FCM para Reequilíbrios Econômicos-Financeiros
FCM para Reequilíbrios Econômicos-Financeiros
FCM para Reequilíbrios Econômicos-Financeiros
ISSN: 2178-9010
DOI: http://doi.org/10.7769/gesec.v14i8.2540
Resumo
O presente artigo aborda a preferência atual pelo Fluxo de Caixa Marginal como método de
cálculo de reequilíbrio econômico-financeiro nas concessões recentes no Brasil, e como este
método tem sido tratado pela doutrina, pelos contratos mais recentes e pelo Tribunal de Contas
da União; em alternância ao método existente anteriormente de aplicação da Taxa Interna de
Retorno ao Plano de Negócios dos concessionários para fins de reequilíbrio econômico-
financeiro nestes contratos. Ainda, o ensaio analisa a escolha pelo método do fluxo de caixa
marginal tanto para novos investimentos como para eventos passados destes contratos e sua
implicação no cálculo do reequilíbrio.
Palavras-chave: Reequilíbrio Econômico-Financeiro. Concessões. Fluxo de Caixa Marginal.
Taxa Interna de Retorno. Plano de Negócios.
Abstract
This article discusses the current preference for Marginal Cash Flow as a method of
calculating economic-financial rebalancing in recent concessions in Brazil, and how this
method has been addressed by the doctrine, the most recent contracts and the Court of
Auditors of the Union; alternating with the previously existing method of applying the Internal
1
Mestre em Direito Público pela Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV - SP), Tribunal de Contas
do Estado do Paraná (TCE - PR), Rua Jovino do Rosário, 1790, Boa Vista, Curitiba - PR, CEP: 82560-435.
E-mail: eliberal@hotmail.com Orcid: https://orcid.org/0009-0000-3427-426X
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sobre o surgimento e atuação do controle externo
Rate of Return to the Business Plan of the concessionaires for the purpose of economic-
financial rebalancing in these contracts. In addition, the test examines the choice of marginal
cash flow method for both new investments and past events of these contracts and their
involvement in the calculation of rebalancing.
Keywords: Economic and Financial Rebalancing. Concessions. Marginal Cash Flow. Internal
Rate of Return. Business Plan.
Introdução
O Fluxo de Caixa Marginal tem sido utilizado nos contratos de concessões brasileiras
mais recentes para fins de cálculo de reequilíbrios econômico-financeiros tanto em eventos de
novos investimentos como para situações ligadas a outras situações de desequilíbrio no curso
dos contratos.
Sua utilização foi não só saudada como estimulada pela doutrina; tal metodologia
buscou corrigir situações em que o cálculo de reequilíbrios pela taxa interna de retorno do
plano de negócios do projeto causava não só sérias assimetrias regulatórias como desconfortos
em poderes concedentes, usuários e principalmente junto ao controle externo.
Regulamentado para utilização nas concessões rodoviárias federais, com escopo
preciso para os novos investimentos, o Fluxo de Caixa Marginal logo foi alçado para uso
também em outros eventos que não só novos investimentos em outras concessões e PPP´s
Brasil afora.
No entanto, com o passar do tempo e a maturação de alguns projetos de concessão, a
utilização do fluxo de caixa marginal em vários eventos de reequilíbrio trouxe, não só ao
controle externo mas também a própria doutrina, apontamentos de fragilidades no método,
inclusive para novos investimentos; locus onde o método do fluxo de caixa marginal é
aplicado por expressa disposição regulatória.
Com este panorama delineado, este artigo busca analisar esta discussão, em vertentes
tais como a razão de sua festejada inclusão no panorama regulatório de concessões em
confrontação com a taxa interna de retorno do plano de negócios; bem como suas virtudes,
deficiências e maneiras de adequar os reequilíbrios nas concessões.
