Tia Chiquinha" e Jacó cobriam-lhe
as pegadas num chouto apressado. Jacó subiu ao útão
- -
Ootr disto ninguéri sabia, padre.
th, e tangeu o sino com toda força. Nâo era o sinal dos mortos,
Não sabem de ,"dr. Mr" .r,b"rn triste e asfixiante, mas o badalar sonoro e festiyo da cha-
roubar e mentir.
Nep;ses cos.tumes, nessas
profissões, sâo lentes, catedráti- mada da missa aos domingos. O povo se interrogava atur_
cos. Tempos atrás, o Euclàes
luu"rl_" ,*-"-"rorol, p*u o dido:
Ieilão de Sâo Francisco: urn borregu.hr"iu"udo,
brancos, meio sangue, de língua".o*;.
dos cascos - Será que o padre perdeu mesmo o juízo? euern
ü;'.*celente e* já viu missa àquelas horas às duas da tarde?
-
pecrme para reproduçâo. Irnaginei logo
que o animal Jacó foi até o patarnar. Trepou-se nn forte do cru-
havia sido roubado. Só-podia L. du íarriu zeiro e anunciou:
Olinda, das
propriedades de Joca Márgues
do J;;;Galvino,'úni- - Não ó missa nâo, podem ficar quietos. E o vigário
""destas bandas.
coe criadores de Cabras de .açu
disse-lhe eu
Volte _ que vai fazer o sermâo, explicar o que houve ainila há
-' o"§ santos não querem esmolas de ladrâo,
Puxei-lhe a laçada do pescoço:
pouco no Alto"
* Euclideg isso é profissão . O .povo lotou a igreja. Padre Tibúrcio estava impa-
-
sabem roúar.
de homem? . . Nem ciente. Arregaçava e desarregaçava as mangas ila batina.
euando vao a Santan" o, u-§obr"l vender Coçava a coroa. Careteava para os fiéis. As á.porm tiniam
um couro, já se sabe: se é de úiunça,.
faltam as o."lh*, po. montadas nas 'riúnas. Assoava-se Resrnungava. Grunhia.
sinal; se de gado, !W", J. **.u.
:rT::.,1:- I Agora Chelego, Passeava de um lado a outro das extremidades do altar.
o.,tlrnahco, vira profeta. eue faço eu neste"povoado de
üdentes e adivinhões? Vamos todos - Sahemo que aconteceu ainda há'pouco no Alto,
à tg."jo. e,r".o a"r- magote de morrinhas? Não foi praga da Raimunda Ama-
mascarflr este eshipido embueteiro.
rante não, gue Deus não dá ouvidos a uma deúocada
daquela! O que houve foi castrgo. Eu já disse: ,.Isto aqui
'8
t
um dia acaba virando Sorͫ;ma e Gofflorra,,.
Sô vivem
rnentindo, fajando da vida ;úireia, xouhanrio
he,des; ap6-
dnecendo de preguiça. ft4agote oÍu
rmorriuuhar! 0 que acon-
teceu, na verdade, Í'oi aperlas urn aviso"
Ou se ernemdarrr,
ou se recúnclilianr" coan Ilerm, o Tnahalho,
a Família, uma
vida de tetitÍtro, paertada nô amor a cristn
e na humildade,
ou o Diabo, quando íflelxos se esÍ)ere, levard
a todos. Nâo
laáoutra saída: nunca raa terra jíse viu
coisa igual, a não
ser eÍn Sodorna e Gorulo!:ra, as cidailes
matditas, t.rg"ar"
F,eJo. fe-ead1 e pelo víeio. Mas, unra aldeia comoesta. luma
aldeia do Ceará, é urn fenôrneno i"*rru*r.-;É*"*ã*il[11i
isto.ó: castígo. Nâo t+xiste fenômeno.
Nunca existiu.
Os homens subvertem^. a verdade. Arranjam
para tudo
uma explicaçâo científica, viável. T";;;;r,
abalo sís.
mico, vulcãu:, ioso e aquilo. Mas o ce*r,
é, que eles pró_
prios pr"ocuram se engenar com rnedo da
verdade! Mas
me emganal para que foi que estudei?
í"iT"ninguém
r\ao. ror para acreditar em reza de feiticeiro
nem na Ma_
temática de Pitágonas! Ele que ,.,
,*r" ,ábio, por
nâo arranjou uma eqr1,eá-oriúu q,r. prtrlongasse gue
nrais
um p@ueo a sua vida? Hein? Nem os profetru
escapar.rm
(apeoar- de eaher o gue diaiam)
nem c,s santos tampouco,
que não subvertiam a Verdade" Deus está
irado, e com
t*u,:;.Isso aqui ó um prostítulo. É necessrírio
I:1r1
todos rnodifiquem 6uê nonrra de vida, pois
se Ele ainda
os surpreender em pecado capital, Iiquidará a
que
f
todos de
um Eo golpe, como o raio.
Os fiéis estavanr transidos de terror.
. "A ira do Criador, com mais razão ainda, cairá
sobre estas paragens, porque uma coisa
é certa" euando
oB homens-quiserem eúer mais do
que Deus, ele acabará
o mundo. I§ão vêem o Chelego, o beato,
nhar? Dizem que ele anteviu a Cafástrofe,
q";;il;fu:
mas nâo aÍr_
tdüu que o irmito nrorreria louco! Ah,
isso é adivinhar?
Dizer ao acasor uma coiea e i* **"i*""i?
o ,"rro, ,
7fi
t
72 73
!
L
sozinho sentâdo diante da Basílica de Sâo pedro, sem
mais urna palavra. Tenho ceúeza de que as "visões,, vol- 'E quem ousa dizer que isso aqui é nrellror qtte So- u
doma e Gomorra? Qmern sabe o que ainda há pouco acon-
taram à sua mente. A cidade estava sendo destruída e só
teceu no Alto? O Pecado está enraizado aqui, corno a lepra
ele a via.
na pele do Lázaro".
"Ah, Sobrall Tenho pena desta gente; destas pa-
ragensl Bsta ribeira do Acaraú pode qualquer dia ser úa-
lada por um demônio terrível. Que Deus tenha ao menos
pena dos inocentes, dos animais,'das aves. De Sodoma e
Gomorra nada escapou. Nada: tuÍlo virou cinza, se ürou.
Tudo virou pó, se úrou. O ar, vejam só, até o ar desapa-
receu. Não havia mais o ar, onde o havia. Tudo ficou
dizimado pelo ódio do Criador, Tudo ficou queimado,
se é que se possa dizer ainda "queimado", já que nâo
restaram sequer pó nem cinza. Moúos sem cadáveres!
Sem o ar, sern partícula qualquer que identificasse a vida
de antes. Nem se podia dizer se "ânteso'alguém possuíra
a vida. Pois já nâo se sabia o que fora antes. Tudo do que
fora, nada restara senâo o símbolo, a história, u
"*"-plo
da ira de Deus. Ira fulminantel Do que existira, nada
restara, como se jamais firra. As paragensl . Ficaram
os nomes das cidades, por causa da memória dos homens.
Por causa das palawas que não têm sangue, nem vida,
mas sâo memória. Ficaram os nomes das cidades por causa
da memória. A memória! -- testemunha invisível, mas
verdadeira. Se é que existe a verdade fora de Deus. Fora
deste enigmal Fora deste enigma, se é que existe a ver-
dade. A verdade, se é que existe, se é que a mente hu-
mana não consiste numa anomalia. A menos que nâo seja
uma anomalia. Se é que existe a verdade. Fora desse
enigma - Deus!
"Sobrall - que Deus tenha ao menos pena da§
criancinhas. . De uma cidade, um povo, nâo restar se-
quer uma paúÍcula infinitesimall Terrívell Se ó que a
palavra terrível basta. Se é que hasta o Dia do Juízo,
quando todos terâo que prestar contas a Deus de seus
pecados capitaia
74 75
t
76
t
Armado com uma foice para afastar o hafume de do ele charnar, daqui mesmo eu ouço'
já a t;arn-
espinhos e conduzindo no ombro uma enorme corda de Mal o telegraf ista acabou de fechar a boca'
relho cru, o padre aventurou-se no lajedo, painha estnrgia.
iria para a
Moitas secas de carrapicho eram atiradas por cima da Todos correram para a Agência' O corpo
Passaria' no
cabeça, em novelos. Ao alcançar o cadáver, o padre sacudiu f)iocese de Sobral - u"o'cio' o telegrafista'
rede"
rnáxirno, até às quaho horas pelo Alto' carrcgado
crn
a cabeça, desolado. Regressou agitando as mãos, os olhos
ardentes" Diz o aviso (,r,us i'*' é um segredo) - fez' 'vcr
o tclegra-
Mullrer - silen-
-Para gue atáJo ao laço? Não adianta mais. Nâo fista. - A tnusa da morte foi assassinato' -
resta sequer um grama de carne. Só o esqueleto, ocado por ciou ele.
Por causa disso também - {alur de ética' falta
de
dentro, como um fóssil. - pedir
No povoado, Heráclito, o telegrafista, que não acom- tato na profissão eu, conl mais razão ainda' poderia
hufou o vi-
panhara a romaria, porque estava esperando o horário, deu o,u .t"lr.ão do Serviço Público Federal --
uma notícia fatal. Acabara de receber o aviso, para transmi-
"gario. Lembre-se de que um operador de linhas é' ao
- secreto' às
tir à agência de Santana, com urgência. A infausta notícia mesmo tempo que um ticnico, um funcionário
era endereçada a padre Tibúrcio" rru". a. qr"rr, " Nação deposita a confiança dos segredos
Herá-
- Aviso do Prefeito - disse ele ao vigário. - Acaba- á. O.tnao, causas cíveis, particular'es, etc' Aprenda'
ram com a vida do padreJosé Arteiro, no altar, na hora em clito, nesta terra você acúa ficando deteriorado!
