Abreu Trajetoria Dinamica 2020
Abreu Trajetoria Dinamica 2020
Abreu Trajetoria Dinamica 2020
2ª ed.
Piracanjuba-GO
Editora Conhecimento Livre
2020
Copyright© 2020 por Editora Conhecimento Livre
2ª ed.
689 f.: il
DOI: 10.37423/2020.a15
ISBN: 978-65-86072-14-3
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
CDU: 631/63
https//:doi.org/10.37423/2020.a15
Capítulo 29
Jean-Paul Billaud
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Complementamos com análise das trajetórias e interações entre cientistas, movimento social e a
construção de políticas públicas. Essas trajetórias geram interpretações concorrentes da agroecologia
que podem ser classificadas e diferenciadas em três aspectos principais: concepções sobre processos
de transição da agricultura; público alvo e, por último, a visão sobre a inserção da produção no
mercado. Concluímos que as diferenças de entendimento da agroecologia estão diretamente
relacionadas a distintas formações teóricas e trajetórias sócioprofissionais específicas, ao papel
desempenhado pelas redes profissionais na construção de políticas públicas.
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
1. INTRODUÇÃO
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Para tanto, será apresentado, na primeira seção, o contexto específico dos dois países, notadamente
sobre o lugar das agriculturas de base ecológica e sobre as formas de institucionalização assim como
sua relação com a agricultura familiar ou camponesa. Em seguida, será abordada a trajetória da
Agroecologia nos dois países: a partir da agricultura alternativa no Brasil, na década de 70,
identificando seus sucessivos momentos e características; e a trajetória de desenvolvimento diferente
da agricultura ecológica/orgânica francesa. A terceira seção analisa as diferentes concepções de
Agroecologia nos dois países e alguns dos embates científicos e políticos recentes que evidenciam que
a questão alimentar e o modelo social estão no centro das controvérsias propostas pela Agroecologia.
2. METODOLOGIA
A abordagem analítica desta pesquisa é das ciências sociais, mas precisamente da sociologia
compreensiva inspirada em Max Weber, clássico da sociologia, mas se abre às colaborações mais
amplas, em especial das ciências agronômicas, tendo em conta a formação disciplinar da equipe do
projeto, bem como as dimensões interdisciplinares da Agroecologia. Para a realização da pesquisa, foi
realizada consulta à bibliografia específica e documentos provenientes de fontes governamentais,
movimentos sociais e organizações não-governamentais, bem como realizadas entrevistas com atores
chaves nos dois países um conjunto de 30 entrevistas com pesquisadores, agentes de
desenvolvimento, representantes de organizações sociais não governamentais, incluindo lideranças
sociais e científicas, durante o ano de 2012, 2013, 2014 e 2015, em ambos os países.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na América Latina, a produção de alimentos baseados em princípios ecológicos tem crescido nos
últimos 20 anos. No caso brasileiro, a origem deste modo de produção pode ser interpretada como
parte da herança de modelos europeus (Brandenburg, 2002), adaptados ao contexto brasileiro, ao
mesmo tempo em que convive com outras formas originais estabelecidas sob condições específicas
do contexto local (Bellon, & Abreu, 2006).
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Vale destacar que emergem distintos estilos de agricultura, onde constata se vários referenciais de
conhecimento: biodinâmico, natural, orgânico, permacultura, sistemas agroflorestais, inspirados em
princípios da agroecologia, etc. Essa diversidade de formas de produção foi reconhecida pela legislação
brasileira que regulamenta a produção de alimentos denominada de sistemas orgânicos de produção,
um aparato legal construído a partir de intensas consultas das partes interessadas. A lei da produção
orgânica reconhece também a diversidade de sistemas de certificações, a saber: terceira parte/por
empresas privadas, sistemas de garantia da qualidade participativa (SPGs) e, vendas diretas com
controle social.
Para se obter um selo da AB, as unidades de produção devem ser certificadas por um organismo
certificador recomendado pelo Estado (mais conhecido atualmente é a Ecocert, também presente no
Brasil). Esse novo dispositivo regulamentar não implica mais a participação de consumidores, como
era na regulamentação que precedia a européia. Esse último, foi revisto em 2008 (Reg. CE 889/2008),
foi avaliado em 2013, para dar lugar a um novo regulamento (CE, 2014). A inserção crescente da AB
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
no mercado desenhou, assim como em inúmeros outros países, uma oposição entre uma AB
qualificada de “convencionalizada”, pois seguiu a mesma tendência: concentração e aumento da
especialização; recurso crescente aos insumos externos, tal qual a agricultura convencional.
