ParnasianismoSimbolismo - Teoriaatividades

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PROFESSORA: Sonia Aparecida Verga Brumatti

COMPONENTE CURRICULAR: Língua Portuguesa


TÓPICO PARA ESTUDO: Parnasianismo/Simbolismo – Teoria/atividades

LEIA ATENTAMENTE O CONTEÚDO ABAIXO PARA REALIZAR AS ATIVIDADES PROPOSTAS


(TODAS AS QUESTÕES DEVEM SER RESPONDIDAS NO CADERNO).

PARNASIANISMO E SIMBOLISMO EM LITERATURA

O parnasianismo
Visando combater a expansão da idealização amorosa provocada pelo Romantismo e resgatando elementos da
cultura neoclássica, o movimento Parnasiano do século XIX valorizava a arte clássica e a harmonização de ideias
na poesia.

Contexto histórico
O contexto histórico do parnasianismo se situa ao final do século XIX, com isso, esse período já adianta uma
transição de pensamentos e ideais para o século XX. Entre os principais acontecimentos, no Brasil, há a Abolição
da Escravatura (1888) e a Proclamação da República (1889). No cenário europeu, há a influência dos anseios da
1º Guerra Mundial. No entanto, ainda que esse momento marcasse uma intensa movimentação político-ideológica,
o poeta parnasiano não se posiciona, omitindo o contexto histórico em sua poesia.

Características do parnasianismo
Em relação aos movimentos do século XIX, iremos perceber que sua propagação temática, em geral, sempre visa
combater algum aspecto de uma corrente anterior, como é o caso do Parnasianismo, que tenta romper com a
idealização amorosa do Romantismo.
Além disso, os parnasos acreditavam que a verdadeira produção artística era aquela que valorizasse elementos
da cultura clássica, por isso, a retomada da influência da mitologia greco-latina e o alto rigor formal, justamente,
para reafirmar a sua visão sobre o “fazer artístico”.

Principais características do Parnasianismo:


 Objetivismo;
 Racionalismo;
 Caráter descritivo;
 “Arte pela arte” (poesia voltada para si mesma);
 Universalismo;
 Imparcialidade;
 Isolamento do poeta (concentração);
 Contenção de sentimentos;
 Retomada de elementos da cultura greco-latina.

Ainda sobre o Parnasianismo, os aspectos mais marcantes de sua forma estrutural são:
 Obsessão pelo alto rigor formal;
 Valorização do soneto;
 Uso versos decassílabos e alexandrinos;
 Linguagem culta e rebuscada;
 Uso de rimas ricas e preciosas;
 Estrofes regulares.

No Brasil, os autores de maior popularidade parnasiana são Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Raimundo Correia,
Vicente de Carvalho, Francisca Júlia e Teófilo Dias. É importante ressaltar que embora os textos parnasianos, de
forma geral, combatessem a subjetividade, isso não significa que os autores não aprofundavam sua
expressividade emocional, produzindo alguns poemas, inclusive, com ares românticos.
Além disso, vale lembrar que há poucas diferenças entre o Parnasianismo Europeu e o Parnasianismo Brasileiro.
Inclusive, no Brasil esse movimento adquiriu uma grande popularidade, uma adesão maior do que no continente
europeu. Entre os autores brasileiros, podemos destacar: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Raimundo Correia,
Vicente de Carvalho, Francisca Júlia e Teófilo Dias.
O autor Olavo Bilac é um dos principais autores desse momento literário, no entanto, devemos nos atentar à sua
obra, pois a mesma apresenta alguns traços de patriotismo, subjetividade e de sentimentalismo amoroso,
afastando-se da contenção amorosa.

Olavo Bilac
Olavo Bilac (1865-1918) foi um autêntico poeta brasileiro. Considerado o melhor representante do
parnasianismo de nossa literatura, é dele a autoria da letra do Hino à Bandeira.

