Artigo CIET
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Resumo: Este artigo apresenta parte dos resultados de uma tese concluída (Colabardini, 2021),
que teve como objetivo identificar, analisar e compreender como se dá a utilização de recursos
tecnológicos digitais por estudantes e professores de um curso de Licenciatura em Música,
discutindo a formação discente para e pelas tecnologias. Foi também interesse da referida
pesquisa compreender como os discentes, que cursam as etapas finais de suas graduações,
enxergam as possibilidades de aprendizagem na Web e como esses conhecimentos são
articulados com a formação no curso em questão. Foi seguida uma abordagem qualitativa,
descritiva e analítica. Em relação a coleta de dados, foram utilizados os instrumentos
questionário e entrevista semiestruturada. Os resultados trouxeram informações significativas
sobre as relações estabelecidas entre os estudantes e as TDIC, dentro e fora do ambiente
universitário, sendo possível constatar um grande impacto das tecnologias digitais no processo
de formação dos sujeitos investigados.
Palavras-chave: Educação Musical; Tecnologias Digitais; Formação de Professores;
Introdução
As tecnologias que permitiram a gravação e a reprodução sonora surgiram no
final do século dezenove e desde então continuam em um processo que culminou com
a digitalização do som e sua posterior propagação via Web. Há tempos a tecnologia é
empregada como auxílio nos processos de ensino e aprendizagem musical, através de
recursos como discos, áudios e vídeos. Porém, com o avanço das comunicações
mediadas pela internet temos um novo cenário. Dentre as reflexões propostas pelos
estudos tanto na área da educação como educação musical, é comum a discussão
sobre as diferentes formas de assimilação e apropriação do conhecimento
oportunizado na contemporaneidade pelo ciberespaço.
Nesse contexto se mostra relevante a ideia de uma formação para as mídias, tal
preocupação perpassa a promoção do uso responsável e cidadão das tecnologias. Essa
visão acerca das mídias dialoga com Setton (2011) quando toma como princípio que
elas são “espaços educativos na medida em que são responsáveis pela produção de
uma série de informações e valores que ajudam os indivíduos a organizar suas vidas e
suas ideias” (SETTON, 2011, p.7).
Trata-se de discutir os formatos de participação que são mediados pelas
tecnologias, transcendendo as funcionalidades das interfaces e ferramentas. Para uma
educação para as mídias faz-se necessário ir além da distribuição de tecnologias nos
espaços formativos, o que contribuiria apenas para ampliar o acesso às tecnologias.
Isso porque, "enquanto o foco permanecer no acesso, a reforma permanecerá
concentrada nas tecnologias; assim que começarmos a falar em participação, a ênfase
se deslocará para os protocolos e práticas culturais." (JENKINS, 2006, p. 52.)
Jenkins defende uma reforma nos sistemas de ensino e em seus currículos e
aponta que a formação de professores, além de questões referentes a gestão
educacional e infraestrutura, é o caminho para a construção de uma educação para as
mídias e de uma cultura participativa.
Torna-se evidente a importância das interações ocorridas nos espaços online,
dando origem a diversas questões como: Quais são os percursos formativos
vivenciados por estudantes no século XXI e como a tecnologia impactou suas
trajetórias e impacta seus processos de construção, ampliação e atualização de
conhecimentos? Como as tecnologias disponíveis na contemporaneidade podem ser
utilizadas na formação de professores de música e nas práticas pedagógico-musicais
em diferentes contextos?
Neste cenário, o interesse deste artigo está voltado para práticas culturais de
estudantes de um curso de Licenciatura em Música, discutindo formas de audição,
relações sociais mediadas por tecnologias bem como para compreender como os
discentes, que cursam as etapas finais de suas graduações, envolvidos com produção e
compartilhamento de música online, enxergam as possibilidades de aprendizagem
nesses espaços e como esses conhecimentos são articulados com a formação no curso
em questão.
Caminhos da pesquisa
Neste mesmo sentido, recursos inovadores e até mesmo inusitados não param
de ser explorados. Em 2009, ocorreu a estreia do “Conjunto de Celular” da
Universidade de Michigan (REUTERS, 2009). Por meio de seus smartphones da Apple,
estudantes desenvolveram habilidades de projeção, criação e execução, tendo esses
aparelhos como “instrumentos musicais”.
Essas ações foram resultado da oferta de uma disciplina chamada “Construindo
um Conjunto Celular”, na qual o músico Georg Essl atua como docente. Para ele o
aparelho celular consiste em um interessante recurso para descobrir novas formas de
manifestar a performance musical (REUTERS, 2009).
Criswell (2012) averiguou entre especialistas da área da educação musical usos
pedagógico-musicais de aplicativos em dispositivos móveis e concorda que o uso de
tablets e smartphones nas escolas têm propiciado novas maneiras de enriquecimento
do processo educativo musical. Em seu levantamento, diversas formas de utilização
criativo-musical foram sugeridas pelos educadores musicais, e mencionados mais de
20 softwares ou apps para o uso na sala de aula, divididos por categorias em relação à
sua funcionalidade.
Entretanto, a possível incorporação da aprendizagem móvel à educação traz
uma série de desafios, como adaptações de conteúdos e didáticas a situações de
consumo e de vida dos mais diferentes indivíduos e dos atributos dos dispositivos a
serem utilizados, com a potencialização de jogos interativos e conteúdos multimídia.
Nas entrevistas e respostas dadas ao questionário, os entrevistados trazem
ainda outras experiências acerca da forma como ouvem e como compartilham música,
nos remetendo também à aprendizagem entre pares, uma das dimensões da cultura
participativa anunciada por Jenkins (2006). Mesmo que a aprendizagem não seja
intencional, as trocas musicais que realizam através de mensagens via Web revelam
potenciais de aprendizagem musical.
Nas respostas dadas ao questionário, treze, dos quinze sujeitos, afirmaram
compartilhar música na Internet de maneiras variadas. Oito afirmaram compartilhar
conteúdos produzidos por si mesmos e por outros, enquanto os cinco restantes
afirmaram compartilhar apenas conteúdos produzidos por outras pessoas.
A estudante B comenta:
Eu costumo compartilhar vídeos no Youtube, Facebook e Instagram
que considero bacanas, com músicos que trabalham comigo ou não...
E sempre compartilho o conteúdo de vídeos de música que tenho
produzido para o Instagram e Facebook. Eu acabo mandando
também os que acho mais legais para os meus amigos, pelo
WhatsApp ou pelo Face e eles também mandam pra mim. (Estudante
B)
Considerações Finais
Referências
CRISWEL, C. Yes, there really is an app for that. Music technology: Smartphone and
tablet applications for the music classroom. Teaching Music, out. 2012, vol.20.
HOSOKAWA, S. The Walkman effect. 1984 [2012]. In: STERNE, J. (Ed.). The Sound
Studies Reader. New York: Routledge, 2012.
JENKINS, H. Cultura da convergência. Trad. Susana Alexandria. 2. ed. São Paulo: Aleph,
2006.
SOUZA, J.; FREITAS, M. F. de. Práticas musicais de jovens e vida cotidiana: socialização
e identidades em movimento, Curitiba, Música em perspectiva,v. 7, n. 1, p. 57-80,
junho, 2014.
STERNE, J. Mp3: the meaning of a format. Durham; London: Duke University Press,
2012.