Guia - Investimento Estrangeiro
Guia - Investimento Estrangeiro
Guia - Investimento Estrangeiro
100 K
50 K
25 K
0 C, 100 M, 100Y, 5K
Cesa – Centro de Estudos nas Sociedades de Advogados
Presidente Nacional
Carlos Roberto Fornes Mateucci
Vice-Presidente Nacional
Carlos José Santos da Silva
Secretário
Rodrigo Garcia
Secretário-Adjunto
Nelson Luiz Baeta Neves Filho
Presidente
Luciano Santos Tavares de Almeida
Diretores
Ermínio Olivi Lucci, Paulo Luis Capelotto e Sérgio Rodrigues Costa
Ficha Técnica
Diretor de Arte: Armando Junior
Coordenação dos trabalhos: José Luis de Salles Freire,
Moira Virginia Huggard-Caine,
Celso de Souza Azzi e Belisário dos Santos Junior
Editor: Francisco Tiago da Rosa
Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica: Mariana Padoan
Impressão: Gráfica Pigma
A parceria do CESA com o Governo do Estado de São Paulo teve início em 1991,
quando foi lançado o projeto de publicação do primeiro Guia. A publicação foi im-
pressa nas versões português e inglês, e distribuída pelo Governo de São Paulo em
todas as oportunidades e eventos oficiais de caráter internacional.
A repercussão do trabalho foi tão positiva que levou o CESA a pensar na sua revisão,
ampliando e melhorando sua estrutura e alcance. A segunda edição foi integralmen-
te assumida pelo CESA para exclusiva distribuição entre seus associados, entidades
de classe e instituições de desenvolvimento e de divulgação do Brasil no exterior.
Desde então, foram diversas atualizações, sempre contando com a colaboração das
sociedades de advogados associadas ao CESA, inclusive uma, especialmente, ela-
borada para atender a solicitação do Departamento de Promoção Comercial do
Ministério das Relações Exteriores, passando, então, a ser distribuído em todos os
eventos internacionais promovidos pelo Ministério.
Com muito orgulho, apresento mais uma edição do GUIA LEGAL PARA O IN-
VESTIDOR ESTRANGEIRO NO BRASIL, preparado e agora revisto pelo CESA –
Centro de Estudos das Sociedades de Advogados, atendendo a pedido do Governo
do Estado de São Paulo.
Geraldo Alckmin
Governador dos Estado de São Paulo
COLABORADORES
CASILLO – ADVOGADOS
Rua Lourenço Pinto, 500,
80010‑160 Curitiba, PR.
Tel: 41 3310‑6800
Fax: 41 3310‑6868
e‑mail: casillo@casilloadvogados.com.br
Internet: www.casilloadvogados.com.br
DEMAREST advogados
Av. Pedroso de Moraes, 1201,
Centro Cultural Ohtake,
05419‑001 São Paulo, SP.
Tel: 11 3356‑1800
Fax: 11 3356‑1700
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FELSBERG, PEDRETTI, MANNRICH E AIDAR
ADVOGADOS E CONSULTORES LEGAIS
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01310‑915 São Paulo, SP.
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Internet: www.felsberg.com.br
GREBLER ADVOGADOS
Av. Álvares Cabral, 1777, 14º andar,
30170‑001 – Belo Horizonte – MG – Brasil
Tel: 31 3261‑1400
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TESS ADVOGADOS
Avenida Brasil, 471,
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Fax: 11 2146‑6001
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VEIRANO ADVOGADOS
Av. Presidente Wilson, 231, 23º andar,
20030‑021 Rio de Janeiro, RJ.
Tel: 21 2282‑1232
Fax: 21 2262‑4247
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Internet: www.veirano.com.br
3. CAPITAL ESTRANGEIRO 41
3.1. Aspectos Gerais
3.2. Registro de Capital Estrangeiro
3.3. Investimentos em Moeda
3.4. Investimentos via Conversão de Créditos Externos
3.5. Investimentos via Importação de Bens sem Cobertura Cambial
3.6. Investimentos no Mercado de Capitais
3.7. Remessa de Lucros
3.8. Reinvestimento de Lucros
3.9. Repatriamento
3.10. Transferência de Investimentos no Exterior
3.11. Restrições para Remessas ao Exterior
3.12. Restrições a Investimentos Estrangeiros
5. TIPOS SOCIETÁRIOS 55
5.1. Aspectos Gerais
5.1.1. Sociedade Anônima
5.1.2. Sociedade Limitada
5.1.3. Regras Comuns às Sociedades Anônimas e às Sociedades Limitadas
5.1.4. Outros Tipos Societários e Formas Associativas
5.1.5. Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI
5.1.6. Sociedade em Comandita simples, ou por ações
5.1.7. Sociedade em Nome Coletivo
5.1.8. Sociedade em Conta de Participação
5.1.9. Consórcio
5.2. Procedimento para Registro
5.2.1. O Registro de Empresas
5.2.2. O Registro Civil de Pessoas Jurídicas
6. COMPANHIAS ABERTAS 67
6.1. Generalidades
6.2. Mercado de Valores Mobiliários
6.3. Administração
6.4. Informações Periódicas e Demais Informações
6.5. Oferta Pública para Aquisição de Ações – OPA
6.6. Ofertas Públicas de Distribuição Primárias e Secundárias
6.7. Segmentos Diferenciados de Listagem na BM&FBOVESPA S.A. –
Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (“BM&FBOVESPA”)
O Poder Legislativo Federal é composto pela Câmara dos Deputados e pelo Sena-
do Federal, que formam o Congresso Nacional. Sua principal responsabilidade é a
elaboração de leis. A Constituição Federal determina que alguns assuntos devam
ser legislados apenas pela União e, portanto, cabe ao Congresso Nacional legislar
sobre Direito Civil, Comercial, Penal, Processual, Eleitoral, Agrário, Marítimo, Ae-
ronáutico, águas, energia, informática, telecomunicações, sistema monetário, segu-
ros, comércio exterior, política nacional de transportes, regime de portos, jazidas,
atividades nucleares, dentre outros.
O Poder Legislativo dos Estados e do Distrito Federal é competente para criar leis
estaduais/distritais e também legislar de forma suplementar sobre, por exemplo,
Direito Tributário, Financeiro, Econômico, produção, consumo, defesa do solo
e dos recursos naturais e responsabilidade por danos ao meio ambiente. Nesses
assuntos, inexistindo lei federal, o Estado tem competência legislativa plena. Já
o Poder Legislativo municipal possui competência apenas para assuntos de inte-
resse local.
As normas legais que compõem o sistema jurídico brasileiro, emanadas tanto dos
Poderes da União, como dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, devem
respeitar os preceitos contidos na Constituição da República, sob pena de inconsti-
tucionalidade. Os atos da administração pública são submetidos a princípios como
da legalidade, moralidade e eficiência. Os atos privados devem seguir os comandos
constitucionais, bem como o Código Civil e demais leis. Todo esse sistema nor-
mativo, portanto, estabelece direitos e deveres, garantindo segurança às relações
jurídicas, bem como proporciona instrumentos para assegurar tais direitos.
29
INSTITUIÇÕES PARA
O DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO
O Decreto‑Lei n.º 200/67 e suas alterações posteriores classificaram
a Administração Federal em Direta e Indireta, constituindo‑se a pri-
meira dos serviços integrados na estrutura administrativa da Presi-
dência da República e dos Ministérios, e a Indireta dos serviços atri-
buídos a pessoas jurídicas diversas da União, públicas (Autarquias e
Fundações) ou privadas (Sociedades de Economia Mista, Empresas
Públicas e Fundações), vinculadas a um Ministério.
Capítulo 2
2.1. Ministérios
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
Cuida dos seguintes assuntos: defesa da ordem jurídica, dos direitos políticos e das
garantias constitucionais; política judiciária; nacionalidade, imigração e estrangei-
ros; entorpecentes; segurança pública; direitos dos índios; Polícias Federais, Ro-
doviária e Ferroviária Federal e do Distrito Federal; planejamento, coordenação e
administração da política penitenciária nacional; defesa da ordem econômica na-
cional e dos direitos do consumidor; ouvidoria geral dos índios e do consumidor;
ouvidoria da Polícia Federal; assistência jurídica, judicial e extrajudicial, integral e
gratuita, aos necessitados (assim considerados em lei); defesa dos bens e dos pró-
prios da União e das entidades integrantes da Administração Pública Federal in-
direta; e ações do Governo visando à repressão ao uso indevido, do tráfico ilícito
e da produção não autorizada de substâncias entorpecentes e drogas que causem
dependência física ou psíquica; coordenação e implementação dos trabalhos de
consolidação dos atos normativos no âmbito do Poder Executivo e prevenção e
repressão à lavagem de dinheiro e cooperação jurídica internacional.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
MINISTÉRIO DA CULTURA
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Agências:
Empresas vinculadas:
São suas atribuições: política das ações relativas ao meio ambiente e aos re-
cursos hídricos; política de preservação, conservação e utilização sustentável
de ecossistemas, biodiversidade e florestas; melhoria da qualidade ambiental e
do uso sustentável dos recursos naturais; política para integração do meio am-
biente e produção; políticas e programas ambientais para a Amazônia Legal e
zoneamento ecológico‑econômico. São entidades vinculadas a este ministério,
entre outras:
MINISTÉRIO DA DEFESA
Tem como atribuições básicas: cuidar da política de defesa nacional; política e es-
tratégia militares; política marítima nacional; administrar e coordenar as Forças
Armadas; política aeronáutica, etc.
MINISTÉRIO DA FAZENDA
MINISTÉRIO DO ESPORTE
MINISTÉRIO DO TURISMO
40
CAPITAL
ESTRANGEIRO
3.1. Aspectos Gerais
Todo investimento estrangeiro deve ser registrado no Banco Central. Tal registro é
essencial para a remessa de lucros ao exterior, o repatriamento de capital e o regis-
tro de reinvestimento de lucros.
O registro do investimento deverá ser feito através do Sistema RDE – IED, pela
empresa brasileira receptora do investimento e/ou pelo representante do investidor
externo, dentro de 30 dias a partir do fechamento do contrato de câmbio.
Para esse registro, entretanto, é necessário que a empresa receptora nacional rece-
ba, do credor e promitente investidor: (i) declaração definindo, precisamente, os
vencimentos das parcelas e respectivos valores a serem convertidos e, no caso de
juros e outros encargos, também o período a que se referem e as taxas e cálculos
empregados; e (ii) declaração irretratável do credor concordando com a conversão.
Para fins de registro no Módulo RDE – IED, os bens, tanto tangíveis quanto intan-
gíveis, devem ser destinados exclusivamente à integralização de capital.
O investidor não residente tem o mesmo registro para operar nos mercados de
renda fixa e variável, podendo migrar livremente de uma aplicação para outra. Para
ter acesso a tais mercados, o investidor estrangeiro deverá constituir representante
no Brasil, que será responsável pelo registro das operações, e obter registro junto à
Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
As remessas relativas a lucros devem ter sua destinação registrada no Módulo RDE
– IED, tendo em vista a participação no total de ações ou quotas que compõem o
44 capital social integralizado da empresa receptora do investimento.
Capítulo 3
3.9. Repatriamento
As remessas de moeda ao exterior podem sofrer restrições sempre que não houver
o correspondente registro no Sistema RDE – IED, uma vez que a remessa de lucros,
o repatriamento de capital e o registro de reinvestimentos baseiam‑se todos no
montante registrado a título de investimento estrangeiro.
(a) Vedações:
1 Referente a lançamento e colocação em órbita de satélites, veículos, aeronaves, entre outras atividades, nas
46 quais não estão incluídas a produção ou comercialização daqueles, ou de seus acessórios.
Capítulo 3
(b) Restrições
• Empresas brasileiras, ainda que sob controle estrangeiro, podem solicitar e obter
permissão para operar no setor de mineração.
47
O REGIME CAMBIAL
BRASILEIRO
O regime cambial consiste na forma de determinação da taxa de câm-
bio de um país. A escolha do regime cambial consiste em uma decisão
de política econômica, e está relacionado com a determinação do mer-
cado de câmbio no qual referida taxa será formada, por exemplo, se em
um mercado de taxas oficiais ou em um mercado de taxas flutuantes.
Apenas na década de 1960 foram editados os dois principais diplomas legais que
tratam do capital estrangeiro e do controle cambial: a Lei n.º 4.131/62 e a Lei n.º
4.595/64.
A Lei n.º 4.131/62 apresenta importantes regras sobre a definição do capital estran-
geiro, as modalidades de investimentos estrangeiros no Brasil e a necessidade do
registro destes investimentos no Banco Central do Brasil (“Banco Central”).
A Lei n.º 4.595/64 apresenta as regras gerais sobre o sistema financeiro e cria o
Conselho Monetário Nacional (“CMN”) e o Banco Central. A partir da edição des-
ta Lei, o controle e a regulamentação do mercado de câmbio passaram a ser exerci-
dos pelo CMN e pelo Banco Central. O CMN é responsável por elaborar a política
cambial geral do Brasil e, de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo CMN, os
controles cambiais, regras que afetem o capital estrangeiro e a gestão das reservas
internacionais brasileiras estão sob a jurisdição do Banco Central.
A Lei n.º 4.131/62 e a Lei n.º 4.595/64 alteraram o panorama legislativo do merca-
do de câmbio e dos investimentos estrangeiros no Brasil e permanecem em vigor,
50 representando diplomas fundamentais para essa matéria.
Capítulo 4
No Brasil, até 1988, o regime cambial em vigor era o regime de taxas oficiais,
no qual referidas taxas eram fixadas pelo próprio governo, e não pela demanda
do mercado. O mercado de câmbio, portanto, era o mercado de câmbio oficial,
inteiramente regulado pelo Banco Central.
O regime de taxas oficiais era um reflexo das sucessivas crises cambiais en-
frentadas pelo Brasil, as quais impuseram ao Governo brasileiro a necessida-
de de estabelecer limites e exigências burocráticas para a aquisição de moeda
estrangeira.
Dessa forma, a partir de 1999 o regime cambial de taxas flutuantes, com mínima
intervenção estatal, tem sido adotado no Brasil.
Art. 8º. As pessoas físicas e jurídicas podem comprar e vender moeda estrangeira ou
52 realizar transferências internacionais em reais, de qualquer natureza, sem limitação
Capítulo 4
Ainda, como resultado da Resolução CMN n.º 3.265/05, o Banco Central editou a
Circular n.º 3.280/05, a qual introduziu o Regulamento do Mercado de Câmbio e
Capitais Internacionais (“RMCCI”). O RMCCI, conforme alterado de tempos em
tempos, é uma prática ferramente sobre a regulamentação cambial brasileira.
54
TIPOS SOCIETÁRIOS
5.1. Aspectos Gerais
direito com patrimônios distintos daqueles de seus sócios e diversos limites de res-
ponsabilidade pelas obrigações sociais.
É importante ressaltar que, com exceção das sociedades anônimas, todos os demais
tipos societários existentes na legislação brasileira podem indistintamente ter a na-
tureza de sociedades simples ou de sociedades empresárias, o que deve, entretanto,
ficar expresso em seu contrato social desde a sua constituição, devendo ser as so-
ciedades simples registradas no Registro Civil de Pessoas Jurídicas e as sociedades
empresárias nas Juntas Comerciais.
A sociedade anônima é identificada por uma denominação, sendo que o nome es-
colhido deve ser precedido ou sucedido pela expressão “Sociedade Anônima”, por
extenso ou abreviadamente (S/A), ou, ainda, anteposto da palavra “Companhia” por
extenso ou abreviado “Cia”. Além disso, pode se empregar na denominação um nome
próprio, do fundador ou de pessoa que se queira homenagear. A denominação pode
indicar os fins sociais, ou o ramo explorado, mas tal indicação não é obrigatória.
Existem duas espécies de sociedades anônimas: a companhia aberta, que capta re-
cursos junto ao público e está sob a fiscalização da Comissão de Valores Mobiliá-
rios; e a companhia fechada que obtém seus recursos entre os próprios acionistas
56 ou subscritores.
Capítulo 5
A sociedade anônima poderá ser administrada por uma Diretoria e por um Con-
selho de Administração, ou só por uma Diretoria, conforme vier a determinar a lei,
ou o Estatuto Social.
O Conselho Fiscal tem por função precípua, a fiscalização das contas e da gestão
sociais. O seu funcionamento poderá ser permanente ou eventual. A sua instala-
ção se prende ao desejo da sociedade de estabelecer um controle mais rigoroso
sobre os atos praticados pela administração. Quando instalado, o Conselho Fiscal 57
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
A sociedade pelo Novo Código Civil passou a ter estrutura orgânica, sendo órgãos
sociais a Reunião de Sócios, a Administração e o Conselho Fiscal todos fixados pe-
los sócios no próprio contrato social. A reunião de sócios (ou assembleia de sócios)
é órgão de deliberação colegiada composto pelo quadro social, que deve se reunir
sempre que a lei ou o contrato assim o exigir. A administração será exercida por
uma ou mais pessoas, quotistas ou não, indicadas no contrato social ou eleitas pela
reunião ou assembleia de quotistas, quando se estabelecerá o prazo, determinado
ou não, do mandato.
A Fusão, por sua vez, é a operação pela qual duas ou mais sociedades se unem,
visando à formação de uma sociedade nova, que sucede as anteriores em todos os
direitos e obrigações, uma vez que são extintas .
A Lei, que inseriu o artigo 980‑A e o parágrafo único do artigo 1.033, ambos do
Código Civil de 2002, prevê a constituição de uma Sociedade Limitada onde uma
única pessoa é titular da totalidade das quotas do capital social, necessariamente
integralizado em montante não inferior a 100 (cem) vezes o maior salário‑mínimo
vigente no País. Aplicam‑se à “empresa individual de responsabilidade limitada”, no
que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas
Sendo assim, só existe uma categoria de sócios: os sócios solidários. Embora solidá-
rios entre si, tais sócios respondem pelas obrigações sociais, de forma subsidiária.
Dessa forma, os seus bens não podem ser executados, a não ser depois de esgotados
os bens da sociedade.
A administração social cabe a todos os sócios, desde que não haja no instrumento
do contrato, designação específica do sócio que irá exercê‑la. Em existindo, este
60 terá o direito de utilizar privativamente a firma ou a razão social.
Capítulo 5
Além do sócio ostensivo, há a categoria formada pelos sócios participantes, que contri-
buem para com o capital ou outro aporte necessário ao empreendimento, obrigando
‑se exclusivamente perante o sócio ostensivo, nos termos do respectivo contrato so-
cial, e desse tornando‑se credores na forma do contrato. Em caso de quebra de sócio
ostensivo, os sócios participantes tornam‑se seus credores quirografários.
5.1.9. Consórcio
No sentido etimológico da palavra, o consórcio significa união, combinação,
associação. Mas no sentido que lhe empresta a legislação sobre sociedades anô- 61
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
Embora se baseie esse tipo de aglutinação em um contrato, ela não se reveste de per-
sonalidade jurídica, razão pela qual as empresas que formam o consórcio somente se
obrigam nas condições previstas no respectivo pacto firmado entre elas, responden-
do cada qual por suas obrigações, sem a presunção de solidariedade, respeitada uma
única exceção residindo nos efeitos da relação de emprego, conforme CLT.
Além das Sociedades Anônimas que o são por força de lei, também as seguin-
tes sociedades: a) Sociedade em Nome Coletivo, b) Sociedade em Comandi-
ta Simples ou por ações e c) Sociedade Limitada serão empresárias, desde que
o seu objeto social contenha atividades consideradas empresariais (atividades
econômicas de produção ou circulação de bens ou serviços realizadas mediante
organização característica de empresa) e, dessa forma, deverão obrigatoriamen-
te arquivar seus atos societários na respectiva Junta Comercial do Estado em
que tiverem a sua sede e foro, assim como naquelas juntas dos Estados em que
vierem a abrir filiais.
• Três vias originais do contrato social rubricadas e assinadas por todos os sócios
e duas testemunhas;
• Traslado ou certidão, quando o contrato social houver sido celebrado por ins-
trumento público;
• Cópias autenticadas dos documentos de identidade dos sócios;
• Procuração outorgada por sócio residente ou sediado no exterior, assinada pe-
64 rante notário público no respectivo país de origem, legalizada perante Consula-
Capítulo 5
65
COMPANHIAS ABERTAS
6.1. Generalidades
tidade autárquica que opera em regime especial, pois, apesar de sua vinculação ao
Ministério da Fazenda, possui autoridade administrativa independente, não sendo
hierarquicamente subordinada a qualquer outro ente, além de ser dotada de auto-
nomia financeira e orçamentária, e de dirigentes com mandato fixo e estabilidade.
