LIVRO - Intersecções em Psicologia Social - Raça, Etnia - 2015
LIVRO - Intersecções em Psicologia Social - Raça, Etnia - 2015
LIVRO - Intersecções em Psicologia Social - Raça, Etnia - 2015
Coordenação
Ana Lídia Campos Brizola
Andrea Vieira Zanella
Organizadores
Hildeberto Vieira Marins
Marcos Roberto Vieira Garcia
Marco Antonio Torres
Daniel Kerry dos Santos
Florianópolis
2015
Diretoria Nacional da ABRAPSO 2014-2015
ABRAPSO Editora
Ana Lídia Campos Brizola
Cleci Maraschin
Neuza Maria de Faima Guareschi
Conselho Editorial
Ana Maria Jacó-Vilela – Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Andrea Vieira Zanella - Universidade Federal de Santa Catarina
Benedito Medrado-Dantas - Universidade Federal de Pernambuco
Conceição Nogueira – Universidade do Minho, Portugal
Francisco Portugal – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Lupicinio Íñiguez-Rueda – Universidad Autonoma de Barcelona, España
Maria Lívia do Nascimento - Universidade Federal Fluminense
Pedrinho Guareschi – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Peter Spink – Fundação Getúlio Vargas
Conselho Editorial
Arno Wehling - Universidade do Estado do Rio de Janeiro e UNIRIO
Edgardo Castro - Universidad Nacional de San Marín, Argenina
Fernando dos Santos Sampaio - UNIOESTE - PR
José Luis Alonso Santos - Universidad de Salamanca, España
Jose Murilo de Carvalho - Universidade Federal do Rio de Janeiro
Leonor Maria Cantera Espinosa - Universidad Autonoma de Barcelona, España
Marc Bessin - École des Hautes Études en Sciences Sociales, France
Marco Aurélio Máximo Prado - Universidade Federal de Minas Gerais
Sobre a ABRAPSO
A ABRAPSO é uma associação sem ins lucraivos, fundada durante a 32a
Reunião da SBPC, no Rio de Janeiro, em julho de 1980. Fruto de um posicio-
namento críico na Psicologia Social, desde a sua criação, a ABRAPSO tem
sido importante espaço para o intercâmbio entre estudantes de graduação e
pós-graduação, proissionais, docentes e pesquisadores. Os Encontros Nacio-
nais e Regionais da enidade têm atraído um número cada vez maior de pro-
issionais da Psicologia e possibilitam visualizar os problemas sociais que a
realidade brasileira tem apresentado à Psicologia Social. A revista Psicologia
& Sociedade é o veículo de divulgação cieníica da enidade.
htp://www.abrapso.org.br/
Sumário
A Coleção 1
Apresentação 3
VI
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
VII
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
A coleção
1
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
2
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Apresentação
3
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
4
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
5
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
6
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
7
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
8
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
9
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
10
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Referências
11
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
12
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Introdução
13
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
14
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
15
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
1
Depoimento obido no decorrer de pesquisa de Doutorado da primeira autora, orientada
pelo segundo autor.
16
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
17
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
18
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
19
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
20
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
tais relatos não puderam compor o relatório da CNV, que considera, espe-
ciicamente, como violações dos direitos humanos casos de assassinato,
tortura, sequestro, exílio forçado e a paricipação de agentes do Estado,
seja por paricipação direta, ou por terem sidos avisados e se omiirem na
apuração dos criminosos.
Levando em consideração o contexto da colonização brasileira e in-
cluindo uma relexão sobre a políica dos direitos humanos implementada
mundialmente, Boaventura de Souza Santos (1997) refere que uma das
diiculdades na realização de uma políica de direitos humanos global e
cultural encontra-se na própria compreensão ocidental de que a digni-
dade do indivíduo necessita ser defendida da sociedade e do Estado, em
detrimento, assim, de direitos coleivos de grupos sociais ou de povos,
como os indígenas.
Para o autor, a cultura ocidental acarreta uma dicotomia entre o Es-
tado e a sociedade civil, promovendo, assim, uma fronteira muito rígida
entre indivíduo e sociedade, e a não consideração das comunidades como
um campo políico. Um exemplo desta situação é a própria Declaração
Universal de 1948, que reconhece, exclusivamente, direitos individuais, e
não legiima os direitos coleivos, a não ser em relação ao direito coleivo
de autodeterminação (Santos, 1997).
Vale considerar que, desde 1988, a Consituição da República reco-
nhece aos povos indígenas o direito à terra, costumes, e línguas, como
descrito no art. 231: “São reconhecidos aos índios sua organização social,
costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as
terras que tradicionalmente ocupam, compeindo à União demarcá-las,
proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. Entretanto, ainda há sérias
diiculdades no exercício deste reconhecimento.
Etnocídio indígena
21
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
22
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
23
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
24
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
A memória ferida
25
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
tações coleivas por parte do indivíduo, visto que suas escolhas, reações e
hábitos são consituídos no seu relacionamento com representações co-
leivas. Portanto, a memória é adquirida à medida que se assumem como
memórias pessoais as lembranças do grupo (Halbwachs, 1925).
As memórias das outras pessoas tanto conirmam as lembranças
individuais quanto as legiimam. Desse modo,
os quadros sociais da memória não são consituídos pela combinação de
lembranças individuais, nem mesmo de formas vazias, mas, ao contrário,
são os instrumentos de que a memória coleiva se serve para recompor uma
imagem do passado que se combina, a cada época, com os pensamentos
dominantes da sociedade. (Halbwachs, 1925, p. 18, citado por Santos, 1998)
26
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
27
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
28
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Conclusão
Referências
29
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
30
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
31
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Introdução
32
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
A colonialidade do poder
33
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
34
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
35
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Esse legado (indígena) não se resume ao aspecto ísico, nem aos bens agrí-
colas e artesanais, às lendas, costumes e ao ethos, já reconhecidos por bra-
sileiros desde os trabalhos de Gonçalves Dias, Euclides da Cunha e Capistra-
no de Abreu, mas suis modos de ser, tanto urbano como rural, que advêm
desse relacionamento desigual formado desde os primórdios da coloniza-
ção luso-brasileira. (Gomes, 2005, p. 427)
36
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
37
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
2
A guerra dos Poiguar contra os portugueses (1646), a guerra dos bárbaros no Nordeste (2ª
metade do séc XVI), a revolta dos índios Manao, liderados pelo líder Ajuricaba, na região
Amazônica (1720) e os jesuítas e os trinta povos das missões ( 1600 – 1750) foram alguns
exemplos do vulto que tomou a resistência indígena ao poder colonial durante os três pri-
meiros séculos de invasão.
38
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
O período pombalino
Uma segunda e importante fase na políica indigenista realizada
pelo poder imperial se iniciou a parir de 1757 com a criação de um
conjunto de arigos normaivos conhecido como Diretório dos Índios.
Idealizado pelo ministro Marquês de Pombal, representante do despo-
ismo esclarecido de Portugal e do Iluminismo, este conjunto de medi-
das procurou concreizar os ideais iluministas de separação entre Estado
e Igreja. Na práica, isso signiicou a expulsão dos jesuítas e das demais
ordens religiosas responsáveis pela catequização dos indígenas. A par-
ir de então, os indígenas passam a ser considerados órfãos sob tutela
do governo. Já os aldeamentos icaram sob a jurisdição de diretores e,
posteriormente, de juízes encarregados de disciplinar a vida nas aldeias
segundo princípios laicos de civilização e cidadania. Tendo como jusii-
caiva a regularização legal de sua nova condição de “vassalos livres”, o
discurso dominante apresenta o índio como aquele que precisa ser “en-
sinado” e “adaptado” ao regime de trabalho próprio ao cidadão e traba-
lhador livre. Na verdade, a políica pombalina resultou em um aumento
na exploração da mão-de-obra indígena e na sua gradaiva adaptação ao
modelo de comércio e de agricultura exportadora que coninuava em
expansão. Nesse contexto, a imagem consituída do índio passa a ser
de vadio e preguiçoso. Ele é o índio bravio que, depois de apresado, se
revela inadaptado ao trabalho regular e constante. É o índio traiçoeiro e
incapaz que, para deixar de lado essa má índole, precisa deixar de lado
a sua indianeidade e ser assimilado pela sociedade envolvente. É sobre
essa retórica que termos como mesiço e caboclo são enunciados por
discursos políicos e cieníicos e começam a ser difundidos no coidiano
desses agrupamentos como designação para os indígenas que são ab-
sorvidos como mão-de-obra para os novos proprietários de suas terras.
Como explica o antropólogo Mércio Gomes:
Assim, ironicamente, o primeiro senido de cidadania com que os índios
foram agraciados por Portugal teve como meio a anulação da autonomia
relaiva das aldeias onde viviam. Com a entrada de não-indígenas, a quem
eram dados incenivos econômicos e políicos para casar com as índias, as
novas vilas passaram a ser dominadas por brancos e mesiços, que estabe-
leceram sobre os índios o modo de relacionamento social hierarquizante
que os reduziu à condição social mais baixa na pirâmide social brasileira,
reirando-lhes paulainamente toda autonomia políica e quase toda vi-
39
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
40
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
41
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
42
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
43
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
44
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
45
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
46
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
47
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Psicologia da Libertação
48
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
49
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
50
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
51
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
52
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Conclusão
Referências
53
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
54
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Introdução
55
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
56
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
57
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
58
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
59
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
60
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
61
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
62
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
63
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
64
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
65
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
66
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
67
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
68
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
69
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
70
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
71
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
72
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Amostra
IBGE/Censo/2010 Amostra Amostra
Atendimentos-
Raça Porto Alegre Processos BOS
Entrevistas
Branca 79,23% 77,6% 63,6% 56,1%
Negra 20,24% 22,4% 36,4% 42,0%
Fonte: Silveira, 2013.
73
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
74
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Considerações inais
Referências
75
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
76
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
77
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
78
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
79
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Introdução
80
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
81
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
82
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
83
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
sem que se saiba o moivo de fato: diz-se, então, que essa pessoa acordou
com Calundu ou está de Calundu .
Em suma, acerca dos movimentos e organizações religiosas no pe-
ríodo colonial e escravocrata, são dignos de destaque a sua vinculação,
já naquela época, a talento musical, a sua admissão como expressões
culturais, o seu reconhecimento como práicas religiosas (Calundus), ain-
da que “ilegíimas”, a sua associação precoce a irmandades afrocatólicas
etc. Além de traduzirem o que era controlado e “permiido” pela políica
moderada, tais movimentos e organizações consituíram, sob uma pers-
peciva políica e sociológica, os primórdios e a base dos movimentos de
resistência cultural e social dos africanos.
Candomblé
1
Entrevista concedida por Komanaji, Raimundo Tata. Novembro de 2012. Entrevistador: Veri-
diana Machado. Salvador.
84
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Além dos Bantu, outros povos africanos foram trazidos para o Bra-
sil, como foi exposto por Verger (2002). O referido autor assinala que os
centros de comércio dos africanos na África eram a Costa do Ouro, Costa
dos Escravos e Costa de Angola. A rota de tráico pode ainda ser dividida
em quatro períodos: “Ciclo da Guiné – segunda metade do século XVI;
Ciclo de Angola e Congo – no século XVI; Ciclo da Costa da Mina – três
quartos do século XVII; Ciclo da Baía do Benin – entre 1770 e 1850, in-
cluindo o período de tráico clandesino” (Verger, 2002, p. 201). As peças
(designação dos indivíduos na condição de escravos) aportavam sobretu-
do na Bahia, em Pernambuco e no Rio de Janeiro.
