Artigo 47
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Artigo 47
RESUMO: A aula prática não deve ser uma complementação da teoria, mas deve sim
ser ministrada com o pretexto de ensinar a pesquisar, para que isso ocorra às práticas
devem ter em primeiro lugar um enfoque problematizador, levantado questões que são
problemas no cotidiano dos alunos, chamando a realidade. O objetivo da pesquisa foi
elaborar e desenvolver roteiros de atividades práticas investigativas, visando promover
um auxílio para utilização em aulas de ciências no ensino fundamental, fazendo com
que os alunos busquem as respostas das suas dúvidas nas aulas práticas, com o auxílio
do professor. Não deixando, portanto, de lado a intenção de despertar o instinto de
pesquisa, de busca de novos conhecimentos, incluindo o conhecimento científico.
Realizou-se uma análise qualitativa. Para a coleta dos dados foi utilizada a observação
em sala de aula, onde foi verificado a participação dos alunos nas atividades práticas
investigativas propostas, utilizou-se para isso anotações e gravações, além de fotos das
atividades realizadas com os alunos. O trabalho foi realizado em uma quinta série do
ensino fundamental de uma escola pública do Paraná. Percebe-se que as atividades
práticas investigativas são um atrativo para os alunos e devemos dar mais importância
para a investigação, onde eles podem descobrir os fatos com a mediação do professor.
1
Acadêmica do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
criskist_ck@yahoo.com.br.
2
Acadêmico do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
tuta_lucas@yahoo.com.br.
3
Professora do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
danifrigoferraz@ibest.com.br.
Introdução:
A muito se fala em aulas práticas (atividades experimentais), mas nem sempre
são utilizadas para despertar curiosidade, pois na maioria das vezes as práticas estão
voltadas para demonstrações e não tem incluído o seu devido intuito de investigação,
sendo necessária uma reavaliação desse tipo de atividade.
Apesar de ser um método de ensino muito eficiente, não necessita de uma
modificação na estrutura da prática, e sim no questionamento, para que tenha um intuito
de investigação.
Aula prática não deve ser apenas uma complementação da teoria, mas deve ser
trabalhada com o pretexto de ensinar a pesquisar, para que isso ocorra às práticas
deverão em primeiro lugar ter um enfoque problematizador. Assim os alunos terão uma
visão diferenciada sobre o que é pesquisa e quais foram os métodos usados para se
desenvolver pesquisas, que muitas vezes são muito simples, mas, estão longe do
entendimento dos alunos.
A investigação científica, ou também a experimentação4, parte sempre de uma
situação problemática – um problema a ser definido e delimitado. O problema flui,
decisivamente, no desenvolvimento e direcionamento da investigação (CRUZ et al.,
2004).
Quando ministrada uma aula investigativa, o público alvo estará voltado a
solucionar uma questão que deverá ser colocada com a intenção de despertar a
curiosidade e a busca do conhecimento, que muitas vezes está apagada ou mimetizada
pelo costume de aulas expositivas. Delizoicov; Angotti (1994), colocam que as
experiências em geral despertam um grande interesse nos alunos, além de propiciar uma
situação de investigação.
Segundo Campos (1999) as mudanças metodológicas que estão associadas ao
ensino de ciências como investigações são: superar evidências de senso comum;
4
O experimentar em sua origem implica testar algo, de por algo a prova. Então, experimentar e submeter
algo a experiência, é por a prova, é ensaiar, é conhecer ou avaliar pela experiência (MORAIS, 2003).
introduzir formas de pensamento mais rigorosas críticas e criativas; obrigar a
imaginação de novas possibilidades, a título de hipótese; estimular a comparação de
diferentes hipóteses em situações controladas.
Acreditamos que as aulas de ciências devam sim realizar todos esses objetivos,
pois são todos voltados ao desenvolvimento do aluno e de futuros pesquisadores, que
necessitam de incentivo para a busca de conhecimento a partir do que já possuem.
Nessa direção, o objetivo dessa pesquisa foi desenvolver condições para os
alunos buscarem o conhecimento científico, incentivando a pesquisa pelos mesmos,
com a utilização de aulas práticas investigativas.