Olavo Bilac, o Príncipe dos Poetas Brasileiros

Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac nasceu no Rio de Janeiro, no dia 16 de dezembro de 1865.
Cursou Medicina e Direito, sem ter concluído nenhum dos cursos. Trabalhou como jornalista e inspetor
de escola, dedicando boa parte de seu trabalho e de seus escritos à educação.
A primeira obra publicada de Olavo Bilac foi “Poesias” (1888). Nela o poeta já demonstra estar
identificado com a proposta do Parnasianismo, como comprova seu poema “Profissão de Fé”. A obra
alcançou imediato sucesso e logo Bilac foi considerado “O Príncipe dos Poetas Brasileiros”.
Olavo Bilac colaborou com vários jornais e revistas, como a Gazeta de Notícias e o Diário de Notícias.
Foi secretário do Congresso Pan-Americano em Buenos Aires e é membro fundador da Academia
Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira nº 15.
Dedicou os últimos anos de sua vida à propaganda do serviço militar obrigatório. Assim, realizou uma
série de conferências em várias capitais do país, procurando participar da vida do seu tempo nas
campanhas democráticas e civis.
Olavo Bilac faleceu no Rio de Janeiro, no dia 28 de dezembro de 1918. Em 2018 é comemorado o
centenário da morte do nosso "príncipe dos poetas".
Principais obras e características

Escreveu sobre cenas inspiradas na Antiguidade grega e romana, tal como “A Sesta de Nero” e “O
Incêndio de Roma”, bem como dedicou-se a temas de caráter histórico-nacionalista, como em “O
Caçador de Esmeraldas”.
Nem sempre manteve-se tipicamente parnasiano. Sendo um dos maiores poetas líricos, as poesias
de amor e sensualidade ganham versos vibrantes, plenos de emoção.
Além de poemas líricos, e o poeta escreveu crônicas, livros didáticos, textos publicitários e deixou
fama como autor humorístico. Sob o disfarce de mais de cinquenta pseudônimos, colaborou
intensamente na imprensa da época.
No livro “Alma Inquieta” surgem poemas em que predomina o tom meditativo e melancólico, que
também é a tônica de seu livro “Tarde” (1919), no qual é constante a preocupação com a morte e
sentido da vida.

Obras

 Poesias, 1888
 Via Láctea, 1888
 Sarças de Fogo, 1888
 Crônicas e Novelas, 1894
 O Caçador de Esmeraldas, 1902
 As Viagens, 1902
 Alma Inquieta, 1902
 Poesias Infantis, 1904
 Crítica e Fantasia, 1904
 Tratado de Versificação, 1905
 Conferências Literárias, 1906
 Ironia e Piedade, crônicas, 1916
 Tarde, 1919 (obra póstuma)

Via-Láctea
XIII

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo


Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto


A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!


Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!


Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.

O Simbolismo
Esse movimento literário teve início com a publicação da obra Missal e Broquéis de Cruz de Souza
em 1893 e durou até o início do pré-modernismo em 1910.
O movimento simbolista surge ao final do século XIX, trazendo em sua poesia uma nova visão sobre o mundo. O
simbolismo retoma aspectos do Romantismo, como o uso da subjetividade, por exemplo, e o aprofundamento das
emoções. Além disso, com o intuito de desvincular-se de questões materiais, a poesia simbolista aprecia o plano
transcendental, ou seja, o plano espiritual torna-se muito mais valorizado do que o plano concreto, o da matéria.

Contexto histórico

Esse período é marcado por muitas movimentações sociais e econômicas em contexto mundial. Entre elas,
podemos citar: os reflexos econômicos e o progresso comercial da Revolução Industrial; as aspirações
democráticas da Revolução Francesa, a ascensão da burguesia, a exclusão das camadas mais baixas em
relação ao seu desenvolvimento igualitário e distribuição de renda e, também, a obtenção de lucros do
Imperialismo são fatores que fizeram com que o homem daquele momento se sentisse frustrado com as
promessas de igualdade e oportunidade para todos.
Neste sentido, percebe-se que o ser humano tenta fugir dessa realidade e passa por uma crise existencial,
aprofundando seus sentimentos e retomando a traços pessimistas, principalmente a características da 2ª Geração
Romântica. Ademais, a temática simbolista reage ao esquema materialista do século XIX, como também à
objetividade propagada pelas correntes cientificistas.
Na França, vivia-se o momento da chamada “Belle Époque”, momento em que houve uma explosão de mudanças
culturais, tecnológicas, literárias, artísticas e de pensamento. Sobre as influências literárias, não podemos deixar
de citar Charles Baudelaire (o famoso autor de a obra “As flores do mal”), Arthur Rimbaud, Paul Verlaine e
Stéphane Mallarmé.

