Filme Cidade de Deus

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 21

FILME CIDADE DE DEUS

Buscapé é um jovem pobre, negro e sensível, que cresce em um universo de


muita violência. Ele vive na Cidade de Deus, favela carioca conhecida por ser
um dos locais mais violentos do Rio. Amedrontado com a possibilidade de se
tornar um bandido, Buscapé é salvo de seu destino por causa de seu
talento como fotógrafo, o qual permite que siga carreira na profissão. É por
meio de seu olhar atrás da câmera que ele analisa o dia a dia da favela em que
vive, onde a violência aparenta ser infinita.

Cidade de Deus é um filme de ação brasileiro de 2002 produzido pela O2


Filmes, Globo Filmes e VideoFilmes e distribuído pela Lumière Brasil. É uma
adaptação roteirizada por Bráulio Mantovani a partir do livro de mesmo
nome escrito por Paulo Lins. Foi dirigido por Fernando Meirelles, codirigido
por Kátia Lund e estrelado por Alexandre Rodrigues, Leandro Firmino e Alice
Braga.
O filme retrata o crescimento do crime organizado na Cidade de Deus, uma
favela que começou a ser construída nos anos 1960 e tornou-se um dos
lugares mais perigosos do Rio de Janeiro no começo dos anos 1980. Para
contar a trajetória deste lugar, o filme narra a vida de diversos personagens e
eventos que se entrelaçam no decorrer da trama. Tudo pelo ponto de vista do
Buscapé, o protagonista-narrador que cresceu em um ambiente muito violento.
Porém, encontra subsídios para não ser fisgado pela vida do crime.
A adaptação cinematográfica iniciou-se no segundo semestre de 1997, um
pouco depois de Heitor Dhalia presentear Fernando Meirelles com o livro de
Paulo Lins. Dhalia sugeriu a adaptação a Meirelles que, tempos depois, acatou
a sugestão, comprou os direitos e chamou Bráulio Mantovani para escrever o
roteiro, que, por sua vez, foi concluído em tempo recorde, tendo seu
primeiro tratamento no início de 1998. Durante um longo período, Meirelles e a
equipe trabalharam com mais de 400 jovens e adultos em uma oficina de
atores feita exclusivamente para o filme. As filmagens duraram nove semanas,
entre junho e agosto de 2001.
Cidade de Deus é considerado um dos filmes brasileiros mais importantes de
todos os tempos, sendo enaltecido pela crítica especializada, que, em geral,
enfatizou suas qualidades artísticas e estéticas. O longa representa o marco
final no período de reflorescimento da produção cinematográfica brasileira,
conhecido como "cinema da retomada". Foi lançado no Brasil em 30 de agosto
de 2002, acumulando um público total de 3 307 746 espectadores. Mudou o
paradigma do cinema brasileiro ao ser o único até agora a receber quatro
indicações ao Oscar, nas categorias de melhor diretor, melhor roteiro
adaptado, melhor edição e melhor fotografia.[4]

Enredo
Na cena de abertura, galinhas são preparadas para o almoço quando uma
escapa e é perseguida por um grupo armado pelas ruas da favela Cidade de
Deus. A galinha para entre a gangue e um jovem chamado Buscapé, que
acredita que a gangue quer matá-lo. Buscapé, o narrador, começa a contar a
história de sua infância, e o filme volta ao final dos anos 1960.[5][6]

Nos anos 1960, a favela é um complexo habitacional recém-construído longe


do centro do Rio de Janeiro, com pouco acesso à eletricidade e água. Três
ladrões amadores conhecido como "Trio Ternura" — Cabeleira, Alicate e
Marreco — aterrorizam os negócios locais. Marreco é o irmão de Buscapé.
Como Robin Hood, eles dividem parte do dinheiro roubado com os habitantes
da favela chamada de Cidade de Deus e, em troca, são protegidos por eles.
Vários garotos acompanham e idolatram o trio, e, um deles, chamado de
Dadinho, os convence a roubar um motel. A gangue concorda, porém, decidem
por não matar ninguém e, achando que Dadinho é pequeno demais para
participar, deixam ele como vigia. Insatisfeito, Dadinho dá um tiro de
advertência no meio do roubo e procede para satisfazer seu desejo
assassinando todos ocupantes no motel. O massacre chama a atenção da
polícia, fazendo com que o Trio Ternura deixe a favela. Alicate se junta à igreja,
Cabeleira é morto pela polícia ao tentar escapar com sua namorada e Marreco
é morto por Dadinho depois de tentar roubar o dinheiro do menino e seu amigo
Bené, que estavam se escondendo após os crimes cometidos no motel.[6]