Coexistindo com outro “tipo” de agricultura orgânica, muitas vezes denominada “resistente”
constituída por pequenas unidades de produção em geral diversificadas. Esta oposição que
esquematizamos é notadamente visível nos debates que permeiam os meios orgânicos, em especial
nos momentos de discussão e revisões das normas e regulamentos europeus (1999 na elaboração das
normas francesas, a partir do regulamento de 1994 e, entre 2006 e 2008, na revisão deste
regulamento). Isto foi também desenvolvido através de numerosas interações e relações diretas entre
produtores e consumidores, como foi no caso da AMAP (Associação para manter a agricultura
camponesa) e, contribuiu para a emergência de numerosas experiências de certificação participativa
(Mundler & Bellon, 2011; Lamine et al., 2012).
No Brasil, os primeiros organismos certificadores foram a Cooperativa Ecológica Colméia (RS), fundada
em 1978, nos anos posteriores são organizados os Encontros da Agricultura Alternativa em 1981, 1984,
1988. Durante esse período é a sociedade civil (Técnicos, ONGs, Organizações de Agrícolas) que
assumem o processo de garantir a qualidade dos produtos a partir das referências estabelecidas na
Europa. Apesar de algumas iniciativas governamentais foi necessário esperar até 1999, para que
aparecesse a instrução normativa 07/99, texto pioneiro do setor. Resultado de um amplo debate entre
interessados da sociedade e de um processo participativo, o texto estabelece as regras de produção e
transformação, condicionamento, de transporte dos produtos orgânicos. É criada a comissão nacional
da produção orgânica (CNPOrg) e as Comissões Estaduais da Produção Orgânica composto por
membros do governo e da sociedade civil. Mas foi a Instrução Normativa de 2002 (IN 006/02) sobre
os critérios de acreditação dos organismos de certificação dos produtos orgânicos que abre o debate
inicial da lei federal, fortemente apoiado por instituições do estado de São Paulo, o texto dá lugar a
inúmeras discussões e inclui o sistema de avaliação da conformidade pelo processo participativo
(SPGs).
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
de base ecológica, a integridade cultural das comunidades rurais, equidade social, o valor econômico
da agricultura familiar e, o respeito aos recursos naturais (Abreu, et al. 2009). A originalidade do
dispositivo legal é que os produtores passaram a dispor de três opções de mecanismos de controle,
após a regulamentação em 2009: Organismos Certificadores (OCs), Organismos Participativos de
Avaliação da Conformidade (Opac) ou Organismo de Controle Social (OCS). A avaliação através de
OPACs permite ao produtor a comercialização em todo o território nacional, assim como através de
certificadoras de terceira parte. As OCSs são regulamentadas exclusivamente para vendas diretas.
De fato, a tomada em conta da AB através das políticas públicas, supõe igualmente o reconhecimento
público dos seus benefícios. Isto é explicitado nos preâmbulos do regulamento europeu 834/2007 e,
também as condições sobre as quais esses benefícios são produzidos e estabelecidos. O desempenho
ambiental está inscrito na definição mesma da AB que alia às melhores práticas ambientais, alto nível
de biodiversidade, a preservação dos recursos naturais (regulamento (CE 834/2007). As políticas
públicas uma simplificação da AB, que é concebida não mais como um dispositivo de formalização de
princípios para uma base operacional estabelecida, mas como “bens públicos”, abrindo expectativas
de se reduzir aos serviços ambientais sem considerar, os efeitos sociais, esses são mais difíceis de
serem formalizados (entretanto, alguns projetos territoriais tomam mais em conta essas dimensões
sociais).
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Assim na Europa, as ajudas à conversão ou a manutenção da AB, entram no quadro das medidas
agroambientais (a partir do Regulamento EU 2078/199, até o atual Regulamento de Desenvolvimento
Rural). Os planos franceses sucessivos de desenvolvimento da AB, objetivaram a promoção e o avanço
da AB, dando suporte às organizações de produtores e às cadeias de produção, desenvolvimento,
formação e pesquisa. O plano atual “Ambição Bio 2012” integra o projeto agroecológico e a ideia
“Produzir de outra forma. (2012)”.
Além desses programas indicados deve se salientar algumas medidas do governo. Em 2006, foi criado
o seguro agrícola para a Agricultura Familiar (SEAF) que visa diminuir riscos com intempéries que
afetam a produção agrícola. O Programa Garantia Safra, visa proteger a renda daqueles que perderam
mais de 50% da sua produção na área do Semiárido. O PAA (Plano de Aquisição de Alimentos) consiste
em uma Política Pública que articula atores de vários ministérios visando garantir a compra da
produção de agricultores familiares, bem como formar estoques para dar sustentação à política de
segurança alimentar e nutricional, assim como suprir demandas de outros programas públicos,
populações carentes em condições de pobreza. O PAA foi concebido no bojo de um grupo de políticas
estruturantes do Programa Fome Zero, visando programar ações no âmbito das políticas agrícolas e
de segurança alimentar, fortalecer a política global de combate à fome. Incentivando a AF, através de
ações de distribuição de alimentos aos grupos sociais em situação de insegurança familiar. Além de
facilitar o processo de comercialização no âmbito local e promover formação de estoques estratégicos.