Para analisar métodos de cálculos de reequilíbrio, o artigo obrigatoriamente passará –
superficialmente, é verdade – por questões tais como o próprio reequilíbrio e condicionantes
financeiras para tomada de decisão. Ao final pretende-se, no curto espaço destinado a este
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ensaio, concluir sobre uma metodologia de cálculo de reequilíbrio que procure estimular as
qualidades de ambos os métodos de cálculo do reequilíbrio econômico-financeiro.
2
A terminologia concessões neste artigo englobará também as PPP´s, já que são modalidades destas a concessão
administrativa e a concessão patrocinada.
3
Maurício Portugal RIBEIRO (2011, p. 108) tem interessante tese no sentido de que a CF em nenhum momento
garante o princípio do equilíbrio econômico-financeiro, já que o que se garante no art. 37, XXI são única e
exclusivamente as condições da proposta, sem possibilidade de alteração/suspensão das obrigações do contrato.
Em sentido contrário: Cristiana FORTINI (2015, p. 290) e também Egon Bockman MOREIRA (2016, p. 339),
para quem o referido artigo constitucional trouxe a sistemática da escola francesa de serviço público a proteger
o núcleo econômico-financeiro da avença.
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Assim, ao particular que arrisca-se num projeto de concessão junto ao poder público,
somam-se outras variáveis que influenciarão sobremaneira o negócio: o tempo, os riscos
envolvidos, o capital a ser investido e, principalmente, o retorno do investimento.
Em relação aos riscos envolvidos, a alocação destes ao poder concedente ou ao
parceiro privado é que definirá as situações em que será necessário recorrer-se ao reequilíbrio
econômico-financeiro (REF). Ocorrendo um risco alocado a outra parte, necessário será no
mais das vezes proceder-se ao REF à parte prejudicada pelo evento.
Com efeito, a alocação detalhada dos riscos é mandatória nas concessões a fim de
maximizar a eficiência econômica do contrato4 e teve expressa previsão legal a partir da Lei
11.079/2004 das PPP´s5.
Ainda no que concerne aos riscos, eles devem ser alocados a quem melhor puder lidar
com eles, ou seja, quem pode prevê-los melhor, reduzindo a chance de que ocorram e, caso
ocorram, tratem-no da maneira menos custosa possível6.
Portanto, o contrato de concessão será tão eficiente economicamente, na proporção em
que consiga remunerar o particular satisfatoriamente, com prestação do serviço público de
qualidade e modicidade tarifária.
Como a concessão é para o parceiro particular um investimento, e cabe ao poder
concedente regular-lhe a atuação, remuneração e condições da prestação do serviço público,
tem-se as bases da análise da desestatização como um verdadeiro projeto financeiro.
4
RIBEIRO, Maurício Portugal (2011, p. 80)
5
GUIMARÃES, Fernando Vernalha. (2015, p. 233)
6
RIBEIRO, Maurício Portugal. idem.
7
Existem várias ferramentas de análise de investimentos que não serão objeto de estudo neste artigo. Somente
para fins de entendimento dos tópicos seguintes, serão apresentados conceitos básicos de Fluxo de Caixa, VPL
e TIR. Para aprofundamento consultar:
SOUZA, Alceu; CLEMENTE, Ademir. Decisões Financeiras e Análise de Investimentos: fundamentos, técnicas
e aplicações. 4. ed. São Paulo:Atlas, 2001.
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8
NÓBREGA, Marcos. Os limites e a aplicação da Taxa Interna de Retorno. Disponível em:
<http://www.direitodoestado.com.br/colunistas/marcos-nobrega/os-limites-e-a-aplicacao-da-taxa-interna-de-
retorno>. Acesso em 31/05/2023.
9
Esta taxa de atratividade pode ser um índice do mercado financeiro (IPCA, IGPM, CDI, etc), um índice de
lucratividade comum no setor, como concessão de rodovias ou um número aleatório que estipula a lucratividade
de outro projeto para o investidor.
10
NÓBREGA, Marcos. Idem.
