Livro - QUEM TE COBRIU QUE TE DESCUBRA - 2a Ed
Livro - QUEM TE COBRIU QUE TE DESCUBRA - 2a Ed
Livro - QUEM TE COBRIU QUE TE DESCUBRA - 2a Ed
Editoriais:
Chimica Francisco
http://lattes.cnpq.br/7943686245103765
Vitor Cei
http://lattes.cnpq.br/3944677310190316
QUEM TE COBRIU QUE TE DESCUBRA?
As crenças docentes sobre ludicidade e os
desafios da prática pedagógica e da
formação de professores
2ª Edição
Rio de Janeiro
Eulim
2020
Copyright © da editora, 2020.
Capa e Editoração
Mares Editores
CDD 370
CDU 37/49
2020
Todos os direitos desta edição reservados à
Mares Editores e seus selos editoriais
Eulim é um selo editorial de Mares Editores
Contato: mareseditores@gmail.com
Para os filhos das autoras e para todas as
crianças, em especial às provenientes das
camadas populares que frequentam as escolas
públicas deste País.
Aos/Às professores/as que enfrentam inúmeras
dificuldades para exercerem sua profissão.
Sumário
PREFÁCIO ...................................................................................... 6
-6-
devem ser ampliados para práticas pedagógicas em outros níveis de
ensino.
Com que fundamentos teórico-práticos agimos em nossas
vidas, seja nas ações práticas do cotidiano, seja nas ações
profissionais? A resposta a essa indagação oferecida a todos nós,
pelo presente estudo, é de que conduzimos nossas ações pela direção
que nossas crenças nos apontam.
De alguma forma, crenças que se tornaram habituais em
nossas vidas e modos de ser, atuando de modo subconsciente ou
inconsciente, de tal forma que nem nós mesmos prestamos atenção
ao fato de que as temos e que elas configuram nossas decisões e
ações diárias. Nossas crenças foram tão incorporadas em nosso
modo de ser que nem mais se parecem com crenças que temos. De
algum modo, parecem constituir nosso modo “natural” de pensar e
agir. Com elas pensamos sobre nós e sobre o mundo; com elas,
expressamos nossas compreensões sobre aquilo que nos cercam,
assim como sobre os acontecimentos em nosso entorno. Nossas
crenças, afinal, pautam nosso estar no mundo.
Para compreender isso, importa usufruir dos estudos
realizados pela neurologia, e, fornecidos a todos nós, através dos
variados meios de comunicação, livros, documentários e programas
televisivos, revistas especializadas ou não...
As crenças que orientam nossas vidas nasceram no
transcorrer de nossa existência, por isso, estão comprometidas com
nossa biografia. Traumas físicos e psicológicos, cultura familiar,
religião familiar, conselhos, convivência com parentes paternos e
maternos, convivência com amigos, brincadeiras de infância, de
adolescência, vida escolar... são alguns, entre muitos outros,
ingredientes do caldo sociocultural, afetivo e emocional que, ao
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longo do tempo, constituíram o conjunto das crenças que guiam
nosso modo de estar e de expressar no cotidiano.
O que ocorreu com todos esses episódios em nossas vidas?
O fato é que aprendemos ativamente e, dessa forma, nos
constituímos, assim como adquirimos nosso modo de sentir, pensar
e agir. Nosso sistema nervoso, com os seus milhões de células,
vagarosamente, ao longo do tempo foi constituindo a rede de
memória que temos, memórias positivas, memórias negativas,
memórias de acolhimento, memórias de exclusão... muitas
memórias.
Nem todas, ou, ao contrário, pouquíssimas memórias estão
presentes em nosso campo de consciência. Um certo número delas
está disponível em nosso subconsciente e, então, podemos ser
facilmente acessá-las e elas nos auxiliam a resolver as questões
imediatas do cotidiano, tais como onde estamos, o que fizemos
antes, o que faremos mais tarde, como locomover para nossa casa...
Porém outras --- muitas outras memórias --- moram nas
profundezas do nosso inconsciente, mas, nem por isso, menos ativas.
Quando menos esperamos, essas memórias emergem em nossas
vidas sob as múltiplas formas de reações, que temos no dia a dia.
Nem sabemos de onde vem nossa reatividade, o certo é que ela
emerge e, então, atuamos, crendo que estamos fazendo o melhor que
podemos na circunstância em que estamos. Ninguém de nós escapa
a essa estrutura de nosso sistema nervoso, criada ao longo de nosso
estar na vida neste planeta, que, afinal, nos domina e nos controla,
mas que o dominamos e controlamos.
Caso fiquemos atentos e nos cuidemos, vagarosamente,
vamos identificando nossos atos conscientes, assim como os
habituais e automáticos, como também os reativos, todos assentados
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nas crenças conscientes ou inconscientes que nos guiam no dia a dia
de nossas vidas.
Então, se estivermos atentos à justeza ou à não-justeza de
nossas ações, reações e expressões cotidianas, podemos tomar nas
mãos essas experiências, olhar para elas e, então, assumir o desejo
de manter aquelas que nos ajudam a fluir na vida e na relação com
os outros, assim como, vagarosamente, ultrapassar e integrar aquelas
que nos impedem e nos dificultam fluir na vida e na relação com os
outros.
Nossas falas e nossas ações no dia a dia expressam nossas
crenças, mas, nem sempre, ou quase nunca tomamos consciência
delas. Elas se tornaram “naturais” no nosso estar no mundo. Fomos
e continuamos sendo tomados por elas. Elas nos surpreendem.
Então, usualmente, se desejarmos e estivermos atentos às
reações das pessoas, com as quais convivemos e que reagem aos
nossos atos e às nossas intervenções, é bem possível que iniciemos
uma jornada de reconhecer que “há alguma coisa que não está bem”
e, por isso, desejamos “proceder modificações em nosso modo de
pensar e agir” ou em nosso modo de “agir segundo as crenças que
nos guiam”.
Certamente, que, após essa decisão, nos apanharemos, ainda
por múltiplas vezes, agindo em conformidade com as crenças e os
hábitos que já não queremos mais em nossas vidas. Então,
prosseguiremos tomando novas e novas decisões..., até o momento
que formarmos um novo modo de pensar internalizado, portanto, um
novo modo de “crer e de agir”.
As crenças negativas --- desde que as positivas devem ser
acalentadas ---, que a professora Ilma Soares captou nos
depoimentos das educadoras, que subsidiaram sua investigação,
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registrando-as em seu texto, foram adquiridas da forma habitual e
inconsciente, sinalizada acima.
Essas professoras, em suas biografias pessoais, passaram por
“lições”, castigos, mandatos, e, agora, tornadas profissionais,
repetem as crenças assimiladas por ensino ou por ensino somado ao
castigo ou por experiências traumatizantes. Não há perversidades
nessas crenças; elas simplesmente não têm justeza e, por isso, podem
e devem ser modificadas, a fim de que a vida flua de modo mais
saudável, tanto para as professoras, como para seus estudantes.
Estudar o texto das professoras e pesquisadoras Ilma e
Bernadete nos alertam para a necessidade da atenção às nossas
crenças em geral e às nossas crenças no exercício profissional de
educadoras e de educadores. Nossos educandos aprenderão conosco
e levarão crenças parecidas para suas vidas afora, desde que a
tendência no mundo humano é aprender mais com aquilo que
acontece conosco, assim como no nosso entorno que de estudos
conceituais diretos.
Então, crenças novas, em muitas áreas de nossas vidas,
dependem de novos entendimentos e de suas respectivas práticas por
muitas e muitas vezes em nosso cotidiano, até que se tornem
habituais.
Mudar as crenças a respeito de brincadeiras e jogos como
recursos de ensino-aprendizagem, dependem de estudos teóricos,
mas também de vivências práticas, que criem novos algoritmos de
compreensão e ação em nossas vidas, ou seja, que criem novas
crenças, que, por sua vez, nos guiarão em nossas ações no presente
e no futuro.
O ser humano aprende ativamente, o que quer dizer que
aprende praticando e, ao mesmo tempo, compreendendo a prática. É
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essa aprendizagem que poderá trazer, ou não, um estado interno de
bem-estar, de alegria, de prazer, que é denominado de lúdico.
Brincadeiras e jogos são atividades e, por isso, permitem
aprendizagens ao ser humano que as pratica. No caso do ensino
escolar, propicia a aprendizagem dos conteúdos abordados nessas
atividades.
Após praticá-las, importa que sejam “elaboradas
compreensivamente”, isto é que cada estudante participante da
atividade possa compreender o que ocorreu dentro de si com a
vivência da atividade. Não há certo ou errado, somente há uma
aprendizagem comprometida com a experiência. Nesse contexto, o
papel do educador, adulto da relação pedagógica, será, ao dialogar
com o educando, oferecer-lhe suporte para compreender o que
ocorreu, assim como novas possibilidades, novos olhares sobre a
mesma experiência.
Certamente que as crenças sobre “atividades lúdicas e
ludicidade”, abordadas nos depoimentos das educadoras, que
compuseram o espaço de informantes da investigação relatada no
texto da professora Ilma, nasceram de compreensões comuns no
meio sociocultural, onde nasceram e cresceram, sem terem tido a
oportunidade de refinar suas compreensões sobre “brincadeiras e
jogos”, como recursos de ensino-aprendizagem.
As crenças, expostas em seus depoimentos e relatadas no
texto, expressam as compreensões comuns que os adultos, em torno
de todos nós e dessas educadoras informantes da pesquisa, quando
crianças, tiveram e expressaram sobre essas atividades.
Simplesmente aprenderam, de modo habitual, que “brincadeiras e
jogos” não têm nada sério, característica que deveriam ser as
atividades para o ensino. Então, com essas crenças internalizadas,
- 11 -
dificilmente poderiam fazer uso adequado de brincadeiras e jogos na
sala de aula, desde que são “somente jogos e brincadeiras”, não
recursos dignos de um ensino-aprendizagem escolar sério.
Nesse contexto, a meu ver, nas Faculdades de Educação,
onde ocorre a formação de novos e futuros educadores que atuarão
em nossas escolas, há necessidade de que professores universitários,
formadores de novos educadores, estejam capacitados a estudar,
junto aos formandos, teórica e praticamente, “brincadeiras e jogos”
como recursos significativos para ensinar e aprender com bem-estar,
alegria, prazer, a fim de que, com um certo tempo, possamos estar
deixando para trás as crenças de que brincar e jogar podem ser
atividades exclusivamente para as “horas vagas”, o recreio, para o
lazer, mas não para a aprendizagem significativa de conteúdos
escolares.
Recomendo a quem tiver o texto das supracitadas professoras
em mãos, estudá-lo de forma tão minuciosa e tão cuidadosa quanto
a forma como elas o escreveram, a fim de compreender as crenças
sociais e históricas das quais somos herdeiros a respeito de
“brincadeiras e jogos” na vida escolar dos educandos, podendo,
desse modo, estar atento à possibilidade de compreender e usar essas
atividades no ensino, sob uma ótica nova, criativa e construtiva.
Cipriano Luckesi
- 12 -
1. PRA INÍCIO DE CONVERSA
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conscientes, visto que havia uma contradição entre a fala e a ação
desses/as profissionais em sala de aula.
Entendemos que as discussões aqui expostas, relacionadas à
importância da crença na formação docente, poderá possibilitar uma
reflexão mais profunda sobre a formação inicial dos professores,
incluindo elementos curriculares que nos possibilitem entender o
que são as crenças e como se manifestam na prática escolar. Indo
além, imaginamos sua importância na formação continuada de
professores, uma vez que compreendemos a viabilidade da reflexão
sobre a prática pedagógica neste processo contínuo de desenvolver-
se como professor, podendo, assim ser utilizado por formadores de
professores de modo a poderem, a partir das crenças dos depoentes,
analisarem as crenças dos licenciandos sobre essas e outras
temáticas, posto que as teorias sobre formação de professores
afirmam que os estudantes transitam pelas licenciaturas sem que
suas crenças, construídas no cotidiano e que dificultam a
transformação da educação de modo a tornar suas práticas
pedagógicas mais inovadoras e significativas no sentido de
construção de aprendizagem, sejam modificadas, pois eles não as
expressam nem, tampouco, refletem sobre elas à luz das teorias.
Também consideramos que serve de material para que os
professores possam refletir, individual e coletivamente, sobre suas
próprias crenças. Consideramos também como importante fonte de
estudo e pesquisa para estudiosos dos conteúdos aqui discutidos
diante do confronto com a teoria e as convicções dos professores das
séries iniciais.
O modo como este livro foi organizado, vale-se destacar,
permite o estudo integral ou parcial de seus capítulos. Assim, em
cada capítulo já estabelecemos a relação com as convicções dos
- 15 -
professores sobre as temáticas específicas e sua influência com os
dois conceitos principais discutidos nesse estudo: ludicidade e
atividades lúdicas. Contudo, salientamos, a leitura em sua
completude possibilita compreender melhor a rede de crenças e
perceber as dificuldades e possibilidades de intervenção para a
vivência lúdica na escola.
Nesta pesquisa, escolhemos focalizar o estudo das crenças
em professores do ensino fundamental sobre a ludicidade. Neste
sentido, o objetivo geral é analisar as crenças que os/as
professores/as têm a respeito da ludicidade e das manifestações
lúdicas, no contexto escolar.
O enfoque nos professores deu-se porque consideramos que
eles são os principais responsáveis pela presença das atividades
lúdicas nessa instituição. Além do mais, como acentua Arroyo
(2000, p. 12), “Olhar os mestres é o melhor caminho para entender
a escola e o movimento de renovação pedagógica. [...]” É esse
mesmo autor a afirmar que os/as professores/as são mantidos em
segundo plano, como apêndices, um recurso nas pesquisas e
propostas educacionais, esquecendo que são eles os responsáveis
diretos por qualquer transformação na escola. Portanto, quando nos
referimos a professor e não educador é, justamente, para ficar mais
bem delimitado o sujeito desta pesquisa, relacionando-o ao local de
trabalho, como profissão. Na escola básica brasileira, na maioria das
experiências, esses profissionais exercem sua atividade segundo um
modelo de monodocência, ou seja, um único professor é responsável
por trabalhar com todas as disciplinas de uma determinada turma.
Isso oferece a cada professor, ao mesmo tempo, maior autonomia e
maior isolamento - em muitas escolas, inclusive, existe em cada
turno um só professor responsável por cada série – e,
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consequentemente, maior responsabilidade em relação à formação
dos seus educandos. Essas especificidades interferem no perfil e na
identidade dos professores, ensejando crenças que influenciam na
sua atuação pedagógica.
Quanto à especificidade das séries iniciais do Ensino
Fundamental, é importante mencionar a complexidade das escolas
que trabalham com essa etapa de ensino. Sobre esse assunto,
Sarmento (1994) reúne aspectos que a diferenciam de outras fases
escolares. Essas especificidades das séries iniciais do Ensino
Fundamental não interferem somente no perfil dos professores que
ali atuam, mas também das crianças que a frequentam. Prova disso
é que, para a sociedade em geral, esta etapa é tida como a fase mais
importante, a sustentação da formação da criança. Nesse aspecto, a
Nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB), Lei 9.394/96, é limitada,
como anotam Demo (1997) e Arroyo (2000), pois utilizam o termo
“ensino” e não “educação” ao se referirem ao Ensino Fundamental.
Arroyo (2000, p. 52) assinala não ser somente um jogo de termos,
mas uma concepção subjacente a essa etapa, “[...] que reflete uma
longa história de destaque do papel social da escola como tempo de
instrução, de aprendizado das letras e das noções elementares das
ciências que reduz o papel da escola.”
Já sobre o “brincar” infantil, temos a clareza de que a
responsabilidade em relação a sua vivência não se restringe ao
professor nem à escola, mas entendemos a importância desse espaço
como uma possibilidade de vivenciar experiências enriquecedoras
que a família, a rua, o trabalho não tem mais condições de propiciar,
principalmente nos grandes centros urbanos. Além do mais, a escola
é o espaço primordial, na nossa sociedade, de formação cultural e,
- 17 -
portanto, deve buscar trabalhar com os múltiplos saberes que
circundam o contexto da criança.
Compreendemos a pesquisa como uma opção política. Deste
modo, a nossa escolha pela realização deste estudo numa escola
pública fundamenta-se na medida em que essa realidade
contingencial poderá representar a experiência de muitas outras
escolas também de natureza pública, haja vista que todas são
orientadas pela Secretaria Municipal de Educação e pelas diretrizes
federais do Ministério da Educação. Essa opção também se justifica
pela riqueza das experiências que observamos nessa instituição e,
especialmente, por serem essas escolas que trabalham com a grande
maioria das crianças oriundas das camadas populares, que sofrem
com o trabalho infantil, com a falta de recurso para desfrutarem das
atividades de lazer disponíveis nos grandes centros, além da falta de
tempo e espaço para brincarem como deveriam, sem esquecer,
ainda, que foi em escolas de natureza pública que percorremos quase
toda a nossa trajetória enquanto era estudante da graduação e da pós-
graduação.