O telegrafista pediu publicamente desculpas de
sua
que oficiava a missa.
- Mas cadê o telegrama? Isso nâo é notícia oficial - rlefie iertcia:
razão' Minha rnissão é árdua'
reclamou o padre. - O vigário tem toda Mas o que aconteceu ontem
- Sim, é oficial, âssegurou o telegrafista. A notícia iligo: altarnente responsável'
Alto me d"i*o" perturbado' Tive que controlar
os
veio dentro do horário, podia ter sido extra, mas foi corre- ffi-ro a menor
tamente transmitida. Apenas o lápis quebrou a ponta na
- ,iurelho., pois os fios sâo podres e nâo rnerecem
Por.um momento' o
hora do traslado e eu a guardei de memória! .àgrrrrrrçu. Nao *í daqui desta mesa'
poúasestivessenr fechadas a tranca'
- Excelente! Bravo! Tudo que acontece no mundo ;;;" ;"g"" embora ascausa da e§curidão' Mas tinha que
pode também acontecer no Alto, mas tudo o que acontece O lampiâo aceso por
permanecer no m€u posto, como o*-b":
soldado da Pá-
no Alto jamais poderá acontecer no mundo. Eis a diferença.
Tive medo de me
Urna notícia oficial transmitida de memória! Só por esta tria. Os tubos tiveram seu óleo alterado'
telhas
envenenar aqui dentro' Se rebentassem' ' '
Algumas
razão, ó com este argumento eu poderia lhe botar fora do
no chão' Feliz-
emprego, mas isso eu não farei. Acho que você, como acon- vüaram sobre minha cabeça e se espatifaram
tece a todos gue entram em contato com essa gente daqui, mente nâo me atingiram mortalmente'
um pequeno'raqo
eu protegia
acaba também ficando louco. no ombro, e dois-dedos edolados, Porque
a tormentâ
- Ainda vêm notícias? Quais são as etapas dos horá- igualmente os aparelhos e a cabeça' Quando
de restabelecer
rios? ú*r, digo, a uLviâo, cuidei, sem demora tx
Emendei-os
- Não devem demorar. O aparelho está ligado. euan- os fios externo§ que fumepvam na poeira'
11
79
7B
novarnente, sern perder tempo, pois eu súia que as agên-
cias de outras lor:alidades iriam pedir informações.
.* Muito bem, muito bem rosnou o vigário.
- -Mas
eu prefiro saber a verdade. Yocê nâo obrou por bem em ter
dito aquilo, mas também não constituiu nenhurn mal. A
verdade. Doa ern quem doer. Padres ou Bispos, não vem a<r
CâSO.
80 81
)
1
§,
82
I
0
as ptl-
a sornbra e §e atiràva no mrrntlo, la[irrrlo, ttlortltltttl,t
rlo N4ttr:ttriptr
dras, cambaleante. A ventania ululnva' A Srrrra
nudez. o ciririo-rlrl rlrlí'ttnto, sobrr: tl
mostrava sua escabrosa
Ntlm;i
telhado da casa da zelatlora, sc trattsíot-tttavil rltrr pír'
()
noite uma rajada de vent! rc{loriir' lcilo rlt' Actaú
era
UÉ+
s$
logo cairia, ern grandes placas, como tapirrcas. Voltariam
as andorinhas a chilrear nos jacarés-da-igreja. O oiticical
reverdêceria. Os campos, as capoeiras, tudo voltaria ao que
fora antes. Embora parecesse incrivel, ainda aparecerúm
cururus, pássaros nos bosques, e osjurnentos, rnagros como
ascetas, escaramuçariam no quadro das ruas, escouceando
o.vento. Chelego, o adivinhão, passaria entre o povo, de
cabeça baixa, envergonhado.
Enquanto isso, Joâo Pinto, o usurário, caminhava na
mata. As alpercatas de couro cru reduzidas à metade, pro_
tegendo apenas o peito dos pés, mostrando os calcanhares
<ralejados como a couraça de um monstro pré-histórico. A
I
avareza rlele era tamanha que o havia transformatlo num
bir:ho, urn ohjeto insensível e inrliferente a tudo. No entan_
? §
to, havia nt:le urna indornável vontade de trabalhar.
calor inrpiedoso fustigava-lhe o corpo, perturban_
do-lhe os sentidos, e ele adentrava-se na màta asfixiante,
confurbada, a chamar pelo nome das vacas que a seca liqui-
dara. Tangia o dedo no ouvido e soltava o aboio, tinindo
nas chapadas ardentes, tangendo a maloca invisível. Coita- t
do, a loucura o vencera. O Diabo, corno yaticinava padre (a
fJo
ri
88 89
agentes daquela cidade eram uns ratos. Cidade maldita. por
ela, pelo orgulho desmedido de seu povo, sofria toda a
região.
Sim, o provimento chegaria. Padre Tibúrcio amassava
a papelada entre os dedos, impaciente:
- Neo passa deste sáhado, não passa. Heráclito, insis-
ta telegrafando ao Governador.
llt'i,, t L
90
-
s2
rlt,s. l't't'atlos capitais! Llrn século dc strrdr:zl
Ilrn sticrrlo rlt:
hurrranidade jamais esqueceria as três ci{ras rrredonhas!
o{enrlirlo, hrrtrtillradrl. "lssrr
Na escola, quando criança, jamais gostara de escrever intolrrânIias! Deus sentia-se
rrrrr tliu vira Sodoma e Golttorrit, rllagot(' tlc rrron'inhasl"
aquele número, embora fosse bastante fácil de imitar, co-
\las o povo fazia ouvido de tltcrcatlor:' Àgora' a
dtlsgrnça
piando o modelo da tabuada. Dos algarismos arábicos, pre-
vinha cobrar o seu tributo' Nutlt'a a goÍlte
feria o 4, que era como uma cadeirinha. Nela podia sentar- Latia às pot'tas,
se a mosca, o cascudo. Preferia qualquer número que nâo do ,\lto lizera jtrs ao Betn'
fosse o B. Esse, sempre lhe parecera urn desígnio: dois O vent.r ulrrlava violentr» soltrc ils citbc(:as' atirava
dois jumen-
infinitos formando nós inteiriços. Algernas. distuntt, o tt'to tlas casas. tlmas setcttta poss()âs,
tos, ttnt papagaio dt'rttetrte. cntrroitdo (iss«r) trrrlo
o que
Pelo meio da tarde , qrrando todos gemiam sob o calor
em torno do
asfixiante, andando à toa, pelas calçadas, lastimando a r:..,rt.o .àr,i ,iau tto povoadtt, e'qtabeleceu
sr»rl.e, como Jeremias, a nuvem de poeira, como da vez tl'onco do tanrarindtito u"r círculo uniforme' As mâos
toda a força
irntr:rior, levantorr-se rro horizonte escurecendo o céu. ÍIo- anrarratlas umas às outras, acocorados, davam
formada pela embira dos
rnrrrrs, nrulhcres, r:rianq:as, reuniram-se numa trouxa ao pé qu. po..uir- à etrorme corrente
titânico para não serem arastados pela
rlo tittitro tatnalildt:irg seco que havia no quadro das ruas, liruçá., num esforço
fugiu a luz do céu e cairt a escuridâo
orrrlt: sr: cnrrrnt.ravam dois jumentos. Ninguém ousâva atirar u".riurir. De súbito,
espada de fogo
runra cs;riadela ao horizonte. O braço esquerdo do Criador intempestiva. D".up"."J.' o câlor e uma
despencou com
havia descido sobre o Alto. isso acontecesse, .achou o firmamento ao meio' O aguaceiro
Quando
vaticinava padre Tibúrcio, seria o fim. Antes fora o aviso, tanta força, como se fosse o próprio céu a nrir de uma só
a volta seria para destruir tudo. Tudo. Tal Sodoma e Go- vez.
Nâo pode ser, não pode set' Ê um'visão'
[)rna
morra. Até o ar desapareceria. O que antes forâ é como -
mentira. Não havia um fiapo tl" "u'*'o no cspâ(:o
lrrada-
se jamais existira. Seu coração estaria preto de ódio. Sua
fúria qrreimaria as partículas do ar. Se "queimar" fosse bem vam os homens, alucinados'
Sim, éo inverno; Deus é bom - respondiarn as
o termo, pois, em verdade, não havia uma definição precisâ. -
Já se ouvia o ulular rouco da ventania. A ira do Cria- mulheres, em coro'
dor! Que terrível coraçâo Ele possuía! Que espírito vinga- - §ao artes do demônio - insistiam os homens'
tivo! fulminados de terror.
mulhere§'
A malta dos ventos malditos ladrava aos ouvidos - gritavam asjoelhos'
- Não, é mesmo o invernoem no
num alarido, erguendo as mãos prece' de
como cães famintos, lobos ferozes. O calor latejava nas
congestionadas'
têmporas. Os jumentos suavam. As enormes orelhas, caídas meio do tempo,Lb o aguaceiro; as feições
como abanos molhados, escoavâm em bicas na cúeça das os olhos incandescêntes' como loucas'
criaturas. Da terra subia uma onda de calor infernal. A terra
inter-
ia se abrir, tal qual Sodoma e Gomorra, as cidades maldi- Choveu três dias seguidos, estiando por curtos
como outrora, surgiu sereno' azulado'
tas. A gente daquele povoado, como não se cansava de valos'. Depois' o céu,
no infinito'
dizer o vigário, era indecente e imoral. Havia abusado da como u;a barca côncava, tranqüila' ancorada
bondade divina. Uma geração inteira. LIm seculo de peca-
95
g4
T
a:
"EU vi, eu vi
dâis siris jogando bola,
ou vi, eu vi
doie siris bola jogar. "
()s rrcgos sarrrdiarn os rnaracás. Os olhos de peixe
r:ozirlo t:strelados nas írrbitas.