Características do simbolismo

Principais aspectos do movimento Simbolista:


 Valorização do plano metafísico;
 Misticismo;
 Pessimismo;
 Subjetividade
 Caráter sugestivo;
 Aproximação ao elemento noturno;
 Referências ao plano religioso;
 Culto ao sonho;
 Aproximação com o campo inconsciente do indivíduo.

Em relação aos aspectos mais marcantes da forma, há a valorização da linguagem culta, o uso de sonetos, a
musicalidade, o uso de figuras de linguagem (como metáforas, sinestesias, assonâncias e aliterações) e o
predomínio de rimas.
É importante dizer ainda que, no Brasil, os principais autores foram Alphonsus de Guimaraens e Cruz e Souza.
O primeiro buscou dedicar suas temáticas artísticas para o amor, morte e religiosidade, focadas em uma intrínseca
relação de solidão e isolamento. Já o último também se destaca por ser um grande nome desse movimento por
apresentar em sua poesia uma abordagem sobre a condição humana, a valorização da melancolia e a
espiritualidade, com certa obsessividade pela cor branca em seus poemas.
ALPHONSUS DE GUIMARAENS

Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) foi um dos mais emblemáticos escritores do movimento


simbolista no Brasil.

Afonso Henrique da Costa Guimarães nasceu em 24 de julho de 1870, na cidade mineira de Ouro
Preto. Filho de um comerciante português e uma brasileira, realizou os estudos primários e
secundários em sua cidade natal.
Estudou Direito em São Paulo e terminou o curso em Minas Gerais. Durante sua vida acadêmica ele
já escrevia para diversos jornais. Como advogado, Guimaraens trabalhou como promotor e juiz em
Minas Gerais.
Um evento muito doloroso para o escritor foi quando Constança, sua noiva e prima, morre
precocemente aos 17 anos. Na época, ele tinha 18 anos e esse fato tornou-se predominante na sua
poesia que esteve repleta de melancolia.
Após o evento, Alphonsus se entrega à vida boêmia. Apesar disso, casou-se com Zenaide de Oliveira
em 1897 e com ela teve 14 filhos.

Principais obras e características

A obra de Alphonsus de Guimaraens apresenta marcas como o misticismo, a espiritualidade e a


religiosidade católica. A escolha dos temas como a morte, a dor e o sofrimento advém de sua própria
história. Isso porque após a morte precoce de sua prima Constança, ele usa a escrita como forma de
expressar seus sentimentos e angústias.
Ainda que tenha explorado a prosa, foi na poesia que Alphonsus teve maior destaque. De sua obra
poética destacam-se:

 Setenário das dores de Nossa Senhora (1899)


 Dona Mística (1899)
 Cãmara Ardente (1899)
 Kyriale (1902)
 Pauvre Lyre (1921)

Obras póstumas:
 Pastoral aos crentes do amor e da morte (1923)
 Poesia (1938)

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,


Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava longe do céu...
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu


As asas para voar. . .
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu


Ruflaram de par em par...
Sua alma, subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

CRUZ E SOUZA

Cruz e Souza foi um poeta simbolista brasileiro. Ele foi o precursor do movimento simbolista no
Brasil com a publicação de suas obras “Missal” (prosa) e “Broquéis” (poesia) em 1893.
É patrono da Academia Catarinense de Letras, representando a cadeira número 15. Ao lado de
Alphonsus de Guimaraens, ele é um dos mais importantes poetas do movimento no país; foi apelidado
de “Dante Negro” em referência ao escritor humanista italiano Dante Alighieri.