O Candomblé foi consituído nesse contexto muliétnico, através
de trocas entre povos, num processo de simbiose cultural cujo nome –
Candomblé – aponta para uma homogeneização do culto, mas também
segmentação, na medida em que a certo tempo se desenvolveram diver-
sos “Candomblés” (Parés, 2007). Dessa maneira, a parir do “reagrupa-
mento étnico” provocado pelo batuque, pelos Calundus, e consequen-
temente das estratégias de preservação da cultura, dos hábitos e dos
costumes – principalmente, a preservação dos modos de se construir
a religiosidade – originaram-se o que, correntemente, conhece-se por
nações de Candomblé.
O termo nação foi primeiro empregado nos séculos XVII e XVIII pelos
traicantes de escravos, missionários e oiciais administraivos. Na África
Ocidental foi usado inicialmente pelos ingleses, franceses, holandeses
e portugueses. Em ambos os casos, demarcavam a ideia de idenidade,
nas monarquias europeias e africanas. De outro modo, a idenidade afri-
cana era mulidimensional e ariculada à etnicidade, à religiosidade, ao
85
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
86
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
87
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
pode ser iniciado num terreiro com diversas ascendências ou até mesmo
poderá migrar para outro terreiro, e, assim, está posta a heterogeneidade
do conceito. Carneiro (1937) chamou a atenção para uma inter-relação e
interpenetração das nações:
Hoje muitos Candomblés não mais se dedicam a uma só nação, como ani-
gamente, seja porque o chefe atual tem nação diferente da do seu anteces-
sor, e naturalmente se dedica às duas, ou nas visitas dos líderes religiosos
em outras casas, o que faz que se homenageie tais pessoas, tocando e dan-
çando à maneira das suas respecivas nações. Já não é raro tocar-se para
qualquer nação em qualquer Candomblé. (Carneiro, 1937, p. 44)
Parés (2007) argumenta que a categoria de nação tem sido mais ui-
lizada de maneira ideológica, como estratégia de legiimação social e esta-
belecimento de alianças, fortalecendo a idenidade coleiva dos terreiros
“tradicionais” e mais anigos, das casas recentes, bem como, desenvol-
vendo tanto uma rede de solidariedade quanto reproduzindo mecanis-
mos de compeiividade.
As nações são atualmente classiicadas, da maneira mais difundida,
como: a Nação Angola, reportando-se a civilizações Bantu (corresponden-
tes às tradições oriundas das regiões que vão do centro ao sul do coni-
nente africano); a Nação Keto (referente a africanos oriundos da Costa dos
Escravos, na Nigéria e sudeste do Benin), de cultura e língua ritual yoruba-
na, que abarca outras nações como Ijexá, na Bahia, e conhece-se por di-
versas denominações como Nagô ou Eba em Pernambuco (Nagô também
na Bahia), Oyó-Ijexá no Rio Grande do Sul, Mina-Nagô, no Maranhão, e a
quase exinta Xambá, de Alagoas, também presente em Pernambuco; a
Nação Jeje (originária de povos provenientes majoritariamente do anigo
Daomé – atual República do Benin), com linguagem ritual ewe-fon, que
possui segmentos especíicos como o Jeje-Mahin e o Jeje- Savalu (presen-
tes na Bahia) e o Jeje-Mina do Maranhão (Prandi, 1996).
88
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
foi criado, por D. Pedro II, o Insituto Histórico e Geográico, para repen-
sar a história do país, que caminhava para se consolidar como um Estado
Imperial centralizado e forte, que deveria ser muito bem estruturado,
possuindo um projeto políico, social e cultural (Capone, 2004).
O problema estava circunscrito na necessidade em deinir o Brasil
por meio de seus traços políicos, sociais e culturais, diante de uma com-
plexidade étnica abarcando seus componentes brancos, negros e índios.
Ressalte-se que nesse período vigoravam as correntes teóricas posiivis-
tas e evolucionistas. De modo que nessa conjuntura teórico-políico-so-
cial, perante a pressuposta superioridade da raça branca, por exemplo,
umas das soluções foi favorecer uma políica de miscigenação das raças
sob o controle do Estado, para que os povos considerados inferiores,
os negros e os indígenas, desaparecessem (fossem assimilados). Para-
lelamente, consolidou-se a instauração da ideia de degenerescência do
povo brasileiro, vinculada à miscigenação, fundamentando a teoria do
branqueamento que posteriormente foi alicerce para a criação do mito
da democracia racial (Capone, 2004).
Desde então passou a vigorar a tese de que seria fundamental es-
tudar todos os componentes étnicos existentes em solo brasileiro, para
pensar uma idenidade nacional, já que “o outro não é mais exterior à
nação, ele é parte integrante desta” (Capone, 2004, p. 220). A intelectua-
lidade brasileira passou a apreender a sua realidade social pelo prisma de
certo exoismo, que foi naquela circunstância o “produto da idealização
da Europa e de sua civilização, o intelectual brasileiro só pode reairmar a
inferioridade da cultura popular, resultado da mistura de raças inferiores”
(Ventura, 1991, citado por Capone, 2004, p. 220). O negro foi então colo-
cado no centro de muitos estudos subsequentes, ao passo que a cultura
indígena foi desvalorizada, devido ao romanismo. Na perspeciva de co-
locar o negro como objeto de ciência, Silvio Romero airmou sobre o des-
caso cieníico para com as culturas africanas, especialmente as línguas e
as expressões religiosas:
É uma vergonha para a ciência do Brasil que nada tenhamos consagrado de
nossos trabalhos ao estudo das línguas e das religiões africanas. Quando
vemos homens como Bleek refugiarem-se dezenas e dezenas de anos no
centro da África somente para estudar uma língua e coligir uns mitos, nós
que temos o material em casa, que temos a África em nossas cozinhas,
89
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
90
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
com Dantas (1988), ao airmar a predominância dos nagôs como grupo ét-
nico superior, de maior importância e inluência, de algum modo ameniza-
va os prejuízos consequentes da presença desses povos na sociedade bra-
sileira, uma vez que uma parcela dessa população seria, por assim dizer,
menos ‘primiiva’. A autora se refere ao posicionamento de Nina Rodrigues
frente ao Código Penal de 1890, arigo 157, que incriminava curandeiros,
feiiceiros, espiriistas e cartomantes e que não estaria dirigido aos cultos
afros, mas funcionava para controlar os negros libertos cujos cultos não
estariam legiimados como práicas religiosas e seriam enquadrados em
tais parâmetros da lei, abrindo brecha para a sua proscrição e perseguição
policial. Coerente com os seu pressupostos evolucionistas racializantes,
considerava o Código Penal da época anacrônico, visto que igualava os
crimes penais entre brancos e negros, desrespeitando as produções cien-
íicas por meio das quais estava comprovada a inferioridade dos negros,
que recomendaria uma certa inimputabilidade (Dantas, 1988).
Para Nina Rodrigues, a polícia estaria coibindo uma práica que es-
tava à altura da potencialidade mental dos negros, os quais não inham
capacidade para assimilar e abstrair a religião dos brancos. Na perspeciva
cieníica rodriguiana, a possessão presente em quaisquer desses cultos
era entendida como histeria, classiicando o negro como anormal, e re-
correndo a “um novo discurso, o das Ciências Médicas, que se associa ao
discurso da Antropologia sobre as raças para exercer, sobre o negro, um
controle mais soisicado, não mais com as categorias da Lei, mas com as
da Ciência” (Dantas, 1988, p. 169). Dessa forma, no momento em que o
negro se tornou “livre”, por meio do discurso cieníico foi estabelecido
um novo “grilhão” para assegurar a sua inferioridade.
Nessa mesma perspeciva, Dantas (1988) se uiliza da críica pro-
ferida na década de 1940 por Sérgio Buarque de Holanda ao estudo do
negro, que, em lugar de considerá-lo (o negro) como um elemento cons-
ituinte da sociedade brasileira, transformou-o num objeto de estudo
exóico, contemplado folcloricamente e apresentado ao mundo como
um “outro” distante, diferente, por isso africano. Nesse contexto de
exaltação do exóico, a cultura jeje-nagô foi supervalorizada por ser mais
africana, sobretudo, no plano simbólico. Destarte, argumenta que a ên-
fase na valorização da cultura do negro funcionaria para negligenciar as
desigualdades, de maneira que seria imprescindível considerar o negro
91
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
não apenas como portador de cultura, mas também, como sujeito que
atua socialmente. Assim, mesmo considerando a África como a maior
referência simbólica para o negro e a cultura afrobrasileira, a autora des-
taca que os traços culturais africanos não podem deinir o signiicado e
a função das formas culturais, posto que, assim como as idenidades, as
expressões culturais e religiosas são construídas e ganham senido no
processo efeivo da vida social.
Tais estudos, chamados de afrobrasileiros, fornecem um panorama
sócio-histórico sobre como o negro e aspectos da cultura e religiosidade
africana foram compreendidos inicialmente no Brasil e evidenciam uma
trajetória dos conceitos racistas, além de vincularem a uilização de alguns
saberes psicológicos ao racismo.
Posteriormente, muitos trabalhos foram realizados, especiicamente
no campo da Psicologia, por proissionais que se aprofundaram em outros
aportes teóricos da que parecem transitar basicamente entre duas cor-
rentes teóricas: a Psicanálise e a Psicologia Analíica. De modo geral, essas
pesquisas contribuíram e aproximaram a Psicologia dos estudos sobre re-
ligiosidade afrobrasileira, no entanto, do ponto de vista teórico e meto-
dológico, uilizam conceitos acadêmicos na interpretação de fenômenos
afro-religiosos. Desse modo, ao se uilizarem de linguagens acadêmicas e
psicológicas, tornam o fenômeno invesigado compreensível para o uni-
verso acadêmico, sob outra perspeciva estas interpretações acadêmicas
podem não estar coerentes com a importância e signiicado do fenômeno
para os sujeitos, neste caso, os praicantes da religião.
Entre outros, citaríamos os exemplos de Rita Laura Segato (1995),
José Jorge Zacharias (1998), Claude Lepine (1978), Monique Augras
(1983), Ronilda Ribeiro (1996) e Bairrão (2005), alguns dos quais, em
maior ou menor medida, já compromeidos em promover um diálogo e
esclarecimento mútuo entre pontos de vista psicológicos e afro-religiosos,
ou seja, estudos alinhados a uma perspeciva cieníica e metodológica,
que é a da etnopsicologia.
Nessa linha, destacam-se as pesquisas de Monique Augras (1983),
nas quais já se propõe uma Psicologia da Cultura em diálogo com a postura
etnopsicológica, pois, para ambas, o sujeito tem uma função fundamental
na produção do conhecimento invesigado. A contribuição da autora tam-
92
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Bairrão (2005) adverte que a psicanálise não deveria ser usada como
chave hermenêuica para a interpretação e atribuição de signiicados aos
fenômenos sociais, e uiliza-se de alguns conceitos lacanianos para ilus-
trar o potencial metodológico de uma leitura da psicanálise (lacaniana)
que ultrapasse o individual, na medida em que o “pesquisador abdique
da condição de quem atribui e sobrepõe signiicados” em prol da posição
mais rigorosa de quem dá ouvidos às interpretações e senidos implícitos
em cada manifestação do fenômeno”( Dias & Bairrão, 2013, p. 227).
