Química Analítica Qualitativa: Christian Boller
Química Analítica Qualitativa: Christian Boller
Química Analítica Qualitativa: Christian Boller
ANALÍTICA
QUALITATIVA
Christian Boller
Classificação dos cátions
(íons metálicos) em
grupos analíticos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Antes de iniciar seus estudos, você precisa compreender o que se pretende
com este capítulo. Começaremos com duas palavras: grupos analíticos.
A palavra “grupo” possui distintos significados. Aquele que mais se
aproxima do contexto químico é “conjunto de seres ou elementos com
características em comum, organizados por categorias sistemáticas”.
Logo, neste capítulo, adota-se o significado de conjunto de cátions com
características em comum.
Para compreender a palavra “analítico”, é necessário recordar sua
origem etimológica: análise. Quando nos referimos a grupos analíticos,
estamos denotando a forma como esses grupos são estruturados, ou
seja, por meio de características reacionais. Este capítulo irá abordar
o agrupamento de diferentes cátions em grupos químicos de reações
semelhantes.
Neste capítulo, você vai entender como classificar e caracterizar cada
grupo de cátions e separá-los em diferentes grupos analíticos. Também
irá analisar reações químicas que envolvem cátions e descrever como
elas permitem identificá-lo.
2 Classificação dos cátions (íons metálicos) em grupos analíticos
Para responder essa pergunta você deve, antes de tudo, criar categorias.
O que analisar primeiro, a cor ou a forma? Veja o exemplo de como ficaria
se você optasse por separar os objetos por cor, seguido da forma (Figura 2).
Grupo 1 Grupo 2
Grupo 3
SUBGRUPO A SUBGRUPO A
SUBGRUPO B SUBGRUPO B
Grupo 4
.. a ..
triângulo
vermelho .. b ..
quadrado
triângulo
azul
quadrado
mistura
.. b ..
verde círculo .. c ..
preto estrela .. d .
Se você compreendeu esse exemplo, ficará fácil entender como essa classi-
ficação é feita com os cátions. A diferença é o objeto de estudo e o critério de
separação. Na química analítica, a separação dos cátions em grupos analíticos
é feita com base em suas propriedades químicas, isto é, a maneira como os
diferentes cátions reagem para formar diferentes compostos.
Classificação dos cátions (íons metálicos) em grupos analíticos 5
Veja, então, na prática, como ocorre a classificação dos cátions. Eles são
classificados dessa maneira pois são precipitados de forma seletiva com dife-
rentes reagentes. O grupo I reage com ácido clorídrico (HCl), o grupo II com
ácido sulfídrico (H2S), o grupo III com H2S em meio amoniacal, o grupo IV
com fosfato de amônio ((NH4)3PO4), e o grupo V é solúvel em água (H2O).
Perceba que os precipitados são assim formados pois a solubilidade de cada
grupo é relativa, isto é, o grupo I apresenta os cátions com menor solubilidade,
enquanto o grupo V agrupa os cátions com maior solubilidade. Veja agora a
classificação dos cátions em cada grupo citado (Quadro 1).
Grupos Cátions
Grupo III Cr+3 (cromo), Al+3 (alumínio), Zn+2 (zinco), Fe+2 (ferro),
Mn+2 (manganês), Co+2 (cobalto), Ni+2 (níquel)
a) Na+ + Cl-
b) Na + Cl
Na+ + Cl–
Energia (Kl.mol–1)
Na + Cl
∆Hf NaCl
Agora, imagine que você tenha recebido um material sólido para analisar.
Para fazer uma reação química, a primeira etapa é solubilizar esse material,
pois reações em meio líquido têm maior chance de ocorrer do que em meio
sólido (KOTZ; TREICHEL; WEAVER, 2009). Você também já deve ter
percebido por experiência própria que ao colocar sal (NaCl) em meio líquido
ele se dissolve. O que explica essa dissolução já que, como vimos, cátions e
ânions se atraem?
A resposta a essa pergunta envolve outro tipo de conhecimento, a entalpia
de hidratação. Ela indica a energia necessária para que moléculas de água
consigam separar cátions e ânions. Isso ocorre pois a molécula de água possui
pares de elétrons livres (ligados ao oxigênio) capazes de interagir com os
cátions, enquanto os átomos de hidrogênio da água possuem carga parcial
positiva e podem interagir com os ânions (Figura 5).
8 Classificação dos cátions (íons metálicos) em grupos analíticos
Siga este raciocínio: se a energia necessária para unir os íons for menor
do que a utilizada pela água para separá-los, o composto é solúvel em água.
O inverso também é verdadeiro, se a força de união for maior, o composto
será insolúvel.
É exatamente esse princípio que se utiliza na caracterização de cátions em
diferentes grupos analíticos. Ao colocar um cátion em contato com um deter-
minado ânion, ele irá ou não precipitar? Se sim, qual a cor desse precipitado?
