Lobsang Rampa A Caverna Dos Antigos
Lobsang Rampa A Caverna Dos Antigos
Lobsang Rampa A Caverna Dos Antigos
Lobsang Rampa
A Caverna dos
Antigos
Sumário
PREFÁCIO...................................................................................................7
CAPÍTULO 1...............................................................................................9
CAPÍTULO 2.............................................................................................27
CAPÍTULO 3.............................................................................................45
CAPÍTULO 4.............................................................................................67
CAPÍTULO 5.............................................................................................87
CAPÍTULO 6...........................................................................................109
CAPÍTULO 7...........................................................................................133
CAPÍTULO 8...........................................................................................157
CAPÍTULO 9...........................................................................................185
CAPÍTULO 10.........................................................................................207
CAPÍTULO 11.........................................................................................229
CAPÍTULO 12.........................................................................................241
PREFÁCIO
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grande quanto um mundo, para você. Nesse caso, o que seria de mim? —
perguntou, detendo-se e passando a me fitar com um olhar penetrante. —
Bem? — perguntou. — O que você veria?
Eu continuei sentado, boquiaberto, o cérebro paralisado com o
pensamento, a boca aberta como se fosse um peixe que haviam acabado de
atirar à terra.
— Você veria, Lobsang — disse o Lama —, um grupo de mundos
amplamente espaçados, flutuando nas trevas. Devido a seu tamanho
minúsculo, você veria as moléculas de meu corpo, como mundos separados,
com espaço imenso entre elas. Você veria mundos girando ao redor de
mundos, você veria “sóis”, que seriam as moléculas de certos centros
psíquicos, você veria um universo!
Meu cérebro rangia, eu era capaz de jurar que a “maquinaria” acima
de minhas sobrancelhas tinha um estremecimento convulsivo, com o
esforço que eu despendia a fim de acompanhar todo aquele conhecimento
estranho e emocionante.
O meu guia, o Lama Mingyar Dondup, estendeu a mão à frente, e
com gentileza ergueu meu queixo.
— Lobsang! — disse, com uma risadinha. — Os seus olhos estão
ficando vesgos, no esforço por me acompanhar.
Voltou a sentar-se, rindo, e deu-me alguns momentos para que eu me
pudesse recuperar um pouco. Em seguida, exclamou:
— Olhe o tecido de seu manto. Apalpe-o!
Obedeci, sentindo-me notavelmente aparvalhado enquanto fitava o
traje velho e esfarrapado que eu usava. O Lama observou:
— É tecido, algo liso ao tato. Você não pode ver através dele, mas
imagine que o examina por um vidro de aumento, que amplie dez vezes a
visão. Pense nos fios grossos de lã iaque, cada qual, dez vezes mais grosso do
que você está vendo, agora. Conseguiria perceber a luz entre os fios, mas
amplie os mesmos um milhão de vezes, e conseguirá passar entre dois a
cavalo, a não ser que cada fio se tornasse grande demais para escalar!
Eu compreendia, agora que me era mostrado. Permaneci sentado,
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para muitos, e não devemos condenar aqueles que ainda não percorreram
uma distância suficiente, na Trilha, e não conseguem ficar em pé sem tais
muletas. Vou-lhe falar, Lobsang, da natureza do Homem.
Eu me sentia muito achegado a esse Homem, o único que
demonstrara consideração e amor por mim. Ouvia com atenção, a fim de
corresponder à confiança que ele tinha em mim. Pelo menos, foi assim que
comecei a ouvir, mas logo descobri que o assunto era fascinante, e que eu
ouvia com interesse completo e indisfarçado.
— Todo o mundo é feito de vibrações, toda a Vida, tudo que é
inanimado consiste de vibrações. Até mesmo os poderosos Himalaias —
disse o Lama — são apenas uma massa de partículas suspensas, na qual
nenhuma delas pode tocar a outra. O mundo, o Universo, consiste de
partículas diminutas de matéria, ao redor das quais outras partículas de
matéria rodopiam. Assim como o nosso Sol tem mundos a circular em
torno de si, mantendo sempre a distância, sem se tocarem em momento
algum, também tudo quanto existe é composto de mundos em rodopios.
Ele parou, fitando-me, como a querer saber se tudo aquilo estaria
além de minha capacidade de compreensão, mas eu estava compreendendo
tudo, com facilidade.
Ele prosseguiu:
Os fantasmas que nós, os clarividentes, vemos no Templo, são
pessoas, pessoas vivas, que deixaram este mundo e entraram em um estado
no qual suas moléculas se acham tão amplamente dispersas que o
“fantasma” pode atravessar a parede mais densa, sem tocar uma só molécula
da mesma.
— Honrado Mestre — disse eu — por que sentimos um
formigamento, quando um “fantasma” passa perto de nós?
— Cada molécula, cada pequenino sistema de “sol e planeta” está
cercado por uma carga elétrica, não o tipo de eletricidade que o Homem
gera com máquinas, mas de um tipo mais refinado. A eletricidade que
vemos brilhando no céu, em algumas noites. Assim como a Terra tem as
Luzes Austrais, ou Aurora Boreal, brilhando nos pólos, também a partícula
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altas do que o ser humano, e este pode ouvir notas mais baixas do que um
cachorro. Palavras poderiam ser ditas ao cachorro em tons altos que ele
ouviria, sem que o humano sequer o percebesse. Do mesmo modo, as
pessoas do chamado Mundo Espiritual se comunicam com aquelas ainda
nesta Terra, quando o ser terreno tem o dom especial da audição especial.
O Lama fez uma pausa, e riu de leve.
— Não o estou deixando dormir, Lobsang, mas você terá a manhã de
folga, para descontar isso — declarou, e fez um movimento com a mão, em
direção às estrelas que brilhavam com tanta clareza no ar puríssimo.
Desde que visitei a Caverna dos Antigos e experimentei os
instrumentos maravilhosos de lá, instrumentos que ficaram intactos desde
os dias da Atlântida, muitas vezes me diverti com um capricho. Gosto de
pensar em duas pequenas criaturas sencientes, menores do que o menor dos
vírus. Não importa que forma tenham, basta concordar que sejam
inteligentes e disponham de instrumentos super poderosos. Imagine as
mesmas, de pé sobre um espaço aberto em seu próprio mundo infinitesimal
(exatamente como estamos agora!) “Puxa! É uma bela noite!”, exclama A,
fitando o céu com atenção. “Sim”, responde B, “faz a gente ficar pensando
no propósito da Vida, no que somos, para onde vamos.” A se cala,
pensativo, fitando as estrelas que se estendem nos céus, em número infinito.
“Mundos sem limite, milhões, bilhões deles. Quantos serão habitados?”
“Bobagens! Sacrilégio! Ridículo!” Gagueja B, “você sabe que não há vida
senão em nosso mundo, pois os Sacerdotes não afirmam que somos feitos à
Imagem de Deus? E como pode haver outra vida, senão exatamente igual à
nossa? Não, é impossível, você está ficando doido!” A murmura para si
próprio, com raiva, enquanto se afasta: “Eles podem estar errados, você
sabe, eles podem estar errados!”
O Lama Mingyar Dondup sorriu para mim, dizendo:
— Sei, até mesmo, de uma sequência para isso! Ei-la: em algum
laboratório distante, dispondo de uma ciência com a qual nem sequer
sonhamos, e onde existiam microscópios de poder fantástico, dois cientistas
estavam trabalhando. Um, sentado num banco, os olhos colados ao
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Utilizando-se o incenso correto, pois todos são preparados para uma certa
vibração, podemos atingir determinados resultados. Por uma semana, eu me
ative a uma dieta rígida, que aumentou minha vibração ou “frequência”.
Também durante essa semana, queimei constantemente o incenso
apropriado, em meu quarto. Ao final desse período, estava quase “fora” de
mim mesmo; achava que flutuava, ao invés de andar, sentia dificuldade em
manter minha forma astral dentro da forma física.
Olhou para mim, sorrindo, enquanto prosseguia:
— Você não teria gostado de uma dieta tão rigorosa!
“Não”, eu estava pensando, “prefiro uma boa refeição sólida a
qualquer fantasma!”
— Ao fim da semana — disse o Lama, meu Guia — desci para o
Santuário Interno e queimei mais incenso, enquanto implorava que um
fantasma viesse e me tocasse. De repente, senti o calor de uma mão amiga
no ombro. Voltando-me para ver quem perturbava minha meditação, quase
caí de costas, ao ver que estava sendo tocado pelo espírito de um que
“morrera” mais de um ano antes.
O Lama Mingyar Dondup parou abruptamente, e depois riu alto, ao
recordar a experiência de antes.
— Lobsang! — exclamou, finalmente. — O velho Lama “morto” riu
para mim, e perguntou por que motivo eu me dera a todo aquele trabalho,
quando tudo que tinha a fazer era entrar no plano astral! Confesso que
fiquei mortificadíssimo em pensar que uma solução tão óbvia me escapara.
Ora, como você sabe muito bem, nós passamos ao astral para conversar com
os fantasmas e os seres da natureza.
— Naturalmente, o senhor falava por telepatia — observei —, e eu
não conheço qualquer explicação para a telepatia. Eu a uso, mas como a
uso?
— Você faz as perguntas mais difíceis, Lobsang! — disse meu guia,
rindo. — As coisas mais simples são as mais difíceis de explicar. Diga-me,
como explicaria o processo da respiração? Você respira, todos respiram, mas
como se explica esse processo?
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todos os métodos de que dispomos, porque tem à frente uma tarefa difícil a
desempenhar na Vida.
Dito isso, sacudiu a cabeça, com ar solene, acrescentando:
— Uma tarefa difícil, sem dúvida. Nos Dias Antigos, Lobsang, a
humanidade vivia em comunhão telepática com o mundo animal. Nos anos
vindouros, após a Humanidade ter percebido a loucura das guerras, tal
capacidade será recuperada; mais uma vez o Homem e o Animal viverão
juntos, em paz, sem qualquer desejo de um causar mal ao outro.
Lá embaixo um gongo soou repetidamente. Houve o clangor de
trombetas e o Lama Mingyar Dondup se pos em pé num salto, dizendo:
— Temos de apressar-nos, Lobsang, o Serviço do Templo vai
começar, e Sua Santidade estará presente.
Eu me ergui depressa, arrumei o manto e saí atrás de meu guia, já na
extremidade do corredor e quase desaparecendo.
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Com subtaneidade tão horrível que me pôs inteiramente desperto, uma voz
se fez ouvir, por trás:
— Assim como um fantasma vê as paredes grossas e sólidas do
Templo, você também está vendo agora!
Estremeci de apreensão; estaria morto! Teria morrido durante a noite?
Mas por que motivo me preocupava com a “morte”? Sabia que a chamada
morte era apenas o renascimento. Continuei deitado e, com o tempo,
adormeci, outra vez.
Todo mundo estremeceu, rangendo e desmoronando, de modo louco.
Eu me sentei, com grande alarme, julgando que o Templo caía ao redor de
mim. A noite era escura, tendo apenas a radiação fantasmagórica das estrelas
no céu a apresentar levíssimos pontos de luz. Olhando diretamente à frente,
senti que os cabelos se me punham em pé, tamanho o susto. Fiquei
paralisado, não conseguia mover um só dedo e, pior ainda, aquele mundo se
tornava cada vez maior. A pedra lisa das muralhas fazia-se mais bruta,
transformava-se em rocha porosa parecida com a dos vulcões extintos. Os
buracos na parede aumentavam sempre, e eu vi que eram povoados por
criaturas de pesadelo, que eu observara mediante o bom microscópio
alemão do Lama Mingyar Dondup.
O mundo crescia sem parar, criaturas assustadoras adquiriam
dimensões imensas, tornando-se tão vastas que, com a passagem do tempo,
eu podia ver-lhes os poros! O mundo crescia sempre, e então compreendi
que me tornava cada vez menor. Percebi que uma tempestade de poeira
estava soprando. De algum lugar atrás de mim os grãos de poeira vinham
estrugindo, mas nenhum deles me tocava. Com rapidez, tornavam-se cada
vez maiores. Alguns eram tão grandes quanto a cabeça de um homem,
outros tão grandes quanto os Himalaias. Ainda assim, nenhum deles me
tocava. Tornavam-se ainda maiores, até que perdi toda a noção de tempo.
Em meu sonho, parecia estar deitado entre as estrelas, frio e imóvel,
enquanto uma galáxia após outra passava, cintilante, e desaparecia na
distância. Não sei por quanto tempo fiquei assim. Pareceu-me que ali
permaneci deitado por toda uma eternidade. Finalmente, toda uma galáxia,
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recursos desejados para aprender lições que tinham de ser aprendidas dessa
feita. Satisfeitos, eles se retiraram. Meses depois, a Futura Mãe sentiu algo
em seu corpo, quando a Alma ingressou, e a criança passou a viver. Com o
tempo, a Criança nasceu para o Mundo do Homem. A alma que já animara
o corpo do velho Seng lutava agora, outra vez, com os nervos e cérebro
relutantes da criança Lee Wong, vivendo num ambiente humilde, em uma
aldeia de pescadores da China. Mais uma vez as vibrações elevadas de uma
Alma foram convertidas para as vibrações de uma oitava inferior de um
corpo carnal.
Eu permanecia sentado, pensando. Depois, pensei mais. Finalmente,
disse:
— Honrado Lama, se é assim, por que motivo as pessoas receiam a
morte, que é apenas uma libertação quanto aos problemas da terra?
— Aí temos uma pergunta sensata, Lobsang, — respondeu meu guia.
— Se nós sequer nos lembrássemos das alegrias do Outro Mundo, muitos
de nós não conseguiriam tolerar as vicissitudes aqui, em consequência das
quais temos, implantado em nós, o medo à morte.
Dedicando-me um olhar de esguelha e trocista, ele observou:
— Alguns de nós não gostam da escola, não gostam da disciplina que
é tão necessária na escola. Entretanto, quando a gente cresce e se torna
adulta, os benefícios da escola tornam-se evidentes. Não daria certo fugir da
escola e esperar progredir no estudo; tampouco se aconselha dar fim à vida,
antes do tempo destinado a cada um.
Fiquei pensando sobre isso, porque poucos dias antes um velho
monge, analfabeto e doente, se atirara de um alto eremitério. Homem velho
e azedo que fora, sempre recusara todas as ofertas de ajuda. Sim, o velho
Jigme estava melhor, tendo-se retirado, pensava eu. Melhor para si mesmo,
melhor para os outros.
— Senhor! — disse eu. — Nesse caso o monge Jigme errou, quando
deu fim à própria vida?
— Sim, Lobsang, errou muito, — respondeu meu guia. — Um
homem ou mulher tem certo tempo sobre a Terra. Se der fim à vida antes
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Sua voz era um tanto alta, e não se mostrava forte, em absoluto; dava
a impressão de vir de grande distância. Por alguns momentos, meu guia e o
Oráculo falaram sobre questões de interesse comum; em seguida, porém, o
Lama Mingyar Dondup fez uma mesura, voltou-se e deixou a sala. O
Oráculo ficou a olhar-me, e disse, finalmente:
— Traga uma almofada, e sente-se perto de mim, Lobsang.
Estendi a mão para uma das almofadas quadradas, encostadas em
uma parede distante, e a coloquei de modo a poder sentar-me diante dele.
Por algum tempo, fitou-me em silêncio um tanto soturno, mas, finalmente,
quando eu já estava inquieto sob seu escrutínio, falou:
— Com que, então, você é Terça-Feira Lobsang Rampa! Nós nos
conhecemos bem, em outra fase da existência. Agora, por ordem de O Mais
Precioso, tenho de falar-lhe de vicissitudes que virão, dificuldades a vencer.
— Oh, Senhor! — exclamei. — Eu devo ter feito coisas horríveis nas
vidas anteriores, para ter de sofrer assim na de agora. O meu carma, o meu
Destino predestinado, parece ser mais duro do que o de qualquer outra
pessoa.
— Não é assim — replicou ele —, e acontece um engano muito
comum, quando as pessoas pensam que, devido a terem dificuldades nesta
vida, estão obrigatoriamente sofrendo pelos passados de vidas anteriores. Se
você aquecer o metal em uma fornalha, faz isso porque o metal errou e tem
de ser punido, ou o faz para melhorar as qualidades do material?
Fitou-me, com dureza, e acrescentou:
— Entretanto, o seu guia, o Lama Mingyar Dondup, falará sobre isso
com você. Tenho de falar-lhe apenas do futuro.
O Oráculo tocou uma sineta de prata, e um criado entrou, em
silêncio. Seguindo até nós, colocou uma mesa muito baixa entre mim e o
Oráculo do Estado e sobre a mesa depositou uma tigela ornamental de
prata forrada, ao que parecia, por um tipo de porcelana. Dentro da tigela,
brilhavam brasas de carvão, que emitiam um vermelho vivo, enquanto o
monge-criado a fazia balançar no ar, antes de colocá-la diante do Oráculo.