Os agricultores ecológicos recebem um prêmio de 5% + no preço definido.
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Também o PNAE (Programa Nacional da Alimentação Escolar), se traduz numa inovação social
brasileira que existe oficialmente desde 1950, mas a lei específica número 11.947 de 16\06\2009,
toma a questão da alimentação como direito fundamental igualando à ao direito à educação pública.
O fundo nacional de desenvolvimento escolar repassa para a compra direta dos produtos da AF, o
montante de 30% do total do fundo, preferencialmente no local da produção e paga se um prêmio de
5% até 30% se for da agricultura ecológica. Existem prefeituras em que 100% dos produtos da
agricultura local ou regional, é o caso das cidades de Ipê e Antônio Prado, SC. Trata se da criação do
mercado institucional (Mattei, L, 2014). Assim a produção familiar tem uma forte importância social e
econômica no Brasil, sendo que 80% da produção certificada de base ecológica são oriundas da
produção familiar, uma multiplicidade de contextos locais e grupos diferenciados de produtores
familiares, caracterizados pela sua forte heterogeneidade tanto social e cultural como pela diversidade
de estilos de produção de base ecológica. É inquestionável, a contribuição da agricultura familiar para
a segurança alimentar e nutricional dos países. A importância de tal segmento social para a segurança
alimentar vai além da produção primária, mas envolve também a forma de distribuir a renda e gerar
empregos.
Na França, a agricultura familiar não representa uma categoria de análise como no Brasil, a agricultura
é constituída por produtores em sua maioria familiares, que foram largamente incluídos no
movimento da modernização agrícola, bem que sejam desenvolvidas em paralelo novas formas de
agricultura de firmas (Hervieu et Purseigle, 2009). De fato, a política de modernização agrícola dos
anos 1960 e 1980, tem precisamente objetivado modernizar o conjunto da profissão, favorecendo os
gestores agrícolas, com expectativas de nível de vida, igual à de outras classes sociais. Isto excluiu
produtores que não puderam acompanhar o movimento de modernização (relativos aos
investimentos) com uma queda da população ativa da agricultura, de 29% do conjunto dos ativos em
1949 para 3% em 2007 (Instituto Nacional de Estatística da França, INSEE). Além disto, é na França que
a agricultura dita “paysanne” ou camponesa reivindicada notadamente por sindicatos agrícolas
“confederação ligada à via campesina” e pelo conjunto de estruturas alternativas (exemplos: Civam e
Amaps) que corresponderia provavelmente à noção brasileira mais próxima da agricultura familiar,
que mostraremos mais adiante que compartilham inúmeros valores culturais.
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
No Brasil a agricultura ecológica foi inicialmente conhecida como agricultura alternativa. O conceito
era vago, significando simplesmente um conjunto de técnicas que deveria ser utilizada de forma
integrada e, em equilíbrio com o meio ambiente. Tratava-se de resgatar técnicas tradicionais de
domínio da agricultura familiar e que fora marginalizada pela modernização conservadora. A
agricultura alternativa foi animada pelo Projeto Tecnologia Alternativa – PTA, ligado à FASE.
Entretanto, as experiências práticas eram poucas significativas, foram também inspiradas nos
seguidores da agricultura biodinâmica, baseadas em ensinamentos de R. Steiner e, de Fukuoka e Omiti
Okada.
No Brasil, o conceito de agricultura alternativa foi gradualmente sendo substituído por agricultura
sustentável e, depois pelo conceito da Agroecologia. A ideia de um sistema de agricultura focada em
técnicas alternativas, do movimento da agricultura alternativa aos poucos perde espaço e, ocorre uma
ruptura cultural no movimento, saindo fortalecida a visão do grupo que defendia a estratégia de
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
ampliar as experiências no território nacional para fortalecer o movimento, em especial junto aos
agricultores familiares menos favorecidos pelas políticas agrícolas da modernização.