O ensino como investigação, portanto, tem como finalidade não somente a
clarificação e aprendizagem de um corpo de conhecimento, mas também o
encorajamento de um processo de descoberta por parte do aluno (CRUZ et al., 2004).
Acreditamos que é muito importante a reavaliação das práticas nas escolas, bem
como ampliar a maneira como são trabalhadas pelos professores, buscando auxilia-los
na realização das mesmas com o uso de aulas práticas investigativas.
Fundamentação Teórica
Toda atividade na escola deve ter seus objetivos estabelecidos, sua intenção
prevista, senão não haveria o porquê desta estar sendo realizada. Sendo assim,
procurou-se trazer atividades práticas investigativas com a intenção dos alunos testar
suas hipóteses, baseados em suas concepções prévias, sobre os fenômenos que foram
trabalhados.
O ensino não se desenvolve em terreno virgem, num aluno que nada sabe e
para o qual bastaria programar as aprendizagens por graus progressivos. Todo
aluno já dispõem de representações pessoais, que são produto das suas
aprendizagens espontâneas desde a infância. Elas resultam das interações
necessárias com seu meio natural e tecnológico, bem como da experiência de
funcionamento de seu próprio corpo (ASTOLFI et al., 1998).
Desta forma Zuliani; Ângelo (1999) e outros autores colocam que faz parte do
ensino o aluno estar motivado, participando do processo, e não sendo passivo frente ao
ensino, deixando para o professor as metas de trazer os conhecimentos à tona, em vez
de buscá-los, pois cada um já traz consigo uma bagagem de conhecimentos e basta
reorganizá-los e adicionar conhecimentos mais elaborados, os conhecimentos
científicos.
Mas o pretexto de realizar essas práticas nas escolas não deve fugir ao longe,
pois as escolas muitas vezes não dispõe de recursos para a realização das mesmas, por
esse motivo é importante adaptar as atividades a realidade dos alunos e também da
escola, como Possobom et al. (2002, p. 23), diz que “todas as atividades práticas foram
selecionadas e adaptadas à realidade da escola, seguindo um padrão básico que tinha
como objetivo o desenvolvimento cognitivo dos alunos, estreitando a relação entre o
que é aprendido na escola e o que é observado no cotidiano.” Essa adaptação das
atividades ao contexto específico de sala de aula é imprescindível para que se propicie
condições concretas de efetivação das mesmas na escola.
Desta forma, todo experimento, bem como os analisados neste trabalho podem
dar errado. No entanto, devem tirar proveito de tudo, analisando o aspecto que não deu
certo, tentando realizá-lo novamente e ver em quais aspectos poderia ser melhorados.
Aspectos Metodológicos
Realizou-se uma análise qualitativa. O estudo qualitativo é o que se desenvolve
numa situação natural, é rico em dados descritivos, tem um plano aberto e flexível e
focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada (LUDKE; ANDRÉ, 1986).
Para a coleta dos dados foi utilizada a observação em sala de aula (LUDKE;
ANDRÉ, 1986), com o intuito de verificar a participação dos alunos nas atividades
práticas investigativas propostas. Para tanto, utilizou-se anotações e gravações, também
fotos das atividades realizadas com os alunos.
Realizou-se ainda duas entrevistas semi-estruturadas, uma aplicada à professora
da turma e outra a três alunos escolhidos aleatoriamente. As entrevistas foram utilizadas
em conjunto com a observação, e elaboradas em forma de tópicos que guiaram nossa
entrevista, moldando-a (BOGDAN; BIKLEN, 1994). A mesma foi realizada para
obterem-se as indagações e opiniões dos alunos e da professora da turma. Para a
realização da entrevista utilizou-se questões abertas, que vão tomando seu rumo durante
a mesma, não sendo então induzidas de forma ou outra para respostas ou rumos
indesejáveis ou até mesmo desejáveis (ROCHA et al, 2004).
O trabalho foi realizado em uma turma da quinta (5ª) série do ensino
fundamental de uma escola pública do Paraná. O número total de alunos foi de vinte o
oito (28), dentre estes, meninos e meninas distribuídos de forma uniforme.
As atividades práticas investigativas foram propostas após as aulas teóricas
dadas pelo professor ou antes da aula teórica do assunto a ser trabalhado na prática. As
atividades iniciavam com uma breve explicação da ação destes frente à atividade
prática.