O tempo avança alguns anos. Buscapé se junta a um grupo de jovens que


gostam de fumar maconha. Ele desenvolve um interesse em fotografia ao tirar
fotos de seus amigos, especialmente de uma garota, Angélica. Ele tenta várias
vezes se aproximar dela; porém, todas elas são arruinadas por um grupo de
jovens arruaceiros conhecidos como Caixa Baixa. Dadinho muda seu nome
para Zé Pequeno e, junto com seu amigo de infância Bené, estabelece um
império do tráfico de drogas eliminando toda a sua competição, com a exceção
de um traficante chamado Cenoura.[6]

Uma relativa paz chega à Cidade de Deus com Zé Pequeno no comando, que
evita chamar a atenção da polícia abordando e matando um dos Caixa Baixa,
que estava cometendo crimes na área. Zé planeja matar seu concorrente,
Cenoura, porém é impedido por Bené, que é amigo de Cenoura. A certa altura,
junto com Angélica, ele decide deixar sua vida criminal para trás e se mudar
para uma fazenda, assim ele faz uma grande festa de despedida. Zé, não
conseguindo achar uma garota que quisesse dançar com ele, humilha um
homem chamado Mané Galinha. Mais tarde, Bené é morto por um antigo
traficante, Neguinho, que estava tentando matar Zé. Bené era o único homem
que impedia Zé Pequeno de atacar os negócios de Cenoura. Sua morte deixa
Zé em perigo e Cenoura com medo.[6]
Elenco

Douglas Silva, Alice Braga e Seu Jorge (da esquerda à direita) interpretam os
papéis principais, Zé Pequeno / Dadinho, Angelica e Mané Galinha,
respectivamente.

Matheus Nachtergaele, Darlan Cunha e Michel Gomes (da esquerda à direita)


interpretam os papéis principais, Sandro Cenoura, Filé com Fritas e Bené,
respectivamente.
Alexandre Rodrigues como Buscapé / Wilson Rodrigues:
É o principal narrador. Um menino calmo, honesto, que tem o sonho de se
tornar fotógrafo, e o único personagem que apesar da vivência com a grande
violência não consegue ser fisgado pelo mundo do crime e nem morto pela
guerra das facções da favela Cidade de Deus.[8][9]
Leandro Firmino / Douglas Silva como Zé Pequeno / Dadinho:
Um traficante de drogas sociopata que tem prazer sádico em matar seus rivais.
Quando seu único amigo, Bené é morto, ele sofre grande distúrbios de raiva se
tornando ainda mais sem limites. Dadinho é seu apelido quando criança —
personagem interpretado por Douglas Silva — ele mudou seu nome para Zé
Pequeno, em uma cerimônia de candomblé.[8][10]
Alice Braga como Angelica:
Uma velha amiga e interesse amoroso de Buscapé, e mais tarde a namorada
de Bené, que o motiva a abandonar a vida criminosa.
Phellipe Haagensen / Michel Gomes como Bené:
Amigo de infância de Zé Pequeno, que cresceu com ele no mundo do crime.
Ele é bastante amado por todos na Cidade de Deus por seu modo de tratar
cada morador. Interpretado por Michel Gomes quando criança.[8]
Jonathan Haagensen como Cabeleira:
O irmão mais velho de Bené e líder do Trio Ternura, um grupo de ladrões que
partilham os seus lucros com a população da Cidade de Deus.
Matheus Nachtergaele como Sandro Cenoura:
Um traficante de drogas amigo de Bené, que detém um ponto de tráfico na
Cidade de Deus e rivaliza com Zé Pequeno. Cenoura é um personagem
decisivo no início da guerra pelo poder na favela nos anos 1980.[8]
Seu Jorge como Mané Galinha:
Um homem bonito e carismático. Zé Pequeno estupra sua namorada e
massacra vários membros da família de Mané Galinha. Galinha une forças com
Sandro Cenoura para vingar-se de Zé Pequeno.[11][12]
Renato de Souza como Marreco / Renato Rodrigues:
Um membro do Trio Ternura e irmão de Buscapé.
Roberta Rodrigues como Berenice:
Namorada de Cabeleira, que é irmão de Bené. Aparece na primeira fase do
filme.[8]
Daniel Zettel como Tiago:
Um viciado em drogas e namorado ruivo de Angélica. Mais tarde rompe o
namoro e se torna sócio de Zé Pequeno.[8]
Darlan Cunha como Filé com Fritas:
Um jovem que se junta à quadrilha de Zé.
Graziella Moretto como Marina Cintra:
Jornalista do Jornal do Brasil, que contrata Buscapé como fotógrafo.
Rubens Sabino como Neguinho:
Interpreta um traficante.[13]
Micael Borges como Personagem Caixa Baixa:
Criança que é pega roubando e mais tarde deve escolher se quer um tiro na
mão ou pé.
Babu Santana interpreta Grande:
Um dos primeiros chefes do tráfico da Cidade de Deus.
Mumuzinho como Palito
Gero Camilo como Paraíba.