Deve se salientar o papel decisivo de organizações não governamentais, em particular da AS-PTA, pelo
seu protagonismo. Esta organização visava atingir os seguintes objetivos: 1) Controlar a expansão dos
latifundiários e do êxodo rural e apoiar os agricultores familiares; 2) Estimular o processo de
organização e conscientização dos agricultores familiares; 3) Promover a adoção de um novo modelo
de desenvolvimento. Propunham-se para atingir esses objetivos as estratégias de ação: i) Local:
construir novas alternativas para a produção rural. (ii) Global: revelar a situação dos produtores
familiares latinos americanos, iii) Política: Influenciar a formulação de políticas públicas. Assim, na
década de 90, o cenário é de evolução e redefinição de métodos e conceitos. Inicialmente, o termo da
agroecologia foi introduzido no Chile, por Miguel Altieri, num quadro de articulação e colaboração
entre equipes de projetos de ONGs alternativos (brasileiros, chilenos) (Abreu & Bellon, 2013).
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
sociais a tecnologia não é algo externo, mas notadamente o resultado de relações ecológicas e
socioculturais. A adoção parcial da proposição da agroecologia passa a ser motivada por um conjunto
de organizações políticas comprometidas com a construção de um projeto social , baseada em
reivindicações por equidade e justiça social. São às condições de vida dos produtores familiares,
associadas aos fatores ecológicos e técnicos que configuram a dinâmica da emergência da
agroecologia, fazendo com que agricultores empenhados com a transição em certas situações de uso
da terra enveredem por trajetórias diferenciadas.
Esses agricultores em certas localidades são apoiados por organizações, as quais estão envolvidas
diretamente com os processos de desenvolvimento rural e com a institucionalização da agroecologia,
no Brasil. Essa força social é um dos elementos fundamentais das evoluções intensas identificadas nos
últimos anos. Tais organizações lutam pelo reconhecimento destas formas ecológicas de produção.
Tais avanços são consubstanciados no quadro institucional, mais especificamente, no caso brasileiro,
no âmbito da legislação dos sistemas orgânicos já referidos e, num conjunto de políticas que foram
inspiradas no conceito e abordagem da agroecologia e agricultura orgânica, uma vez que reconhecem
a importância da integridade cultural das comunidades rurais, da equidade social, da valorização
econômica das produções familiares, além do respeito aos recursos naturais (Bellon, & Abreu, 2005).
Alguns dos membros das organizações participaram do movimento pioneiro da agricultura alternativa,
no Brasil, por exemplo, a Associação Nacional de Agroecologia (ANA), criada em 2004. Também, foi
possível, obter acordos entre as diversas partes interessadas, na ocasião da formulação do Programa
Nacional de Pesquisa em Agroecologia da Embrapa, integrando pesquisa em sistemas de produção
orgânica, de permacultura ou agroflorestais . Recentemente, ocorreu a construção participativa do
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Concretamente observa se claramente avanços na produção de base ecológica no Brasil, mas requer
uma investigação aprofundada sobre a efetividade dos projetos, planos e discursos institucionais e,
verificar em que medida poderá impactar positivamente e, contribuir para a transição da agricultura.
Na França, sobretudo, como vimos, à agricultura orgânica teve sua institucionalização finalizada na
década de 2000. No entanto, houve um movimento agroecológico pioneiro, liderado por Pierre Rabhi,
que possuí uma trajetória marcada por uma visão da Agroecologia fundamentada na ética, suas ideias
são difundidas através de conferências, publicações e, atualmente tem se envolvido no campo político
partidário (Bellon & Ollivier, 2014). P. Rabhi teve inspiração baseada em pressupostos da biodinâmica,
e se diferencia da agricultura biológica (AB). Ele se considera mais focado sobre a situação empírica, é
a favor da agroecologia. Suas propostas são de aplicação local, na França e no exterior. No entanto, as
questões técnicas são secundárias e, as pesquisas cientificas não são presentes na sua abordagem.
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Esses sítios desenvolvem proposições críticas a respeito da modernização agrícola. Alguns deles
funcionam como sítios “intermediários” (por exemplo, a Fundação Nicolas Hulot, Agrisud
Internacional) com o outro pólo na medida em que compartilham links com outras instituições. O
segundo pólo abriga sítios de instituições de alto nível, com mandados internacionais (FAO, AFD e
CIRAD). A Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) destaca-se pela quantidade importante de
links. Esses sítios estão associados a sítios de institutos de pesquisa, de ensino agrícola e de atores
econômicos (serviços agrícolas, bancos), inseridos historicamente no dispositivo de modernização
agrícola. Encontram-se também sítios de associações que promovem a agricultura de conservação,
dentre os quais o sítio da BASE (Bretanha Agricultura Solo Meio Ambiente) e da AEI (especialmente, a
Associação Internacional para a Agricultura Ecologicamente Intensiva [AEI] criada em 2009).
A atualização desta imagem das redes confirmaria certamente essa polarização, revelando ao mesmo
tempo novos atores ( “Rede de Agroecologistas Sem Fronteiras” de um dos lados e, MAAF e INRA do
outro); ou situações intermediárias como o “Coletivo para o Desenvolvimento da Agroecologia”.