0 inverno acochava. As águas corriam impetuosas
pelos gorgotões da Serra do Mucuripe. As várzeas alagadas.
O Acaú fora da caixa, esturrando.
- Enchente doida, Amarante!
Amarante esfregava a cara corn a oosta das mâos, afas-
tando a brurna" Com o cabo da foice liquidava os morcegos
grudados no portal. Desabotoava a braguilha tla ceroulà e
mijava no meio do tempo, espiando as estrelas; o cavalete
de mulungu escorado na parede.
A bruma alfinetava a ponta do naiz, das orelhas,
deixava as mãos dormentes.
Caía nágua, remando corn os pés. A roupa, o facâo,
o mocó da comida feito uma trouxa,lcom a enxada no
cocuruto da cabeça presâ ao nó de barlricacho.
Ás cascavéis, as cobras-de-veado, as salamandras sibi
lavam emaranhadas nos bauceiros, que giravam na corren-
teza, apanhados pelos "funis".
96
Gemiam os novilhos estrepados, berravam as raposas rlr'
Tocadas pelo álcool e pela hcrcditarirxlltlrt lritssttlil
ernpoleiradas nos galhos das gameleiras. Camaleões de papo filhoaneto,entravamamcntirtlitl.alitrrlirvirlltitlItt:ia.
amarelo, o fato de fora, perseguidospelaspiraúas, rico Apesar da seca, apesar da tentptlstadrr tlr^ pt'r'ir-l
(rr illrrviiÍo)'
cheteavam pela correntezaúaixo. up"a* doa pesar;s, elas nâo se ettttlrttlltrittlt' t,ttlittttltvattt
à b"b"rrdo cachaça, rn()ucils ii arlvr:rlôrrr:ia
Amarante erguia a proa do cavalete, defendendo-se llo
mentindo
das cercas de arame farpado que giravam na correnteza.
vigário.
Voltavam os tempos bons' ()s sal)()s
A água do Acaraú era morna como o corpo da mulher (:()axavanl na
s<;b os cobertores. Mulher velha, mas boa. Sadia. Forte beira do rio, debaixo d"t pcdrus, ao Jlé dos pottrs'
Sem saher
('omo uma vaca. Tinha-lhe dado vinte filhos. Paria como dos
como, âs andorinhas chilreavarn noviunento n()s canos
rrrna coelha, uma porca. Nunca per.dera urna cria. Como as jacarés. O gaviâo que apanhava morcegos na torre exibia
.uu. grrr", f"ror..; §ovelas pulavam no leito do rio;
var:as, concebia sernpr.e no começo do inverno. E Amarante o tama-
s;rlrir. ;rolo ciclo lunar -- experiência herdada dos avós rindJiro, no quadro das ruas, encrespava-se de flores; as
it rurturcza do sexo que a mulher gestâra. Nunca erravâ um
-, ilhas; a grama
carnaubeiras balançavam as suas palmas nas
lrrogrrristit:o: "nracho", porque fom gestado na fase da lua repontava, espessa; a mata escurecia e a Serra do Mucuripe'
('r'('s.r'nl("'íôrnrra", p()rque já descambava para o minguan- no povoado, como um mons-
.rJvamente, parecia avançar
lr:. I', isso íirr:ilitava, ern parte, nos utensílios domésticos tro verde, pré-histórico.
qtttt a r:ri3nçn iria rreggssitar. De onde vieram âqueles cegos, nâo se sabia' Festeja-
Em
Enquanto o cavalete desiizava na mole superfície do u"-.. à padroeiro do luga' - São Francisco tlas Chagas'
leito do rio, Amarante parecia ouvir o escachoar da mijada tempo àe festa, era as;m: apareciam aventurt:iros de toda
iriganos'
das yacas. As mulheres também se levantavam cedo. Mija- ..pé.i., mágicos, equilibristas, cantadores de viola'
uád"do.".ãe bugigngas, rufiões' ' Tarnlrrirrr t ir'''rs '
vam de pé, no terreiro, sobre os pés. Mijavam coçando a t: ar-
bunda, catando pulgas no cós da saia, tagarelando, numa rocéis.
zoada doida, como um bando de tetéus. Libertavam as De onde vieram aqueles cegos? Sacudiarrt os rrlâr'll(':ls
tranças dos cocris" Fareciam duendes, os cúelos pela cin- na porta da igreja. Os óculos amarelos, a rouPa encarrlitla'
.as muchilas ensebadas atravessadas entre o pescoço e
tura, voando ern torno do corpo, tangidos pelo vento matu- a
tino. Almas errantes, condenadas, sedentas, aspirando o omoplata. Sacudiam os maracás' A voz de taboca rachada'
sererro da maúã. o. oiho. remelentos, encroados, imóveis sob as pálpebras'
As galinhas também saltavam dos poleiros, cuspiam Malcriados. Inconvenientes' Um dia desentenderam-se'
nas plantas. Os galos as cobriam, sistematicamente. Um em punho'
Xingaram as mães. Pularam no adro, de muletas
horário comum para todos. As galinhas entravam a ciscar, Saltavam como gatos) valendo-se dos cotovelos' Um era
catando insetos, minhocas. As porcas fuçavam os estercos apenas duas asinhas
perneta, o outro não tinha pernas'
das vacas. As mulheres coçavam-se, §€ espreguiçavam, ridículas, como os membros superiores dos pingüins' balari-
abriam a hoca, depois se reuriiam em bandos, como capo-
çando nos lados do honco'
tes; bebiam cachaça ao pé dos balcões das bodegas. Umas, A luta escura recrudescia' Gritavam' regougando
em copos; outras, em Êascos, com sementes de gengibre, como macacos queimados'
pendões de manjericâo.
99
98
- Eh-eh, puto.
- Eh-eh, corno;ladrão.
O tacâo de ferro das muletas arrancava Iíngua de fogo
das pedras. Uma porca que se refugiara do calor, com sua
récua à sombra do forte do cruzeiro, foi massacrada com
uma chibatada. Os miolos saltaram, distante, com um tam-
po da cabeça e uma lasca do focinho.
- Rachei-te a cachola, puto.
- Eh-eh, matou a porca; corno, ladrâo.
As muletas encurtavam. Restavam tocos. De zubito
silenciaram. Um frente ao outro, ferozes, escumando como
p()rcos bravos, rilhando os dentes. Os espectadores contraí- O PADRE acabara de chegar' Como viera' ninguém
com
raÍn os punhos. O qrre estariam eles premeditando? eue sabia. A batina enrolada debaixo do braço, amarrada
pcnsamento ignóbil estariam engendrando aqueles céretrros? junta com os sâPatos' as botas
uma embira de pau-branco,
As tônrporas latejavarn, lavadas de suor. A respiração opres- ,* O chapéu de feltro atolado na cabeça' o cal-
sa. Aproxinravam-se. . . Aproximavam-se. . . Fatídicos. De " ".po.u..
çâo de mescla, encharcado:
um salto, se atracaram. Ouüu-se um grito desesperado. Estou gelado' Maroca' A alma entanguida por
Em seguida, um uivo. Simultaneamente ambos rolaram, dentro. Meio copo de genebra' Não, gencbra não;
o povo
é t:apaz de dizer que ando na
sangrados. As unhas enorrnes, vermelhas, escavando o chão. do Alto é muitolinguu*do,
tllr ttlt:
chuva, mergulhando no rio, c()[l o prop<isito
As gargantas estouradas, o sangue escurojorrando em bicas. tlnt-
Espinoteavam, rodopiavam sobre si mesmos como bichos para o "lnvr:rtl«rr"' r' Anrlrri' ll t'
Urirg". D"i"*" u genebra
de pescoço quebrado. s", ãrfé da manhâ. Eu prefiro rncsrn() ttrt «:<»rrltatltttt'
O bodesueiro, solícito, depôs o litro no balr'íio:
"Este'está
Nâo. aberto' Traga-me um litro intlt'o'
- Estnu berrr
nâo seja besta. Veja com quem está tratando'
informado da roulalheira de todos vocês aqui do A!9
aumentar'o vinho, a cachaça' No
Mijam nas garrafas para
Alio, não ninguém' Não con{io em mim mesmo'
"á.rfio "mem Sâo Francisco' Isto é: no seu trono'
No AIto, ú confio
o
lá no altar' Teúo até medo de que vocês nâo pervertam
de morri-
santo quando o levo à Procissão' Vocês' magote
.rtr., .uo incríveis. Quando sai a Procissâo' não abandono
do
o andor, vocês são capazes de cochichar"*. .to ouvido
tampa!.Não tem saca-
santo. A,h, vâmos, arranque Iogo esta
Dê-me a
rolha? Para que esta ponta dá fa"' enferrujada?
100 101
)
garrafa) ora bolas! Vocês, aqui do Alto, nâo têm forças,
também só comem carne de bode! Para que quero dentes?
Nao é só para mastigar. Nâo tenho um dente furado.
Cuspiu a tarnpa {ora:
- Ora, ora, rnole coÍno uma pastilha. Maroca, o rio é
um mar dágua. Opa, Deus de bondade! Nunca vi tanta
cobra. Nunca vi tanto animal junto. Nunca vi tanto bicho
sol'rendo, assombrado.
O padre veio pelo rio?
ll
Claro. Jacó é mole como um peru. Ficou do outro
lado do Buzil, com os animais, esperando que dê val. Tal.r,ez
sir r:hr:gue lá p:ra a noite. Talvez daqui a uma sernana, se
t'orrtinuar chovendo. Ora, ora, eu nâo me aperto. Para mim
rriio cxiste cht:ia. liiri pena que nâo encontrasse um cavalete.
'l'ivt: qur: rlcsccf no rabo de uma vâca. Estou com as munhe-
(ras cansadas dt. [azer força. A correnteza muito forte. De
vez em quando a vaca €ismorecia. Tive que açoitá-la. Muita
agua. Cortamos mais de um quilômetro. Quem anda aboian-
do na rua?