A parir dos conceitos lacanianos de inconsciente e de sujeito, pode-
-se compreender a abordagem psicanalíica empregada pelo autor. Numa
perspeciva lacaniana, o inconsciente deixa de pertencer a um psiquismo
individual, logo, não é mais uma representação inconsciente privada. O
inconsciente é feito de signiicância, efeito de signiicantes, e pode ser en-
93
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
tendido como uma parte em falta num discurso concreto, sendo que esta
parte em falta pode ser mapeada pelas partes efeivamente proferidas
(Bairrão, 2005). Por consequência, o sujeito não é entendido na acepção
de um objeto empírico, “composto” de uma vida psíquica, mas, segundo
Bairrão (2005), o sujeito é compreendido como produtor de senido, e
dependente de seu contexto sociocultural.
Bairrão (2005) uiliza a expressão “escuta paricipante” não para
fundar um método, mas para apontar a postura éica do psicólogo en-
quanto pesquisador, pois airma que a pesquisa no campo da psicologia
deve “resituir a escuta da voz de sujeitos sociais para eles próprios” (p.
443). A escuta paricipante, conforme Bairrão (2005), chama a atenção da
psicologia para o compromisso éico de conceber que o seu objeto (inves-
igado) comporta senido, e por isso deve ser tratado como sujeito; bem
como possibilita que o pesquisador, além de olhar e de observar, pode
ouvir os senidos da ação do sujeito. De tal modo que o pesquisador não
deve atribuir, interpretar, nem produzir signiicados sobre os seus interlo-
cutores, uma vez que no que concerne ao conteúdo interpretaivo, seja
na clínica ou em sua atuação social, o importante não é o que o analista-
-pesquisador airma; pelo contrário, o dado real e a sua compreensão iel
estariam consituídos pelo senido construído pelo outro.
Dessa maneira, o Candomblé não precisaria ser invesigado sob o
mesmo paradigma em que se empenharam os estudos afro-brasileiros
inicialmente, e faz-se necessária uma relexão críica e lúcida acerca da
tradição desses estudos, para fomentar uma possível mudança epistemo-
lógica e metodológica do olhar sobre o outro (neste caso, primeiramente,
sobre o negro), que, em muitas pesquisas, implicitamente, é visto apenas
como suporte das culturas, das expressões religiosas africanas, mas inai-
vo socialmente, pelo menos no ainente ao ato de produção de conheci-
mento relaivo a si mesmo.
Conclusão
94
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
95
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
96
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
97
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
98
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Referências
99
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Kramer, F. (1993). The Red Fez:Art and Spirit Possession in Africa. London:
Verso.
Lepine, C. (1978). Contribuições ao estudo dos ipos psicológicos no Candom-
blé Keto. Tese de Doutorado, Programa de Pós-graduação em Antropolo-
gia, Universidade de São Paulo, SP.
Lima, V. C. (1976). O conceito de “Nação” nos Candomblés da Bahia. Revista
Afro-Ásia, 12, 65-90.
Parés, I. N. (2007). A formação do Candomblé: história e ritual da nação jeje
na Bahia (2ª ed.). Campinas, SP: Ed. Unicamp.
Prandi, R. (1996). Herdeiros do Axé: sociologia das religiões afro-brasileiras.
São Paulo: Hucitec.
Ribas, O. (1975). Ilundo- espíritos e ritos angolanos. Luanda: Insituto de In-
vesigação Cieníica de Angola.
Ribeiro, R. (1996). Alma africana no Brasil: os Iorubás. São Paulo: Editora
Oduduwa.
Silva, D. M. (2013). África Bantu, de que África estamos falando? In J. Figuei-
redo (Org.), Nkisi na diáspora: raízes religiosas Bantu no Brasil (p. 34). São
Paulo: Acubalin.
Segato, R. L. (1995). Santos e Daimones: o politeímo afrobrasileiro e a tradição
arqueipal. Brasília, DF: Ed. UnB.
Silveira, R. (2006). O candomblé da Barroquinha: processo de consituição do
primeiro terreiro baiano de keto. Salvador: Editora Maiganga.
Verger, P. (2002). Fluxo e reluxo do tráico entre golfo do Benin e a Bahia de
Todos os Santos: dos séculos XVII a XIX (4ª ed.). Salvador: Corrupio.
Zacharias, J. J. M. (1998). Ori axé: a dimensão arqueípica dos orixás. São Pau-
lo: Vetor.
100
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Introdução
101
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Contextualização do estudo
102
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
103
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
pela luta dos movimentos sociais e que não exisiriam de outra manei-
ra. Porém, nessa negociação por redistribuição e reconhecimento (Fraser,
1997), alguns grupos têm menos recursos, e as elites tendem a receber
mais beneícios.
No Brasil, a luta se fortalece no movimento contra o Regime Militar
instalado em 1964 e na redemocraização da políica. É nesse contexto
que, no inal da década de 1970, surgiu o movimento homossexual. O
marco de criação de um movimento poliizado foi a fundação, em 1978,
do grupo SOMOS, em São Paulo, e do jornal Lampião da Esquina, no Rio
de Janeiro. Na década seguinte, surgiram os grupos Triângulo Rosa e o
Atobá, ambos no Rio de Janeiro. Em Salvador, foi criado o Grupo Gay da
Bahia (Facchini, 2005; Green, 2000).
Existem discordâncias sobre o impacto da epidemia da AIDS, em
meados da década de 1980, sobre o movimento homossexual. Alguns
autores (Facchini, 2005; Machado, 2007) argumentam ter ocorrido, nes-
se contexto, certa desmobilização do movimento homossexual. Outros
autores (Ramos & Carrara, 2006), entretanto, defendem a ocorrência
de um processo de fortalecimento das manifestações sociais através do
fenômeno de onguização, ou seja, a reconiguração de muitos grupos
sociais em organizações não governamentais. De todo modo, o movi-
mento homossexual brasileiro ressurge na década de 1990 e se forta-
lece por diferentes atores sociais, vinculados a universidades, políicas
públicas, paridos políicos, associações cieníicas e proissionais. Em
1995, fundou-se a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgê-
neros (ABGLT), com o objeivo de implementar políicas de direitos
homossexuais no País. Destaca-se ainda a primeira Parada do Orgulho
LGBT em São Paulo. Assim, a saúde e os direitos humanos foram inter-
locutores fundamentais nesse contexto. À medida que as ações políi-
cas de prevenção e controle da AIDS/DST se efeivaram, percebeu-se a
migração dessas lutas para o enfrentamento à violência homofóbica,
contribuindo para a aproximação com a área dos direitos humanos (Fac-
chini, 2005).
Em 2004, no âmbito governamental, ocorre um avanço nas con-
quistas dos direitos LGBT, devido às pressões dos movimentos sociais
para que o Estado se posicionasse formalmente e garanisse ações na
área dos direitos LGBT. Foi então criado, a parir de uma parceria ten-
104
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
105
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
106
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
importantes para uma cultura do que para outra, então não existe univer-
salidade. Enim, o autor traz discussões perinentes aos desaios para os
direitos humanos, defendendo a ideia de que tais direitos deveriam ser
em primeiro lugar direitos culturais, ultrapassando uma perspeciva lega-
lista. Por isso, ideniicar os direitos humanos implica dizer quem são esses
sujeitos de direitos. Tais críicas se concatenam aos contributos de Arendt
(2004) e B. S. Santos (2010), e permitem concluir que as desigualdades
econômicas e culturais também deinem o estar fora do Estado, já que
a globalização econômica tem conduzido a subalternização de sujeitos e
grupos minoritários.
A importância da universalidade contextualizada é ressaltada por
Shivji (2006). A formação hegemônica dos direitos humanos pertence
aos indivíduos, à ilosoia liberal e à perspeciva ocidental. Os direitos hu-
manos são uma ideologia europeia e americana que invisibiliza as desi-
gualdades, pela airmação absoluta da igualdade que gera opressão. Ao
reconceitualizar tais direitos por meio da autodeterminação dos povos,
construindo assim uma luta contra-hegemônica, tal perspeciva críica so-
bre o colonialismo desaia os limites do universalismo e enfaiza a cultura
de direitos humanos, para além dos direitos já legalizados.
An-Na’im (2002) avança nesse debate, ao trazer a discussão de que
é possível considerar os direitos humanos sem o Estado, mas a parir dos
grupos, das redes sociais e da sociedade. O autor faz um contraponto ao
universalismo pelo relaivismo cultural. No entanto, o debate com ênfase
na cultura pode obscurecer as relações de poder. Já B. S. Santos (2001)
aborda uma concepção mulicultural dos direitos humanos a parir das
tensões dialéicas da modernidade ocidental. Os direitos humanos só con-
seguirão abarcar as diferentes lutas quando for possível realizar um diá-
logo entre universos diferentes que possam ser mutuamente traduzidos.
As propostas apresentadas ideniicam o caráter críico e políico
dos direitos humanos, e a importância de saber quem declara os direi-
tos humanos, pois eles são antes de tudo um sistema de representação,
de reconhecimento, enim, uma questão políica. A maior contribuição
desses autores consiste na importância dada ao alargamento dos atores
sociais. B. S. Santos (2008) argumenta que fazer esse exercício exige a
compreensão das três principais tensões da sociedade atual: (a) a tensão
entre regulação social e emancipação social, (b) a tensão das contradi-
107
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
108
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
109
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
110
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
111
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
112
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
113
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
114
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
115
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
116
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
117
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
sos necessários. Mas não podemos deixar de destacar que esse cenário
burocráico é marcado por correlações de força e poder, conlitos ideoló-
gicos e escassez inanceira. Assim, uma desariculação entre os processos
de formulação e implementação pode conduzir a fragmentação, centra-
lização e equívocos nas ações políicas. Nesse caso, o diálogo constante
entre formuladores e implementadores de políicas públicas é um grande
desaio para sua efeividade (Mello, Avelar, & Maroja, 2012).
A complexidade que envolve a efeivação das políicas públicas vem
da história de sua criação, muitas vezes formulada em contextos autori-
tários, nos quais os indivíduos representam objetos de regulação estatal
e não sujeitos de direitos. Tais políicas sustentam concepções acríicas
sobre dignidade, liberdade e solidariedade. Essa dinâmica se manifesta
também nas demandas por direitos sexuais mediados pelos direitos so-
ciais no Brasil (Nardi, Reis, & Machado, 2012). Por isso, a relação entre
poder público e movimentos sociais apresenta semelhanças com a re-
lação entre a regulação e a emancipação, exisindo uma linha tênue se
não for bem conduzida. Da mesma forma que a relação entre os direitos
humanos e os direitos especíicos, numa vertente emancipatória, pode
equivaler à pressão social, e numa vertente regulatória resulta em pa-
drões comportamentais estritos (A. C. Santos, 2004).
O universal é um paricular que em algum momento se tornou do-
minante. Isso pode ser constatado pela muliplicidade de lutas políicas
surgidas a parir da década de 1990, tanto no Brasil quanto em Portugal,
onde questões paricularistas entre movimentos LGBT, feministas, negros
e outros, disputavam agendas políicas por demandas sociais especíicas,
e as agendas universalistas foram deixadas de lado. O apelo ao puro par-
icularismo ou ao puro universalismo se tornaram lutas autodestruivas,
pois não se pode airmar uma idenidade sem disingui-la de um contex-
to, e nessa disinção se airma esse próprio contexto (Laclau, 2011).