Com uma palavra murmurada, cujo significado não percebi, ele colocou
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uma caixa de madeira com muitos entalhes à direita da tigela, e partiu tão
silenciosamente como viera. Permaneci imóvel, pouco à vontade,
imaginando o motivo pelo qual tudo isso tinha de acontecer comigo. Todos
me diziam que eu ia levar uma vida difícil; e pareciam deleitar-se com isso.
Agruras eram agruras, embora aparentemente eu não estivesse tendo de
pagar pelos pecados de alguma vida anterior. Devagar, o Oráculo estendeu a
mão à frente, abrindo a caixa. Com uma pequena colher de ouro, tirou um
pó fino, que espargiu sobre as brasas vivas.
A sala encheu-se de um nevoeiro azul e fino; notei que meus sentidos
fraquejavam, a visão escurecia. De uma distância incomensurável,
pareceu-me ouvir o bimbalhar de um grande sino. O som se aproximou
mais, a intensidade aumentou até que julguei que minha cabeça ia estourar.
A visão clareou, eu observei atentamente, enquanto uma coluna de fumaça
se erguia da tigela, ininterrupta. Dentro da fumaça, vi movimentos,
movimentos que se aproximavam e me engoliam, de modo que passei a
fazer parte deles. De alguma parte, para além de minha compreensão, a voz
do Oráculo do Estado chegou a meus ouvidos, falando em tom monótono.
Mas eu não necessitava de sua voz. Estava vendo o futuro, vendo-o de
modo tão vívido quanto ele. Em certo ponto do Tempo, afastei-me e
observei os acontecimentos de minha vida, que se desenrolavam diante de
mim como se registrados em uma película de movimento constante. Minha
infância, os fatos de minha vida, o caráter feroz de meu pai — tudo surgia à
minha frente. Mais uma vez eu me achava sentado diante da grande
Lamaseria em Chakpori. Mais uma vez senti as rodas duras da Montanha de
Ferro, enquanto o vento me atirava do telhado da Lamaseria, com força
capaz de quebrar ossos, pela encosta da montanha. A fumaça rodopiou e os
quadros, o que chamamos “o Registro Akáshico”, prosseguiram. Voltei a ver
minha iniciação, cerimônias secretas envoltas em fumaça, quando eu ainda
não fora iniciado. Nos quadros, vi quando partia na trilha comprida e
solitária, para Chungking, na China.
Uma estranha máquina girava e se sacudia no ar, levantando-se e
caindo sobre os penhascos íngremes de Chungking. E eu... eu... estava nos
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salvará da invasão!
Meu guia fitava-me com compaixão.
— Não, Lobsang, — respondeu, com tristeza — nós não usamos os
Poderes para coisas assim. O Tibete será perseguido, quase aniquilado, mas
nos anos vindouros ele se levantará outra vez, tornando-se maior, mais puro.
O país será purificado da escória, na fornalha da guerra, exatamente como,
mais tarde, todo o mundo o será.
Dito isso, dirigiu-me um olhar de esguelha.
— Tem de haver guerra, você sabe, Lobsang! — disse, falando baixo.
— Se não houvesse guerras, a população do mundo tornar-se-ia grande
demais. Se não houvesse guerras, não haveria pragas. As guerras e a doença
regulam a população do mundo, e proporcionam oportunidades ao povo da
Terra... e de outros mundos... para fazer o bem aos outros. Sempre haverá
guerras, até que a população do mundo possa ser controlada de algum outro
modo.
Os gongos nos chamavam para o serviço noturno. Meu guia, o Lama
Mingyar Dondup, pôs-se em pé.
— Venha, Lobsang, — disse — somos hóspedes aqui, e devemos
demonstrar respeito aos nossos anfitriões, comparecendo ao serviço.
Saímos da sala, passando ao pátio. Os gongos chamavam com
insistência — e soavam por mais tempo do que teria ocorrido em Chakpori.
Seguimos por nosso caminho, surpreendentemente devagar até o Templo.
Eu estava pensando na lentidão de nossos passos, e ao olhar ao redor vi
homens muito idosos, e os enfermos, andando com dificuldade pelo pátio,
atrás de nós. Meu guia sussurrou-me:
— Seria uma cortesia, Lobsang, se você fosse para lá e se sentasse com
aqueles chelas.
Assentindo, dei a volta pelas paredes internas do Templo, até chegar
ao ponto onde os cheias da Lamaseria do Oráculo do Estado estavam
sentados. Eles me olharam com curiosidade, quando me sentei ao lado
deles. De modo quase imperceptível, quando os Inspetores não estavam
olhando, eles se aproximaram, até me cercarem.
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dessa procissão; à sua cabeça, o Abade seguia devagar, com a ajuda de dois
bastões. Em seguida, vinham dois velhos lamas, tão decrépitos e
encarquilhados que mal conseguiam acompanhar o Abade. E eu, fechando a
retaguarda, quase não conseguia andar na mesma lentidão.
Finalmente, chegamos a um pequeno umbral, em muralha distante.
Paramos, enquanto o Abade procurava uma chave e resmungava baixinho.
Um dos lamas adiantou-se para ajudá-lo, e com o tempo uma porta foi
aberta, com rangido de dobradiças em protesto. O Abade entrou,
acompanhado pelo primeiro lama e depois o outro. Ninguém me disse coisa
alguma, de modo que entrei também. Um velho lama fechou a porta, após
eu ter entrado. À minha frente, havia uma mesa bastante comprida, cheia
de objetos velhos e cobertos de poeira. Mantos antigos, antigas Rodas de
Oração, velhas tigelas e fieiras variadas de Miçangas de Oração. Espalhadas
sobre a mesa estavam algumas Caixas de Encanto, diversos outros objetos
que, à primeira vista, eu não conseguia identificar.
— Hmmmm. Hmmmm. Venha cá, meu menino! — ordenou o
Abade.
Segui com relutância, e ele agarrou meu braço esquerdo, com a mão
ossuda. A sensação que tive era como se houvesse sido agarrado por um
esqueleto!
— Hmmmm. Hmmmm. Menino! Hmmmm. Qual destes objetos e
artigos esteve em sua posse, durante uma vida passada, se é que há algum?
Fez-me percorrer o comprimento da mesa, depois me voltou para o
outro lado e disse:
— Hmmmm. Mmmmm. Se você acha que algum artigo foi seu,
Hmmmm, apanhe-o e Hmmmm, traga-o a mim.
Sentou-se com esforço, parecendo não se interessar mais por minhas
atividades. Os dois lamas sentaram-se com ele, e não disseram mais uma só
palavra.
“Bem!” eu estava pensando. “Se os três velhos querem brincar assim...
está bem, vou fazer o que desejam!” A psicometria, naturalmente, é a coisa
mais simples de todas. Segui devagar, com a mão esquerda estendida de
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jantar.
— Entre comigo, Lobsang, — ordenou.
Entrei e, à convite dele, sentei-me.
— Bem! — disse ele. — Você deve estar imaginando o que se passou.
— Oh! Conto ser Reconhecido como uma Encarnação! — respondi,
desembaraçadamente. — Um dos homens e eu estivemos falando sobre
isso, na Lamaseria do Oráculo do Estado, quando o senhor me chamou!
— Bem, isso é ótimo para você, — disse o Lama Mingyar Dondup.
— Agora, precisamos de algum tempo para examinar as coisas. Você não
precisa ir ao serviço desta noite. Sente-se de modo mais confortável e ouça,
e não continue a me interromper. A maioria das pessoas vem a este mundo
a fim de aprender as coisas — começou meu guia. — Outras vêm para que
possam ajudar aos que necessitam, ou completar alguma tarefa altamente
importante.
Dedicou-me um olhar severo, para ter certeza de que eu prestava
atenção, e prosseguiu:
— Muitas religiões falam de um Inferno, o lugar de castigo, ou de
expiação pelos pecados da pessoa. O inferno é aqui, neste mundo. Nossa
vida verdadeira é no Outro Mundo. Vimos aqui para aprender, pagar pelos
erros que cometemos em vidas anteriores ou... como já disse... tentar a
realização de alguma tarefa de alta importância. Você está aqui para executar
uma tarefa relacionada com a aura humana. As suas “ferramentas” serão
uma percepção psíquica excepcionalmente sensível, uma capacidade
grandemente intensificada de ver a aura humana, e todo o conhecimento
que lhe pudermos dar, com referência a todas as artes ocultas. O Mais
Precioso decretou que todos os meios possíveis sejam usados para aumentar
suas capacidades e talentos. O ensino direto, as experiências verdadeiras, o
hipnotismo, vamos usar tudo para que você obtenha o máximo de
conhecimento dentro do menor tempo possível.
— É o inferno, não há dúvida! — exclamei, tomado de tristeza.
O lama riu de minha expressão.
— Mas este Inferno é apenas o degrau para uma vida muito melhor,
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compreendeu que sua tribo seria a mais forte, se fosse organizada. Fundou
uma religião e um código de conduta. “Crescei e multiplicai-vos”, ordenou,
sabendo que quanto mais crianças nascessem, tanto mais forte sua tribo se
tornaria. “Honrai vosso pai e vossa mãe”, ordenou, sabendo que se desse
autoridade aos pais sobre os filhos, teria autoridade sobre os primeiros.
Sabendo, também, que se conseguisse convencer os filhos de suas obrigações
para com os pais, seria mais fácil impor a disciplina. “Não cometereis
adultério”, trovejou o Profeta dessa época. Sua ordem verdadeira era que a
tribo não devia ser “adulterada” com o sangue do membro de outra tribo,
pois em casos assim as fidelidades ficariam divididas. Com o correr do
tempo, os sacerdotes haviam descoberto que havia alguns que nem sempre
obedeciam aos ensinamentos religiosos. Depois de muito pensar, depois de
muita discussão, esses sacerdotes prepararam um plano de recompensa e
castigo. “Céu”, “Paraíso”, “Valhala”... podemos dar o nome que quisermos...
para aqueles que obedeciam aos sacerdotes. O fogo do inferno e a
condenação, com torturas infinitas, para quem desobedecesse.
— Quer dizer que o senhor se opõe às religiões organizadas no
Ocidente? — perguntei.
— Não, certamente que não, — respondeu meu guia. — Há muitos
que se sentem perdidos, a menos que possam sentir ou imaginar um Pai
onisciente que os vigia, tendo um Anjo-Secretário pronto a anotar qualquer
ato bom, bem como os atos maus! Nós somos Deus para as criaturas
microscópicas que habitam em nossos corpos, e as criaturas ainda menores
que habitam as moléculas dela! Quando à oração, Lobsang, você ouve com
frequência as orações das criaturas que existem em suas moléculas?
— Mas o senhor disse que a oração era eficaz! — retorqui, com
algum espanto.
— Sim, Lobsang, a oração é muito eficaz, se orarmos para nosso
próprio Eu Maior, a parte verdadeira de nós que está em outro mundo, a
parte que controla nossos “cordões de fantoche”. A oração é muito eficaz, se
obedecermos às regras simples e naturais que a tornam eficaz.
Sorriu para mim, ao prosseguir.
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monge-inspetor surgiu, por trás de uma coluna de pedra, para ver qual era a
causa de tanto alarido. Sem pronunciar uma só palavra, ergueu ambos os
meninos, um com a mão direita e o outro com a esquerda, atirando-os
dentro de uma dorna com manteiga quente!
Eu me voltei, e prossegui trabalhando. A manteiga misturada com
fuligem de lâmpada formava sobrancelhas muito apropriadas. A ilusão de
vida já estava presente na figura. “Este é o Mundo de Ilusão, afinal de
contas”, estava pensando. Desci, seguindo pelo chão para poder olhar
melhor o trabalho. O Mestre de Artes sorriu para mim; talvez eu fosse seu
aluno favorito, pois gostava de modelar e pintar, e me esforçava realmente
por aprender com ele.
— Estamos indo bem, Lobsang, — disse ele, em tom agradável. —
Os Deuses parecem vivos.
Afastou-se também, para poder ordenar modificações em outra parte
do cenário, e eu pensei: “Os Deuses parecem vivos! Existem Deuses? Por
que nos ensinam a respeito deles, se não existe um só? Preciso perguntar a
meu guia”.
Imerso em pensamentos, raspei a manteiga das mãos. Ao canto, os
dois cheias que haviam sido jogados na dorna de manteiga quente
procuravam limpar-se, esfregando os corpos com areia escura e fina, e
tinham um aspecto muito embaraçado, enquanto o faziam. Eu dei uma
risada, e me voltei para ir embora. Um cheia atarracado andava a meu lado
e observou:
— Até os Deuses devem ter rido disso!
“Até os Deuses... Até os Deuses... Até os Deuses”, e esse refrão se
repetia em meu espírito, sincronizado com minhas passadas. Os Deuses,
existiam Deuses! Desci para o templo e me instalei, à espera de que
começasse o serviço religioso conhecido.
— Ouçam as Vozes de nossas Almas, todos vocês que vagueiam. Este
é o Mundo de Ilusão. A Vida é apenas um sonho. Todos os que nascem têm
de morrer.
A voz do sacerdote prosseguia em sua récita, nas palavras conhecidas,
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conta da Terra.
— Ah! — exclamei, com certo ar triunfal. — Nesse caso, nem todos
os Manus são bons! O Manu da Rússia está deixando que os russos ajam
contra o nosso bem. O Manu da China permite aos chineses invadir nossas
fronteiras e matar nossa gente.
— Você se esquece, Lobsang, — replicou — de que este mundo é o
Inferno, que vimos aqui para aprender lições. Vimos para sofrer, a fim de
que nosso espírito possa evoluir. As dificuldades ensinam, a dor ensina, a
bondade e a consideração não ensinam. Existem guerras, para que os
homens possam demonstrar coragem nos campos de batalha e... como o
minério de ferro na fornalha... se temperem e fortaleçam, pelo fogo da
batalha. O corpo carnal não importa, Lobsang, ele é apenas um fantoche
temporário. A Alma, o Espírito, o Eu Maior (chame como quiser) é tudo
quanto deve ser levado em conta. Na Terra, em nossa cegueira, achamos que
apenas o corpo importa. O medo de que o corpo possa sofrer obnubila
nossa visão, deforma nosso juízo. Temos de agir pelo bem de nossos
próprios Eus Maiores, enquanto continuamos ajudando os outros. Aqueles
que seguem cegamente os ditames de pais tirânicos aduzem uma carga aos
pais, bem como a si próprios. Os que seguem cegamente os ditames de
alguma crença religiosa estereotipada também impedem sua evolução.
— Honrado Lama! — protestei. — Posso aduzir dois comentários ?
— Sim, pode — respondeu meu guia.
— O senhor disse que aprendemos mais depressa se as condições
forem duras. Eu preferiria um pouco mais de bondade. Eu conseguiria
aprender desse modo.
Ele me fitou, pensativo.
— Poderia? — perguntou. — Você aprenderia o que está nos Livros
Sagrados, mesmo que não receasse os professores? Faria sua parte de
trabalho nas cozinhas, se não temesse o castigo caso ficasse com preguiça?
Você faria isso?
Eu baixei a cabeça, reconhecendo a razão, pois trabalhava nas
cozinhas quando recebia ordens para isso. Estudava os Livros Sagrados
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tarefa de chegar ao Eu Maior de cada um. Pela oração, ainda que ela não
esteja corretamente dirigida, consegue-se alcançar uma cadência maior de
vibrações. A meditação e a contemplação dentro de um Templo, de uma
Sinagoga, ou uma Igreja, é benéfica.
Fiquei pensando sobre aquilo que acabara de ouvir. Lá embaixo, o
Kaling Chu tilintava e corria mais depressa, ao estreitar-se sob a Ponte da
Estrada de Lingkor. Para o sul, divisei um grupo de homens à espera do
Barqueiro do Kyi Chu. Os comerciantes haviam chegado mais cedo aquele
dia, trazendo jornais e revistas para o meu guia. Jornais da Índia e de países
estranhos do mundo. O Lama Mingyar Dondup viajara para muito longe e
numerosas vezes, mantendo-se em contato atento com as questões do
mundo fora do Tibete — Jornais, revistas. Um pensamento seguia
sub-repticiamente em meu espírito. Alge que tinha a ver com aquela
palestra. Jornais? De repente, dei um salto, como se fora mordido. Não os
jornais, mas uma revista! Algo que eu vira, e o que era, mesmo? Já sabia!
Tudo se esclarecia para mim; eu percorrera algumas páginas, sem
compreender uma só palavra das línguas estrangeiras, mas procurando as
ilustrações. Uma dessas páginas ficara parada, sob meu polegar investigador.
O quadro de um ser alado, pairando nas nuvens, adejando acima de um
campo sangrento de batalha. O meu guia, a quem eu mostrara a ilustração,
lera e traduzira a legenda para mim.