11
SCHARF, Stéphanie Luíse Pagel; CAGGIANO, Heloísa Conrado. (2016, p. 480).
12
O artigo não se debruçará sobre os diversos tipos de recomposição do EEF, tais como reajuste, revisão,
prorrogação de prazo, aporte de recursos, etc.; nem sobre os mecanismos de cálculo para recomposição do
equilíbrio, tais como o “desconto de reequilíbrio” (Fator D) e o “fluxo de caixa descontado”, se detendo
especificamente sobre os mecanismos de cálculo usados para se determinar o montante da recomposição,
especificamente a TIR no PN e o Fluxo de Caixa Marginal.
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13
RIBEIRO, Maurício Portugal (2011, p. 33).
14
Maurício Portugal Ribeiro (2011, p. 112) e Luiz Fernando Vernalha Guimarães (2016, p. 101)
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baixos investimentos; de modo que nem sempre tal método refletirá o reequilíbrio tal qual
aquele tipo de prestação de serviço demande15.
Essa forma de reequilíbrio – em concessões chamadas de estáticas16 – foi muito
utilizada na primeira etapa do Procrofe17, em meados dos anos noventa quando a União
procedeu as primeiras concessões de rodovias federais. Nesta etapa, como era muito recente
a publicação da Lei 8.987/95, a interpretação de seu artigo 2º, inciso II alocando todos os
riscos ao concessionário trouxe – por força de contrato – o reequilíbrio baseado nos custos da
modelagem, de modo que se configurou extrema ineficiência contratual18. Neste caso
específico, a concessionária passou a ser remunerada praticamente como construtora de obras,
mais como uma contratada ao estilo da Lei 8.666/93 do que um prestador de serviço público
a ser remunerado por isto e pelas tarifas dos usuários.
Mesmo com a crítica – contundente e justa – sobre a ineficiência econômica do uso da
TIR via PN para fins de reequilíbrio, parte da doutrina defende esta sistemática. Para alguns
autores, afora toda a crítica à TIR como único instrumento de medida de rentabilidade19, pode
haver a previsão de reequilíbrios a partir da TIR e do PN, desde que se respeite os limites da
lei, do contrato e, principalmente, da própria alocação de riscos. É dizer, não será qualquer
alteração na rentabilidade fática contratual que propiciará reequilíbrio, este dependerá do
evento que causou esta alteração e da matriz de riscos estabelecida no contrato e na
modelagem: caso seja atribuído a quem não deu causa ao evento e foi prejudicado por ele,
ensejará o reequilíbrio20.
15
REIS, Tarcila; ALVES, Rafael. A flexibilidade da estrutura remuneratória em projetos de concessões e PPPs:
por que a TIR não é sempre solução ? Revista Brasileira de Direito Público – RBDP, Belo Horizonte, ano 15, n.
56, p. 187-209, jan./mar. 2017.
16
Em que pese apareça a idéia na doutrina, o termo foi cunhado a partir de uma manifestação do TCU no Acórdão
2.154/2007-P, quando analisando as concessões da 1ª etapa do Procrofe o órgão de controle manifestou-se sobre
aquele modelo de reequilíbrio.
17
Programa de Concessão de Rodovias Federais, iniciado no início dos anos noventa e com as primeiras
concessões ocorridas logo após a promulgação da Lei de concessões (8.987/95).
18
FREITAS, Rafael Veras de. O equilíbrio econômico-financeiro nas concessões de rodovias R. de Dir. Público
da Economia – RDPE, Belo Horizonte, ano 15, n. 58, p. 199-239, abr./jun. 2017.
19
NÓBREGA, Marcos. Os limites e a aplicação da Taxa Interna de Retorno. Disponível em:
<http://www.direitodoestado.com.br/colunistas/marcos-nobrega/os-limites-e-a-aplicacao-da-taxa-interna-de-
retorno>. Acesso em 31/05/2023.