- É o João Pinto - gemeu o bodegueiro. - Enlou-
queceu com a seca.
- Estâo vendo? Cansei de dizer: um dia o Diabo
toma conta dele. O avarento nâo tem uma chance. Deus
fecha todas as poÉas do céu ao avarento. oNão troco meu
cavalo por ele", me chamaram de herege.pstá aí, um pobre
diabo, atirado ao léu da vida. Louco. Nâo dava um cabrito
a um afilhado, a um sobrinho. O André, coitado, morrendo
de fome, mas sonhando. Morrendo de fome, mas hoje, é o
que Be vê, nâo precisa mais andar pelas bodegas implorando
que lhe venda um litro de farinha fiado. O André terá uma
velhice tranqüila. O gue ele fez pelo sogro, o louco Fran-
cisco das Chagas Frota, o que ele fez pelas cunhadas, o
Idelfonso pagou com a mesmá moeda, levando Davi para o
colégio. Davi, por suâ vez, provou que tinha o sangue do
pai nas veias. Procedeu. Quis ser gente. Um aviador. Ducas,
102
André' querendo ser
empregado do cornércio, em &tassapê; numa firma rica. andando entre os anjos na igreja'
Deus encher.r a cabeça de Anastácio de inteligência. É um arqri*"4"*. Gorrrg"i "o*o toilo mundo no Alto' mentin-
jornalista. lloie. o André tern mais futuro que o coronel do.
xícara de
Antônio Carolino, o Zémaranhão, o major João Lourenço. Foi uma embriaguez passageira' Com uma
A {igura bizarra deixou a bodega e se encarninhou óafé amargo o padre recobrou as faculdades:
Tive um sonho - declarou ele - em-que fayil
para a casa da zeladora, assoviando. As pernas cuúas, cheias - o Acaraú no rabo de uma vaca' É verdade?
de nós. As veias quehradas. Roxas. O Pai de Chiqueiro, de atravessado
propriedade do coronel Fortuna, ergueu-se da malha para Onde está Ja"b? Os cavalos?
o chifrar. O padre saltou por cima dele, o bicho enterrou os
chifrr:s no châo, desorientatlo.
Estou acosturnado com a sua rflanha, Cheiroso.
Suspencieu-o pela ponta do rabo e deu-lhe com as
Irolirs rros rlrrartos. (bntinuou assoviando. O chapéu de fel-
lro trrlcrr:rlo nu calrr,ça. ['arecia rrrn espantalho.
"'l'ia ( ihiquirrlra" ia lechanrJo a poÉa quando o padre
srrbiu a rrlr,,acla:
Padre,oqueéisso?
- Se está com medo do Diabo, se benza primeiro.
Sou eu mesmo. Hoje voi celebrar assim. Acabei ficando
doido tarnbém, como todo mundo no Alto, como você.
- Eu não lhe quis magoar. Falei por falar. Foi isso.
- Nâo me magôo à toa, não sou feito de açúcar. Não
sou manteiga para andar rne derretendo. Diga se tem uma
toalha por aí. Estou encharcado, Chiguinha. Acho que
estou bêbado, tamhím. Acho que estou cômico, com este
calção. Atravessei o rio no rabo de uma vaca. Os urubus
cagaram na minha coroa. Merda de urubu d,á azar, não é a
mesma coisa çre os dejetos das andorinhas. Nâo ache graça.
Todos nós somos côrnicos. Todos nós somos palhaços na
vida. Todos nós, um dia, temos nosso dia. Totlos nós nos
excedemos. Nunca vi tanta água junta. Creio, essa a razão
de ter-me excedido. Tornei uns tragos na lrodega do Maroca.
Eu estava sentindo por dentro a alma gelada. Tcdos nós
somos passíveis de erros, fracassos. Veja o Joâo Pinto,
louco. Padre Arteiro, assassinado. Eu, ébrio, Você, patética,
105
104
A BOQUINHA da noite, Jacó apareceu conduzindo
-rf
os urrirnais. As pernas pretas de lama. Os olhos inchados, aos
lorrrlros. 'farntrérn estava erl seu dia. O {rasco de aguardente
vlrzio, colrro unr crnlrornal, balouçando na cintura.
.f ar:ír, quc r:ara ri esta? - bufou o vigário.
106
I
ils
'Jacó, eu só queria que você visse o mundão dágua uma fogueira; o açude - um poço dtl larrra; [)('ss()ils as
t'tttrtlt:tttlo
rolando. Um dilúvio! Quando a vacâ esmorecia, eu a esmur- ,rrturerãs mortas. Os cães latindo nas trstratlits'
t'arttalr:õr's altrcittittLrs' t'llgr»-
patas, desatinados de fonre' Os
rava. Estou com as munhecas podres. Ah, mas que bico na por:ira' ()s
leve. Parecia uma canoa. Um quilômeho de correnteza. A iirrdo'o vento arrlente, dando t:alrthalltotas
jumentos escarnando o tronco dos tarttarirrrltriros'
A ntlvtrttt
cabeça flutuando, o queixo montado na linha dágua. Quan- 'J. po.irr, Chiquinha, escure<:etttl. ..r'trtt' l'éguas e ltiguas
do alcançamos a ribanceira, eu tinha o corpo tão dormente, cstrangulá-lo'
como se nâo me pertencesse. O coraçâo parado. A alma circulando o horizonte como se qllls(rsselll
qualquer' Nunca
inundada. Tomei meio litro de conhaque na bodega do àt iquirrf,u, "aquilo" não era um ttrnrporal
Sodonta e Gomorra'
Maroca. Alcatrão legítimo. Arranquei a tampa com os ." oruiu falrr àe tal coisa, a não ser etlt
e pelo pecado'
as cidades malditas, sucumbidas pelo vício
dentes. Depois, me retirei. No quadro, em frente ao forte crescendo
Nrrr"u se viu, Chiquinha, tanta poeira acumulada'
do cruzeiro, o Pai de Chiqueiro, o Cheiroso do Fortuna,
ameaçadoramente sobre o esPaço'
queria me derrubar. Saltei sobre ele. O bicho enterrou-se Parecia
"Não gosto de recordar aqueles dias fatídicos'
no châo que só uma bananeira. Foi um sacrifício para arran- como um
que era o fim do mundo que se aproximava'
r:á-lo, quase lhe esfolo o rabo." Parecia !pe era
.[acó sar:udia a papada de porco cevado, rindo. Os
dr"rd. enchendo de terror tudo o que toca'
cumpria' O Dragâo
olhos inchados" (lontraú as olheiras escuras, moles como o fim de tudo. Parecia que a lenda se
desapare-
borboletas.
dilatando as entranhas áa terra. Estas paragens
..r1"., tal qual Sodoma e Gomorra, quando o braço
"A gente tem um dia na vida, súe? A gente tem um da fattrr
dia para nascer e para morrer, poque também nâo pode esquerdo do Õriador caiu sobre elas' eliminando-as
da terra.
ter um dia para. Para se embriagar? hein, Jacô? Que t'ortíilttrlittrlo'
Os ossos dos animais e das criaturas sc
Deus me perdoe, mas a gente tem direito, a um dia." no lajr:«Ir rle rrspi
Chiquinha. O Josa, coitado, cnrcificado
"Tia Chiquinha" estava perplexa do "bom humor" do os rrstt:ir»s rllt
padre.
nheiro. O Yieira e as irmâs, sepultados sob
o (llr('
"Todo mundo tem direito a um dia, Chiquinha. Um própria casa. A cega Maria Donato, corn p(rs('()ço
baratas' A
brado. Crianças mortas, atiradas às sarjetas' como
"dia particular". Há o Dia de Juízo, quando todos têm que no céu'
prestar contas a Deus de seus pecados capitais. Há um dia "Princesa Isabel" agonizante, os olhos pregados
um gato
para todos. O nosso, o dia ideal. O dia de se embriagar. como uma criatura. O Antônio Rufino esfolando
vivo. Quem diria, Chiquinha, que as chuvas
um dia volta-
Aquela seca, Chiquinha, como a seca dos 3 oito, a maior
riam? Quem diria?
seca do mundo, nâo é coisa que se esqueça jamais. "Aquilo "
de outro dia, Chiquinha; "aquilo" que apareceu no Alto,
ioje é o dia do povo do Alto se embriagar' Deus me
a um dia'
perdoe. úas até o Diabà tem direito também
não era nada normal (a aluviao!), prefiro antes falar assim,
já que não sei a que atribuir. "Fenômeno": mas não existe Um dia fora do calendário'"
fenômeno! Todos nós sabemos que nâo existe fenômeno.
O Dragão. . . Sobral! Estas paragens!
"Nâo gosto de recordar aqueles dias passados. O sol -
109
108
I
0 â 0
o
t
ONDII é que você quer armar seu rancho, Elpídio?
N o lr t @
llllllllltlllllllllllll
Nã,r ri no paLarnar da igrcja, é? Ngo vai vcnder seu péde-mo-
lr-rgrrc los nrill.ut.os nâ hrlra cla elevaçâo. Todo ano tenho
rlrrc llrr' lirzr,r cssl lrrlvcrtônria, oomo se você sofresse de
;trrrtrlsiir! ll rnrr nr,,,,,,'nto sagraclo. O r,inho converte-se, em
sllrÍllrr, a
h<istia, Ír() (:()rÍ)o dc Cristo. Lembre-se: todos
tênr que se ajoellrar, contritos. Pedir a Deus para que no
Alto jamais aconteça outra desgraça daquela. Recue vinte
I,
metuos do adro e risque seu terreno. Matuto é como bicho,
não seja tolo. Se quer vender seu grude, seu refresco de
tamarindo, que erga sua barraca quanto mais distante. Veja
o que fez o Guabiraba. Carregou a táhua e os dados para a
heira do rio. Os matutos vão descendo das canoas e ele os
vai limpando. Jogo de bozó, jogo de caipira, jogo de azar,
não interessa! Para que diabo matuto quer dinheiro? Para
comprar terra? Brigar? Dizem que o Guabiraba põe chumbo
nos dados.