— Honrado Lama! — exclamei agitado. — Ainda hoje o senhor me
falou daquela Figura.... e a chamou o anjo de Mons... que muitos homens
afirmam ver acima dos campos de batalha. É um Deus?
— Não, Lobsang — respondeu meu guia —, inúmeros homens, na
hora de seu desespero, ansiaram por ver a figura de um Santo ou, como o
chamam, um Anjo. Sua necessidade urgente e as emoções fortes inerentes a
uma batalha deram vigor a seus pensamentos, aos seus desejos e às suas
orações. Assim, do modo como lhe mostrei, criaram uma forma de
pensamento, de acordo com suas próprias especificações. Quando o
primeiro esboço fantasmagórico de uma figura se apresentou, as orações e
pensamentos dos homens que o causavam se intensificaram, e a figura
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deitar-me para dormir. Parecia que nenhum tempo decorrera, até que os
gongos voltassem a soar, para o serviço religioso seguinte. Olhando pela
janela, vi os primeiros raios do sol surgindo sobre as montanhas, raios de luz
que pareciam dedos gigantescos a apalpar o céu, estendendo-se para as
estrelas. Suspirei, e segui apressadamente pelo corredor, aflito por não ser o
último a entrar no Templo, com o que viria a merecer a ira dos Inspetores.
— Está com aspecto pensativo, Lobsang, — observou meu guia, o
Lama Mingyar Doridup, quando o vi mais tarde, após o serviço do
meio-dia.
Fez-me sinal para que me sentasse.
— Você viu o monge japonês, Kenji Tekeuchi, quando ele entrou no
Templo. Quero falar-lhe a respeito dele, porque mais tarde o conhecerá.
Acomodei-me melhor, pois aquela não ia ser uma sessão rápida. Eu
fora “apanhado” pelo resto do dia! O Lama sorriu, ao ver minha expressão
fisionômica.
— Talvez devamos tomar chá da Índia.. e bolinhos indianos... para
dourar a pílula, Lobsang, hem?
Fiquei um pouco mais satisfeito, e ele deu uma risadinha, dizendo:
— O ajudante já o está trazendo, porque eu esperava por você!
“Sim”, eu pensava, enquanto o monge-criado entrava, “onde mais eu
poderia ter um tal Mestre?”
Os bolinhos da Índia eram meus favoritos, e os olhos do próprio lama
às vezes se esbugalhavam de espanto, diante da quantidade dos mesmos que
eu conseguia “eliminar”!
— Kenji Tekeuchi — disse meu guia — é... foi... um homem muito
versátil. Viajou muito, e por toda a vida (está agora com mais de setenta
anos) vagou pelo mundo, à procura do que ele chama Verdade. A Verdade
está dentro dele, mas não sabe disso. Ao invés, andou por aí, voltou a andar.
Sempre estudou as crenças religiosas, sempre leu os livros de muitas terras,
prosseguindo nessa procura, nessa obsessão. Agora, finalmente, foi-nos
mandado. Leu tanta coisa de natureza oposta, que ficou com a aura
contaminada. Leu tanto, e compreendeu tão pouco, que na maior parte do
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especiais. O meu Mestre foi um homem que há muito passou desta vida, e
cujo Invólucro vazio se acha, neste momento, no Salão de Imagens
Douradas. Com ele, viajei muito por todo o mundo. Você, Lobsang, terá de
viajar sozinho. Agora, fique quieto e sentado, pois vou falar sobre a
descoberta da Caverna dos Antigos.
Umedeci os lábios, pois era aquilo o que eu desejava ouvir, havia já
algum tempo. Na Lamaseria, como em qualquer comunidade,
espalhavam-se com frequência boatos, em recantos discretos. Alguns eram
boatos mesmo, logo à primeira vista, e nada mais do que isso. Aquilo,
entretanto, era diferente, e de algum modo eu acreditava no que ouvira.
— Eu era um lama muito jovem, Lobsang — principiou meu guia.
— Com o meu Mestre e três lamas jovens, estávamos explorando algumas
das cordilheiras mais distantes. Semanas antes, tinha ocorrido um estrondo
extraordinariamente alto, acompanhado por grande queda de rochas.
Partimos para investigar o que ocorrera. Durante dias, rondamos ao redor
da base de enorme pináculo de rocha. Ao amanhecer do quinto dia, meu
Mestre acordou, mas não estava desperto; parecia encontrar-se aturdido.
Falamos com ele, sem obtermos resposta. Fiquei preocupadíssimo, julgando
que ele adoecera, e imaginando como o levaríamos por aquele caminho
extensíssimo até um lugar seguro. Entorpecido, como se tomado por algum
poder estranho, ele se pôs em pé, caiu e finalmente ficou em pé, ereto.
Cambaleando, sacudindo-se e movendo-se como um homem em transe,
seguiu à frente. Nós o acompanhamos, cheios de medo e tremores. Subimos
a superfície íngreme da rocha, com chuveiros de pedras pequenas a
tombarem sobre nós. Finalmente, chegamos à beira aguçada do cimo da
cordilheira, e ali ficamos a olhar. Tive uma sensação de desapontamento
profundo. Diante de nós estava um pequeno vale, a essa altura quase cheio
de pedras enormes. Ali, evidentemente, tivera origem a queda de rochas.
Algum defeito na rocha se apresentara, ou ocorrera algum tremor da terra,
deslocando parte da encosta da montanha. Grandes falhas de rocha
recém-exposta nos fitavam, à luz brilhante do sol. O musgo e o líquen
pendiam, desconsolados, privados agora de qualquer apoio. Voltei-me para
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o outro lado, cheio de desgosto. Nada havia ali para atrair-me a atenção,
nada, senão um grande desabamento de rochas. Voltei-me, para começar a
descer, mas fui imediatamente detido por um “Mingyar!” murmurado. Um
de meus companheiros estava apontando. Meu Mestre, tomado ainda por
alguma estranha compulsão, descia pela encosta da montanha.
Eu permanecia sentado e fascinado, meu guia parou de falar por
momentos, tomou um gole de água, após o que prosseguiu:
— Nós o observávamos, com algum desespero. Devagar, ele desceu
pelo lado da rocha, dirigindo-se ao chão coberto de outras, no pequeno
vale. Acompanhamo-lo com relutância, contando que a qualquer momento
íamos escorregar naquele lugar perigoso. Chegado ao fundo, meu Mestre
não hesitou, e tomou cuidadosamente por um caminho em meio às pedras
imensas, até chegar ao outro lado do vale. Para nosso horror, começou a
subir com as mãos e pés, que nos eram invisíveis, embora estivéssemos
poucos metros atrás. Nós o acompanhamos, relutando ainda. Não
podíamos tomar outro rumo, não podíamos regressar e dizer que nosso
superior se afastara de nós, subindo, e que havíamos tido medo de
acompanhá-lo... por mais perigosa que fosse a escalada. Subi primeiro,
escolhendo o caminho com muito cuidado. Era rocha dura, o ar era
rarefeito. Logo a respiração arquejava-me na garganta e meus pulmões
estavam tomados por uma dor seca e aguda. Em um beiral estreito, a uns
cento e cinquenta metros do vale, fiquei estendido, resfolegando. Ao olhar
para cima, antes de retomar a escalada, vi o manto amarelo de meu Mestre
desaparecer sobre o outro beiral, lá em cima. Com decisão implacável,
prendi-me à face da montanha, arrastando-me sempre para cima. Meus
companheiros, tão relutantes quanto eu, vinham atrás. A essa altura,
estávamos fora do abrigo proporcionado pelo pequeno vale e o vento forte
fazia nossos mantos esvoaçarem. Pequenas pedras choviam, lá de cima, e a
escalada era bem difícil.
Meu guia fez uma pausa momentânea, para tomar outro gole de água
e verificar se eu estava ouvindo. Estava, naturalmente!
— Afinal — prosseguiu ele — encontrei um beiral em nível com os
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detonaram uma bomba que só faltou arruinar o mundo, fazendo com que
continentes mergulhassem nos oceanos e outros surgissem à tona. O mundo
foi dizimado e assim, por meio das religiões desta terra, temos a história do
Dilúvio.
Essa última parte não me impressionou.
— Senhor! — exclamei. — Podemos ver imagens assim, no Registro
Akáshico. Para que escalar montanhas perigosas, só para ver o que podemos
examinar com mais facilidade aqui?
— Lobsang — disse meu guia, com ar grave-— podemos ver tudo no
astral e no Registro Akáshico, pois este último contém o registro de tudo
quanto aconteceu. Podemos ver, mas não podemos tocar. Na viagem astral,
podemos ir a lugares diversos e regressar, mas não podemos tocar em coisa
alguma do mundo. Não podemos — disse ele, com um largo sorriso —
levar sequer um manto de reserva, nem trazer de lá uma flor. O mesmo
acontece com o Registro Akáshico. Podemos ver tudo, mas não examinar
pormenorizadamente aquelas máquinas estranhas, guardadas nos salões das
montanhas. Vamos às montanhas, e vamos examinar as máquinas.
— Que estranho — observei — que essas máquinas viessem a existir
apenas em nosso país, havendo tantos outros lugares no mundo!
— Oh! Mas você está errado! — explicou meu guia. — Há uma
câmara semelhante em certo lugar do Egito. Existe outra câmara, com
máquinas idênticas, num lugar chamado América do Sul. Eu as vi, sei onde
estão. Essas câmaras secretas foram ocultas pelos povos antigos, de modo
que seus artefatos fossem encontrados por uma geração posterior, quando
chegasse o momento propício. Esse desabamento repentino de rochas
barrou, por acidente, a entrada da câmara no Tibete e, uma vez lá dentro,
tomamos conhecimento das demais câmaras. Mas o dia já vai longe. Logo,
sete de nós... e isso inclui você... partiremos em jornada mais uma vez para
a Caverna dos Antigos.
Durante dias seguidos, minha animação deixou-me febril. Tinha de
guardar tal conhecimento sem o transmitir aos demais. Os outros saberiam
que íamos partir para as montanhas, em expedição destinada a colher ervas.
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Até mesmo num lugar tão isolado quanto Lhasa havia quem se mantivesse
em vigia constante, procurando o ganho financeiro. Os representantes de
outros países, tais como a China, a Rússia e a Inglaterra, alguns
missionários, e os comerciantes que vinham da índia, todos estavam prontos
a ouvir novidades sobre onde guardávamos nosso ouro e joias, sempre
prontos a explorar qualquer coisa que lhes prometesse lucro. Assim,
mantivemos em grande segredo a verdadeira natureza de nossa expedição.
Mais ou menos duas semanas depois dessa conversa com o Lama
Mingyar Dondup, estávamos prontos para partir, prontos para a escalada
prolongada, muito prolongada das montanhas, passando por ravinas pouco
conhecidas e trilhas escarpadas. Os comunistas estão hoje no Tibete, de
modo que a localização da Caverna dos Antigos é deliberadamente oculta,
pois se trata de um lugar verdadeiro, sem a menor dúvida, e a posse dos
artefatos ali existentes facultaria aos comunistas a conquista do mundo.
Tudo isto, tudo isto que escrevo, é verdade, a não ser o modo exato de
chegar àquela Caverna. Em um lugar secreto, o ponto preciso, completo
com referências e desenhos, foi anotado em papel, de modo que quando
chegar o momento as forças da liberdade possam encontrá-lo.
Devagar, escalamos a trilha da Lamaseria de Chakpori, seguindo para
o Kashya Linga, passando por aquele parque enquanto tomávamos a estrada
que leva à barca, onde o barqueiro se achava à nossa espera, com sua
embarcação de couro de iaque cheio de ar, à margem da corrente. Éramos
sete, eu incluído, e a travessia do rio, o Kyi Chu, levou algum tempo.
Finalmente, reunimo-nos outra vez na outra margem. Pondo aos ombros
nossas cargas, comida, cordas, um manto de reserva para cada um e algumas
ferramentas de metal, partimos em direção ao sudoeste. Caminhamos até
que o sol poente e as sombras cada vez mais compridas tornassem difícil a
nós ver o caminho, em meio à trilha pedregosa. Depois, na escuridão que se
formava, fizemos uma refeição modesta com tsampa, antes de nos deitarmos
para dormir, no lado abrigado do vento, em meio a grandes pedras.
Adormeci quase no mesmo instante em que apoiei a cabeça no manto de
reserva. Muitos monges tibetanos, com o grau de lama, dormem sentados,
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centenas de séculos.
Por um espaço de tempo prolongado, permanecemos imóveis,
silenciosos, como receando despertar aqueles que dormiam há tantos e
tantos anos. E então, movidos por impulso comum, caminhamos pelo chão
sólido de pedra até a primeira máquina que se apresentava adormecida à
nossa frente. Rodeamo-la, temendo tocá-la, mas muito curiosos quanto ao
que podia ser. Estava embotada pela idade, mas ainda assim parecia pronta
para uso instantâneo — se alguém soubesse o que era, e como pô-la em
funcionamento. Outros dispositivos também atraíram nossa atenção, sem
resultado. Aquelas máquinas eram demasiadamente avançadas para nós.
Segui até onde uma pequena plataforma quadrada, com uns três palmos de
largura e corrimões ao redor, se achava no chão. O que parecia ser um tubo
metálico dobrado e comprido estendia-se de uma máquina próxima, e a
plataforma estava ligada à outra extremidade do tubo. Ociosamente, pisei
no quadrado de corrimões, imaginando o que podia ser. No momento
seguinte, quase morri de choque. A plataforma teve um pequeno
estremecimento e começou a erguer-se no ar. Fiquei tão desesperado, que
me agarrei aos corrimões.
Lá embaixo, os seis lamas me olhavam, consternados. O tubo se
desdobrara, e fazia a plataforma oscilar, levando-a a uma das esferas de luz.
Em desespero, olhei para os lados. Já estava a uns dez metros no ar, e
continuava subindo. Meu receio era que a fonte de luz me queimasse
inteiramente, como uma mariposa à chama de uma lâmpada de manteiga.
Houve um estalido e a plataforma se deteve. A poucos centímetros de meu
rosto, a luz brilhava. Timidamente, estendi a mão — e toda a esfera, ao que
notei, era fria como gelo. A essa altura, já recuperara um pouco da
compostura, e olhei ao redor. Nisso, um pensamento assustador me
ocorreu: como ia descer dali? Saltei de um lado para outro, procurando o
modo de escapar, mas não parecia haver. Tentei alcançar o tubo comprido,
contando escorregar por ele, mas estava longe demais. Exatamente quando
começava a desesperar, houve outro estremecimento e a plataforma
começou a descer. Quase sem esperar que ela tocasse o chão, eu saltei! Não
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modo eficaz, de tocar alguns dos modelos. De repente, todos nós demos um
salto; um olho vermelho e maléfico nos observava, piscando para nós. Eu
estava a ponto de sair correndo dali, quando meu guia, o Lama Mingyar
Dondup, encaminhou-se para a máquina que ostentava aquele olho
vermelho. Fitou-o, tocando os punhos que ali havia. O olho vermelho
desapareceu e, ao invés dele, sobre tela pequena, vimos uma imagem de
outra sala, mais além do Salão Principal. Em nossos cérebros, chegou uma
mensagem: “Ao saírem, vão à sala (???) onde encontrarão os materiais com
que fechar qualquer abertura pela qual tenham entrado. Se não atingiram a
etapa de evolução em que saibam operar nossas máquinas, fechem este lugar
e deixem-no intacto para aqueles que vierem mais tarde”.
Em silêncio, passamos para o terceiro aposento, cuja porta se abriu à
nossa aproximação. Continha muitos vasilhames, cuidadosamente fechados,
e uma máquina de “pensamento por imagem”, que descreveu para nós
como podíamos abrir os vasilhames e fechar a entrada da caverna.
Sentamo-nos no chão, falando sobre o que tínhamos visto e assistido.
— Maravilhoso! Maravilhoso! — disse um lama.
— Não vejo coisa alguma maravilhosa nisso, — disse eu,
atrevidamente. — Todos nós podíamos ter visto tudo isto, examinando o
Registro Akáshico. Por que não examinamos aqueles quadros da corrente
do tempo, para ver o que aconteceu, depois de este lugar ser fechado?
Os demais se voltaram, com ar indagador, para o componente mais
graduado da expedição, o Lama Mingyar Dondup... e assentiu de leve e
observou:
— Às vezes, o nosso Lobsang dá sinais de inteligência! Vamos
compor-nos e ver o que aconteceu, pois estou tão curioso quanto vocês.
Sentamo-nos em posição aproximada à de um círculo, todos de frente
para o seu interior, tendo os dedos entrelaçados na forma correta. Meu guia
deu início ao ritmo respiratório necessário, e todos acompanhamos sua
direção. Devagar, perdemos nossas identidades terrenas, tornando-nos um
só, a flutuar no Mar do Tempo. Tudo quanto já aconteceu pode ser visto
por quem tenha a capacidade de entrar conscientemente no plano astral, e
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turma. Dê o fora!
