Ficha Gramática 11.ºapoio
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Lê o texto.
A perfeita alegria
É uma arte difícil, a alegria. Por um lado, sabemo-la próxima e acessível, como se os nossos dedos
pudessem, a cada momento, e sem esforço, alcançá-la. Mas sabemos também como nos escapa, como é
precária, dolorosa e inexplicável a alegria. Como nos obriga a procuras extenuantes e a desertos cujo fim
não se divisa. Não admira, por isso, que muitos desistam da alegria e se metam a caminhar, vida fora,
5 excluindo-a do seu alforge. A alegria, porém, é uma condição necessária da existência. Sempre que ela nos
falta, temos de interpretar isso como um iniludível sintoma, a que é preciso atender. Temos de nos
interrogar sobre o porquê do nosso viver burocrático e tristonho, o porquê do nosso passo precocemente
anoitecido, do nosso errar entre o peso e a cinza de onde a alegria se ausenta.
Não raro o problema é fazer depender a alegria de motivações acidentais que nada têm que ver com a
10 sua essência. Julgamos extrair a alegria do sucesso, da abundância, da força, da afirmação, da eficácia, do
poder, mas o tempo encarrega-se de demonstrar o nosso equívoco. Os mestres espirituais ensinam, por
exemplo, que a alegria não depende do imediato ou conjuntural: a alegria liga-se às razões profundas do
viver. De facto, ela não deve ser reduzida a uma espécie de estado de graça que nos toca em certas
estações ou a uma maravilhosa isenção face à turbulência e aos contrastes do mundo. Pelo contrário. Se
15 pensarmos bem, a maior parte do tempo, a nossa vida é experiência de inacabamento e incompletude, é
esboço e projeto, é movimento transformante. Como escrevia Montale: «Não existe um tempo inteiro: /
temos sempre tantos fios / a correr em paralelo / fios em sentido contrário / que raramente coincidem».
Conta-se nos «Fioretti» (a célebre recolha hagiográfica que se tornou uma das fontes para conhecer o
franciscanismo das origens) que regressando São Francisco de uma viagem para o seu convento de Santa
20 Maria dos Anjos, fustigado por um inverno particularmente hostil, o seu companheiro Frei Leão lhe
perguntou: «Pai, peço-te, da parte de Deus, que me digas onde está a perfeita alegria.» E que São
Francisco lhe respondeu desta maneira: «Imagina que, ao chegarmos a Santa Maria dos Anjos,
completamente encharcados, desfigurados pela lama da estrada, pela fome e pelo frio, batemos à porta do
convento; o porteiro aproxima-se irritado e diz: “quem são vocês?”; e nós explicamos: “somos dois dos
25 vossos irmãos”; mas ele responde, “vê-se claramente que estão a mentir, são, sim, vagabundos que
roubam as esmolas destinadas aos pobres. Fora daqui!”. Quando o irmão porteiro nos fechar a porta, e nos
abandonar sem apelo à neve e à fome, se soubermos suportar tal injúria de bom modo, sem nos
perturbarmos e sem murmurarmos contra ele, possuiremos então a perfeita alegria.»
É uma arte de paciência, a alegria. Ela pede de nós a capacidade de desconstruir as nossas
30 expectativas, necessidades, idealizações — coisas a que estamos mais apegados do que supomos — e de
provar aquela liberdade que vem de abraçar a vida nas suas não-coincidências (como sugeria o verso de
Montale), com os seus sofrimentos, os seus revezes, as suas interrogações e pausas, as suas misteriosas
travessias. E a fazê-lo sem ressentimento, mas aceitando que a esperança se expressa de um modo
alternativo, prossegue por um caminho outro, capaz de nos surpreender. Na verdade, é um artesanato a
35 alegria, não um produto pré-fabricado. É uma coreografia que avança por tentativas e não um enredo
prévio, que já dominamos. Somos felizes quando, reconhecendo a nossa própria fragilidade, nos
reconhecemos também prometidos não só à alegria, mas à perfeita alegria.
MENDONÇA, José Tolentino, 2019. «A perfeita alegria». E (Expresso), n.º 2417, 23 de fevereiro de 2019 (p. 92)
De entre as afirmações seguintes, identifica, no espaço próprio, através da alínea respetiva, aquela que
melhor completa o enunciado, de acordo com o sentido do texto.
(A) conjunções, nos dois primeiros casos (linha 4), e pronome, no terceiro (linha 14).
(B) conjunções, nos três casos.
(C) pronomes, nos três casos.
(D) pronomes, nos dois primeiros casos (linha 4), e conjunção, no terceiro (linha 14).
4. No contexto em que ocorrem, «porém» (linha 5) e «De facto» (linha 13) contribuem para a coesão textual
6. A expressão «“vagabundos que roubam as esmolas destinadas aos pobres”» (linhas 25-26) desempenha a
função sintática de
(A) sujeito e integra uma oração subordinada substantiva completiva.
(B) complemento direto e integra uma oração subordinada substantiva completiva.
(C) predicativo do sujeito e integra uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva.
(D) complemento direto e integra uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva.
7. Na passagem «“Quando o irmão porteiro nos fechar a porta, e nos abandonar sem apelo à neve e à
fome, se soubermos suportar tal injúria de bom modo, sem nos perturbarmos e sem murmurarmos contra
ele, possuiremos então a perfeita alegria.”»(linhas 25-27), os pronomes pessoais «nos» desempenham as
funções sintáticas de
Responde de forma correta aos itens apresentados, de acordo com o sentido do texto.
8. Transcreve os referentes
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Bom trabalho!