João da Cruz e Sousa nasceu em 24 de novembro de 1861, na cidade catarinense de Nossa Senhora
do Desterro (atual Florianópolis).
Ele era filho de ex-escravos, mas sua educação foi patrocinada por uma família de aristocratas
(antigos proprietários de seus pais). Foi assim que ele estudou no Liceu Provincial de Santa Catarina.
Desde pequeno, tinha uma inclinação para as artes, língua e literatura. Em Santa Catarina trabalhou
como escritor no jornal abolicionista “Tribuna Popular”, além de ter sido diretor.
Quando jovem, sofreu discriminação racial, visto que foi proibido de assumir o cargo de promotor
público em Laguna/SC.
Mais tarde, mudou-se para o Rio de Janeiro. Na capital carioca, ele foi colaborador do jornal "Folha
Popular" e das revistas “Ilustrada” e “Novidades”. Além disso, trabalhou como arquivista na Estrada
de Ferro Central do Brasil.
As publicações de Cruz e Souza para os jornais estavam, muitas vezes, pautadas no tema do racismo
e do preconceito racial.
No Rio, casou-se com Gavita Gonçalves em 1893 e com ela teve quatro filhos. Infelizmente todos
morreram prematuramente de tuberculose.
Esse momento trágico de sua vida está refletido em algumas de suas obras que abordam os temas
da solidão, dor e sofrimento. Após o ocorrido, sua esposa, que sofreu muito, começa a apresentar
problemas mentais.
Cruz e Souza também foi acometido pela tuberculose. Assim, resolve mudar para Minas Gerais com
o intuito de melhorar sua saúde.
Faleceu na cidade mineira de Curral Novo, em 19 de março de 1898 com 36 anos, vítima de
tuberculose.

Principais obras e características

A obra de Cruz e Souza é marcada pela musicalidade, subjetivismo, individualismo, pessimismo,


misticismo e espiritualidade.
Tal qual as obras de outros poetas simbolistas, seus escritos estão repletos de figuras de linguagem:
metáfora, aliteração, sinestesia, etc.
Dentre os temas mais abordados pelo autor estão o amor, o sofrimento, a sensualidade, a morte, a
religião, além de temas associados ao abolicionismo.

Dentre suas obras mais destacadas estão:

 Missal (1893)
 Broquéis (1893)
 Tropos e fantasias (1885)
 Evocações (1898)
 Faróis (1900)
 Últimos Sonetos (1905)

A Morte

Oh! que doce tristeza e que ternura


No olhar ansioso, aflito dos que morrem…
De que âncoras profundas se socorrem
Os que penetram nessa noite escura!

Da vida aos frios véus da sepultura


Vagos momentos trêmulos decorrem…
E dos olhos as lágrimas escorrem
Como faróis da humana Desventura.

Descem então aos golfos congelados


Os que na terra vagam suspirando,
Com os velhos corações tantalizados.

Tudo negro e sinistro vai rolando


Báratro a baixo, aos ecos soluçados
Do vendaval da Morte ondeando, uivando…
SIMBOLISMO E O PARNASIANISMO: ATIVIDADES

O Simbolismo surgiu no Século 19 e tem o seu marco, no Brasil, as publicações de Missal, (prosa
poética) e de Broquéis (poesia), de Cruz e Souza, em 1893. Já o parnasianismo surgiu em 1866 na
França, e se iniciou no Brasil com o livro Poesias, de Olavo Bilac.
No ENEM os principais escritores do Simbolismo e Parnasianismo são respectivamente Cruz e Souza
e Olavo Bilac.

1. (Enem)
Esbraseia o Ocidente na agonia
O sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de ouro e púrpura raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...

Delineiam-se além da serrania


Os vértices de chamas aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia.

Um mundo de vapores no ar flutua...


Como uma informe nódoa avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua.

A natureza apática esmaece...


Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula... Anoitece.
CORRÊA, R. Disponível em: www.brasiliana.usp.br. Acesso em: 13 ago. 2017.

Composição de formato fixo, o soneto tornou-se um modelo particularmente ajustado à poesia


parnasiana.
No poema de Raimundo Corrêa, remete(m) a essa estética
A. As metáforas inspiradas na visão da natureza.
B. A ausência de emotividade pelo eu lírico.
C. A retórica ornamental desvinculada da realidade.
D. O uso da descrição como meio de expressividade.
E. O vínculo a temas comuns à Antiguidade Clássica.

2. (Enem) A pátria

Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!