"Perguntou-lhe: Guabiraba, você põe chumbo nos
dados, diga? Isso ó rlesonesto. Você vira os dados.depois do
jogo feito'i Isso é desonesto também."
- Tibúrcio (nâo me chama de "vigário", como todo
mundo), vi quando você nâsceu. Vermelho como um rato.
Minha mãe deuihe de mamar nos peitos. Leite de negra
cativa, forte como leite de jumenta. Sua mâe morreu do
110
I
,.Utensíiios,,? (litv:rlol () t|rc
I
parto. Nós nos criamos juntos, somos quase irmãos. Você _ - rr,:plirlrei-lhr'.ílotlltrrllttos! l'l os
achou quem lhe levasse para o Seminário. Eu fiquei arman- acahei de citar nâo são uter'sílios' rttrts
I
ils lt:lttsllrirrs
do fojo, arapuca. Depois comprei esses dados para ganhar santos não precisaÍn de tl«lcttrttttttttl's ;titrit
a vida; mas meus dados não sâo feiticeiros; acho gue não comerciais, ir,li"iá'int, etc'
(lorrtr» o
lrorlt't'iil lrt'lttt'ttt tlt'
são. Não têm chumbo. Tem dia d.e azar, caborje. Você sabe. Povo, o magistrado,
o avarcnt<l' trstitlrtlt't t'l' i oll\'rt lsil{'il()
st'rttitlo':'
A soÉe tambérn tem seu dia. À.s vezes, volto para casa, Iim- o, suntÃ? Você não pcrt:eire tlttt'isso rtiio l'itz
"or,', trl'í'ttti'ros'
po. Um dia é da caça, outro do caçador. Assim é a vida. Os santos nâo são ao*'o "ó*, llassrglinrs' 1roltrtrs
Elcs sÍo t:rrigrrriitit:os' ittt'orptittros'
Acontece é que os matutos cismam de "amarrar" certo ;;;;it desampar:ados'
vrx:ê hrttttbótrt não
número. Matuto é bicho teimoso. "Cercam" o número a eternos. l'or ,tna questão dc lrigica, qutr
cttt possuir
tarde inteira.'O número, por sua vez, brinca de escontle-es- vê-se que São lirancisc'o cstá saLislrlito
"ri""a",
este estirão: as seis léguas que vão do
ltiozinho à lombada
<:onde (está no seu dia), não bota o focinho de fora, e o
dc trarnaubeiras
Iresta do matuto vai desatando os n<is do lenço, escorrendo í*i"rru do N{ucuripe."Este ierue"o, coberto
senão' r:omo podería-
os rríqrreis aqui para a mochila. e oiticicas, dá urna boa renda à igreja'
nichos não
"Quc posso fazer com ele? Os dados sâ'o os instru- mos Ínanter â conservaçâo das imagens? Quantos
deixar que os mol-
rnrrrlos rlr: sr:rr ofício. l'elo menosl nâo anda roubando foram frliLos antes da seca? Vamos então
lrorlc rros r:lrit;rreiros alhcios. É um velhaco honesto. Todo cegos càguem no manto dos santos'i
"Lutar com gente ignorante é o tliabo-' Tenho
enve-
firrr rlc an<-», é essa rnesma peitica. Isto é: a mesma arenga.
no Alto' Venh<'-nre
t
e
De tanto reprovar o Gonzaga, de tanto Ihe ouvir .a gíria, lhecido nesta terra' Digot "nt Sanlana
contrai o mesmo mal. A língua, como paga! Mesmo nas sentindo rloente. Depiupeoado' Ontenr t.ltlrlst: altitttlto tttn
irt:osltttttittlo :t
causas justas, como paga! "Peitica", repito, arenga. Quando resfriado. Meia hora no rirl' lirr rlrrl trst'ava
tiver que festejar o Padroeiro do Alto, nâo vou anunciar p"uaua ,*u tarde inteir:a tlt:ntro
rlligirir' l'lltrrl:rtttltr ;tt trtz ltlts
rrstit itl'"s r:ittttltilt's'
antecipadamente. Apanho todo mundo de surpresa. Mando ilhas. Creio que estou muit() PCrt() tltl
(lc (x)Íls(li(i'Ír(riir lrrrrltliiillr'
atirar as bombas nas paredes e soltar os foguetes. Os matu- ór", .a estoul Porém me enterrc' gtrtt{t'
capil'ais tltrssit
tos que julguem que é o fim do mundo que chegou. Pelo Éi, I qu. pude para Iimpar os pecarlos
Ná. úngot. d" *oiirrho', acostumaclos it. rrttlt'r tlt'
menos não tenho o trabalho de vistoriar a terrâ. do
"Ontem, o Zégrand,e teve a audácia de me dizer: 'Dei bode, à à indecência, ao vício e à nteltira'
"u.hJçu, B vejo qut'
ordem ao Juvenal para montar a engenhoca dele aqui atrás "Gastei minha mocidade neste lugarejo'
Amor'
foi um tempo perdido' ioguei as sementes do
cla
do muro, pois o meu terreno se estende até o Riozinho".
estas altnas'
"Cavalo" - disse-lhe eu -, quem tem terreno por Virtude, da Persevera'çu to["t estas paragens'
esforços' No
aqui? Todas as terras que vâo do Riozinho à lombada da de que um dia ol'tt'i' o fruto de meus
Serra do Mucuripe sâo de Sâo Francisco. Mostre-me os
"ár..io
tempo da colheita vejo. (corno naquela.par'íbola
de Jesus)
pude' Dei meu tempo'
papéis, as escrituras do terreno, o aforamento, os dízimos. o joio sr{ocando o trigo' Fiz o que
Mostre o preto no branco. Argumente. Dê provas. minha mocidade, minha esPerânçâ'
Enterro-me com mágoa'"
-'E o Santo tem esses utensílios?" indagou-me
-
ele.
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l
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I
lr
l1
pontla-ure? Você rtão ó digntl rla luz do sol! \ocê ó pior tltre I
trttt tnor<rtrgtll []nt rttonstrol OIrdtt já se t'itl ttttt pai firzt'r isso
('()nl o I'ilho'l Sorrlrc, Lurnhélrt, tltrt: você sir o cltattta tle
r:ur:ttortrt. llor qtrôl !lntão vttcê trão é o pai'i Nesse citso. i
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-4
I
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I
I
( lr( ( rlr'rríl{r lrllril
lebaixo das arvores, no pé da Serra do Nlucuripe,.quem as árvtlres tla ltlarrted;r tlttt' 'ltltlittlt:'ttr"-' t'
() Iirlr tlit' lrtt'riltt" '
r't iltt 'l',".
iabe lál Só o Demônio poderá saber. Pois foi quem tomou rl ttnla. t:tlrtt rlrllitlcz' ,"'ll(r-;llllil
(llrill
r) lllill ttl li'r'it. ilr'
conta. No Curral-Grande, são os Moles, apodrecendo de ,rr,, ,rr,ratul. qrrc rlli Í)illil ''
preguiça, o mâto comendo â roçâ. o cabelo cobrindo as n t()s.
tttittt l;rlcil'tttl" (.lll. lllrli'
orelhas, passâm o dia inteiro escanchados nos peitoris dos Sint0 tl t-ttitl rlcrttro rl'' t:tt
r'lll ll)r'll: l'ttlttt"' ' ili illrttrl'r
alpendres, mâscândo fumo, coçando as pernas, ouvindo os víbttra. Ele cstli ltlltttllrrl, lt'rrl'tto'
,aa.- ar,.a,,,l,"tt'. "'i"tttttlt'
Iltt' ltt lt'tt:tt' lllttllllttttltt
capotes cantando nas várzeas. Na festa de Sao Francisco; no
llll ('rl)ilrll;l (()lll() lltll tlllrgrtr
penriltirno dia, no leilâo, aparecem com um pato, um jeri- ãa,,a,ir*n,t,,,,,tt' l'atr'.iarlrt'
rnum. E pensam que deram uma Eande esmola ao santo, inllanrarl, r.
por isso se julgam capazes de alcançar uma graça. Antes eu L rlueittte-trt'
rrrrrrpreenclo o João da Mata, os olhos vazados, vendendo
"'
srlrs grrrruÍ'adas, embriagado, pabulando. dizendo que tem
l)irulir ('()rrr o I)ialro. 0 Minervino com sua barba profética,
rliirgrroslilrrnrlo its trtulhcres gr:ávidas, recomendando siras
rrrr.zrrrlr;rs, liritirs rltr pti rla t:asca do sabiazeiror gome de
Ittgir:o, ritiz tlt' rttoÍ't'rtttlt«l'
"'l1ojc eu estou por tudo, Jacó. Floje. eu acerto direi-
tinho esta cambada do Alto. Soube. tambérn, que a Tetê
ainda conserva aquele macaco, é verdade? Tenho horror aos
símios. O macaco é quase uma criatura, só que nâo é bati-
zado. Ou melhor, levando em consideração a cauda, o
macaco é mais parecido com o Dia-bo. Se levarmos em contâ
a astúcia, então, sâo mesmo similares. Não quero este Demo
no povoado. É um atraso de vida. Bicho indecente e imoral.
Dizem que assovia quanr-lo as moças passam. Que se caçn.
Que se expôe. Vou encarregar a I-oló e seu grupo de dar
cabo deie, deportá-lo para a Serra do Mucuripe. Que o
Pedro Gualbeúo tte-lhe o couro. A rua nâo é lugar de
lna(:a('os.