A escola, como espaço de formação, também é impelida a
possibilitar às crianças a vivência lúdica, no entanto, a importância
da escola imbuir-se também dessa responsabilidade não se justifica,
pelo fato de essa instituição assumir responsabilidades que vêm
sendo negligenciadas pela sociedade, tais como: o fato das crianças,
geralmente, não poderem vivenciar as atividades lúdicas em suas
casas, ruas e bairros, o que faz com que as crianças sejam envolvidas
com atividades de lazer passivo e mercadológico.
Mesmo considerando esses aspectos importantes, o
argumento que utilizamos para a vivência lúdica na escola é
embasado na medida em que cabe ao professor, e não só a ele, a
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tarefa de educar e o fenômeno lúdico é uma possibilidade de tornar
esse processo educativo mais agradável e significativo, pois engloba
dimensões humanas, tais como: o intelecto, o afetivo, o corporal, o
estético, dentre outras. Com isso, atentar para a importância da
ludicidade, das atividades lúdicas na escola, não é contribuir para
sobrecarregar o professor – que de fato vêm assumindo muitos
papéis que algumas vezes lhes são alheios – mas buscar a
consecução de uma educação mais prazerosa e uma compreensão da
criança como ser indiviso.
Outro ponto a ser esclarecido está na noção de que, defender
o elemento lúdico na escola não é negar a sua especificidade: a
transmissão e formação do conhecimento, pois, assim, seria deixar
de cumprir o seu papel político, ético e cultural, especialmente para
os educandos das camadas populares.
Feitas estas observações sobre a escolha do tema e do nível
de ensino, consideramos necessário, também, justificar a escolha
pelo estudo das crenças. A necessidade de aproximar das questões
mais arraigadas dos/as professores/as foi percebida por nós, quando
observamos que a ludicidade e as atividades lúdicas eram
valorizadas no discurso dos/as professores/as, quando, de fato, no
seu fazer-pedagógico, elas não se encontram presentes ou, quando
utilizadas na escola, perdem muito das suas características. Essa
mesma constatação é apresentada por autores como Wajskop (2001)
e Marcellino (1990) dentre outros. Assim, constatamos que, para que
esses elementos, por nós considerados importantes na práxis
pedagógica, pudessem estar presentes na escola e na sala de aula,
aproximarmo-nos do/a professor/a e das suas crenças poderia ser um
caminho ímpar no sentido de melhor poder analisar os porquês da
inclusão/não inclusão da ludicidade no processo educativo.
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Relevante esclarecer que a constituição das crenças
detectadas resulta da análise de uma série de atitudes e declarações
das professoras que, algumas vezes, não assumem explicitamente
essas concepções, ou seja, encontram subliminares, por falta de
conhecimento e reflexão sobre o seu fazer pedagógico. Assim, o
estudo das crenças nos permitiu ir além das aparências, do visível,
dos discursos explícitos, dos aspectos literais e conscientes,
possibilitando compreender os elementos mais intrínsecos, o
conjunto das estruturas internas que conferem significado à práxis
das professoras no que se relaciona à temática deste estudo.
Reconhecendo as crenças como uma das formas de
compreender o mundo, é importante conhecer, analisar e questioná-
las, de modo a ser possível construirmos uma práxis que esteja
comprometida com o prazer, a integração, a inteireza do sujeito, haja
vista que as crenças interferem na consecução da realidade
educacional, porque é a partir destas que os professores julgam,
decidem, enfim, vivem a sua práxis pedagógica.
Enfatizamos a noção de que essa análise está calcada no
sentido de compreender as crenças das professoras dentro de uma
cultura, que abrange a cultura escolar e da escola, mas também da
sociedade em geral. Assim, essa investigação também possibilita
conhecer um pouco a instituição escolar na sua essência, ao
descortinar o véu que encobre e naturaliza pensamentos, sentimentos
e ações cotidianas.
A abordagem metodológica para o desenvolvimento desta
pesquisa é de natureza qualitativa e os três instrumentos
metodológicos utilizados foram a observação, a entrevista
semiestruturada e a (auto)biografia, prevalecendo,
substancialmente, a entrevista. As professoras que contribuíram para
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a feitura desta pesquisa serão aqui denominadas pelos nomes
fictícios de Cândida, Margarida, Mariazinha e Teresinha e a escola
estudada, a qual denominamos de Escola Aquarela, é de natureza
pública, localizada em um bairro popular da cidade de Salvador-
Bahia, e trabalha com as séries iniciais do Ensino Fundamental.
O conceito de crenças que embasa esse trabalho encontra-se
discutido no primeiro capítulo, intitulado O estudo das crenças dos
professores: uma forma de entender a práxis docente? Nele,
apresentaremos a definição de crenças, os vocábulos que serão
utilizados como sinônimos a esse termo, convicções e “certezas”;
distinguimos de outras expressões que também buscam conhecer os
pressupostos que se encontram presentes no trabalho dos/as
professores. Ainda com o intuito de clarear o conceito de crenças,
discutiremos algumas de suas mais importantes características.
No segundo capítulo, intitulado As crenças sobre educação
e escola pública sua relação com a vivência da ludicidade e das
atividades lúdicas, apresentamos as convicções mais abrangentes
das professoras sobre o caráter social, político e cultural da
educação, com maior ênfase aos aspectos escolares, como os
conteúdos, o tempo na/da escola dentre outros. Por saber que a
escola é uma instituição complexa, focaremos nesse capítulo, nas
crenças sobre escola pública, haja vista ser essa a natureza da escola
pesquisada. Tal análise busca compreender onde se estruturam as
crenças sobre a ludicidade e atividades lúdicas a partir destes dois
conceitos.
As convicções sobre os alunos encontram-se sistematizadas
no terceiro capítulo que denominamos Discutindo as crenças das
professoras sobre seus/suas alunos/as: outra forma de conhecer as
- 21 -
suas convicções diante da profissão, da ludicidade e das atividades
lúdicas.
Nessa seção, será demonstrada as convicções sobre os
educandos das camadas populares, sendo caracterizadas pelas
professoras como carentes, violentas, desinteressadas, dentre outros.
Com tal análise, objetivamos demonstrar como essas crenças
influenciam na presença ou ausências da ludicidade e das atividades
lúdicas na escola voltada para as crianças das classes menos
favorecidas.
As crenças sobre o trabalho docente serão discutidas no
quarto capítulo, chamado Trabalho docente e vivência lúdica na
escola: quais crenças permeiam o que fazer pedagógico das
professoras? Nessa seção apresentamos o sentimento das
professoras em relação ao exercício da sua profissão e a função que
exercem. Essa análise das “certezas” das professoras sobre o
trabalho docente, possibilita compreender a relação que elas
estabelecem com a profissão e, consequentemente, a possibilidade
da presença da ludicidade e das atividades lúdicas no seu fazer
pedagógico.
No quinto capítulo, discorreremos as crenças mais
especificas referentes à ludicidade e às atividades lúdicas sob o título
Está sendo a escola um espaço para a vivência lúdica?
Relacionando as crenças e as teorias sobre ludicidade e atividades
lúdicas. A partir dessa sistematização das convicções das
professoras, é possível compreender a função e a importância
atribuída às atividades lúdicas e à ludicidade no trabalho
pedagógico.
No sexto e último capítulo, Amarrando os fios: algumas
possíveis conclusões, tecemos algumas considerações acerca da
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presença da ludicidade e das atividades lúdicas na escola. Também
apresentamos três características que (pensamos) ter sistematizado
sobre as crenças a partir da sua análise no exercício docente.
Por fim, esclarecemos que, ao apresentar as crenças das
professoras sobre cada uma dessas temáticas, não buscamos
compará-las, pois tenho claro que em relação a cada uma delas, por
mais que suas práticas sejam similares, os trabalhos que realizam são
únicos, porque resultam da síntese das suas características pessoais
e profissionais.
Outro aspecto a ser elucidado é que não temos a pretensão de
ter captado a realidade, especialmente diante da sutileza em entender
as crenças, mas o que segue é a nossa compreensão, uma
possibilidade de estudo como pesquisadoras, nesse momento
específico, apoiadas nas contribuições teórico-metodológicas e,
auxiliadas pelas nossas percepções, pela nossa formação pessoal e
profissional. Assim, essa análise possibilita outras perspectivas.
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2. O ESTUDO DAS CRENÇAS DOS PROFESSORES: UMA
FORMA DE ENTENDER A PRÁXIS DOCENTE?
- 25 -
Esse aspecto, salientado pela autora ao demonstrar as
limitações das verdades da ciência, não significa, no entanto, negar
o esforço daqueles que concebem essas teorias, mas de não reduzir
toda a explicação da realidade aos seus pressupostos. A seguir,
esclareço o conceito de crenças utilizado neste estudo.
2.1 SABERES, REPRESENTAÇÕES, CRENÇAS ... QUANDO
UTILIZAMOS ESSES TERMOS ESTAMOS FALANDO DA
MESMA COISA?
- 26 -
pensamento”. (idem). A opção dessa autora é utilizar os vocábulos
saber, concepções, noções e crenças como sinônimos.
Com esse mesmo objetivo de esclarecer a terminologia,
Pajares (1992) aponta inúmeros conceitos encontrados na literatura,
que podem ser redutíveis ao conceito de crenças. São esses os termos
destacados pelo autor:
- 27 -
credo intenso em algo, mesmo quando não se tem um conhecimento
mais sistematizado daquilo no que se acredita.
Em relação ao trabalho pedagógico, a importância das
crenças, para o professor, relaciona-se ao fato de elas darem sentido
ao trabalho que ele exerce, oferecendo segurança e possibilitando,
assim, solucionar problemas imediatos, surgentes no cotidiano da
escola, cada vez mais configurado por incertezas e dúvidas.
Compreendemos urgente a reflexão sobre as crenças porque
elas interferem na realidade educacional. Sabemos que é a partir
delas que os professores julgam, decidem, enfim, vivem a sua prática
pedagógica. Essa questão é abordada por vários estudiosos da área,
tais como: Ramos (1997), Sadalla (1998), Rita Silva (2000),
Bejarano (2001) dentre outros. Outra diferenciação importante para
a compreensão das crenças, e que se tornou valiosa nesse estudo –
no sentido de não se contentar com o aparente e o explícito – é a
diferenciação feita por Ramos (1997), a partir de Ortega y Gasset
(1957), em relação às ideias e às crenças. Para esses autores, há uma
distância insuperável entre as ideias e as crenças, tendo as ideias o
papel de se situar onde não existem crenças firmes: nas dúvidas.
Ramos (1997, p. 20) acrescenta, ainda, que “[...] embora as crenças
sejam do sujeito, elas atuam num grau de consciência que não se
comparam a meras opiniões ou ideias sobre algo.” haja vista que as
ideias são representações virtuais e imaginárias do sujeito frente à
realidade, enquanto as crenças correspondem à realidade radical do
sujeito.
A importância dessa diferenciação é que, neste estudo vamos
considerar as ideias e opiniões dos sujeitos pesquisados mas,
principalmente, as suas convicções mais arraigadas, que, muitas
- 28 -
vezes, não se encontram presentes nas opiniões porque não é algo
consciente para o indivíduo.
Um termo que geralmente acompanha as crenças, e merece
ser analisado, diz respeito ao conceito de valores. Por valor,
entendemos o julgamento que se faz, conscientemente, de alguma
coisa ou algo de forma a orientar escolhas e atitudes. A importância
dessa análise justifica-se na diferenciação de Teixeira (2002),
quando demarca que alguns valores se tornam crenças e, assim,
deixam de ser conscientes. Contudo esclarece que isso ocorre
somente com os valores que se oferecem segurança e sucesso na
solução de situações importantes. Ao assumir um grau de
inconsciência, torna-se um hábito.
A partir desta afirmação, acrescentamos, com base em Rita
Silva (2000), que o mesmo acontece com alguns saberes tornados
cristalizados e conseguem intervir nas atitudes dos/as professores.
Outro termo que também não é fácil de ser distinguido das crenças,
quando nos propomos a compreendê-lo na prática, é conhecimento.
Além do mais, no plano teórico, observamos que alguns autores
também utilizam alguns termos para abranger os conhecimentos
mais experienciais, tais como Sadalla (1998) que fala de
conhecimentos práticos.
Conhecimento científico é aqui entendido como as
produções das diversas ciências, mediante seus diferentes métodos,
tendo como característica o rigor e a comprovação. O conhecimento
se refere às elaborações sistematizadas e, assim, está ligado mais
fortemente à racionalidade. Outro aspecto do conhecimento é que
ele é histórico, ou seja, ele se modifica a partir da elaboração de
novos conhecimentos.
- 29 -
A relação entre conhecimento e crença, ocorre, por exemplo,
quando o primeiro é valorizado e aceito por uma comunidade e os
seus argumentos são convincentes; mesmo quando não consegue
modificar uma crença, ao menos, ele pode incomodar o sujeito nas
suas “certezas”.
No que se refere às crenças e conhecimentos científicos, é
importante esclarecer que as ciências também têm suas convicções
e que nascem das crenças e suposições aceitas em um determinado
momento por uma comunidade. Sobre essa relação, Sarmento
(1994) é claro:
- 31 -
O sentido atribuído às representações que Penim (1994)
escolhe para sustentar o seu trabalho converge para a compreensão
de crenças que norteia este estudo, no sentido de não negar a
influência do coletivo nas crenças, mas optar por focar essa
compreensão em cada sujeito, nas suas vivências, na sua forma de
ver, sentir e se posicionar no trabalho que realiza. Em relação à
influência do social nas representações das professoras sobre o
processo pedagógico, a autora é enfática ao demarcar:
- 33 -
Com essa declaração do autor, observamos que ele assinala
a interferência das crenças na elaboração dos saberes experienciais
dos/as professores/as, no entanto, esse mesmo autor, convergindo
com estudiosos do campo das crenças, tais como Rita Silva (2000)
e Bejarano (2001), também expressa a dificuldade dessa
diferenciação, diante da subjetividade dos termos, dos aspectos em
comuns entre eles etc. Vejamos como Tardif (2002, p. 298)
demonstra essa dificuldade ao discutir os saberes dos professores:
- 34 -
pesquisa sobre o tema dos saberes dos
professores.
- 36 -
esquecido: estudar as concepções do professor
implica vê-lo nesse todo enquanto filho, aluno e
cidadão. (SILVA, R. 2000, p. 35).
- 37 -
por exemplo, sinaliza para a noção de que “As crenças são sempre
sociais” (apud RAMOS, 1997, p. 16).
Outro aspecto social que interfere na elaboração das crenças
é a linguagem. Autores como Vygotsky (1989) e Bakhtil (1997)
entendem que os elementos sociais interferem na formulação do
conhecimento e da subjetividade e são mediados pela cultura e pela
linguagem. Nesse sentido, Ramos (1997, p. 364) declara que, “[...]
Ao recebermos a linguagem, recebemos seus significados e a
opinião pública nela incrustada – pois encontramo-nos imersos em
seus valores e crenças.” Dessa maneira, as inúmeras formas de
linguagem medeiam à herança cultural de uma sociedade, intervindo
na constituição das nossas convicções.
Por se tratarem de criações socioculturais, as crenças
também são históricas no sentido de que provêm dos elementos
presentes em um contexto sociocultural específico. As crenças
resultam da relação do sujeito com sua profissão, dos seus valores
pessoais, da relação que estabelece com sua classe social, dos seus
interesses, da sua posição diante do mundo, da sua opção política,
enfim, da sua história de vida, que resulta da análise que ele faz do
real, que é retocado e transformado a partir do que o sujeito pensa
que seja ou deva ser. Nesse sentido, as convicções são estruturadas
no limite de uma história de vida específica, onde o sujeito manipula,
interpreta, dá sentido a esse contexto. Em se tratando,
especificamente, das convicções dos/as professores/as, Ramos
(1997, p. 3 – grifos do autor) concebe que:
- 38 -
profissional, e, inclusive, nesse sentido, a
desvalorização profissional, que atua em duas
frentes: uma salarial e outra relativa à sua
competência educativa. Ou seja, esta crença é
pessoal, histórica e social. Ela, portanto, é
resultado da circunstância e da imaginação,
das barreiras que existem e das barreiras que
criamos.
- 39 -
Olhar as crenças dos/as professores tendo como base a
importância da cultura da qual eles fazem parte, em especial a
cultura escolar e a cultura da escola, não é abdicar do seu caráter
individual, mas contextualizar muitas das suas convicções e atitudes
frente ao trabalho pedagógico, pois elas interferem na formulação da
identidade desse profissional.