No total foram desenvolvidas duas atividades práticas investigativas. Uma sobre
os tipos de solo e outra sobre as camadas do solo. O professor trouxe todos os materiais
para a realização da prática. Na prática de tipos de solo, utilizou-se uma porção de solo;
sacola plástica e uma colher para manusear o solo pelos alunos. Os alunos observaram o
solo trazido pela professora, e seus os constituintes, vendo que os solos são formados de
concentrações diferentes de areia, argila e humo, devido a isso as características
diferentes de cada solo, um solo que apresentar mais partículas de areia será
denominado de solo arenoso. Todo o procedimento foi realizado pelos alunos e
orientado pelo professor.
Em um saco de plástico o professor trouxe o solo coletado em um local do
município, o mesmo foi colocado em vasilhas para os alunos visualizarem e
manusearem o solo com uma colher, desta forma, observaram as concentrações das
partículas e definiram em conjunto qual e o tipo de solo trazido. Outra prática também
foi realizada com os alunos, intitulada de camadas do solo, onde em um frasco colocou-
se solo e água e agitamos o frasco, depois de algumas horas os sedimentos se
depositaram no fundo a assim conseguiu-se identificar as camadas do solo.
Os alunos de acordo com sua bagagem de senso comum colocavam e
levantavam suas próprias hipóteses, testando-as. O professor atuava como mediador da
atividade e também introduzindo aos poucos o conhecimento cientifico a atividade
desenvolvida.
“ Se aqui nesse solo que a professora trouxe tiver tudo isso então é por isso que os solos são
diferentes, daí em um tipo tem mais de uma coisa e no outro não.”
“ Vamos ver agora se achamos areia nesse solo? Acho que tem tijolo aqui professora! Então é
argila não é?”
A atividade prática investigativa mostrou-se um excelente exemplo de atividade
no contexto investigado já que possibilitou o manuseio dos materiais propostos para a
atividade até mesmo no interior da sala de aula, podendo ser feita dentro e fora do
laboratório. É importante de se considerar esse fato, já que muitas realidades escolares
não contam com este espaço para desenvolver atividades experimentais.
Percebeu-se ainda ao realizar as atividades práticas propostas, o grande
envolvimento de toda a turma, que estava curiosa em chegar as respostas, em identificar
estas antes do seu colega, mostrando-se efetiva a prática desenvolvida, já que era
exatamente isso que buscávamos: os alunos envolvidos e participando efetivamente do
processo, tirando suas próprias conclusões e também questionando o que visualizavam.
Isso pode ser demonstrado nas falas abaixo:
“ Então professora se isto esta aqui é porque ta formando o solo, mas isso tem em todos os tipos
de solo? E se não tiver, daí o solo fica fraco? Todos os solos são diferentes né professora!”
“ Eu sei como é formado o solo argiloso e porque ele fica cheio de água.”
“ Achei, achei, não sabia que tinha areia na terra roxa!”
A participação dos alunos foi o que mais chamou a nossa atenção, visto que na
maioria das vezes muitos ficam receosos em expor suas opiniões e que ao fazer isto
poderiam estar errando, sendo então motivo de chacota para os outros, mas pelo
contrário, eles se mostraram participativos e até companheiros na medida do possível,
ajudando uns aos outros nas atividades. Abaixo segue uma foto tiradas durante as
atividades práticas investigativas realizadas.
Quanto à resposta da primeira questão feita para os alunos, percebe-se que eles
conseguem compreender o verdadeiro intuito da prática, pois eles encontraram
partículas no solo que não eram naturais, coisas que foram alteradas pelo homem, como
pedaços de tijolo, mostrando que muitas vezes encontramos variações, alterações no
solo. Os alunos buscaram e encontraram partículas diferentes daquelas trazidas nos
exemplos do livro didático e com certeza isso ajuda o aluno a se interessar para buscar
novos referenciais teóricos e até mesma a pesquisar as variações encontradas, como
nesse simples fato de ter pedaços de tijolo no solo levado à aula.