Mais do que depressa, fiquei em pé, fiz mesura para o Mestre, e saí
correndo atrás do Mensageiro, também apressado.
— O que é? — perguntei, em arquejo.
— Não sei, — disse ele. — Também estou querendo saber. O Lama
Dondup preparou os objetos de cirurgia, e os cavalos também.
Prosseguimos em carreira.
— Ah! Lobsang! Você, então, sabe apressar-se! — disse meu guia,
rindo, quando chegamos a ele. — Nós vamos à Aldeia de Shö, onde
precisam de nossos serviços cirúrgicos.
Dito isso, montou em seu cavalo e fez-me sinal para que montasse no
meu. Isso era sempre uma operação difícil; os cavalos e eu jamais
parecíamos ter os mesmos projetos, quando se tratava de montar. Segui em
direção a ele, e a criatura andou de lado, afastando-se de mim. Passei para o
outro lado, e dei um salto, depois de correr, antes que o cavalo percebesse o
que se passava. Em seguida, procurei imitar os líquens das montanhas, na
tenacidade de meu apego à cela. Bufando com resignação exasperada, o
animal se voltou sem que fosse preciso comandá-lo, e acompanhou o cavalo
de meu guia, descendo a trilha. Aquele animal em que eu estava tinha o
hábito horrível de parar nos pontos mais íngremes e olhar pela borda,
baixando a cabeça e fazendo uma espécie de bamboleio. Eu acredito
firmemente que esse animal fosse dotado de um senso de humor (muito
inoportuno!) e percebesse de modo completo o efeito que causava em mim.
Descemos pela trilha e logo passávamos pelo Pargo Kaling, o Portão
Ocidental, chegando assim à Aldeia de Shö. Meu guia seguiu à frente pelas
ruas, até chegarmos a um edifício grande, que reconheci como sendo a
prisão. Guardas saíram de lá correndo, ficando com nossos cavalos. Apanhei
as duas bolsas de meu guia, o Lama Mingyar Dondup, e as levei, entrando
naquele lugar sombrio. Tratava-se de um lugar desagradável, horrível, eu
sentia o cheiro do medo, via as formas de pensamento más, criadas pelos
transgressores. Era, por certo, um lugar cuja atmosfera fazia com que meus
cabelos ficassem em pé.
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Acompanhei meu guia, indo ter a uma sala bastante grande. A luz do
sol entrava pelas janelas. Bom número de guardas ali se encontrava, e à
espera para saudar o Lama Mingyar Dondup estava um Magistrado de Shö.
Enquanto conversavam, olhei ao redor. Ali, ao que achei, era onde os
criminosos se viam julgados e condenados. Pelas paredes, viam-se registros e
livros. Sobre o chão, a um lado, um amontoado que gemia. Olhei em sua
direção, e ao mesmo tempo ouvi o Magistrado conversando com meu guia:
— Chinês, um espião, ao que julgamos, Honrado Lama. Procurava
subir a Montanha Sagrada, aparentemente querendo infiltrar-se na Potala.
Escorregou e caiu. De que altura? Talvez uns trinta metros. Está em más
condições.
Meu guia adiantou-se, e eu fui ter a seu lado. Um homem retirou as
cobertas, e diante de nós tínhamos um chinês de meia idade. Era bem
pequeno, parecendo criatura de agilidade notável — algo assim como um
acrobata —, eu estava pensando. Agora, gemia de dor, o rosto molhado de
suor e a pele apresentando uma tonalidade de lama esverdeada.
O homem se encontrava em mau estado, estremecendo e
comprimindo os dentes em agonia. O Lama Mingyar Dondup olhou para
ele, tomado de compaixão.
— Espião, talvez assassino, seja lá o que for, temos de fazer algo por
ele, — afirmou.
Ato contínuo, ajoelhou-se ao lado do homem e pôs as mãos nas
têmporas do sofredor, fitando-lhe os olhos. Em questão de segundos o
acidentado descansava, olhos entreabertos, um leve sorriso nos lábios. Meu
guia afastou mais as cobertas e inclinou-se sobre suas pernas. Senti-me
enojado diante do que via: os ossos da perna do homem apareciam,
trespassando-lhe as calças. As pernas pareciam completamente estraçalhadas.
Com uma faca aguda, meu guia cortou a roupa do homem. Houve um
arquejo por parte dos observadores, ao verem as pernas com ossos
inteiramente partidos, dos pés às coxas. O lama, com gestos gentis,
apalpou-as. O homem ferido não se moveu nem contorceu, pois estava
profundamente hipnotizado. Os ossos da perna rangiam, como o som de
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novamente o bastão, para impedir que o sangue corresse para aquela perna.
E logo a mesma estava ao lado da outra, separada do corpo. Meu guia
voltou-se para um guarda que o observava, e lhe disse que levasse as pernas,
embrulhando-as em tecido.
— Devemos devolver essas pernas à Missão Chinesa, — disse o lama.
— Do contrário, eles dirão que ele foi torturado. Pedirei a Sua Santidade
que esse homem seja devolvido à sua gente. A missão dele não importa; ela
fracassou, como todas as tentativas assim fracassarão.
— Mas, Honrado Lama! — disse o Magistrado. — O homem devia
ser forçado a nos contar o que estava fazendo, e o motivo.
Meu guia não disse coisa alguma, mas voltou-se novamente para o
homem hipnotizado, fitando-lhe profundamente os olhos agora abertos.
— O que estavas fazendo? — perguntou.
O homem gemeu, e revirou os olhos. Meu guia perguntou-lhe, de
novo:
— O que ias fazer? Ias assassinar uma Grande Pessoa, dentro da
Potala?
Espuma surgia ao redor da boca do chinês e então, com relutância,
ele assentiu, confirmando.
— Fala! — ordenou o lama. — Um assentimento não basta.
E assim, devagar, penosamente, a história se apresentou. Era um
assassino, pago para assassinar, pago para criar problemas num país pacífico.
Um assassino que fracassara, como todos fracassariam, por não conhecerem
nossos dispositivos de segurança! Enquanto eu pensava nisso, o Lama
Mingyar Dondup se punha em pé.
— Irei ver O Mais Precioso, Lobsang. Você fique aqui, e guarde esse
homem — ordenou.
O chinês gemeu.
— Vão matar-me? — perguntou, com voz débil.
— Não! — respondi. — Não matamos ninguém.
Umedeci-lhe os lábios, enxuguei-lhe a testa. Ele logo voltava à
tranquilidade; creio que tenha dormido, após aqueles momentos difíceis. O
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mundo.
Sentados à frente de meu guia, recuperando-me na serenidade calma
de sua presença, pensei em outro assunto que me perturbava.
— Senhor! — exclamei. — Como funciona o hipnotismo?
Ele me fitou, tendo um sorriso nos lábios.
— Quando foi que você comeu pela última vez? — contrapôs.
Em um só assomo, toda minha fome voltou.
— Oh, há umas doze horas, — respondi, um tanto contrafeito.
Nesse caso, vamos comer agora, aqui, e depois, quando estivermos
um tanto mais fortes, poderemos falar sobre hipnotismo.
Com um gesto de mão, fez-me calar, permanecendo na atitude de
meditação. Percebi a mensagem telepática que mandava a seus criados —
comida e chá. Percebi, também, a mensagem telepática a alguém na Potala,
alguém que tinha de ir falar com O Mais Precioso, depressa, para fazer
relatório detalhado. Mas minha “interceptação” da mensagem telepática foi
interrompida pela entrada de um criado trazendo comida e chá.
Voltei a sentar-me, cheio de comida, sentindo-me ainda mais
desagradavelmente repleto. O meu dia fora duro, eu passara fome durante
muitas horas, mas (o pensamento me perturbava, intimamente) havia
comido em demasia, e imprudentemente, naquele momento? De repente,
com ar desconfiado, olhei para cima. Meu guia me fitava, e era óbvio em
seu semblante que ele havia achado graça em minha atitude.
— Sim, Lobsang, — observou. — Você comeu demais. Espero que
consiga acompanhar minha preleção sobre o hipnotismo.
Examinou meu rosto enrubescido, e seu próprio olhar abrandou-se.
— Pobre Lobsang, você teve um dia difícil. Vá descansar agora, e
continuaremos com a nossa preleção amanhã.
Ergueu-se, deixando a sala. Consegui pôr-me em pé, com esforço, e
segui quase trôpego pelo corredor. Dormir! Era tudo quanto queria.
Comida? Ora, bolas! Tivera-a em demasia. Cheguei a meu local de dormir,
envolvendo-me nos mantos. O sono foi agitado, não houve dúvida; tive
pesadelos, no qual chineses sem pernas corriam atrás de mim, em meio a
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árvores, e outros chineses, com armas, não paravam de saltar sobre meus
ombros, na tentativa por derrubar-me.
“Bumba!” fez minha cabeça, batendo no chão. Um dos guardas
chineses desferia-me pontapés. “Bumba!” e minha cabeça bateu de novo.
Sem ver direito, abri os olhos e lá estava um acólito, batendo em minha
cabeça com energia, e dando-me pontapés, na tentativa desesperada por
despertar-me.
— Lobsang! — exclamou, ao ver que eu abri os olhos. — Lobsang,
pensei que você estava morto. Você dormiu a noite toda, faltou aos cultos; e
somente a intervenção de seu Mestre, o Lama Mingyar Dondup, o salvou
dos Inspetores. Acorde! — gritou, pois eu quase voltava a dormir.
A consciência veio inundar-me. Pelas janelas, vi os raios do sol
matutino, que parecia fitar-nos por cima dos altos Himalaias, iluminando
os edifícios mais altos no vale, mostrando os tetos dourados do Sera
distante, brilhando sobre o cimo do Pargo Kaling. Ontem eu fora à Aldeia
de Shö. Ah! Aquilo não fora sonho. Hoje, hoje eu contava faltar a algumas
aulas e aprender diretamente com meu amigo Mingyar Dondup. Aprender
coisas sobre o hipnotismo, além disso! Logo terminava o desjejum e seguia
para a sala de aula, não para ali ficar e fazer récitas dos cento e oito Livros
Sagrados, mas a fim de explicar o motivo pelo qual não o fazia!
— Senhor! — disse, ao ver que o Mestre acabava de entrar na sala. —
Senhor! Tenho de estar com o Lama Mingyar Dondup hoje. Suplico ser
dispensado da aula.
— Ah, sim! Sim, meu menino — disse o Mestre, em tom de voz
espantosamente cordial. — Estive conversando com o Santo Lama, seu
guia. Ele teve a bondade de fazer comentários favoráveis, a seu respeito,
quanto ao progresso que tem efetuado sob meus cuidados; confesso estar
reconhecido, reconhecidíssimo.
Para meu espanto maior, ele estendeu a mão e bateu-me no ombro,
antes de entrar na sala de aula. Perplexo, e sem saber que tipo de mágica
haviam feito com ele, segui em direção aos Alojamentos dos Lamas.
Eu seguia, sem qualquer preocupação, leve como uma pluma. Ao
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T. Lobsang Rampa
havia “correntes elétricas” em meu cérebro, por que motivo eu não sentia o
choque das mesmas? Aquele menino que estivera soltando papagaio, ao que
me lembrava, fazia isso durante uma tempestade elétrica. Eu me lembrei do
clarão azul e vívido, quando o relâmpago percorreu sua linha úmida do
papagaio; lembrei-me, com estremecimento, como ele tombara ao chão,
transformado num monte seco e frito de carne. E, certa feita, também eu
recebera um choque da mesma fonte, um simples formigamento
comparado ao outro, mas “formigamento” suficiente para me atirar a três
metros de distância.
— Honrado Lama! — protestei. — Como pode haver eletricidade no
cérebro? Isso poria o homem enlouquecido de dor!
Meu guia riu de mim.
— Lobsang! — disse, com uma risadinha. — O choque que você
levou uma vez proporcionou-lhe ideia inteiramente incorreta sobre a
eletricidade. A quantidade de eletricidade no cérebro é muito pequena.
Instrumentos delicados podem medi-la, e traçar as variações, enquanto
alguém pensa ou empreende alguma ação física.
A ideia de um homem medindo a voltagem de outro era quase
demasiada para mim, e comecei a rir. Meu guia simplesmente sorriu,
dizendo:
— Esta tarde; vamos andar até a Potala. O Mais Precioso tem lá um
dispositivo que nos permitirá conversar com mais facilidade sobre essa
questão de eletricidade. Vá divertir-se agora... faça uma refeição, vista o
melhor manto que tem, e encontre-se comigo aqui, quando o sol estiver no
meio-dia.
Ergui-me, fiz mesura e me retirei.
Por duas horas perambulei por ali, andando no teto e atirando
pedrinhas na cabeça dos monges que passavam lá embaixo, e que de nada
desconfiavam. Cansando-me desse brinquedo, desci de cabeça para baixo
por um alçapão, que dava para um corredor escuro. Pendurado, de cabeça
para baixo, pelos pés, cheguei exatamente a tempo de ouvir passos que se
aproximavam. Não podia ver, porque o alçapão ficava a um canto. Pondo a
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alguma, porém, senti choque elétrico. Com essa Máquina Winshurst, meu
guia demonstrou como uma pessoa que não fosse clarividente podia ver a
aura humana, mas falaremos sobre isso depois.
Com o tempo, esmaecendo a luz do dia, desistimos de nossas
experiências e voltamos ao quarto do lama. Havia, em primeiro lugar, o
culto da tarde, pois nossa vida no Tibete parecia inteiramente circunscrita
pelas necessidades de cerimônias religiosas. Tendo deixado o serviço
religioso, voltamos ao apartamento de meu guia, o Lama Mingyar Dondup,
onde nos sentamos na atitude costumeira, de pernas cruzadas, no chão,
tendo entre nós a mesinha com mais ou menos palmo e meio de altura.
— Bem, Lobsang — disse meu guia —, temos de tratar dessa questão
do hipnotismo, mas antes disso é preciso esclarecer o funcionamento do
cérebro humano. Eu lhe mostrarei... ao que espero!... que pode haver a
passagem de uma corrente elétrica sem que se sinta dor ou desconforto.
Agora, você deve levar em conta que, quando uma pessoa pensa, era uma
corrente elétrica. Não precisamos entrar na questão de como uma corrente
elétrica estimula uma fibra muscular e causa reação, pois todo o nosso
interesse, no momento, é a corrente elétrica — as ondas cerebrais que já
foram tão claramente medidas e registradas pela ciência médica ocidental.
Reconheço que achei algum interesse nisso, porque a meu modo
humilde sempre julgara que o pensamento tinha uma força, porque me
lembrava o cilindro de pergaminho, com perfurações, que utilizara às vezes
na Lamaseria, e que eu fizera girar, usando unicamente a força do
pensamento.
— Sua atenção está devaneando, Lobsang! — disse meu guia.
— Desculpe, Honrado Mestre — respondi. — Estava apenas
refletindo sobre a natureza indubitável das ondas do pensamento, e
pensando na distração que tirei daquele cilindro, que o senhor me
apresentou há alguns meses.
Meu guia olhou para mim, dizendo:
— Você é uma entidade, um indivíduo, e tem seus próprios
pensamentos. Pode achar que vai adotar algum rumo de ação, como
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A Caverna dos Antigos
suspender aquele rosário. Já ao pensar na ação, seu cérebro faz com que a
eletricidade circule de seus componentes químicos, e a onda da eletricidade
prepara seus músculos para a ação iminente. Se uma força elétrica maior
ocorresse em seu cérebro, nesse caso sua intenção inicial de erguer o rosário
seria contrariada. É fácil ver que, se eu puder persuadi-lo de que não
consegue erguer o rosário, nesse caso seu cérebro... estando fora de seu
controle, você não conseguirá erguer o rosário, ou executar a ação que
planejava.
Eu o fitei, e pensei no caso, que realmente não fazia muito sentido
para mim, pois como poderia ele influenciar a quantidade de eletricidade
que meu cérebro estivesse criando? Pensei sobre isso, olhei para ele e fiquei
imaginando se devia dar expressão à minha dúvida. Não houve necessidade,
porém, pois ele a adivinhara e se apressou a me esclarecer.
— Posso garantir-lhe, Lobsang, que o que digo é fato demonstrável, e
num país ocidental poderíamos provar tudo isto, mediante um aparelho
que traçaria as três ondas cerebrais básicas. Aqui, entretanto, não dispomos
de tal equipamento, e somente podemos falar sobre a questão. O cérebro
gera eletricidade, gera ondas, e se você resolver erguer o braço, nesse caso o
seu cérebro gera ondas de acordo com a intenção de sua decisão. Se eu
puder... falando de modo teórico... aplicar uma carga negativa em seu
cérebro, nesse caso sua intenção inicial será frustrada. Em outras palavras,
você pode ser hipnotizado.