Nos últimos anos, a Lei de Sociedades por Ações foi objeto de uma série de peque-
nas reformas societárias, fiscais e contábeis. A Lei nº 11.638/07 e a Lei nº 11.941/09
alteraram a Lei de Sociedades por Ações para adotar novos critérios contábeis de
avaliação de ativos e passivos e de reconhecimento de custos, despesas e receitas,
com o objetivo de permitir a convergência das normas contábeis brasileiras aos
padrões internacionais de contabilidade. Além disso, as referidas leis conferiram à
CVM maior autonomia com relação às normas contábeis, atribuindo à Autarquia
a responsabilidade de expedir normas contábeis, as quais são obrigatórias para as
companhias abertas e opcionais para as companhias fechadas.
A Lei de Sociedades por Ações foi, ainda, alterada recentemente pela Lei nº
12.431/11. Dentre as alterações promovidas pela Lei nº 12.431/11 pode‑se destacar
68 (i) a possibilidade de participação dos acionistas em assembleias gerais à distância;
Capítulo 6
mercado de balcão não organizado, que consiste nas operações realizadas direta-
mente entre as corretoras de valores mobiliários, sem a supervisão de uma entidade
auto‑reguladora.
6.3. Administração
A Lei de Sociedades por Ações confere aos titulares de ações de emissão de companhia
aberta com direito a voto, representativas de, no mínimo, 15% do total das ações com
direito a voto, o direito de eleger e destituir um membro do conselho de administração
(e seu suplente), mediante votação em separado na assembleia geral ordinária.
Outra forma de votação em separado garantida pela Lei de Sociedades por Ações
estabelece que os titulares de ações preferenciais sem direito a voto ou com voto
restrito de emissão de companhia aberta, representativas de, pelo menos, 10% do
capital social, terão o direito de eleger e destituir um membro do conselho de ad-
ministração (e seu suplente), desde que não tenham exercido direito previsto no
estatuto social da companhia de eleger membro do conselho de administração. Em
ambos os casos, para que seja exercido o direito de votação em separado, os mino-
ritários devem comprovar a titularidade ininterrupta das participações societárias
exigidas por um período mínimo de três meses imediatamente anteriores à realiza-
70 ção da assembleia geral para eleição dos conselheiros.
Capítulo 6
Para que as companhias abertas possam negociar seus valores mobiliários no mercado
de balcão e/ou em bolsas de valores, além da obrigatoriedade da existência de um con-
selho de administração, a companhia deverá atribuir a um diretor a função de diretor
de relações com investidores, o qual será o responsável pela prestação de informações
ao público investidor, à CVM e, caso a companhia tenha registro em bolsa de valores
ou em mercado de balcão organizado, a estas entidades, bem como a manter atualiza-
do o registro de companhia, conforme determina a Instrução CVM nº 480/09.
Uma vez concedido o registro de companhia aberta, a sociedade que obtiver este re-
gistro deverá prestar informações periódicas e eventuais à CVM, por meio de sistema
eletrônico disponível na página da CVM na internet (Instrução CVM nº 480/09).
• formulário cadastral
• formulário de referência;
• demonstrações financeiras;
• formulário de demonstrações financeiras padronizadas – DFP;
• edital de convocação da assembleia geral ordinária;
• todos os documentos necessários ao exercício do direito de voto nas assembleias
gerais ordinárias;
• sumário das decisões tomadas na assembleia geral ordinária;
• ata da assembleia geral ordinária; e
72 • formulário de Informações Trimestrais – ITR.
Capítulo 6
Os itens (i), (ii), (viii), (xii), (xvi), (xvii), (xviii) e (xx) a (xxviii) são também aplicá-
veis aos emissores registrados na categoria B.
Ao mesmo tempo em que a CVM editou a Instrução CVM nº 480/09 que, como
já se disse acima, detalhou as informações a serem prestadas pelos emissores de
valores mobiliários, editou também a Instrução CVM nº 481/09, a qual alargou
ainda mais a quantidade e qualidade de informações de divulgação obrigatória pe-
las companhias abertas, conferindo ao investidor mais elementos para instruir seu
direito de voto nas assembleias gerais.
Nesse sentido, por meio da Instrução CVM nº 481/09, a CVM passou a exigir que
as companhias abertas, quando da convocação de assembleias gerais, divulguem
informações detalhadas sobre as matérias a serem deliberadas na assembleia geral
em questão, informações essas que se encontram expressas na referida Instrução e
variam de acordo com a matéria a ser deliberada na assembleia, como, por exem-
plo, informações relativas a aumento e redução de capital, emissão de debêntures,
aquisição de controle e direito de recesso. 73
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
Alguns exemplos de ato ou fato potencialmente relevantes são indicados pela pró-
pria Instrução CVM nº 358/02:
Sempre que entender necessário, a CVM poderá determinar que se faça a divulga-
ção, correção, aditamento ou republicação de informações sobre ato ou fato rele-
74 vante referente à companhia aberta.
Capítulo 6
A CVM deverá, ainda, estar sempre informada a respeito dos dados cadastrais da
companhia e de qualquer modificação havida nos mesmos.
Outro ponto que merece especial atenção consiste no fato de que, as publicações
de informações exigidas das companhias abertas, deverão ser realizadas sempre
no órgão oficial da União ou do Estado ou do Distrito Federal, conforme o lugar
em que esteja situada a companhia e em jornal de grande circulação, editado na
localidade em que está situada a sede da companhia. Para todas as publicações, a
companhia deverá utilizar sempre o mesmo jornal, devendo qualquer mudança no
jornal de publicação ser precedida de aviso aos acionistas no extrato da assembleia
geral ordinária.
(ii) OPA por aumento de participação, a qual deverá ser realizada em consequ-
ência de aumento da participação do acionista controlador no capital social,
à porcentagem que, de acordo com as normas da CVM, impeça a liquidez de
mercado das ações remanescentes, tendo por objetivo adquirir todas as ações
de emissão da companhia, que sejam da classe ou espécie afetadas (art. 4º,
§6º, da Lei de Sociedades por Ações e Instrução CVM nº 361/02); e
(iii) OPA por alienação de controle, a qual constitui condição de eficácia de negó-
cio jurídico de alienação, direta ou indireta, de controle de companhia aberta,
sendo formulada pelo adquirente do controle, tendo por objetivo todas as
ações de emissão da companhia com pleno e permanente direito de voto (art.
254‑A da Lei de Sociedades por Ações e Instrução CVM nº 361/02)
A OPA, em regra, deve ser dirigida indistintamente aos titulares de ações da mesma
espécie e classe daquelas que são objeto da oferta, operacionalizando‑se por meio
de instrumento publicado, sob a forma de edital, pelo menos uma vez, nos jornais
de grande circulação habitualmente utilizados pela companhia.
No final do ano de 2010 a Instrução CVM nº 361/02, que regula o regime das ofertas
públicas de aquisição de ações foi alterada pela Instrução CVM nº 487/10. Segundo a
CVM, as mudanças da nova instrução foram motivadas, principalmente, pela neces-
sidade de adaptação das regras de OPA a um cenário em que as ofertas públicas para
aquisição do controle de companhias abertas tendem a se tornar mais presentes. Além
disso, as alterações também tiveram por objetivo atualizar a Instrução CVM nº 361/02
como um todo tendo em vista a experiência acumulada pela CVM em ofertas públicas
para aquisição de ações, desde a edição da Instrução CVM nº 361/02, em 2002.
(ii) detalhamento das regras OPA para aquisição de controle, com a vedação (a) de in-
terferência de terceiros por lote inferior ao visado pelo ofertante; e (b) de elevação
de preço no leilão pelo ofertante caso tenha sido lançada uma oferta concorrente;
além do aumento substancial na quantidade e qualidade de informações a serem
divulgadas, nessa espécie de OPA tanto pelo ofertante, quanto pela companhia
objeto, seus administradores e principais acionistas, sobretudo quanto a negócios
por eles realizados envolvendo ações e derivativos durante o período da OPA; e
(iii) aperfeiçoamentos nas regras que regem os laudos que devem ser contratados
pelo ofertante em algumas modalidades de OPA, acerca do trabalho esperado
e da responsabilidade dos avaliadores.
A oferta será primária quando a própria companhia emissora for a ofertante dos
valores mobiliários a serem distribuídos publicamente, como forma de captar re-
cursos junto aos investidores, ou secundária, quando a oferta for realizada por um 77
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
A entrada de uma companhia no Novo Mercado, por sua vez, depende da adesão
desta ao conjunto de regras previsto para o Nível 1 e para o Nível 2, mas, adicio-
nalmente, assume a companhia a obrigação de manter seu capital social composto
exclusivamente por ações ordinárias.
7.2.2 CVM
A CVM é uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, administrada por
um presidente e quatro diretores, os quais são nomeados pelo Presidente do Bra-
sil, depois de aprovados pelo Senado Federal, dentre pessoas de reputação ilibada
e reconhecida experiência no mercado de valores mobiliários, para um prazo de
mandato de cinco anos.
Além disso, a CVM tem competência para regulamentar e fiscalizar (1) a emissão e
84 distribuição de valores mobiliários no mercado, (2) a negociação e intermediação
Capítulo 7
A CVM pode impor sanções administrativas a pessoas e entidades que violem a Lei
do Mercado de Capitais, a Lei das Sociedades por Ações ou outras leis e regras das
quais a CVM seja responsável pela fiscalização. As principais sanções que podem
ser impostas pela CVM são (1) advertências, (2) multas, (3) suspensão ou cassação
da autorização ou registro para o exercício das atividades que lhe cumpre regula-
mentar e fiscalizar, (4) suspensão ou inabilitação temporária, até o máximo de vinte
anos, do exercício de cargo de administrador ou de conselheiro fiscal de compa-
nhia aberta, de entidade do sistema de distribuição de valores mobiliários ou de
outras entidades que dependam de autorização ou registro na CVM, (5) proibição
temporária, até o máximo de vinte anos, de praticar determinadas atividades ou
operações, para os integrantes do sistema de distribuição de valores mobiliários ou
outras entidades que dependam de autorização ou registro na CVM, e (6) proibição
temporária, até o máximo de dez anos, de atuar, direta ou indiretamente, em uma
ou mais modalidades de operação no mercado de valores mobiliários.
O Banco Central é administrado por uma diretoria composta de nove membros, sendo
um seu presidente, os quais são nomeados pelo Presidente do Brasil, depois de aprova-
dos pelo Senado Federal, dentre brasileiros de reputação ilibada e notória capacidade
em assuntos econômico‑financeiros, para um prazo de mandato indeterminado.
7.2.4 Autorregulamentação
As entidades com poderes de autorregulamentação, tipicamente bolsas de valores
e entidades do mercado de balcão organizado, estão sujeitas à supervisão da CVM.
Incumbe a essas entidades fiscalizar seus membros e assegurar o cumprimento das
normas e regulamentos aplicáveis. Existem, também, entidades puramente autor-
reguladoras, como a ANBIMA – Associação Brasileira das Entidades dos Mercados
Financeiro e de Capitais (“ANBIMA”).
O Novo Mercado é o segmento de listagem que exige das companhias que dele
aderirem o mais elevado padrão de governança corporativa dentre os demais seg-
mentos especiais de listagem. Pelo Novo Mercado, a companhia obriga‑se, dentre
outras regras, a (1) ter seu capital social composto exclusivamente por ações or-
dinárias com direito a voto, (2) manter ao menos 25% das ações de sua emissão
em circulação (free float), (3) estender a todos os acionistas os mesmos termos e
condições obtidos pelos acionistas controladores no caso de venda do controle (tag
along de 100%), (4) em caso de deslistagem ou cancelamento do contrato do Novo
Mercado com a BM&FBOVESPA, fazer oferta pública para recomprar as ações de
sua emissão de todos os acionistas no mínimo pelo valor econômico, (5) ter um
conselho de administração composto por no mínimo cinco membros, sendo 20%
de conselheiros independentes e o mandato máximo de dois anos, (6) disponi-
bilizar relatórios financeiros anuais em um padrão internacionalmente aceito, (7)
divulgar dados financeiros mais completos, incluindo relatórios trimestrais com
demonstração de fluxo de caixa e relatórios consolidados revisados por um auditor
independente e (8) divulgar mensalmente as negociações com valores mobiliários
de sua emissão por seus diretores, executivos e acionistas controladores.
especiais, as ações preferenciais adquirem direito de voto, como por exemplo para
aprovação de fusões e incorporações envolvendo a companhia e contratos entre o
acionista controlador e a companhia, sempre que essas decisões estiverem sujeitas
à aprovação na assembleia de acionistas.
O Nível 1 determina às companhias que dele aderirem, dentre outros, a (1) manter
ao menos 25% das ações de sua emissão em circulação (free float), (2) divulgar da-
dos financeiros mais completos, (3) disponibilizar relatórios financeiros anuais em
um padrão internacionalmente aceito, e (4) divulgar mensalmente as negociações
com valores mobiliários de sua emissão por seus diretores, executivos e acionistas
controladores.
Podem ser negociados no mercado de balcão organizado: (1) ações, (2) debêntures,
(3) certificados de investimento audiovisual, (4) quotas de fundos de investimento
fechado, incluindo os fundos imobiliários e os fundos de investimento em direi-
tos creditórios, (5) bônus de subscrição, (6) índices representativos de carteira de
ações, (7) opções de compra e venda de valores mobiliários, (8) direitos de subscri-
88 ção, e (9) recibos de subscrição. A CETIP S.A. – Balcão Organizado de Ativos e De-
Capítulo 7
No Brasil, o conceito de valores mobiliários é formal e definido por lei. De acordo com
a Lei do Mercado de Capitais, são valores mobiliários: (1) ações, debêntures e bônus de
subscrição, (2) cupons, direitos, recibos de subscrição e certificados de desdobramen-
to relativos aos valores mobiliários referidos no item (1) anterior, (3) certificados de
depósito de valores mobiliários, (4) cédulas de debêntures, (5) cotas de fundos de in-
vestimento em valores mobiliários ou de clubes de investimento em quaisquer ativos,
(6) notas comerciais, (7) contratos futuros, de opções e outros derivativos, cujos ativos
subjacentes sejam valores mobiliários, (8) outros contratos derivativos, independen-
temente dos ativos subjacentes, (9) quando ofertados publicamente, quaisquer outros
títulos ou contratos de investimento coletivo, que gerem direito de participação, de
parceria ou de remuneração, inclusive resultante de prestação de serviços, cujos rendi-
mentos advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros.
Uma inovação trazida pela Instrução CVM 400 é a dispensa de registro da oferta,
ou de alguns de seus requisitos (inclusive publicações, prazos e procedimentos).
Para tanto, a CVM deve levar em consideração: (1) a categoria da companhia aber-
ta, (2) o valor unitário dos valores mobiliários ou o valor total da oferta, (3) o plano
de distribuição dos valores mobiliários, (4) o fato de a oferta se realizar em mais
de uma jurisdição, (5) as características em caso de oferta de permuta, (6) os des-
tinatários da oferta ou (7) o direcionamento exclusivo a investidores qualificados.
A Instrução CVM 400 permite que a companhia aberta que já tenha efetuado ofer-
ta pública submeta para arquivamento na CVM um programa de distribuição de
valores mobiliários, com o objetivo de no futuro efetuar as ofertas públicas nele
mencionadas mediante a utilização de um procedimento simplificado de análise e
registro. O programa de distribuição terá um prazo máximo de dois anos, devendo
ser atualizado no prazo máximo de um ano.
grande exposição ao mercado. Para adquirir o status de emissor com grande expo-
sição ao mercado, o emissor deve atender cumulativamente aos seguintes requisi-
tos: (1) ter ações negociadas em bolsa há pelo menos três anos, (2) ter cumprido
tempestivamente com suas obrigações periódicas nos últimos 12 meses e (3) o va-
lor de mercado das suas ações em circulação seja igual ou superior a R$5 bilhões,
de acordo com a cotação de fechamento no último dia útil do trimestre anterior à
data do pedido de registro da oferta pública de distribuição de valores mobiliários.
A Instrução CVM nº 471, de 8 de agosto de 2008 (“Instrução CVM 471”), por sua
vez, introduziu o procedimento simplificado para registro de ofertas públicas de dis-
tribuição de valores mobiliários, o qual pode ser utilizado por (1) companhias aber-
tas, (2) fundos de investimento, ou (3) companhias estrangeiras ou assemelhadas que
sejam patrocinadoras de programas de certificado de depósito de valores mobiliários
– BDR. Pedidos de registro da primeira oferta pública de distribuição de ações, cer-
tificados de depósito de ação ou BDR não podem ser realizados por meio do pro-
cedimento simplificado. Com base na Instrução CVM 471, a CVM celebrou com a
ANBIMA em 20 de agosto de 2008 convênio, conforme alterado, para que a ANBI-
MA realizasse análises prévias e elaborasse relatórios técnicos relativos a pedidos de
registro de ofertas públicas de distribuição, por meio de procedimento simplificado.
programa de depositary receipts. Depositary Receipts (“DRs”) são títulos que evi-
denciam ações ou outros valores mobiliários relacionados às ações emitidas por
uma companhia brasileira de capital aberto.
BDRs podem ser emitidos tanto em um programa patrocinado, o qual tem três
níveis diferentes, ou em um programa não patrocinado. Em ambos os casos, os
emitentes dos valores mobiliários que os lastreiam devem estar sujeitos, em seus
países de origem, à supervisão de agências com funções similares às da CVM e que
tenham celebrado um acordo de cooperação com a CVM. 95
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
A oferta deverá ser feita para um número de ações com direito a voto suficiente
para assegurar o controle da companhia e deverá ser intermediado e garantido por
uma instituição financeira.
O edital de oferta para compra de ações deverá divulgar, dentre outros, a identi-
dade do adquirente, o número de ações a que ele se propõe a adquirir, o preço e
outras condições de pagamento, o procedimento para a oferta de compra de ações,
e outros termos e condições da oferta de compra.
Se até pouco tempo a grande concentração de ações com direito a voto em po-
der do acionista controlador resultava no fato de que a quase totalidade das
cessões de controle de companhia aberta eram feitas por meio de operações pri-
vadas, podemos identificar atualmente um fato conhecido como “pulverização
do controle”, decorrente do aumento de companhias abertas que apresentam
uma estrutura acionária em que não há um único acionista ou grupo de acio-
nistas detentores da maioria do capital votante. Esse fato permite que o controle
acionário de tais companhias seja adquirido no mercado por meio de ofertas
públicas para aquisição de controle, sem negociação prévia com os seus princi-
pais acionistas.
A oferta para compra de ações deve ser previamente aprovada pela CVM e deve
ser condicionada ao aceite de um número máximo ou mínimo de ações. O edital
deverá conter as seguintes informações em relação à oferta para compra de ações,
dentre outras, (1) termos e condições da oferta, (2) se a oferta constitui condição de
negócio de transferência do controle acionário da companhia, especificando, nessa
hipótese, a espécie de condição, (3) razões e objetivos da oferta, e (4) a intenção da
ofertante de fechar o capital da companhia.
Além disso, se o controlador fizer uma nova oferta de compra dentro de dois anos a
um preço mais alto do que o preço pago àqueles que aceitaram a primeira oferta, aque-
les aceitantes da primeira oferta deverão ser reembolsados pela diferença do preço.
Caso a oferta para aquisição de ações tenha por objetivo adquirir mais de 1/3 das
ações em circulação no mercado ou, resulte na aquisição de mais de 1/3 dessas ações,
as regras estabelecidas para ofertas para fechamento de capital deverão ser seguidas.
A companhia deverá, ainda, publicar anúncios de fatos relevantes sempre que atos
ou fatos possam ter impacto relevante na negociação dos seus valores mobiliários.
Apesar de não serem definidos como insiders, as seguintes pessoas estão sujeitas
às mesmas restrições: corretores, intermediários e outros membros do sistema de
distribuição e qualquer um que, em virtude de sua posição ou função ou por qual-
quer outro motivo, tenha conhecimento de informações relevantes antes de sua
divulgação ao mercado. Relações familiares são levadas em consideração para a
determinação do status de insider.
Público pode propor ações por e em benefício dos investidores, com base na Lei n°
7.913, de 7 de dezembro de 1989.
7.8.6.1 Jurisdição
Os tribunais estaduais têm jurisdição sobre as matérias civis, que dão fundamento
às demandas já discutidas.