Essa influência, no entanto, não é unilateral, pois as
percepções, crenças e valores dos/as professores e demais
componentes da escola também influenciam no estabelecimento da
cultura. Como anota Teixeira (2002), a cultura não é algo imposto,
por exemplo, pelos líderes que exercem o poder de influenciar na
constituição dos valores e normas comportamentais, mas também
pela interação social dos demais membros.
Diante dessa elaboração coletiva é compreensivo que a
cultura esteja permeada por diferenças e conflitos, como sinaliza
Sarmento (1994). Esse conflito ocorre, segundo esse mesmo autor,
inclusive, pela presença de crenças diferentes, percepções e valores
no mesmo espaço educativo.
- 41 -
específica de dever moral no convívio.
(ARROYO, 2000, p. 124 – grifos do autor)
- 42 -
Ainda em relação à cultura, enfatizamos, com base em
Arroyo (2000) e Teixeira (2002), a sua influência na mudança das
convicções dos/as professores, afirmando a necessidade de um
movimento coletivo para essa transformação. Sobre isso, Arroyo
(2000, p. 174) expressa:
- 44 -
diante das incertezas que esses vivenciam em relação ao fazer
pedagógico. Assim, as “certezas” que os/as professores/as têm e
guiam seu trabalho os tranquilizam diante de um mundo cheio de
inovações e transformações.
É possível também constatar, no final da citação de Arroyo
(2000), outro aspecto que não pode ser esquecido nesse debate em
relação à segurança que as crenças oferecem ao/à professor que é o
fato de elas terem base forte de fé e confiança, que mexe com muita
força nos aspectos afetivos desse profissional. Essa confiança
possibilitada pelas crenças contribui para que os sujeitos possam agir
ou interpretar uma situação sem maiores questionamentos e,
portanto, sem maior incômodo em relação ao que está sendo feito.
Outro aspecto da crença que justifica sua forte presença no
trabalho do/a professor/a, inclusive de uma forma mais intensa do
que as teorias educacionais, é o fato de que os conhecimentos
científicos sobre o ensino, além de não estarem accessíveis a
todos/as os/as profissionais, eles não conseguem explicar e resolver
todos os problemas do dia-a-dia, porque são saberes inacabados e,
especialmente, porque não dá para recorrer sempre à teoria, pois
muitas decisões têm que ser tomadas na urgência. Assim, as crenças
como “chão firme” se tornam mais presentes no trabalho do
professor do que muitas teorias pedagógicas.
No que concerne à limitação dos saberes científicos para a
efetivação da prática pedagógica do/a professor/a, Perrenoud (2001,
p. 154) entende que, “[...] Quando as teorias eruditas não existem, é
preciso agir.”. Assim, as crenças oferecem vasto repertório de
conteúdo que interfere nas atitudes e julgamentos desse profissional
e que não requer uma reflexão sistemática sempre que for utilizada,
especialmente, porque o cotidiano em que o/a professor/a atua é
- 45 -
constituído de uma sucessão de micro decisões, que requerem dele/a
atitudes imediatas e que, nem sempre, é possível refletir
simultaneamente à ação. Muitas vezes, essa reflexão só ocorre
depois de tomada certa atitude.
- 46 -
As crenças são absolutamente livres, pois elas, ao contrário
do conhecimento, não precisam de comprovações para serem
aceitas. Elas se sustentam no que se acredita. Nesse sentido, Ramos
(1997, p. 20) garante que “[...] elas são pressupostos sobre os quais
construímos nossas verdades.”
Moreira (2002, p. 33) também contribui na compreensão
dessa característica das crenças, ao defini-las como “[...] opiniões
acerca do estado objetivo do mundo. Aquilo em que as pessoas
crêem pode ser verdadeiro ou não, mas geralmente o que interessa
aqui é o que a pessoa pensa ser verdadeiro.”
Sob esse aspecto, as crenças adquirem o sentido de
convicção, pois causam uma persuasão íntima, podendo, inclusive,
levar o sujeito que crê a defender apaixonadamente seu ponto de
vista. Essa defesa se torna mais forte, se houver provas que apóiem
essas crenças, impulsionando o sujeito a justificá-la como verdade.
Isso não significa, no entanto, que as crenças não busquem a
exatidão, mas que, diante do fato de que nem sempre podemos ter
clareza de tudo, essas convicções possibilitam o sujeito agir no
mundo de forma bem mais tranqüila.
Mesmo não constituindo uma verdade que possa ser
generalizada, é importante esclarecer que as crenças têm forte
relação com a realidade, pois contribuem para edificá-la, a partir da
interpretação que o sujeito faz de vários aspectos que capta do
contexto onde vive e, nesse processo de absorver e avaliar suas
experiências, ele age interferindo nessa realidade. As convicções
têm intensa influência, especialmente, na realidade do crente. Esse
aspecto é abordado por Ramos (1997, p. 20), quando diz: “Todavia,
ainda que apareçam de maneira velada, as crenças constituem a
realidade plena e autêntica da vida do sujeito.
- 47 -
Diante dessa característica, não podemos esperar coerência,
unidade teórica e validação das crenças, pois elas são elaboradas sem
uma reflexão mais sistematizada. Além do mais, diferentes
elementos compõem o trabalho pedagógico, que estabelecidos por
meio das experiências, da história de vida, do contexto em que atua,
dos recursos disponíveis, dentre outros. São esses vários elementos
que delineiam o sincretismo das crenças.
- 48 -
As ocultações podem se tornar perigosas
armadilhas, ao analisarmos julgamentos em
busca de crenças. Uma destas armadilhas é
sucumbir às facilidades de interpretar
declarações, a partir de seus elementos literais.
Os elementos literais – as palavras e os
encadeamentos gramaticais – de uma
justificativa nos mostram uma direção, apontam
um caminho para o entendimento de algumas
convicções ou fragmentos destas. Contudo, ao
estudar este caminho com maior profundidade,
perceberemos significados outros, que vão além
dos elementos literais, e que ali estão
estabelecidos como pressupostos, elementos
velados das crenças sobre as quais se apóia o
pensamento do sujeito. As formas literais são
manifestações acessíveis, porém tênues, das
crenças ali presentes. Interpretá-las de uma
maneira direta e simples é arriscar-se a alterá-
las, negando sua origem e características.
(RAMOS, 1997, p. 29)
- 49 -
Esse velamento das crenças ocorre porque não se trata de um
conhecimento objetivo do mundo, mas de uma lógica de
configurações simbólicas, na qual depositamos uma carga de fé,
imaginação e afeto que dificulta visualizarmos racionalmente as
suas especificidades. Não se trata da mera apreensão do real, mas
também não exime os aspectos racionais.
Por não se limitar à racionalidade, as convicções se tornam
veladas para o próprio sujeito, que não se conscientiza de muitas
crenças que engendrou na sua trajetória, inclusive, podendo
assegurar que não as possui. Isso ocorre porque, como declara
Martins (1999, p. 96), “A crença fica pelos meados da
subconsciência, nem sempre é muito clara, nem sempre é muito
visível.”
Já Ramos (1997), a partir de Ortega y Gasset (1957),
assegura que as crenças são constituídas de pressupostos
inconscientes. Esse caráter inconsciente das crenças não significa,
para o autor, que não haja nenhuma forma de reflexão e, nesse
sentido, ele salienta que, “[...] Normalmente não agimos ‘fora de nós
mesmos’, com atos reflexos. Normalmente pensamos – mesmo que
brevemente – na maior parte das atitudes que vamos tomar.”
(RAMOS, 1997, p. 21-22). Essa reflexão ocorre a partir da
subjetividade de cada um, da sua forma de viver, ser e sentir o
mundo. Assim, o juízo que as crenças fazem é parcial e pode, muitas
vezes, ser equivocados.
Se levarmos em consideração a ideia de que as crenças são
fruto da sua história de vida, das relações interpessoais, das
experiências e das suas questões culturais, resta claro que não se
trata de uma elaboração somente cognitiva, mas também afetiva e
que nem sempre se torna perceptível para o sujeito, mas se apresenta
- 50 -
complexa e difusa. Essa ocultação também se evidencia na prática
do professor que, muitas vezes, age sem muita consciência. Sobre
isso, Perrenould (2001, p. 113) assinala que “A racionalidade
integral do ensino é uma utopia.” E acrescenta:
- 51 -
mesmo com o avanço das teorias – que podem, inclusive, discordar
dessas elaborações – eles se recusam a ser modificados,
especialmente se em algum momento elas lhes possibilitaram
resolver alguma questão. Assim, as convicções não se solidificam
sem nenhuma reflexão, mas, depois que essa estagnação acontece,
elas se tornam mais impermeáveis. Sobre Isso, Rita C. Silva (2000,
p. 27) expõe:
- 53 -
delimitada do comportamento em relação a alguma coisa” e crença
é “'o componente cognitivo da atitude" (idem). Assim, as crenças
precedem e influenciam as atitudes.
Zabalza (1994) converge para esse pensamento de Pacheco
(1995, p. 31), quando concebe que “A actuação dos professores é
dirigida pelos seus pensamentos (juízos, crenças, teorias implícitas,
etc.)”. O autor, contudo, esclarece que essa conexão entre o
pensamento e a conduta não se limita aos aspectos racionais, mas
possui, como assegura, uma “racionalidade limitada”.
(PACHECO,1995, p. 32).
Bejarano (2001) também defende a importância de
compreendermos as crenças dos/as professores ou dos/as futuros/as
professoras/as diante da sua influência no comportamento assumido
por esses em sala de aula.
Assim, compreendemos que as convicções, como
elaborações primeiras, influenciam nas atitudes que tomamos,
porquanto as nossas ações são precedidas dos nossos pensamentos e
as crenças, mesmo sem uma reflexão mais sistematizada, têm um
componente racional. Entendemos, também, que as convicções
interferem nas atitudes que tomamos, mesmo quando não temos
consciência do papel que elas exercem. Diante dessa relação
estabelecida entre as convicções e as atitudes, é importante que as
propostas que buscam modificar as posições assumidas, por
exemplo, pelos profissionais da educação, no seu fazer pedagógico,
não abdiquem de considerar as crenças como um aspecto relevante
para a mudança de comportamento. Sobre a influência das crenças
nas atitudes que tomamos, Martins (1999, p. 106) anota que “A
crença é o portal da realização”. Essa conexão, porém, não é algo
tão simples.
- 54 -
As atitudes que os/as professores/as assumem também
resultam das políticas educacionais, das teorias a que são obrigados
a seguir, dentre outros. Assim, essa contradição pode ocorrer no
trabalho pedagógico, também, graças ao sincretismo de saberes,
experiências, valores, concepções que interferem no cotidiano dos
professores.
Mesmo sendo esse o foco de alguns estudos mais
diretamente – a relação entre as convicções e as crenças – como é o
caso da pesquisa de doutoramento de Sadalla (1998), consideramos
importantes outros trabalhos que esclarecem melhor essa interação.
- 57 -
[...] considera que as modificações das
atitudes, crenças e valores dos educandos só
podem ser efetivas caso alcancem o
“inconsciente cognitivo e afetivo”. [...]. No
entanto, ele [Lajonquière] considera que os
professores podem criar condições nas quais
o inconsciente cognitivo e afetivo se
transforme; logo, considera que certas
situações podem auxiliar no processo de
mudança das atitudes, crenças e valores. Ou
seja, Lajonquière aceita o postulado modal
das teorias pedagógicas – é possível
modificar as crenças, atitudes e valores dos
educandos -, mas não julga ser factível fazê-
lo no nível consciente – dos alunos e
professores.
- 60 -
3. AS CRENÇAS DAS PROFESSORAS SOBRE A
ESCOLA PÚBLICA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS PARA
A VIVÊNCIA LÚDICA NESSE ESPAÇO EDUCATIVO
- 66 -
Apesar de a preocupação com o uso do tempo na escola ser
uma das justificativas das professoras para não se encontrarem
presentes às atividades lúdicas, constatei, na verdade, que o tempo é
muito mal utilizado nessa instituição. Observamos que se perde
muito tempo reclamando com as crianças porque conversam, não
participam, brincam; porque continuam dando as aulas de forma
desinteressante, enquanto os alunos não prestam atenção; porque
passam tarefas desinteressantes, somente para ocupar o tempo,
enquanto se planejam as aulas na sala. Assim, torna-se necessário
avaliar a forma como o tempo é utilizado na escola, buscando meios
para torná-lo mais significativo no contexto de desenvolvimento das
diferentes dimensões humanas.
- 77 -
construindo e reconstruindo tempos individuais e coletivos na
escola”.
A segunda crença primária que apresentamos é educar é
aprender a conviver e, nesse sentido, destacamos que é também
aprender a conviver com outras culturas, com outros modos de ser e
entender o mundo. Para as professoras pesquisadas a escola é uma
comunidade, justamente porque possibilita viver com o outro. Esse
aprendizado não é somente para os/as alunos/as, mas também para
os/as professores/as.
Para a Comissão Internacional da Educação para o Século
XXI, que teve como relator Delors (1999, p. 96) aprender a conviver
é “[...] representa, hoje em dia um dos maiores desafios da
educação”. A importância dada a esse aspecto resulta do alto índice
de violência e de preconceitos geradores de conflitos, presente na
sociedade e também em muitas escolas.
Precisamos destacar, contudo, que ao afirmar que as
colaboradas desse estudo possuem tal crença, existe diferentes
concepções quanto ao papel da educação no sentido da convivência.
A Professora Margarida ao referir sobre convivência, mesmo
abordando a importância do respeito ao outro, enfoca sua
compreensão mais atrelada a adequação dos sujeitos às normas,
convenções estabelecidas pela sociedade, diferenciando quem é
“bem-educado” de quem é “mal-educado” ou, ainda “sem
educação”. Essa última expressão foi utilizada pela supracitada
Professora com um aluno que interrompeu a sua aula, sem levantar
o dedo para poder pedir a fala. Dessa forma, crê-se, também, que é
possível alguém não ter educação, porque não se encaixa nas normas
aceitas pela sociedade. Assim, não foi destacado como relevante, no
que tange à responsabilidade da escola no aspecto da convivência, a
- 78 -
preocupação em desenvolver os valores humanos, o respeito à
diversidade individual e sociocultural. Percebemos que sua
compreensão não converge com Delors (1999), a qual defende em
relação ao “aprender a conviver” é aprender a trabalhar com as
diferenças nos seus diversos aspectos: culturais, sociais, religiosas,
de concepção de mundo, de interesse, de realidades dentre outros.
Apesar da crença de que a escola é uma comunidade,
observamos em relação ao trabalho pedagógico que ele é limitado,
pois, conforme salienta as professoras pesquisadas, elas não sentam
para realizar um trabalho coletivo, há somente algumas trocas de
materiais e/ou atividades já elaboradas, o que facilita o trabalho
pedagógico, mas requer maiores discussões e adaptações. Essa é
uma dificuldade, como sabemos, presentes nesse campo
profissionais.
Ainda no aspecto da convivência, percebemos que essa
dificuldade também se apresenta no trabalho que realizam junto às
crianças. Assim, poucas vezes constatamos durante as aulas a
realização de atividades coletivas. A partir dessa atitude, citamos
Arroyo (2004, p. 27), quando argumenta “[...] Quando as formas de
sociabilidade fora da escola deixam tanto a desejar, criar um clima
de convívio nas escolas se torna um dever de ofício”.
Observamos no aspecto da convivência na escola pesquisada
uma atitude ambígua das professoras: ao mesmo tempo em que não
possibilitam a convivência entre as crianças nos espaços abertos com
a presença delas, como educadoras, e nem mesmo na sala de aula,
elas acreditam que a escola, em especial, elas como educadoras,
precisam assumir o papel de educar as crianças para viverem em
grupo, a respeitar o outro, a dividir... Deste modo relatam que os pais
não assumem esse papel. A atuação delas, contudo, é muito do
- 79 -
“sermão”, da explicação oral e não possibilitar a experimentação.
Acreditamos que essa não seja a melhor maneira de adquirirem essa
aprendizagem, pois não aprendemos somente com o que ouvimos,
mas, especialmente, pelo que experienciamos, sentimos e tocamos.
Sobre esse aspecto, Porto (2001) chama a atenção da necessidade de
professores e alunos estabelecerem vínculos, e diz:
- 85 -
trabalho está dando resultados positivos, sem se questionar em
relação aos demais.
Deste modo, como as professoras pesquisadas se deparam
com muitas dificuldades para efetivarem o seu trabalho junto às
crianças das camadas populares, reflete na sua autoimagem e na
compreensão que têm sobre a profissão que exercem. Citamos, por
exemplo, a fala da Professora Margarida, quando afirma que “está
contando o tempo para se aposentar”. Consideramos o magistério
uma profissão que, de fato, consome muita energia, o que, com o
passar do tempo vai se esvaindo do corpo humano, contudo, uma
forma de tornar o nosso ofício e o local onde o exercemos algo mais
prazeroso, pode tornar o trabalho que realizamos mais satisfatório.