Cena em que Zé Pequeno toma a boca de fumo de Neguinho, onde é


dita a frase "Meu nome agora é Zé Pequeno", considerada um marco e titulada
como uma das mais inesquecíveis do cinema.[7]
Após a morte de Bené, Zé Pequeno estupra a namorada de Mané Galinha e
mata seu tio e irmão. Galinha, procurando vingança, se alia a Cenoura. Depois
de matar um dos homens de Zé e ferir o próprio, uma guerra entre as duas
facções começa envolvendo toda a Cidade de Deus. Ambos os lados recrutam
mais e mais "soldados", com Zé fornecendo armas para os Caixa Baixa, com a
condição destes lutarem para ele. Com inveja da notoriedade de Galinha, Zé
Pequeno faz Buscapé tirar fotos dele e da sua gangue. Sem o conhecimento
de Buscapé, uma repórter decide publicar as fotos no jornal. Buscapé,
erroneamente achando que Zé Pequeno quer matá-lo, teme por sua vida. Na
verdade, Zé fica muito satisfeito com seu ganho de notoriedade.[6]
Voltando ao início de filme, confrontado pela gangue, Buscapé se surpreende
quando Zé manda que ele pegue a galinha que fugiu. Enquanto Buscapé se
prepara para capturar a ave, Mané Galinha e Cenoura aparecem e um tiroteio
começa entre as duas gangues e, mais tarde, a polícia intervém. Mané Galinha
é morto por Otto, um menino que havia se infiltrado na gangue para vingar a
morte de seu pai, morto por Galinha em um assalto a banco. Zé Pequeno e
Cenoura são presos. Zé é revistado e humilhado pelos policiais, porém é solto;
com tudo sendo fotografado por Buscapé. Depois da saída dos policiais, os
Caixa Baixa cercam Zé e o matam em vingança de seu amigo. Buscapé tira
fotos do corpo de Zé e as leva para o jornal.[5][6]