Aquilo começava a fazer sentido. Eu vira a Máquina de Winshurst e
assistira a diversas demonstrações efetuadas com sua ajuda, e vira como era
possível alterar a polaridade de uma corrente, fazendo assim com que ela
seguisse em direção oposta.
— Honrado Lama — exclamei —, como é possível ao senhor levar
uma corrente a meu cérebro? O senhor não pode tirar a tampa de minha
cabeça e pôr alguma eletricidade lá dentro. Nesse caso, como pode fazer
isso?
— Meu caro Lobsang — disse meu guia —, não é necessário entrar
em sua cabeça, porque eu não preciso criar qualquer eletricidade e pô-la em
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você, mas posso fazer sugestões apropriadas, pelas quais você se convencerá
da precisão de minhas afirmações ou sugestões, e em seguida você... sem
qualquer controle voluntário de sua parte... criará sozinho essa corrente
negativa.
Olhou para mim, acrescentando:
— Não desejo, de modo algum, hipnotizar pessoa alguma, contra a
vontade dela, a não ser em caso de necessidade médica ou cirúrgica, mas
creio que com sua colaboração seria bom demonstrar uma questão simples
de hipnotismo.
Eu exclamei, mais do que depressa:
— Oh, sim, eu adoraria experimentar o hipnotismo!
Ele sorriu largamente diante de minha impetuosidade, e perguntou:
— Pois bem, Lobsang, o que, em condições normais, você não gosta
de fazer? Pergunto isso, porque quero hipnotizá-lo e levá-lo a fazer algo que
você, por gosto, não faria, de modo a ficar pessoalmente convencido de que,
ao fazer essa coisa, está agindo sob influência involuntária.
Pensei por momentos, e não sabia o que dizer, pois eram tantas as
coisas que não gostava de fazer! Fui salvo dessa dificuldade por meu guia,
que exclamou:
— Eu sei! Você não tem desejo algum de ler aquele trecho bastante
complexo, no quinto volume do Kangyur. Acredito que se estivesse com
bastante medo de que alguns dos termos ali usados o traíssem, e traíssem o
fato de que naquela determinada questão você não estudou tão
assiduamente quanto é desejado por seu professor!
Fiquei bastante abatido com isso e reconheço que também senti as
faces corarem, com algum embaraço. Era inteiramente verdade, pois havia
uma passagem bastante difícil no Livro, que me levava a apuros sérios.
Entretanto, no interesse da ciência, estava pronto a ser persuadido a lê-la.
Na verdade, tinha quase uma fobia quanto a ler aquele trecho! Meu guia
sorriu e disse:
— O Livro está ali, ao lado da janela. Traga-o aqui, procure esse
trecho e leia em voz alta, e se você não tentar lê-lo, se quiser embaralhar a
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que quisermos?
— Não, não quer dizer isso, em absoluto, — respondeu meu guia. —
Quer dizer que, se podemos persuadir alguém a uma certa ação, e a ação
que desejamos não for contrária à crença dessa pessoa, nesse caso ela
certamente a executará, apenas porque suas ondas cerebrais foram alteradas,
e qualquer que tenha sido sua intenção inicial, ela reagirá como foi sugerido
pelo hipnotizador. Na maioria dos casos, a pessoa recebe sugestões de um
hipnotizador, e não há influência verdadeira exercida pelo mesmo, senão a
influência da sugestão. O hipnotizador, mediante alguns truques, consegue
induzir um rumo de ação na vítima, contrário àquele que a mesma
planejava.
Fitou-me a sério, por momentos, e depois aduziu:
— Está claro que você e eu temos outros poderes, além desse. Você
conseguirá hipnotizar uma pessoa instantaneamente, até mesmo contra a
vontade dela, e esse dom está sendo dado a você, devido à natureza singular
de sua vida, devido às vicissitudes muito grandes, devido ao trabalho
excepcional que terá de realizar.
Sentado, fitava-me para poder avaliar se eu assimilara a informação
que me dera e, satisfeito ao ver que isso acontecia, prosseguiu:
— Mais tarde... ainda não... você aprenderá muito mais acerca do
hipnotismo e como hipnotizar com rapidez. Quero dizer que também terá
seus poderes telepáticos aumentados, porque, quando viajar do Tibete para
outros países distantes, precisará estar em contato conosco todo o tempo, e
o meio mais rápido e eficiente é por telepatia.
Tudo aquilo me deixava inteiramente taciturno. Por todo o tempo eu
parecia estar aprendendo coisas novas e, quanto mais aprendia, menos
tempo tinha para mim mesmo, parecendo-me que uma quantidade cada vez
maior de trabalho estava sendo aduzida, sem que retirassem nenhuma!
— Mas, Honrado Lama! — disse. — Como a telepatia funciona?
Não parece acontecer coisa alguma entre nós, mas ainda assim o senhor
sabe quase tudo que penso, ainda mais quando não quero que saiba!
Meu guia fitou-me, riu e disse:
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máscaras, com frestas para os olhos e outra pela qual se respirava, eram
invariavelmente pintadas com uma representação que o portador fazia de si
mesmo!
— Vamos passar pela Rua das Lojas! — gritou Timon, lutando por
fazer-se ouvir acima da ventania.
— Pura perda de tempo, — gritou Yulgye. — Eles fecham as
persianas quando sopra ventania assim. De outro modo, as mercadorias
seriam arrastadas pelo vento.
Prosseguimos com pressa, em velocidade duas vezes maior do que a
normal. Passando pela Ponte de Turquesa, tivemos de segurar-nos uns aos
outros, tamanha a força do vento. Olhando para trás, vimos que a Potala e a
Montanha de Ferro estavam cingidas por uma nuvem negra. Era uma
nuvem composta de partículas de poeira e pedrinhas, que tinham rolado
dos Himalaias Eternos. Seguindo à frente com pressa, temendo que a
nuvem negra nos apanhasse se nos retardássemos pela Casa de Doring,
pouco além do Círculo Interno, ao redor do imenso Jo Kang. Estrugindo, a
tempestade desabou sobre nós, batendo em nossas cabeças e rostos
desprotegidos. Timon ergueu instintivamente as mãos, a fim de proteger os
olhos. O vento enfunou-lhe o manto e o ergueu bem por cima da cabeça,
deixando-o tão nu quanto uma banana descascada, bem diante da Catedral
de Lhasa.
Pedras e gravetos esvoaçavam pela rua, em nossa direção,
machucando-nos as pernas e, às vezes, tirando-nos sangue. O céu
enegreceu-se mais, tornando-se escuro como a noite. Empurrando Timon à
frente, lutando com o manto esvoaçante que se lhe esbatia ao redor da
cabeça entramos cambaleando no Santuário do Lugar Sagrado. Lá dentro
havia paz, paz profunda, paz tranquilizante. Há uns mil e trezentos anos
que ali vinham as pessoas piedosas fazer as suas devoções. Até mesmo o
material com que o Santuário fora construído tresandava santidade. O chão
de pedras fora marcado e alisado por gerações sucessivas de peregrinos. O ar
dava a impressão de coisa viva, tanto incenso fora queimado ali, no decorrer
dos tempos, que parecia ter deixado o lugar com uma vida senciente.
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entrarem em uivo pelo vale, indo ter às faixas abertas mais além.
O clamor e tumulto haviam cessado. A última das nuvens de
tempestade voava no céu, deixando a vasta abóbada celeste purpúrea e
límpida. O brilho forte do sol nos iluminava, estonteando-nos após a
penumbra e escuridão da tempestade. Com rangidos, portas se abriam
cautelosamente, surgiam cabeças, avaliava-se o estrago ocorrido no dia. A
pobre e velha Sra. Raks, perto de cuja casa nos encontrávamos, tivera as
janelas dianteiras empurradas para dentro, pelo vento, e as traseiras
empurradas para fora. No Tibete, as janelas são feitas de papel oleado e
grosso; oleado para que se possa, forçando um pouco a vista, olhar para
fora. O vidro é muito raro em Lhasa, e o papel, feito dos abundantes
salgueiros e juncos, é barato. Partimos para casa — Chakpori — parando
sempre que alguma coisa interessante nos atraía a atenção.
— Lobsang! — disse Timon. — Olhe, as lojas vão abrir agora!
Vamos, não vai levar muito tempo!
Assim dizendo, voltou-se para a direita, em passos muito mais
rápidos. Yulgye e eu o acompanhamos, com a menor das relutâncias.
Chegados à Rua das Lojas, olhamos ao redor. Que maravilhas havia ali! O
cheiro onipresente do chá, muitos tipos de incenso vindos da Índia e da
China. Joalheria, coisas que haviam vindo da Alemanha distante, e que para
nós eram tão estranhas que nem sequer tinham significado. Mais adiante,
chegamos a uma loja onde vendiam doces, coisas pegajosas sobre pauzinhos,
bolos cobertos de açúcar branco e colorido. Olhávamos, e ansiávamos;
como pobres chelas, não tínhamos dinheiro com que comprar coisa alguma,
mas podíamos olhar de graça.
Yulgye cutucou meu braço e cochichou:
— Lobsang, aquele camarada grandão não é o tal Tzu, que já tomou
conta de ti?
Voltei-me, olhando na direção que ele apontava. Sim! Era Tzu, não
havia dúvida. Tzu que me ensinara tanto, que fora tão duro comigo.
Instintivamente, dei um passo à frente, sorrindo para ele.
— Tzu! — disse eu. — Eu sou...
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escuro.
Foi estranho, mas tive a sensação de que era erguido — erguido
horizontalmente — e depois me punha em pé. Em algum lugar, um gongo
enorme, de som profundo, marcava os segundos da vida, fazendo
“bong-bong-bong” e com uma batida final achei que tinha sido atingido
por um relâmpago azul. Naquele instante o mundo se tornou muito claro,
brilhante, com uma espécie de luz amarelada, na qual eu podia ver com
mais clareza do que o normal. “Oh” disse a mim mesmo, “estou, então, fora
de meu corpo! Oh! Que aspecto estranho eu tenho!” Tinha eu muita
experiência em matéria de viagem no astral, e eu já fora muito além dos
confins deste velho planeta nosso, viajando também a muitas das maiores
cidades deste globo. Agora, porém, ocorria minha primeira experiência de
ser “arrancado do corpo”. Estava em pé, diante da grande mó, fitando com
desagrado considerável a figurinha de manto rasgado, caída na pedra. Eu a
fitava, sentindo apenas interesse efêmero ao observar como meu corpo astral
se prendia àquela figura surrada por um cordão branco-azulado, que
ondulava e pulsava, brilhando com intensidade e esmaecendo, brilhando e
esmaecendo sem cessar. Depois fitei mais de perto meu corpo, sobre aquela
laje, ficando assustado com o grande ferimento na têmpora esquerda, da
qual jorrava sangue vermelho-escuro, sangue que se entranhava nas
ranhuras da pedra, misturando-se de modo inextricável com os detritos até
então não retirados.
Uma agitação repentina chamou-me a atenção e, ao me voltar, vi meu
guia, o Lama Mingyar Dondup, entrando na cozinha, o rosto pálido de
raiva. Adiantou-se e parou bem diante do monge-chefe da cozinha — o
monge que me tratara tão mal. Nenhuma palavra foi dita, palavra alguma,
na verdade, houve um silêncio abafado e mortal. Os olhos penetrantes de
meu guia pareceram relampejar para o monge-cozinheiro e, com um suspiro
idêntico ao de um balão perfurado, ele caiu, tornando-se uma massa inerte
no chão de pedra. Sem lhe dedicar um segundo olhar, meu guia afastou-se,
voltou-se para minha figura terrena ali estendida, respirando de modo
estertorante sobre aquela roda de pedra.
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que é, e assim o levam a caminhos tortuosos na vida sem que ele tenha o
conhecimento ou a lucidez para seguir esses caminhos até o fim.
— Bem, Honrado Lama — voltei a perguntar —, quais são as
utilizações dos livros?
Meu guia fitou-me com dureza e respondeu:,
— Você não pode ir a todos os lugares do mundo e estudar com os
maiores Mestres do mundo, mas a palavra escrita... livros... podem
trazer-lhe os ensinamentos deles. Você não precisa acreditar em tudo que lê,
nem os grandes escritores dizem que você o deva fazer, pois você deve
utilizar seu próprio raciocínio, e utilizar as palavras de sabedoria deles como
indicadoras do que devam ser as suas palavras de sabedoria. Posso
assegurar-lhe que uma pessoa ainda não capaz de estudar um assunto pode
prejudicar-se imensamente, apanhando um livro e... por assim dizer...
procurando erguer-se acima de sua posição cármica, estudando as palavras e
obras dos outros. Pode ocorrer que o leitor seja homem de desenvolvimento
evolucionário baixo e, nesse caso, ao estudar as coisas que na atualidade não
sejam para ele, venha a embotar, ao invés de favorecer, seu desenvolvimento
espiritual. Conheci muitos casos assim, e nosso amigo japonês é apenas um
deles.
Meu guia tocou a sineta pedindo chá, suplemento dos mais
necessários a todas as nossas conversas! Quando o chá foi trazido pelo
monge-ajudante, retomamos a palestra, e meu guia disse:
— Lobsang! Você vai levar uma vida das mais incomuns, e para esse
fim o seu desenvolvimento está sendo forçado, seus poderes telepáticos
aumentados por todos os métodos de que disponhamos. Vou dizer-lhe,
agora, que em questão de poucos meses você vai estudar por telepatia ligada
à clarividência, alguns dos maiores livros do mundo... algumas das
obras-primas literárias do mundo, e vai estudá-las a despeito da falta de
conhecimento da língua em que foram escritas.
Receio ter ficado boquiaberto de espanto, pois como poderia estudar
um livro escrito em língua que não compreendia? Tratava-se de coisa que
me intrigava, mas logo recebi uma resposta:
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sala, mas pairando sobre a Montanha, a uns cem metros de altura, mais ou
menos. De repente, eu já não percebia a Potala, não percebia a Montanha
de Ferro, não percebia mais a terra do Tibete, ou o Vale de Lhasa. Senti-me
cheio de apreensão, meu Cordão de Prata tremeu com violência, e fiquei
apavorado ao ver que parte da nebulosidade “azul-prateada” que sempre
emanava do Cordão se transformara em um verde-amarelado doentio.
Sem qualquer aviso, houve um retorcimento horrível, puxadas
terríveis, uma sensação de inimigos enlouquecidos que procuravam
puxar-me para baixo. Instintivamente, olhei para lá, e quase desmaiei com o
que vi.
Ao redor de mim, ou melhor, por baixo, estavam as criaturas mais
estranhas e odiosas, tais como as vistas pelos bêbados. A coisa mais horrível
que já vi em minha vida surgiu, ondulante, em minha direção, semelhante a
uma lesma imensa, com face humana horrível, mas de cores tais como
nenhum ser humano jamais teve. Esse rosto era vermelho, mas o nariz e
orelhas verdes, e os olhos pareciam girar dentro de suas órbitas. Havia
outras criaturas, também, cada qual parecendo mais horrível e nauseante do
que a anterior. Vi criaturas que nenhuma palavra poderia descrever, mas
ainda assim elas pareciam ter um traço humano comum de crueldade.
Estendiam-se, procuravam apanhar-me — procuravam desligar-me de meu
Cordão. Outras estendiam-se para baixo, procurando romper o Cordão,
puxando-o. Eu olhava, estremecia e pensei: “Medo! Então, isto é o medo!
Bem, estas coisas não me podem ferir, estou imune às suas manifestações,
imune à seus ataques!” E ao pensar assim, as entidades desapareceram, não
existiam mais. O Cordão etéreo que me ligava ao corpo físico clareou e os
reverteu às suas cores normais; senti-me alegre, livre, e sabia que ao fazer e
vencer aquela prova, não voltaria mais a ter medo de coisa alguma que
pudesse acontecer, no plano astral. Aquilo servira para me ensinar, de modo
conclusivo, que as coisas que tememos não podem ferir-nos, a menos que o
permitamos, mediante nosso medo.
Um puxão repentino em meu Cordão de Prata atraiu-me a atenção
mais uma vez, e eu olhei para baixo sem a menor hesitação, sem a menor
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para a trilha errada, de modo que, com a passagem dos anos, essas
imaginações se tornam realidade, e as realidades desaparecem da vista, não
voltando mais à luz por diversas encarnações. Mantenha-se na Trilha, não
permita que anseios ou imaginações aloucadas venham colorir ou destorcer
sua visão. Este é o Mundo de Ilusão, mas para aqueles que possam enfrentar
tal conhecimento, a ilusão pode ser transformada em realidade, quando
estivermos fora deste mundo.
Pensei em tudo isso, e devo confessar que já o vira falar sobre aquele
monge transformado em príncipe mental, porque lera a esse respeito em
algum livro na Biblioteca dos Lamas.
— Honrado Guia! — disse eu. — Quais são as utilizações do poder
oculto, então?
O lama entrelaçou os dedos e fitou-me diretamente.