7.8.6.2 Competência
103
SISTEMA FISCAL
8.1. Aspectos Gerais
Em geral, ganhos de capital auferidos por pessoa física residente no País estão su-
jeitos à incidência do imposto de renda à alíquota de 15%, independentemente de
tais bens ou direitos estarem localizados no Brasil ou no exterior. Ganhos auferidos
por pessoa física não‑residente são submetidos à tributação apenas se tais ganhos
derivarem de transferência ou cessão de direitos ou ativos localizados no Brasil.
Caso a pessoa física não‑residente se torne residente, ganhos decorrentes de bens e
direitos adquiridos na condição de não‑residente somente serão tributados no Bra-
sil se estiverem situados no País; ou seja, ganhos auferidos por residentes na venda
de bens ou direitos localizados no exterior que foram adquiridos enquanto eram
não‑residentes são isentos de tributação.
No lucro real o imposto é calculado em base anual ou trimestral sobre o lucro apu-
rado antes dos impostos, devidamente ajustado de acordo com as disposições da
legislação tributária aplicável. Qualquer prejuízo fiscal incorrido no período pode 107
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
A pessoa jurídica optante pelo lucro real está sujeita ao Imposto de Renda com alíquo-
ta de 15%, acrescida do adicional de 10% caso seu lucro exceder R$ 20.000,00 por mês.
As pessoas jurídicas não obrigadas ao lucro real podem adotar pelo lucro presumi-
do. Nessa sistemática de apuração, o imposto é calculado em bases trimestrais, com
uma margem de lucro calculada mediante a aplicação de um percentual fixo sobre a
receita bruta auferida pela pessoa jurídica, sem nenhum ajuste ou dedução. O per-
centual de presunção pode variar de acordo com as atividades exercidas pelo contri-
buinte, de 8% (operações comerciais/industriais) até 32% (prestadores de serviço).
(ii) a pessoa jurídica não pode ser constituída como sociedade por ações (Sociedades
Limitadas são permitidas); (iii) apenas pessoas físicas podem deter quotas (não são
permitidas participações de outra pessoa jurídica no capital); (iv) nenhum de seus
quotistas podem ser domiciliados no exterior; (v) nenhum dos seus sócios podem ser
sócios de outras empresas que também são beneficiadas pelo SIMPLES, se a receita
global de ambas as sociedades superior a R$ 2.400.000,00; (vi) não pode exercer ativi-
dades de natureza de transportes de pessoas de um estado para outro ou intermuni-
cipais e nem mesmo a prestação de serviços intelectuais, artísticos ou científicos e etc.
8.5. Contribuições
mente, empresas que optam pelo lucro presumido estão sujeitas ao regime cumu-
lativo, ao passo que as empresas optantes pelo lucro real são sujeitas ao regime
não‑cumulativo de PIS e COFINS.
Salvo raras exceções, no regime cumulativo o PIS e a COFINS incidem à alíquota com-
binada de 3,65% sobre vendas e prestação de serviços e no regime não‑cumulativo o
PIS e COFINS incidem à alíquota combinada de 9,25% sobre a receita bruta.
Em 7 de junho de 2010, a Receita Federal editou duas listas separadas: (i) a primeira
delas regula a lista de países ou dependências que não tributam a renda ou o façam
a alíquota máxima inferior a 20% ou cuja legislação não permita o acesso a infor-
mações relativas à composição societária de pessoas jurídicas, à sua titularidade ou
à identificação do beneficiário efetivo de rendimentos (também conhecida como
“Lista Negra”); e (ii) a segunda lista elenca os regimes considerados privilegiados
pela legislação brasileira (também conhecida como “Lista Cinza”).
8.6.3. Dividendos
Os lucros ou dividendos calculados com base nos resultados apurados a partir do
mês de janeiro de 1996, pagos ou creditados pelas pessoas jurídicas tributadas com
base no lucro real, presumido ou arbitrado, não estão sujeitos à incidência do im-
posto de renda na fonte, nem integrarão a base de cálculo do imposto de renda do
beneficiário, pessoa física ou jurídica, domiciliado no País ou no exterior.
8.6.4. Juros
Juros pagos a não‑residentes estão sujeitos à incidência do imposto de renda retido
na fonte à alíquota de 15%, ou 25% se o beneficiário for residente ou domiciliado
em países ou dependências com tributação favorecida.
O Brasil possui tratados em vigor para evitar a dupla tributação de renda e capital
com os seguintes países: Argentina; Áustria; Bélgica; Canadá; Chile; China; Repú-
blica Checa; Dinamarca; Equador; Finlândia; Franca; Hungria; Índia; Israel; Itá-
lia; Japão; Coreia do Sul; Luxemburgo; México; Holanda; Noruega; Peru; Filipinas;
Portugal; Eslováquia; África do sul; Espanha; Suécia; e Ucrânia.
8.6.8. Sub‑Captalização
De acordo com as regras brasileiras de sub‑capitalização, juros pagos ou creditados
por fonte situada no Brasil à pessoa física ou jurídica, vinculada residente domi-
ciliada no exterior, somente serão dedutíveis, para fins de determinação do lucro
real e da base de cálculo da CSL, quando se verifique constituírem despesa neces-
sária à atividade, atendendo aos seguintes requisitos: (i) no caso o endividamento,
verificado por ocasião da apropriação dos juros, não seja superior a 2 (duas) vezes
o valor da participação da vinculada no patrimônio líquido da pessoa jurídica resi-
dente no Brasil; e (ii) no caso o valor total do somatório dos endividamentos com
todas as entidades situadas em país ou dependência com tributação favorecida ou
com regime fiscal privilegiado não seja superior a 30% (trinta por cento) do valor
do patrimônio líquido da pessoa jurídica residente no Brasil.
116
LEGISLAÇÃO ANTITRUSTE
Desde a Lei nº 4137, de 10 de setembro de 1962, o Brasil adotou,
em moldes seguramente calcados no regime norte‑americano, uma
legislação antitruste, mas não é inverídico sustentar que, por qua-
se 30 (trinta) anos, a mesma restou praticamente inoperante, dada a
passividade do próprio Governo e dos organismos então criados para
exercer o controle da aplicação do conjunto de normas e restrições
assim instituídos.
Entre os atos contrários à ordem econômica e por isso vedados, temos, por exemplo,
a limitação, o falseamento ou o prejuízo à livre concorrência; a dominação de mer-
cado relevante de bens ou serviços; o aumento arbitrário da lucratividade e o exer-
cício abusivo do Poder Econômico. Por essa razão, serão contrários ao sistema legal
vigente, além de outros atos, os acordos de preços entre concorrentes; a divisão de
mercados; o estabelecimento de óbices à criação ou ao acesso de novos concorrentes
ao mercado; as vendas a preço abaixo do custo; a retenção de bens e a imposição de
preços excessivos. Há pelo menos 24 tipos de infração a considerar com o maior cui-
dado, uma vez que as penalidades previstas podem ser, ao sabor de elementos como
gravidade, reincidência, situação econômica do infrator, etc., de até 30% do valor do
faturamento bruto do último exercício social, além da multa de 10% a 50% do res-
pectivo montante, exigível da pessoa física do administrador, todas elas cobráveis em
dobro, em caso de reincidência; para não deixar de mencionar, adicionalmente, cer-
tas proibições de operar, contratar ou obter benefícios junto a organismos públicos.
econômica (art. 26, § 5º, com a redação dada pela Lei nº 10149/2000). E, ainda, estará
sujeito o inspecionado ao pagamento de multa de R$ 21.200,00 (vinte e um mil e
duzentos reais) a R$ 425.700,00 (quatrocentos e vinte e cinco mil e setecentos reais),
conforme a situação econômica do infrator, se impedir, obstruir ou de qualquer outra
forma dificultar a realização de inspeção no âmbito de verificação preliminar, pro-
cedimento ou processo administrativo (art. 26 – A, criado pela Lei nº 10.149/2000).
Uma inovação criada pela Lei nº 10149/2000 relacionada às penalidades acima des-
critas, é a possibilidade de celebração de acordo de leniência, em que as pessoas fí-
sicas ou jurídicas que forem autoras de infração à ordem econômica terão extinção
da ação punitiva da administração pública ou a redução de um ou dois terços da
penalidade aplicável, desde que colaborem efetivamente com as investigações e o
processo administrativo (art. 35 – B).
Cabe observar, ainda, que as iniciativas do CADE, da SDE e da SEAE podem ter
origem na solicitação de “qualquer interessado”. As decisões do CADE são, em nível
administrativo, inapeláveis, o que significa que à parte que se entender por elas pre-
judicada somente resta o caminho judicial para eventualmente combatê‑las.
A Lei nº8884/94 prevê, ainda, a obrigação das partes de submeter atos que possam
prejudicar a livre concorrência ou resultar em dominação do mercado de certo
produto à autorização expressa do CADE, seja previamente à sua prática, seja, no
prazo máximo de 15 (quinze) dias úteis, logo após a sua ocorrência (artigo 54),
sendo que, a partir de 1º de janeiro de 2001, a taxa processual para tanto é de R$
45.000,00 (quarenta e cinco mil reais). O regime da consulta prévia é obviamente
preferível, pois do procedimento “a posteriori” podem surgir consequências com-
plexas e indesejáveis, inclusive a obrigatoriedade da reversão de atos já praticados.
De relevo considerar, a esta altura, que, para os efeitos do artigo 54, consideram
‑se atos que possam prejudicar a livre concorrência ou resultar em dominação de
mercado, devendo, desta forma, ser submetidos à apreciação do CADE aqueles que
impliquem na participação de empresa ou grupo de empresas resultante em 20%
do mercado relevante, ou em que qualquer um dos participantes tenha registrado
faturamento bruto anual no último balanço equivalente a R$ 400.000.000,00 (qua-
trocentos milhões de reais). Todavia, o CADE, através da sua Súmula n˚ 1, publica-
da no Diário Oficial da União de 18.10.2005, entendeu que, na aplicação do critério
estabelecido no aludido artigo 54, é relevante o faturamento bruto anual registrado 119
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
Faz‑se mister salientar que o próprio artigo 54 deixa evidente que muitos atos de
concentração são passíveis de aprovação, uma vez presentes determinadas con-
dições de fato e de direito que os possam justificar (aumento de produtividade,
melhoria de qualidade, desenvolvimento tecnológico, não prejuízo direto à con-
corrência existente, e, sobretudo, benefícios evidentes ao consumidor em conse-
quência de redução de preço). Observa‑se, ainda, que o CADE pode subordinar
sua aprovação, quando lícita e possível, à celebração de um “compromisso de de-
sempenho”, para que se possa instituir a obrigação dos interessados de cumprir
efetivamente, sob certas penas, as metas expostas.
Projeto de Lei (nº 3937) para a alteração da Lei nº 8884, tramita no Congresso
Brasileiro, esperando‑se a sua aprovação ainda em 2011. Dentre os dispositivos
propostos estão a inclusão de “práticas comerciais” como potenciais infrações à
ordem econômica; eliminação da possibilidade de o CADE alterar o percentual
de 20% como critério para presunção de posição dominante, conforme o setor da
economia; ajuste do valor das multas; e notificação anterior à concretização dos
atos de concentração (exame prévio) em lugar da notificação atual de 15 dias úteis
120 após a operação.
A LEGISLAÇÃO
TRABALHISTA NO BRASIL
A legislação trabalhista no Brasil foi influenciada pelos reflexos
das transformações na Europa, caracterizadas pela preocupação de
inúmeros países em elaborar leis de proteção aos trabalhadores, e,
principalmente, pelo compromisso assumido pelo Brasil perante a
Organização Internacional do Trabalho, os quais somados a fatores
internos importantes,tais como a política trabalhista do governo e o
surto industrial que viveu o país na época, desencadearam a criação
de uma série de leis.
Alem disso, a CLT traz todo ordenamento jurídico acerca da Justiça do Trabalho,
tal qual o funcionamento e os órgãos que a compõem, prevendo ainda as normas
que regem os processos trabalhistas no Brasil.
Com a promulgação da Constituição Federal (CF) de 1988, além das normas tra-
balhistas devidamente consolidadas, novos direitos trabalhistas foram criados ou
aperfeiçoados.
1) salário mínimo;
5) seguro‑desemprego;
6) 13º salário;
8) horas extras, até o limite de 2 horas extras diárias, remuneradas com adicional
de 50% sobre a hora normal, ou com o adicional de 100% para trabalho nos do-
mingos e feriados (esses percentuais poderão ser maiores, conforme estabelecido
em convenção coletiva);
12) aviso prévio de 30 dias em caso de demissão por justa causa ou pedido de de-
missão;
18) gorjetas;
19) comissões;
21) vale‑transporte;
22) auxílio‑creche;
23) adicional de insalubridade nos percentuais de 10%, 20% ou 40% sobre o salário
mínimo vigente;
Existem outras fontes de direito que devem ser respeitadas pelo Poder Judiciário
Trabalhista:
Além dos direitos trabalhistas listados acima (itens 1 a 28), as normas coletivas
(Acordos ou Convenções de Trabalho) podem prever outros direitos aos emprega-
dos, tais como: plano de saúde, auxílio‑alimentação, vale‑refeição, etc. As referidas
normas coletivas podem prever ainda direitos mais vantajosos em relação àqueles
previstos na lei, como por exemplo, adicionais de horas extras superiores aos adi-
cionais legais (50% e 100%), aviso prévio superior a 30 dias, etc.
124
O TRABALHO DE
ESTRANGEIROS
NO BRASIL
De acordo com a Lei nº 6.815 de 19 de agosto de 1980, o Ministério do
Trabalho, por meio da Coordenadoria Geral de Imigração (CGIg), tem
competência específica para a concessão de autorização de trabalho para
estrangeiros conforme dispõe a Lei n.º 6.815, de 19 de agosto de 1980.
O pedido de visto não cria qualquer direito de que este seja concedi-
do e representa uma mera expectativa de direito.
• Trânsito;
• Turista;
• Temporário;
• Permanente;
• Cortesia;
• Oficial; e
• Diplomático.
O visto para viagens de negócios poderá ser obtido no Consulado Brasileiro que
tiver jurisdição sobre o local de residência do requerente. O pedido do visto de
negócios deverá consistir basicamente no seguinte:
Se for necessário um visto para o país ao qual o requerente se dirigirá ao deixar o Bra-
sil, este visto já deverá constar no passaporte antes que seja solicitado o visto brasileiro.
Para pessoas que venham ao Brasil em caráter temporário para fins de trabalho,
existem várias espécies de vistos que são cabíveis de acordo com cada situação ou
circunstância. Listamos abaixo as principais características dos vistos aplicáveis às
situações mais costumeiras:
(1) Profissionais com Contrato de Trabalho com Empresa Brasileira. Este vis-
to é aplicável às pessoas que estarão temporariamente empregadas em uma
empresa brasileira, em cargo que exija conhecimentos e “know‑how” espe-
cializados não encontrados no Brasil. O visto pode ser concedido por um
período de, inicialmente, até 2 (dois) anos, podendo ser prorrogado por, no
máximo, igual prazo. É necessário comprovar experiência profissional do es-
trangeiro de, no mínimo, 1 (um) ano na atividade que ele realizará no Brasil, 127
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
(4) Jornalista Estrangeiro. Este visto destina‑se aos jornalistas estrangeiros tra-
balhando temporariamente no Brasil como correspondentes de empresa de
comunicação estrangeira, que dará suporte ao requerimento de visto. O can-
didato não poderá receber seu salário no Brasil. O pedido do visto deve ser
feito diretamente ao Consulado Brasileiro no exterior com jurisdição sobre a
residência do estrangeiro.
(7) Assistência Social. O visto temporário pode ser concedido por prazo de até
2 (dois) anos para estrangeiros que venham ao Brasil para prestar serviços re-
ligiosos ou de assistência social como voluntários. O estrangeiro não poderá
receber remuneração pelo trabalho voluntário no Brasil.
O candidato para quaisquer dos tipos de vistos acima descritos, com exceção dos
vistos para correspondentes e voluntários para serviços religiosos e de assistência
social, deverá obter uma Autorização de Trabalho das autoridades brasileiras. É um
ato administrativo, dentro da competência do Ministério do Trabalho, que perfaz
uma exigência das Autoridades Consulares Brasileiras, de acordo com a legislação
nacional, para a obtenção da concessão de vistos permanente e/ou temporário por
parte de estrangeiros que desejem trabalhar no Brasil. Após a aprovação do pedido, 129
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
Existem outros tipos de vistos que se aplicam a estrangeiros que venham ao Brasil
para propósitos outros que não o trabalho. Nestes casos, os estrangeiros não pode-
rão trabalhar nem receber qualquer remuneração de fonte brasileira. Listamos abai-
xo as principais características dos vistos aplicáveis às situações mais costumeiras:
(2) Estudante. Este visto poderá ser obtido no Consulado Brasileiro que tiver
jurisdição sobre o local de residência do requerente. Estudantes estrangeiros
em programas de intercâmbio devem apresentar documentos escolares e do-
cumentos relativos ao programa de intercâmbio.
(3) Trainees. Visto destinado a estrangeiros que pretendem vir ao Brasil para
atender a programas de trainee durante o período de 12 meses após a gradua-
ção, sem a existência de relação de trabalho perante qualquer entidade nacio-
nal. É necessária a apresentação de comprovante de graduação nos últimos
12 meses da data de requerimento do visto, bem como comprovante de que
qualquer espécie de remuneração será paga exclusivamente fora do Brasil.
O visto de trabalho permanente pode ser emitido, basicamente, sob quatro circuns-
tâncias: (i) relação familiar com cidadão brasileiro (casamento, filhos); (ii) aposen-
tadoria, (iii) indicação para cargo de representação e administração em empresa
brasileira (Diretor Estatutário); ou (iv) investidor estrangeiro – pessoa física.
(1) Relação Familiar. No caso do candidato(a) ser casado com cidadã(ão) brasi-
leiro ou possuir filhos brasileiros, ele(a) pode requerer o visto permanente no
Consulado Brasileiro no exterior, antes de vir para o país, ou pode requerê‑lo
no Ministério da Justiça no caso de já se encontrar no Brasil. Neste caso, o
candidato(a) será autorizado a trabalhar em território nacional.
butários, sendo que toda a remuneração por estes recebida deve ser taxada em
conformidade à legislação brasileira.
Pessoas que precisam vir para tratar exclusivamente de negócios no Brasil antes
de obter a autorização de trabalho e o visto apropriado, poderão fazê‑lo obten-
do um visto de negócios de curto prazo. Entretanto, essas pessoas não poderão
receber remuneração ou trabalhar no Brasil até que essa autorização e o devido
visto sejam obtidos. Além disso, o visitante deverá obter o visto permanente ou
temporário fora do Brasil perante o Consulado Brasileiro com jurisdição sobre a
residência do estrangeiro. 133
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
134
Aquisição de bens
imóveis no Brasil
12.1. Introdução
Bens imóveis são aqueles que por sua natureza de imobilidade ou fixa-
ção ao solo, seja natural ou artificial, não possam ser removidos no todo
ou em parte, sem se desfazerem ou se destruírem, ou seja, sem alteração
de sua substância. Na categoria de bens imóveis estão compreendidos o
solo e tudo que lhe foi incorporado natural ou artificialmente.
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
A lei também confere tratamento de bens imóveis a alguns direitos. É o que ocorre
com os direitos reais sobre coisas imóveis, as ações que asseguram os referidos di-
reitos e o direito à sucessão aberta, ainda que a herança seja formada somente por
bens móveis.
O CCB não considera como propriedades do solo as jazidas, minas e demais recur-
sos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e
outros bens referidos em leis especiais. Dessa forma, o CCB distingue o limite da
propriedade do solo, da propriedade dos elementos do subsolo (recursos minerais
e potenciais de energia hidráulica), reservados à União. Por essa razão, a exploração
de recursos minerais e de potencial hidroelétrico requer autorização ou licença de
exploração federal.
(i) Direito de Posse. A posse advém da utilização do bem pelo sujeito como se dele
fosse proprietário. A partir do momento em que o sujeito age em nome próprio
e a sua conduta exterioriza um comportamento normal de dono, ele será possui-
dor do bem. Posse é, portanto, o direito de exercer os poderes inerentes à proprie-
dade, como, por exemplo, o direito de reclamar, manter ou ser restituído na posse
da coisa, o direito de perceber os frutos do bem (incluindo aluguéis e outros ren-
dimentos relacionados à coisa), o direito de ser reembolsado pelas benfeitorias
necessárias realizadas no bem e o direito de reter o bem em sua posse.