20
MOREIRA, Egon Bockman; GUZELA, Rafaella Peçanha. Contratos Administrativos de longo prazo,
equilíbrio econômico-financeiro e Taxa Interna de Retorno (TIR). In MOREIRA, Egon Bockman (Coord.).
Contratos administrativos, equilíbrio econômico-financeiro e a taxa interna de retorno: a lógica das concessões
e parcerias público-privadas. Belo Horizonte:Fórum, 2016. p. 337-356.
Da mesma forma José Anacleto Abduch Santos, para quem em PPP´s sob concessão patrocinada o parceiro
privado tem direito à manutenção da TIR prevista contratualmente, sendo que só não haverá recomposição em
razão de algum evento incerto conforme alocação de risco ou por conduta dolosa e culposa do concessionário.
(2016, p. 387).
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Assim, tem-se que grande parte da rejeição a este tipo de reequilíbrio surgiu de uma
concepção equivocada da dinâmica da alocação de riscos em contratos de concessão.
Entretanto, o fato é que o controle externo começou a emitir sinais de desconforto com
as taxas de rentabilidade dos contratos das concessões federais, a ponto do TCU – no Acórdão
2.154/2007-P – ter afirmado categoricamente que “[há] fortes indícios de que as concessões
de rodovias federais atualmente em execução e constantes da 1ª Etapa do Programa de
Concessão Rodoviária Federal estejam desequilibrados econômico-financeiramente,
acarretando sérios prejuízos aos usuários e ao País, com a cobrança de tarifas de pedágio
sobrevalorizadas, o que proporciona lucros extraordinários aos concessionários.” (g. n.)
Este desconforto, marcado pela utilização de um PN estático para fins de reequilíbrio,
reforçado pela decisão do TCU, e aliado à percepção de que concessões com taxas de retorno
se aproximando de 20% poderiam gerar inquietações políticas junto ao mercado e
principalmente aos usuários, levou a Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT, a
considerar outros meios de recomposição do equilíbrio econômico-financeiro.
21
FREITAS, Rafael Veras de. O equilíbrio econômico-financeiro nas concessões de rodovias. Revista de Direito
Público da Economia – RDPE, Belo Horizonte, ano 15, n. 58, p. 199-239, abr./jun. 2017.
22
Idem.
23
Uma boa definição de Fluxo de Caixa Marginal foi dada pelo próprio TCU no Acórdão que confirmou a
metodologia utilizada pela ANTT para reequilíbrio econômico-financeiro. Diz o Acórdão 2.927-49/2011-P: “Tal
metodologia é denominada pela ANTT de ‘Fluxo de Caixa Marginal’ e, sinteticamente, consiste na aplicação
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de um fluxo financeiro próprio a cada evento novo, surgido ao longo da execução contratual, considerando,
isoladamente, os investimentos não previstos no contrato original, tanto em relação às despesas quanto às
receitas adicionais, valores respectivamente denominados pela Agência de ‘receitas marginais’ e ‘dispêndios
marginais’.
Caso esse método seja efetivamente adotado pela ANTT, cada novo investimento aditivado impactará o contrato
original de forma condizente com a realidade econômica na qual ele se insere, mantendo inabalado o fluxo de
caixa previsto no contrato original (fl. 148, item 39).”
24
Art. 2º A metodologia de que trata esta Resolução consiste na recomposição do equilíbrio contratual, na
hipótese de inclusão de obras ou serviços não previstos no Programa de Exploração da Rodovia – PER, que
esteja vigente à época da publicação da Resolução nº 3.651/2011, por meio da adoção de um Fluxo de Caixa
Marginal, projetado em razão do evento que ensejar a recomposição, considerando:
I - os fluxos dos dispêndios marginais resultantes do evento que deu origem à recomposição; e
II - os fluxos das receitas marginais resultantes da recomposição do equilíbrio econômico-financeiro.