Há uma contradição inerente a todas as formas de oposição rígida,
o que convida a uma análise de tradução da relação entre o universal e o
paricular. Nos momentos em que os atores sociais LGBT podem realizar
o universal, a parir de suas ações políicas, isso ocorre porque consegui-
ram superar a própria forma de dominação, mantendo uma permanente
assimetria entre o universal e o paricular, garanindo assim o alarga-
mento das lutas democráicas.
118
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
119
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
120
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
121
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
122
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Considerações inais
123
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
nica, existe, em meio a tudo isso, uma linha tênue entre o que pode
ser emancipatório ou regulatório. Contextualizando essa discussão in-
tercultural dos direitos humanos para a questão dos direitos humanos
LGBT, constata-se também que a condição de universalidade é, em si
mesma, não universal. Se, por um lado, há uma lógica de opressão que
perpassa as minorias sociais, e por isso os direitos humanos se airmam
como necessidade em um eixo uniicador das lutas sociais, por outro
essa airmação precisa ocorrer como uma forma de estratégia políica.
Ou seja, uma estratégia possível de ser a todo tempo (des)construí-
da e (re)inventada de maneira a melhor alcançar as especiicidades e
paricularidades dos grupos sociais (e seus sujeitos) envolvidos nesse
processo.
Os efeitos produzidos nas tensões e diálogos entre as perspecivas
universalistas e paricularistas, nos contextos em que tais conlitos se
apresentam de forma regulatória ou emancipatória, podem ser agora
sistemaizados a parir da tradução das experiências de Belo Horizonte
e Lisboa na construção da políica de direitos humanos LGBT, tais como:
- Conlitos permanentes: Peril dos proissionais para o atendi-
mento das pessoas LGBT; Descentralização do poder; Despoliização na
compreensão das prioridades políicas; Interesses privados e rivalidades
paridárias; Falta de laicidade do Estado; Retrocessos causados pelas
mudanças de governo; Redistribuição de verbas e Seleções em editais.
- Diálogos tensionados: Criminalização da homofobia; Conheci-
mento e interesse do Governo sobre as demandas dos Movimentos So-
ciais e deles sobre as ações políicas governamentais.
- Reconigurações: Cultura políica do poder público e do Movi-
mento Social; Peril idenitário dos atores sociais; Confusão de papéis e
funções dos diferentes atores sociais.
- Alargamentos (regulação e emancipação): Paricipação da popu-
lação da cidade nas ações políicas; Práicas universalistas abstratas x
demandas paricularistas dispersas; Visibilidade da relação direitos hu-
manos, direitos sexuais e direitos LGBT; Demandas dos Movimentos So-
ciais para criação de políicas especíicas; Resistência dos Movimentos
Sociais LGBT, frente às parcerias do poder público com pesquisadores;
Paricipação dos grupos LGBT nas ações do Estado; Diálogos entre gover-
124
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
125
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
126
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Referências
127
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
128
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
129
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Introdução
130
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
131
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
mos que a escola tem lugar privilegiado na subjeivação dos mais jovens.
Se considerarmos a educação infanil, o ensino fundamental e o ensino
médio, falamos de um percurso que, no Brasil, dura cerca de dezoito anos,
e nesse processo os corpos são profundamente marcados e produzidos
pelo e no discurso escolar.
No que diz respeito ao manejo da sexualidade de seus alunos, a fun-
ção da escola revela-se ambígua, pois, ao mesmo tempo em que busca
produzir sujeitos em acordo com a heteronormaividade, busca também
preservar uma suposta inocência infanil, controlando e até reprimindo
as manifestações de sua sexualidade e as experiências sexuais que pos-
sam ocorrer no espaço escolar. Em seu estudo sobre a história social da
infância, Ariès (2006) destaca que, a parir do século XV, a escola passou
a ser o lugar de referência da educação, isolando cada vez mais os jovens
e as crianças durante o período de formação intelectual e moral, como
uma forma de “adestrá-los”, como diz o autor. Segundo Ariès, a parir do
século XV, a escola inicia uma grande mudança na forma de entender e
cuidar das crianças na Europa, e é somente no século XVII que essa mu-
dança se consolida, estendendo-se à sociedade de maneira geral. A noção
de inocência infanil se impõe, e surge uma grande preocupação com a
corrupção sexual das crianças. Para evitar que elas ivessem sua inocência
corrompida, realiza-se uma modiicação dos hábitos da educação: vigilân-
cia sobre a literatura a que elas podem ter acesso, sobre suas ações e rela-
ções, e sobre os comportamentos dos adultos para com elas. Importante
destacar que, quando Ariès (2006) trata da formação das crianças e jovens
pela escola, ele se refere a meninos, pois como ele mesmo aponta, as me-
ninas só serão objeto de preocupação dos educadores dois séculos mais
tarde, quando surgem insituições especíicas para seu ensino.
A descrição do espaço escolar dada por Ariès nos mostra como a
escola moderna esteve compromeida com o acompanhamento do de-
senvolvimento da sexualidade infanil, e concomitantemente postulava
a importância da preservação de sua inocência. A escola moderna surge
como espaço de vigilância e enquadramento não só das crianças, mas
também dos jovens, aproximando-os mais da incapacidade da infância
do que da maioridade. Louro (2010) comparilha dessa perspeciva, apre-
sentando a escola como um disposiivo com uma função paradoxal em
relação à sexualidade. Ao mesmo tempo que teria como objeivo preser-
132
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
133
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
nidas, como é o caso das relações entre homens e mulheres, em que estas
têm sido historicamente deinidas em função daqueles.
Os autores acima nos mostram como são diversos os discursos que
incidem sobre corpos e idenidades, bem como são diversos os corpos e
as idenidades sexuais produzidos pelos discursos nas relações de poder.
Louro (2010) acrescenta que, nessa produção, o poder não tem uma re-
lação determinista com o corpo, uma vez que as insituições e os poderes
atuantes sobre os mesmos são discordantes e muitas vezes antagônicos.
Além disso, os sujeitos não são meros “receptores” do poder, mas agen-
tes, na medida em que estão implicados nas relações que o atualizam.
Quando o sujeito, de alguma maneira, responde ao ser interpelado em
um determinado lugar social, é paricipante aivo na construção de sua
idenidade. Em outras palavras, existem muitas maneiras de se consituir
como sujeito sexuado e generiicado nas relações sociais. Contudo, é im-
portante destacar que tais relações de poder são extremamente desiguais
para os diferentes sexos e corpos que se subjeivam, o que faz com que
as idenidades construídas nesses espaços sejam efeitos das relações de-
siguais aí estabelecidas.
As insituições sociais, entre elas a escola, buscam deinir as formas
apropriadas para regular as aividades corporais dos sujeitos, produzindo
e reforçando uma norma hegemônica – e são os sujeitos, em suas práicas
coidianas, que atualizam e dão corpo a essas normas. Nesse senido, é
interessante retomar Foucault, quando aponta a importância não só da
fala mas também dos silêncios nos discursos e nos efeitos que produzem.
Não se deve fazer a divisão binária entre o que se diz e o que não se diz; é
preciso tentar determinar as diferentes maneiras de não dizer, como são
distribuídos os que podem e os que não podem falar, que ipo de discurso
é autorizado ou que forma de discrição é exigida a uns e outros. Não exis-
te um só, mas muitos silêncios, e são parte integrante das estratégias que
apoiam e atravessam os discursos. (Foucault, 1988, pp. 33-34)
134
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
135
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
algo “natural”. Nesse senido, Weeks (2010) airma que uma norma “não
necessita de uma deinição explícita, ela se torna o quadro da referência
que é tomado como dado para o modo de pensarmos, ela é parte do ar
que respiramos” (p. 62). Os sujeitos são sempre analisados, interpelados
e posicionados em função dessa norma, e as formas de expressão que
desviam dela são sempre entendidas como anormais. No estudo realiza-
do por Sefner (2013) sobre as políicas públicas voltadas à sexualidade
e ao combate à homofobia nas escolas, podemos perceber como as nor-
mas podem estar presentes e regular nossas práicas mesmo que não
se esteja falando diretamente delas. O autor chama a atenção para os
esforços que a sociedade e a escola, em paricular, têm feito no senido
de contribuir para a aceitação da diversidade. Para o autor, tais esforços
acabam reforçando a heteronormaividade, na medida em que permane-
cem falando somente sobre os comportamentos sexuais que desviam da
heteronormaividade, no intuito de encontrar suas causas, e promover
uma tolerância e aceitação da diversidade. Eles acabam mantendo o foco
somente nas expressões sexuais que desviam da norma, o que contribui
para o não quesionamento das relações de poder que determinam e
sustentam os lugares de normalidade e anormalidade. Ao não produzir-
mos discursos sobre a norma, contribuímos para que ela permaneça na-
turalizada, sem ser quesionada.
Ressaltamos que a existência de uma diversidade de práicas, com-
portamentos, desejos e idenidades sexuais por si só já nega a norma
heterossexual como natural e sinaliza a sua marca cultural. Tal como nos
diz Louro (2010), a possibilidade de exisirem outras formas de expressão
sexual, que não a hetero, denuncia que ela tem um caráter cultural, que
é produzida socialmente. Na tentaiva de sustentar a naturalidade e ixi-
dez das idenidades sexuais, busca-se eliminar aquele que atesta o seu
caráter cultural e mutável, aquele que ao vivenciar sua sexualidade em
desacordo com a norma heterossexual denuncia a norma como apenas
uma das possibilidades.
Se entendermos que a sexualidade e os corpos não são naturais,
mas forjados no interior de relações de poder, em meio ao jogo de for-
ças no qual estão presentes especialistas da medicina, da Psicologia, da
Escola, do Estado e da Igreja, torna-se possível problemaizar os saberes
e práicas que atuam na sexualidade das crianças no contexto escolar,
136
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
137
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
tos reproduivos do corpo. Ou, então, em sua dimensão moral, pelas proi-
bições que a escola transmite aos alunos e nas condenações feitas por
parte das e dos educadores às práicas de crianças e jovens. Em ambos
os casos, a transmissão dos conteúdos formais e disciplinares sustenta e
reforça a norma heterossexual. Em nossa pesquisa, observamos que as/
os estudantes não costumam encontrar espaço na grade curricular para
conversar sobre sexo, e que muitos professores airmam não se senirem
preparados/as para lidar com as questões sexuais emergentes em sala de
aula. Nas escolas pesquisadas, ao saber das oicinas, as e os professores
solicitavam a paricipação de algumas/uns estudantes, jusiicando que
estavam com “a sexualidade muito alorada”. Em relação às garotas, a de-
manda se referia a uma suposta precocidade sexual, ao receio de que elas
engravidassem e à necessidade de repressão de comportamentos consi-
derados imorais. Já no caso dos garotos, a demanda da escola se relacio-
nava à necessidade de que eles aprendessem a “controlar os impulsos” e
o desejo sexual, e à preocupação com a feminização dos comportamentos
de alguns estudantes, o que geraria, segundo as/os professores, conlitos
com os colegas.
138
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
139
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
140
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
141
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
142
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
143
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
144
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
145
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
146
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
147
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Considerações inais
148
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
149
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Referências
Ariès, P. (2006). História social da família e da criança (2ª ed.). Rio de Janeiro:
LTC.
Butler, J. (1990). Gender trouble: Feminism and the subversion of idenity.
New York: Routledge.
Butler, J. (1993). Bodies that mater: On the discoursive limits of “sex”. New
York: Routledge.
Foucault, M. (1988). História da sexualidade I: A vontade de saber. Rio de Ja-
neiro: Graal.
Louro, G. L. (Org.). (2010). O corpo educado: pedagogias da sexualidade (3ª
ed.). Belo Horizonte: Autênica.