A propriedade será plena quando todos os direitos que lhe são inerentes (usar,
gozar, dispor da coisa e reavê‑la) encontram‑se reunidos na pessoa do titular. 137
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
Será limitada quando estiver desprovida de algum daqueles direitos, que será
exercido por outra pessoa. Note‑se, entretanto, que na hipótese do condomínio
(ou co‑propriedade), em princípio, não haverá propriedade limitada, mas ple-
na. No condomínio, cada proprietário tem direito de propriedade sobre a fra-
ção ideal de um bem. Em regra, os direitos elementares à propriedade podem
ser exercidos, ao mesmo tempo, por todos eles, em relação a um mesmo bem.
12.3.1. Disposições Gerais
De acordo com a lei brasileira, a propriedade de bens imóveis é constituída após o
registro do título translativo que formalizou a aquisição da propriedade no Regis-
tro de Imóveis do lugar onde o imóvel está situado.
vivos; (ii) por acessão (que é o aumento do terreno decorrente, por exemplo, de deslo-
camento de uma faixa de terra causada por forças naturais); (iii) pela usucapião (que
é a aquisição da propriedade pela posse contínua e pacífica, com animus de dono, do
bem por um período de tempo estipulado por lei); e (iv) por direito hereditário.
(i) desapropriação, que é o ato unilateral do Poder Público, por meio do qual é
realizada a transferência da propriedade de um indivíduo à autoridade ex-
propriante, mediante a indenização do proprietário, em razão de interesse
público;
(ii) transferência, que é a transmissão, a qualquer título, a terceiro (por ato inter
vivos, mortis causa, a título oneroso ou gratuito, etc.);
A Lei n.º 4.591/64 regulava o condomínio de apartamentos e/ou salas para escritó-
rios, onde em único terreno são construídos vários apartamentos e/ou salas, consti-
tuindo cada um uma unidade autônoma e uma fração do terreno, sendo inaplicável
nesse caso a indivisibilidade anteriormente mencionada. O CCB alterou profun-
damente a Lei n.º 4.591/64, mantendo, no entanto, o mesmo conceito. Dentre as
inovações, destaque‑se a nova disciplina de aplicação de multas aos condôminos
que deixem de cumprir os deveres inerentes a sua condição (contribuir para despe-
sas comuns, não realizar obras que comprometam a segurança da edificação, não
utilizar suas partes de maneira prejudicial ao sossego, etc.).
O estrangeiro pessoa física residente no exterior não poderá adquirir terras no Bra-
sil, não se aplicando tal restrição no caso de aquisição por sucessão legítima (vale
dizer, se o estrangeiro for chamado a receber o imóvel rural do seu proprietário
anterior na qualidade de herdeiro).
• é livre para adquirir ou arrendar 1 (um) imóvel rural com dimensão que não
exceda 3 (três) módulos de exploração indefinida (“MEI”). O MEI é uma uni-
dade de medida de área determinada pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária – INCRA para zonas geográficas que possuam características
socioeconômicas e ecológicas homogêneas, conforme o tipo de exploração rural
que nela possa ocorrer;
• depende de autorização do INCRA para adquirir ou arrendar imóvel rural maior
do que 3 (três) MEI; e
• não pode adquirir nem arrendar terras rurais que excedam a extensão equiva-
lente a 50 (cinquenta) MEI.
Ainda, a soma das áreas rurais pertencentes a estrangeiros e equiparados não pode
ultrapassar a 25% da superfície dos municípios em que se situem. Estrangeiros de
mesma nacionalidade (e equiparados) não podem ser proprietários (ou arrendatá-
rios) de mais de 40% desse limite de 25% da superfície dos municípios que ocupem.
Todas essas restrições são aplicáveis também para o caso de transferências de imó-
veis rurais em decorrência de operações societárias (fusões, incorporações, aquisi-
ções, alteração do controle acionário. etc.).
12.4. Tributação
O ITBI não incide quando a transferência do bem imóvel ou dos direitos a ele
relativos é realizada para integralização do capital social de empresas, ou quan-
do decorrente de uma fusão, incorporação, cisão ou extinção de uma pessoa
jurídica, exceto se a comercialização, o arrendamento mercantil ou a locação
de bens imóveis seja a atividade preponderante da pessoa jurídica incorporada,
fundida, cindida ou extinta, devendo‑se observar as disposições da legislação
municipal aplicável.
Tanto pessoas físicas quanto pessoas jurídicas estrangeiras podem adquirir estas
participações. O investimento estrangeiro, devidamente registrado perante o Ban-
co Central do Brasil, possibilita a posterior remessa do investimento e dos respec-
tivos ganhos para o exterior. De acordo com a legislação vigente, os rendimentos e
ganhos de capital decorrentes do investimento em Fundos Imobiliários, bem como
os ganhos de capital e rendimentos auferidos na alienação das respectivas quotas
estão sujeitos ao IR, à alíquota de 20%.
144
Legislação
Ambiental
13.1. Legislação Pertinente
A proteção ao meio ambiental é feita, em escala federal, pelos órgãos públicos lis-
tados abaixo e que juntos compõe o SISNAMA – Sistema Nacional de Meio Am-
biente:
Além de outros órgãos públicos federais, fundações e órgãos dos poderes execu-
tivos estaduais e municipais, tais como o CETESB (Companhia de Tecnologia em
Saneamento Ambiental), em São Paulo e o INEA (Instituto Estadual do Ambiente),
no Rio de Janeiro.
13.4. Definições
(a) Dano Ambiental: É a lesão aos recursos ambientais com a consequente de-
gradação, alteração adversa ou prejuízo ao equilíbrio ecológico.
(d) Área de Proteção Ambiental (APA): É uma área em geral extensa, com pe-
queno grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, es-
téticos ou culturais, especialmente importantes para a qualidade de vida e o
bem‑estar das populações humanas. Tem como objetivo básico proteger a
diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar o uso
sustentável dos recursos naturais. Pode ser estabelecida em área de domínio
público ou privado, pela União, estados ou municípios, não sendo necessária
a desapropriação das terras.
(a) Licença Prévia (LP): Emitida na fase de planejamento de uma atividade, contêm
as exigências básicas a serem atendidas pelo projeto para a sua localização, instala-
ção e funcionamento, com base nas regras de uso do solo, zoneamento industrial e
legislação urbanística.
(b) Licença de Instalação (LI): Documento emitido após a análise do projeto executivo
do empreendimento e da apresentação dos projetos que demonstrem o cumprimento
das exigências impostos pela licença previa; das soluções adotadas para a neutraliza-
ção, mitigação ou compensação dos impactos ambientais e os procedimentos de con-
trole ambiental. A obtenção desta licença autoriza a execução dos projetos aprovados.
(c) Licença de Operação (LO): Documento que autoriza o início das atividades
de uma determinada indústria ou empreendimento, uma vez verificado o correto
funcionamento dos equipamentos de controle de poluição.
De acordo com a Lei 9.960 de 2000, todos os custos dos serviços de licenciamento,
150 análise ambiental e elaboração do EIA‑RIMA (Estudo de Impacto Ambiental e do
Capítulo 13
Os atos dos cidadãos e das empresas lesivos ao meio ambiente geram responsabi-
lidade na esfera administrativa, civil e penal, conforme estabelece a Lei de Crimes
Ambientais.
Toda conduta danosa precisa ser reparada, ainda que tolerada pelos padrões legais,
como é o caso da emissão de resíduos poluentes.
Em razão do dever do Poder Público de preservar o meio ambiente, seja por meio
do poder de policia (de fiscalização), seja pelo poder de regulamentar (criar, re-
gulamentar e extinguir leis e normas), podem ser adotadas diversas medidas de
natureza administrativa, como, por exemplo: tombamento de bens públicos e pri-
vados; a exigência de apresentação de relatório de impacto ambiental, restrições e
limitação ao direito de construir, entre outros. 151
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
(a) Advertência;
Por meio de uma ação civil pública (instituída pela Lei 7.347 de 1985) é pos-
sível tutelar os valores ambientais, responsabilizando por danos causados ao
meio ambiente e ao patrimônio de valor artístico, estético, histórico, turístico
e paisagístico.
É parte legitima para propor este tipo de ação, o Ministério Público, a Defensoria
Pública, a União, Estados, Municípios, Autarquias, Empresas e Fundações Públi-
cas, além das Organizações Não Governamentais (ONG).
Outras ações judiciais também podem ser propostas visando à proteção do meio
ambiente e o desenvolvimento de atividades e empreendimentos sustentáveis. É o 153
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
154
Licitação, Contratação
de obras, serviços,
compras e alienações
pela Administração
Pública
14.1. Introdução
Capítulo 14
Preliminarmente, cabe mencionar que a licitação é o procedimen-
to administrativo formal que permite ao Estado selecionar o melhor
contratante, que lhe deverá prestar serviços, construir obras, fornecer
ou adquirir bens. Através dela, a Administração pública seleciona a
proposta mais vantajosa para um contrato de seu interesse.
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, mediante licitação pública, obser-
vadas, contudo, as exceções previstas em legislação específica, quando, então, poderá
ter lugar a figura da contratação direta.
O artigo 175 da Constituição de 1988, por seu turno, exige a licitação para a
concessão e permissão de serviços públicos, às quais se aplica a Lei no 8.987/95,
com as alterações da Lei no 9.648/98. Note‑se que a permissão, classicamente
um ato administrativo discricionário, precário e revogável a qualquer tempo,
não se sujeitava à licitação, exigência que passou a ser feita no texto Constitu-
cional. Daí porque, a Lei no 8.987/95, ao regulamentar a matéria, determinou
sua formalização mediante contrato administrativo de adesão, mantidas as ca-
racterísticas de precariedade e revogabilidade unilateral do contrato pelo poder
permitente.
14.2. Modalidades
O concurso, por sua vez, se destina a selecionar trabalhos técnicos e artísticos, entre
quaisquer interessados, sendo o pagamento efetuado por prêmios ou remuneração
aos vencedores.
Por fim, o pregão foi instituído para regulamentar as contratações que envolvam
o fornecimento de bens ou serviços comuns, ou mesmo de bens ou serviços pres-
tados de forma parcelada ou rotineira, sem limite de valor. Tais contratações são
feitas em sessão pública por meio de propostas de preços escritas e lances verbais,
visando à compra mais econômica, segura e eficiente.
Contudo, qualquer que seja a modalidade licitatória adotada deve‑se sempre obe-
decer aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efici-
ência, com o objetivo de selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração
Pública, assegurando‑se a igualdade de condições a todos os participantes frente ao
instrumento convocatório, bem como fixando‑se exigências de qualificação técnica
e econômica e mantendo‑se as condições efetivas da proposta.
A Constituição Federal, em seu artigo 21, incisos XI e XII, estabelece que os seguintes
serviços devem ser explorados pela União Federal: (i) serviços de telecomunicações e
radiodifusão; (ii) serviços relacionados à energia elétrica e ao aproveitamento energé-
tico dos cursos de água; (iii) navegação aérea, aeroespacial e infra‑estrutura aeropor-
tuária; (iv) serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e
fronteiras nacionais; (v) serviços de transporte rodoviário interestadual e internacio-
nal de passageiros; e (vi) serviços relacionados a portos marítimos, fluviais e lacustres.
A execução destes serviços pode ser feita de forma direta ou mediante autorização,
concessão ou permissão. Neste sentido, a União está autorizada a delegar a presta-
ção desses serviços, principalmente por meio de concessão ou permissão, a pessoas
jurídicas de direito privado com competência para executar tal tarefa, como se ob-
servará mais adiante.
14.4. A habilitação
Caso o edital de licitação faculte a formação de consórcio, cada empresa que dele
fizer parte, deverá apresentar toda documentação acima mencionada como se lici-
tante individual fosse. 159
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
Frise‑se que a Lei de Licitações, em seu artigo 34, previu a possibilidade de manu-
tenção de um registro cadastral para efeito de habilitação, válido por, no máximo,
um ano, contendo os documentos de interessados em participar de licitações.
No caso de empate entre duas ou mais propostas, após análise de todas as condi-
ções estabelecidas no ato convocatório, será efetuado sorteio, em sessão pública,
registrada em ata, para o qual todos os licitantes serão convocados.
As margens de preferência são de, no máximo, 25% e serão determinadas, via decreto,
pela Comissão Interministerial de Compras Públicas, criada pelo Decreto n.º 7.546
de 02 de agosto de 2011, que regulamentou a aplicação das margens de preferência.
Há três situações relevantes dispensadas de licitação por lei: (i) o pequeno valor do ob-
jeto da licitação; (ii) situações de emergência por calamidade pública, guerra e ou grave
160 perturbação da ordem, ou ainda, (iii) compra ou locação de imóvel que por motivos
Capítulo 14
relevantes quanto a sua seleção – por exemplo, a localização geográfica do imóvel– im-
possibilitem a licitação. Essas, juntamente com vinte e uma outras razões, estão arro-
ladas no art. 24 da Lei no 8.666/93 e caracterizam as hipóteses de contratação direta.
14.7. Garantias
mento convocatório para que seja possível e legítima. Salvo exceções previstas em
lei (artigo 56 da Lei de Licitações), a garantia será ou caução, ou seguro‑garantia ou
ainda fiança bancária, a critério do contratado, desde que o valor correspondente
ao seguro não exceda a 5% (cinco por cento) do valor total do contrato.
Há, ainda, os contratos de gestão, decorrentes da nova redação dada pela Emenda
Constitucional 19/98 ao artigo 37, §8º da Constituição Federal, vistos como técni-
cas de descentralização, mediante os quais são estabelecidos metas e objetivos e se-
rem atingidos e cuja execução fica sujeita à fiscalização e sanção do Poder Público.
Estes modelos oferecem um espectro que vão desde o primeiro em que o setor
público assume todas as responsabilidades e obrigações para o quarto onde o se-
tor privado assume a responsabilidade total responsabilidade. A maioria das PPP
são constituídos (II ou III) segundo o qual as responsabilidades são compartilha-
das e passivos com base em pontos fortes dos parceiros particular “e fracos. Estes
modelos permitem projetos para prosseguir com um apoio mínimo a partir de
programas de financiamento e recursos públicos do governo. Este aspecto também
permite uma maior celeridade na implementação de projetos não dependem de
aprovação do controlo orçamental do governo.
De se notar, por fim, que a simples contratação de obra pública e a concessão co-
mum, isto é, a delegação de serviços públicos ou obras públicas, não constituem
PPP, aplicando‑se àquela concessão as normas trazidas pela Lei de Licitações e Con-
tratos (Lei no 8.666/93) e pelas Leis de Concessões (Lei no 8.987/95 e 9.074/95).
164
PRIVATIZAÇÃO, CONCESSÕES
E PARCERIAS COM A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A parceria, por sua vez, é um termo amplo para designar a associação do Poder
Público com o setor privado para a realização de um determinado serviço de
interesse público, podendo ser a construção de uma obra pública, a prestação
de um serviço público ou ambos. Ressalte‑se que as parcerias diferem das con-
cessões, essencialmente, pela forma de remuneração do ente privado, uma vez
que os parceiros privados podem ser remunerados tanto por meio de tarifas
quanto por meio de pagamentos diretos realizados pelo Estado, ou uma combi-
nação de ambos, ao passo que a remuneração das concessões é feita exclusiva-
mente por meio de tarifas.
Com isso, verifica‑se que nas concessões impera o preceito da livre iniciativa, onde
o lucro dos concessionários dependerá exclusivamente de sua eficiência, visto que
a remuneração, como dito, é tarifária. Por sua vez, as parcerias podem não estar
sujeitas ao regime da livre iniciativa, pois a remuneração pode ser feita (integral
ou conjuntamente com a remuneração tarifária) mediante pagamento direto do
Estado, o que confere maior garantia ao investidor privado.
Até o momento, a maioria dos processos de privatização foi feita por meio de leilão
em bolsas de valores brasileiras. A Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, que regula-
menta o artigo 37, XXI, da Constituição Federal, estabelece as regras para licitação.
Esta lei foi posteriormente complementada pela Lei nº 8.883, de 8 de junho de
1994, pela Lei nº 9.648, de 27 de maio de 1998, pela Lei nº 11.196, de 21 de no-
vembro de 2005, e pela Lei nº 12.349, de 15 de dezembro de 2010, que estabelecem
novos procedimentos para editais e métodos de licitação, formas de pagamento e
espécies de garantias aceitas, entre outros. Existe em trâmite perante o Congresso
Nacional um projeto de lei que visa a alterar a Lei das Licitações, instituindo novas
características para os processos licitatórios.
Um importante marco nas privatizações brasileiras foi a Lei Geral das Telecomu-
nicações (Lei nº 9.472, de 16 de julho de 1997), que regulamenta a Emenda Cons-
titucional n.º 8, de 15 de agosto de 1995, permitindo que o setor privado atue na
prestação de serviços de telecomunicações. Anteriormente, o Congresso Nacional
já havia aprovado a Lei n.º 9.295 de 19 de julho de 1996, que permitiu a prestação de
serviços de telefonia móvel por empresas privadas, desde que as concessões fossem
delegadas a empresas brasileiras cuja maioria (pelo menos 51%) do capital votante
fosse detida, direta ou indiretamente, por pessoas (jurídicas ou físicas) brasileiras.
O programa de privatização foi aplicado não somente à alienação das empresas es-
tatais e a concessões de serviços públicos de competência do Governo Federal, mas
também àquelas no âmbito dos Estados e Municípios. Cada Estado e Município
tem poder para fixar regras para seu próprio programa e, portanto, a privatização
de empresas controladas por estados ou municípios é feita de acordo com legisla-
ção local específica. Neste sentido, o Estado de São Paulo realizou um dos mais bem
sucedidos programas de privatização no Brasil. A partir da publicação da lei esta-
dual de privatização, São Paulo transferiu aos investidores privados, entre outras, a
exploração dos serviços públicos de distribuição de gás canalizado (tanto na região
metropolitana, através da COMGÁS, quanto no interior do estado, por intermédio
da Gas Brasiliano e Gas Natural), assim como a geração (Paranapanema e Tietê,
que resultaram da cisão parcial da CESP) e a distribuição de eletricidade (CPFL e
Eletropaulo, duas das maiores distribuidoras brasileiras). 167
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
A Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995 (Lei das Concessões), que regula o Artigo
175 da Constituição Federal, estabelece as regras para a concessão de serviços pú-
blicos, excluindo expressamente de seu âmbito os serviços de transmissão de rádio
e televisão. A Lei das Concessões foi posteriormente modificada pela Lei nº 9.074,
de 07 de julho de 1995 e pela Lei nº 11.196, de 21 de novembro de 2005, sendo
regulamentada, dentre outros, pelo Decreto nº 2.003, de 10 de setembro de 1996, e
pelo Decreto nº 1.717, de 24 de novembro de 1995, os quais estabeleceram as regras
e os procedimentos para a outorga de novas concessões, bem como a prorrogação
das concessões existentes, inclusive no caso de certas concessões na área de energia
elétrica. A Lei das Concessões dispõe, ainda, que as concessões deverão ser outor-
gadas após um processo de licitação pública.
então realizadas1. O montante inclui não apenas a receita angariada com a venda
de empresas estatais, mas também a transferência da dívida das entidades negocia-
das para os novos adquirentes. Os setores mais rentáveis para o governo foram: i)
siderurgia (18%), ii) mineração (17%) e iii) petróleo e gás (16%), responsáveis por
pouco mais da metade do volume financeiro apurado.
O ano de 2010 foi marcado pela exclusão, do escopo do PND, da estatal VALEC,
uma das empresas responsáveis por investimentos do Programa de Aceleração do
Crescimento, como a construção da ferrovia norte‑sul. Em 2011, o governo brasi-
leiro pretende prosseguir com as privatizações, sobretudo de empreendimentos de
1 http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conheci-
mento/pnd/PND_2009.pdf – acesso em 21.07.2011. 169
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
20 milhões; (ii) cujo período de prestação seja inferior a 5 anos ou (iii) que tenha
como objeto único o fornecimento de mão‑de‑obra, o fornecimento e instalação de
equipamentos ou a execução de obra pública.
Os contratos administrativos regulados pela Lei de PPP terão prazos compatíveis com a
amortização dos investimentos realizados pelo setor privado, não podendo ser inferio-
res a 5 anos nem superiores a 35 anos, incluindo eventual prorrogação. Para a assinatu-
ra destes contratos será necessária a criação de uma Sociedade de Propósito Específico,
tendo como única finalidade a implementação e gerência dos projetos de PPP.