"Sei que estou perto de estirar os cambitos, ora se
estou, nãr.» nre engano. Não obtive êxito em meu trabalho,
mas nem por isso o abandono. Enquanto puder montar a
cavalo, enquanto tne restarern força,s. estarei em Santana e
no Alto administrarrrlo o Amor, o Bem e a Virtude. Per-
cebo, claro conto água, que meus dias estâo contados, como
121
x20
ffi
o
4a pafte
l',\SS,\lL\\l-Sl'l doze irllos' L rll t'âl)ilz tlr' ''orttpleir;ârr
lortt'. aIto e rtsitttilo rttttit t'atttisa dt. rltcia Ii'tratla e Ialq'a
cok.gial erltr()u llo povoiril(). tlirigintlo. corn granrle hirbili-
i
rlade-u nta rrlotocicle til.
Era Davi. Estar-a utn hotrtctlr feito' (lrest'era' nrodifi-
('ilra-s(' por' conrpleto. de si síi consen'ava o noll)e' Dir-se-ia
runt alt'ttrào. ulll ttlsso. unl honlern arrtrncado de outlas
l"er-
125
-t
=fiM
rla sala pr:incipal. mI=l É
Era perceptível o eslbrço qrre o ',dr.', {azia para liber-
tar-se da reforçada moldura de aroeira, na qual lhe aprisio- E @
naram como ao Crucificado. Emparedado entre as quâtro I
traves de rnadeira e a dupla lâmina de vidro de formidável wi
E
espessura, dir-se-ia que o o'dr." daria tudo para evadir_se @
daquela prisão inexorávei
- assim pensavam: os habitantes
do lugar, muito ao contrá-rio do pai, que achava não passar
"aquilo" de uma necessária disciplina, à qual se ajustava,
E
por demais, o seu caráter. Sempre idealizara possuir um
filho gue lhe proporcionasse um prazer tlaqueles, seme- r
MM
lhante ao que tivera, ao contemplar um quadro de Napo-
Ieão Bonaparte, aposto na Galeria rle Honra dos Generais
no Quartel Militar, em Fortaleza. F
T
DAVI pa-".ava ri dia no mato, como um índio. A
r'.pingarda no onrhro, o íarnel a tiracolo, carregado de rnu-
rrir;iio. .À" \'czei! le\'âva também o clavinote do pai, e arlerr-
l,lril-sr' pclir em t:ompanhia de Elpídio, que tinha um
"r:lva,
llio cur,'irtlor, r: corrhr,r'ia rnelhrlr a flriresta virgem, os behe-
rlol[r,s rlus par,as, rs rr:rerlris das cotias e dos mocírs, as ma-
llrlrlas das perdizcs, o pasto dcls tatus.
Voltava à tardinha, com uma trouxa de aves pendura-
Ma
da no cano da arrna, arrastando um gato maracajá ou um
guaxinim, anzolado de fome, os pés escaiâvrados, os braços
e a cara marcados de cortes e vergões, queimados pela
urtiga brava e o cansançâo, rnas ainda tinha ânimo de tomar
o banho, trocar a roupa, engraxar os sapatos, e dar uma
voltinha de rnotocicleta com Anne, a trapezista do circo,
de quem se enarnorara, causando escândalo à sociedade e
às próprias primas.
As vezes, à boquinha da noite, Davi saía para a pes- s
caria. O que para os velhos pescadores constituÍa penoso
oÍício, era para ele um agradável esporte. Munia-se de tar-
ffig @
rafas e landuás, e lá se ia ao lado do Marinheiro, Quinca
Afonso, Miguel Belarmino e outros, tarrafiar no leito do rio,
mergulhando sob as raízes dos ubazeiros, desenfurnando
as traíras, sorvendo a grandes haustos a brisa da noite que
removia as águas, enchendolhe de remotas recordações,
desenterrando os' dias de sua infância às margens do Aca-
raú.
128
-ü
Ele mudara, mas os costurnes continuavam os mes-
rnos, sempre antigos, inalteráveis. O bisavô, o avô, o pai, os
iios. . Todos foram pescadores. Depois se entregaram ao
ofício de curtidor, p r"ta ca.beça o pai ,surgiu (quando já
c.ontàya quffenta ânos) aqüelapanla de fdbricar alpprgàtas.
Primeirámente tirando o'molde. traçandp um risco no
châo em ,+&ir*bo. pés éô,ii à'ponta ffi r""lJ, uttiffito à*
buraco na abertura do dedâo grande, marcando a indicação
do "cabresto". Depois idealizou um compasso de pau,
com uma agulha de ferro na extremidade, o que lhe valeu
a fama de "Inventor". O freguês agora não corria mais o
risco de estrepar-se na ponta da faca, porque o pé era plan- O ALPARGATBIRO sentia uma alegria doida inva-
tado numa fôrma de mulungu, e a agulha móvel de ferro dir-lhe a alma quando, manhâ ceclo, Davi partia para o
era retirada, substituída por um toco de lápis vermelho, curral das vacas tocando uma marcha militar na boca da
que fazia a marcaçâo na sola molhada. canecâ de alumínio. Seus dedos tamborilavam no fundo
Fora dcssa arrumação, o o'dr." se preocupavâ com ila vasilha, enqu4nto o sorn ecoava-lhe da garganta' no
um esporte bastante excêntrico, e que deixou na mente toque da "aliorada", como no acampamento militar'
do povo uma ponta de desconfiança de que ele não fosse Os bezerros levantavam as orelhas, o rabo; as vacas
Lrem ceÉo do juízo. "Coitado! É mal de família. O André mugiam soltando coluna,s de {umaça pelo nariz' Larnbiarn-
tom aquela mania de "inventor" o filho vai puxando a lhe as mangas do "short" oficial verde-oliva'
mesma corda." O Aipargateiro apalpava as sttít:as, srttis[r'ito' Sorril'
Daü sonhava ser inventor. Seu fraco era pescar uru- tossia, coçava os ovos, voluptuosanrtlntlr' l'itrrltitvit tto 1ri'Lr
bu, com isca de carne podre, pois os queria bem vivos, do rabo da vaca a coriza do nariz, os(jarruv'l rh' lrlilr"r
|'itlittr
para submetê-los â severos exÍrmes. sarro do cigarro de palha de milho, sacudia rr trulrr:r"il
() r(lsÍtlrlrlgilvil
Às veres, perdia um domingo inteiro jogndo anzóis tlo sozinho, lixava constantemente as rnãrrs
nos telhados. De vez em quando, fisgava um e o arrastava para si mesmo:
' e ousatlo txrrno Na1'r'
até o alpendre da cozinha. DesenganchavaJhe o caniço da - É um homem macho' Forte
garganta, e após estancar a hemorragia com cinza do bor- leâo.
ralho, colocava-o num pellueno curral que mandara levantar O rapaz sentia-se estimulado' O copo de leite fume-
gando nas mãos, os enormes capulhos de espuma
lembra-
para tal fim. No dia seguinte, começava o sacrifício. Tre-
pava nas árvores, o unrbu rosnando debaixo do sovaco, Da ír- *. colunas de nuvens que o aüâo cortaria' reduzin-
galharia mais alta, despencava-se com ele de asas abertas' do-as a ndda.
Esborrachava-se no châo. Arrastava-se pga casa, careteando escorria-lhe pela garganta, com gosto estra-
O leite
de dor, enquanto a ave agonizava, vítimada esÚpida expe- nho de sangue e mel. Trêsfquatro copos' O pai' acocorado;
a bana-
riência científica. Confudo, Davi nâo desanimava. Apren- a enorme riâo acariciando o úbere pojado' sugando
na dos peitos macios. Àsi ve'"'' o contato dos seus dedos
dera na cacernâ que a vida é a prática de constantes perigos.
Competição. Competiçâo r,b todos os aspectos.
131
Í30
ásperos corn aquele colo sensLlal e morno, e a emanaçâ.o lei-
tosa que lhe escorria manga adentro, pela cana do braço,
despertava-lhe instintos úris. Ele enteiriçava-se todo, o
espigão voraz rebentando os botôes da cerouia, ameaçan_
do varar o tecido da fazenda. Discretamente, para nâo oau_
sar maiores vexames ao pai, Daü ia até os mourões da
por_
teira, atirava pedras as rolinhas, espiava o secadour; de
sementes, estralava ÍLr caixas de carrapatos sob os pés,
juntava centenas de caroços de umbu e atirava-os para
o
alto aparando na cabeça.
A volta do estudante excitava-lhe a volúpia do orgu-
lho paterno, pela esperança de um frtu.o ,,rspi-
_coroado
r:iox), uma vellrice estável. Entrava a divagar:
- 'l'enr que ser lbrte, Sobrevoar ai cordilheiras, cor_
liu' os vr:nlos, il.s tcrnpestades,,snflgntar os coriscos. Sim,
It:rrr tluc scr l'ortc. Oorajoxr. Invencível como Napoieão.
Nesses firomentos, Davi alimentava grande t"-*.u
pelo pai, igualmente à repulsa que lhe quando os
instintos atávicos acendiamJhe no sexo "rrúuu
desejos monstruo-
sos ao acariciar os peitos voluptuorcs das vacas.
132
I'tlITA a primeira refeição no curral, Davi sentava-se
ir rncsa para o que ele chamava mais propriamente o café-
rIir-rnarrIriÍ.