Criança! não verás nenhum pais como este!
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera,
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Boa terra! jamais negou a quem trabalha
O pão que mata a fome, o teto que agasalha...
Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
Criança! não verás pais nenhum como este:
Imita na grandeza a terra em que nasceste!
(BILAC, O. Poesias infantis. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1929)

Publicado em 1904, o poema A pátria harmoniza-se com um projeto ideológico em construção na


Primeira República. O discurso poético de Olavo Bilac ecoa esse projeto, na medida em que:
A. A paisagem natural ganha contornos surreais, como o projeto brasileiro de grandeza.
B. A prosperidade individual, como a exuberância da terra, independe de políticas de governo.
C. Os valores afetivos atribuídos à família devem ser aplicados também aos ícones nacionais.
D. A capacidade produtiva da terra garante ao país a riqueza que se verifica naquele momento.
E. A valorização do trabalhador passa a integrar o conceito de bem-estar social experimentado.

3. (Enem) Vida obscura

“Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro


Ó ser humilde entre os humildes seres,
Embriagado, tonto de prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste no silêncio escuro


A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sofrimento inquieto,


Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo,

Mas eu que sempre te segui os passos


Sei que a cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!
(SOUSA, C. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1961)

Com uma obra densa e expressiva no Simbolismo brasileiro, Cruz e Souza transpôs para seu lirismo
uma sensibilidade em conflito com a realidade vivenciada. No soneto, essa percepção traduz-se em:
A. Sofrimento tácito diante dos limites impostos pela discriminação.
B. Tendência latente ao vício como resposta ao isolamento social.
C. Extenuação condicionada a uma rotina de tarefas degradantes.
D. Frustração amorosa canalizada para as atividades intelectuais.
E. Vocação religiosa manifesta na aproximação com a fé cristã.

4. (Enem) Abrimos o Brasil a todo o mundo: mas queremos que o Brasil seja Brasil! Queremos
conservar a nossa raça, a nossa história, e, principalmente, a nossa língua, que é toda a nossa vida,
o nosso sangue, a nossa alma, a nossa religião.
(Olavo Bilac. Últimas conferências e discursos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1927)

Nesse trecho, Olavo Bilac manifesta seu engajamento na constituição da identidade nacional e
linguística, ressaltando a
A. Transformação da cultura brasileira.
B. Religiosidade do povo brasileiro.
C. Abertura do Brasil para a democracia.
D. Importância comercial do Brasil.
E. Autorreferência do povo como brasileiro.

5. (Enem) Mal secreto

Se a cólera que espuma, a dor que mora


N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse, o espírito que chora,


Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo


Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,


Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
(CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasília: Alhambra, 1995)

Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temática, o


soneto de Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo são julgadas em
sociedade. Na concepção do eu lírico, esse julgamento revela que:
A. A necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a agir de forma dissimulada.
B. O sofrimento íntimo torna-se mais ameno quando compartilhado por um grupo social.
C. A capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o sentimento de inveja.
D. O instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se do próximo.
E. A transfiguração da angústia em alegria é um artifício nocivo ao convívio social.

6. (Enem) Cárcere das almas

“Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,


Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza


Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas


Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,


Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?!”
(CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura / Fundação Banco do Brasil,
1993.)

Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto cultural do Simbolismo encontrados no


poema Cárcere das almas, de Cruz e Sousa, são:
A. A opção pela abordagem, em linguagem simples e direta, de temas filosóficos.
B. A prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à temática nacionalista.
C. O refinamento estético da forma poética e o tratamento metafísico de temas universais.
D. A evidente preocupação do eu lírico com a realidade social expressa em imagens poéticas
inovadoras.
E. A liberdade formal da estrutura poética que dispensa a rima e a métrica tradicionais em favor de
temas do cotidiano.

7. (Enem) Violoncelo

(...)
Chorai, arcadas
Do violoncelo!
Convulsionadas
Pontes aladas
De pesadelo...
(...)
De que esvoaçam,
Brancos, os arcos...
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio, os barcos.
(PESSANHA, Camilo. Violoncelo. In: GOMES, Á. C. O Simbolismo, São Paulo: Editora Ática, 1994, p.45)

Os poetas simbolistas valorizaram as possibilidades expressivas da língua e sua musicalidade.