Vamos pensar com os exemplos do grupo I citados anteriormente. Nesse
grupo, você verá a prata (Ag+), o chumbo (Pb+2) e o mercúrio mercuroso
(Hg2+2). Por que eles são classificados no primeiro grupo? Porque todos eles
possuem uma entalpia de hidratação menor do que a entalpia de formação,
ou seja, a água não consegue mais separar os cátions e ânions uma vez que
eles formem uma ligação iônica.
Nesse mesmo contexto, os cátions mercúrio mercúrico (Hg+2), cobre (Cu+2),
cádmio (Cd+2), chumbo (Pb+2), bismuto (Bi+3), arsênio (As+5), antimônio (Sb+5),
estanho (Sn+2), reagem com HCl formando seus respectivos cloretos. No entanto,
diferentemente dos cátions do grupo I, a água consegue separar os cátions, logo,
você não poderá ver a precipitação, pois as íons ficam solúveis em solução.
Para perceber alguma precipitação, esses cátions devem reagir com H2S
que, em meio ácido, forma sulfetos. A ligação iônica formada pelos sulfetos
do grupo 2 é muito estável e, portanto, precipita. Para entender como ocorrem
essas reações, acompanhe o exemplo a seguir.
Classificação dos cátions (íons metálicos) em grupos analíticos 9
Ag+ + Cu+2 + Fe+3 + Ca+2 + Na+ + K+ + HCl → AgCl(s) + Cu+2 + Fe+3 + Ca+2 + Na+ + K+
Perceba que, de todos os cátions, apenas a prata (Ag+) precipita na forma de cloreto;
portanto ela é classificada como grupo I. Tomando-se os cátions restantes e promo-
vendo uma segunda reação com H2S em meio ácido:
Cu+2 + Fe+3 + Ca+2 + Na+ + K+ + H2S → CuS (s) + Fe+3 + Ca+2 + Na+ + K+
Nessa reação, somente o cobre (Cu) precipita, por isso ele é classificado como grupo
II. Aos cátions restantes será adicionado H2S em meio amoniacal.
Nessa etapa, o ferro (Fe) precipita na forma de sulfeto e é, portanto, classificado como
grupo III. Na quarta etapa, aos elementos restantes deve ser adicionado (NH4)2HPO4 e
aqueles que precipitarem serão classificados como grupo IV.
Para saber mais como ocorre uma análise por precipitação, veja o vídeo com demons-
trações práticas do processo:
https://goo.gl/sHcmUL
10 Classificação dos cátions (íons metálicos) em grupos analíticos
Amostra desconhecida
ácido clorídrico
precipita solúvel
GRUPO I GRUPO II
insolúvel solúvel
magnésio, cálcio GRUPO V
estrôncio, bário sódio, potássio,
amônio
Um medicamento pode estar contaminado com chumbo e com mercúrio. Como você
faria para verificar a presença desses elementos?
Etapa 1 — Solubilizar o medicamento em água.
Etapa 2 — Adicionar HCl, caso ocorra a precipitação, existe chance de haver chumbo
na amostra, uma vez que o Hg+2 não reage com esse elemento.
Etapar 3 — Tomar o sobrenadante e adicionar H2S, caso precipite, existe a proba-
bilidade de o medicamento estar contaminado com mercúrio.
SOLUÇÃO PROBLEMA
GRUPOS
AgCl, PbCl2, Hg2Cl2
II, III, IV e V
P 1.3 K2CrO4
P 1.4 NH3(aq) 3,0 mol/L
ppt amarelo
PbCrO4
duas porções
Hg2Cl2 branco
NHNHC6H5
ou Hg0
Hg O = C
NHC6H5
2
DIAS, S. L. P. et al. Química analítica: teoria e práticas essenciais. Porto Alegre: Bookman,
2016. 392 p.
KOTZ, J. C.; TREICHEL, P. M.; WEAVER, G. Química geral e as reações químicas: tradução
da 6. ed. norte-americana. São Paulo: Cengage Learning, 2009. 2 v. 1.689 p.
MAHAN, B. M.; MYERS, R. J. Química: um curso universitário. São Paulo: Edgard Blücher,
1995. 582 p.
MOORI, R. G.; MARCONDES, R. C.; ÁVILA, R. T. A análise de agrupamentos como instru-
mento de apoio à melhoria da qualidade dos serviços aos clientes. Revista de Adminis-
tração Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 63-84, jan.-abr. 2002. Disponível em:
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NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Teorias da aprendizagem: um encontro entre os pensa-
mentos filosófico, pedagógico e psicológico. 2. ed. Curitiba: InterSaberes, 2015. 272 p.
POSTMA, J. M.; ROBERTS JUNIOR, J. L.; HOLLENBERG, J. L. Química no laboratório. 5. ed.
Barueri: Manole, 2009. 560 p.
Leitura recomendada
VOGEL, A. I. Química analítica qualitativa. São Paulo: Mestre Jou, 1981. 665 p.
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