Louro, G. L. (2011). Gênero, sexualidade e educação. Uma perspeciva pós-
-estruturalista (12ª ed.). Petrópolis, RJ: Vozes.
Laqueur, T. (2001). Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Rio
de Janeiro: Relume Dumará.
Sefner, F. (2013). Sigam-me os bons: apuros e alições nos enfrentamentos ao
regime da heteronormaividade no espaço escolar. Educação e Pesquisa,
39(1), 145-159.
Souza, E. R. (2006). Marcadores sociais da diferença e infância: relações de
poder no contexto escolar. Cadernos Pagu, 26, 169-199.
Vianna, C. & Finco, D. (2009). Meninos e meninas na educação infanil: uma
questão de gênero e poder. Cadernos Pagu, 33, 265-283.
Weeks, J. (2010). O corpo e a sexualidade. In G. L. Louro (Org.), O corpo edu-
cado: pedagogias da sexualidade (3ª ed., pp. 35-82). Belo Horizonte: Au-
tênica.
150
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Introdução
151
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
152
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
153
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
154
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
155
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
156
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
157
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
158
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
159
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
mas as crianças são trans lá, e eles tem que lidar com as crianças trans,
então o GDE faz senido. (coordenação GDE 2012)
Qual o projeto que a gente está tentando vender para eles de como deve
ser uma mulher? Estamos mostrando para elas que existem mais coisas
que o casamento, que a luz está para além do casamento? Mas e se não
é assim que funciona ali? Por que a gente desconsidera esta lógica? Toda
mulher deve querer entrar para a academia e ser uma mulher indepen-
dente? (tutor/a 2012)
160
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
161
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
162
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Reinventando/Respeitando o local
163
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
de abordar essa possibilidade que, por vezes, parece uma tarefa diícil,
mas que deve ser enfrentada se buscamos o respeito às singularidades e
à aprendizagem mútua. A tarefa de ensinar se conigura como uma expe-
riência passível de atualização a cada momento. A cada encontro, nossas
escolhas e estratégias vão constelando respeitos e desrespeitos e assim
recriam ou reairmam verdades e senidos.
Referências
164
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
165
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Considerações iniciais
166
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
167
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
168
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
169
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
170
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
171
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
172
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
173
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
174
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
175
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
tem que conseguir ‘fazer valer’” (Mello, Avelar, & Maroja, 2012, p.
292).
Frente ao exposto até agora, isto é, constatado o número expres-
sivo (em quantidade e importância) de planos e programas voltados
à Diversidade Sexual, indagamos quais os possíveis desdobramentos
desses planos e programas nos projetos pedagógicos dos cursos de
graduação brasileiros e, especificamente, no Curso de Psicologia? E
ainda mais, que efeitos essa “ausência” produz nos sujeitos inseridos
em processos formais de Educação, como isso reverbera nas chamadas
“práticas psi”? Por fim, qual o nosso papel, como agentes desse pro-
cesso formativo?
Talvez seja o caso de nos uilizarmos do enfoque da teoria queer
para provocarmos mais quesionamentos no campo da Psicologia, da
Educação... No entender de Louro (2001, p. 549), a teoria queer permi-
te pensar a “ambigüidade, a muliplicidade e a luidez das idenidades
sexuais e de gênero mas, além disso, também sugere novas formas de
pensar a cultura, o conhecimento, o poder e a educação”. A mesma
autora, a respeito de uma “pedagogia queer”, nos informa a respeito
dessa (im)possibilidade na Educação:
Uma pedagogia e um currículo queer se disinguiriam de programas mul-
iculturais bem intencionados, onde as diferenças (de gênero, sexuais ou
étnicas) são toleradas ou são apreciadas como curiosidades exóicas. Uma
pedagogia e um currículo queer estariam voltados para o processo de
produção das diferenças e trabalhariam, centralmente, com a instabili-
dade e a precariedade de todas as idenidades. Ao colocar em discussão
as formas como o ‘outro’ é consituído, levariam a quesionar as estreitas
relações do eu com o outro. A diferença deixaria de estar lá fora, do outro
lado, alheia ao sujeito, e seria compreendida como indispensável para a
existência do próprio sujeito: ela estaria dentro, integrando e consituin-
do o eu. A diferença deixaria de estar ausente para estar presente: fazen-
do senido, assombrando e desestabilizando o sujeito. Ao se dirigir para
os processos que produzem as diferenças, o currículo passaria a exigir que
se prestasse atenção ao jogo políico aí implicado: em vez de meramente
contemplar uma sociedade plural, seria imprescindível dar-se conta das
disputas, dos conlitos e das negociações consituivos das posições que
os sujeitos ocupam. (Louro, 2001, p. 550)
176
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
177
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
178
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
179
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
180
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
181
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Por im, nos aliamos a Rocha (2006, p. 174), ao airmar que na “inter-
venção a expectaiva está vinculada à muliplicação de questões que nos
permitem explorar outros caminhos com a comunidade envolvida. Este é o
nosso índice de movimento”. Essa é a potência de nossa experiência.
Referências
182
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
183
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Não imagine que seja preciso ser triste para ser militante, mesmo que
a coisa que se combata seja abominável. É a ligação do desejo com a
realidade (e não sua fuga, nas formas da representação) que possui
uma força revolucionária. (Foucault, 1991, p. 82)
Introdução
184
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
185
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
186
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
187
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
188
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
uma grande bandeira do arco-íris, que se tornaria uma marca das Paradas
no País. Há ainda, a referência a “I Passeata Gay do Rio de Janeiro”, organi-
zada pelo jornal “Nós por exemplo”, que teve a presença de 200 pessoas,
o apoio de grupos gays (Triângulo Rosa e Dialogay), de uma boate e um
clube, a qual, no entanto, na visão dos organizadores, não teria alcançado
a adesão esperada.
As Paradas inauguram um esilo de atuação políica diferente de
outras manifestações realizadas anteriormente. Pressupunham uma pe-
riodicidade anual, desinando-se especialmente à celebração do “orgu-
lho” e a “visibilidade” das demandas do movimento. Ainda que tenham
adotado como modelo eventos semelhantes ocorridos em outros países,
as Paradas receberam um formato original no Brasil e, a parir de sua
assimilação ao Carnaval, difundiram-se ao longo de várias capitais e ci-
dades do interior. Segundo a Interpride (rede internacional de enidades
organizadoras de paradas), o Brasil é hoje o País com o maior número de
paradas no mundo.
Em Pernambuco, o evento teve sua primeira edição em 2002, na
Av. Conde da Boa Vista, e contou com a paricipação de 5 mil pessoas.
Em 2007, o evento foi transferido para a Avenida Boa Viagem, conhecida
como “o metro quadrado mais caro da cidade” e uma das praias mais
conhecidas do Brasil, o que representou uma vitória por possibilitar a ocu-
pação desse espaço por pessoas LGBTs e de baixa renda, geralmente gue-
iicadas e invisibilizadas na cidade. Tal mudança, negociada com tensão
entre o movimento social e a gestão local, conferiu ao evento um caráter
mais niidamente voltado à visibilidade.
Perspeciva teórico-metodológica
189
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
190
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
191
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
192
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
193
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Resultados e análises
194
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
195
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
196
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
197
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
198
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
199
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
200
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
201
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
202
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
203
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
204
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
205
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Referências
206
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
207
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Introdução
208
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
209
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
210
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
211
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Geral da Organização das Nações Unidas (ONU, 2008) sobre Direitos Hu-
manos, Orientação Sexual e Idenidade de Género e no Relatório sobre
Direitos Humanos e Idenidade de Género elaborado por Thomas Ham-
marberg, Comissário dos Direitos Humanos do Conselho da Europa.
De acordo com estes documentos internacionais, as pessoas transe-
xuais são entendidas como membros da sociedade com plenos direitos e
a sua patologização é considerada como um forte obstáculo ao reconheci-
mento efeivo e ao exercício pleno dos seus direitos fundamentais.
Com efeito, a esterilização forçada ou a realização obrigatória de
outras cirurgias como pré-requisitos para a obtenção do reconhecimento
legal e social violam o direito à integridade ísica. Esta imposição de pro-
cedimentos isicamente invasivos às pessoas transexuais (e.g. as cirurgias)
impede o direito a consituir uma família de forma biológica (Hammar-
berg, 2010). Além disso, os países que obrigam uma pessoa transexual
que esteja legalmente casada com uma pessoa de sexo diferente a divor-
ciar-se – antes que o seu novo sexo seja reconhecido oicialmente – não
cumprem o 3º Princípio de Yogyakarta (Corrêa & Muntarbhorn, 2007).
O 3º Princípio de Yogyakarta refere que todo o ser humano tem di-
reito ao reconhecimento da sua idenidade jurídica. O reconhecimento da
orientação sexual e/ou da idenidade de género que cada pessoa deine
para si mesma é essencial para o desenvolvimento da sua personalidade
e consitui um dos aspetos fundamentais da sua autodeterminação, dig-
nidade e liberdade. Nenhuma pessoa deverá ser obrigada a submeter-se
a procedimentos médicos, incluindo a cirurgia de redesignação sexual, a
esterilização ou a terapia hormonal, como requisito para o reconhecimen-
to legal da sua idenidade. Nenhuma condição, como o casamento, a pa-
rentalidade, deverá impedir o reconhecimento legal da idenidade duma
pessoa. Nenhuma pessoa deverá ser submeida a pressões para ocultar,
suprimir ou negar a sua orientação sexual e/ou idenidade de género (Cor-
rêa & Muntarbhorn, 2007).
O não cumprimento do 3º Principio de Yogyakarta é paricularmente
problemáico nos países que não reconhecem o casamento entre pessoas
do mesmo sexo, potencialmente possibilitado pela mudança de sexo. Na
maioria dos casos, o divórcio forçado vai contra o desejo explícito do casa-
mento, a quem queira permanecer legalmente reconhecido como unidade
familiar, especialmente se têm ilhos/as. O divórcio forçado pode, igual-
212
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
213
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
7
Em Portugal, o diagnósico de perturbação de idenidade de género passou a ser, com a lei
nº 7/2011 de 15 de março – que cria o procedimento de mudança de sexo e de nome próprio
no registo civil e procede à décima séima alteração ao Código do Registo Civil –, um requisito
obrigatório para a alteração de nome e de sexo no registo civil para o tratamento hormonal
e a realização da cirurgia de redesignação sexual (cirurgia de mudança de sexo) (Carvalho,
2010). Se, por um lado, a lei estabelece a possibilidade de a idenidade ser reconhecida en-
quanto direito; por outro, exige que se tenha uma patologia “cieniicamente atestada” para
se ser reconhecido/a (Hammarberg, 2010).
8
“Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei. Ninguém pode
ser privilegiado, beneiciado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer
dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções
políicas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação se-
xual” (Consituição da República Portuguesa, 2005).
214
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
215
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
216
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Referências
217
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
218
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
ORIENTA%C3%87%C3%95ES_SOBRE_IDENTIDADE_DE_G%C3%8ANERO__
C O N C E I TO S _ E _ T E R M O S _ - _ 2 % C 2 % A A _ E d i % C 3 % A 7 % C 3 % A 3 o .
pdf?1355331649
Kaas, H. (2013). O que é e porque precisamos do transfeminismo. In L. Saka-
moto (Org.), A quem pertence o corpo da mulher? Reportagens e Ensaios,
(pp. 103-112). São Paulo: Repórter Brasil.