Aprofundaram a expressão individual até o nível do subconsciente. Desse esforço resultou, quase
sempre, uma visão desencantada e pessimista do mundo. Nas estrofes destacadas do
poema Violoncelo, as características do Simbolismo revelam-se na:
A. Relação entre sonoridade e sentimento explorada nos versos musicais.
B. Combinação das rimas que funde estados de alma opostos.
C. Pureza da alma feminina, representada pelo ritmo musical do poema.
D. Temática do texto, retomada da vertente sentimentalista do Romantismo.
E. Expressão do sofrimento diante da brevidade da vida

8. (Enem) Ouvir estrelas

“Ora, (direis) ouvir estrelas! Certo


Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda noite, enquanto
A Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o Sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas?” Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.
(BILAC, Olavo. Ouvir estrelas. In: Tarde, 1919)

Ouvir estrelas

Ora, direis, ouvir estrelas!


Vejo que estás beirando a maluquice extrema.
No entanto o certo é que não perco o ensejo
De ouvi-las nos programas de cinema.

Não perco fita; e dir-vos-ei sem pejo


Que mais eu gozo se escabroso é o tema.
Uma boca de estrela dando beijo
É, meu amigo, assunto p’ra um poema.

Direis agora: Mas, enfim, meu caro,


As estrelas que dizem? Que sentido
Têm suas frases de sabor tão raro?

Amigo, aprende inglês para entendê-las,


Pois só sabendo inglês se tem ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.
(TIGRE, Bastos. Ouvir estrelas. In: Becker, I. Humor e humorismo: Antologia. São Paulo: Brasiliense, 1961)

A partir da comparação entre os poemas, verifica-se que,


A. No texto de Bilac, a construção do eixo temático se deu em linguagem denotativa, enquanto no de
Tigre, em linguagem conotativa.
B. No texto de Bilac, as estrelas são inacessíveis, distantes, e no texto de Tigre, são próximas,
acessíveis aos que as ouvem e as entendem.
C. No texto de Tigre, a linguagem é mais formal, mais trabalhada, como se observa no uso de
estruturas como “dir-vos-ei sem pejo” e “entendê-las”.
D. No texto de Tigre, percebe-se o uso da linguagem metalinguística no trecho “Uma boca de estrela
dando beijo/é, meu amigo, assunto p’ra um poema.”
E. No texto de Tigre, a visão romântica apresentada para alcançar as estrelas é enfatizada na última
estrofe de seu poema com a recomendação de compreensão de outras línguas.
9. (Enem) Sorriso interior

O ser que é ser e que jamais vacila


Nas guerras imortais entra sem susto,
Leva consigo esse brasão augusto
Do grande amor, da nobre fé tranquila.

Os abismos carnais da triste argila


Ele os vence sem ânsias e sem custo...
Fica sereno, num sorriso justo,
Enquanto tudo em derredor oscila.

Ondas interiores de grandeza


Dão-lhe essa glória em frente à Natureza,
Esse esplendor, todo esse largo eflúvio.

O ser que é ser transforma tudo em flores...


E para ironizar as próprias dores
Canta por entre as águas do Dilúvio!
(CRUZ e SOUZA, João da. Sorriso interior. Últimos sonetos. Rio de Janeiro: UFSC/Fundação Casa de Rui
Barbosa/FCC, 1984)
O poema representa a estética do Simbolismo, nascido como uma reação ao Parnasianismo por volta
de 1885. O Simbolismo tem como característica, entre outras, a visão do poeta inspirado e capaz de
mostrar à humanidade, pela poesia, o que esta não percebe.
O trecho do poema de Cruz e Souza que melhor exemplifica o fazer poético, de acordo com as
características dos simbolistas, é:
A. “Leva consigo esse brasão augusto”.
B. “Os abismos carnais da triste argila/Ela os vence sem ânsias e sem custo...”.
C. “Fica sereno, num sorriso justo/Enquanto tudo em derredor oscila”.
D. “O ser que é ser transforma tudo em flores.../E para ironizar as próprias dores/Canta por entre as
águas do Dilúvio!”.
E. “O ser que é ser e que jamais vacila/Nas guerras imortais entra sem susto”.

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