— As utilizações do conhecimento oculto? Bem, isto é muito fácil,
Lobsang! Temos o direito de ajudar aqueles que mereçam ajuda. Não temos
o direito de ajudar aqueles que não querem nossa ajuda, e que ainda não
estão prontos para recebê-la. Não utilizamos o poder oculto ou a capacidade
oculta para nosso próprio ganho, nem os alugamos, nem aceitamos
recompensas. Todo o intuito do poder oculto é acelerar o desenvolvimento
da pessoa, acelerar a evolução da pessoa, e ajudar o mundo como um todo,
não apenas o mundo dos humanos, mas o mundo da natureza, dos
animais... tudo.
Fomos mais uma vez interrompidos pelo culto, que tinha início no
edifício do Templo perto de nós, e como teria sido desrespeitoso aos Deuses
prosseguir uma conversa enquanto os mesmos eram adorados, encerramos a
palestra e permanecemos em silêncio, sentados, perto da chama fraca da
lâmpada de manteiga, que já se extinguia.
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ao trovão nas montanhas distantes —, ouvi falar muito a seu respeito. O seu
Ilustre Guia, o Lama Mingyar Dondup, afirma que você é um prodígio, que
tem poderes paranormais imensos. Vamos ver!
Eu continuava sentado, estremecendo.
— Está-me vendo? E o que vê? — perguntou ele.
Estremeci ainda mais, ao dizer a primeira coisa que me ocorria:
— Vejo um homem tão grande, Santo Lama Médico, que julguei ser
uma montanha, quando entrei.
A gargalhada ruidosa em que ele prorrompeu causou tal lufada de
vento que receei ser capaz de arrebatar-me o manto.
— Olhe para mim, menino, olhe para minha aura e diga o que vê! —
ordenou, e depois aduziu: — Diga-me o que vê na aura, e o que significa
para você.
Olhei para ele, não diretamente, não de frente, pois muitas vezes isso
obscurece a aura de uma figura vestida. Olhei na direção dele, mas não
exatamente para ele.
— Senhor! — disse, então. — Vejo, em primeiro lugar, o esboço
físico de seu corpo, fracamente, como estaria, sem o manto. E depois, bem
perto do senhor, vejo uma luz azulada leve, na cor de fumaça de madeira
nova. Ela me diz que o senhor tem trabalhado demais, que tem passado
noites sem dormir ultimamente, e que sua energia etérica está baixa.
Ele me fitava, agora, com olhos um tanto maiores do que o normal, e
assentiu, com satisfação.
— Prossiga! — ordenou.
— Senhor! — continuei. — Sua aura se estende a uma distância de
uns nove palmos, em ambos os lados. As cores estão em camadas tanto
verticais quanto horizontais. O senhor tem o amarelo da espiritualidade
elevada. Neste instante, está pasmo porque alguém de minha idade lhe pode
dizer tanta coisa, e pensa que meu guia, o Lama Mingyar Dondup, tem
algum conhecimento, afinal de contas. Está pensando que terá de pedir
desculpas a ele, por ter manifestado dúvidas quanto à minha capacidade.
Fui interrompido por imensa gargalhada.
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Eu sabia de tudo a esse respeito, para mim isso era como brincadeira
de criança, e eu estivera praticando coisas assim desde a operação da
Terceira Visão. Tinha conhecimento dos grupos de Lamas Médicos que se
sentavam ao lado de pessoas doentes e examinavam o corpo nu, para ver
como podiam ajudá-las. Eu julgara que talvez, estivesse sendo preparado
para trabalhar desse modo.
— E então! — disse o Lama Médico. — Você está sendo preparado
especialmente, em alto grau, e quando for àquele grande mundo ocidental,
além de nossas fronteiras, julgamos e esperamos que você consiga conceber
um instrumento pelo qual até mesmo aqueles destituídos de poder oculto
conseguirão ver a aura humana. Os médicos, vendo a aura humana, e vendo
realmente o que está errado em alguma pessoa, poderão curar-lhe a doença.
Como, falaremos mais tarde. Sei que tudo isto é bastante fatigante, grande
parte do que estou dizendo já é há muito do seu conhecimento, mas pode
ser fatigante porque você é um clarividente nato, e talvez jamais tenha
pensado sobre o mecanismo de funcionamento de seu dom; isso é uma
questão que deve ser remediada, porque um homem que conheça apenas
metade de um assunto estará preparado pela metade, e será útil também
pela metade. Você, meu amigo, vai ser muito útil, não resta dúvida! Mas
vamos encerrar esta sessão, agora, Lobsang, e voltar a nossos próprios
apartamentos... pois um deles foi destinado a você... e poderemos descansar
e pensar nessas questões que apenas esboçamos aqui. Nesta semana, você
não precisará frequentar qualquer culto e isso por ordem pessoal de Sua
Santidade. Toda a sua energia e devotamento devem ser dirigidos
unicamente à compreensão das matérias que eu e meus colegas vamos
apresentar.
Pôs-se em pé, e eu o imitei. Mais uma vez aquela sineta de prata foi
empunhada pela mão poderosa, e sacudida com tanto vigor que realmente
receei que o pobre objeto se rompesse em pedaços. O monge-criado entrou
correndo, e o Lama Médico Chinrobnobo disse:
— Você tratará de Terça-Feira Lobsang Rampa, que é um hóspede de
honra aqui, como sabe. Trate-o como trataria um monge visitante de alto
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grau.
Voltou-se para mim, fez uma mesura, eu me apressei a fazer o mesmo,
naturalmente, e logo o criado fez sinal para que eu o acompanhasse.
— Pare! — berrou o Lama Chinrobnobo. — Você esqueceu as nozes!
Voltei com pressa, apanhando minhas três preciosas jarras, sorrindo
um tanto embaraçado enquanto o fazia, e logo segui sem perda de tempo
para ir ter com o criado que esperava.
Passamos por um corredor curto e o criado me levou a um quarto
muito bom, que tinha janelas dando para a barca que cruzava o Rio Feliz.
— Devo cuidar do senhor, Mestre — disse o criado. — A sineta está
aqui, para chamar-me quando quiser.
Voltou-se e saiu. Eu fui para a janela. A vista do Vale Sagrado me
fascinava, pois a barca feita com couros inflados de iaque acabava de sair da
margem e o barqueiro a impelia com uma vara, pelo rio veloz. Na outra
margem, ao que vi, estavam três ou quatro homens que, por sua
indumentária, deviam ser de alguma importância — impressão que logo se
confirmou, pelos modos obsequiosos do barqueiro. Eu os observei por
alguns minutos e depois, de repente, senti-me mais cansado do que poderia
achar possível. Sentei-me no chão, sem ao menos me dar ao trabalho de
apanhar uma almofada, e antes de percebê-lo já havia caído de costas,
dormindo.
As horas se arrastaram, ao acompanhamento de estralejantes Rodas de
Orações. De repente, sentei-me, ereto, estremecendo de medo. O Culto!
Estava atrasado para o Culto. Com a cabeça inclinada para um lado,
pus-me à escuta. Em algum lugar, uma voz entoava alguma Litania. Era o
suficiente — dei um salto, pondo-me em pé e corri para a porta minha
conhecida. Não estava lá! Com um baque que me sacudiu os ossos, colidi
com a parede de pedra e caí de costas. Por momentos, houve um clarão
azul-branco dentro de minha cabeça, que também bateu na pedra, e logo
me recobrei, pondo-me em pé mais uma vez. Em pânico, por estar atrasado,
corri pelo quarto e pareceu-me não encontrar porta alguma. Pior ainda, não
havia qualquer janela!
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apenas para vê-la de relance, mas ainda assim pareceu-me uma Roda de
Orações muito estranha, e logo meu nome foi pronunciado:
— Bem, Lobsang! Folgamos em vê-lo aqui.
Olhei, e lá estava o meu guia, o Lama Mingyar Dondup, tendo
sentado a seu lado o Grande Lama Médico Chinrobnobo, e no outro lado
um Lama indiano de aspecto muito distinto, chamado Marfata. Ele já
estudara medicina ocidental, e na verdade estudara em alguma Universidade
alemã, que creio chamar-se Heidelberg. Era, agora, um monge budista, um
lama, naturalmente, mas “monge” na acepção genérica.
O indiano me fitou de modo tão inquiridor, tão penetrante, que
julguei estar ele examinando o tecido na parte traseira de meu manto —
pois ele parecia olhar através de meu corpo.
No entanto, naquela determinada ocasião eu nada tinha de ruim na
consciência, e retribuí esse olhar. Afinal de contas, por que não olharia para
ele? Eu era tão bom quanto ele, pois estava sendo preparado pelo Lama
Mingyar Dondup e pelo Grande Lama Médico Chinrobnobo. Um sorriso
se forçou em seus lábios rígidos, como se lhe causasse dor intensa. Ele
assentiu, voltando-se para meu guia.
— Sim, estou satisfeito em ver que o menino é como dizem.
Meu guia sorriu — mas não havia coisa alguma forçada nesse sorriso,
que era natural, espontâneo e realmente consolava o coração..
O Grande Lama Médico disse:
— Lobsang, nós o trouxemos aqui, a esta sala secreta, porque
queremos mostrar-lhe coisas, e falar de coisas com você. O seu guia e eu o
examinamos, e estamos realmente satisfeitos com os seus poderes, poderes
esses que vamos aumentar em intensidade. Nosso colega indiano, Marfata,
não acreditava que tal prodígio existisse no Tibete. Esperamos que você
venha comprovar todas as nossas afirmações.
Olhei para o indiano, e pensei: “Bem, aí temos um homem com
opinião bastante exaltada, sobre si próprio”. Voltei-me para o Lama
Chinrobnobo e disse:
— Respeitável Senhor, O Mais Precioso, que teve a bondade de me
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que seria a égua. Vós vos antagonizastes muito com essa gente, e eles
estavam realmente ansiosos por adotar alguma medida contra vós, com
relação a algo ligado a...
Hesitei nesse ponto, pois o quadro se mostrava bastante obscuro,
referia-se a coisas sobre as quais eu não tinha o menor conhecimento.
Entretanto, prossegui:
— Houve algo ligado a uma cidade indiana, que em vossa mente
presumo ter sido Calcutá, e alguma coisa ligada a um buraco negro, onde as
pessoas daquela ilha foram submetidas a grandes inconveniências ou
embaraços. De algum modo, julgaram que vós poderíeis ter evitado
problemas, ao invés de causá-los.
O Grande Lama Chinrobnobo riu outra vez, e isso fez bem a mim,
ouvir essa risada, porque indicava que eu estava na pista certa. Meu guia
não deu qualquer indicação, mas o indiano rosnou.
Eu prossegui:
— Depois, fostes para outra terra, e posso ver o nome “Heidelberg”
claramente escrito em vossa mente. Nessa terra, estudastes medicina de
acordo com muitos ritos bárbaros, de acordo com os quais efetuastes muitos
cortes, cortastes muitas coisas e serrastes outras, e não usastes os sistemas
que temos aqui no Tibete. Com o tempo, recebestes um pedaço de papel
grande, com muitos carimbos e selos. Também noto, em vossa aura, que
sois um homem com enfermidade.
Respirei fundo, nessa altura, porque não sabia como minhas palavras
seguintes seriam recebidas.
— A doença de que sofreis é uma para a qual não existe cura, em que
as células do corpo se tornam selvagens e crescem como ervas daninhas, mas
não de acordo com um padrão, não de um modo ordenado, mas se
espalham, obstruem e se agarram em órgãos vitais. Senhor! Estais
encerrando vossa própria vida nesta terra, pela natureza de vossos
pensamentos, que não reconhecem qualquer bondade nas mentes alheias!
Por diversos momentos — a mim pareceram anos! — não houve som
algum, e depois o Grande Lama Médico Chinrobnobo disse:
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dali voltou trazendo uma chapa de vidro, bastante grossa, que levou a meu
guia, o Lama Mingyar Dondup. Meu guia deteve o cilindro, para que não
girasse, e permaneceu quieto e parado, enquanto o Grande Lama Médico
Chinrobnobo punha a folha de vidro entre ele e o cilindro de papel.
— Pense em rotação, — disse o Lama Médico.
Meu guia deve tê-lo feito, pois o cilindro começou a girar outra vez.
Era de todo impossível que ele, ou qualquer outra pessoa, soprasse sobre o
cilindro, fazendo-o girar, devido ao vidro. Ele tornou a deter o cilindro,
voltando-se para mim e dizendo:
— Você venha tentar, Lobsang!
Levantou-se do banco, onde eu me sentei.
Coloquei as mãos exatamente como meu guia fizera. O Lama Médico
Chinrobnobo segurava a folha de vidro, à minha frente, para que minha
respiração não influenciasse a rotação do cilindro. Eu estava ali, sentado,
sentindo-me um imbecil. Ao que parecia, o cilindro achava que eu
realmente o era, pois nada aconteceu.
— Pense em fazê-lo girar, Lobsang! — disse meu guia.
Eu pensei, e imediatamente a coisa começou a girar. Por momentos,
tive vontade de largar tudo e sair correndo — julgando que aquilo era
enfeitiçado, mas logo a razão (de certo tipo!) prevaleceu, e permaneci
sentado.
— Este dispositivo, Lobsang, — disse meu guia —, gira pela força da
aura humana. Você pensa em rodá-lo, e sua aura põe um rodopio na coisa,
que a faz girar. Você pode estar interessado em saber que um dispositivo
assim já foi experimentado em todos os principais países do mundo. Todos
os maiores cientistas já procuraram explicar o funcionamento desta coisa,
mas a gente ocidental, naturalmente, não pode acreditar em força etérica, de
modo que inventam explicações ainda mais estranhas do que a força
verdadeira do etérico!
O Grande Lama Médico disse:
— Estou com muita fome, Mingyar Dondup. Acho ter chegado o
momento de voltarmos a nossos quartos, para descansar e comer. Não
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uma série delas — mostrando como esta revista era impressa. Havia
máquinas enormes, com grandes rolos e enormes rodas dentadas. Os
homens, nas figuras, trabalhavam como maníacos, e eu achei que isso era
muito diferente do que acontecia no Tibete. Ali, trabalhávamos com o
orgulho do artesanato, com o orgulho de executar bem uma tarefa.
Nenhuma ideia comercial entrava no espírito do artesão do Tibete.
Voltei-me e examinei novamente aquelas páginas, e então pensei sobre
como estávamos fazendo as coisas.
Lá na Aldeia de Shö os livros estavam sendo impressos.
Monges-entalhadores habilidosos trabalhavam com boas madeiras,
esculpindo caracteres tibetanos, esculpindo-os com a lentidão que garantia a
precisão absoluta, a fidelidade absoluta aos menores detalhes. Após os
entalhadores terminarem cada tábua de impressão, outros a levariam,
dando-lhe polimento, de modo que nenhuma falha ou aspereza ficasse
sobre a madeira, após o que a tábua seria levada para exame de outros, que
lhe conferiam a precisão com relação ao texto, pois nenhum erro pôde
jamais ocorrer em um livro tibetano. O tempo não importava, mas a
precisão sim.
Com as tábuas todas entalhadas, cuidadosamente polidas e
inspecionadas à cata de erros ou falhas, elas passariam aos
monges-impressores. Estes punham a tábua voltada para cima em uma
bancada, e em seguida a tinta seria passada sobre as palavras em relevo,
entalhadas. As palavras, naturalmente, eram todas entalhadas ao inverso, de
modo que, quando impressas, apareciam do modo certo. Tendo a tábua
tintada e cuidadosamente examinada mais uma vez, para ter a certeza de
que nenhuma parte ficara sem tinta, uma folha de papel duro, semelhante
ao papiro do Egito, seria rapidamente estendida sobre o tipo, com sua
superfície com tinta. Uma pressão suave e em rolo seria aplicada à parte de
trás da folha de papel, e a mesma tirada da superfície impressora, com
movimento rápido. Monges-inspetores imediatamente a tomavam,
examinando-a com a maior cautela, à procura de qualquer defeito —
qualquer falha — e se a houvesse, o papel não seria rasgado ou queimado,
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compreender o motivo para isso, pois o fato mais elementar da vida era que
tinha de haver dois sexos. Recordava-me de uma conversa com um velho
comerciante, que frequentava a estrada entre Kalimpong, na Índia, e Lhasa.
Por algum tempo, procurei encontrá-lo no Portão Ocidental, e saudá-lo a
cada nova visita bem sucedida à nossa terra. Muitas vezes, ficávamos por ali,
por bastante tempo. Eu lhe dava notícias a respeito de Lhasa e ele me dava
notícias a respeito do grande mundo lá fora. Muitas vezes, também, ele
trazia livros e revistas para meu guia, o Lama Mingyar Dondup, e me cabia
então a tarefa agradável de entregá-los. Aquele comerciante; certa feita, me
disse:
— Eu lhe contei muita coisa a respeito da gente do Ocidente, mas
ainda não a compreendo, e há uma das coisas que eles dizem, de modo
particular, que não faz sentido algum para mim. É a seguinte: o Homem é
feito à imagem de Deus. É o que dizem, mas ainda assim têm medo de
mostrar o corpo, que afirmam ser feito à imagem de Deus. Quererá isso
dizer, então, que eles sentem vergonha da forma de Deus?