Anunciado em dezembro de 2012, o plano "Produzir de outra maneira" encarna a nova política
agrícola francesa e tem como objetivo colocar a agroecologia no coração do sistema. O anúncio deste
plano, conferências e reuniões que se seguiu, durante esse ano, gerou forte polêmica: em janeiro de
2013, um grupo de porta-vozes representantes dos movimentos sociais, entregou ao ministro da
Agricultura uma "carta aberta" onde o acusa de apoiar uma forma de agroecologia, distante dos ideais
defendidos pelo grupo, em relação à agricultura, a alimentação e o desenvolvimento dos territórios.
Tal reação é uma resposta ao destaque dado pelo governo, às práticas da agricultura como o plantio
direto, principalmente, pois essa tem uma forte necessidade de utilização de insumos químicos. Os
signatários desta comunicação decidiram constituir um coletivo de atores sociais para defender uma
“agroecologia camponesa”. Outra dinâmica social relativa à agroecologia é o desenvolvimento de
ações coletivas. Eles podem envolver grupos de compras (para competir ou negociar preços) ou para
melhorar os meios e as condições de produção (CUMA), ou para obter acesso a mercados (circuitos-
curtos), complementaridades entre fazendas (Associação Policultura- Pecuária), ou para incorporar
questões de serviços ambientais ou ecossistêmicos (água, biodiversidade).
O edital “mobilização coletiva para a agroecologia” lançado em 2013 pelo Ministério da Agricultura,
da Alimentação e da Floresta (MAAF) estabeleceu como foco alvo projetos elaborados por coletivos
de agricultores que desejavam desenvolver formas de agricultura que aplicam, dentro de uma
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Por exemplo, a importância dos movimentos sociais e ONGs na construção de uma "marca
agroecológica" foi tomada em conta tardiamente por instituições que obscurecem a questão de
valores relacionados aos princípios e conceitos da agroecologia e as perspectivas para a transição, que
possibilite o envolvimento de outros atores além dos agricultores; uma política Intersetorial, portanto,
não só agrícolas. Diferenças também aparecem na estruturação da comunidade profissional, mais viva
no Brasil, do que na França. Na França o conceito de desempenho econômico permanece dominante
e, se expandiu em comunidades profissionais. No Brasil, as práticas alternativas, hoje ecológicas,
expandiram-se primeiramente entre as agriculturas e na relação entre as práticas e as políticas
públicas, predomina a visão da agroecologia política, com estratégias para legitimação da
agroecologia.
No Brasil, recentemente movimentos rurais (Via Campesina, Movimentos Sem Terras (MST),
Movimento Pequenos Produtor Agrícolas (MPA) etc.) adotaram a proposição da agroecologia,
buscando incluir em suas agendas o tema, especialmente, a questão da soberania alimentar.
Atualmente, parece não haver espaço acadêmico na área de ciências agrárias (professores e
pesquisadores, extensionistas) no país que não encontre profissionais comprometidos com a
agroecologia. Trata se de profissionais que buscam conhecimentos sobre alternativas e tecnologias
inovadoras do ponto de vista ambiental e adequadas aos produtores familiares. Interessam-se
também por mercados locais alternativos. Tal conhecimento na perspectiva da agroecologia depende
de uma interação forte entre o conhecimento técnico-cientifico e as experiências locais das
organizações de produtores de base ecológica.
Mas, geralmente, o movimento brasileiro em defesa da agroecologia tem como objetivo influenciar a
construção de políticas que estimulem a soberania alimentar e o desenvolvimento rural sustentável.
A ANA trabalha em articulação com um conjunto de instituições não-governamentais e é apoiada por
movimentos sociais, visando promover o desenvolvimento da base científica da agroecologia. Os
grandes temas abordados dizem respeito à soberania alimentar, a conservação de recursos naturais e
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
a diversidade biológica na agricultura. Assim, a agroecologia visa tornar se uma referência e propor
mudanças no modo de produção, visando conciliar desenvolvimento e interesses sociais, tais como
segurança alimentar e o empoderamento das populações rurais. Existem laços de colaboração entre
a ANA e diversas organizações não governamentais na América Latina (MAELA) e movimentos sociais
organizados (Via Campesina, MPA-Brasil, ANAP-Cuba, ANPE-Peru, entre outros). Portanto, espera se
que essas articulações possam fornecer elementos para as organizações de agricultores e permitam
subsidiar e reorientar as políticas de produção e o desenvolvimento de mercados inovadores.
Em suma, o desenvolvimento da agroecologia no Brasil tem sido orientado por estratégias políticas de
diferentes atores envolvidos e um interesse crescente da sociedade, em particular dos consumidores.