Logo procurou-se determinar se os alunos já haviam tido outras experiências de
trabalhos com atividades práticas conforme os moldes trabalhados na pesquisa
realizada:
Entrevistador: Você já tinha feito alguma prática com o sentido de descobrir as coisas antes da
explicação?
A1: Das práticas que eu me lembro nenhuma foi com desse tipo, a gente não faz muitas práticas, eu faço
mais em casa.
A2: A gente tem que procurar antes porque é a gente que tem que achar.
Referente a essa segunda questão, os alunos colocaram que quase não realizam
atividades práticas.
Entrevistador: Por que você acha que os professores não aplicam tantas práticas?
A1: Muitas vezes é por causa da bagunça e eles não gostam de aplicar a prática.
A2: Eu fiz em casa uma vez, na escola eu faço bem poucas vezes. Eu acho que os professores falam
demais, eles querem que a gente aprenda com eles falando do que com a gente olhando, por isso que eles
não fazem tantas práticas.
“As práticas complementam a teoria, deixa o aluno mais interagido com a realidade, e não fica só
na teoria. Mas muitas vezes as atividades práticas são difíceis de serem trabalhadas, por falta de
material ou até mesmo de um laboratório, pois tenho que levar o material pra sala tornando
impróprio o manuseio de alguns materiais, ou ainda em caso de acidentes, como até mesmo
derrubar líquido no chão, tenho que buscar um pano com a zeladora pra poder secar e continuar
a aula.”
“Varia muito, depende do rendimento na turma, muitas vezes um método funciona em uma turma,
mas não em outra, eu mudo muito a maneira de fazer a prática, eu utilizei a mesma prática em
duas turmas do mesmo ano, mas em uma eu passei o conteúdo e depois dei a prática, e na outra
eu dei primeiro a prática e fiz uma pergunta antes de dizer o conteúdo, que foi: “Por que isso está
acontecendo?” A primeira turma gostou da atividade, mas não deram muita importância para
aquilo. A segunda turma se mostrou interessada em procurar a resposta da pergunta e
começaram a ler.”
“ Elaboro as minhas práticas baseada nos livros tentando sempre complementar as bibliografias,
porque procuro observar qual é a prática que seja mais fácil dos alunos entenderem. Tem coisas
que o aluno mesmo observa, muitas vezes observa até coisas que não é o assunto que está sendo
estudado, mas ele se demonstra curioso, então isso é bom.”
Além disso, ela se baseia em livros para a realização de suas aulas, não ficando
apenas nas demonstrações, assim ela consegue utilizar o livro, mas ela reformula um
pouco o que esta no livro, reinventando a atividade, não fazendo sempre da mesma
forma.
Pode-se evidenciar ainda que as atividades práticas investigativas devem ser
tomadas como um recurso disponível para os professores melhorar a qualidade de suas
aulas, onde os alunos podem se aventurar na descoberta dos conceitos científicos com a
mediação do professor.
Considerações Finais
Esse trabalho nos mostrou que o interesse das crianças ira levá-los a procurar os
resultados dos experimentos e assim formar-se seu conhecimento científico, pois o
interesse pelo assunto nos faz descobrir modos de pesquisar, e isso com certeza foi
demonstrado pelas crianças dessa turma.
Muitas vezes vimos que uns se baseavam nas respostas dos outros e isso também
permite criar-se um pensamento evolutivo quanto às pesquisas, pois conseguem através
de aquisições e junções de idéias encontrar soluções e respostas para muitos problemas
colocados em questão na sala de aula.
Percebeu-se por fim que os educadores muitas vezes sem saber utilizam
metodologias muito eficientes, provenientes de seus saber experienciais (Tardif, 2002)
como foi o caso da professora entrevistada, ela testou diversas práticas e a mais
eficiente foi a investigativa. No entanto, seria importante que a mesma tivesse um
conhecimento da teoria referente ao assunto para aperfeiçoar sua prática pedagógica
promovendo um ensino mais eficaz.
Não podemos deixar de relatar a importância de se continuar desenvolvendo
novas práticas com esse enfoque, pois isso proporciona a todos da escola, uma melhoria
da qualidade de ensino. Dessa forma, pesquisando métodos mais eficazes quando se
diminui alguns recursos escolares, como a falta do laboratório e tempo escasso.
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