No que se refere a essa crença em relação às crianças,
defendemos que a escola assume uma posição ambígua, em especial
para aquelas que frequentam as escolas públicas, pois, ao mesmo
tempo em que é importante para sua formação, é também um lugar
de desânimos e frustrações. Um dos aspectos que causam essa
sensação de desânimo é a oposição bem nítida entre dever e prazer
e a prevalência do dever, das obrigações. Muitos professores
acreditam que, quanto mais sacrifícios apresentar, uma atividade,
mas importante será para o desenvolvimento da criança.
Outro aspecto que influencia para que a escola seja algo
desinteressante é a preocupação excessiva com a disciplina. Assim,
a escola assume, muitas vezes, o papel de vigiar e de punir os que
não obedecem categoricamente os seus preceitos. É sobre isso que
Moraes (1997, p. 50) se refere, ao declarar que “[...] estamos
limitando, silenciando, impedindo as crianças de pensar e
imobilizando-as em seus movimentos, o que contribui para reduzir
- 86 -
sua criatividade, capacidade de expressão e experimentação de
novas situações”.
Mesmo sabendo que na Educação Infantil as crianças não
vivenciam adequadamente atividades prazerosas, é ao ingressar no
Ensino Fundamental que elas são mais requeridas a priorizar o
racional e serem introduzidas nas noções de disciplina, obrigação,
responsabilidade, exercícios. Sobre isso Marcellino (2003, p. 18)
nos esclarece que
- 87 -
preciso e eficiente de comando, para se conseguir o comportamento
desejado. [...] Não realiza trabalho de reflexão, apenas reproduz e
consome. [...]”
Entende-se que a escola não é algo imutável. Ao contrário, a
concepção de escola que está impregnada na maioria das pessoas é
fruto de teorias, visões e interesses que contribuíram para que assim
a compreendêssemos. Snyders (1993), no entanto, assume no seu
trabalho uma perspectiva esperançosa em relação à alegria na escola.
Para ele, a escola atual já contém elementos válidos de alegria e
defende-a no momento presente, denunciando o posicionamento
desta instituição que vêm, em nome do futuro, negando a alegria no
momento atual.
Essa necessidade de valorizarmos o prazer na escola é muito
importante, pois observamos que, ao mesmo tempo em que as
professoras pesquisadas expressam seus sentimentos de que a escola
é algo sufocante, contraditoriamente, elas não buscam realizar um
trabalho de transformação, tornando-a mais agradável. De forma
geral, elas se sentem inseguras, ameaçadas e resistentes a qualquer
proposta pedagógica que as façam repensar e modificar a prática.
Consideramos importante assumir-se um papel inverso do que foi
adotado historicamente, de mantenedora do status quo, pois nem as
crianças nem a sociedade nem o professor encontram-se satisfeitos
com essa instituição. Essa utópica renovação da escola não poderá
abdicar do sonho, do desejo, da alegria, do respeito.
Consideramos que, mesmo a escola precisando de mais
doses de alegria, de prazer, tanto para os professores quanto para as
crianças, ela está viva - nos sorrisos das crianças, nos desejos e
esperanças que ali se encontram presentes, nas relações humanas
que se estabelecem, como expressa Arroyo (2000).
- 88 -
Percebemos, ainda, no que se refere à vivência das atividades
lúdicas pelas professoras, que elas tiveram a oportunidade de
vivenciar as alegrias e os prazeres dos jogos e brincadeiras durante
a infância, porém essa não foi experienciada no ambiente escolar,
mas na rua, em casa, com os amigos, primos e vizinhos, e não com
os colegas e professores. Essa falta de oportunidade de vivências
lúdicas na escola pode ter contribuído para que as professoras, ou ao
menos algumas delas, tenham elaborado a crença de que a escola
não seja o local mais apropriado para essas experiências, mas, ao
mesmo tempo, de considerar essas manifestações importantes e
prazerosas.
Outra constatação relativa à escola é que, para os
professores, esse espaço é visto somente como o lugar do dever, da
obrigação, deslocando as alegrias para outros ambientes. Esse
sentimento de tristeza, de desesperança, de estrangulamento que
acomete as professoras resulta da fragmentação do seu trabalho, do
sentimento de alienação ocasionado pela supervalorização do
conteúdo, da racionalidade técnica do seu trabalho que o transforma
em simples executor, contribuindo para a elaboração de um
conhecimento utilitário e funcional, ocasionando, ainda, essa falta
de prazer e de reconhecimento no trabalho que executa. Isso não
significa, de forma alguma, a desvalorização dos conhecimentos
lógico-formais, porém esses devem ser considerados numa
perspectiva mais abrangente, onde o intelectual e o afetivo consigam
não se opor. Recorremos a Pearce (1992, p. 159), quando ele anota
que “[...] Assim, a lembrança daquilo que aprendemos na escola
guarda o estado emocional que envolvia a aprendizagem”.
- 89 -
Diante das crenças agrupadas nesse tópico, observamos
como essas contribuem para delinear o que chamamos escola, por
meio das suas interpretações e atitudes. Dessa forma, as convicções
interferem na formulação da cultura da escola, mediante seus
discursos e práticas, como também são feitas dentro dessa cultura,
mesmo que nunca cheguemos a disso nos dar conta. Recorro a
Arroyo (2000, p. 171) quando defende:
- 90 -
um pouco na nossa vida fora dela. Trazer para a escola os elementos
lúdicos da cultura é preparar uma práxis pedagógica que realça a
identidade de cada sujeito, de sua comunidade. É possibilitar cada
criança conhecer, mediante as manifestações lúdicas, a
singularidade das danças, dos jogos, dos folguedos, dos brinquedos,
das músicas da sua região, mas também de outros povos, culturas
diversas, vivenciando as diferenças e as semelhanças.
Entendemos que atentar para a formação integral do ser
humano é dotá-lo de elementos que lhe possibilitem conviver melhor
com as mudanças, com o imprevisto, tão presente nos dias atuais. A
este respeito, Moraes (1997, p. 20) assinala que
- 91 -
Uma atitude lúdica diante da vida requer atitudes flexíveis,
articuladas e comprometidas. Uma educação voltada para a
formação integral do ser humano não pode negar que vivemos numa
sociedade plural em constante transformação e, portanto, devemos
valorizar as dimensões cognitivas e instrumentais, mas, também,
outras grandezas humanas, pois também somos serem complexos e,
portanto, a criatividade, a imaginação, a afetividade, a
espiritualidade, as dimensões estéticas e éticas não podem ser
negligenciadas.
Por concordarmos com o que ora foi expresso, pensamos ser
preciso trazer para a sala de aula toda a inventividade, prazer e
participação presentes no recreio. Assim, a escola poderá se
configurar como um espaço de denúncia do princípio da realidade,
que é dominada pelo utilitarismo, pela exploração do trabalho das
crianças das camadas populares, e abrirar-se-á ao princípio do
prazer, da alegria, da criticidade, da criatividade, da utopia e da
sensibilidade. Uma educação realmente voltada para a formação da
criança nos seus aspectos éticos, cognitivos, afetivos, estéticos,
corporais e sociais deverá atentar para a importância do prazer, da
alegria, nos mais variados espaços e tempos, ultrapassando assim a
mera instrução, realizando a incrível tarefa de educar.
- 92 -
4. A CRIANÇA E O ALUNO: DOIS SERES NO MESMO
CORPO EM RELAÇÃO ÀS CRENÇAS DAS
PROFESSORAS
- 93 -
A configuração da infância moderna, segundo Narodowski
(1996), decorre da necessidade de formular um conceito para a
essência infantil, como indivíduo com características diferentes. No
que se refere à influência das teorias pedagógicas em relação à
infância, ele assinala que tais teorias se apropriam deste conceito,
sendo que essa apropriação não ocorre diretamente, mas enfoca a
sua condição de aluno; ou seja, mesmo não estudando a infância em
si, essa se torna o ponto de partida para conhecimentos sobre o
aluno. Vejamos a asserção do autor:
- 100 -
É necessário analisar com muito cuidado a ideia de
valorização da escola por parte dos pais e das crianças das camadas
média e alta. Será que realmente valorizam a escola em si, como
espaço de conhecimento, de convivência ou os pais têm clareza de
que é frequentando a escola que seus filhos terão mais chance de
ascensão econômica e social? As famílias com maior poder
aquisitivo têm maior esperança de seus filhos assumirem funções de
maior reconhecimento e remuneração, satisfazendo as suas
expectativas e, para isso a escola é necessária. Já as famílias menos
abastadas sabem que dificilmente os seus filhos conseguirão essa
mesma posição socioeconômica. Nesse sentido, Bourdieu (1998)
questiona essa valorização ao afirmar que a pequena burguesia “[...]
confunde os valores do êxito social com os do prestígio cultural
[...]”, o que é bastante limitado para as camadas populares. Com isso,
tais crianças, são estimuladas e encorajadas, em nome de uma
ascensão social, a se esforçarem, de modo a suportarem as
dificuldades e aborrecimentos presentes no cotidiano escolar.
Além das questões discutidas pelo autor, acrescento que as
famílias das camadas populares sabem que a escola que os seus
filhos frequentam não tem a mesma qualidade das que formam as
crianças da classe média e rica. Com essa falta de perspectiva, aliada
ao fato de que a escola voltada para a educação das camadas
populares não é um ambiente agradável, essas crianças não se
sentem motivadas na mesma intensidade que as crianças que têm
essas certezas. O futuro é incerto, mas temos que convir que o
caminho percorrido pelas crianças de camadas sociais diferentes,
para alcançarem sucesso profissional, por exemplo, não é o mesmo.
Para uma delas, as que pertencem à classe desfavorecida, é muito
mais longo e sacrificado e isso, certamente, interfere na valorização
- 101 -
da escola. Sobre a significação da escola para os pais das classes
populares, Charlot (1986, p. 27) anota que esses “[...] orientam a
educação dos filhos em função de fins que são imanentes a sua
sociedade e a sua classe social, e que eles não teorizam a não ser em
caso de crise, isto é, de fracasso ou resistência por parte da criança.
[...]” Oliveira (1998) se posiciona a este respeito, ao sinalizar que as
classes mais pobres também desejam o sucesso na escola e
reconhecem a sua importância, no entanto, algumas questões a
fazem agir como se não a valorizasse, diante da impossibilidade de
continuar sua trajetória escolar. O autor também destaca a defesa
psicológica desse grupo social diante do fracasso escolar, o qual
recorre à ideia de “[...] punição, destino, castigo de Deus [...]”
(OLIVEIRA, 1998, p. 161)
Alves (1999), discutindo a relação entre a família, escola e
aluno trabalhador, cita uma pesquisa realizada por Lahide (1997)
que também nega o desinteresse e a omissão da família em relação
ao desenvolvimento dos seus filhos na escola. Para o autor, a
omissão parental é um mito, produzido pelos professores que, “[...]
ignorando a lógica das configurações familiares, deduzem, a partir
dos comportamentos e dos desempenhos escolares dos alunos, que
os pais não se incomodam com os filhos, deixando-os fazer as coisas
sem intervir. [...]” O autor afirma que os pais consideram a escola
como importante e manifestam a esperança do futuro dos filhos a
partir do sucesso nessa instituição.
A noção de desinteresse dos pais e das crianças das camadas
populares traz a dificuldade em aprender no campo individual e não
no social. Não se questiona, por exemplo, que os conhecimentos que
a escola valoriza não fazem parte da realidade cotidiana dessas
crianças; ao contrário, nega-se a sua realidade, objetivando inculcar-
- 102 -
lhes outros conhecimentos considerados singulares e verdadeiros. É
necessário olhar com maior atenção a esse desinteresse das camadas
populares à escola. Sirota (1994) contribui nesse sentido, ao
expressar que a frágil participação de crianças de classes populares
na escola, não significa desinteresse ou desinvestimento, mas, uma
atitude reativa de defesa diante de uma situação contraditória.
Essa dificuldade não é vivenciada pelas crianças das classes
mais favorecidas, que, além de disponibilizarem recursos que
possibilitam às crianças terem contatos com outras formas de
conhecimento, não se limitando somente à escola, encontram
também nessa instituição conteúdos que lhes são familiares,
interferindo para que não sintam tantas dificuldades de
aprendizagem. Com isso, é necessário questionar até onde são as
crianças e os pais que não valorizam a escola ou a escola pública que
não conhece as especificidades das crianças que busca educar.
Charlot (1986) salienta que o funcionamento ideológico da
pedagogia assenta, de início, num processo que reduz as realidades
econômicas, sociais e políticas ligadas à educação, às aptidões e às
culturas individuais.
A crença de desvalorização da escola pública, por parte dos
indivíduos que a frequentam, significa dizer que, numa sociedade
que a cada dia mais valoriza o nível de escolaridade, se esses sujeitos
não obtiverem sucesso social e profissional, a responsabilidade é
somente sua. Essa crença encontra-se em sintonia com os
pressupostos capitalistas, que tem no individualismo e na
meritocracia a sua sustentação. Com essa convicção, cada um é
responsável por seu destino cultural, e, portanto, social. Essa
ideologia é extremamente perigosa e, sem muita consciência do seu
- 103 -
papel, os/as professores/as assumem um papel muito ativo de
transmissor dessa concepção.
É claro que as justificativas as quais recorrem, como a
deficiência cultural, diante do grau de escolaridade e a falta de
tempo, decorrente da carga excessiva de trabalho dos pais
influenciam no processo educativo das crianças, mas o
posicionamento dos professores, como explicita Penim (1990) é de
culpabilizá-los, não de explicar e de considerar o modo como à
sociedade se organiza como coresponsável por essa realidade.
Narodowski (1996) elaborando uma análise histórica da
posição que a Pedagogia moderna assume, declara que há não
somente o controle exaustivo da escola sobre o comportamento
infantil, mas também da família, que não cumpre os compromissos
exigidos na escola. É nesse sentido que ele esclarece, baseado em
Rousseau, que ao professor são delegados plenos poderes para
assumir esse papel educativo. Assim, ele concebe que a “[...]
Pedagogia define o mau aluno, mas também define o mau pai ou a
má família.” (NARODOWSKI, 1996, p. 115).
- 110 -
respeito pela autonomia do educando, o comprometimento etc.
Entendemos, ao analisar esses saberes, que um trabalho pedagógico
em que estejam presentes esses aspectos não pode ser omisso, nem
se basear na ironia e na discriminação aos alunos, mas sim no
respeito a sua autonomia e dignidade de forma a constituir uma
prática coerente, entendida como a aproximação entre o que digo e
o que faço, entre o que pareço ser e o que realmente estou sendo.
Desta maneira, consideramos a escola como espaço de relações entre
pessoas, objetos e símbolos, espaço intersubjetivo, lugar de
encontros e de reencontros, de elaboração e reelaboração do saber,
de aprendizagem, descobertas, de relacionamentos humanos
profundos, integrais e duradouros, que deve buscar trabalhar
atividades que envolvam os educandos em toda a sua potencialidade,
em sua riqueza de experiências, que propiciem o enriquecimento
mútuo e o desenvolvimento, entre professores e alunos e entre
colegas. É preciso, ainda, a presença da seriedade sem a sisudez, do
rigor sem a rigidez. Entendemos que é por meio de uma relação
saudável que a escola conseguirá trabalhar satisfatoriamente com o
conhecimento, a cultura, o questionamento e a investigação
científica junto aos alunos.
Diante da crença de que as crianças são violentas, a posição
que as professoras assumem para reprimir esse seu caráter
“violento” em sala de aula é limitando a sua liberdade e a sua
capacidade de expressão. Com isso, opta-se por atividades em que o
aluno assuma uma atitude mais passiva, inclusive quando utilizadas
algumas atividades consideradas lúdicas.
Do mesmo modo, Cândida, ao escrever a (auto)biografia,
menciona os conflitos que ocorrem com seus alunos, e qual a sua
posição na utilização das atividades lúdicas. Ela expõe seu receio em
- 111 -
trabalhar com tais atividades e afirma que prefere utilizá-las mais
com a turma da tarde, pois se comportam melhor do que os alunos
da manhã, adjetivando esses de problemáticos. É possível observar
como o comportamento das crianças e/ou a crença que as
professoras têm sobre seus educandos interfere na vivência das
atividades lúdicas.
É necessário mencionar que nem todas as atitudes
consideradas violentas por algumas professoras realmente são, em
especial quando as crianças estão brincando. Muitas vezes, os gritos
ou alguns contatos físicos são demonstrações de alegria e de
entusiasmo. Além do mais, argumenta Arroyo (2004, p. 41) “Nem
todas as condutas dos alunos são indisciplinas, apenas não
coincidem com o esperado”, podendo ser, ainda, a expressão da sua
insatisfação e rebeldia diante de atitudes que a escola assume.