Esse desenvolvimento tem combinado a construção de programas científicos interdisciplinares,
práticas agrícolas e movimentos sociais para influenciar a construção de políticas públicas. Na França,
as questões de soberania alimentar e do modelo social aparece cada vez mais associada à agroecologia
(Lamine, 2014), como mostra um estudo sobre os discursos das redes ligadas à agricultura camponesa
e na agroecologia "paysanne". Embora o conceito de soberania alimentar não esteja presente na Carta
da Confederação Camponesa (1998), ele aparece com destaque na definição dada pela confederação
da Agricultura Camponesa
A agroecologia também ganhou destaque nos discursos de diversas organizações nos últimos anos. A
partir de 2011, a Confederação Camponesa passou a fazer referência à agroecologia e, desde 2013,
alia-se a outros movimentos sociais numa versão "camponesa" da agroecologia. Para a Via Campesina,
a agroecologia camponesa é definida como um sistema social e ecológico que abrange uma grande
variedade de técnicas e práticas arraigadas culturalmente e geograficamente.
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
controvérsias que ocorrem em tais redes em torno das boas formas de agricultura (Lamine et al., 2012)
e de uma tendência de maior diferenciação dentro dos movimentos relacionados com a agricultura
biológica. A trajetória relativamente conjunta da noção de agroecologia na Confederação Camponesa
e nas AMAP também pode ser explicada pelas ligações frequentes e locais entre as duas redes, bem
como os vários eventos e alianças que os ligam a os outros movimentos sociais (por exemplo, na
Plataforma francesa para a Soberania Alimentar, fundada em 2013).
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
De acordo com acadêmico da Universidade de Córdoba, com a evolução do trabalho empírico no ISEC,
o programa de pós graduação integra no mesmo programa científico, ciências sociais e metodologias
da educação de cunho participativas. A mudança de paradigma se deu a partir da necessidade de
compreender a natureza da agricultura convencional e, seu impacto vis-à-vis os recursos naturais e a
própria sociedade. Foi essa escola de pensamento que introduziu no conceito de agroecologia o
sentido sociopolítico de desenvolvimento da agricultura, vinculando o, aos processos históricos,
resultado da crítica social ao atual contexto do neoliberalismo e da globalização. A nosso ver essa é a
dimensão privilegiada desta escola de pensamento.
Assim, a busca de soluções para as várias formas de degradação socioambiental estimulou um grupo
de pesquisadores associados ao ISEC, a construir projetos de pesquisas que tivessem como objetivo
desfazer a dualidade da ciência (como a epistemologia e estrutura de poder) e, ao mesmo tempo
desenvolver ações de investigação e intervenção, reconhecendo e valorizando o conhecimento local
e camponês indígenas. Naturalmente também, ocorreram outras contribuições de pesquisadores que
tiveram papel importante, relacionadas na obra sobre agroecossistemas (Suzanne B. Hecht, 1997). A
proposição teórica denominada agroecologia foi assim formulada, enquanto que a metodologia
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
necessita ser ainda melhor qualificada para se atender o objetivo crucial de promover ações e
intervenções locais e, portanto, de ampliar a visibilidade das experiências exitosas.
Entretanto, a agroecologia vai além do estudo de agroecossistemas. Para Francis et al. (2003) a
agroecologia é uma ciência que estuda todo o sistema de produção de alimentos. Nesta perspectiva,
produtores e consumidores estão diretamente inter-relacionados. Consequentemente o autor
contribui para o debate conceitual a partir de uma perspectiva mais ampla da agroecologia. Trata se
do estudo que integra a disciplina da ecologia ao sistema de produção de alimentos, incluindo também
as relações sociais e institucionais relacionadas à produção, à distribuição e ao consumo desta
produção. Ademais, a agroecologia não é vista por muitos autores apenas como ciência, mas também
como movimento social e prática agrícola.
Segundo Wezel et al. (2009) as três dimensões estão presentes na agroecologia, ocorrem interações
entre a visão política (movimento social), a aplicação tecnologias inovadoras (práticas) e a produção
de conhecimentos (a ciência). Essas dimensões não são observadas em todos os contextos na mesma
intensidade. A agroecologia elege como conceito chave a transição agroecológica expresso pela idéia
de redesenho. A grande maioria dos autores brasileiros e latinos americanos, embora envolvidos no
desenvolvimento rural, rejeita o fato da agroecologia ser apresentada muitas vezes, como modo
alternativo de produção (Caporal & Costa Beber, 2004).
Portanto, a agroecologia pode ser considerada para certos autores e atores de uma visão pontual
menos interdisciplinar, como o cruzamento da agronomia e da ecologia, de onde decorre sua grafia
agro-ecologia (Soussana, 2013), como é o caso, em um documento de orientação do INRA de 2010.