Fitava-me com ar indagador e eu, naturalmente, não sabia o que
dizer, simplesmente não podia responder à pergunta. O Homem é feito à
imagem de Deus. Portanto, se Deus é o supremo na perfeição — como
devia acontecer — não devia haver vergonha na exposição de uma imagem
de Deus. Nós, chamados pagãos, não sentíamos vergonha de nossos corpos.
Sabíamos que sem o sexo não havia continuação da raça. Sabíamos que o
sexo, em ocasiões apropriadas, e em ambientes apropriados, naturalmente,
aumentava a espiritualidade de um homem e de uma mulher.
Fiquei também atônito, quando soube que alguns homens e mulheres
que haviam estado casados, talvez por bom número de anos, jamais tinham
visto, sem roupas, o corpo um do outro. Quando fui informado de que eles
“se amavam” apenas com as janelas fechadas e a luz apagada, lembro-me de
que julguei ter achado que meu informante me tomava por um pateta do
interior, realmente imbecil demais para saber o que se passava no mundo, e
depois de uma sessão assim resolvi que na primeira oportunidade
perguntaria a meu guia, o Lama Mingyar Dondup, a respeito do sexo no
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— Sim, Lobsang, ele vai ver O Mais Precioso — disse o meu guia,
em resposta ao pensamento que eu não enunciara em palavras.
Juntos, observamos por algum tempo, pois era agradável estar ali,
vendo aquele parque com o Rio Feliz cintilando mais além, e dançando,
como se tomado pela alegria de um belo dia. Também podíamos ver a Barca
— um de meus pontos favoritos, fonte interminável de prazer e espanto, ao
ver o barqueiro levar a embarcação feita de peles infladas, atravessando
alegremente para a outra margem.
Abaixo de nós, entre nós e o Norbu Linga, peregrinos caminhavam
devagar pela estrada Lingkor. Prosseguiam, quase sem olharem para nossa
própria Chakpori, mas em vigilância constante, para ver se conseguiam
observar alguma coisa de interesse no Parque das Joias, pois devia ser
conhecimento comum entre os peregrinos sempre alertas que O Mais
Precioso estaria no Norbu Linga. Eu também via o Kashya Linga, um
parque pequeno, com bom número de árvores, que ficava ao lado da
Estrada da Barca. Havia uma pequena estrada que dava da Estrada de
Lingkor para o Kyi Chu, sendo usada principalmente por viajantes que
quisessem usar a Barca. Alguns, entretanto, a utilizavam para chegar ao
Jardim dos Lamas, no outro lado da Estrada da Barca.
O criado trouxe chá, bem como uma comida saborosa. Meu guia, o
Lama Mirigyar Dondup, disse:
— Venha, Lobsang, vamos quebrar nosso jejum, pois homens que
vão conversar não devem estar vazios por dentro, a não ser que a cabeça
também o esteja!
Sentou-se sobre uma das almofadas duras que nós, no Tibete,
utilizamos ao invés de cadeiras, pois sentamos no chão com as pernas
cruzadas. Assim, fez-me um gesto para que seguisse seu exemplo, e eu
obedeci com alegria, porque a visão de comida sempre servia para me
apressar. Comemos em silencio relativo. No Tibete, especialmente entre os
monges, não era considerado decente falar ou fazer ruído enquanto a
comida estivesse à frente. Os monges sozinhos comiam em silêncio, mas se
estivessem em uma congregação de número maior, um Leitor faria a leitura,
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em voz alta, dos Livros Sagrados. Esse Leitor situar-se-ia num lugar alto,
onde, além de ver o livro, pudesse ver a reunião de monges, e ver
imediatamente aqueles que se achavam tão dedicados à comida que não
tinham tempo para ouvir-lhe as palavras. Quando se formava uma
congregação de monges, nesse caso também os Inspetores estariam presentes
para impedir que houvesse qualquer fala, a não ser a do Monge-Leitor. Nós,
entretanto, estávamos sós; e trocamos alguns comentários sem importância,
sabendo que muitos dos antigos costumes, tais como permanecer em
silêncio às refeições, eram bons para a disciplina para quem estivesse no
meio de uma aglomeração de pessoas, mas não eram necessários para dois
homens como nós. Assim, em minha presunção, eu me classificava como
associado de um dos homens realmente grandes de meu país.
— Bem, Lobsang, — disse meu guia, quando havíamos terminado.
— Fale-me do que tanto o incomoda.
— Honrado Lama! — disse eu, com alguma agitação. — Um
comerciante que passou por aqui, e com quem andei falando sobre questões
de alguma importância, no Portão Ocidental, deu-me algumas informações
notáveis acerca das pessoas do Ocidente. Disse que elas consideram nossas
pinturas religiosas como coisas obscenas. Contou-me algumas coisas
inacreditáveis a respeito dos hábitos sexuais delas, e eu ainda creio que ele
estivesse a me fazer de tolo.
Meu guia fitou-me, pensou por momento, e depois disse:
— Entrar nessa questão, Lobsang, tomaria mais de uma sessão.
Temos de ir a nosso Culto, e o tempo se avizinha para isso. Vamos debater
apenas um dos aspectos disso, está bem?
Eu aceitei, ansioso, porque estava realmente intrigadíssimo quanto a
todo o assunto. Meu guia disse, então:
— Tudo isso provém da religião. A religião do Ocidente é diferente
da religião do Oriente. Deveríamos examinar esse aspecto e ver que relação
ele tem com o assunto.
Endireitou o manto ao redor do corpo, pondo-se mais a cômodo, e
tocou a sineta para que o criado levasse as coisas da mesa. Quando isso foi
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feito, voltou-se para mim e deu início a uma palestra que achei de enorme
interesse.
— Lobsang, — disse ele —, devemos traçar um paralelo entre uma
das religiões do Ocidente e a nossa própria religião budista. Você perceberá,
de suas lições, que os Ensinamentos de nosso Senhor Gautama foram um
tanto alterados, com o correr do tempo. No decurso dos anos e séculos que
se sucederam desde a passagem, nesta terra, de O Gautama e Sua elevação à
Budância1, Os Ensinamentos que Ele pessoalmente transmitiu sofreram
alteração. Alguns de nós acham que eles mudaram para pior. Outros acham
que os Ensinamentos foram postos de acordo com o pensamento moderno.
Olhou para mim, para ver se eu o acompanhava com atenção
suficiente, e se eu compreendia o que ele falava. Eu compreendia, sim, e o
acompanhava com perfeição. Ele assentiu para mim, de modo breve, e
prosseguiu:
— Nós tivemos o nosso Grande Ser, a quem chamamos Gautama, a
quem outros chamam o Buda. Os cristãos também têm o seu Grande Ser.
O Grande Ser deles divulgava certos Ensinamentos. A lenda e, na verdade,
os registros verdadeiros dão testemunho do fato de que o Grande Ser deles,
de acordo com suas próprias Escrituras, andou pelos desertos, na verdade
visitou a Índia e o Tibete, à procura de informação, à procura de
conhecimento, buscando uma religião que fosse adequada à mentalidade e
espiritualidade dos ocidentais. Esse Grande Ser veio a Lhasa, e realmente
visitou nossa Catedral, o Jo Kang. O Grande Ser, em seguida, regressou ao
Ocidente, formulando uma religião que era de todos os modos admirável e
adequada ao povo ocidental. Com o Passamento desse Grande Ser desta
terra... como nosso próprio Gautama passou... certas dissensões surgiram na
Igreja Cristã. Uns sessenta anos após esse Passamento, uma Convenção ou
Reunião foi efetuada num lugar chamado Constantinopla. Certas alterações
foram introduzidas nos dogmas cristãos... certas alterações foram feitas na
crença cristã. Provavelmente alguns dos sacerdotes da época achavam que
tinham de aduzir alguns tormentos, a fim de manter em ordem alguns dos
elementos mais refratários de sua congregação.
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— Mas existe outra questão sobre a qual deve falar com mais
extensão, Respeitável Colega, a referente ao controle da natalidade. Eu o
deixarei para tratar do caso.
Pôs-se em pé, fez uma mesura séria, e saiu da sala. Meu guia esperou
por momentos, e depois disse:
— Você já se cansou disto, Lobsang?
— Não, Senhor! — respondi. — Estou ansioso por aprender o que
puder, pois tudo isso é novo para mim.
— Nesse caso, deve saber que nos primeiros dias da vida sobre a terra,
os povos se dividiam em famílias. Nas regiões do mundo havia pequenas
famílias que, com a passagem do tempo, se tornaram grandes. Como parece
ser inevitável entre os seres humanos, ocorrerem brigas e dissensões. Uma
família lutou contra outra. Os vencedores mataram os homens derrotados,
levando as mulheres dos mesmos para sua própria família. Logo se tornou
claro que, quanto maior fosse a família, que agora era designada como
tribo, tanto mais poderosa e segura se achava com relação aos atos agressivos
das outras.
Olhou para mim com algum pesar, e prosseguiu:
— As tribos aumentavam em número, com o decorrer dos anos, e
séculos se passaram. Alguns homens se estabeleceram como sacerdotes, mas
sacerdotes com um pouco de poder político, de olho no futuro! Eles
decidiram que necessitavam de um edito sagrado... aquilo a que chamariam
uma ordem de Deus... e que auxiliaria a tribo em seu conjunto. Ensinaram
que era preciso ser fértil e multiplicar-se. Naqueles dias tratava-se de uma
necessidade muito real, porque se as pessoas não “se multiplicassem” sua
tribo se enfraqueceria e seria, talvez, completamente exterminada. Assim...
os sacerdotes que ordenaram ao povo “crescei e multiplicai-vos” estavam até
mesmo salvaguardando o futuro de sua própria tribo. Com o transcurso de
séculos e mais séculos, entretanto, torna-se bem claro que o índice de
aumento da população do mundo é de tal ordem que este se torna super
povoado, existindo mais gente do que é permitido pelas disponibilidades de
alimentos. Algo terá de ser feito a esse respeito.
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Pensei em outro ser do qual ouvira falar, e que me parecera coisa tão
chocante — coisa tão terrível — que mal conseguia ter a coragem de
mencioná-lo. Ainda assim, consegui!
— Honrado Lama! Ouvi falar que alguns animais, as vacas, por
exemplo, são enxertadas por meios não-naturais. Isso é verdade ?
Meu guia pareceu bastante chocado, por momentos, e depois disse:
— Sim, Lobsang, isso é inteiramente correto. Existem certos povos,
no mundo ocidental, que procuram criar gado pelo que chamam de
inseminação artificial, isto é, as vacas são inseminadas por um homem com
uma seringa grande, ao invés de porem um touro para fazê-lo. Essas pessoas
parecem não compreender que fazer uma cria, quer seja um bebê humano
ou bebê urso, ou bebê vaca, é mais do que apenas uma união mecânica. Se
alguém quer ter bom gado, nesse caso deve haver amor, ou uma forma de
afeição, no processo de cruza. Se os seres humanos fossem artificialmente
inseminados, poderia acontecer que.. . nascendo sem amor. .. eles seriam
subumanos! Vou repetir, Lobsang, dizendo que para o tipo melhor de ser
humano ou animal, é necessário que os pais gostem um do outro, que
ambos se elevem em vibração espiritual, bem como física. A inseminação
artificial, efetuada em condições frias e sem amor, resulta em crias muito
más, na verdade. Creio que a inseminação artificial seja um dos maiores
crimes perpetrados nesta terra.
Eu ali estava sentado, com as sombras do anoitecer invadindo o
quarto, banhando o Lama Mingyar Dondup no crepúsculo, e enquanto
aumentavam, vi que sua aura refulgia com o dourado da espiritualidade.
Para mim, de modo clarividente, a luz era realmente brilhante e
interpenetrava o próprio crepúsculo. Minhas percepções clarividentes
diziam — como se eu não soubesse antes — que me encontrava na presença
de um dos maiores homens do Tibete. Senti-me reconfortado, por dentro,
senti que todo o meu ser pulsava de amor por ele, meu guia e perceptor .
Lá embaixo, as conchas do Templo soaram novamente, mas desta
feita não nos estavam chamando, chamavam outros. Juntos, fomos à janela
espiar. Meu guia pôs a mão em meu ombro, enquanto olhávamos para o
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aprenda as coisas, mas não volte aqui, exibindo-se com os meninos a quem
eu ensinei. Você está aprendendo por hipnotismo e outros métodos, e vou
ver se consigo expulsá-lo da sala.
Desferiu-me um pescoção, e prosseguiu:
— Agora, suma-se de minha vista. Acho difícil suportá-lo aqui,
outros estão se queixando de que você aprende mais do que os meninos a
quem eu ensino.
Assim que soltou meu manto, também saí correndo, e nem sequer me
dei ao trabalho de fechar a porta por onde saíra. Ele berrou alguma coisa
mas eu já corria com velocidade suficiente para não ter de voltar.
Lá fora, alguns dos outros meninos estavam à minha espera, bem fora
do alcance da audição do Mestre, como era natural.
— Devíamos fazer alguma coisa com esse camarada, — disse um dos
meninos.
— Sim! — corroborou outro. — Alguém vai ficar muito machucado
se ele continuar desse jeito.
— Você, Lobsang — disse um terceiro —, está sempre a jactar-se de
seu Mestre e Guia... Por que não fala com ele, por que não diz a ele como
somos maltratados?
Pensei no assunto, e me pareceu uma boa ideia, pois tínhamos de
aprender, mas não havia motivo pelo qual devêssemos fazê-lo sob tanta
brutalidade. Quanto mais pensava na questão, tanto mais agradável ela se
tornava; eu iria ter com meu guia, dizendo-lhe como éramos tratados, e ele,
a seu turno, iria ter com o Mestre, aplicando-se um sortilégio,
transformando-o em um sapo, ou coisa parecida.
— Sim! — exclamei. — Vou, agora mesmo.
Dito isso, voltei-me e saí correndo.
Segui pelos corredores conhecidos, subindo sempre, de modo a me
aproximar do telhado. Finalmente, enveredei pelo corredor dos lamas, e
descobri que meu guia já estava em seu quarto, tendo a porta aberta.
Fez-me sinal para que entrasse, e disse:
— Ora, Lobsang! Você está agitado. Foi nomeado Abade ou coisa
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parecida?
Olhei para ele, com ar bastante pesaroso, e disse:
— Honrado Lama, por que motivo nós, os meninos, somos tão
maltratados na aula?
Meu guia fitou-me com ar sério, dizendo:
— Mas como foram maltratados, Lobsang? Sente-se e conte o que o
preocupa tanto.
Sentei-me, e comecei minha narrativa triste. Enquanto falei, meu guia
não fez qualquer comentário, nem interrupção alguma. Deixou-me dizer o
que sentia, e finalmente cheguei ao final de meu rosário de pesares, e quase
ao final do fôlego.
— Lobsang — disse meu guia —, não lhe ocorre que a própria vida é
apenas uma escola?
— Uma escola? — contrapus, fitando-o como se meu guia houvesse
repentinamente perdido a lucidez. Minha surpresa não seria maior se ele me
dissesse que o Sol se fora e que a Lua viera para o lugar do mesmo!
— Honrado Lama, — disse eu, atônito, — o senhor disse que a vida
é uma escola?
— Foi exatamente o que eu disse, Lobsang. Descanse um pouco,
vamos tomar chá, e depois conversaremos.
O auxiliar que foi chamado logo nos trouxe chá e coisas boas para
comer. Meu guia comia de modo muito parcimonioso. Como dissera uma
vez, eu comia o bastante para sustentar uns quatro homens como ele! Mas o
dissera com um sorriso tão travesso, que não houvera qualquer ofensa.
Muitas vezes brincava comigo e eu sabia que ele jamais, em qualquer
circunstância, diria alguma coisa que magoasse outra pessoa. Eu realmente
não me importava, de modo algum, com o que ele me dizia, sabendo qual
era sua intenção. Ali, sentados, tomamos nosso chá, e depois meu guia
escreveu um pequeno bilhete dando-o ao auxiliar para que o entregasse a
outro lama.
— Lobsang, eu disse que você e eu não estaremos no Serviço do
Templo, esta noite, pois temos muito a conversar, e embora os Serviços do
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alguns lamas também, têm uma vida tão fácil? Sempre me parece que eu
fico com as dificuldades, as profecias más, os espancamentos por um
professor irritado, quando realmente fiz o melhor que pude.
— Mas, Lobsang, algumas dessas pessoas que aparentemente estão
muito satisfeitas... você tem certeza de que realmente o estejam? Tem a
certeza de que as condições são tão fáceis para elas, afinal de contas?