A maior inovação trazida por esta legislação foi a criação de um Fundo Garantidor,
que contará com até R$ 6 bilhões em ativos (ações de companhias estatais, imóveis,
dinheiro etc). Este fundo irá garantir o cumprimento das obrigações pecuniárias
assumidas pela Administração Pública ao contratar com o setor privado, sendo
que seu ativo servirá para garantir eventuais ações de execução movidas contra o
Parceiro Público contratante.
De acordo com estimativas recentes, os recursos necessários para que o Brasil possa
cumprir os compromissos assumidos para realização da Copa do Mundo de 2014 e 171
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
172
TELECOMUNICAÇÕES
16.1. Histórico das Telecomunicações no Brasil
Em 1997 foi promulgada a Lei no 9472/97, de 16.07 (“LGT”), que criou a Agência
Nacional de Telecomunicações (“ANATEL”) e estabeleceu critérios para a privati-
zação das concessionárias estatais, bem como outras regras de liberalização e de
competição no mercado de telecomunicações.
A LGT estabelece que as redes devem ser organizadas como vias integradas de livre
circulação, impondo interconexão obrigatória entre todas as redes de suporte de
serviços de interesse coletivo, garantindo a operação integrada de redes e condicio-
nando o direito de propriedade sobre as redes à obrigação de cumprir a respectiva
função social. Neste sentido, a interconexão é um importante instrumento para a
convergência.
A LGT contém uma definição legal de serviços de valor adicionado que estabelece
expressamente que tais serviços não são serviços de telecomunicações e classifica a
prestadora de serviço de valor adicionado como usuária dos serviços ou da rede de
telecomunicações que lhes dá suporte.
Em meados do ano de 1998, o Sistema TELEBRÁS passou por uma completa rees-
truturação, que incluiu o processo de privatização das empresas que o integravam
e o direcionamento de grande fluxo de investimentos para a expansão dos serviços
de telecomunicações, face às novas tecnologias.
A prestação dos serviços de telefonia local foi atribuída a uma concessionária e a uma
empresa espelho (duopólio) em cada uma das áreas de atuação correspondentes às
Regiões I, II ou III. A prestação dos serviços de longa distância nacional foi outorgada
a duas empresas “regionais” (a concessionária e a empresa‑espelho) em cada uma das
Regiões I, II e III, e a duas empresas “nacionais” (a concessionária e a empresa‑espelho),
estas atuando em todo o território nacional, constituindo a Região IV. A prestação dos
serviços de longa distância internacional foi incumbida às duas empresas “nacionais”,
que podiam originar chamadas em todo o território nacional ou Região IV.
O duopólio, uma característica marcante desta primeira fase de abertura das te-
lecomunicações tinha como objetivo que as entrantes tivessem tempo para se es-
tabelecer e consolidar no mercado antes da livre competição, em 2002. Durante o
período de transição entre a desestatização das empresas do Sistema TELEBRÁS e
a liberalização total dos mercados de telefonia fixa e móvel, a competição resumia
‑se à disputa entre as empresas concessionárias e as empresas espelho na telefonia
fixa e entre as concessionárias atuantes nas sub‑faixas de frequência da Banda A e
da Banda B na telefonia celular.
No período entre 2001 e 2003, até três novas autorizações de SMP por região, cor-
respondentes às Bandas C, D e E, foram leiloadas. As empresas interessadas pude-
ram adquirir autorizações em cada uma das três regiões, sendo, no entanto vedada
a aquisição de mais de uma autorização dentro da mesma área de prestação.
Qualquer empresa constituída sob as leis brasileiras e controlada por holding brasi-
leira, mesmo sob controle estrangeiro pode deter autorização de SMP.
Basicamente, a ANATEL tem competência para: (i) expedir normas quanto à ou-
torga, prestação e fruição dos serviços de telecomunicações no regime público
(serviço universal); (ii) fixar, controlar e acompanhar a estrutura tarifária relativa
a cada modalidade de serviço prestado no regime público; (iii) celebrar e geren-
ciar contratos de concessão; (iv) expedir regras sobre a prestação de serviços de
telecomunicações no regime privado; (v) controlar, prevenir e reprimir as infra-
ções contra a ordem econômica relativamente às telecomunicações, sem prejuí-
zo da competência definitiva do Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(“CADE”); (vi) administrar o espectro de radiofrequências e utilização de órbitas
para satélites; (vii) definir as modalidades de serviço em função de sua finalidade,
âmbito de prestação, forma, meio de transmissão, tecnologia empregada e de ou-
tros atributos; e (viii) fiscalizar a prestação dos serviços e aplicar sanções adminis-
176 trativas aos infratores das normas de telecomunicações.
Capítulo 16
A LGT dispõe sobre: (i) organização dos serviços de telecomunicações; (ii) criação
e funcionamento do órgão regulador; e (iii) princípios fundamentais do Direito das
Telecomunicações.
Serviços de interesse coletivo são aqueles cuja prestação deve ser proporcionada
pela prestadora a qualquer interessado na sua fruição, em condições não discrimi-
natórias, mediante simples “adesão”. Por sua vez, os serviços de interesse restrito
são aqueles destinados ao uso próprio do ofertante ou oferecido a determinadas
classes de usuários, de forma seletiva, a critério da operadora.
Com efeito, o STFC também pode ser prestado por prestadoras no regime privado
(não concessionárias), não sujeitas às metas de universalização.
A exploração de serviços sob a égide do regime privado tem por base os princípios
constitucionais da atividade econômica e deve pautar‑se pela livre e ampla compe-
tição entre prestadoras, direitos do consumidor e desenvolvimento tecnológico e
industrial do setor.
de acordo com regras anunciadas pela ANATEL, os seus direitos básicos constantes
do CDC também serão objeto de regulamentação específica.
Ademais, dispõe a Resolução que uma empresa será considerada coligada a outra
se detiver, direta ou indiretamente, pelo menos 20% de participação no capital vo-
tante da outra, ou se o capital votante de ambas for detido, direta ou indiretamente,
em pelo menos 20%, por uma mesma pessoa natural ou jurídica.
Por fim, destaca‑se que qualquer alteração no quadro societário da empresa que
180 possa vir a caracterizar transferência de controle deverá ser submetida, previamen-
Capítulo 16
A Lei no 10052/2000, de 28.11, instituiu, por sua vez, o Fundo para o Desenvolvi-
mento Tecnológico das Telecomunicações (“FUNTTEL”). Tal fundo foi criado com
um orçamento inicial de R$ 100 milhões, procedentes do Fundo de Fiscalização
das Telecomunicações (“FISTEL”). O fundo recebe, ainda, 0,5% da receita bruta
com a prestação de serviços de telecomunicações, além de 1% da arrecadação efe-
tuada por instituições autorizadas decorrente de eventos participativos realizados
por meio de ligações telefônicas. Sua finalidade é o financiamento de pesquisas
tecnológicas na área de telecomunicações desenvolvidas por pequenas e médias
empresas, de modo a ampliar a competitividade da indústria brasileira de teleco-
municações.
16.8. Incentivos
A Lei no 10176/01, de 11.01, por sua vez, estendeu até 31.12.00 o beneficio de isen-
ção do Imposto sobre Produtos Industrializados (“IPI”) aos itens nela previstos. A
182 partir daquela data, as isenções foram convertidas em redução das alíquotas de IPI
Capítulo 16
aplicáveis, com gradual diminuição do percentual de redução até 31.12. 09, quando
será extinta.
Tramita no Congresso Nacional um projeto de lei relativo aos poderes das agências
reguladoras que pode alterar significativamente os poderes da ANATEL em relação
à competência para outorga dos serviços de telecomunicações e para controle e
prevenção de infrações à ordem econômica.
184
ENERGIA
ELÉTRICA
17.1. Introdução
Em 1996, nos termos da Lei 9.427, é criada a Agência Nacional de Energia Elétri-
ca – ANEEL, agência independente para regular o setor. Seguiu‑se a edição da Lei
9.648 que trouxe importantes preceitos para a implementação do novo modelo do
sistema elétrico brasileiro.
O modelo foi, no entanto, parcialmente implantado. Entre 1995 e 2002, houve mui-
tas novas concessões de geração tendo sido privatizadas, no entanto, aproximada-
mente 70% das distribuidoras e somente 20% da geração.
O Presidente Luiz Ignácio Lula da Silva tomou posse em janeiro de 2003 e diante
da nova política do Governo, o Ministério de Minas e Energia – MME em julho do
2 Concorreram para o processo brasileiro de privatização a Lei 8.031/90, que criou o Programa
Nacional de Desestatização, a Lei 8.666/93 (‘Lei de Licitações’), que definiu os procedimentos
aplicáveis à licitação, as Leis 8.987 e 9.074/95, que fixam a disciplina geral das outorgas, a Lei
9.427/97 que cria a ANEEL e estabelece as diretrizes da concessão de serviços públicos de ener-
gia elétrica, a Lei 9.648/98, que entre outras matérias prevê a reestruturação do setor elétrico e
a privatização da ELETROBRÁS e suas subsidiárias (ELETROSUL, ELETRONORTE, CHESF e
186 FURNAS).
Capítulo 17
3 A Lei 10.848 foi regulamentada pelo Decreto 5.163/04 posteriormente alterado pelos Decretos
5.249/04, 5.271/04 e 5.499/05.
4 O CNPE foi criado pela Lei n.º 9.478/1997. 187
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
nas áreas mais remotas ou de difícil acesso, rever periodicamente as matrizes ener-
géticas, estabelecer diretrizes para programas específicos, entre outros objetivos.
Deve‑se destacar a criação pela Lei 9.427/96 do órgão regulador específico para o
setor elétrico, a ANEEL5, como autarquia vinculada ao MME6, porém dotada de
competência e receitas próprias, e do ONS – Operador Nacional do Sistema Elé-
trico, pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada em decorrência
da Lei 9.648/98 e integrada por agentes do setor elétrico e por consumidores livres,
conforme legislação pertinente.
5 Criada pela Lei 9.247/1996, suas competências foram posteriormente modificadas pelas Leis
9.648/1998, 9.649/1998, 9.986/2000, 10.438/2002 e 10.848/2004.
6 A Lei 10.683/2003 define as matérias que são de competência do MME, dentre eles: geologia,
recursos minerais e energéticos, aproveitamento da energia hidráulica, mineração e metalurgia,
petróleo, combustível e energia elétrica, inclusive nuclear. É também competência do MME a
energização rural e a agroenergia, inclusive eletrificação rural, quando baseada em recursos
vinculados ao Sistema Elétrico Nacional.
7 As Agencias Estaduais. A Lei 9.427/1996 autorizou a ANEEL a descentralizar suas atividades
para os Estados. A descentralização tem sido feita mediante convênios de cooperação com
agências reguladoras estaduais, constituídas por lei. As atividades delegadas são de fiscalização,
ouvidoria e mediação entre consumidores e concessionárias, objetivando a agilização dos res-
pectivos processos. Em contrapartida financeira a ANEEL repassa parte dos recursos decorren-
tes da arrecadação da taxa de Fiscalização para as agências estaduais.
8 Coube ao MME elaborar planos de outorga, definir diretrizes para os procedimentos licitatórios
188 e promover licitação para outorga de concessão.
Capítulo 17
jurídica de direito privado, todavia autorizado não mais pela ANEEL, mas pelo
Poder Concedente, sendo fiscalizado e regulado pela ANEEL.9
9 Lei 10.484/04 alterou os artigos 13 e 14 da Lei 9.648/98. Dos 5 Diretores do ONS, 3 são indica-
dos pelo MME, inclusive o Diretor Geral.
10 A criação da EPE foi autorizada pela Lei 10.847/2004.
11 A criação da CCEE foi autorizada pela Lei 10.848/2008 e Decreto 5.177/2004.
12 O MAE – Mercado Atacadista de Energia Elétrica, igualmente previsto pela Lei 9.648/98,
inicialmente suportado pelo Acordo do Mercado, foi criado como um contrato multilateral
de adesão assinado por agentes do setor elétrico (partícipes voluntários ou obrigatórios no
MAE, conforme disposições do Decreto 2.655/98 e Resoluções ANEEL aplicáveis), destina-
do a processar as operações livres de compra e venda de energia elétrica, com destaque para
as operações de curto prazo (mercado ‘spot’). Posteriormente, foi autorizada a criação do
MAE, nos termos da Lei 10.433/2002, como pessoa jurídica de direito privado, submetida
à autorização, regulamentação e fiscalização da ANEEL. O MAE destinava‑se, portanto, à
disciplina comercial e financeira das operações de compra e venda de energia elétrica. Já o
despacho e entrega da energia contratada eram, em sua maioria, coordenados e efetuados
pelo ONS.
13 A Convenção de Comercialização foi regulada pelo Decreto 5.177/04 e Resolução Normativa da
ANEEL n. 109 de 26/10/04. 189
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
17.3.1. Geração
A geração é entendida como a transformação em energia elétrica de qualquer ou-
tra forma de energia. Diferentemente de outros países, o setor elétrico brasileiro
caracteriza‑se por ter 93% de sua capacidade de geração de origem hidráulica.
17.3.2. Transmissão
Por transmissão compreende‑se o serviço público de transporte, em alta tensão,
da energia elétrica produzida nas usinas geradoras até os centros consumidores.
Como o Brasil tem sua matriz energética predominantemente hídrica, suas usinas
são construídas onde existe potencial hidroenergético, muitas vezes em locais não
próximos dos mercados consumidores, razão pela qual o país possui uma das redes
de transmissão mais desenvolvidas do mundo, sendo ela ainda interligada em sua
maior parte. A essa rede interligada de transmissão dá‑se o nome de Rede Básica
do Sistema Elétrico Interligado ou Sistema Interligado Nacional (SIN). Às regiões
do País não atendidas pelas linhas de transmissão interligadas dá‑se o nome de
Sistemas Isolados.
Importa ressaltar, por fim, que o serviço de transmissão é explorado apenas pelo
regime de concessão de serviço público, sendo, sem dúvida, um dos segmentos
mais regulados do setor.
17.3.3. Distribuição
A distribuição é o serviço público de transporte de energia elétrica em baixa tensão
por uma rede capilarizada, prestado a partir dos terminais das linhas de transmis-
são (onde é realizada a redução da tensão) até os consumidores finais.
17.3.4. Comercialização
A partir da promulgação da Lei 9.648/98, a comercialização passou a ser dotada
de titulação específica, podendo ser executada dissociadamente das outras ativi-
dades do setor, mediante autorização. Assim, além das atividades de comerciali-
zação desenvolvidas pelos produtores e pelos distribuidores, existe a figura dos
comercializadores, ou seja, empresas que, sem deter ativos físicos (redes, gerado-
res, etc.), podem comprar energia e vendê‑la para consumidores livres e para em-
presas de distribuição, além de realizarem operações de importação e exportação
de energia elétrica.
17.5. Planejamento
O MME definirá a relação dos novos empreendimentos que poderão ser licitados
e homologará a quantidade de energia elétrica a ser contratada para o atendimen-
to de todas as necessidades do mercado nacional, bem como a relação dos novos
empreendimentos de geração que integrarão o processo licitatório de contratação
de energia.
17.6. Conclusão
O atual modelo foi concebido pelo Governo como o arranjo institucional neces-
sário para que o setor elétrico brasileiro atinja os seguintes objetivos principais:
(i) modicidade tarifária; (ii) melhor qualidade na prestação do serviço; (iii) forne-
cimento ininterrupto de energia; (iv) justa remuneração para os investidores, de
modo a incentivá‑los a expandir o serviço; e (v) universalização do serviço.
Com recursos públicos escassos, a atração dos investimentos privados para o setor
é o grande desafio no modelo atual, de modo a garantir o desenvolvimento econô-
mico e social do País.
197
A Regulamentação
das Instituições
Financeiras e do
Arrendamento
Mercantil no Brasil
18.1. Instituições Financeiras
Capítulo 18
A base legal da regulamentação do setor financeiro e bancário brasi-
leiro encontra‑se na Constituição Federal (art. 192), na lei que dispõe
sobre as instituições financeiras (Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de
1964) e leis a elas relacionadas (tais como, a Lei nº 4.728, de 14 de ju-
lho de 1965, que disciplina o mercado de capitais e estabelece medi-
das para o seu desenvolvimento, a Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de
1976, que dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a Co-
missão de Valores Mobiliários, e a Lei nº 4.131, de 3 de setembro de
1962, que versa sobre a aplicação do capital estrangeiro e as remessas
de valores para o exterior). Além dessas leis, destacam‑se os norma-
tivos baixados pelas autoridades monetárias, tais como as Resoluções
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
O Sistema Financeiro Nacional é composto pelo CMN, pelo BACEN, pelo Ban-
co do Brasil S.A., pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) e demais instituições financeiras públicas e privadas. Dentre essas ins-
tituições, destaca‑se o CMN, autoridade monetária máxima, responsável pela for-
mulação das políticas monetária e de crédito, inclusive relativas a câmbio e à regu-
lamentação das operações das instituições financeiras em geral.
Por sua vez, cabe ao BACEN cumprir e fazer cumprir as normas expedidas pelo
CMN e implementar as obrigações contidas em lei, tais como: exercer o controle
de crédito sob todas as suas formas, efetuar o controle dos capitais estrangeiros,
realizar operações de redesconto e empréstimo a instituições financeiras bancárias,
ser depositário das reservas oficiais de ouro, de moeda estrangeira e de direitos es-
peciais de saque, fiscalizar todas as instituições financeiras, aplicar as penalidades
previstas em lei, conceder autorização de funcionamento às instituições financeiras
e estabelecer condições para a posse e para o exercício de quaisquer cargos de ad-
ministração de instituições financeiras privadas.
líquido exigidos terão redução de 30% (trinta por cento), com exceção de agên-
cia de fomento e de sociedade de crédito ao microempreendedor e à empresa de
pequeno porte.
A Resolução CMN nº 3.398, de 29 de agosto de 2006 estabelece que, caso seja cons-
tatado o descumprimento dos padrões de capital mínimo ou dos limites operacio-
nais, o BACEN convocará os representantes legais da instituição e, se necessários, seus
controladores, para informarem sobre as medidas que serão adotadas com vistas à
regularização do descumprimento. A instituição deverá apresentar, para a aprovação
do BACEN, um plano de regularização contendo as medidas que deverão ser adota-
das para enquadramento e respectivo cronograma de execução, o qual não poderá ser
superior a seis meses, prorrogáveis a critério do BACEN por mais dois períodos iguais.
Além do mais, cabe ressaltar que as instituições financeiras estrangeiras somente 205
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
Para executar suas atividades, o CGI.br criou uma entidade civil, sem fins lucrati-
vos, denominada “Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR” – NIC.br. A
criação desta pessoa jurídica conferiu maior autonomia administrativa, facilitando
a execução das atividades atribuídas ao CGI.br, como, por exemplo, a arrecadação
de valores pelo registro de nomes de domínio.
O registro do domínio pode ser cancelado, dentre outras hipóteses, pela inobser-
vância das regras previstas pelo CGI.br, descumprimento de compromisso de em-
presa estrangeira estabelecer‑se no Brasil até doze meses de declaração prestada ao
CGI.br, ou por ordem judicial (art. 9º da Resolução CGI.br 08/08). Os nomes de
domínio têm sido objeto de diversas ações judiciais, na maioria das quais se pleiteia
o cancelamento, a suspensão ou a transferência do nome de domínio ao autor da
ação, bem como a abstenção de uso do nome de domínio pelo réu.
O Brasil ainda não dispõe de uma lei que trate especificamente de comércio eletrô-
nico. Especialistas e autoridades governamentais ainda discutem a necessidade de
maior ou menor regulamentação sobre o assunto. Há consenso, entretanto, de que é
necessária a adoção de legislação específica, para a segurança jurídica dos negócios
realizados no meio virtual.
Por fim, o Projeto de Lei nº 4.906/01 regula o comércio eletrônico em todo o terri-
tório nacional, destacando a necessidade de uniformização das normas de comércio
eletrônico em nível internacional, criando dispositivos que regulamentam a aplicação
de requisitos legais às mensagens eletrônicas e a comunicação de mensagens eletrôni-
cas, inclusive quanto à celebração e validade dos contratos celebrados virtualmente.
comercial eletrônica celebrada entre partes situadas em países diferentes será regu-
lada pela lei do país onde residir o proponente. Significa dizer que se uma proposta
é feita por empresa ou pessoa residente no estrangeiro, e aceita por empresa ou
pessoa residente no Brasil, a lei aplicável será a do país estrangeiro, e, ao inverso, se
a proposta é feita por empresa ou pessoa residente no Brasil, e aceita por empresa
ou pessoa residente no estrangeiro, a lei aplicável será a lei brasileira.