Kapur, R. (2006). Human Rights in the 21st Century: Take a Walk on the Dark
Side. Sydney Law Review, 28, 664-687.
Lei nº 7, de 15 de março de 2011. (2011). Cria o procedimento de mudança
de sexo e de nome próprio no registo civil e procede à décima séima alte-
ração ao Código do Registo Civil. Lisboa: Diário da Republica, 1ª série – Nº
52, pp. 1450-1451 Acesso em 22 de maio, 2011, em htp://dre.pt/pdf1s-
dip/2011/03/05200/0145001451.pdf
Ley nº 26.743, de 9 de maio de 2012. (2012). Establécese el derecho a la iden-
idade de género de las personas. InfoLEG – Ministerio de Economía y Fi-
nanzas Públicas – Argenina. Acesso em 12 de junho, 2012, em htp://
www.infoleg.gov.ar/infolegInternet/anexos/195000-199999/197860/nor-
ma.htm
Lima, F. (2012). Manifesto por uma euforia de gênero. Acesso em 2 de no-
vembro, 2013, em htp://www.scribd.com/doc/101538843/Manifesto-
-por-uma-Euforia-de-Genero
Miguel, T., Vierge, S., Schafer, I., Ansio, F., Montenegro, J., Antonio, I., & Ba-
novio, M. (2008). Una releción sobre el concepto de género alredor de la
transexualidad. Rev. Asoc. Esp. Neuropsiquiatria, XXVIII(101), 211-226.
Mullally, J. (2009). Review essay Feminist reconstrucions of universalism and
the discourse of human rights. Internaional Journal of Law in Context, 5(1),
87-92.
Organização das Nações Unidas (2008). Declaração nº A/63/635:Direitos hu-
manos, orientação sexual e idenidade de género. Acesso em 23 de julho,
2015, em htp://www.cedsrio.com.br/site/sites/default/iles/conjunta_
onu.pdf
Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. (1966). Ado-
tada pela Resolução n.2.200-A (XXI) da Assembléia Geral das Nações Uni-
das, em 16 de dezembro de 1966 e raiicada pelo Brasil em 24 de janeiro
de 1992. Acesso em 23 de julho, 2015, em htp://bioeicaediplomacia.org/
wp-content/uploads/2013/12/1966-Pacto-Internacional-sobre-os-Direi-
tos-Econ%C3%B3micos-Sociais-e-Culturais.pdf
219
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
220
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
lho/trabalhos/GT%2012/Ana%20L.%20P.%20Schritzmeyer%20-%20
apresenta%C3%A7%C3%A3o%20oral%20-%20GT%2014.pdf
Sennot, S. (2011). Gender Disorder as Gender Oppression: A Transfeminist
Approach to Rethinking the Pathologizaion of Gender Non-Conformity.
Women &Therapy, 34(1-2), 93-113.
Silva, L.F. & Alves, F. (2011). Compreender as racionalidades leigas sobre saú-
de e doença. Physis Revista de Saúde Coleiva, 21(4), 1207-1229.
Suess, M. (2010). Análisis del panorama discursive alrededor de la despato-
logización trans: procesos de transformación de los marcos interpretaivos
en diferentes campos sociales. In M. Missé & G. Coll-Planas (Eds.), El géne-
ro desordenado: críicas en torno a la patologización de la transexualidad
(pp. 29-54). Barcelona: Egales.
Weinberg, G. (1972). Society and the healthy homosexual. New York: St. Mar-
in’s.
Whitle, S. (2006). Foreword. In S. Stryker & S. Whitle (Eds.), The Transgender
Studies Reader (pp. 11-16). New York: Routledge.
221
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Introdução
222
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
sempre tão narrada pelas travesis, nesse caso contada a parir de ou-
tro ângulo, pelo marido. O documentário intenta problemaizar questões
sobre corpo, saúde, vida e morte entre travesis brasileiras ao mostrar a
aividade das bombadeiras, pessoas que se especializam em (clandesina-
mente) injetar silicone líquido no corpo das travesis. Para o argumento
ílmico, os maridos Emanuel e Jorge também são escutados. Ambos re-
latam como conheceram suas esposas, as diiculdades que enfrentaram
junto delas, a revelação de suas relações aos familiares e aos amigos, bem
como o amor por suas mulheres travesis.
Foi uma das primeiras vezes que vimos maridos em cena. Como é
de costume, eles não são o foco do enredo, por isso suas passagens são
rápidas pelo documentário, da mesma forma que suas experiências têm
aparecido em pesquisas acadêmicas sobre travesis e transexuais. Nesse
terreno pouco visitado, citamos Larissa Pelúcio (2005, 2006, 2009), Flávia
Teixeira (2008, 2011) e Magnor Müller (2011, 2012), como alguns dos pes-
quisadores e pesquisadoras brasileiras que, em seus trabalhos, dedicaram
especial atenção aos relacionamentos amorosos das travesis.
Se não foi o documentário que nos fez lançar maior atenção aos
amantes, podemos dizer que nos trouxe imagens mais níidas e conir-
mou nosso interesse por suas vidas ínimas. Vidas que apenas desper-
tam curiosidade quando, em algum momento, já adentramos o espaço
domésico das travesis e as histórias contadas do lado de dentro dos seus
lares nos convidam a imaginar: Quem as deseja? Como as desejam? Que
formas tomam tais desejos?
223
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
224
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
5
O conjunto estéico e corporal das travesis.
6
Injetar silicone líquido no corpo, geralmente nos seios, quadris e nádegas.
7
Marcos Benedei se refere a “universo trans”, “em função de sua propriedade em ampliar
o leque de deinições possíveis no que se refere às possibilidades de ‘transformações do
gênero’. Assim, essa denominação pretende abranger todas as ‘personiicações’ de gênero
polivalente, modiicado ou transformado, não somente aquelas das travesis” (Benedei,
2005, p. 17). Parilhamos o uso desse termo para falar sobre pessoas que experienciam di-
ferentes formas de manifestar os gêneros, estendendo seu uso também para nos referirmos
aos clientes, amantes, maridos, companheiras, além das redes de serviços, proteção e rela-
cionamentos que operam na manutenção dessas corporalidades (Amaral, 2012).
8
Tomamos emprestado o termo da Antropologia para falar da linguagem que é derivada do
campo, que possui função dentro do grupo a que pertence.
225
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
No rastro de ferramentas
226
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
227
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
228
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Joan Scot ao publicar o texto Gênero: uma categoria úil de análise his-
tórica em 1986, e pouco depois, Judith Butler, ao publicar a obra Gender
Trouble em 1990, sublinharam os efeitos conceituais quando desmontada
a equação que torna gênero tão ixo e determinado quanto o sexo, na qual
“não a biologia, mas a cultura se torna o desino” (Butler, 1990/2010, p.
26). Nessa empreitada políica de “desnaturalização” dos gêneros e não
apenas do sexo, Scot (1986/1995) já enfaizava em seu texto que gênero
só existe em micro e macrorrelações de poder. Gênero só pode ser consi-
derado entre sujeitos socialmente consituídos.
Para fomentar essa crítica às teorias feministas pautadas em gê-
nero tão essencialista quanto o sexo, Butler argumenta que a categoria
gênero é móvel e estratégica, um fenômeno inconstante e contextu-
al, que não denotaria um ser substantivo, “mas um ponto relativo de
convergência entre conjuntos específicos de relações, cultural e his-
toricamente convergentes” (Butler, 1990/2010, p. 29). Nesse sentido,
nem mesmo sexo é natural, uma vez que ele é tão discursivo e cultural
quanto o gênero.
Enim, parindo da tese de que sujeitos são produzidos a parir do
desejo, lançamo-nos na empreitada teórica de delirar sobre o desejo,
um dos principais instrumentos da caixa de ferramentas dessa proposta
teórica. Timidamente, arriscamos esboços sobre o desejo e, por isso, o
chamamos de um delirar no mesmo senido experimentado por Marcos
Eduardo Lima (2010), como um desvio da lira. Propomos o afastamento
do sulco aberto pelas signiicações dominantes e seguir a insensatez de
sair da lira (do sulco), por isso de-lirar. Seguem então nossas preliminares
aproximações com o desejo.
229
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
230
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
231
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
232
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
233
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
produz suas zonas habitáveis bem como seus sujeitos. Descolar da relação
conjugal os sujeitos-maridos que habitam tais esferas idas como ínimas,
pariculares, e, dessa forma, privadas nos permite transitar pelas rugas e
linhas de seus encontros com o desejo, em sua relação com o social, com
o éico e o políico.
234
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
235
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
236
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
237
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
O desejo nessa escrita não conclui, não cansa, não cessa. E para não
concluir deixa a pretensão de provocar tensões teóricas que ampliem e
legiimem a importância de se reconhecer a existência dos laços conjugais
no universo trans, e principalmente, de discuir os modos e os efeitos de
se produzir discursos sobre a experiência dos maridos das travesis.
Sugere assim uma inquietação que busque pistas e rastros, sem
deixar de observar e discuir a potência políica que a categoria marido
opera no universo trans. Território que valoriza o poder que exerce ter um
homem “para chamar de seu” mesmo que não seja um laço duradouro
no senido cronológico, ou estável dentro das relações conhecidas/legi-
imadas no campo jurídico, mas como um ipo de relação que possibilita
aos sujeitos se senirem ligados por laços afeivos e desejantes. Encontros
initos e intensos enquanto duram.
Referências
Amaral, M. S. (2012). Essa boneca tem manual: práicas de si, discursos e legit-
imidades na experiência de travesis iniciantes. Dissertação de Mestrado,
Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis.
Áran, M. & Peixoto, C. A. (2007). Subversões do desejo: sobre gênero e subje-
ividade em Judith Butler. Cadernos Pagu, 28, 129-147.
238
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
239
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
240
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
241
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
242
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Introdução
243
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
244
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
245
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Análise
246
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
247
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
parte eram os médicos e os meus pais. Então, dizer ‘não’ ou dizer ‘sim’ era
a mesma coisa. Aquela história ... tu tem duas opções: ou aceita ou aceita.
248
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
situação, porém a relação foi abalada no momento em que ela lhe falou
que teria de fazer um tratamento para engravidar, em função dos medi-
camentos que uilizava.
José também relatou que sua infância foi marcada por muito sofri-
mento gerado pelas fofocas e apelidos que circulavam pela escola. Diz ter
sido alvo de muitas agressões verbais por parte dos colegas que o cha-
mavam de mulherzinha ou, segundo ele, de mulherzinha pra baixo, e que
zombavam do fato de ele não ir ao banheiro junto com os outros meninos.
Airmou que, por medo dos colegas perceberem que urinava sentado, es-
perava até não ter ninguém no banheiro ou, pelo menos, até nenhum
conhecido estar lá para poder ir. Ademais, relata: “Aí, inha que aguentar,
além da pressão médica, a pressão de apelidos, essas coisas…”
Sara, igualmente, nunca revelou a ninguém seu diagnósico, nem
mesmo aos seus amigos mais próximos. Quando quesionada por eles
a respeito de suas idas ao médico, argumentava que se tratava de falta
de hormônio. Bruna diz nunca ter conversado com ninguém acerca das
cirurgias; entretanto, relata que, em alguns momentos, até pensou em
contar para um amigo, mas não o fez porque achou estranho e temeu os
deboches e as fofocas.