À t.igrrla rlrr r:rialhada, as tapiocas, a nata salgada (que
s,rrviu rlr: rrrarrtciga), (:r;1srt ,* bolachas de sal, fabricadas em
Santarta, r.rrltrr devoratlas r:orrt a mesma gulodice com que
o leite. Depois espreguiçava-se, pois ainda nâo per-
ingeria
dera de todo o hfiito atávico, passado de filho a neto' ,\c) t
134
- E o estilo da terra - fun$ava o pai. -- [Im bandtt Cer'i OS tcrlrernils, a lrrrilisr, r.i('rrt ílrr'lr (.01n ()ji rtntl,tts, 1,,ltl,',,
de parasitas, esgulepados. caindo aos pcdaq:os de preguiça. concorrianr para I,rrr:lrlr srrir ri,lir irrltl itr l,lr':rrrr 1,r'rtl rllts
Veja o costume de seus púrrros. . .
ntâis aproDriarlas i\ lttrrttlr'. l\lt. l't't llttttt'ttlt' l)rtri x' n'ttli;t
Davi parecia envergonhado dos parentes: - "E tttna solitárià. s,'6.:rrt, tl. itl'ig. l.lttirtitt, l"t;t l"'rtt iss. Nr''is.
coisa imprópria, esquisita, fatal conlo unla doença" particrrlar, irs rilrrllrt"rt:s t.iI,ir,,'itl,rr,, ,.orrr rliliItrklrtrlr'. l') rlrtl'
suntenciava. Lnportava . t',ttt:t'it. rlt' l ) (i.rl rtrrl.r, it tttttllt.r'' rtn litt' .'
I)r:vido à "falta de estilo " de se us cortterrâneos, as prir[as'i os ll(rrrrr.rrs r.rrlt,nrlIrrr rrll.llr,,r os lrotrtItts, t'otlt<)
I )avi se entregava inteirarnente à caç,a, à prática dos espor- os anilnais tttat'lt<,s t'ttllt si, isstl t'rit ttttll L'i Ililtllrâl' [x)r-
lr.s, iis suas oxperiências científicas. tanto, irrtvog:ivt'1. Oh. t: srr lltt'tttitsst l)itra it irlarltl dcltr'i -
Volt.ava Jrelo meio-dia, os otnlrros queinrados, as 21 anos! tttlis razâo ainda.cttt'ontritria para tloixá-lo em
-
l:r.r,s r.nr Iogo- Urrra í<lrrrc rle t,«rtnt:r lrcdras. cavando urrt paz. Na t'apital havia "recttrnoos", porórn. lx) interior'
lrurir,'o prol'rtrrrlo rro csliltrtitgo, r<letttl<t tls it.ttcstittos t'otrttr à.u o qu. st' via, os rapazcs se ma.sturbâtltlo crn plena rua'
rrt|t r:llo \ot'itz. 'filrha horror à sua infância. lembrava-se da "per-
l,,rl,,.ll,, r'oilto llilr 1llll rti, o rapaz sentava-se à Inesa
seguição" aos irracionais, como se fossem seres da mesma
IrtrI o irlnto(,, l),,r,rIirvrr, (\)ilr os tlentes ferozes, bfillran- espécie. Em verdade' não lhe cabia a culpa, pois não pos-
llH, ir prlr\rriro l'rrrlir. l)r'1rois l('\,'urllitvit-s(f, satisfeito, espre-
suía a menor noção de moral ântes de atingir a puberdade'
( o ollrlr rkr pai o lrtt'sr:gttia nr:ssa rttaniftlstaçãtr
grrir;rrr ir sr'
Por l)eusl Tinha horror à sua infâncial Junua não criar
porrlo corrrlizcutt r:orrto sua civilitlatle). "llm dr., uIn atlc- os filhos aquelâ Inaneira selvagern'.frrrara, tr ctttlrpririer'
ta, urn quase aviatlor, nâo lhe ficaru bem tais gestos. Ii nenl nleslno que tivesse quc dír-los a otrhos lrara rldrrt'í-
preciso preveniio disso" - conjecturava consigo Inesnto. los. Perderia o direito aos fillros, trtas ttiio dcixarLt rlrrrr
Mas cadê coragem para fazê-lo. O rapaz era estilnado, ado-
eles se "perdessetn" ao lótr rle trttta virla plirrrilivilJ strll
rado corno um ídolo.
dignidade humana' As filhas também teriarn tlrtr: tsl trthrr'
Que ele abrisse a boera e se espreguiça-*se por alguns Quando Eavi possuísse um emprego estávol,
str ttttttlilrirt
dias, nâo fazia mal, forçosanrente teria que renunciar ao daquela aldeia de índios, o lugar mais porco tlo tntrrttlo'
mâu costume, quando estivesse a voar) pois não teria mais Davi era um espécime diferente, orgrrlhoso tlr sttit
tempo parâ pensar noutra coisa..As férias estavam por ter- condição humana' Altaneiro' indiferente ao diz-que'níÍo-
minar e, ademais, seus músculos precisavâm vez por outra diz das línguas ferinas, quando saia para o furrdo dos quin-
distender-se, sujigados que üviam sob a farda cosida ao
tais, abraçado com Anne' e daí desapareciam no rumo do
corpo.
cemitério. Talvez (quern sabe?) sondasse com o olhar ex-
Também nâo era oportuno mexer com o nâmoro dele
periente o terreno que pisava. Mulher de circo, rnulher
com Anne, fora rapaz e sabia bem avaliar a intençâo e a
qr" *r,du em bando de ciganos, não merece cotação' Ah,
gratuidade das amizades daquele teor. Estava prestes tam-
isso era quase ceúo. A bichinha andava apaixonada' as
bém a partida do circo, marcada para o fim do mês. a voz entrecortada'
crrr", do Pescoço se reprNando'
Daú nâo s€ adaptava mais aos costumes dos primos,
mole como uÍna gata.
dos antigos colegas, com que diúo entÍio havia de espaire-
x37
136
I
I
138 139
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a
140
ff
AGORA, que o filho partira, o Alpargateiro obser-
vrrv:r o quattto lhe fazia falta sua companhia. Tudo o recor-
rlirv;t: l)itvi, tlrrlanlc o curto período das férias, o enchera
rlr' ilrrir citp('r'iur(,'lr l,»rr,ta, modi{icando seus costumes, fazen-
rlo-o rr:l'lclit' solrrr, l'ut«rs rlc sua vida cotidiana, ajustando-o
a urnu litrha dtl t:onduta tla qual há anos se afastara'
Seu passado, embora nâo fosse aviltante, não era,
contudo, exemplar. Sempre tivera o cuidado de educar
os filhos, isso era uma verdade' Nunca, porém conseguira
uma norma de vida capaz de mantê-lo em permanente
equilíbrio. Era um temperamento sujeito a erros, por vezes
graves.
-
Às vezes, apoderava-se de seu ser uma melancolia
esquisita, crescendo em angústia, até o clímax' Nessas
ocasiões, sô uma coisa punha alíüo ao terrível mal -
a hebida. Enterrava-se na genebra. Nâo tinha organismo
para oálcool. Enlouquecia. Dava para delirar' Por vezes'
crescia em fúria e, como era forte; arrebentava a cara de
quem encontrava.
Essas extravagâncias abalaram a Pequena herança que
havia adquirido da moúe do pai - alguns hectares de terre-
no fértil, plantáveis, que lhe assegurava uma boa renda de
cera de carnaúba e semente de oiticica. As reses e as cria-
ções, que faziam parte da herança, estavam reduzidas a
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rlc lui:rrros engrriçara, senão seria capaz de quebráJo.
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l'lrrlirrr, r() lr()vr);r(l() rrirrgrr,irrr rrntendia de seu mecanismo.
"(.)rrcrrr lrlirsír'rrrorr torrlra o lr:rrrpo'i (lontra a vida?
Quem? 69
Alr, r:ssrr cstripir.kr papagaio, (Ilrc nrrncà fala, mas, w o faz,
T
é sempre de um modo macabro. " a
"Ele está angustiado, assim inverso, de cabeça para
baixo, enforcado pela corrente como o tempo." 'l g
lll
baixo, inverso, enforçado pela corrente como o tempo?
Vamos, quem falou?" @ I
Cuspiu por entre as pernas, mudou de posiçâo, Iiber- É I )
I
tando os badalos da costura de barbante do cuecão.
Davi não se incomodava como o tempo. Era forte 30
e sadio. Tinha ideal de águia. Voar, voar, voar, até se a
a
@
a
embriagar do puro azul, tontear-se, morrer.
o oo
Essa idéia o deixou horrorizado. Voltou novamente
à posiçâo de antes. Uma perna empoleirada na sapata do
alpendre, a outra caída.
A Serra do Mucuripe era uma baleia encalhada
na linha do horizonte. Uma enorme baleia dorminhoca,
equecida do tempo e da vida. Imobilizada. Inconsciente I
154
,,1
\
como um fóssil. A üda era uma transformação. Aquele do de piolhos, era unl 1t,,,,,,'t', llll i'\l)lt'rrr(l(, ttt'ti" rtl"'l',t'it
povoado iria desaparecer. Talvez mudassem-lhe o nome, ou da palavra.
desapareceria de uma vez) ou futuramente se hansformaria Sim, tudtl trttttlitrit ! l)itvi , r,'* ,'l'il ( 1)lll, ttltt ttttttttitl
em vila, cidade, capital. Ele também desapareceria. Estava bem criado, trtna Í'rtrlit vilrgttllt t'ltt lr,,ttt lr'll.ll., p()l11 .r1
prestes. André Avelino Miguel Nunes de Freitas, o Alpar- Nunes, como diziatrr, ltlrrrr'iitttt li,,s,1. l,lrrtttrt.iut
gateiro, filho de um refugiado político. Um nome que as Enquanl.tl t:spiavit tl v;i, tl,, l;i l,rrlr. ,,tr ,rlll,,x,'rr irrrrrgl
gerações futuras não reconheceriam. Equeceriam até mes- naçâo perdid()s (:)ttt (livitA;t('(x'H, ltttt vtrllrI crtl,iHl,rtit,,' lt,ttlrtt
mo o "inventor", de algodãozittlto,t'tlirr:rrio, r'ttlçttl lt,, lll,'io tlas t'itttt:las,
caminhava agitartrlo rs tttiTor+ rlrrltttt oxpressão dc terrívei
Refletinâo bern, nâo tinha do de si, mas de Davi,
angústia estamlnrla no rosto. [t)ra o Joâ'o, o irmâo usuário,
morto prernaturamente, na primavera da vida. Já agora o
que enlouqurrera.