25
Contrato 352/2017 ARTESP com a Entrevias S/A; Contrato de PPP por concessão administrativa do Hospital
do Subúrbio de Salvador e Contrato de PPP por concessão administrativa das escolas primárias da Prefeitura
Municipal de Belo Horizonte/MG.
26
RIBEIRO, Maurício Portugal. (2015. p. 181).
No entanto, o referido autor ressalva que não há falar em enriquecimento sem causa na medida em que se o
reequilíbrio está presente no contrato, pactuado pelas partes, a diferença seria resultado da natureza e da própria
estrutura do pactuado .
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determinada pelo órgão regulador/agência, tal qual se deu nos contratos dos aeroportos de
Guarulhos, Brasília e Viracopos27; o que pode aumentar sobremaneira a exposição de
concessionários aos (des)mandos de um órgão regulador ao sabor de conveniências
políticas/regulatórias, o que poderia impactar significativamente os custos de transação, com
prejuízos aos usuários, às empresas ou a ambos28.
Por fim, mesmo para novos investimentos, ainda há questionamentos sobre se o FCM
é mesmo o melhor método a se realizar o reequilíbrio econômico-financeiro. A mesma crítica
utilizada para os eventos pretéritos que gerem reequilíbrios também pode ser utilizada para os
novos investimentos. Com efeito, mesmo para novos investimentos, ao se incrementar
reequilíbrios a aplicação da taxa de desconto – invariavelmente menor do que a taxa de retorno
do projeto – leva a uma diminuição da rentabilidade total do projeto, o que vai – a cada
reequilíbrio – tornando a concessão mais desinteressante para o parceiro privado. E quanto
mais cedo na execução contratual se derem os reequilíbrios – e, como já dito – maior o número
destes reequilíbrios, mais a lucratividade do projeto se aproxima da taxa de desconto do
próprio FCM e, portanto, mais longe da TIR projetada (ou real até o momento) vai ficando o
negócio como um todo, em prejuízo do concessionário.
Mas talvez as críticas mais contundentes ao método do FCM como instrumento para
restaurar equilíbrio econômico-financeiro – mesmo para novos investimentos – tenha vindo
dos órgãos de controle que, paradoxalmente, estimulou sua adoção.
O Posicionamento do TCU
27
RIBEIRO, Maurício Portugal. Erros e acertos no uso do plano de negócios e da metodologia do fluxo de caixa
marginal. Disponível em: < http://www.portugalribeiro.com.br/erros-e-acertos-no-uso-do-plano-de-negocios-e-
da-metodologia-do-fluxo-de-caixa-marginal/>. Acesso em 30/05/2023.
28
GUASCH (2004).
29
RIBEIRO, Maurício Portugal, (2015. p. 166).
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30
“O fator D é um ‘mecanismo preestabelecido e pactuado entre as partes no contrato, visando à manutenção do
seu equilíbrio econômico-financeiro para os casos de descumprimento dos parâmetros de desempenho da frente
de recuperação e manutenção e inexecução e atraso das obras e serviços da frente de ampliação de capacidade e
melhorias e da frente de serviços operacionais, de acordo com os parâmetros técnicos e os parâmetros de
desempenho’ (peça 17, p. 79).”
31
Lote rodoviário que compreende trechos das rodovias BR 101/290/386/448 no Rio Grande do Sul/RS.
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licitação32 na nova obra; ou ainda o chamado estoque de melhorias33 já utilizado pela ANTT
em concessões da terceira etapa do Procrofe.
Assim, como se vê, a crítica não é ao instrumento em si do FCM, e sim quanto à sua
utilização desmedida e tem, invariavelmente como pano de fundo, argumentações tendentes
a estimular uma regulação e fiscalização mais contundentes da agência.