Produção
Desenvolvimento

Fernando Meirelles dirigiu Cidade de Deus em


conjunto de Kátia Lund.
Em 1997 estava sendo publicado o livro de Paulo Lins, no qual o longa Cidade
de Deus é baseado. O livro foi rapidamente aclamado pela critica
especializada, sendo considerado um dos primeiros romances contemporâneos
a narrar, com eloquência e qualidade literária, a vida dos moradores da favela
com um ponto de vista único.[14] Pouco tempo depois do lançamento nas
livrarias, Fernando Meirelles ganha de presente o livro de Heitor Dhalia — que
na época era redator de agência de publicidade e admirava Meirelles por seus
trabalhos no meio publicitário.[15] Dhalia sugeriu a adaptação cinematográfica
à Meirelles que de imediato recusa, considerando não ser apto ao projeto por
morar em São Paulo. "Sabia pouco sobre a organização da favela e sobre o
tráfico e jamais sairia de São Paulo para rodar um longa-metragem no Rio,
sobre um assunto tão distante da minha realidade", analisa abruptamente
Meirelles.[16]
As resenhas publicadas sobre o livro eram bastantes positivas — que
juntamente com Andrea Barata Ribeiro, sócia na produtora O2 Filmes —, foram
responsáveis por estimular Meirelles a mudar de pensamento e resolver ler o
romance. Meirelles relatou que ao chegar na página 100 foi obrigado a
concordar que havia um argumento interessante. Continuando a leitura,
começou a grifar ao acaso as passagens importantes. Quando chegou ao fim,
já havia anotado desenhos de cenários e os personagens principais.[16][17]
Depois das anotações, Fernando Meirelles entrou em contato com o autor,
Paulo Lins. De imediato, foi informado que outros cineastas e produtores já
tinham demonstrado interesse pela obra. Então Meirelles marcou um encontro
com Lins para relatar sua intenção de se desprender da carreira publicitária,
que abrangia muitos diretores brasileiros na época, se pudesse adaptar o livro
aos cinemas.[15] Sendo este um dos principais motivos julgados por Meirelles
que o fez conseguir os direitos de reprodução da obra. "Creio que foi minha
disposição sincera de mergulhar no projeto que falou mais alto" disse o diretor.
Depois da conversa, houve uma semana sem telefonemas, e então Paulo Lins
liga informando que lhe venderia os direitos.[16]
Eu acabava de ganhar um projeto que iria transformar minha vida e me fazer
descobrir o Rio de Janeiro e parte do Brasil. De quebra, ganhei um novo amigo.
— Fernando Meirelles[16]
Roteiro
Meirelles então tinha em suas mãos um livro com mais de 250 personagens e a
tarefa de encontrar uma forma cinematográfica para adaptar o material. Ele
descartou o caminho que julgava "fácil" que seria escolher apenas uma das
tramas do livro e desenvolvê-la. Para seguir o caminho do livro, não poderia
desenvolver uma história linear com início, meio e fim, devido os personagens
e as situações que se sucediam. Então, desde os primórdios do
desenvolvimento do roteiro, acreditava na ideia de somar várias histórias que,
justapostas, iriam fazer com que chegasse ao resultado pretendido. Foi levado
em consideração o começo nos anos 60 e a chegada aos anos 80. Segundo o
diretor, isto enfatizaria um aspecto de saga, mostrando o desenvolvimento do
tráfico no Rio de Janeiro.[16] Com esta premissa em sua mente, Meirelles
convida Bráulio Mantovani para escrever o roteiro. Mantovani nunca havia
trabalhado escrevendo projetos para o cinema. Na época era roteirista de uma
série da TV Cultura intitulada Oficinas Culturais que tinha Meirelles como
consultor de cinema e TV.[18] Em seu primeiro contato com o livro de Lins,
Mantovani teve uma reação negativa. "Achei que era muito difícil. Achei, na
verdade, que ele [Meirelles] tinha enlouquecido" relata o roteirista em uma
entrevista. Ao ler as primeiras 200 páginas do livro, Mantovani achou que
adaptação nos moldes estabelecidos por Syd Field em seus livros de conceito
roteirísticos seria impossível. Ele tinha chegado a conclusão que Meirelles tinha
escolhido mal. No entanto, se afirmou no projeto, após o diretor em reuniões
posteriores desenvolver melhor a linha criativa, cujo maior enfoque seria um