Enquanto não souber o que elas planejavam fazer antes de virem à terra,
você não se encontra em posição de avaliar. Todas as pessoas que vêm a esta
terra o fazem com um plano preparado, um plano do que querem aprender,
o que se propõem a fazer, e o que aspiram a ser quando deixarem esta terra,
depois de passarem pela sua escola. E você diz que realmente se esforçou na
aula de hoje. Tem certeza disso? Não estava bastante complacente, achando
que sabia tudo quanto devia saber da lição? Você, por sua atitude bastante
superior, não fez com que o Mestre se sentisse mal?
Perguntava isso a fitar-me de modo um tanto acusador, e percebi que
minhas faces se punham vermelhas. Sim, ele realmente sabia de alguma
coisa! Meu guia tinha a habilidade mais deplorável de pôr a mão nos lugares
sensíveis. Sim, eu fora complacente, achara que daquela feita o Mestre não
conseguiria descobrir falta alguma em mim. Minha atitude superior,
naturalmente, não contribuíra pouco para a exasperação daquele Mestre.
Meneei a cabeça, concordando.
— Sim, Honrado Lama, tenho tanta culpa quanto outro qualquer.
Meu guia olhou para mim, sorriu, e assentiu.
— Mais tarde, Lobsang, você irá a Chungking, na China, como sabe
— disse o Lama Mingyar Dondup.
Concordei, taciturno, não querendo sequer pensar no momento em
que eu teria de partir. Ele prosseguiu:
— Antes que deixe o Tibete, mandaremos consultar diversas escolas e
faculdades para obter detalhes quanto ao método de instrução que usam.
Receberemos todos os pormenores, e decidiremos então que faculdade ou
universidade lhe oferecerá exatamente o tipo de preparo do qual você
necessita nesta vida. De modo semelhante, antes que uma pessoa no mundo
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astral sequer pense em descer à terra, avalia o que se propõe a fazer, o que
quer aprender, e o que finalmente deseja conseguir. Depois, como já lhe
disse, pais adequados são descobertos. É o mesmo que procurar uma escola
adequada.
Quanto mais eu pensava nessa coisa de escola, tanto mais a mesma
me desagradava.
— Honrado Lama! — disse eu. — Por que motivo algumas pessoas
sofrem tantas doenças, tantos infortúnios? O que isso lhes ensina?
Meu guia disse:
— Mas você deve lembrar-se de que uma pessoa que vem a este
mundo tem muito a aprender, não se trata apenas de aprender a entalhar, de
aprender uma língua, ou a recitar os Livros Sagrados. A pessoa tem de
aprender coisas que vão ser de utilidade no mundo astral, depois de deixar a
terra. Como já lhe disse, este é o Mundo de Ilusão, e se presta
extremamente bem a nos ensinar o que são as vicissitudes e, ao passarmos
por estas, devemos compreender as dificuldades e problemas dos outros.
Pensei sobre tudo isso, e me pareceu que tínhamos chegado a um
assunto dos mais importantes. Meu guia, obviamente, percebeu meus
pensamentos, pois disse:
— Sim, a noite está chegando, está na hora de encerrarmos nossa
conversa, pois ainda temos muito o que fazer. Preciso ir ao Pico (como
chamávamos a Potala) e quero levá-lo comigo. Você passará lá toda a noite e
o dia de amanhã. Amanhã, poderemos falar novamente sobre esta questão,
mas vá agora pôr um manto limpo, e trazer outro de reserva.
Pôs-se em pé, e deixou o quarto. Eu hesitei apenas por momentos —
e isso porque estava estonteado — e logo segui às pressas para me preparar
com a melhor indumentária, levando outra de reserva.
Juntos, descemos a estrada da montanha, chegando ao Mani
Lhakhang, e exatamente quando passávamos pelo Pargo Kaling, o Portão
Ocidental, ouvi um berro alto e repentino por trás de mim, que quase me
fez cair da sela.
— Uai! Santo Médico Lama! — gritou uma voz feminina, bem ao
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lado da estrada.
Meu guia olhou, e desmontou em seguida. Conhecedor da minha
insegurança quando em cima de um pônei, fez sinal para que continuasse
montado, concessão que me encheu de gratidão.
— Sim, madame, o que é? — perguntou meu guia, em tom bondoso.
Houve movimentos repentinos e uma mulher atirou-se aos pés dele.
— Oh! Santo Médico Lama — disse ela, arquejante. — Meu marido
não soube gerar um filho normal, aquele desgraçado filho de uma cabra!
Taciturna — aturdida por sua própria audácia — ela estendeu um
pequeno volume à frente. Meu guia inclinou-se e examinou.
— Mas, madame, — observou. — Por que incrimina seu marido,
devido a seu filho adoentado?
— Porque aquele homem malsinado sempre andou por aí, em
companhia de mulheres à toa, só pensa em mulheres, e quando nos casamos
não conseguiu sequer gerar uma criança normal.
Para meu desalento, ela começou a chorar, e as lágrimas caíam ao
chão, fazendo pequenos ruídos, exatamente como pedras de granizo,
rolando das montanhas.
Meu guia olhou ao redor, fitando a escuridão que aumentava. Uma
figura ao lado do Pargo Kaling saiu das sombras mais escuras e veio à frente.
Era um homem com roupa esfarrapada, e no semblante ostentava uma
expressão das mais cabisbaixas. Meu guia fez-lhe um sinal e ele se adiantou,
ajoelhando-se no chão aos pés do Lama Mingyar Dondup. Este fitou a
ambos e disse:
— Vocês não andam certos em incriminar-se mutuamente por um
acidente de nascimento, pois isso não é questão que tenha ocorrido entre
vocês, mas tem a ver com o Carma.
Voltou a olhar para a criança, afastando os abrigos em que a mesma se
achava envolta. Examinou com atenção, e eu sabia que ele olhava para a
aura da criança. Depois, empertigou-se, dizendo:
— Madame! Sua criança pode ser curada, a cura se acha dentro das
nossas possibilidades. Por que não a trouxe antes?
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próprio edifício como que criara uma vida própria. Segui com pressa até a
extremidade do corredor, e ali subi em uma escada. Logo chegava ao
telhado alto, ao lado dos Túmulos Sagrados.
Em silêncio, fui ter a meu lugar costumeiro, um ponto bem abrigado
dos ventos, que normalmente desciam com força das montanhas.
Encostado a uma Imagem Sagrada, e com as mãos entrelaçadas na nuca,
fiquei a contemplar o Vale. Cansando-me disso após algum tempo,
deitei-me e fitei as estrelas. Enquanto o fazia, tive a mais estranha das
impressões: todos aqueles mundos lá em cima estavam girando em torno da
Potala. Por algum tempo isso me fez sentir tonteira, como se eu estivesse
caindo. Enquanto observava, notei um traço fino de luz. Tornando-se mais
intenso, ele explodiu repentinamente numa luz brilhante. “Outro cometa
que acaba!” pensei, enquanto ele se queimava, expirando em um chuveiro
de fagulhas vermelhas.
Tomei consciência de um “shush-shush” quase inaudível, por perto.
Com cautela, ergui a cabeça, imaginando o que podia ser. À luz fraca das
estrelas, vi uma figura de capuz,, andando de um lado para outro, na parte
oposta aos Túmulos Sagrados. Pus-me a observar. A figura seguiu até a
parede de frente para a cidade de Lhasa. Observei o perfil, enquanto ele
fitava a distância. Era o Homem mais solitário do Tibete, a meu ver. O
Homem com mais preocupações e responsabilidades do que qualquer outro
no país. Ouvi um suspiro profundo, e tive curiosidade de saber se também
Ele tivera profecias tão duras quanto as minhas. Com cuidado, rolei para o
lado e me arrastei, afastando-me dali em silêncio; não desejava
intrometer-me — ainda que inocentemente — nos pensamentos
particulares de outro. Logo cheguei à entrada, e desci em silêncio para o
abrigo de meu próprio quarto.
Uns três dias depois, eu me achava presente quando meu guia, o
Lama Mingyar Dondup, examinava o filho do casal de Ragyabs. Ele despiu
a criança, examinando-lhe cuidadosamente a aura. Por algum tempo,
meditou, fitando a base do cérebro. Aquela criança não chorou, nem
choramingou durante todo o exame. Como eu sabia, embora fosse
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plano da existência.
Dito isso, observou-me para ver se o acompanhava, porque o piano
era um instrumento estranho para mim. Eu — como meu guia dissera —
vira aquilo somente em ilustrações. Satisfeito ao verificar que eu percebia a
ideia essencial, ele prosseguiu:
— Se você tiver um teclado, contendo todas as vibrações, nesse caso a
faixa completa de vibrações humanas estaria, talvez, nas três teclas do meio.
Você compreenderá... pelo menos, espero que seja assim!... que tudo
consiste de vibrações. Tomemos a vibração mais baixa que o homem
conhece. Trata-se daquela de um material duro. Você a toca, e ela obstrui a
passagem de seu dedo, e ao mesmo tempo todas as moléculas desse material
está vibrando! Pode ir mais além, subindo o teclado imaginário, e ouvirá
uma vibração conhecida por som. Pode subir mais, e seus olhos receberão
uma vibração chamada visão.
Com essa, eu me pus ereto, num movimento rápido; como podia a
visão ser uma vibração? Se eu olhasse para uma coisa... bem, como é que a
via?
— Você vê, Lobsang, porque o artigo que está sendo visto vibra e cria
uma agitação que é percebida pelo olho. Em outras palavras, um artigo que
você possa ver gera uma onda que pode ser recebida pelos bastões e cones
no olho, que a seu turno transfere esses impulsos em imagem do artigo
contemplado. É tudo muito complicado e não precisamos examinar o
assunto em detalhe. Estou apenas procurando fazer ver que tudo é vibração.
Se subirmos mais na escala, temos ondas de rádio, ondas telepáticas, e as
ondas daquelas pessoas que vivem em outros planos. Mas, naturalmente, eu
disse que íamos limitar-nos, de modo específico, àquelas três notas
imaginárias do teclado, que podem ser percebidas pelos seres humanos
como coisas sólidas, como som, ou como visão.
Eu tinha de pensar sobre tudo isso, tratando-se de uma questão que
realmente fazia meu cérebro tinir. Nunca me opunha a aprender,
entretanto, mediante os métodos bondosos de meu guia. A ocasião única
em que eu detestava aprender era quando algum professor tirânico
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castanhos. Mas não compreendia o motivo pelo qual uma mulher fosse
escarlate!
— Honrado Lama! — explodi, incapaz de conter mais minha
curiosidade. — Por que uma mulher pode ser chamada de mulher escarlate?
O meu guia olhou-me como se fosse explodir, e por momentos fiquei
dando tratos à bola, sem saber o que dissera e que quase o levara a ter um
acesso de hilaridade reprimida. Então ele me disse, bondosamente e com
detalhes, de modo que no futuro eu não tivesse qualquer dúvida sobre a
questão!
— Quero dizer-lhe, também, Lobsang, que cada pessoa tem uma
frequência básica de vibração, isto é, as moléculas de cada um vibram em
certa cadência, e o comprimento de ondas geradas pelo cérebro de uma
pessoa pode classificar-se em grupos especiais. Não há duas pessoas com o
mesmo comprimento de onda... nem o mesmo comprimento de onda é
idêntico em todos os aspectos, mas quando duas pessoas se encontram
próximas ao mesmo comprimento, ou quando este acompanha certas
oitavas de outra, nesse caso é dito que são compatíveis, e geralmente dão-se
muito bem, quando juntas.
Olhei para ele, e me pus a pensar acerca de alguns de nossos artistas
altamente temperamentais.
— Honrado Lama, é verdade que alguns dos artistas vibram em
cadência maior do que outros? — indaguei
— Não há dúvida alguma, Lobsang. Para o homem ter o que se
conhece por inspiração, para ser um bom artista, nessas condições sua
frequência de vibrações deve ser muitas vezes mais elevada do que o normal.
Às vezes ela o torna irritadiço... difícil de lidar. Estando em cadência mais
alta de vibração do que a maioria, ele tende a encarar com desdém os
mortais inferiores. Entretanto, muitas vezes o trabalho que executa é tão
bom que conseguimos tolerar os seus modos desdenhosos e suas fantasias!
Eu imaginei aquele grande teclado, estendendo-se por diversos
quilômetros. Pareceu-me estranho que, num teclado em tais condições, o
alcance humano de experiência se limitasse a apenas umas três teclas, e
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parte do mundo, vira tudo, fizera tudo, e agora estava pagando por tudo,
com ataques periódicos de instabilidade mental. Ele olhou para mim, com
uma expressão de solidariedade .
— Coisa horrível, não é? — perguntou, solidário. — Tive a mesma
dificuldade, e vim cá fora pelo mesmo motivo. Teremos de ver o que vai
acontecer. Vou ficar aqui fora alguns momentos, contando que o ar puro
afaste parte do miasma que esta comida ruim causou.
— Senhor! — disse eu, com desânimo. — Esteve em toda parte, e
pode dizer por que motivo, aqui no Tibete, recebemos alimentação tão
horrivelmente monótona? Estou inteiramente farto de tsampa e chá, e chá
com tsampa, e tsampa com chá. Às vezes, mal consigo enfiar essa porcaria
pela goela abaixo.
O japonês fitava-me com grande compreensão e solidariedade ainda
maior.
— Ah! Você, então, pergunta a mim, porque eu provei muitas
espécies diferentes de comida? Sim, e provei mesmo. Viajei muito toda
minha vida. Comi na Inglaterra, Alemanha, Rússia... quase em toda parte
do mundo. A despeito de meus votos sacerdotais, vivi bem, ou pelo menos
julguei que vivia bem, nessa ocasião, mas agora minha negligência quanto
aos votos que fiz trouxe-me remorsos.
Olhava para mim, e pareceu voltar novamente à vida, com um tremor
em todo o corpo.
— Oh! Sim! Perguntou o motivo pelo qual temos comida tão
monótona. Vou-lhe dizer. As pessoas no Ocidente comem muito, e dispõem
de variedade demasiada de comida. Os órgãos digestivos trabalham em base
involuntária, isto é, não são controlados pela parte voluntária do cérebro.
Conforme ensinamos, se o cérebro, por meio dos olhos, tiver a
oportunidade de avaliar o tipo de comida que vai ser consumido, nesse caso
o estômago consegue soltar a quantidade e concentração necessárias de
sucos gástricos, a fim de envolver e trabalhar o alimento. Se, por outro lado,
tudo for engolido indiscriminadamente, e a pessoa estiver ocupada em
conversa tola, durante esse tempo, nesse caso os sucos não são preparados, a
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digestão não se pode efetuar, e a pobre pessoa tem indigestão e, mais tarde,
talvez sofra de úlceras gástricas. Você quer saber por que sua comida é
simples? Bem! Quanto mais comum e, razoavelmente, mais monótona for a
comida consumida, tanto melhor se mostra para o desenvolvimento das
partes psíquicas do corpo. Estudei a fundo o ocultismo, tive grandes
poderes de clarividência, e depois devorei todos os tipos de preparados
inacreditáveis, e bebidas ainda mais incríveis. Perdi todos os meus poderes
metafísicos, de modo que agora tenho de vir aqui, ao Chakpori, para ser
tratado, para ter um lugar onde descansar o corpo cansado, antes de deixar
esta terra. E quando eu a houver deixado, em questão de poucos meses, os
quebradores de cadáveres farão a tarefa... completarão a tarefa... que uma
mistura indiscriminada de bebidas e alimentos iniciou.
Olhou para mim, em seguida teve um daqueles tremores estranhos,
outra vez, e disse:
— Oh, sim, meu menino! Receba meu conselho, fique com a comida
simples todos os dias de sua vida, e jamais perderá os seus poderes. Se não
atender ao meu conselho, e enfiar por sua garganta esfaimada tudo que
puder, perderá o que tem, e o que ganhará? Bem, meu menino, você
ganhará uma indigestão; ganhará úlceras gástricas, juntamente com mau
gênio. Oh, oh! Vou-me embora, aí vem um outro acesso.
O monge japonês, Kenji Tekeuchi, pôs-se em pé, trêmulo, e
cambaleou na direção do Alojamento dos Lamas. Eu o fitava, sacudindo a
cabeça, com tristeza. Gostaria muitíssimo de poder conversar com ele por
mais tempo. Que tipo de comida seria aquele de que falara? Teria bom
sabor? Depois, controlei-me com um estremecimento; por que tentar-me,
quando tudo que tinha à frente era chá amanteigado e rançoso, e tsampa,
que realmente havia queimado a ponto de se tornar uma massa esturricada,
à qual alguma substância estranha e oleosa fora adicionada? Sacudi a cabeça,
e caminhei novamente para o Salão.
Mais tarde, aquela noite, estava conversando com meu guia, o Lama
Mingyar Dondup.
— Honrado Lama, por que motivo as pessoas compram horóscopos
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