Conclusão
O Fluxo de Caixa Marginal foi inegavelmente uma novidade como instrumento para
cálculo de reequilíbrios econômico-financeiros em contratos de concessão. Sua utilização nas
concessões federais – estimulada pelo TCU e regulamentada pela ANTT – trouxe um novo
panorama para os reequilíbrios nas concessões, que até então estavam em um passo
embrionário tendo em vista a recente publicação da Lei 8.987/95.
Premidos por contratos com altas taxas de retorno, e ainda com uma política
regulatória de alocação de riscos pouco clara e efetiva, a busca por uma nova metodologia de
cálculo de reequilíbrio econômico-financeiro movimentou não só os atores da regulação como
a própria doutrina especializada.
Com esse panorama surge o FCM, em princípio para novos investimentos – no que foi
regulamentado para as concessões rodoviárias federais pela ANTT –, mas com o tempo sendo
utilizado também em outros projetos também para outros eventos de desequilíbrio que não só
novos investimentos.
O passar dos anos e a utilização do método em vários reequilíbrios trouxe a constatação
de que também o FCM tem falhas e incongruências, tanto quando utilizado para reequilíbrios
de novos investimentos quanto de outros eventos. A taxa de desconto, o grande trunfo do
FCM que traz para o momento presente as premissas econômicas do reequilíbrio (e não
taxas/panoramas da época da licitação/modelagem), como são no mais das vezes menores do
que a taxa do projeto, a cada reequilíbrio vai diminuindo a lucratividade do empreendimento
como um todo; a ponto do método aparentemente cumprir a função do reequilíbrio, que é
trazer as partes ao status quo ante, mas diminuindo consideravelmente o interesse do
32
Mesmo o TCU é reticente em relação a esta sistemática, já que a própria ANTT em manifestação no processo
028.343/2017-4 argumentou que obrigar o concessionário a realizar obras não previstas, e ainda com o desconto
da licitação, seria aumentar demasiadamente o risco, ao ponto disto refletir na licitação e onerar o usuário desde
o início da concessão. Tal argumento foi acatado pela decisão.
33
Método que a ANTT previu em alguns contratos de concessão da terceira etapa que consiste num estoque de
novas obras para o período da concessão que o concessionário deve levar em consideração na formação do seu
preço na licitação. Com isso, caso se verifique no curso da concessão a necessidade de construção de uma
passarela, por exemplo, tal obra é feita sem alteração da tarifa com a baixa no respectivo estoque de obras.
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Referências
BRASIL. Lei n˚ 8.666 de 21 de junho de 1993 que regulamenta o art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
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Fluxo de caixa marginal para reequilíbrios econômico-financeiros nas concessões públicas: considerações 12425
sobre o surgimento e atuação do controle externo
BRASIL. Lei n˚ 8.987 de 13 de fevereiro de 1995 que dispõe sobre o regime de concessão e
permissão da prestação de serviços públicos previsto no art. 175 da Constituição
Federal, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Poder Executivo, Brasília, DF, 14 fev.1995 e republicado em 28 set.1998.
BRASIL. Lei nº 11.074, de 12 de setembro de 2011, que Institui normas gerais para licitação
e contratação de parceria público-privada no âmbito da administração pública. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 05
ago.2011 e retificado em 31 dez. 2004.
BRASIL. Tribunal de Contas da União (TCU). Acórdão nº 2.154/2007, Ata 42, Plenário,
Relator Ministro Ubiratan Aguiar, Data da Sessão 10.10.2007.
BRASIL. Tribunal de Contas da União (TCU). Acórdão nº 2.927/2011, Ata 49, Plenário,
Relator Ministro Walton Alencar Rodrigues, Data da Sessão 09.11.2011.
BRASIL. Tribunal de Contas da União (TCU). Acórdão nº 1.174/2018, Ata 18, Plenário,
Relator Ministro Bruno Dantas, Data da Sessão 23.05.2018.
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RIBEIRO, Maurício Portugal. 20 anos da Lei de Concessões. 10 anos da Lei de PPPs. Rio
de Janeiro: Revolução eBook, 2015. P. 181.
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