filme fragmentado, reiterando que o enredo conteria várias pequenas histórias.
[18]
Em 1998, Bráulio Mantovani conseguiu em tempo recorde concluir o
primeiro tratamento do roteiro.[18] Em 1999, o Sesc São Paulo realizou uma
edição do evento Laboratório de Novas Histórias com uma sessão de
apresentação de roteiros no Grande Hotel em Campos do Jordão.[19] O roteiro
de Mantovani foi um dos apresentados na oficina. Chegou a ser lido por vários
consultores internacionais, entre eles Fernando Solanas — cineasta argentino
de Tangos: El exilio de Gardel —, e Alexander Payne — que na época estava
lançado seu longa Election no Brasil.[16] Payne foi o que mais demonstrou
entusiasmo ao primeiro tratamento de Cidade de Deus, e manteve contato com
Mantovani mesmo depois do evento. Este primeiro tratamento ganhou um
prêmio internacional do Writers Guild of America Award — sindicato
estadunidense dos roteiristas.[20] Para receber o prêmio, Mantovani foi à Los
Angeles hospedando-se na casa de Payne,[16] que acompanhou o
desenvolvimento do roteiro se permitindo a dar sugestões que foram acatadas
por Mantovani ao tratamento final. Payne teve seu nome creditado como
colaborador de roteiro nos créditos finais de Cidade de Deus e compareceu à
estreia mundial, no Festival de Cannes.[21] Quando finalizado a primeira
versão, as tarefas seguintes foram resumidas no processo de enxugamento.
Quando chegou ao quarto tratamento, Fernando Meirelles relata que já tinha
um roteiro para ser filmado e foi dado o início a pré-produção. Durante um ano
foi feito uma série de tratamentos no roteiro, estes com colaboração de todos
os envolvidos da equipe.[22]
No livro, Buscapé é baseado em um amigo do autor, um personagem que
realmente existiu e que é branco. Ele não possui uma importância central na
trama desenvolvida por Paulo Lins. Em contrapartida, no momento da escrita
do roteiro, Buscapé foi sendo adaptado e tornou-se notável. Sua casa invadida
pela polícia, ele sendo coagido a tirar fotos dos traficantes e estas fotos
estampando a primeira página de um jornal de grande circulação foram
situações criadas pelo roteirista para sobrepor o personagem. Mantovani
comenta que "queria que ele fosse menos um observador e mais um
participante vulnerável entre os perigos e tentações que lhe cercavam". Estas
adaptações buscou inspiração no próprio Paulo Lins para estruturar Buscapé, e
consequentemente, tornando o personagem negro.[23] Foi filmado o décimo
segundo tratamento, porém, novas modificações aconteceram durante as
filmagens e percorrendo até o momento da pós-produção na ilha de edição.
"Esse roteiro contou com a contribuição milionária das improvisações dos
atores. Foram eles que 'escreveram' a versão final dos diálogos", comentou
Mantovani em uma entrevista concedida à Gazeta Digital em julho de 2003.
[22] Mantovani considera a adaptação fidelíssima ao livro, com algumas
ressalvas à mudanças estratégicas como a fundição de personagens, trocas de
elementos de lugar e criação de situações que não existiam. "Mas tudo isso
para, eu acho, estar mais próximo do livro" relata o roteirista que julga o livro
como poderoso e muito rico e que o filme nunca procurou ser poderoso quanto.
O roteirista reiterou que suas ambições para o filme foram modestas, sempre
procurando recuperar o ponto de vista exposto por Paulo Lins, que escreveu o
livro morando na própria Cidade de Deus, Rio de Janeiro.[18]
Escolha e o trabalho com os atores
Cidade de Deus exigiu a contratação de mais de 60 atores principais, 150
secundários e 2 600 figurantes, a maior parte sendo crianças e adolescentes.
Fernando Meirelles relata que dentre os filmes que mais impressionaram ele, a
maioria tinha relação com as especificidades de como é tratada a
interpretação. E isto foi uma das influencias para ele decidir trabalhar com
atores não-profissionais e montar uma oficina com jovens moradores das
comunidades humildes do Rio de Janeiro.[8] Outro ponto importante é que não
existia a possibilidade de abrir um teste de elenco em um espectro de 500
atores negros no fim dos anos 1990. Segundo o diretor, a representatividade