Conclui-se, assim, que o argumento biomédico de que as interven-
ções médicas, sobretudo as cirúrgicas, evitariam a “confusão de gênero”, a
vergonha e o esigma (Cabral, 2007, p. 2) não se aplica, de forma geral, aos
casos analisados. Como visto nos relatos, mesmo após terem sido subme-
idos aos protocolos médicos, tais sensações permanecem e, em alguns
casos, exacerbam-se, pois segue pairando uma certa “suspeita” a respeito
de seus corpos, como se a natureza pudesse traí-los e denunciar uma su-
posta dissonância entre o sexo, o gênero e os desejos.
249
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
corpo pode ser entendido como uma “enidade orgânica discreta” (Csor-
das, 2013, p. 292). Em outras palavras, o conceito de corpo - “enidade
material” - deve ser disinguido do de corporeidade, o qual representa a
própria interação, implicância mútua da carne no mundo. Parte-se aqui
de tal ferramenta teórica por considerar que os objeivos desta pesquisa
preveem um afastamento da ideia de corpo biológico enquanto locus de
inscrição e mero instrumento de representação da cultura. Assim, a cor-
poreidade permite pensar o corpo enquanto solo existencial do sujeito e
da cultura, isto é, meio pelo qual, através da experimentação - no presen-
te caso, em nível de sexualidades e afeividades – possibilita às pessoas
intersexuais se engajarem neste “fazer-se humano” (Steil, 2008) 4 em suas
múliplas possibilidades.
A sexualidade, parindo principalmente das elaborações teóricas
de Michel Foucault (1988), é entendida como um disposiivo disciplinar e
biopolíico de caráter histórico que ordena e normaiza os corpos. Neste
senido, os corpos e os prazeres são produzidos neste estar no mundo,
entre outros elementos, pelas disciplinas que compõem o corpo interro-
gador das práicas sexuais, tais como a medicina, a psiquiatria e a jusiça
penal. Isto posto, a sexualidade é compreendida neste trabalho como efei-
to dinâmico, e por vezes contraditório, das relações de poder que atuam
na sociedade, afastando-se dos pressupostos essencialistas que a tomam
como um dado natural.
Ademais, a sexualidade ocidental contemporânea - idealmente he-
terossexual, monogâmica, reproduiva e branca - de acordo com Weeks
(2000), é construída contextualmente a parir de uma série de marcado-
res sociais, tais como a classe, a raça e o gênero. Na esteira dessas proble-
maizações, Judith Butler (2003) uiliza o termo “heteronormaividade”,
a im de caracterizar este regime biopolíico contemporâneo que insitui,
compulsoriamente, a heterossexualidade como norma nas relações sexu-
ais e de parentesco.
O modelo heteronormaivo prevê uma coerência entre sexo, gêne-
ro e desejo. Portanto, os corpos que “escapam” à matriz heteronorma-
iva são vistos como “abjetos”. A abjeção, neste caso, relete aquelas zo-
nas inóspitas da vida social que são densamente habitadas por aqueles
4
Termo reirado do prefácio, escrito pelo antropólogo Carlos Alberto Steil, da edição em lín-
gua portuguesa do livro Corpo/signiicado e cura de Thomas Csordas
250
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
cujas vidas projetam-se para além da coerência prevista por tal padrão.
Nesse senido, corpos, bem como expressões de gênero e da sexualida-
de, que escapam deste modelo são idos como desviantes e, consequen-
temente, tornam-se alvo de disintas formas de discriminação, violação
e violência.
De acordo com as formulações de Monique Wiig (1992), a cate-
goria “sexo” é uma icção políica que funda a sociedade enquanto hete-
rossexual. Isto é, a fabricação de diferenças entre os “sexos” é condição
de existência para um sistema no qual a heterossexualidade é produzida
como insituição natural e historicamente a priori a todas as relações so-
ciais. Segundo a autora:
Esta tendencia a la universalidad iene como consecuencia que el pensa-
miento heterosexual es incapaz de concebir una cultura, una sociedad, en
la que la heterosexualidad no ordenara no sólo todas las relaciones huma-
nas, sino su producción de conceptos al mismo iempo que todos los proce-
sos que escapan a la conciencia. (Wiig, 1992, p. 52)5
251
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
252
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
253
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
254
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
255
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Considerações inais
256
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Referências
257
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Carrillo, J. (2007). Entrevista com Beatriz Preciado. Cadernos Pagu, 28, 375-405.
Csordas, T. J. (2008). Corpo/signiicado/cura. Porto Alegre: Editora UFRGS.
Csordas, T. J. (2013). Fenomenologia cultural corporeidade: agência, diferen-
ça, sexual, e doença. Educação (Porto Alegre), 36(3), 295-305.
Fausto-Sterling, A. (2000). Sexing the Body: Gender Poliics and the Construc-
ion of Sexuality. New York: Basic.
Foucault, M. (1988). A história da sexualidade 1: a vontade de saber. Rio de
Janeiro: Graal.
Karkazis, K. (2008). Fixing Sex: Intersex, Medical Authority and Lived Experi-
ence. Durham, NC: Duke University Press.
Machado, P. S. (2005). “Quimeras” da ciência: estudo antropológico sobre as
representações de proissionais da saúde acionadas em casos de genitália
ambígua. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 20(59), 67-80.
Machado, P. S. (2008). O sexo dos anjos: representações e práicas em torno
do gerenciamento sociomédico e coidiano da intersexualidade. Tese de
Doutorado, Programa de Pós-graduação em Antropologia Social, Universi-
dade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Morland, I. (2009). What can queer theory do for intersex? GLQ: A Journal of
Lesbian and Gay Studies, 15(2), 285-312.
Preciado, B. (2002). Maniiesto contra-sexual. Madrid: Opera Prima.
Preciado, B. (2008). Texto yonqui. Madrid: Espasa Calpe.
Rezende, C. B. & Coelho, M. C. (2010). Antropologia das emoções. Rio de Ja-
neiro: FGV Editora.
Steil, C. A. (2008). Prefácio. In T. J. Csordas, Corpo/signiicado/cura. Porto Ale-
gre: Editora UFRGS.
Weeks, J. (2000). Corpo e a sexualidade. In G. L. Louro (Org.), O corpo educa-
do: pedagogias da sexualidade (pp. 35-83). Belo Horizonte: Autênica.
Wiig, M. (1992). El pensamiento heterosexual y otros ensayos. Madrid: Ega-
les.
258
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Introdução
259
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
260
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
2011), e sua discussão vem sendo impulsionada nos úlimos anos a parir
da ampliação e da conquista de direitos por essa parcela da população.
Júlio Assis Simões e Regina Facchini (2009) consideram que a atuação do
movimento social LGBT brasileiro nas úlimas décadas foi fundamental
para dar visibilidade social e políica a essas pessoas, e que tal processo
levou à conquista de mais espaço na esfera pública, permiindo a criação
de demandas direcionadas ao governo e à sociedade. A criação e a imple-
mentação de políicas públicas, dentre elas a saúde, é um dos relexos da
ampliação de direitos para pessoas LGBT no Brasil.
Nesse tópico, apresentaremos estudos que exploram as relações en-
tre orientação sexual não heterossexual e acesso e uilização dos serviços
de saúde. Alguns desses estudos apontam pistas sobre as especiicidades
apresentadas por travesis e pessoas transexuais para o campo da saúde,
enquanto outros, mesmo que não tratem diretamente desse tema, po-
dem contribuir para as relexões aqui propostas por aricularem questões
de gênero e sexualidade no bojo de suas análises. É importante sinalizar
que, ao uilizarmos estudos sobre a discriminação e o preconceito diri-
gidos a orientações não heterossexuais, não estamos considerando que
travesis ou pessoas transexuais sejam homossexuais. De fato, a maioria
das pessoas com as quais convivemos ao longo do campo da pesquisa se
deine como heterossexual, uma vez que são pessoas que possuem ideni-
dade de gênero feminina (no caso de travesis e mulheres transexuais) ou
masculina (no caso de homens trans) e se relacionam afeiva e sexualmen-
te com pessoas cuja idenidade de gênero é diversa da sua3.
É importante ressaltar, ainda, que uilizaremos estudos tratando da
população LGBT, e não só da população “T” (travesis e transexuais), não
somente em função do volume de produções acadêmicas, mas também
porque as demandas desse grupo por ora contempladas pelo Sistema Úni-
co de Saúde incluem-se na Políica Nacional de Saúde Integral LGBT (Mi-
nistério da Saúde, 2011), não havendo uma políica exclusiva para o grupo
das travesis e pessoas transexuais no SUS4.
3
Idenidade de gênero e orientação sexual são noções disintas: a primeira diz respeito ao
gênero pelo qual a pessoa se reconhece, enquanto a segunda refere-se ao gênero pelo qual
a pessoa se sente atraída (Andrade, 2013; Jesus, 2012).
4
O Processo Transexualizador no SUS (Portaria nº 2803, 2013), embora não seja uma políica
de saúde especíica para a população “T”, é um programa que condensa um conjunto de
ações abarcando (algumas) demandas especíicas desse grupo, como a hormonioterapia e
as tecnologias cirúrgicas de transformação corporal.
261
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
262
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
263
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
264
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
265
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
266
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
267
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
268
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
269
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Sobre essa questão, uma das entrevistadas conta que, nos primeiros
dias de trabalho como servidora da saúde, precisou estabelecer diálogos
com sua equipe para esclarecer “quem ela era”:
É, elas [as colegas da equipe de saúde] quesionam, elas quesionam isso
mesmo, pra elas fazerem um mapeamento de quem é esse ser que tá aqui
dentro, né, ocupando esse espaço enquanto proissional ... Várias questões
começavam a surgir dos diálogos que a gente inha, em paricular, é claro,
sobre o que era transexualidade, o que era travesi... Porque elas conhe-
ciam as travesis. O que era travesi lá pra elas? Era o João, que anda de
salto alto, de cabelão, de barba mal feita e todo mundo chama de João e ele
atende pelo nome de João! E isso é ser travesi. (Entrevistada 06)
270
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
tam como homossexual. Acho que falta conhecimento deles e estudo, acho
que eles inham que estudar isso, ter, sei lá, uma matéria que falasse sobre
isso. (Entrevistada 05)
Eles nem acham que a gente tem... Que existe uma separação ou uma divi-
são, acham que todo mundo é gay, né? (Entrevistada 04)
Só que eu nunca me imaginei gay. Nunca quis ser apontado como gay. (En-
trevistada 01)
271
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
272
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
preixos cis e trans são uilizados para diferenciar compostos que apre-
sentam forma molecular idênica, porém distribuições espaciais atômicas
diferentes. No campo das ciências humanas, os termos cis e trans mantêm
a ideia “mesmo lado/lados opostos”, tendo sido apropriados pelos/as ai-
vistas e acadêmicos/as trans (Serano, 2013) com objeivo de descrever e
marcar as posições que as pessoas ocupam no universo social generiica-
do e sexuado que habitamos.
Uiliza-se o termo “cis” para designar as pessoas que mantêm um
alinhamento entre o sexo designado no nascimento e o gênero a ele re-
ferenciado. Tal alinhamento garante determinados privilégios das pessoas
cis em relação às pessoas trans, já que essas úlimas, ao não manterem
o alinhamento corpo-gênero, ocupam lugares de menor valor na esfera
social. E aí está justamente um dos objeivos de uilizar a marcação cis
X trans: evidenciar as desigualdades a que estão submeidas as pessoas
trans no mundo cisnormaivo em que vivemos.