Assim, no contrato eletrônico celebrado por duas empresas situadas em países di-
ferentes, sendo a proponente sediada no estrangeiro, sem possuir filial no Brasil, a
lei aplicável será a do país estrangeiro. Considerando que a obrigação decorrente
do contrato tenha que ser cumprida no Brasil, a justiça brasileira será competente
para processar e julgar o caso.
Código Civil/2002 dispõe, em seu artigo 225, que quaisquer reproduções eletrô-
nicas de fatos ou de coisas fazem prova destes, desde que a parte contrária não
lhes impugne a exatidão. Portanto, no caso de impugnação pela parte contrária,
a prova acerca de informações mantidas sob a forma de registros eletrônicos
acaba, de modo geral, dependendo de exame pericial, sendo que a questão da
possibilidade de alteração do conteúdo de um documento eletrônico e da incer-
teza de sua autoria permanecem, até o momento, sem tratamento adequado no
ordenamento vigente.
Nas relações de consumo internas, via comércio eletrônico, são aplicáveis os pre-
ceitos do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, notadamente quanto (i) ao
direito de informações sobre o fornecedor e sobre as características do produto ou
serviço ofertado; (ii) à proteção contra práticas comerciais consideradas abusivas e
à publicidade enganosa; (iii) aos bancos de dados e cadastro de consumidores; (iv)
ao direito de arrependimento e (v) ao caráter vinculante da oferta.
Quanto aos serviços de provimento de acesso à Internet, embora ainda haja diver-
gência sobre a espécie tributária incidente – se ICMS, ISSQN ou nenhum deles – a
218 doutrina e jurisprudência têm entendido que o ICMS não incide sobre a prestação
Capítulo 19
Saliente‑se, contudo, que o Projeto de Lei nº 3.303 propõe a classificação dos pro-
vedores de internet como prestadores de serviços, nos termos do Código de Defesa
do Consumidor.
1 O que foi confirmado pela MC 10388/SP, Ministro Luiz Fux, DJ 20/02/06; Resp 736607/PR,
Ministro Francisco Falcão, j. 25/10/2005; Resp 511390/MG, Ministro Luiz Fux, j. 19/05/2005;
AgRg nos EDcl no Ag 883.278/RJ, Ministro Luiz Fux, j. 04/03/2008. 219
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
da maior parte dos litígios exige a solução de questões de fato. Em regra o acesso
do juiz a tais fatos depende de provas. Teoricamente pelo menos, a probabilidade
de atingir‑se uma decisão justa cresce na razão direta dos mecanismos probatórios.
Durante a fase probatória, a ação do juiz deve ser extremamente cuidadosa e buscar
amplo acesso a todos os meios necessários para uma avaliação e análise criteriosa e
para a formação de seu convencimento. O indeferimento injustificado da produção
de prova pelo magistrado, constitui cerceamento de defesa (art. 5º, LV, Constitui-
ção Federal). O Julgador, a partir de critérios ditados por Lei (persuasão racional),
tentará reconstruir os fatos discutidos nos autos para precisar de que maneira eles
teriam sido presenciados. O Julgador é livre para analisar os fatos. Contudo, essa
liberdade não significa, é claro, arbítrio judicial.
Quanto aos meios de prova, nosso sistema legal não adota uma enumeração taxa-
tiva, mas admite “todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda
que não especificados neste Código.” (artigo 332, do Código de Processo Civil).
O ordenamento brasileiro admite, inclusive, as “provas atípicas” ou “inominadas”,
muito embora repudie as provas “ilegítimas”, ou seja, aquelas que afrontam as nor-
mas de Direito Processual, seja quanto ao meio, ou modo se sua obtenção.
A prova documental é a coisa que ela representa e presta‑se a reproduzir uma ma-
nifestação do pensamento. Como acontecimentos e ideias são tidos em juízo como
“fato”, o documento é uma coisa representativa de um fato. Como coisa represen-
tativa, o documento não existe no estado natural, mas se forma a partir da ação e,
portanto, assume uma certa forma ou meio.
tos. Aos documentos públicos, desde que firmados por oficial público (fé pública),
é garantida presunção juris tantum acerca da sua autenticidade, exceto na hipótese
de haver prova de sua falsidade (material ou ideológica).
Com relação aos documentos particulares, a questão da sua força probatória é con-
trovertida, tendo em vista a diversidade de formas pelas quais eles se apresentam.
Por exemplo, para o documento particular escrito e assinado ou apenas assinado,
há presunção legal de que as declarações dele constantes são verdadeiras. A teor
do artigo 388, I, do Código de Processo Civil Brasileiro, o documento particular
deixa de merecer fé quando lhe for contestada a assinatura e enquanto não se lhe
comprovar a veracidade. Para afastar‑se a fé de qualquer documento público ou
particular, cabe à parte interessada a arguição de falsidade (“principaliter” ou “inci-
denter tantum”), a fim de que a mesma seja declarada judicialmente. O documen-
to particular deve ser necessariamente escrito pela própria parte ou por outrem,
como também, poderá ou não estar assinado. Para a doutrina tradicional, o autor
do documento particular será aquele que o assinou, dispensando‑se tal assinatura
somente naqueles tipos de documentos que habitualmente não costumam ser assi-
nados, como é o caso dos livros comerciais.
A partir deste ponto é que surgem os questionamentos acerca dos chamados “do-
cumentos eletrônicos” e sua utilização como meio de prova. O uso de meios ele-
trônicos na constituição dos atos jurídicos representa a progressiva substituição da
grafia por impulsos ou transmissões eletrônicos. A assinatura do autor não acom-
panha necessariamente o documento, face à sua substituição pelos chamados “có-
digos ou senhas confidenciais.”
2 Cf. Graziosi, Andrea, “Premesse ad una teoria probatoria del documento informático”, in Rivista
Trimestrale di Diritto e Procedura Civile, Anno LII, n. 2, junho/98, Milano, Giuffrè, p. 487. 221
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
observador não é imediata. Vale dizer: para que a representação se torne compre-
ensível, é necessário o recurso a um elaborador eletrônico, o qual, se traduz em um
objeto (intermediário) que permita ao observador a cognição da declaração repre-
sentada no documento3. Dentro da ampla classificação documental, o documento
informático se enquadra, portanto, na categoria dos documentos indiretamente
representativos. Pode‑se afirmar, portanto, que o documento informático é todo
e qualquer objeto que, interagindo com um elaborador eletrônico, seja capaz de
transmitir a representação de um fato presente ou passado4.
7 Cf. Silva, Ricardo Barretto Ferreira da e Paulino, Valéria in “Relevant issues in conducting
commerce on the Internet”, paper apresentado na 10th Annual Conference on Legal Aspects of
Doing Business in Latin America, 1.998, pp.10/11.
8 Selected Provisions and Comments from Proposed Article 2B – September, 1997, p. 14, apud
Silva, Ricardo Barretto Ferreira da e Paulino, Valéria, op. cit., p. 15. Outras novas diretivas
da UEE sobre a matéria: Diretiva 21/2002 – institui um quadro comum de rede e serviço de
comunicações eletrônicas; Diretiva 65/2002 trata do comércio de serviços bancários à distância
Diretiva58/2002 – tutela a vida privada e no setor de comunicação eletrônica. 223
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
Os sistemas de common law conhecem, por sua vez, duas normas fundamentais
que parecem constituir obstáculos à prova da existência do documento eletrônico:
a regra da testemunha indireta (hearsay rule) e a regra do original (best evidence
rule)10. O exame dessas duas normas permite verificar como a questão é tratada, em
linhas gerais, em países como a Inglaterra e os EUA.
11 Cf. Grazuisi, op. cit., “l’apposizione della firma digitale integra un atto di volontá, giuridicamente
rilevante, di assunzione di paternitá della dichiarazione cui si riferisce”. 225
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
São dois os tipos de risco a que estão sujeitos os documentos eletrônicos: os erros
e as fraudes. Os erros podem ter origem diversas: humana, técnica ou externa. A
maior parte dos erros de origem humana deve‑se a falhas na manipulação de da-
dos. Os erros de origem externa são imputáveis, principalmente, ao meio ambiente
(más condições de temperatura ou umidade, por exemplo). Quanto aos defeitos
de origem técnicas, esses resultam de um mal funcionamento do software ou do
próprio elaborador eletrônico utilizado. A fraude se diferencia do erro pelo seu
caráter doloso.
Uma das mais completas e modernas leis sobre a matéria é a lei italiana n. 59 de
1.997, que, então, já disciplinava detalhadamente as condições de admissibilidade
do documento eletrônico como meio de prova, com previsão expressa a respeito da
assinatura criptografada, das cópias digitais, etc.
a utilizar, em seus recursos, acórdão retirado da internet, desde que haja declaração
do advogado responsabilizando‑se pela autenticidade do documento).
De outra parte, nossos Tribunais, cada vez mais, vêm se adaptando a essa nova reali-
dade legislativa. O Tribunal Regional Federal da 4ª região, por exemplo, implemen-
tou em julho de 2003 o processo eletrônico em quatro juizados especiais federais,
desenvolvendo um processo sem o uso de papéis, mediante o envio à distância de
petições e documentos através do e‑mail e vem implantando de forma gradativa o
processo eletrônico. São processadas por meio eletrônico algumas classes de ações
e recursos quando originárias do Tribunal Regional Federal da 4ª região e outras,
quando remetidas pela Justiça Federal, são convertidas para o meio eletrônico e as-
sim processadas. De outro lado, entretanto, alguns Tribunais ainda tornam desa-
conselhável a utilização prática do documento eletrônico nos processos. O Superior
Tribunal de Justiça, por exemplo, reconhece a validade do documento eletrônico
apenas: (i) se o arquivo eletrônico foi corretamente recebido no Tribunal e (ii) se os
originais foram protocolizados tempestivamente, nos termos da Lei 9.800/99.14
Sem prejuízo disso, destaque‑se o Decreto n° 3.505, de 13 de junho de 2000, que insti-
tuiu a Política de Segurança de Informação nos órgãos e entidades da Administração
Pública Federal, foi uma das primeiras normas brasileiras a tratar de tema relacionado
às comunicações eletrônicas. Posteriormente, o Decreto n° 3.587 de 05.09.2000 (revo-
gado pelo artigo 6° do Decreto n° 3.996 de 31.10.2001) estabeleceu as normas para a
Infra‑Estrutura de Chaves Públicas do Poder Executivo Federal – ICP‑Gov ‑, visando
à criação e utilização da assinatura digital, por meio da criptografia assimétrica.
14 Resp 594.352/SP, Resp 594.352/SP, REsp. n.º 525.067/ES, j. 19.02.2004; em sentido contrário:
Recurso Ordinário em Mandado de Segurança nº 11.960/RJ – o Superior Tribunal de Justiça
apreciou e reconheceu a validade jurídica do documento eletrônico (informações processuais)
228 que o litigante obteve no site do tribunal.
Capítulo 19
ções de suporte e das aplicações habilitadas que utilizem certificados digitais, bem
como a realização de transações eletrônicas seguras.
A referida Medida Provisória, até chegar ao texto atual, passou por três edições,
depois de sancionada, resultando na MP nº 2.200‑2/2001. Sua sanção passou por
cima de diversos projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional. Eles dis-
põem sobre a mesma matéria, alguns bem mais completos que a MP, como é o
caso do Projeto de Lei nº 4.906/2001, que além de cuidar da assinatura digital e da
certificação eletrônica, trata, de uma maneira bem mais abrangente, as relações e
responsabilidades decorrentes do Comércio Eletrônico.
19.8.5. Conclusões
O direito brasileiro tem agido positivamente, no sentido de buscar instrumentos
adequados a dirimir questões novas que impostas pelo crescente desenvolvimento
da tecnologia. Nessa medida, instaurou‑se, com a Medida Provisória 2.200, um
regime duplo no que se refere ao valor jurídico e probante das assinaturas eletrô-
nicas. De um lado há a assinatura eletrônica avançada que produz, por força da
lei, os mesmos efeitos jurídicos de uma assinatura manuscrita. De outro, tem‑se a
assinatura eletrônica a que não se pode recusar valor jurídico e probante, desde que
admitida pelas partes como válida ou aceita pela pessoa a quem foi oposta. Nesse
caso, seu valor jurídico deriva da vontade das partes.
É bem verdade que o Direito estará sempre aquém da evolução da Ciência. Por esse
motivo é que se diz que as regras legislativas tendentes a regulamentar assuntos
de natureza científica têm de ser editadas de forma suficientemente genérica para
abarcar o maior número de hipóteses e deixar espaço para a própria evolução.
A CAPRE foi sucedida pela Secretaria Especial de Informática – SEI1, cujo princi-
pal objetivo era elaborar uma política de informática. Esta transição administrativa
marca também uma modificação substancial nos objetivos da intervenção do Esta-
do no setor de TI no Brasil. À época da criação da CAPRE a principal preocupação
do governo era a de controlar e aprender a usar os recursos de TI. A SEI, por sua
vez, tinha como principal objetivo desenvolver tecnologia internamente.
Nesse contexto de mudança, foi editada em 1984 a Lei 7.232, para disciplinar a polí-
tica nacional de informática. À época, restrições à importação, produção, operação
e comercialização de bens e serviços técnicos de informática eram os meios para o
país adquirir capacitação em TI. E esta capacitação deveria induzir o desenvolvi-
mento do Brasil.
Essa realidade passou por profunda modificação com a edição das Leis 8.191/1991
e 8.248/1991. Estas Leis reduziram substancialmente as restrições à importação,
produção, operação e comercialização de bens e serviços técnicos de informática.
E em 1995, a Emenda Constitucional 6 extinguiu os privilégios concedidos às em-
Sob a nova política, o governo federal criou incentivos fiscais para a produção no
Brasil de bens de informática e automação, especialmente na Zona Franca de Ma-
naus3. Para poder se beneficiar destes incentivos, os fabricantes deveriam adicio-
nal localmente valor a seus produtos e cumprir com processos produtivos básicos
aprovados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), além de investir na
pesquisa e desenvolvimento de atividades relacionadas a TI.
3 Alterações posteriores destas leis e seus regulamentos estenderam os incentivos para empresas
estabelecidas nas regiões da Amazônia, Nordeste e Centro‑Oeste. 233
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
Software
lece que serão nulas e sem efeitos as disposições contratuais que (i) estabelecerem
limites para a produção, distribuição ou comercialização de software em violação
da regulamentação em vigor, ou (ii) liberação de qualquer das partes contratantes
da responsabilidade em relação a defeitos e falhas de software ou violação de direi-
tos autorais de terceiros.
Além de constituírem ilícitos civis, a maioria das violações de software também são
crimes segundo a lei brasileira, sujeitando os infratores à detenção de seis meses até
dois anos ou multa. Em caso de violações que consistem na reprodução de software
em violação de direitos autorais de terceiros para venda ou a venda, exposição para
venda, aquisição, ocultação ou manutenção em depósito para fins de comércio, o
infrator estará sujeito a reclusão de um até quatro anos e multa.
8 De acordo com a Lei 11.484/2007, circuito integrado significa um produto, em forma final ou
intermediária, com elementos dos quais pelo menos um seja ativo e com algumas ou todas as
interconexões integralmente formadas sobre uma peça de material ou em seu interior e cuja
finalidade seja desempenhar uma função eletrônica. A topografia de circuitos integrados é de-
finida como uma série de imagens relacionadas, construídas ou codificadas sob qualquer meio
ou forma, que represente a configuração tridimensional das camadas que compõem um circuito
integrado, e na qual cada imagem represente, no todo ou em parte, a disposição geométrica ou
arranjos da superfície do circuito integrado em qualquer estágio de sua concepção ou manufatu-
236 ra.
Capítulo 20
Para fins da Lei 11.484/2007, os seguintes atos não serão considerados violações
dos direitos à topografia concedidos nos termos da Lei: (i) atos praticados por ter-
ceiros não autorizados para fins de análise, avaliação, ensino e pesquisa; (ii) atos
que consistam na criação ou exploração de uma topografia resultante da análise,
avaliação e pesquisa de topografia protegida, desde que a topografia resultante não
seja substancialmente idêntica à protegida; (iii) atos que consistam na importação,
venda ou distribuição por outros meios, para fins comerciais ou privados, de CIs
ou produtos que os incorporem, colocados em circulação pelo titular do registro
da topografia de CI respectivo ou com seu consentimento, e (iv) atos descritos no
item (ii) do parágrafo anterior, praticados ou determinados por quem não sabia,
por ocasião da obtenção do circuito integrado ou do produto, ou não tinha base ra-
zoável para saber que o produto ou o circuito integrado incorpora uma topografia
protegida, reproduzida ilicitamente.
O mais importante benefício fiscal federal atualmente aplicável à fabricação local
de produtos TI são10: (i) a depreciação acelerada de novas máquinas, equipamentos
e instrumentos utilizados no processo de fabricação, e (ii) a redução do Imposto
sobre Produtos Industrializados – “IPI” para as empresas de desenvolvimento ou
produção de bens e serviços de TI que investem em pesquisa e desenvolvimento
(P&D). A redução do IPI para essas empresas segue a tabela abaixo:
10 A Lei 8.248 também estabelece um incentivo que não tem natureza fiscal, que consiste na
preferência nas aquisições dos órgãos e entidades da administração pública federal, fundações
instituídas e mantidas pelo Poder Público e demais organizações sob o controle direto ou indire-
to da União. Tal preferência é conferida, na ordem, em favor de bens e serviços com tecnologia
238 desenvolvida no país, ou bens e serviços produzidos de acordo com processo produtivo básico.
Capítulo 20
Além da redução do IPI nos produtos finais, a lei permite que as empresas utilizem
créditos de IPI obtidos nas compras de matérias‑primas, produtos intermediários e
materiais de embalagem utilizados na fabricação dos produtos de TI.
11 Empresas sediadas nas áreas da SUDAM, SUDENE e Centro‑Oeste estão sujeitas a regulamenta-
ção específica, geralmente mais favoráveis do que a aplicável em outras partes do Brasil. 239
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
Além dos requisitos acima, a empresa que pleitear os benefícios deve investir em
seu programa de P&D no Brasil, pelo menos, 5% por ano de seu faturamento bruto
com a venda de bens e serviços no mercado interno, deduzidos os impostos inci-
dentes sobre tais vendas e o custo de aquisição de produtos beneficiados por tais
incentivos. Uma parte dos fundos de P&D devem ser investidos em projetos com:
Investimento Beneficiário
percentual não Centros ou institutos de pesquisa ou entidades brasileiras de
inferior a 1% ensino, oficiais ou reconhecidas, credenciados pelo Comitê
da Área de Tecnologia da Informação – CATI.
percentual não Centros ou institutos de pesquisa ou entidades brasileiras
inferior a 0,8% de ensino, oficiais ou reconhecidas, com sede ou estabe-
lecimento principal situado nas regiões de influência da SU-
DAM, da SUDENE e da região Centro‑Oeste, excetuada a
Zona Franca de Manaus.
percentual não FNDCT.
inferior a 0,5%
Lei n° 4.8861. Todavia, quando o agente tiver à sua disposição a coisa negociada,
este será um contrato de Distribuição, regulado pelo Código Civil Brasileiro.
Por isso, o Agente (ou Representante Comercial), exercerá sua função, agru-
pando propostas de possíveis compradores e remetendo‑as à aprovação da
empresa representada. No caso de acolhimento da proposta, o Agente fará jus
a um percentual da transação, prévia e contratualmente ajustado (comissão),
condicionado ao efetivo pagamento pelo comprador, exceto se o contrato pre-
ver o direito de comissão, independente do pagamento do adquirente. Impor-
tante ressaltar que, independente da atuação do Agente, esse fará jus à comissão
sobre quaisquer negócios realizados em sua área de atuação, salvo previsão ex-
pressa em contrário.
Também é previsto, nas leis mencionadas acima, que todo Representante Co-
mercial é obrigado a se registrar perante o Conselho de Representantes Comer-
1 Por outro lado, alguns emitentes doutrinadores brasileiros, como José Alexandre Tavares Guer-
reiro, aceitam a possibilidade da Lei n° 6.729 reger os contratos de distribuição, além daqueles
que tratam de veículos automotores como definido em Lei específica.