A última crença que descreveremos nesse capítulo diz
respeito ao desejo de brincar das crianças. Diante da dificuldade das
professoras, especialmente de Teresinha e Margarida, em se
relacionar com a necessidade e a importância do brincar para as
crianças, elas nem sempre veem com bons olhos esse desejo e
afirmam: Elas só gostam de brincar! Com essa crença, as
professoras creem que o interesse das crianças por atividades em que
elas assumem um papel mais ativo e as próprias atividades lúdicas
atrapalham o processo pedagógico e, assim, consideram como algo
negativo, especialmente, porque essa crença está associada a outras
que entendem que as atividades lúdicas geram bagunça e que os
alunos precisam ficar quietos, pois é assim que sabem realizar o
trabalho pedagógico.
Julgamos que esse interesse das crianças pelas atividades
lúdicas, a elas incomoda por mexerem com suas crenças sobre o
- 112 -
ensino e mostrarem a necessidade delas assumirem outra atitude
diante da práxis pedagógica, a qual não possuem uma preparação
adequada para trabalhar.
Sobre a dificuldade das professoras em lidar com esse
encantamento das crianças pelas atividades mais dinâmicas,
especialmente com as atividades lúdicas, Olivier (2003, p. 19)
assinala que “[...] A especificidade da infância, que é justamente a
possibilidade de vivenciar o lúdico, é ignorada em prol da disciplina,
do esforço, da aquisição de responsabilidades e de outras funções.”
Esse problema, no entanto, se agrava, ainda mais, porque
existe, nesses profissionais, a convicção de os alunos têm que
ficar quietos. Essa crença é tão presente que foi manifesta por
todas as professoras, com exceção de Mariazinha.
Esse desejo da passividade das crianças se manifesta em
todos os momentos, inclusive frente à vivência lúdica na escola.
Consideramos interessante trazer nessa seção uma fala da Professora
Margarida, onde esta convicção aparece com muita clareza:
- 118 -
Outro aspecto que demonstra como o número excessivo de
crianças ocasionava tumulto em relação à vivência das atividades
lúdicas pode ser observado não somente em relação ao trabalho em
sala de aula, mas em toda a escola, é o fato de separar o recreio das
crianças por séries, de forma a não estarem disponíveis, no mesmo
momento.
A preocupação com a obediência às regras é tão forte que a
Professora Teresinha afirma que “só brinca na sala de aula”.
Julgamos que o conteúdo dessa fala nos remete à compreensão de
que a sala consegue impor limites mais contundentes a mobilidade
das crianças. Dessa forma, percebemos, nessa crença, outra que
compreende a sala de aula como um espaço fechado, onde o
professor, como autoridade, é o responsável pelos limites e as
normas. Essa crença é abalada quando os alunos buscam romper ou
diminuir esse controle.
Mesmo considerando as atividades lúdicas e a ludicidade
como instigadoras da indisciplina das crianças, as professoras
Mariazinha e Teresinha também aludiram ao fato de as crianças
participarem e se expressarem mais espontaneamente por meio dos
jogos e brincadeiras como algo positivo.
Observe-se que tanto a espontaneidade das crianças quanto o
autoexpressão, ressaltadas por Mariazinha em relação às atividades
lúdicas, são contribuições para a formação da criança que não podem
ser negligenciadas no processo educativo. Moyles (2002, p. 12-13)
também expressa essa compreensão, quando exprime:
- 119 -
adultos perceptivos e competentes aprendam
sobre as crianças e suas necessidades. No
contexto escolar, isso significa professores
capazes de compreender onde as crianças
“estão” em sua aprendizagem e
desenvolvimento geral, o que, por sua vez, dá
aos educadores o ponto de partida para
promover novas aprendizagens nos domínios
cognitivo e afetivo.
- 127 -
se caracteriza como ser ativo, curioso, questionador e que elabora
seu conhecimento. Para tanto, é necessário compreender as
especificidades da infância, seu desenvolvimento, interesses,
necessidades; respeitar e incentivar a autonomia da criança etc.
- 128 -
5. TRABALHO DOCENTE E VIVÊNCIA LÚDICA NA
ESCOLA: QUAIS CRENÇAS PERMEIAM O QUE
FAZER PEDAGÓGICO DAS PROFESSORAS?
- 129 -
leituras e cursos que as professoras vêm fazendo para que possamos
compreender a formação teórica em relação ao seu trabalho
profissional, incluindo as bases de formação sobre ludicidade e
atividades lúdicas. Antes, porém, de iniciar a apresentação das
crenças, discutiremos a especificidade do trabalho desse professor,
a partir de alguns teóricos que fazem essa discussão.
A uma visão menos atenta, parece desnecessário discutir a
especificidade do trabalho do/da professor/a, haja vista não ser uma
profissão recente, mas que surgiu há milhares de anos com um papel
bem definido: ensinar os conteúdos historicamente constituídos e
selecionar os mais capazes. Mesmo tendo clareza de que essa visão
ainda se encontra presente na práxis pedagógica de muitos/as
professores/as, o que buscamos, nessa discussão, é tentar demonstrar
que é possível dar novos contornos a essa atividade, de forma a
englobar outras dimensões também importantes para a formação
humana, pois o contexto em que eles/elas atuam tem se modificado
constantemente, apresentando novos desafios sociais, culturais,
humanos e pedagógicos.
A ideia de escrever sobre a especificidade do trabalho do/da
professor/a surgiu no momento em que percebemos que, para
discutir as crenças dos/das professores/das sobre ludicidade e
atividades lúdicas, tornava-se importante argumentar, também,
sobre a interação do trabalho desenvolvido pelo/a professor/a com
os elementos lúdicos. Observamos, em alguns momentos, quando
nos predispúnhamos a apresentar e discutir esse tema de estudo em
palestras e comunicações, que algumas pessoas, em especial os/as
próprios/as professores/as, consideravam que o trabalho pela via da
ludicidade não cabia ao/à professor/a das séries iniciais do Ensino
Fundamental, pois eles/as já se encontram sobrecarregados de
- 130 -
tarefas, já que são responsáveis, na maioria das escolas públicas, por
trabalhar com todas as disciplinas durante todo o tempo em que as
crianças ficam na escola. Diante dessa sobrecarga de tarefas, o
trabalho com as atividades lúdicas, na visão dessas pessoas, caberia
a um profissional específico que desenvolvesse com as crianças
atividades recreativas.
O primeiro ponto que é necessário argumentar para discorrer
sobre essa temática refere-se ao fato de que educação escolar, papel
do/da professor/a e dos alunos e função da escola, não tem o conceito
imutável, mas sim, histórico, que se encontra correlacionado com a
realidade temporal e espacial dos sujeitos envolvidos. Dessa forma,
é possível falar na relação entre o trabalho do professor e a
ludicidade graças às novas demandas globais para a formação do
sujeito humano.
O segundo argumento, intrinsecamente ligado ao primeiro,
diz respeito ao fato de que conceber a ludicidade e as atividades
lúdicas na escola e o/a professor/a como um agente responsável pela
sua viabilização só é possível se a práxis do/da professor/a não
estiver alicerçada numa pedagogia liberal, seja ela tradicional,
escolanovista ou tecnicista. Sobre isso, Wajskop (2001, p. 15)
assinala que “existem várias tendências pedagógicas que
interpretam as atividades infantis das mais diferentes maneiras, fato
que resulta em propostas de trabalho também diversas.”. Assim, se
a posição do professor for calcada numa pedagogia conservadora, o
trabalho realizado junto às crianças se restringe à transmissão do
saber escolar de forma acrítica, desconectada da realidade. Com essa
atitude de transmissor das normas instituicionais, o professor
prende-se às tarefas de ordem técnica, realizando um trabalho em
que o conhecimento se torna sem vida. Dessa forma, a escola é vista
- 131 -
como o local exclusivo de transmissão dos conteúdos e o tempo
educativo ficam submetidos ao caráter utilitário, excluindo qualquer
proposta que não se encaixe nesses moldes.
A discussão sobre a especificidade do trabalho do professor
e a sua formação não quer dizer que todos pensam e agem da mesma
forma, pois não é possível negar os aspectos subjetivos, pois cada
um tem o seu jeito de organizar o trabalho pedagógico. Essa forma
única é fruto da bagagem que cada um traz consigo. Uma bagagem
composta por experiências anteriores, conhecimentos, expectativas,
crenças, valores, hábitos, sentimentos, mecanismos de defesa etc. É
mediante essa nossa história prévia que olhamos para o que está à
nossa volta; é a partir dela que os fatos adquirem sentido para cada
um de nós.
A primeira e mais robusta crença de que o/a professor
fundamenta-se numa pedagogia tradicional e está relacionada à
convicção que entende como a principal função docente a
transmissão de conteúdos, esse considerado supremo no processo
formativo escolar. Nesse sentido, a crença a gente transmite
conteúdos demonstra o caráter reducionista do papel formativo
do professor e interfere na vivência da ludicidade e das atividades
lúdicas na escola, pois, como discutiremos nessa seção, reduz a
importância das atividades lúdicas a essa função: transmitir, reforçar
ou avaliar conteúdos.
Nesse sentido, a Professora Margarida nos declarou que o
critério que utiliza para avaliar o trabalho pedagógico que executa é
como o professor comunica o conteúdo e, nesse sentido, considera
seu trabalho positivo, pois, conforme nos afirmou, ela transmite
“direitinho” o conteúdo.
- 132 -
Um profissional competente é mais do que um técnico ou um
transmissor de conteúdo, especialmente porque a transmissão não
garante a aprendizagem. Arroyo (2000, p. 193) também confirma a
contribuição dessa crença para a imagem pobre que a sociedade tem
do magistério ao afirmar
- 133 -
formaram não equaciona tempos, espaços, atividades de cultura,
convívio e socialização?” (ARROYO, 2000, p. 131)
Assim, consideramos ser interessante destacar, nesse
momento, como alguns/algumas professores/as ainda se encontram
presos/as a algumas crenças que, muitas vezes, não contribuem,
adequadamente para a aprendizagem das crianças. Cândida, ao
relatar como trabalha com as disciplinas Geografia e História declara
que, inicialmente, solicita aos alunos que leiam silenciosamente o
texto do livro, o assunto que ela pretende trabalhar. Ela pede para
que eles leiam em voz alta, um a um, depois ela mesma lê o texto
“para que eles vejam como é a leitura fluente” e, finalmente, discute
o assunto.
O que compreendemos ser interessante nesse relato é que a
professora pensa que eles não gostam e, ao ser questionada se os
alunos aprendem com essa estratégia, ela relata que precisa chamar
atenção deles o tempo todo, pois poucos participam.
Mesmo constatando que, além de não ser uma tarefa
interessante para as crianças e que elas também não aprendem, essa
é uma estratégia reincidente na sua prática pedagógica. Contudo,
Cândida justifica esse desinteresse declarando que é por não
entenderem a importância do que está sendo feito. No entanto, em
seu depoimento, demonstra compreender que os alunos se
interessam por revistas por ser um material diferente, sem com isso
dar-se conta da importância do seu papel para intervir na motivação
e aprendizagem dos estudantes.
Algo que consideramos bastante importante nesse
depoimento para a análise é a crença de que os alunos, não
conseguem discernir o que é importante para eles e, então, cabe a
ela, como professora, escolher o que é realmente relevante e, até
- 134 -
mesmo, continuar utilizando uma estratégia quando os alunos não a
valorizam. Dessa forma, o seu trabalho se organiza por meio do
sacrifício dos educandos e na organização artificial do processo
educativo. Com tal atitude, o conhecimento é regido pela obediência
às regras e não como uma forma de melhor compreender e viver o
seu cotidiano. A compreensão da especificidade do trabalho do
professor, nessa etapa, não é enfocada por muitos autores, nem se
encontra tão clara nos documentos oficiais, tais como o Referencial
para Formação de Professores – RFP (BRASIL, 1999), ou nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997). O que é
possível detectar no RFP como tendência no sentido de formação de
professores é a necessidade de “[...] redimensionar o papel
profissional do professor no contexto das tarefas atualmente
colocadas pela realidade à educação escolar” (BRASIL, 1999, p. 49)
acrescentando a denúncia de que “[...] a transmissão de informação
é o centro do processo de ensino e aprendizagem, como se ensino
pudesse ser confundido com transmissão e aprendizagem com
assimilação passiva de informações” (idem). Ao expressar essa
crítica, o referido documento sinaliza a necessidade de se repensar a
função do professor nessa etapa educativa, mas continua a deixar
uma lacuna, no sentido de oferecer maiores elementos, para que eles
possam saber por onde transformar o trabalho que realizam. .
É importante mencionar que a Professora Cândida possui
dois cursos de graduação, Pedagogia e Letras, e que a embasaram,
ou deveriam ter embasado, sobre o processo de aprendizagem.
Contudo, sua formação, como a da grande maioria dos professores
da Educação Básica, consiste em torná-los “ensinantes”, como
denuncia Arroyo (2000).
- 135 -
Essa concepção desconsidera a aprendizagem, tornando-se
um processo mecânico, impessoal e exterior aos sujeitos envolvidos.
Diante dessa crença relativa à função docente, atrelada à transmissão
de conteúdo, é possível afirmar que para as professoras, existe uma
crença secundária relativa aos conteúdos, a qual considera que os
conteúdos são supremos.
O conteúdo na escola é tão soberano que o seu domínio é a
preocupação de muitos professores e serve, muitas vezes, como
escudo onde muitos se escondem diante de algumas ameaças.
Constatamos esse fato quando Teresinha, buscando justificar por
que deixou os alunos sem recreio, ela relata que ela “tem conteúdo”,
que planejou suas aulas e que, portanto, cabe a eles a obedecerem.
Deste modo, ela concebe que só justifica os alunos bagunçarem
quando o/a professor/a não domina o conteúdo ou não organizou sua
aula “direitinho”. Portanto, se ela fez isso, a “culpa” é das crianças
que realmente não se interessam e, assim, não se reflete a forma
como foi escolhido e trabalhado esse conteúdo.
Essa supervalorização dos conteúdos, na nossa compreensão,
resulta também das cobranças administrativas, dos pais e da
sociedade, que avaliam o “bom professor” principalmente a partir da
quantidade dos conteúdos trabalhados. Pode-se constatar esse fato
quando Mariazinha expõe que valoriza muito o conteúdo, pois
preocupa-se com os julgamentos das pessoas, alheias ao processo
pedagógico, afirmando que ela está “brincando”, ou seja, não
fazendo coisa séria, como ela mesmo diz.
A cobrança de que fala Mariazinha também vem por parte
dos pais. Sirota (1994), nos esclarece que as classes populares
assumem posição contraditória em relação a essa etapa do ensino.
Ao mesmo tempo, consideram esse o momento e o lugar específico
- 136 -
das aprendizagens fundamentais (aprender a ler, a escrever, aprender
a ortografia e o cálculo) e também as rejeitam porque essas
aprendizagens tendem a anular outros objetivos, como, por exemplo,
a socialização. A referida autora, expressa que as séries iniciais
mesmo não sendo uma fase decisiva para obtenção do diploma,
influencia para sua obtenção, pois configura-se como uma “[...]
caderneta de poupança aberta desde o início da escolaridade”
(SIROTA, 1994, p. 128)
Observamos durante o período da pesquisa o desejo de
Mariazinha em possibilitar a presença da ludicidade e das atividades
lúdicas na sua práxis pedagógica, ao mesmo tempo em que existe
um entrave que, em muitos momentos, a impede de vivenciar. Essa
limitação encontra alicerce também no conhecimento de que a
prioridade do ensino fundamental é ensinar às crianças os
conhecimentos básicos, o que requer, como afirma a supracitada
professora, ser mais objetiva e centrada para o aluno aprender a ler
e escrever. Com isso, confirmamos a ideia de que, ao estar presente
a crença de que a prioridade das séries iniciais é o domínio das
aprendizagens básicas (leitura, escrita e operações fundamentais), os
professores consideram que não cabe nessa etapa de ensino a
presença das atividades lúdicas.
É também importante destacar o trecho em que ela se refere
ao caráter “sério” reportando-se ao seu trabalho com a leitura e a
escrita. A nossa sociedade acostumou-se a relacionar o jogo, a
brincadeira, o riso, o prazer, a emoção, às coisas não-sérias e,
portanto, qualquer trabalho que caminhe nessa direção não pode ser
considerado aconselhado, no entanto, sabemos que sério não é
sinônimo de sisudo, pois, muitas vezes, uma práxis que incorpora a
alegria, o prazer, é muito mais séria, mais organizada do que as que
- 137 -
negam esses elementos. Miranda (2001, p. 51) contribui nesse
sentido, ao declarar que “[...] Na prática pedagógica, a atenção do
professor ao aspecto cognitivo é indispensável, mas não suficiente.