É importante lembrar que no cenário mundial os/as autores/as e
aivistas trans uilizam o termo cisgênero, para se referir às pessoas que
se ideniicam com o gênero que lhes foi atribuído no nascimento, e trans-
gênero para designar aqueles/as que não mantêm tal ideniicação. No
Brasil, como o termo transgênero não é um consenso, acabamos uili-
zando com mais frequência a denominação transexual ou simplesmente
trans (Jesus, 2012; Serano, 2013). É válido ressaltar ainda que a divisão
cis X trans não deve ser entendida como mais um binarismo presente no
campo do gênero e da sexualidade – embora possa, em alguns momen-
tos, operar dessa forma – mas a questão é desnaturalizar a categoria cis,
desituindo-a da pretensa posição de verdade e/ou de centro a parir da
qual derivam outras formas de existência.
Voltando à discussão dos operadores conceituais, retomamos o
conceito de cissexismo que, na visão de Julia Serano (2013), está ari-
culado à noção de transfobia; para ela, a transfobia se expressa em um
ambiente cissexista. O cissexismo é uma dentre as várias formas de mani-
festação do sexismo. Para Daniel Borrillo (2010, p. 30), sexismo é “a ide-
ologia organizadora das relações entre os sexos”, e historicamente o sexo
masculino vem usufruindo de privilégios em relação ao sexo feminino. A
naturalização das diferenças entre os sexos, algo que Thomas Laqueur
(2001) mostra ao discuir a transição do modelo do isomorismo para o
273
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
274
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
275
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
276
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
277
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
278
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Considerações inais
279
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Referências
Albuquerque, G. A., Garcia, C. L., Alves, M. J. H., Queiroz, C. M. H. T., & Adami,
F. (2013). Homossexualidade e o direito à saúde: um desaio para as políi-
cas públicas de saúde no Brasil. Saúde em Debate, 37(98), 516-524.
Almeida, G. & Murta, D. (2013). Relexões sobre a possibilidade da despatolo-
gização da transexualidade e a necessidade da assistência integral à saúde
de transexuais no Brasil. Sexualidad, Salud y Sociedad, 14, 380-407.
Amorim, S. M. G., Vieira, F. S., & Ana Paula Brancaleoni, A. P. (2013). Percep-
ções acerca da condição de vida e vulnerabilidade à saúde de travesis.
Saúde em Debate, 37(98), 525-535.
Arán, M. & Murta, D. (2009). Do diagnósico de transtorno de idenidade de
gênero às redescrições da experiência da transexualidade: uma relexão
sobre gênero, tecnologia e saúde. Physis, 19(1), 15-41.
280
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Arán, M., Murta, D., & Lionço, T. (2009). Transexualidade e saúde pública no
Brasil. Ciência &. Saúde Coleiva, 14(4), 1141-1149.
Araújo, M. A. L., Galvão M. T. G., Saraiva M. M. M., & Albuquerque A. D. (2006).
Relação usuária-proissional de saúde: experiência de uma mulher homos-
sexual em uma unidade de saúde de referência de Fortaleza. Esc. Anna Nery,
10(2), 323-327. Acesso em 04 de fevereiro, 2014, em htp://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_artext&pid=S1414-81452006000200022&lng=e
n&nrm=iso
Barata, R. B. (2009). Como e porque as desigualdades sociais fazem mal à
saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz.
Bastos, J. L. & Faersteins, E. (2013). Aspectos conceituais e metodológicos das
relações entre discriminação e saúde em estudos epidemiológicos. In S.
Monteiro & W. Villela (Orgs.), Esigma e saúde (pp. 115-134). Rio de Janei-
ro: Fiocruz.
Benedei, M. R. B. (2005). Toda feita: gênero e idenidade no corpo travesi.
Rio de Janeiro: Garamond.
Bento, B. (2006). A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência
transexual. Rio de Janeiro: Garamond.
Borrilo, D. (2010). Homofobia: história e críica de um preconceito. Belo Hori-
zonte: Autenica.
Butler, J. (2003). Problemas de gênero. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
Carrara, S. & Vianna, A. R. B. (2006). “Tá lá o corpo estendido no chão...”: a
violência letal contra travesis no município do Rio de Janeiro. Physis, 16(2),
233-249.
Cerqueira-Santos, E., Calvei, P. U., Rocha, K. B., Moura, A., Barbosa, L. H. &
Hermel, J. (2010). Percepção de usuários gays, lésbicas, bissexuais e trans-
gênero, transexuais e travesis do sistema único de saúde. Revista Intera-
mericana de Psicologia, 44(2), 235-245.
Ferreira, G. G. (2014). Travesis e prisões: a experiência social e a materia-
lidade do sexo e do gênero sob o lusco-fusco do cárcere. Dissertação de
Mestrado, Programa de Pós-graduação em Serviço Social, Poniícia Uni-
versidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Jesus, J. G. (2012). Orientações sobre idenidade de gênero: conceitos e termos.
Brasília, DF: Autor. Acesso em 31 de janeiro, 2014, em htp://www.sertao.
ufg.br/uploads/16/original_ORIENTA%C3%87%C3%95ES_SOBRE_IDEN-
TIDADE_DE_G%C3%8ANERO__CONCEITOS_E_TERMOS_-_2%C2%AA_
Edi%C3%A7%C3%A3o.pdf?1355331649
281
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
282
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
283
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
284
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
285
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
286
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
287
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
288
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
289
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Método
Contexto do estudo
A casa-abrigo insere-se no projeto municipal de proteção especial
chamado Programa Casa-Abrigo para Mulheres, de responsabilidade da
Secretaria de Assistência Social junto ao Centro de Referência Especiali-
zado de Assistência Social (CREAS). O local acolhe mulheres e seus ilhos
menores de idade em situação de violência familiar, garanindo a ambos
sua integridade ísica e psicológica.
A casa-abrigo possui sede própria, funciona em endereço sigiloso
e conta com uma estrutura para abrigar 28 pessoas por dia, sendo sete
290
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
vagas para mulheres e as demais para seus ilhos. Possui sete dormitó-
rios com capacidade para quatro pessoas (cada), três banheiros para as
usuárias e seus/suas ilhos/as, um banheiro para funcionários/as, uma
recepção, uma sala de convivência, uma sala de reuniões, uma sala de ai-
vidades, uma sala para atendimento de serviço social e psicológico, uma
cozinha industrial, uma dispensa, um refeitório, uma lavanderia, uma área
externa com playground e brinquedoteca, além de acomodações para
pessoas com deiciência.
Com relação aos recursos humanos, permanecem no local oito
educadoras sociais, uma coordenadora, uma cozinheira, uma auxiliar de
serviços gerais e um motorista. Conta, ainda, com o atendimento de um
assistente social e duas psicólogas que fazem parte do Programa de Pre-
venção e Combate à Violência Familiar (PPCVF) do município e prestam
atendimento às mulheres e crianças acolhidas na casa-abrigo.
Procedimentos de coleta de dados
A coleta dos dados teve como ponto de parida o Relatório Geral
de Aividades da Casa-abrigo, o qual foi acessado com anuência do co-
ordenador do PPCVF do município em que se realizou o estudo. Cabe
mencionar que as informações que resultaram deste trabalho izeram
parte dos procedimentos de coleta de dados de uma pesquisa maior,
initulada “Violência Familiar: Dinâmica relacional das redes pessoais
signiicaivas de mulheres acolhidas em casa-abrigo”, que foi aprovada
pelo Comitê de Éica em Pesquisas com Seres Humanos, da Universida-
de Federal de Santa Catarina, sob o parecer consubstanciado número
251.240/2013.
Diante disso, no presente estudo foram incluídos os dados referen-
tes aos registros do período de 1º de setembro de 2001 a 31 de dezem-
bro de 2012. As informações uilizadas para o desenvolvimento deste
trabalho referem-se à idade, raça, escolaridade, ocupação, renda, ipo
de violência, ipo de relacionamento com o autor da violência, encami-
nhamento para a casa-abrigo, tempo de permanência e desino após
sair do local.
Foram acessados 672 registros, que se referem ao número de mu-
lheres acolhidas na casa-abrigo no período citado. Os dados foram digi-
tados em uma planilha de Excel, agrupados e transformados em gráicos
291
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
292
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Moivo N %
293
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
294
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Local N %
Secretaria de Assistência Social 280 42
Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher 121 18
Delegacia de Polícia 100 15
Conselho Tutelar 92 14
Abrigo Municipal 43 6
Programa Renda Mínima 8 1
Serviço Jurídico Universitário 4 1
Outros* 24 3
Fonte: Relatório Geral de Aividades da Casa-abrigo
* Os devidos encaminhamentos podem ter ocorrido por meio do Ministério Público, hospitais,
ambulatórios ou qualquer outro órgão público.
295
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
296
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
297
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Idade N %
Menos de 20 anos 49 7
20-29 anos 218 33
30-39 anos 257 38
40-49 anos 117 17
50-59 anos 15 2
60 anos ou mais 13 2
Sem informação 4 1
Fonte: Relatório Geral de Aividades da Casa-abrigo
298
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
299
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
300
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
301
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Período N %
1 a 7 dias 304 45
8 a 15 dias 121 18
16 a 29 dias 95 14
30 a 59 dias 97 15
60 dias ou mais 55 8
Fonte: Relatório Geral de Aividades da Casa-abrigo.
302
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
303
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Desino domiciliar N %
Autor da violência 196 30
Familiares 194 29
Sozinhas 103 16
Amigos 8 1
Outros* 158 24
Fonte: Relatório Geral de Aividades da Casa-abrigo
* Mulheres que não retornaram de consultas médicas/odontológicas, que mudaram de cidade, que
foram encaminhadas para outro abrigo ou que não mencionaram seu desino ao se desligar do local.
304
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Considerações inais
305
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
306
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Referências
307
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
308
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
309
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
310
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Autores
Amana Rocha Matos é doutora em Psicologia pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro. Fez Estágio Doutoral no Exterior pela CAPES, na Rutgers
University, EUA. Professora adjunta do Insituto de Psicologia e do Progra-
ma de Pós-Graduação em Psicologia Social, da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro.
E-mail: amanamatos@gmail.com
Andréa Moreira Lima é doutora em Psicologia Social pela Universidade
Federal de Minas Gerais, com período de doutoramento pela CAPES
no Centro de Estudos Sociais-CES/Universidade de Coimbra/Portugal. É
professora da graduação e pós-graduação do Centro Universitário UNA.
E-mail: andrea.m.lima10@gmail.com
Benedito Medrado é doutor em Psicologia Social pela Poniícia Universi-
dade Católica de São Paulo. Realizou pós-doutorado em Antropologia pela
Universidade Federal do Pará e em Psicologia social pela Universidad Au-
tónoma de Barcelona, Espanha. Professor Associado do Departamento de
Psicologia e do Programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade
Federal de Pernambuco.
E-mail: beneditomedrado@gmail.com
Bruno Simões Gonçalves é doutorando em Serviço Social pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo.
E-mail: brunosim7@yahoo.com.br
Camila Guaranha é mestre em Psicologia Social e Insitucional pela Univer-
sidade Federal do Rio Grande do Sul.
E-mail: camilaguaranha@gmail.com
Carmen Leonina Ojeda Ocampo Moré é doutora em Psicologia pela Poni-
ícia Universidade Católica de São Paulo e pós-doutora em Psicologia Social
pela Universitat Autonòma de Barcelona, Espanha. É Professora do Depar-
tamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina.
E-mail: carmen.more@ufsc.br
311
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
312
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
313
Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Organizadores
314
Coleção Práicas sociais, políicas públicas e direitos humanos
Coordenadoras da Coleção
315