2 que recebe a denominação legal de Representante Comercial ou Agente
3 dependendo da existência, ou não, de cláusula de exclusividade, no contrato assinado pelas
242 partes contratantes
Capítulo 21
Segundo o artigo 27 da Lei n°4.886/1965, o contrato deve ser escrito e deverá con-
ter, além das especificações acordadas pelos contratantes, os tópicos previstos na-
quele artigo, como por exemplo: (i) Condições gerais da Representação; (ii) Indi-
cações e características dos produtos; (iii) Duração do contrato; (iv) Indicação da
área, ou áreas onde a representação será efetuada, bem como a permissão ou não
para a empresa representada realizar vendas próprias (diretas) na área ou áreas
indicadas; (v) Admissão total ou parcial de exclusividade na área de vendas; (vi)
Retribuição(comissão) em favor do Representante Comercial e determinação de
seu pagamento, condicionado ou não ao recebimento do preço efetuado pelo com-
prador; (vii) Exclusividade ou não em favor dos produtos da empresa representada;
(viii) Indenização ao Representante Comercial no caso do término injustificado
do contrato, que não pode ser inferior ao equivalente a 1/12 da retribuição total da
relação comercial.
4 baseadas, dentre outras alegações, na presunção de trabalho, uma vez provada a concomitância
dos fatores pessoalidade, dependência salarial, habitualidade e subordinação
5 já previstas no contrato e sob o pálio das leis n°4886 e 8420. 243
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
De acordo com o artigo 2° da Lei 6.729, são veículos automotores de via terres-
tre automóveis, caminhões, ônibus, tratores, agrícolas e motocicletas e similares, e,
portanto, estes são regidos por suas disposições. Isso nos leva à conclusão de que
outros tipos de veículos automotores que não são similares a estes, como barcos e
tratores não agrícolas, estão excluídos do âmbito da referida lei, pertencendo, por
consequência, à segunda categoria, ou seja a dos contratos ordinários de distribui-
ção, os quais serão oportunamente comentados.
244 6 No Brasil, é muito comum encontrar tais proibições neste tipo de acordo.
Capítulo 21
7 definido no artigo 8° da Lei n° 6.729, como a quantidade mínima de peças do fabricante que os
revendedores estão obrigados a adquirir, de acordo com as cláusulas previstas na Convenção de
Categoria.
8 que poderá ser reservada para mais de um revendedor, exceto no caso de exclusividade concedi-
da a um revendedor especifico.
9 de acordo com o critério de potencial de mercado
10 De qualquer forma, os consumidores devem sempre ter direito de escolher livremente qualquer
revendedora a fim de adquirir os bens produzidos pelo fabricante, ressalvado, por outro lado, o
direito do distribuidor a ser reembolsado pela assistência técnica prestada a um consumidor que
tiver adquirido o Produto de outro Distribuidor.
11 Mas, em qualquer destes eventos, a Lei n° 6.729 proíbe qualquer contrato novo que possa colo-
car em risco os Distribuidores já contratados, apesar de não garantir direito de preferência para
o Distribuidor já estabelecido em determinada área operacional – onde seja possível, em termos
de expectativa de mercado, novas contratações.
12 por produto e tendo em vista o mercado interno, no período anual subsequente, e de acordo
com as perspectivas de mercado. 245
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
Além disto, nos termos da Lei 6.729, o fabricante está obrigado a preservar a igual-
dade de preços e pagamentos entre todos os Distribuidores, que, por sua vez, são
livres para estabelecer seus preços aos consumidores.
De qualquer forma, o nível das vendas diretas e sua repercussão sobre a quota de
veículos dos Distribuidores deve sempre ser prevista pela Convenção de Categoria
e é expressamente proibido praticar qualquer tipo de ato lesivo que possa levar à
subordinação do Distribuidor ou à interferência em sua administração.
só pode ser extinto nos termos da Lei n°6.729, ressalvada a possibilidade de uma
duração inicial de no mínimo cinco anos18.
(1) Término causado pelo fabricante: (i) O fabricante deve comprar de volta o es-
toque inteiro de novos veículos automotores e autopeças do Distribuidor pelo pre-
ço oferecido aos consumidores no dia do distrato; (ii) O fabricante deve comprar
todo o equipamento, maquinário, ferramentas e instalações (exceto a propriedade
imobiliária), pelo seu preço de mercado; (iii) O fabricante também deve pagar uma
(2) Término provocado pelo Distribuidor: O Distribuidor deve pagar uma inde-
nização correspondente a 5% do valor total de todas as mercadorias que houver
adquirido nos últimos quatro meses anteriores ao término.
Por isso, as partes contratantes são livres para regulamentar suas relações, qua-
se que exclusivamente, por meio do contrato, observando‑se tão somente as já
mencionadas normas gerais sobre obrigações como prevista nos Códigos Co-
mercial e Civil22.
20 Ainda, o fabricante deve pagar ao Distribuidor uma adicional, se assim previsto pelo Acordo de
Distribuição Comercial ou pela Convenção de Categoria.
21 arts. 710 a 721, comuns à Agência e Distribuição.
22 Portanto, se o contrato não tiver previsão quanto à sua duração, há uma presunção legal de que
o mesmo é indeterminado e seu término será possível a qualquer tempo através de uma simples
notificação de noventa dias. 249
CONTRATOS
INTERNACIONAIS:
PROPRIEDADE
INTELECTUAL
nal, na medida em que um dos seus elementos integrantes for sujeito ou estiver co-
nectado a um outro ordenamento jurídico, ou seja, é justamente a presença desses
elementos internacionais multiconectados, que são comumente denominados de
elementos de conexão ou de estraneidade, que implicará na possibilidade eventual
da aplicação de mais de um ordenamento jurídico para reger uma determinada re-
lação jurídica contratual. Esse elemento de conexão poderá ser, por exemplo, con-
forme o caso, a localização do domicílio das partes contratantes em países diversos,
ou o local do cumprimento da obrigação contratual, ou ainda a localização do bem
objeto da transação comercial.
No caso das partes contratantes não estabelecerem uma determinada lei para regu-
lar o contrato internacional que celebraram, na hipótese de surgir no futuro uma
eventual disputa entre ambas, então a controvérsia em questão será solucionada de
acordo com a lei aplicável que resultar da aplicação das normas internas de Direito
Internacional Privado (DIPr) do país competente para julgar a disputa e resolver,
de forma definitiva, o eventual conflito de lei no espaço. Cumpre observar que,
diante da situação de ausência da escolha da lei aplicável ao contrato internacional,
no que diz respeito ao Brasil, as nossas normas internas e indiretas de Direito In-
ternacional Privado encontram‑se dispostas na Lei de Introdução ao Código Civil
– LICC (Decreto‑lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942).
Em relação à proteção dos direitos autorais, cumpre destacar que ela visa garantir,
basicamente, dois objetivos distintos, a saber: (i) o exercício do chamado “direito
moral do autor”, isto é, um direito inerente ao próprio autor de reivindicar para si
a paternidade da sua obra e de garantir a sua integridade, se opondo a qualquer
tentativa de alteração ou de deformação da sua obra original; e (ii) o exercício
do chamado “direito econômico” de exploração comercial da sua obra, mediante
autorização expressa para garantir o uso legítimo por terceiros do todo ou parte
de sua obra, em reproduções do trabalho do autor destinadas à venda para o pú-
blico, em geral, por meio de edição de livros, gravação de músicas, transmissão de
imagens, etc.
Por outro lado, a proteção jurídica da propriedade industrial tem por objetivo ga-
rantir que a marca, por exemplo, que identifica um produto ou um serviço prestado
por uma determinada empresa, após o seu devido registro no órgão competente,
não poderá mais ser usada por nenhuma outra pessoa ou empresa, tornando‑se 253
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
O Brasil ratificou a Convenção de Paris de 1883 já no ano seguinte, por meio do De-
creto 9.233, de 28 de junho de 1884 e, posteriormente, em 31 de dezembro de 1929,
por meio do Decreto 19.056, incorporou as alterações promovidas pela primeira
revisão da Convenção de Paris, ocorrida em Haia, Holanda, em 1925. Já na segunda
metade do século XX, uma nova revisão foi organizada, resultando na Convenção
de Estocolmo de 1967, ratificada pelo Brasil por meio do Decreto 75.572, de 8 de
abril de 1975, e, um pouco mais tarde, por meio do Decreto 635, de 21 de agosto de
254 1992, o Brasil incorporou os artigos 1º ao 12 e o art. 28, alínea 1,do texto de Esto-
Capítulo 22
Além disso, o Brasil ratificou, também, outro tratado importante relativo à prote-
ção jurídica da propriedade intelectual, o chamado Acordo dos Aspectos dos Direi-
tos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (mais conhecido pela sua
sigla em inglês “TRIPS” – Trade Related Intellectual Property Rights), celebrado em
1994, na conclusão das negociações da Rodada Uruguai, iniciada em 1986, no âm-
bito do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) e que culminou com a criação
da Organização Mundial do Comércio (OMC), da qual o referido acordo é parte
integrante dos seus atos constitutivos. O Acordo TRIPS regulamenta, dentre outros
temas, a proteção dos direitos de propriedade intelectual, em matéria de patentes,
direitos autorais, marcas registradas, indicações geográficas e desenhos industriais.
O TRIPS também estabelece que os membros da Organização Mundial do Comér-
cio garantam a proteção da propriedade intelectual, segundo os termos da Con-
venção de Paris e outros acordos internacionais relacionados à matéria. No Brasil,
o TRIPS (Anexo 1C do Tratado de Marrakesh) foi ratificado através do Decreto nº
1.355 de 30 de dezembro de 1994, que incorporou a Ata final da Rodada Uruguai
das negociações Comerciais Multilaterais do Acordo do GATT. Observe‑se, ainda,
que o Brasil ratificou também outros tratados internacionais relevantes referentes
à proteção da propriedade intelectual, tais como: (a) Acordo de Estrasburgo Rela-
tivo à Classificação Internacional de Patentes; e (b) Tratado sobre Cooperação em
Matéria de Patentes.
Já no final do século XX, entrou em vigor no Brasil a Lei nº 9.279, de 14.5.1996, que
regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial, também conhecida
como o novo Código de Propriedade Industrial brasileiro, que regulamentou diver-
sos aspectos relativos a invenções, modelos de utilidade, marcas de produtos, mar-
cas comerciais e de serviços e desenhos industriais. A referida lei dispõe ainda de
regras sobre os crimes contra a propriedade industrial. Essa Lei foi posteriormente
alterada pela Lei nº 10.196, de 14 de fevereiro de 2001 255
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
sua criação. Outro aspecto relevante a ser incluído no contrato é a cláusula sobre
a forma de remuneração do autor que, na maioria dos casos, é calculada sobre um
valor correspondente a um percentual sobre o preço de capa de cada livro. Esta re-
muneração é devida de acordo com as vendas efetivamente realizadas, enumeradas
pela editora em boletins periódicos de prestação de contas, que podem, inclusive,
ser auditadas pelo cedente. Faz‑se necessário, ainda, definir se a cessionária será
ou não investida de exclusividade sobre a obra, oponível contra terceiros e con-
tra o próprio autor, que, dependendo da extensão da exclusividade, não poderão
reproduzi‑la por qualquer forma.
em si, desde que o cessionário também atenda aos requisitos legais para reque-
rer tal registro. Esta cessão produz efeitos a partir da anotação no registro, feita
por requerimento ao INPI, que tem competência para isso nos termos do artigo
136, inciso I, da referida Lei. Observe‑se, ainda, que a cessão só produzirá efeitos
perante terceiros a partir da publicação do deferimento da anotação pelo INPI.
Verifique‑se, também, que, de acordo com a Lei 9.279/96, o legislador brasileiro
optou pelo critério do princípio da universalidade da cessão da marca, segundo
o qual, no caso de transferência, todos os registros e pedidos de marcas iguais ou
similares referentes à mesma atividade deverão ser transferidos em bloco.
Por fim, cumpre observar que, no Brasil, é possível realizar o registro de uma marca
como brasileira ou estrangeira. No caso das marcas estrangeiras, faz‑se necessário
ressaltar que elas são registradas em consonância com os critérios estabelecidos
pela própria Convenção de Paris, que definiu um período de prioridade de seis
meses, a contar da data do pedido no país de origem da marca, para que o seu
proprietário inicie o pedido de registro desta marca em outros países que tam-
bém tenham ratificado a referida Convenção. Nesse sentido, para que uma marca
estrangeira seja registrada como tal no Brasil, será necessário apresentar ao INPI,
uma cópia autenticada do pedido de marca feito no seu respectivo país de origem
ou o seu certificado de registro.
Nos termos da Lei nº 9.279/96, existem diferentes tipos de licenças, a saber: (a) a licença
voluntária, que garante ao titular da patente o direito de licenciar terceiros com a fina-
lidade de fabricar e comercializar o produto objeto da proteção; e (b) a licença compul-
sória, que foi instituída para fins de se evitar quaisquer abusos no exercício do direito de
exploração comercial exclusiva da patente, como, por exemplo, a falta de uso efetivo da
invenção. A referida lei prevê especificamente os casos de concessão de licenças com-
pulsórias, notadamente: (i) insuficiência de exploração; (ii) exercício abusivo; (iii) em
situações de abuso de poder econômico; (iv) dependência de patentes; ou (v) interesse
público ou emergência nacional. Este último dispositivo, ganha particular relevância
após a criação da Organização Mundial do Comércio e a discussão, em 2001, que re-
sultou na Declaração de Doha, que permite, em casos de extrema urgência, como, por
exemplo, diante de epidemias que colocam em risco vidas humanas, que um país possa
permitir o uso da patente, sem a autorização prévia do titular do direito. Note‑se, no
entanto, que, segundo a mesma lei, a licença compulsória poderá não ser concedida se,
no momento da solicitação da licença compulsória, o seu titular apresentar uma justifi-
cativa pelo desuso da patente por razões legítimas; ou comprovar a realização de sérios
preparativos para o início da exploração do objeto da patente; ou ainda justificar a falta
de comercialização da patente, em razão de obstáculo de ordem legal.
patente internacional, cada patente terá validade dentro do seu respectivo país de
registro e proteção, em razão do princípio da independência das patentes. Sendo
assim, em um contrato internacional de licenciamento de patente, este deverá, con-
forme o caso, fazer referência a cada uma dessas patentes nacionais registradas nos
distintos países.
Cumpre observar, desde logo, que tais contratos devem ser averbados pelo INPI,
incluindo os contratos de licença de direitos de exploração (patentes, desenho in-
dustrial e uso de marcas), os contratos de aquisição de conhecimentos tecnológi-
cos (fornecimento de tecnologia e prestação de serviços de assistência técnica e
científica) e os contratos de franquia, de forma que tais contratos possam produzir
efeitos não apenas entre as partes, mas também perante terceiros. Essa averbação
perante o INPI é importante, anda, para fins fiscais e para permitir a remessa futura
de royalties para o exterior.
percentual, que pode ser fixo ou variável, conforme o caso. Mas, ao contrário, as
características de cada um desses contratos divergem conforme a sua natureza ju-
rídica específica. Em termos de prazo de vigência, por exemplo, observe‑se que a
duração pode variar bastante de um tipo para o outro; verifique‑se que no contrato
de licenciamento de uma patente, por exemplo, a sua duração não poderá ultrapas-
sar o limite de duração da própria proteção do registro da patente. Sendo assim, os
modelos de contrato de transferência de tecnologia devem respeitar essas distintas
especificidades, de acordo com cada tipo envolvido de transferência de tecnolo-
gia. Dentre as modalidades de transferência de tecnologia mais utilizadas no Brasil
destacam‑se os contratos de licenciamento de marcas e patentes, que já foram abor-
dados anteriormente. No entanto, faz‑se necessário mencionar, também, outro tipo
de transferência de tecnologia que vêm ganhando cada vez mais espaço no Brasil:
o contrato de franquia empresarial (franchising).
263
TRATADOS
INTERNACIONAIS
23.1. Aspectos Gerais
Quanto à sua agenda comercial nas últimas décadas, o Brasil assinou tratados bila-
terais com a Áustria, em 13/3/93, com a Comunidade Europeia, em 31/1/94, com a
Turquia, em 10/04/95, com o Uruguai, em 6/5/97, bem como ajustes complemen-
tares com o Peru, em 21/07/99, um protocolo com a Argentina, em 39/10/99, e um
acordo com a Costa Rica, em 04/04/2000. Outros acordos bilaterais devem ainda ser
mencionados neste contexto: o Acordo de Cooperação Econômica com a Hungria,
assinado em 05 de maio de 2006; o Acordo de Cooperação Econômica e de Comércio
266 com o Cazaquistão, de 27 de setembro de 2007; Acordo de Cooperação Econômica e
Capítulo 23
23.4. Tributos
devido à execução dos contratos tanto no Brasil quanto no exterior, com pessoas
residentes tanto no Brasil quanto no exterior.
Após o final da Segunda Guerra Mundial, o Brasil foi um dos principais agentes
na formação de um quadro institucional para o estabelecimento de uma zona de
livre comércio na América Latina, atuando como um dos Membros fundadores da
“ALALC” (“Associação Latino Americana de Livre Comércio”). Esta organização
foi estabelecida pelo Tratado de Montevidéu, assinado pela Argentina, Brasil, Bo-
lívia, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela, em
18 de fevereiro de 1960. Os principais objetivos da ALALC eram o estabelecimento
gradual de um mercado comum na América Latina e a promoção de esforços pra a
integração a nível regional.
23.6. MERCOSUL
(a) a livre circulação de bens, serviços e fatores de produção entre os Estados Par-
tes, mediante eliminação de barreiras tarifárias e não tarifárias entre os países;
(b) Grupo Mercado Comum (“GMC”) – O GMC é composto por quatro membros
permanentes e quatro suplentes nomeados por cada um dos Estados componen-
tes, representando as seguintes entidades ou órgãos estatais equivalentes: I) Mi-
nistério das Relações Exteriores; II) Ministério da Economia (ou equivalente); e
pelo Banco Central. O GMC é o corpo executivo do MERCOSUL, encarregado
de implementar as decisões a serem tomadas pelo CMC. As demais tarefas pelas
quais o GCM fica incumbido são as seguintes: i) supervisionar as atividades da
Comissão de Comércio do MERCOSUL (“CCM”) e dos órgãos administrativos,
ii) propor medidas objetivando a implementação de um programa de liberaliza-
ção comercial, iii)coordenar uma política macroeconômica, iv) participar em ne-
gócios com agências internacionais e Estados não‑partes com relação à assinatura
de acordos e, se necessário, estar presente na solução de controvérsias no âmbito
do MERCOSUL, e v) organizar e coordenar as atividades realizadas pelos Subgru-
pos de Trabalho;
(d) Comissão Parlamentar Conjunta (“CPC”) –Este órgão é composto por 64 (sessenta
e quatro) membros permanentes e 64 (sessenta e quatro) membros suplentes. Cada um
dos Estados Partes nomeia 16 (dezesseis) membros, os quais deverão ser integrantes de
seus respectivos Congressos Nacionais. Neste sentido a CPC representa os corpos legis-
lativos dos Estados membros do MERCOSUL. No âmbito da estrutura institucional do
MERCOSUL, a CPC assume um papel consultivo e de tomada de decisões; 273
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
SGT Nº 1 – Comunicação;
SGT Nº 5 – Transporte;
SGT Nº 7 – Indústria;
SGT Nº 8 – Agricultura;
SGT Nº 9 – Energia;
SGT Nº 11 – Saúde;
SGT Nº 12 – Investimentos;
274
Capítulo 23
SGT N° 15 – Mineração.
Os pedidos de modificação das alíquotas das TECs vigentes são apreciados pelo
Comitê Técnico Nº 1 da Comissão de Comércio do MERCOSUL (CCM), ocor-
rendo, portanto uma análise técnica, e, após realizadas as consultas públicas in-
ternas, são apresentados à análise do CCM e aprovados por Resoluções do Grupo
Mercado Comum. No contexto regulatório brasileiro, a análise desses pedidos
é realizada pela Câmara de Comércio Exterior (CAMEX), órgão do Ministério
de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MIDIC). A CAMEX é órgão inter-
no, no Brasil, com competências para incorporar as alterações relativas à TEC,
aprovadas pelo CMC, ao ordenamento jurídico interno, mediante publicação de
resoluções específicas.