O prazer e a alegria não podem ser menosprezados. O intelecto,
simbolizado pelo cognitivo, deveria aliar-se efetivamente ao aspecto
afetivo.”
Outra resposta, que também merece uma análise cuidadosa,
é a de Cândida, quando esclarece que mesmo afirmando considerar
o aspecto lúdico no processo pedagógico, ela prioriza a aquisição da
leitura e da escrita, porque os consideram “fracos” nesse aspecto. É
relevante destacar que a professora destaca fazer, quase todos os
dias, ditado para intervir nessa aprendizagem que ela valoriza. Com
isso estamos afirmando que a ludicidade e as atividades lúdicas
podem contribuir na aquisição dessas aprendizagens e possibilitar
outras aprendizagens também relevantes.
Sem negar a importância da leitura e da escrita na formação
das crianças das camadas populares, que frequentam as séries
iniciais do Ensino fundamental, é necessário alargar essa
compreensão e, nesse sentido, Arroyo (2000) questiona o caráter
conteudista da educação e assinala que o medo de perder os
conteúdos é, para os/as professores/as, o receio de perder o sentido
do seu saber-fazer. Não se trata, porém, de desprezar ou secundarizar
os conteúdos, mas também de desenvolver aspectos como a estética,
a ética, a autoexpressão, todos importantes para a formação humana.
Esses são aspectos que foram negados ou secundarizados
historicamente no processo educativo. Sobre isso, o autor anota:
- 138 -
acréscimo do domínio da lecto-escrita, das
contas ou dos conteúdos de cada disciplina. Se
continuarmos com uma imagem de professor(a)
competente apenas nos conteúdos tradicionais,
pensando que o resto virá por acréscimo, esses
objetivos tão proclamados não acontecerão.
Trata-se de outro foco, o desenvolvimento pleno
do ser humano em suas múltiplas capacidades e
linguagens, a construção de identidades e
diversidades. (ARROYO, 2000, p. 98)
- 142 -
A escola é um espaço formativo de grande importância para
o/a professor/a, inclusive se tornando mais decisivo nas atitudes
assumidas por eles/as em salas de aulas do que nos cursos de
formação, como constatam Sadalla (1998), Rita Silva (2000), Tardif
(2002) e Perrenoud (2001,) dentre outros. Assim, as escolas onde
esses/as profissionais atuam e as suas salas de aula devem ser
entendidas como espaço de formação, para o qual convergem
reprodução e inovação. Como constatam Sarmento (1994) e Rita
Silva (2000), porém, é mais preponderante a reprodução, inclusive
com forte influência dos professores antigos sobre os iniciantes,
fazendo com que, aos poucos, os seus ideais e conhecimentos sobre
o ensino, aprendidos nos cursos de formação, sejam substituídos
pela rotina e pelo tradicionalismo. Esse “rito de passagem”, como
denomina Sarmento (1994), ocorre, principalmente, porque o jovem
professor é obrigado a enfrentar uma escola fechada, dominada pela
burocracia, hábitos, e é resistente às inovações pedagógicas.
Nesse momento acreditamos que as crenças dos professores
se tornam mais fortes, pois, ao perceberem que alguns
conhecimentos obtidos nos cursos de formação não resolvem os
problemas mais emergenciais, recorrem ao período em que eram
alunos/as, quando, na sua percepção, as coisas davam certo –
especialmente quando se trata das questões referentes a disciplina e
aprendizagem – ou eram mais fáceis para o educador. Esse “ritual
de passagem” não é um momento tranquilo na carreira do/a
professor/a e se caracteriza como desânimo, solidão e desencanto,
mas é preciso sobreviver e esse nesse sentido, que, muitas vezes,
acabam aprendendo com os professores mais antigos atitudes
tradicionalistas.
- 143 -
Outra crença apresentada e decorrente de inúmeras outras é
a crença de que a profissão de professor é muito exigente.
Alguns motivos que sedimentaram essa crença foram apontados
durante a pesquisa, em especial, durante a entrevista: o excesso de
energia que se gasta para cuidar das crianças; a pouca remuneração;
a característica de “monodocência” do/da professor/a das séries
iniciais, que exige que ele/ela tenha domínio das diferentes áreas e
seja somente ele/ela o responsável pela formação do aluno etc.
Apesar dessa exigência e de outras dificuldades enumeradas pelas
professoras, entretanto, elas também apresentaram aspectos
positivos referentes à profissão docente.
Em relação à exigência da profissão de professor, Codo &
Vasques-Menezes (1999) e, também, Tardif (2002) informam que
uma dificuldade encontrada para a realização do trabalho
pedagógico se refere ao fato de que, ao contrário de algumas outras
profissões, o produto do trabalho docente é produzido no mesmo
momento em que é “consumido” pelos alunos. Tardif, ainda
acrescenta, que muitas vezes, a durante a realização da aula,
acontece tudo diferente.
Em relação à monodocência, Mariazinha enfatiza que o/a
professor das séries iniciais é transdisciplinar, pois transita por uma
complexidade de áreas do conhecimento, o que necessita dele uma
abertura para relacionar os diversos tipos de conhecimento.
Compreendemos que não é somente pelo fato de ter que
trabalhar com diferentes áreas que sobrecarrega o/a professor das
séries iniciais, mas também a sua posição diante do seu fazer
pedagógico. Nesse sentido, Moyles (2002) expressa que:
- 144 -
Se o papel é visto como o de instrutor, os
professores precisam “instruir” ou ensinar
alguma coisa diretamente para todos, todos os
dias – uma tarefa muito difícil. Mas se o papel
do professor é o de iniciador e mediador da
aprendizagem, e o de provedor da estrutura
dentro da qual as crianças podem explorar,
brincar, planejar e assumir a responsabilidade,
esta abordagem certamente libera os professores
para passar mais tempo com as crianças. O
professor se torna um organizador efetivo da
situação de aprendizagem, na qual ele
reconhece, afirma e apoia as oportunidades para
a criança aprender à sua própria maneira em seu
próprio nível e a partir de suas experiências
passadas (conhecimentos prévios). (p. 101)
- 145 -
De outro lado, entendemos que os problemas apresentados
pelos/as professores/as poderiam ser atenuados caso esses/essas
profissionais optassem por discutir coletivamente as suas
dificuldades e interesses e assumissem uma posição menos
burocrática e rígida. Dessa forma, poderiam propor um trabalho
mais criativo e interessante para si e para os alunos.
É possível compreender a complexidade do trabalho docente,
pois ela é fruto das interações, das experiências vividas, dos
diferentes saberes adquiridos, do contexto sociocultural etc. A forma
como cada um sintetiza esses elementos faz com que sua práxis
pedagógica seja singular, tornando único o seu fazer pedagógico.
Sobre esse ponto, citamos Nóvoa (1995b, p. 41), que demonstra,
com muita beleza, essa singularidade:
- 146 -
Demonstrar que cada professor tem uma forma própria de
ensinar não é defender a ideia de que a prática do professor deve se
pautar nas suas escolhas intuitivas, mas, como anota o citado autor,
essa identidade é constituída, entre outros elementos, por meio dos
saberes práticos e teóricos a que ele tem acesso. É, ainda,
redimensionar a compreensão de formação do professor, deixando
de limitá-la às normas e técnicas, englobando as questões mais
intrínsecas. Estar atento a esses aspectos nos permite compreender a
divergência entre profissionais formados no mesmo curso, com as
mesmas teorias.
Desse modo, alguns autores vêm chamando atenção para a
inter-relação da pessoa com o profissional. Nesse sentido, citamos,
novamente, o Nóvoa (1991;1995a; 1995b, 2002), por ter sido o que
mais expandiu essa compreensão. Nóvoa (1995a) assinala que as
opções que cada um faz como professor é resultado da sua maneira
de ser e de ensinar. Dessa forma, a preocupação com o professor
como ser humano e a sua formação não é algo irrelevante, ao
contrário. A tarefa docente exige, entre outras questões,
flexibilidade, criatividade, compromisso e envolvimento, aspectos
que dependem muito da pessoa do professor e que podem ser
desenvolvidos mediante a ludicidade.
A importância do professor na educação escolar ocorre
porque é ele quem, apesar das pressões externas, organiza os
elementos necessários ao processo pedagógico, tais como o tempo,
o espaço e os recursos materiais. Dessa maneira, iniciamos o
processo de descrição e análise das crenças que as professoras
apresentaram sobre o “ser professor e sua função” Esclarecemos,
outrossim, que muitas dessas crenças não são exclusivas das
professoras pesquisadas nem foram geradas no ambiente escolar,
- 147 -
mas encontram-se presentes na sociedade há centenas de anos.
Conhecê-las, contudo, pode ser um caminho para melhor
compreender a escola e abrir caminhos de intervenção nas crenças.
Outro aspecto, muito destacado pela professora Mariazinha,
na escrita da sua (auto)biografia, ao responder às questões da
entrevista e, ainda, em alguns momentos em que conversávamos, é
o seu cansaço, a sensação de esvaziamento como professora. A
professora dá relevo ao desgaste em acompanhar as crianças durante
o recreio, mas também a toda atividade pedagógica que ela executa.
Assim, enfatiza a falta de energia e o seu sentimento de cansaço
diante do excessivo número de alunos. Nesse sentido, afirma a
quebra do seu encanto em trabalhar no magistério.
Batista e Codo (1999) também enumeram alguns aspectos
que causam a crise de identidade e sofrimento nos/nas
professores/as. Citamos alguns deles: a insegurança a respeito do
que deve saber e ensinar e de como deve ensinar; a sala de aula como
espaço de indisciplina, agressão, às vezes da violência, os problemas
enfrentados pelas famílias pobres e as exigências burocráticas,
dentre outros. Essas questões e tantas outras criam um abismo entre
o “trabalho como deve ser” e a “realidade do trabalho” nas escolas.
Quanto maior for esse hiato, afirmam-nos esses autores, “[...] maior
será o investimento afetivo e cognitivo exigido ao professor, maior
será o esforço realizado, e por isso, maior será seu sofrimento no
cotidiano do trabalho” (BATISTA, CODO, 1999, p. 85).
Quanto ao excesso de atribuições percebemos, Mariazinha
explica que o fato de cuidar demais e não ser cuidada é um dos
motivos que causa esse esvaziamento. Destaca o tempo dedicado ao
trabalho como relevante para sentir-se sobrecarregada. Expressa a
sua dedicação e o vínculo que une aos alunos, mas, também, a
- 148 -
importância de interagir com os colegas para não gerar um
sentimento de incompetência, por não ter certeza de como agir
diante das dificuldades que se apresentam.
Essa troca afetiva retroalimenta o trabalho das professoras e,
deve ser estabelecida, como demonstra Mariazinha, tanto na relação
entre educador-educando quanto na relação dos/das educadores/as
entre si. Ainda em relação ao desgaste do/da professor/a, Margarida
e Teresinha, demonstram esse sentimento frente à profissão ao
relatar reportagens que desvalorizam este profissional, bem como,
ao destacar o posicionamento do governo no que tange a questão
salarial. Expressa, ainda, as dificuldades no exercício do seu labor.
Esteve (1995, p. 105) anota que “Paralelamente à
desvalorização salarial produziu-se uma desvalorização social da
profissão docente”. E é inegável que essa desvalorização desanima
o/a professor/a a realizar adequadamente o seu trabalho.
A associação desses fatores, como a má remuneração e a
sobrecarga de trabalho, dentre tantos outros aspectos, interfere para
que surja esse sentimento de que a profissão docente é desgastante.
Ao mesmo tempo em que os recursos são escassos para participarem
de cursos de formação continuada, como informa Teresinha, elas
também sabem e são, de alguma forma, exigidas de estarem
atualizadas dos conhecimentos que estão sendo elaborados na área
educacional. Essas questões interferem para agravar o mal-estar
docente.
Diante da escassez de recursos financeiros, é possível
observar que as professoras, geralmente, participam de algum
evento, quando esse é financiado pelos órgãos em que trabalham.
Quanto as leituras também são muito escassas.
- 149 -
Detectar que as professoras não vêm se atualizando é algo
preocupante, pois a profissão docente é a que mais diretamente lida
com diferentes saberes e, assim, é necessário que os/as
professores/as se mantenham informados dessas inovações. Ao
mesmo tempo em que consideramos necessário maior empenho
nessa direção, percebemos também as dificuldades enfrentadas por
elas para que essa atualização aconteça, como, por exemplo, as
questões financeiras e temporais.
A necessidade de atualização também se faz necessária
porque a função da escola, e, do/da professor/a, se ampliaram e se
tornaram ainda mais complexas e difusas. Dessa forma, só
aumentam, ainda mais, a sensação de que a profissão de professor é
exigente. Pérez (2003, p. 108) enumera algumas exigências atuais
em relação à escola e ao professor:
- 158 -
Mesmo não querendo passar a imagem de onipotência, desse
profissional, frente às dificuldades que se apresentam em sala de
aula, também percebemos que, muitas vezes, eles se eximem de
tomar uma atitude que busque intervir na melhoria da qualidade do
trabalho que realizam e caem na inoperância.
Diante das dificuldades enumeradas pelas professoras, tais
como falta de material, número excessivo de alunos na sala,
dificuldades de aprendizagem, é possível dizer que muitos/as
professores/as assumem a atitude de “cruzar os braços”, acreditando
que nada pode ser feito por eles. A Professora Cândida relatou que
faz o que lhe é possível diante do perfil da turma e, deste modo,
sente-se confortável diante dos insucessos. Outro comentário da
referida professora, que merece ser analisado, é quando assinala que
não utiliza atividades lúdicas, porque “não tem muitos materiais
lúdicos”. Na verdade, essa crença de que necessita ter materiais
específicos para que as atividades lúdicas se encontrem presentes
imobiliza os professores e impede que as crianças possam vivenciar
os prazeres dessas atividades. Não há materiais que sejam lúdicos
em si, nem mesmos os brinquedos nem os jogos o são a priori, mas
é o caráter que damos a ele ou a outro material qualquer que os faz
ser lúdicos.
O sentimento que se apresenta para os/as professores/as, que
buscam intervir positivamente na melhoria das inúmeras
dificuldades encontradas para a realização do seu trabalho
pedagógico, é de incompetência. São tantos os problemas
enfrentados cotidianamente na escola, que a busca pela competência
é muito grande. É importante, porém, esclarecer que tal competência
não se encontra, somente, nem no domínio das teorias das diversas
áreas que embasam as discussões pedagógicas, tampouco somente
- 159 -
conhecendo a realidade concreta da escola em que atua. A
competência do professor não pode ser vista univocamente, e
precede também da discussão coletiva dos problemas enfrentados,
ou seja, é uma dificuldade muito grande dos grupos de
professores/as resultante do individualismo da sociedade capitalista.
Do mesmo modo, observamos na Professora Teresinha esse
sentimento de incapacidade, mas somente em relação ao seu
trabalho na escola pública. As inúmeras comparações que ela faz em
relação à estrutura da escola privada em detrimento da estrutura da
escola pública demonstra que na escola pública, pouca coisa é
possível. É interessante notar que isso é tão forte na referida
Professora, que, mesmo quando algumas questões dependem do seu
empenho, ela menciona o seu sentimento de que muito pouco pode
ser feito. Percebemos, ainda, na fala dela, que a aprendizagem dos
seus educandos da escola particular e o reconhecimento da
administração da escola, que ela diz ser muito presente, é motivo
para que ela não se mobilize ou, ao menos, não se incomode com
seu comportamento como professora da escola pública.
Compreende-se que a elaboração de uma proposta
educacional realista, que se oponha à crença da impossibilidade do
trabalho pedagógico, não pode negar a complexidade do trabalho
educativo que se faz na escola, inclusive, sabe-se que muitas das
dificuldades que refletem na escola são originadas não nesse espaço,
mas das relações desumanas que ocorrem na sociedade. Dessa
forma, não devemos conceber o professor como herói, mas também
não como impotente, o que não cabe nada fazer para a melhoria de
vida das crianças das camadas populares. A esse respeito Nóvoa
(1995) se expressa com bastante propriedade, quando diz:
- 160 -
O amanhã da profissão docente - um amanhã
que organize o hoje - não está certamente numa
visão idílica do papel da escola e dos
professores, cuja ilusão não é mais possível nos
dias de hoje (lembre- se, no entanto, que
denunciar a ilusão não é renunciar a ter
esperança). Os professores não são certamente
os “salvadores do mundo”, mas também não são
“meros agentes” de uma ordem que os
ultrapassa. Só através de uma reelaboração
permanente de uma identidade profissional, os
professores poderão definir estratégias de acção
que não podem mudar tudo, mas que podem
mudar alguma coisa. E esta alguma coisa não é
coisa pouca. (p. 40)
- 161 -
alguns princípios para uma práxis em que se encontrem presentes a
ludicidade e o papel do professor em relação às atividades lúdicas.