üa quando menino, as pernas cambadas, resmungão, carre-
como Ducas, apanhando algodeo nas ilhas com Juntara uma foúuna imensa no Amazonâs. Compra-
64ando agua
Arras{ ácio.
ra quase todas as terras daquela redondeza. O preto no
l,r'rnl)rirvir-sc do primeiro presente que lhe dera - branco. Possuía os documentos. Trouxera testemunhas de
,rr',r Santana e de Sobral. As escrituras registradas nos tabeliâes
r,r, l,,,rr,l rl,,
, v,,rrtttllttl, rlomprado em Sobral, com
rrrr lr,rlit,,rrrrl rr,, r'r'ttlto, r'ttltt "lritt<l de pato" na diantei- de Fortaleza. Matuto esperto. Nâo cochilava no ponto.
rr rl,' r'rrllrirrtlnlo tlr' ptt1rclfii,- Uma riqueza que se desperdiçava ao léu do tempo.
I)lvi Íra,+sura urna porçÃo tlr: rlias sem uú-lo, porque Nâo possuía filhos. Nâo comia, nâo vestia. Não dava um
os rrrenirros apelidaram-no de "chofer". Foi obrigado a cabrito a um §obrinho. Neo perrnitia qrtt.' t:t»rtas*:tn utna
castigá-lo pois não ia botar o dinheiro fora, mesmo era vara de marmeleiro dc sttits Lr:rras. Atlrlt:ltr vt:rttlt:rl cttt vitla,
preciso acabar com a praga de piolhos adquiridos do con- ainda, a alma ao l)iulro (:r'u () (llto rlizirr Parlrr: 'l'ilrúrr,io.
tato com camaradas de brinquedos. De onde vinham tantos Com quem iria ele edrravr.jantlo (r«rzilrlro) tto tlttrio tlo tt:ttt-
piolhos? Embora D. Gertnrdes, a mulher, não esquecesse
po? Intrigara-sc corn todos os irtnãos, [r:rncrrrlo qrre llrc
de cortar os cúelos dos filhos rentes ao casco, de quinze pedissem um quadro de terra para roçar. Vivia a tttorrt:r tlt:
em quinze dias, ensaboando-lhes a cabeça com raqpa de {ome, nâo eÍa capaz de tirar um copo de leite para lorrtar. 1
,,
juazeiro, passando o pente firro de chifre, executando as Os bezerros que virassem barbatões, que se alttr:rripassern
lêndeas nas unhas, mesmo assim os meninos viviam comi- ao tempo - novilhos prematuros, que ganhasscm bom peso
dos de piolhos. e corpo para a reproduçâo ou vendê-losia em manadas
Davi foi o filho a quem mais castigo impusera (sentia para os açougueiros na Capital.
agora um grande arrependimento disso). Os irmãos o ape- Mas, naquele momento, André nâo guardou o ódio
lidaram de "pisunha"i porque Davi nâo levantava os pés, as que sernpre alimentara. Até gostaria de ajudáJo, tirarJhe
uúas arrebentadas de topadae, espiando os urubus. da cabeça aquela mania doentia de ambição. Como flazê-lo?
Num fechar e abrir de olhos, via como tudo mudara! Ele nâo o compreenderia.
Davi, um simples tangedor de burros. um
o'pizunha",
comi A eeca acabara com tudo. Estava amalucado. Falava
com o vento. Havia muitog cagog na família. Ae irmís I
156 157
I
\
A
cigana acocorou-se ao pé da parede, levantou as
saias imundas atá o fim das coxas decadentes, deixando
aparecer, ao pé da barnga, uma enorme aranha de pluma-
gem rala e cinzenta. As pelancas das coxas tremiam como
babados.
- A linha da vida! Que existência longa. Passarás por
um grande perigo, mas nÍio morrerás. Hás de ser muito rico.
o
Yiajarás muito, mas terás o fim da vida sossegado.
Agora era preciso esperar. 6a parte
I
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i
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I
i
162
!
o alucinava. A agua fugindo num aLrrir e fechar de olhos. vez por outra aparecia tr,, Âllo, 1l' 1" lirrr tl" rtt' \'r irr'1"'
O açude virando um poço, uma cacimba. Esqueletos por a voz por rrm fio. Oliciava a tttisslt r'lr'í'rr'r:rv;r \'rír l;r7iil
toda parte. As avoantes picando os olhos da multidâo, fero- o sermâo, nâo lrallva ril: lrol ílir':r. tl:1" r'' itt' "ttt"'l:tr;t ltt;ti'
zes como lobos. fu criaturas naturezas mortas, fluindo' (
com a vida da tl<ltlttlrti,littlt , tt,t" rli:;r'rtlilr tttttlrtt't lll'.t.r;l
O SOL - fagulhando corno espelhos. mentc tl qll(l pl'()lll('l1lil 'l',rtrlrtlrrrl" 1'tltlt"t lll('lll;tl lril
O SOL - urn gato ruivo, faminto. cavalo, enqualtt() lltt' tt'rlltr,rn ttt lolt':trr, lt;trt tlt ir:rIi:t tlt tt r;tl'
O SOL - um torrâo de enxofre, fervendo. a missa no Allo." Strlrilt t;t1, ,, Iittt rl'r \lIlrtg;ll''itt' t' tt't lt
0 SOL uma verruga cancerosa. loucura, ooln() â rLrs irrttiios.' A lr,:rcrlil:rri''tl:rtl''! N:r" lirrlr;r
O SOL - urn inchaço" unt tumor rubro,, prestes a
dúvidas. l'obrtt André, sempre sortl,utl.r, ttltt ltt'tttt'ttt 'l''
cxplodir as suas brasas dc sangue e enxofre no firmamento. vergonha.,lntegro. Prcparara o futuro da lalrrílirr, trlils lll.r'
O SOL o Diabo transfigurado numa bola gangre- reria louco, cste o firn que o aguardava. L)csta otl rllttlrrcla
rrirrl:r, rlrrr-'irrrurtlo turlo, torrando a ÍIlente das criaturas, as maneira, o {irn do homern era um só' l'ara todos'
lrrir;rri:rs ;r,',1 nts.
( ) S( ll, l,rilili'r l strr lnfcrno, único Rei, único
1!l,rrr;trr'it, irtrlxrritntl,r lr(xl(tr'()s() v,rrt qualquer interferência
st »lrretrirtrrral.
O SOL -'Feiticeiro, Anátema, o Gênio da Morte, des-
truinrlo os seres, os objetos, o mundo, a vida.
Se pudesse, arrancaria com a fâmília para o Amazo-
nas, Sâo Paulo, Minas Gerais. Se Davi nâo fosse um aviador
militar, se nâo estivesse submisso às ordens de seus superio-
res, baixaúa o aviâo no quadro das ruas e o levaria com a
família daquele inferno. Mas Davi era um soldado da Pátria.
Um militar. Um predestinado. Era preciso falar com padre
Tibúrcio, sem demora, a fim de que ele lhe tirasse aquele
mundo escuro da cabeça.
o'lnventor" obseryava a enor-
Acabado o delíúo, o
midade tlas unhas, pretas e tortas, com grandes rachaduras
enodoadas.
O tempo encascorava as uúas, a pele, delimitava o
crescirnento dos ossos, dissolvia as medulas, enlanguescia a
carne, roía a menina dos olhos, deteriorava o olfato, plan-
tava a solidâo no peito e o medo da morte nas extremida'
I
des.
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I
J
i
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I
rirrrr o ânimo de viver. Entn:gavam-se inteiramente à modor- A VIDA começava a ruir, rnas Arrrlrri irrrrlava Í'r,liz.
rir, i preguir;a, r nrorte do espírito. A igreja abandonada. Ria, presunçoso.
l'llr,rrr;rrrrt,rlr. íi'r'lr:ulir ('(Imo um túrnulo. Por fora, caiada - Vocês, tlo Alto, rrragote de rnorrinhas, são umas I
rll l,xl,, r'lrosl ;r rl,'ilrrlorirrlrirs. I'or dentro, húitada por éguas. Não têm coragem de lutar. Sâo uns bois. Uns perus.
ltt()r('r:g()s [,illirrrlr's, r;r1' s,'rl,'v61tvu1I] aos guinchos. O carra- Por qrrc Àndré andava rindo à toa, ninguém sabia. Es-
Pi,:lro, as nloitlrs rlr, rrrr»l'urrrlro, as agulhas de juçara voltaram taria corneçando a ficar louco? Ceúamente era isso. A i
l
il (:roscer nas ruas. Era uma matâ virgem. As capotas voavam hereditariedadp! Padre Tibúrcio dizia que era uma coisa
pâra o telhado, perseguidas pelas raposas e guaxinins. séria. Nâo se cansava de repetir. l'or rlrre Arrrlró yrarccia l"ão
Foi retirada a agência telegráfica do povoado. E correu um feliz? Logo agora qlro nr()l'r'(ira pirdro 'l'ilrrirr:io, "[ia Chi-
boato que até o Padroeiro - Sâo Francisco das Chagas quinha", seusi rnelhorcs irrrrigos, c tlrlrrtlo I)avi prlrdenr a l
- havia fusido do altar. perna? O que r:stariu arrontt:r:cnd«r r:on A nrlrti'i l)olrrc l
168
169
I
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170
I
I
I
I-NDICE
C) BAGÀO
'13
i9 par lÊl
O D RAGÃO
29 partc 41
O DRAGÃO
39 parte lrlr
I
O DRAGÃO
4? parte 123
O DRAGÃO
59 parte. . . 145
O DRAGÃO
69parte.., 159
173
t,
ANTONIO OLINTO
I
mundo",- i
Bib.2
ft----