Embora reconhecendo o interesse da posição anterior, com vistas no “reequilíbrio ecológico dos
sistemas produtivos agrícolas”, alguns autores brasileiros (Caporal et al., 2006) apresentam a
agroecologia como matriz que articula diversas disciplinas (n=10) e campos do conhecimento (n=31),
além de integrar saberes empírico. A abordagem inter ou transdisciplinar representa um primeiro
divisor de águas, dependendo também da função ocupada pelas ciências sociais e pelos saberes dos
agricultores e outros atores (consumidores, ambientalistas...) nos roteiros de pesquisas.
Outra acepção, mais restrita, seria a de uma agronomia que se preocupa com questões ambientais,
ou ainda, sua definição simétrica, uma ecologia aplicada aos sistemas agrícolas. Ela induz a certa
confusão entre agroecologia e agroambiente. Ela reduz as dimensões sociais (Wezel et al., 2014). Essa
visão, normativa de alguma sorte, pode ser contraposta a uma análise integra ao programa da AE
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
perspectivas de reconcepção e de transição de sistemas agrícolas e alimentares (Hill & e Mac Rae,
1995; Levidow et al., 2013), transformativa, que especificadas adiante no texto. A integração (ou não)
da questão alimentar representa outro elemento de diferenciação. As definições propostas por Francis
et al. (2003) e Gliessman (2007) destaca a “ecologia dos sistemas alimentares” cujos componentes
(técnico, socioeconômico e político) são declinados em diferentes níveis de organização e, as
abordagens não se referem mais à uma escala espacial privilegiada (campo cultivado, unidade de
produção, agroecossistema). Outros autores estendem o campo da AE ao direito à alimentação (de
Schutter, 2011) ou à soberania alimentar (Altieri & e Toledo, 2011), (Toledo, 2010).
Existem concepções bastante constrastantes sobre agroecologia. Além das análises da literatura
cientifica e documentos de políticas públicas sobre a AE nos dois países, foram realizadas diversas
entrevistas com atores chave da agroecologia na Brasil e na França (trinta no Brasil e, uma dezena na
França) que nos permitiu identificar três tipos de trajetórias (Lamine & Abreu, 2009); (Abreu, et. al.,
2013).
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Latina. Outro entrevistado que interage com movimento social afirma que a agroecologia tem
necessariamente uma dimensão política. Sua ação é associada à Confederação Camponesa.
Concepção 2: A origem das trajetórias do segundo grupo é acadêmica em alguns casos, apresentam
fortes ligações com os movimentos sociais e políticos, através da construção de projetos de pesquisas
participativas e o envolvimento pessoal com algumas organizações não governamentais. Estes
projetos têm sido dedicados principalmente à agricultura familiar. No caso francês, o grupo é formado
por professores, alguns com experiência profissional inicial em ONGs, e outros atuam,
simultaneamente, como produtores e militantes. Um dos entrevistados teve formação (inusitada para
a época: década de 80) em ecologia de agroecossistemas e mantem ligações com o movimento social
agroecológico. Anteriormente, esteve desenvolvendo pesquisas em áreas de montanhas com
agricultores familiares tradicionais no México – e afirma ter sido a experiência fora da França e a
convivência com líderes do movimento camponês mexicano que o influenciou a pensar a agricultura
a partir de uma visão da agroecologia, antes mesmo dela ter sido anunciada cientificamente. A
experiência entre pesquisadores e acadêmicos franceses em outros países foi também mencionada
por outros atores entrevistados, como fator importante a abertura para o enfoque da agroecologia.
Concepção 3: Atores chaves brasileiros que atuam unicamente no âmbito da pesquisa científica ou no
ensino em universidades mostram forte interesse pela agricultura ecológica e, mais precisamente, se
referem fortemente à agricultura orgânica (apresentando exemplos práticos da produção orgânica) e
interagem em menor grau com os movimentos sociais e políticos; poucos possuem envolvimentos
com projetos de abordagem participativa. Nesta categoria também encontramos um entrevistado
francês que orienta seus estudos para o papel das leguminosas nos sistemas de culturas e visa
contribuir com a diminuição do uso de insumos.
Para o grupo atores-chave das categorias 1 e 2, a agroecologia se encontra muito além da agricultura
orgânica, cujo entendimento sobre esse modo de produzir, é na melhor das hipóteses "uma etapa no
caminho para se chegar a agroecologia”. A transição é identificada como um processo progressivo.