- 163 -
dentre outros autores que também discutem a necessidade de uma
práxis pedagógica mais enriquecedora para educandos e educadores.
A escolha por articular pressupostos de diferentes autores no
conceito de práxis lúdica do professor, mesmo daqueles que não
discutem diretamente essa temática no trabalho docente, justifica-se
porque o conceito de ludicidade que embasa este trabalho traz
elementos que, conseguem concatenar as discussões de autores que
se preocupam com o estabelecimento de uma práxis transformadora.
Não partimos de uma visão da ludicidade como “varinha mágica”, a
qual seria a única responsável pela melhoria da qualidade da
educação escolar, mas acreditamos que, pelo seu caráter renovador,
pelo respeito aos sujeitos envolvidos e pela possibilidade de
desenvolver aspectos relevantes para a formação humana – tais
como a autonomia, a criatividade, a elaboração de aprendizagem
mais significativa – ela pode interferir positivamente no
redimensionamento da escola e da práxis pedagógica do professor.
Recorremos a Arroyo (2000, p. 148-149) para justificar essa
posição, quando ele declara:
- 182 -
6. A ESCOLA É UM ESPAÇO PARA A VIVÊNCIA
LÚDICA? RELACIONANDO AS CRENÇAS ÀS
TEORIAS SOBRE LUDICIDADE
- 183 -
É importante registrar o fato de que encontramos
basicamente cinco crenças sobre a ludicidade e sua relação com a
educação:
- 184 -
imprecisão reflete o pouco avanço dos estudos na área. No que se
refere ao lúdico e ludicidade, observamos que, ao buscar defini-lo,
inúmeros autores (KISCHIMOTO (1998; 1999; SANTOS, 1997A,
1997B 2000, 2001; E BENJAMIN, 1984) abordam muito mais suas
diferentes manifestações (jogos, brincadeiras, brinquedos, festas) do
que o termo propriamente dito, sendo que essas manifestações são
usadas por muitos autores indistintamente, como por exemplo,
Kischimoto (1998a), Marcelino (1995), Santos (1997), Benjamin
(1984).
Conceituar e caracterizar a ludicidade e as atividades lúdicas
não é trabalho fácil, pois requer um olhar atento e uma atitude
flexível, como explicam Brougère (1998), Kischimoto (1998),
Marcellino (1990) e Porto (2001). Sobre essa constatação, Brougère
(1998, p. 14) se posiciona da seguinte maneira: “Não podemos agir
como se dispuséssemos de um termo claro e transparente, de um
conceito construído. Estamos lidando com uma noção aberta,
polissêmica e, às vezes, ambígua.”. Outra observação relativa à
definição da ludicidade é a divergência entre os autores. Sobre isso
Porto (2001, p. 22-23) ensina que:
- 185 -
É importante adiantar que essa clareza em relação aos termos
também não foi percebida nas falas e atitudes das professoras.
Na tentativa de conceituação, Huizinga (2000) e Brougère
(1998) realizaram um minucioso trabalho sobre o conceito das
manifestações lúdicas, sendo que ambos enfatizam mais o jogo.
Huizinga conclui, acentuando que o jogo não é passível de definição
exata, optando por limitar-se a descrever suas principais
características. Essa escolha de Huizinga (2000) contribui
significativamente para a compreensão do jogo, sendo aceita e citada
por muitos estudiosos que o procederem. Já Brougère (1998) aborda
o uso do termo em diferentes línguas e sociedades.
Ainda nessa perspectiva de compreensão das atividades
lúdicas, há uma convergência quanto à noção de jogo entre autores
como Marcelino (1990), Huizinga (2000) e Brougère (1998), Santos
(1997). Eles entendem que a compreensão desta atividade só é
possível pela análise do seu uso no cotidiano, no componente da
cultura historicamente situada, fato este também abordado por Porto
(2001), ao evidenciar que a interpretação sobre o jogo pode variar
de acordo com o grupo social que o utiliza. Essa divergência
depende do lugar e da época em que esse elemento é definido, pois
os valores, os comportamentos são mutáveis e, portanto, num
determinado período e lugar, o jogo pode ser considerado relevante
e em outro não.
Já Brougère (1998) e Benjamin (1984) optam por distinguir
jogo e brincadeira. Brougère (1998) afirma que os brinquedos são
objetos destinados à criança como o jogo pode ser utilizado pelo
adulto, visão compartilhada por Miranda (2001). Assim, Brougère
(1998, p. 15) demarca:
- 186 -
O brinquedo supõe uma relação com a infância
e uma abertura, uma indeterminação quanto ao
uso, isto é, a ausência de relação direta com um
sistema de regras que organize sua utilização.
Por conseguinte, o brinquedo não é a
materialização do jogo, mas uma imagem que
evoca um aspecto da realidade e que o jogador
pode manipular conforme sua vontade. Os jogos
como material, ao contrário, implicam de
maneira explícita um uso lúdico que assume
frequentemente a forma de uma regra (jogos de
sociedade) ou de uma restrição interna ao
material (jogo de habilidade, jogo de
construção) que constituem uma estrutura
preexistente ao material.
- 187 -
uma regra, uma função, com um objetivo determinado e que pode se
efetivar como atividade física ou mental, utilizando materiais
concretos ou não.
Apesar da escolha por distinguir esses dois termos, jogo e
brinquedo, inclusive tendo a regra como elemento diferenciador do
jogo, é importante trazer a contribuição de Vygotsky (1991, p. 108),
psicólogo da corrente sociocultural, ao referir que não existe
brinquedo sem regras, declarando que: “A situação imaginária de
qualquer forma de brinquedo já contém regras de comportamento,
embora possa não ser um jogo com regras formais estabelecidas a
priori. [...] O que na vida real passa despercebido pela criança torna-
se uma regra de comportamento no brinquedo.” Esse
posicionamento é compartilhado por Kischimoto (1998, p. 10),
chamando atenção para o fato de serem as brincadeiras “condutas
estruturadas ou semiestruturadas, com regras (por mais simples,
complexas, cambiantes e espontâneas que sejam)”.
Mesmo sabendo que o termo brinquedo é muitas vezes
utilizado para designar tanto o objeto quanto a ação do brincar, nesse
trabalho essa diferenciação será feita para uma melhor compreensão.
O objeto será denominado brinquedo, distinguindo de brincar/
brincadeira que se refere ao ato, à ação realizada por um ou mais
indivíduos, no nosso caso a criança(s) e/ou o professor(a). Assim, o
brincar designa, ainda, o momento em que a criança, sozinha, com
seus pares ou com a presença de um adulto, com o uso de um
brinquedo específico ou com qualquer outro material, age, motora
ou imaginariamente.
A brincadeira, no entanto, é consensualmente concebida por
autores como Brougère (1997) e Miranda (2001), como atividade
preferencialmente infantil, caracterizada pela espontaneidade, ao
- 188 -
contrário do jogo, que também pode ser direcionado para o adulto,
no entanto, essa diferenciação não é apresentada por todos os
estudiosos que discutem a temática.
Assim, para efeito desse estudo as atividades lúdicas
expressa os jogos, às brincadeiras, às festas, são assim denominadas
por possibilitarem a manifestação do elemento lúdico, no entanto,
esclareço que a ludicidade não se apresenta somente nessas
atividades, pois ela pode encontrar-se presente em diferentes
momentos da vida humana, seja individual ou coletivamente, sem
esquecer, ainda, que não é o fato de propor uma atividade com jogos
ou brincadeiras, por exemplo, que “magicamente” a ludicidade com
suas características estarão presentes.
Entendemos por ludicidade, o fenômeno subjetivo que
possibilita ao indivíduo se sentir inteiro, sem divisão entre o
pensamento, a emoção e a ação. Essa plenitude é decorrente da
absorção, da entrega, da liberdade associada ao comprometimento
do indivíduo, do significado que possui para ele a atividade que está
se propondo a realizar. Assim, a ludicidade se caracteriza como uma
atitude das pessoas e não inerente a algo ou alguém. Também não
poderá ocorrer se mediante atitudes impositivas, rígidas, que negam
a espontaneidade, e o respeito às diferenças. Essa definição
encontra-se embasada nas discussões e estudos realizados pelos
membros do GEPEL, a partir do trabalho de Luckesi (2000; 2002).
O autor define a ludicidade a partir de um ponto de vista interno e
integral do sujeito. Essa plenitude poderá ser vivenciada com a
presença da espontaneidade, da flexibilidade e, nesse sentido,
proporciona prazer e significado para os seus participantes. Essa
compreensão pode ser esclarecida a partir de Luckesi (2000, p. 21),
quando assinala:
- 189 -
[...] Enquanto estamos participando
verdadeiramente de uma atividade lúdica, não
há lugar, na nossa experiência, para qualquer
outra coisa, além dessa própria atividade. Não
há divisão. Estamos inteiros, plenos, flexíveis,
alegres, saudáveis. Poderá ocorrer,
evidentemente, de estar no meio de uma
atividade lúdica e, ao mesmo tempo, estarmos
divididos com outra coisa, mas aí, com certeza,
não estaremos verdadeiramente participando
dessa atividade. Estaremos com o corpo aí
presente, mas com a mente em outro lugar e,
então, nossa atividade não será plena e, por isso
mesmo, não será lúdica.
- 190 -
Assim, ainda com o objetivo de deixar claro a utilização
destes dois conceitos nesse trabalho, citamos a compreensão de
Luckesi (2005), nas discussões realizadas no grupo de pesquisa,
quando esclarece o que seja uma aula que percorre o caminho da
ludicidade.
[...] Uma aula com características lúdicas não
precisa da utilização de jogos e brincadeiras,
embora, certamente, será bom tê-los também. O
que traz ludicidade para a sala de aula é muito mais
uma ‘atitude’ lúdica do educador e dos educandos.
Assumir essa atitude implica sensibilidade,
envolvimento, uma mudança interna e não apenas
externa, implica não somente uma mudança
cognitiva, mas principalmente uma mudança
afetiva. A ludicidade exige uma predisposição
interna, o que não se adquire apenas com a
aquisição de conceitos, embora estes sejam muito
importantes. Uma fundamentação teórica
consistente dá o suporte necessário ao professor
para o entendimento dos porquês de seu trabalho.
Trata-se de formar novas atitudes, daí a
necessidade de que os professores estejam
envolvidos com o processo de formação de seus
educandos. Isso não é tão simples, pois, implica
romper com um modelo, com um padrão já
instituído, já internalizado.
- 193 -
posição as crianças deveriam desenhar. Quando uma criança tentou
expressar algo que tinha imaginado a Professora, impacientemente,
mandou que ela ficasse em silêncio e ouvisse o que ela estava
falando para depois desenhar “igualzinho”. Em seguida, ofereceu
uma folha de ofício onde os estudantes deveriam desenhar. Como
isso, a professora caminhava pela sala e buscava uma lógica em
relação ao texto e o desenho que as crianças faziam. Algumas
crianças não se interessaram pela atividade e outras demonstraram
estar com medo de fazer o desenho. A Professora também enfatizou
que todos deveriam colocar o nome das coisas que tinham no
desenho.
A atitude de Teresinha, percebida em três momentos
diferentes – uma vez na leitura de um texto e duas vezes na
realização de um ditado – demonstra a sua crença sobre o papel
diretivo do professor, acerca do papel da escola em relação às
atividades mais artísticas e, ao mesmo tempo, sua impaciência em
relação ao interesse dos educandos. Essa impaciência, que pode
dificultar uma práxis lúdica, também foi por percebida, quando ela,
durante a correção dos exercícios no quadro, ao indagar às crianças
uma questão, não esperava as crianças apresentarem suas respostas,
certas ou não, mas, imediatamente, respondia e solicitava que todos
fizessem igualmente o que tinha ela escrito no quadro.
Uma atitude lúdica permite à professora desafiar as crianças
e, ao mesmo tempo, aceitar a diferença, o que não é fácil de ser
incorporado na nossa posição, pois a cultura escolar trabalha com a
homogeneização e, ao mesmo tempo, com a exigência de que sejam
cumpridos os conteúdos programados, fazendo com que muitos/as
professores/as pautem o seu trabalho nesses aspectos.
- 194 -
Esclarecida essa diferenciação entre ludicidade e atividades
lúdicas, enumeraremos algumas características apresentadas por
estudiosos das atividades lúdicas. Huzinga (2000), em sua obra
clássica sobre o jogo Homo Ludens, foi o primeiro a elaborar
algumas características peculiares aos jogos. Sendo elas:
- 195 -
caracterizar a ludicidade. Olivier (2003) também apresenta alguns
aspectos fundamentais do lúdico, que serão aqui mostrados.
Percebemos em todos esses trabalhos a estreita relação entre
os elementos exibidos. Diante dessa convergência, optamos por não
discutir os elementos postos pelos estudiosos, mas demonstrar
algumas características, correlacionando a outras semelhantes. Para
tanto, escolhemos os elementos sistematizados por Oliveira (2002,
p. 54), pois ele aprofunda aspectos significativos da ludicidade e não
se limita a uma atividade, especificamente. São essas as
características da ludicidade, segundo esse autor:
- 196 -
experiência lúdica. É nesse aspecto que ele afirma: “[...] Quando
estamos participando verdadeiramente de uma atividade lúdica, não
há lugar, na nossa experiência, para qualquer outra coisa além dessa
própria atividade. Não há divisão. Estamos inteiros, plenos,
flexíveis, alegres, saudáveis.” (LUCKESI, 2000, p. 24). Oliveira
(2002, p. 64), chama atenção, ainda, não ser necessário a “[...]
expressão externa de contentamento”.
Outro aspecto da inteireza está relacionado à valorização do
presente. Essa valorização, característica do lúdico, é também
trabalhada por Marcellino (1990), quando critica, na sociedade atual,
a impossibilidade de vivência do presente em nome da preparação
para o futuro. O prazer em vivenciar a ação lúdica pode não ser algo
duradouro, mas possibilita a quem experiencia, um estado de
plenitude, que não é possível ser descrito apenas do ponto de vista
da observação externa. A explicação de Falcão (2002, p. 92) é
significativa, quando afirma:
- 202 -
Sobre esse contato com o outro, a ludicidade é importante
porque é mediante o respeito mútuo, a entrega dos participantes, a
conquista de uma práxis mais criativa, envolvente e flexível, que se
desenvolve o vínculo afetivo entre educando e educador. Esse
vínculo é de grande importância não somente para a buscar
conhecimento, mas retroalimenta os participantes do processo
ensino-aprendizagem para que eles continuem a desafiar os
problemas que se apresentam no fazer-pedagógico. Isto foi
demonstrado pela Professora Mariazinha, durante a entrevista
quando afirma que cria vínculos com os estudantes a alimenta. Além
do vínculo, Mariazinha também valoriza o entusiasmo e a alegria
como aspectos importantes no processo ensino-aprendizagem.
Argumentamos que a ludicidade, para estar presente no
trabalho pedagógico, não significa a adoção de novas técnicas de
ensino, mas sim implica uma atitude diferente de muitos educadores
no sentido de compreender que tanto educando quanto educador são
sujeitos ativos, tornando suas aulas mais instigantes, desafiadoras e
participativas. Nesse mesmo sentido, também necessita que os
educandos estejam comprometidos no sentido de se entregarem a
esse processo de criação de sentidos, de ânimo e de esperança.
Em resumo, uma prática lúdica não ocorrerá com um
trabalho que se paute no autoritarismo; nem numa prática
pedagógica estática, mecânica e distanciada da realidade, que se
reduz a mera transmissão de conteúdo. Uma educação lúdica está
alicerçada na formação de um ser humano mais saudável e flexível
no convívio consigo e com os outros. Para tanto, valoriza a
criatividade, a afetividade, a cooperação, a capacidade imaginativa
dos sujeitos envolvidos, cultiva a sensibilidade e o
autoconhecimento.
- 203 -
6.2. A IMPORTÂNCIA DA LUDICIDADE E DAS
ATIVIDADES LÚDICAS PARA O DESENVOLVIMENTO
PSICOLÓGICO, CULTURAL E PEDAGÓGICO DA
CRIANÇA
- 211 -
O respeito pela cultura infantil e, portanto, pela criança em
sua peculiaridade, pode ser valorizado pela escola e, sendo as
atividades lúdicas a forma prioritária de assimilação da realidade
pela criança, ela deve ser valorizada e vivenciada nesse espaço
educativo.