Comum. Este Grupo de Alto Nível foi também solicitado para elaborar, até 30 de
junho de 2006, proposta para revisão da TEC para bens de informática e teleco-
municações, a ser aplicada em 1° de janeiro de 2009. As mudanças pretendidas
deveriam ser colocadas em prática seguindo um cronograma de convergência
vigente a partir de 1° de janeiro de 2007. Durante esse estágio poderão os Estados
Partes aplicar uma alíquota distinta da TEC em vigor – inclusive de 0% (zero
por cento), quando o caso – mediante a realização de consultas entre Argentina,
Brasil, Paraguai e Uruguai.
A Decisão CMC 68/00, por sua vez, prevê que os Estados Partes do MERCOSUL
poderiam estabelecer e manter uma lista de 100 (cem) itens do Regime Jurídico
Comum da NCM como exceções à TEC, até 31 de dezembro de 2002. Os Estados
Partes podem modificar até 20% (vinte por cento) dos produtos nesta lista de ex-
ceção a cada seis meses, desde que devidamente autorizado com antecedência pelo
GMC. De acordo com a decisão mais recente sobre as matérias, a Decisão CMC n°
58/2010, até 31 de dezembro de 2011, Brasil e Argentina podem manter a lista de
100 (cem) itens como exceções à TEC; Uruguai, uma lista de 225 (duzentos e vinte
e cinco); e Paraguai, uma lista de 149 (cento e quarenta e nove).
A decisão mais recente sobre estas questões é a Decisão CMC nº 10/10. De acordo
com esta, a dupla cobrança e a distribuição dos ganhos aduaneiros serão concluí-
dos em 31 de dezembro de 2016, após 3 (três) períodos de incorporação de mudan- 279
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
280
CONTENCIOSO
CIVIL E COMERCIAL
24.1. A jurisdição no contencioso
civil e comercial
As partes litigantes devem pagar as custas pelo processo judicial, que variam de
Estado para Estado. A regra geral é que as custas iniciais são pagas pelo autor, nor-
malmente calculadas como um percentual do valor discutido, sendo outros paga-
mentos feitos no caso de recursos, pela parte recorrente.
Existem várias formas procedimentais. Este trabalho vai abordar somente o pro-
cesso ordinário, que é o mais comum em casos envolvendo contratos ou responsa-
bilidade civil em que se discutam valores superiores a 60 (sessenta) salários míni-
mos e desde que não haja previsão processual própria, pertinente ao rito sumário
e ao especial.
Uma ação civil ou comercial começa mediante a distribuição pelo advogado do au-
tor de uma petição inicial perante o órgão judiciário que tenha competência sobre
o caso, conforme ditames da lei de organização judiciária estadual. O próximo pas-
so processual após a distribuição da ação é a citação do réu. Esta deve ser efetuada,
em regra, pelo correio, ou por um oficial de justiça. Em ambas as hipóteses, deve
ocorrer a entrega de uma cópia da petição inicial ao réu para que possa responder
à ação em um curto período (geralmente 15 dias). Quando desconhecido ou in-
certo o réu, bem como quando ignorado ou inacessível o local em que se encontre,
a legislação processual permite ainda a sua citação por edital, ou seja, mediante a
publicação em jornais.
O réu deve procurar um advogado para defendê‑lo. Este, por sua vez, submete ao
juízo uma defesa às alegações e pedido do autor. Esta petição deve confirmar ou ne-
gar os fatos e pode ainda dar‑lhes uma interpretação diferente, bem como também
discutir a base legal do pedido do autor. O autor, por sua vez, deve apresentar outra
petição, chamada réplica, expressando sua resposta aos pontos de direito e de fato
levantados pelo réu. O juiz então deve solicitar às partes que se manifestem quanto
às provas que pretendem produzir em juízo. Em seguida, se o direito em litígio ad-
mitir transação, o magistrado designará audiência preliminar que tem por objeto a
conciliação das partes litigantes.
24.4. Provas
A prova não documental que deve ser produzida em seguida é o laudo ou laudos de
peritos, tais como aqueles preparados por contadores, engenheiros, médicos, avalia-
dores ou outros profissionais especializados. O juiz deve nomear o perito judicial e as
partes formulam quesitos, perguntas por escrito, que devem ser respondidos também
por escrito. As partes também têm o direito de nomear peritos assistentes de sua
escolha para responder aos quesitos e formular críticas ao laudo do perito judicial.
Como se pode ver, no sistema brasileiro, para o processo ordinário, não existe
284 um “trial” no sentido de um evento ininterrupto no qual toda a prova é produzi-
Capítulo 24
da. De fato, a prova vai sendo produzida passo a passo, sendo progressivamente
incorporada aos autos do processo e a sua condução está focada na formação da
convicção do juiz.
24.5. A decisão
A decisão do juiz deve ser por escrito, contendo uma breve descrição das partes,
resumo do pedido inicial e da resposta do réu, bem como o registro dos principais
fatos havidos na fase de instrução; sua opinião quanto às questões de fato e de di-
reito envolvidas e o seu julgamento. A sentença pode determinar à parte o direito a
uma indenização, pode ordenar a uma parte praticar um ato ou mesmo declarar a
exata interpretação de uma cláusula contratual.
A antecipação dos efeitos da tutela também pode ser concedida no curso do pro-
cesso, a partir de quando um ou mais pedidos mostrarem‑se incontroversos.
24.7. Recursos
O sistema brasileiro permite muitos recursos tanto das decisões finais quanto da-
quelas interlocutórias, estas últimas aquelas que não encerram o caso.
suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos
de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, a
parte poderá recorrer, objetivando a sua revisão pelo tribunal. Não preenchidos tais
requisitos, a parte também poderá recorrer. No entanto, nesses casos (que são raros),
o recurso não será encaminhando de imediato ao tribunal, mas ficará retido aos au-
tos e será analisado somente quando do julgamento de eventual recurso de apelação.
Da decisão do tribunal estadual que julgar os recursos interpostos cabe ainda re-
curso aos tribunais federais superiores, que são o Superior Tribunal de Justiça e o
Supremo Tribunal Federal. Se a parte alegar violação de tratado ou lei federal ou
uma interpretação diferente de lei federal por outro tribunal estadual pode interpor
recurso ao Superior Tribunal de Justiça. Se alegar violação da constituição federal
pode interpor recurso ao Supremo Tribunal Federal. Ambos os recursos podem ser
interpostos ao mesmo tempo, mas sua admissão é muito restritiva.
Neste ponto não é admitida a discussão dos fatos mas só das questões de direi-
to pelos tribunais superiores federais. Estes também se organizam em Turmas. O
recurso aos tribunais superiores federais não suspende o processo e a parte pode
iniciar a execução do julgado.
Quando a parte vencedora obtém uma decisão final terá o direito de iniciar a exe-
cução do julgado para fazer valer o julgamento a seu favor. A execução deve se
iniciar mediante a apresentação de uma simples petição nos mesmos autos da ação
que decidiu o mérito do caso.
Há poucos anos, foi aprovada uma alteração no Código de Processo Civil visando
dar mais celeridade à execução do julgado.
O autor deve declinar o valor que entende lhe ser devido mas, em muitos casos, o
286 julgamento apenas declarou que uma indenização deve ser paga e em que base esta
Capítulo 24
deve ser calculada, e, portanto, o valor desta indenização deve ser determinado me-
diante uma discussão das partes quanto à base do cálculo da indenização. A parte
executada será então intimada, na pessoa de seu advogado para pagamento. Neste
momento, caso deseje discutir o valor pleiteado pelo autor, o réu pode apresentar
as objeções que entender necessária, mas deve de qualquer modo depositar em
juízo tal valor ou apresentar bens a serem penhorados para garantia da execução
do julgado.
Sendo a execução por quantia certa, contra devedor solvente, caso este não pague
o débito, e nem recorra dentro do prazo de 15 (quinze) dias, contados da sua inti-
mação na pessoa de seu advogado, a condenação será majorada em 10% (dez por
cento). Nesse caso, será dada oportunidade ao credor para que indique bens de
propriedade do devedor que deseja penhorar.
Esta impugnação não interrompe o processo executivo, a não ser que o juiz, funda-
do em seu convencimento, assim o determine. Ainda que seja conferido efeito sus-
pensivo à impugnação, a execução poderá prosseguir provisoriamente, mediante a
prestação de caução pelo credor.
Se, ao final, o réu não puder ou não se dispuser a pagar o valor ou praticar o ato
determinado pelo juízo, os bens penhorados devem ser avaliados judicialmente e
vendidos através de alienação promovida pelo próprio credor ou em leilão publico,
sendo o produto da venda usado para pagar a parte vencedora.
Todavia, quando a parte é titular de documento ou título sem força executiva e visa
pagamento em dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel,
poderá utilizar‑se, também, da ação monitória que representa procedimento judi-
cial célere para obtenção de título executivo em via judicial.
288
O “Dumping”
no Brasil
25.1. Introdução
(b) produto similar. A definição dada pela legislação para produto similar é um
tanto quanto subjetiva, não fornecendo características claras para uma aná-
lise acurada deste item. Assim sendo, produto similar é definido pela legis-
290 lação como “produto idêntico, igual sob todos os aspectos ao produto que se
Capítulo 25
está examinando, ou, na ausência de tal produto, outro produto que, embora
não exatamente igual sob todos os aspectos, apresente características muito
próximas às do produto que se está considerando”. O trecho transcrito da le-
gislação brasileira denota que o conceito de produto similar é bastante amplo,
permitindo grande mobilidade nesta esfera às autoridades encarregadas de
eventual investigação de prática de “dumping”.
Para ser habilitada, a petição deverá, ainda, estar devidamente instruída, conten-
292 do: (i) qualificação do peticionário, indicação do volume e do valor da produção da
Capítulo 25
Uma vez habilitada a petição será efetuada análise do mérito dando‑se início à
abertura das investigações.
Ressalte‑se que, a petição será indeferida e o processo arquivado quando: (i) não
houver elementos de prova suficientes da existência do “dumping” ou de dano por
ele causado, que justifiquem a abertura da investigação; (ii) a petição não tiver sido
feita pela indústria doméstica1 ou em seu nome; ou (iii) os produtores domésticos,
que expressamente apoiam a petição, reunam menos de 25% da produção domés-
tica total do produto similar.
A investigação deverá ser concluída no período de um ano após sua abertura, po-
dendo este prazo ser prorrogado por mais seis meses em circunstâncias excepcio-
nais. Note‑se que o período objeto de “dumping” deverá compreender os doze me-
ses mais próximos possíveis anteriores à data da abertura da investigação, podendo,
em circunstâncias excepcionais, ser inferior a doze meses, mas nunca inferior a seis
meses. Já o período objeto da investigação da existência de dano, por sua vez, deve-
1 Será considerada feita pela indústria doméstica ou em seu nome a petição que for apoiada por
produtores cuja produção conjunta represente mais de 50% da produção doméstica do produto
similar. Note‑se portanto, que estes elementos são essenciais para que se instaure a abertura da
investigação. 293
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
Antes de terminado o processo, mas após decorridos sessenta dias do início das
investigações, as autoridades nacionais poderão aplicar medidas provisórias contra
as importações investigadas desde que todas as partes tenham se manifestado, seja
atingida uma determinação preliminar positiva de existência de “dumping” e dano
à indústria doméstica e as autoridades decidam que tais medidas são necessárias
para impedir que ocorra dano durante a investigação.
Antes de ser formulado o parecer final será realizada audiência, convocada pela SE-
CEX, para informar às partes os fatos essenciais que formam a base para o parecer,
sendo dado a estas quinze dias para se manifestarem a respeito. Findo tal prazo será
considerada encerrada a instrução do processo e informações recebidas posterior-
mente não serão consideradas.
para consumo até noventa dias antes da data de aplicação das medidas “antidum-
ping” provisórias sempre que (i) haja antecedentes de “dumping” causador de dano,
ou que o importador estava ou deveria estar ciente de que de que o produtor ou
exportador pratica “dumping” e de que este causaria dano; e (ii) o dano seja causa-
do por volumosas importações de um produto a preços de “dumping” em período
relativamente curto.
25.4. Conclusão
Ante o exposto, ficou claro que o processo “antidumping” é figura nova que vem
sendo crescentemente utilizada no Brasil.
Contudo, a recente utilização do tema faz com que, na prática, as autoridades en-
volvidas, as partes interessadas e até mesmo os profissionais do ramo se deparem
com situações inusitadas, as quais vão sendo resolvidas à medida em que se vai
avançando no tema.
296
DIREITOS DO
CONSUMIDOR NO BRASIL:
ENQUADRAMENTO E
EXECUÇÃO DA LEI
O Código de Defesa do Consumidor é uma lei federal (Lei n.º 8.078, de 11/09/1990),
de aplicação necessária e observância obrigatória em todo o território nacional.
Consumidor: toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou ser-
viço como destinatário final (art. 2º, CDC). Ou seja, consumidor não é apenas a
pessoa que compra uma geladeira em uma lojas de eletrodomésticos, mas também
a fábrica que adquire cestas básicas para fornecer aos seus funcionários.
Mister ressaltar que o Código de Defesa do Consumidor ainda prevê três ca-
sos de equiparação a consumidor, isto é, pessoas que, pela definição legal, não
seriam consumidores, mas que a lei as considera como tal: a) a coletividade de
pessoas, ainda que indetermináveis, quando esta for parte de uma relação de
consumo; b) todas as vítimas de um acidente dentro de uma relação de consu-
mo, no caso de responsabilidade pelo fato do produto ou serviço defeituoso e
c) todas as pessoas, determináveis ou não, expostas às práticas comerciais que
298 envolvam uma relação consumerista.
Capítulo 26
26.3. Escopo
A oferta e a publicidade vinculam o fornecedor, de modo que tudo aquilo que for
veiculado e prometido deve ser cumprido. O Código de Defesa do Consumidor não 299
Guia legal para o investidor estrangeiro no Brasil
Em suma, a proteção ao consumidor não pode ser vista como um entrave à econo-
300 mia, mas sim como uma necessidade do mundo moderno. Ademais, uma pessoa
Capítulo 26
que é fornecedora numa dada relação pode ser consumidora em outra, o que atesta
a universalidade do Código de Defesa do Consumidor.
26.5. Tendências
O Código de Defesa do Consumidor foi inspirado nas mais modernas leis já vi-
gentes. Ainda assim, o legislador se preocupou em editar uma lei de acordo com a
realidade brasileira, dotada de peculiaridades e problemas próprios.
Desde que foi editado, o código foi objeto de diversas alterações, revelando a preo-
cupação brasileira com as questões mais atuais.
301
Arbitragem e
Reconhecimento
e Execução de
Decisões Arbitrais e
Sentenças Judiciais
Estrangeiras no Brasil
Capítulo 27
realize com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras
internacionais de comércio.
O processo de escolha dos árbitros pode ser estabelecido, de comum acordo, pelas
partes. Também podem ser adotadas as regras de um órgão arbitral institucional
ou entidade especializada para o processo de escolha. O árbitro é juiz de fato e de
direito e a sentença que proferir dentro do território nacional não fica sujeita a re-
curso ou a homologação pelo Poder Judiciário.
IV. dispositivo, em que os árbitros resolverão as questões que lhes forem submeti-
das e estabelecerão o prazo para o cumprimento da decisão, se for o caso; e
304
Capítulo 27
Para ser reconhecida e executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está su-
jeita unicamente à homologação pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O pedido de homologação deverá ser instruído com: (i) o original da sentença ar-
bitral ou uma cópia devidamente certificada, autenticada pelo consulado brasileiro
e acompanhada de tradução oficial e (ii) o original da convenção de arbitragem ou
cópia devidamente certificada, acompanhada de tradução oficial.
Nesse sentido, ainda de acordo com a Lei de Arbitragem, uma sentença arbitral
estrangeira não será homologada pelo STJ se:
II. a convenção de arbitragem não for válida segundo a lei à qual as partes a subme-
teram, ou, na falta de indicação, em virtude da lei do país onde a sentença arbitral
foi proferida;
III. a parte contra qual se invoca a sentença arbitral não foi notificada da designa-
ção do árbitro ou do procedimento de arbitragem, ou tenha sido violado o princí-
pio do contraditório, impossibilitando a ampla defesa;
IV. a sentença arbitral foi proferida fora dos limites da convenção de arbitragem e
não foi possível separar a parte excedente daquela submetida à arbitragem;
VI. a sentença arbitral não se tenha, ainda, tornado obrigatória para as partes, te-
nha sido anulada, ou, ainda, tenha sido suspensa por órgão judicial do país onde a
sentença arbitral for prolatada;
VII. segundo a lei brasileira, o objeto do litígio não é suscetível de ser resolvido pela
arbitragem;
Conforme a Constituição Federal de 1988, artigo 105, (i), o órgão federal responsá-
vel por analisar e decidir os pedidos de homologação de sentenças estrangeiras é o
STJ, sendo que este assunto se rege pelas disposições da Lei de Introdução ao Có-
digo Civil, que contém normas de interpretação de direito internacional privado,
pelo Código de Processo Civil e pela Resolução n.º 9 do STJ.
Neste ponto, o STJ não buscará comprovar a competência do juízo onde correu a
demanda, pois disso poderia resultar a fixação de outro juízo no mesmo país, o que
constituiria indevida interferência na sua soberania por parte da justiça brasileira.
O que será examinado, na verdade, é se a sentença estrangeira não versa sobre tema
sobre o qual a lei brasileira confere competência exclusiva às cortes brasileiras. Não
seria passível de homologação, por exemplo, sentença relativa a imóvel situado no
território nacional, pois a Lei de Introdução ao Código Civil, em seu artigo 12, pará-
grafo I, estabelece que “só à autoridade judiciária brasileira” compete julgar tais ações.
• as partes devem ter sido devidamente citadas ou então deve ter‑se verificado
legalmente a revelia:
• a sentença não deverá mais ser passível de qualquer recurso, e deverá estar re-
vestida das formalidades legais necessárias para sua execução no lugar em que
tiver sido proferida:
A homologação é obtida através de uma ação, proposta pela parte vencedora, pe-
rante o STJ que, por sua vez, determinará a citação da parte vencida para que esta
apresente eventuais argumentos contrários à homologação.
308
ASPECTOS
INTERNACIONAIS
DA JURISDIÇÃO
BRASILEIRA
28.1. Jurisdição Geral dos Tribunais Brasileiros
também estabelece que as ações cíveis serão julgadas pelos juízes de acordo com
as respectivas competências, sem prejuízo do direito das partes de submeter suas
disputas à arbitragem (CPC, artigo 86).
1 REsp 804306/SP, 3ª T., Relator Min. Nancy Andrighi, DJ 3/9/08; REsp 498835/SP, 3ª T., Relator
Min. Nancy Andrighi, DJ 29/5/05; REsp 251438/RJ, 4ª T., Relator Min. Barros Monteiro, DJ
8/8/00.
2 REsp 1177915/RJ, 3ª T., Relator Min. Vasco Della Giustina, DJ 13/4/10; REsp 242383/SP, 3ª T.,
Relator Min. Humberto Gomes de Barros, DJ 21/3/05; REsp 505208/AM, 3ª T., Relator Min.
310 Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 13/10/03.
Capítulo 28
Ao lado das normas de direito positivo sobre cooperação judicial, aplicáveis a qual-
quer Estado estrangeiro, existem tratados bilaterais assinados pelo Brasil e alguns
Estados estrangeiros, como a França (2000), a Espanha (1991), a Itália (1995), além
de acordos firmados no âmbito do Mercosul. Estes tratados não têm idêntico teor,
mas a maioria deles contém dispositivos para agilizar, até certo ponto, os atos ne-
cessários para se obter o exequatur do STJ4.
Se a sentença estrangeira for incompatível com a ordem pública brasileira, não po-
derá ela ser homologada; porém, se a incompatibilidade for parcial, a homologação
também poderá ser apenas parcial. Medidas antecipatórias ou provisórias também
podem ser concedidas em procedimentos para o reconhecimento de sentenças es-
trangeiras, de modo a evitar que o réu frustre o propósito da homologação durante
o tempo de seu processamento.
Uma vez reconhecida pelo STJ, a decisão estrangeira pode ser executada pelo juízo
federal de primeira instância.
Para evitar as incertezas e peculiaridades das várias leis nacionais sobre reconhecimento
e execução das sentenças estrangeiras, tratados bilaterais e multilaterais buscaram criar
um conjunto de condições uniformes para esse fim. O Brasil celebrou alguns tratados
internacionais relativos ao reconhecimento e à execução das sentenças e laudos arbi-
trais estrangeiros, tanto no nível dos Estados‑membros da OEA quanto do Mercosul.