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Neste caso, a agricultura orgânica consiste na substituição de insumos, etapa posterior à diminuição
da dependência de insumos externos. Alguns entrevistados acadêmicos não defendem a transição
progressiva, mas, uma visão da transição radical bem surpreendente à primeira vista. No entanto, no
geral é uma visão baseada numa menor autonomia dos agricultores. Segundo esse ponto de vista, o
conhecimento dos agricultores sobre a ecologia dos processos produtivos já foi perdido e, por
conseguinte, outro modelo teria que ser completamente redefinido, construído e transferido, a partir
do progresso da ciência, tendo a ecologia como fundamento central.
O TIPO DE AGRICULTORES
Para os atores chaves dos grupos 1 e 2, a agroecologia está claramente ligada à agricultura familiar
(ou paysanne, na França). Para esses, a agroecologia não é possível ser desenvolvida fora da
agricultura familiar. Por outro lado, alguns atores chaves do grupo 3 e cientistas do grupo 2 no Brasil
consideram que a aplicação de programa de desenvolvimento com base na agroecologia, que
privilegia agricultores familiares (assentamento da reforma agrária) focaliza um grupo específico de
produtores, sendo preciso universalizar e atender demandas abrangentes para solucionar questões
relacionadas à pobreza rural. Neste sentido, a definição de um grupo de agricultores é considerada
como algo restritivo. Outros cientistas argumentam que as soluções agroecológicas devem ser
encontradas para as propriedades maiores e especializadas. Um desses entrevistados conduz projetos
de pesquisas no setor de cana-de-açúcar, que normalmente é excluído pelo outro grupo, uma vez que
trabalham principalmente em unidades de produção mistas (gado, legumes, frutas e, eventualmente,
café). Estas duas posições são também encontradas entre pesquisadores franceses, mas o grau de
heterogeneidade no mundo agrícola e da divisão social, profissional e institucional entre pequenas e
grandes propriedades, é menos forte.
Para os atores-chaves dos grupos (1 e 2), a agroecologia também supõe uma redefinição dos modos
de comercialização, transportes e de organização dos circuitos, bem como de hábitos de consumo.
Um argumento importante é o de se evitar os problemas do processo da convencionalização da
agricultura orgânica. A produção ecológica deve ser comercializada através de circuitos locais e sem
adesão aos processos de certificação, substituindo-os por processos participativos não
regulamentados. Na França, essa visão é encontrada principalmente entre os membros e atores das
redes alternativas de produtores e consumidores e as de agricultura alternativa (CIVAM, Confederação
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Camponesa, AMAP). No Brasil, a agroecologia também tem uma posição crítica em relação à
agricultura orgânica, embora desde 2003 estejam agrupadas no mesmo mecanismo institucional de
regulação da produção e do mercado, já mencionado anteriormente. A crítica centra-se, sobretudo,
na visão minimalista da agricultura orgânica, na medida em que ela é vista como substituição de
insumos, em detrimento de um redesenho dos sistemas agrícolas. Apesar dessas críticas, a conversão
para a agricultura orgânica é frequentemente lembrada para ilustrar as perspectivas de transição
agroecológica (Abreu, et al, 2012). Parte dos técnicos mais críticos teve em sua formação uma
passagem (formação) pela Universidade de Córdoba, que integra a dimensão política, na análise dos
processos da transição.
4. CONCLUSÕES
A proposição da agroecologia está sendo aplicada fortemente no universo da agricultura familiar, onde
a família desempenha um papel fundamental na gestão e na condução das atividades agroecológicas.
A agroecologia se desenvolve também ancorada em movimentos sociais e aborda questões de
desenvolvimento através de redes sociotécnicas que legitima um conjunto de formas de agricultura,
transformando a paisagem agrária contemporânea. Além disso, desencadeia uma ruptura
paradigmática, promove a emergência de debates e de críticas à agricultura convencional e reforça
um conjunto de valores políticos e sociais associados ao ideário de uma sociedade justa e igualitária.
A agroecologia é legitimada no Brasil e na América Latina por sua forte relação com o movimento
social. O tema agroecologia coloca no debate público a questão do poder da ciência sobre o
desenvolvimento da sociedade, destacando a natureza política do que está por trás das opções
tecnológicas dos diferentes modelos utilizados na agricultura. Portanto, a agroecologia coloca a
questão mais geral da importância da relação entre sociedade e ciência. Em essência o significado do
movimento em defesa da agroecologia se traduz nos tempos atuais em um processo de
desenvolvimento rural de dimensões múltiplas que vêm recompondo o mundo rural, na medida em
que reconstrói paisagens e preserva recursos naturais e resgata saberes associados à produção de
alimentos. Entretanto, essa análise é datada, o material da pesquisa foi recolhido até o final, de 2015,
depois da mudança de governo no Brasil, muitas incertezas vicejam quanto ao avanço do
desenvolvimento da agroecologia, especialmente neste país.
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Biodiversidade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
5. AGRADECIMENTOS
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