Dessa forma, a escola estará valorizando as experiências
tradicionais, a imaginação, a emoção, tão negadas pela ciência
contemporânea. Esse respeito à totalidade da cultura e do ser
humano é uma forma de se fazer o conhecimento de maneira mais
enriquecedora, tornando possível a edificação intelectual pela via da
sensibilidade, da estética, da poesia.
A privação das atividades lúdicas durante a infância, é visto
por esse Marcellino (1990) como decorrente de objetivos
politicamente claros em relação à dominação, ao adestramento do
indivíduo desde a mais tenra idade, questionando:
[...] procurar eliminar o lúdico cada vez mais
cedo da vida das crianças não seria uma forma
de repressão eficiente que tenderia a tornar
desnecessária, ou pelo menos muito mais
amena, a repressão no adulto? Se a resposta for
afirmativa, a Escola, como um todo e,
particularmente as relações estabelecidas na sala
de aula, parece que vem tentando contribuir de
modo eficaz nessa tarefa. (Marcellino, 1990 p.
60)
- 214 -
ludicidade e das atividades lúdicas como algo importante e inerente
à infância.
Durante o período de observação, percebemos que a
Professora Cândida, ao propor algum jogo educativo, às vezes
participava com as crianças, mesmo que fosse para aproveitar o
momento para reforçar o conteúdo, tema do jogo.
A Professora Margarida também não demonstrou o prazer de
brincar com as crianças ao dizer que brinca só por uma necessidade
delas. O que nos pareceu instigante é que, ao mesmo tempo, que
afirma isso também diz que fica muito feliz quando, no curso que
ela faz de formação continuada, se utilizam jogos. Será que o papel
assumido por Margarida em cada uma das atividades (cursista e
professora) é o responsável pelo prazer ou desprazer? Se a resposta
a essa questão for positiva, não seria a preocupação com o ato
técnico, a sensação de ridículo ou de controlador, assumida por
alguns educadores, que torna essas atividades desinteressantes?
Mas, ainda, pode ser que o contato com seus pares é que influencia
para que ela valorize essas atividades. Sendo assim, é importante
avaliar a sua compreensão de criança e o porquê se tornar
insatisfatório, tedioso ou frustrante brincar com seus educandos.
Andrade (1994, p. 97 apud CERASARA, 1998, p. 135) destaca que
“[...] Se é difícil encontrar hoje adultos privilegiados nesta
convivência com o lúdico, mais difícil ainda imaginá-los entre os
educadores de comunidade de baixa renda”.
É importante que esse sentimento de prazer que a Professora
Margarida diz sentir, no curso de que participa, influencie também
no trabalho que realiza junto aos seus educandos. Acrescentamos,
porém, essa é uma questão que envolve outros aspectos, tais como a
relação afetiva que se estabelece com as dimensões profissionais.
- 215 -
Nesse sentido, Freire (1982, p. 84-85) nos diz: “[...] o educador não
pode cansar de viver a alegria do educando [...] no momento em que
ele já não se alegra, não se arrepia diante de uma alegria, da alegria
da descoberta, é que ele já está ameaçado de burocratizar a mente”.
Argumentamos que a ludicidade é importante em qualquer
idade e não somente “coisa de criança”. Observamos que, ao se
sentirem bem consigo mesma – por terem vivenciado momentos
prazerosos em casa, no final de semana – as professoras chegam
mais tranquilas e amáveis à sala de aula. Assim, torna-se necessário,
cotidianamente, buscarem possibilitar esses momentos de prazer, de
alegria, de inteireza em suas vidas e, também, transformar o seu
trabalho, a sua sala de aula, em momentos alegres, seja na relação
com os alunos, no trabalho com os conteúdos etc. Uma observação
interessante ocorreu quando percebemos que a forma como a
Professora Margarida tratava as crianças estava diretamente ligada
ao seu bem-estar, as suas vivências em casa, ao lazer nos finais de
semana, viagens etc. Esse sentimento influenciava as crianças e o
modo como se comportavam em sala de aula.
Mariazinha ao expressar como a participação de uma
palestra sobre a temática ludicidade fê-la perceber que, mesmo
sendo às vezes diferente o brincar da criança e do adulto, ambos
podem sentir prazer com atividades que tenham essas características.
- 219 -
De um lado, temos a concepção de escola
pública chamada “mercadoescola”, organizada
de acordo com os interesses do mercado. Nessa
perspectiva neoliberal, a desigualdade é vista
como um valor positivo e natural; a competição
é estimulada; o mérito individual premia os
melhores; a concorrência é salutar e
imprescindível para que todos possam
prosperar. Esse modelo de escola desloca os
ideais de solidariedade e de igualdade; aumenta
e consolida a exclusão daqueles que já são
socialmente marginalizados, por trabalhar com
um conhecimento padronizado sob a ótica e os
interesses dos grupos dominantes que não
atende as necessidades dos desiguais.
- 220 -
a disputa. A alegria de ter sido “a sensação no baleado”, em um
desses campeonatos, faz com que ela atribua um valor positivo à
competição e a premiação.
Também percebemos, todavia, que, apesar da professora
utilizar os jogos sempre com essa perspectiva, no intuito de
estimulá-los, também percebe o lado negativo dessa posição, pois,
os alunos que não se saem bem na atividade não são premiados e
ficam tristes. A professora utiliza a premiação como reforço e
assinala que sempre cumpre o que diz em relação à premiação. Ela
afirma que hoje, quando diz aos estudantes que fará algum jogo,
eles, em coro, perguntam logo qual é o prêmio. A professora avalia
isso como algo intrínseco ao desejo de jogar das crianças e não como
um condicionamento que ela mesma estimulou ao assumir essa
atitude com eles. A competição é, para a professora, um elemento
estimulador, inclusive ela diz que “Se não houver prêmio, eles vão
querer brincar”.
Por mais que pareça que, os jogos em si, são naturalmente
competitivos, no entanto, isso não é verdade. Antunes (2001, p. 12)
esclarece que “Não é sua natureza mas suas regras que mais
claramente definem se é o mesmo competitivo ou cooperativo”.
Ghiraldelli Júnior (2000, p. 77) também faz uma crítica à
competição na escola, afirmando que essa remete ao “darwinismo
social” a qual refere-se “[...] à simples luta pela sobrevivência entre
as diferentes espécies do reino animal, que termina, inevitavelmente,
com o extermínio dos mais fracos pelos mais fortes.”
Sabe-se que os jogos, para que favoreçam a convivência
sadia, o respeito mútuo e a lealdade, devem estar pautados na
cooperação entre seus membros e não na competição. É normal que
as crianças, no início de uma atividade, não se encontrem ainda tão
- 221 -
envolvidas, pois, como ainda se encontram buscando compreender
o jogo, mas, alcançado um certo nível de familiaridade, não é difícil
que elas estejam absorvidas, de forma a divertir-se, sem ser
necessário a presença da rivalidade e a premiação.
A valorização da competição, seja ela no processo de ensino-
aprendizagem seja nos jogos, é contrária à compreensão de
ludicidade aqui defendida, pois não contribui para a educação
humana nos seus aspectos formativos mais essenciais, tanto no trato
consigo mesmo quanto com os outros, pois nega a solidariedade, a
cooperação, a partilha, a interação, com o objetivo de destruir o
colega e, assim, os seus méritos serem valorizados.
Uma crença que sintetiza outras convicções em relação à
presença do elemento lúdico na escola é a que denominamos Às
atividades lúdicas e a ludicidade são secundárias no
trabalho pedagógico! A constatação dessa crença é resultante
de vários dados coletados durante a pesquisa. O primeiro que
citamos diz respeito ao fato de a maioria das professoras não se
empenharem em fazer um trabalho mais organizado onde estejam
presentes essas questões. O segundo diz respeito à postura de
Margarida, a qual compreende a presença das atividades lúdicas e
da ludicidade na escola como modismo. Essa compreensão se
justifica pela não-utilização, mas especialmente pela sua fala quando
diz que na época em que cursou o magistério “não tinhas essas
besteiras”.
Essa crença de Margarida se justifica pela falta de
conhecimento da importância dessas atividades e pela dificuldade
em abdicar de certas “verdades” sobre o processo pedagógico. A
resistência na incorporação de algumas inovações pedagógicas
justifica-se, porque no dizer de Nóvoa (1992, p. 17), há uma “[...]
- 222 -
dificuldade em abandonar certas práticas, nomeadamente quando
foram empregues com sucesso em momentos difíceis da sua vida
profissional”.
O autor acima referido diz que os professores são, ao mesmo
tempo, um grupo resistente à moda e sensível ao efeito da moda
diante da rapidez como algumas inovações são assimiladas ao
trabalho pedagógico. Ao incorporarem essas inovações, entretanto,
muitas delas são desvirtuadas do seu objetivo principal, tornando-se
inócuo e, assim, ocasionando resistência de outros profissionais da
mesma área.
A criação de um trabalho lúdico, porém, que se paute nos
pressupostos elencados no início desta seção, não significa
modismo, mas justifica-se diante das suas contribuições para a
formação humana. Assim, é necessário que os/as professores/as
tenham acesso aos conhecimentos sobre a ludicidade, pois somente
assim eles realmente entenderão a importância desses aspectos e os
incluirão com objetivos pedagógicos.
Quanto à desvalorização das atividades lúdicas e da
ludicidade isso só ocorre porque, de forma geral, as professoras
desconhecem as inúmeras contribuições para o processo
pedagógico, tais como: maior concentração, diminuindo o interesse
e a indisciplina; favorecem a atenção, porque tornam as aulas bem
mais atraentes; facilitam a memorização porque os conteúdos se
tornam mais significativos; favorecem a rapidez de raciocínio,
porque os jogos desafiam; estimulam as capacidades intelectuais,
porque as crianças se esforçam para superar os obstáculos que são
colocados, testando hipóteses, inclusive ajudando na elaboração de
conhecimentos e de outras formas de apreensão do conteúdo;
- 223 -
favorecem a expressão oral, pois as crianças se sentem mais livres
para se posicionarem.
Durante o período em que frequentamos a escola, somente
duas vezes presenciamos jogos e brincadeiras com a participação do
professor no pátio da escola, ambas, às vezes, era a Professora
Mariazinha a responsável pelas atividades. Vale ressaltar que não
somente os alunos desta professora queriam participar. Mesmo
estando sempre atenta e preocupada em relação à segurança das
crianças, a professora demonstrava estar feliz, inteira no que se
propunha a fazer. Ao mesmo tempo, não visualizamos, em nenhum
momento, a presença da indisciplina, da bagunça por parte das
crianças, haja vista que participar ou não das atividades era um ato
voluntário.
Outro aspecto que demonstra essa desvalorização das
atividades lúdicas na escola é a crença que as atividades lúdicas
servem para descansar. Essa crença foi expressa por
Mariazinha, Cândida e Teresinha. No caso de Margarida, talvez não
tenha sido observada, porque ela não utiliza essas atividades nem
com esse objetivo.
As três professoras que demonstraram essa crença relataram
que utilizam jogos e/ou brincadeiras mais nos dias em que os alunos,
e elas mesmas, estavam cansados. Na compreensão delas, esse dia é
a sexta-feira, por ser o último dia da semana com aula. Assim, eles
escolhem o que querem brincar desde a hora do recreio até o término
das aulas.
As atividades lúdicas como descanso podem ser mais bem
entendidas por meio da literatura sobre os jogos, como, por exemplo,
no trabalho de Brougère, (2000). Essa compreensão é tida como a
primeira das três inscrições do jogo no espaço educativo, feitas antes
- 224 -
da Revolução Romântica, que, como vimos ao analisar as crenças
das professoras, subsiste até hoje, por exemplo, nos momentos
denominados de recreio e intervalo. Denominada Teoria do
descanso, defendida por Aristóteles e Tomás de Aquino, o jogo é
visto como atividade que serve para descansar, relaxar e, assim,
restabelecer as energias consumidas nas atividades úteis. Dessa
forma, é desvalorizado ao compreender que a sua vivência deve ser
utilizada no momento escolar que não é consagrado à educação, mas
ao repouso para que as crianças possam retomar suas atividades
sérias. A posição de Charlot (1987, p. 30) sobre a utilização dos
jogos no trabalho escolar é bastante coerente, quando diz:
- 227 -
A dispersão que percebemos na turma quando se encontrava
jogando ocorria por conta dos alunos que não sabiam o conteúdo. A
dificuldade de aprendizagens dos educandos fica encoberta ao se
ministrar uma aula expositiva, o que não acontece ao utilizarmos as
atividades lúdicas, pois requer o conhecimento sobre o conteúdo,
para que o jogo possa se desenvolver e os participantes tenham êxito.
Com a discussão desses aspectos, não queremos assegurar
que todas crianças aprendem melhor brincando, mas há necessidade
do/da professor/a estar atento/a às questões mais amplas que
envolvem o processo ensino-aprendizagem e buscar diferentes
meios e recursos para que elas aprendam diferentes tipos de
conteúdos.
As respostas das professoras sobre o que as crianças mais
gostam de fazer na escola se referem às brincadeiras e outras
atividades em que eles assumem papéis mais ativos na formulação
das suas aprendizagens. Teresinha enfatizou a participação oral e
Cândida a pesquisa em revistas, a ação das crianças. Mariazinha
destaca que o fato de se posicionarem, do conteúdo ter relação com
o que eles vivenciam, ser algo que os mobilizam interferem no
processo de aprender.
Mesmo constatando esse interesse das crianças por
atividades mais ativas, porém até porque é essa uma das principais
características da infância, as professoras ainda se prendem muito a
estratégias em que as crianças assumem uma atitude mais passiva.
Adotar uma nova concepção de educação, na qual o ser
humano seja visto na sua inteireza, não é fácil, especialmente
porque, durante séculos, ela está distante do trabalho educativo; no
entanto, é também uma atitude necessária, em busca de um trabalho
- 228 -
que respeite as diferentes dimensões humanas. Sobre uma nova
compreensão da nossa função docente, Freire (1998, p. 136) leciona:
- 232 -
7 AMARRANDO OS FIOS: ALGUMAS POSSÍVEIS
CONCLUSÕES
- 239 -
ajudar melhor a compreensão e delimitação desse campo de estudo.
São elas:
- 244 -
REFERÊNCIAS
- 246 -
RJ: Vozes/ Brasília: Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Educação: Universidade de Brasília. Laboratório de Psicologia do
Trabalho, 1999.
FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não: Cartas a quem ousa ensinar.
São Paulo: Olho D’Água, 1993. p.10
- 247 -
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1998
- 248 -
KISCHIMOTO, Tizuko Morchida. O Jogo e a educação infantil. São
Paulo: Pioneira, 1998a (Biblioteca Pioneira de ciências sociais. Educação.
Série a pré-escola brasileira) KISCHIMOTO, Tizuko Morchida (Org.). O
Brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira, 1998b.
- 249 -
MACHADO, Marina M. O brinquedo sucata e a criança: a importância
do brincar. Atividades e materiais. 2 ed. São Paulo: Loyola, 1994.
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NARODOWSKI, Mariano. Infância e poder: conformação da Pedagogia
Moderna. Trad. Mustafá Yasbek. Bragança Paulista: Editora da
Universidade São Francisco, 2001 (Coleção Estudos CDAPH. Série
Historiografia).
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OLIVIER, Giovanina Gomes de Freitas. Lúdico e Escola: entre a
obrigação e o prazer. In: MARCELLINO, Nelson. (Org.) Lúdico,
educação e educação física. 2 ed. Ijuí: UNIJUÍ, 2003 (Coleção educação
física).
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RAMOS, Eugenio Mª de França. A Circunstância e a Imaginação: o
ensino de ciências, a experimentação e o lúdico. 1997. 390 f. Tese
(Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São
Paulo, São Paulo.
ROCHA, Maria Sílvia Pinto de Moura Librandi da. Não brinco mais: a
(des)construção do brincar no cotidiano educacional. Ijuí: UNIJUÍ, 2000,
(Coleção fronteiras da educação).
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SANTOS, Santa Marli Pires dos. (Org.). Brinquedoteca: a criança, o
adulto e o lúdico. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000
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VIGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. 2 ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1989.
- 255 -
SOBRE AS AUTORAS
Bernadete Porto
Possui graduação em Pedagogia pela
Universidade Estadual do Ceará (1989),
Mestrado em Educação pela
Universidade Federal de Pernambuco
(1993) e Doutorado em Educação pela
Universidade Federal do Ceará (2001).
É professora Associada I na
Universidade Federal do Ceará.
Vinculada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação, é membro do
Eixo Formação de Educadores, da Linha Educação Currículo e Ensino e
ministra disciplinas na área da Didática e da Ludicidade. Atualmente, é
Coordenadora de Inovação e desenvolvimento acadêmico (COIDEA) e
Vice- Diretora da Escola Integrada de Inovação e Desenvolvimento
Acadêmico (EIDEIA/UFC)
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