negra no cinema brasileiro era abalada devido o baixo número de atores
negros. E os que eram aptos aos papéis, não passava pelo filtro de Meirelles.
"Tinham no Brasil três ou quatro atores negros jovens e ao mesmo tempo eu
sentia que atores da classe média não conseguiriam fazer aquele filme. Eu
precisava de autenticidade", diz o diretor em entrevistas.[24] No fim, Meirelles
queria que o espectador se relacionasse diretamente com os personagens,
sem filtros estabelecidos devido os atores.[25] Para isso, a equipe do filme
encontrou duas vertentes que os ajudaria: Em primeira instância, Kátia
Lund que já trabalhara em projetos envolvendo favelas no Rio de Janeiro —
como Notícias de uma Guerra Particular e videoclipe do grupo Rappa A Minha
Alma. A segunda vertente foi refugiada por Guti Fraga, diretor e fundador do
Nós do Morro — associação que possui grupo de teatro na favela do Vidigal,
zona sul do Rio.[8][16]
Em julho de 2000, foi montado uma "escola de atores" no prédio cedido pelo
centro cultural Fundição Progresso, situado na Lapa.[26][27] De primeiro
momento, uma equipe se dividiu em duplas que percorriam comunidades —
como Rocinha, Cantagalo, Chapéu Mangueira, Dona Marta, Vidigal e a
própria Cidade de Deus — anunciando que haveria testes para os interessados
em participar de uma oficina de atores para o cinema. Numa data previamente
marcada voltavam com uma filmadora e entrevistavam centenas de candidatos
agendados.[28] Em quarenta dias, duas mil entrevistas foram filmadas, e
depois foi iniciado o processo de triagem com quatrocentos jovens até chegar
aos duzentos que foram selecionados para as aulas de atuação em uma oficina
batizada de "Nós do Morro" em homenagem à associação de Fraga.[8] Na
escola montada na Fundição, estes duzentos jovens foram divididos em oito
turmas, filtrando a idade e disponibilidade de horários. Todos recebiam lanches
e auxilio transporte para as aulas que aconteceram duas vezes por semana.
[8] As aulas eram tutoradas por Fraga, e Lund e Meirelles estavam presentes
auxiliando.[16] Foi descartado técnicas teatrais ou tradicionais de interpretação
durante as aulas e toda a abordagem de atuação foi baseada na improvisação.
Em nenhum momento os adolescentes selecionados para o projeto leu o
roteiro ou memorizou diálogos que seriam ditos durante as filmagens.[23] Havia
turmas e elas preparavam e apresentavam cenas. Logo depois, os alunos eram
convidados a comentar sobre o que apresentou. A partir destes testes, eram
feitas as avaliações por Meireles e Kátia Lund. Desde o início das aulas, eles já
começaram a vincular os alunos com qual papel seria eventualmente o mais
adequado. No fim deste processo, já estavam com os papéis principais
escolhidos.[27]
Em fevereiro de 2001, após a escolha do elenco principal, Fátima Toledo foi
contratada para preparar ponderadamente o elenco. Apesar de sua experiência
no ramo, Toledo enfrentou o trabalho como um grande desafio. Ela cita um dos
exemplos de dificuldade na preparação de Leandro Firmino da Hora na
interpretação de Zé Pequeno, que não conseguia encontrar o verdadeiro ódio
para o personagem.[29][30] Seu Jorge comentou o momento que foi anexado
ao projeto, onde Kátia e Meirelles estavam descrevendo Mané Galinha. Jorge
disse que chegou até mesmo a se identificar com seu personagem devido
conflitos em sua adolescência.[31] Matheus Nachtergaele foi o primeiro ator a
ser cotado sem sequer estar em pré-produção. Meirelles entrou em contato a
fim de anexá-lo ao projeto mesmo não sabendo qual personagem ele seria na
trama. Durante o desenvolvimento de Cidade de Deus, Nachtergaele fez O
Auto da Compadecida se tornando bastante conhecido em âmbito nacional.
Meirelles não queria atores consagrados em seu filme, e achava que seria
difícil formar a "química" com o elenco. Nachtergaele tomou isto como estimulo
e falou que "desapareceria no filme". "A não ser minha interpretação", disse
ele.[32]
Filmagens
Quando estavam se preparando para os estágios iniciais da filmagem principal,
Fernando Meirelles recebeu uma proposta de Guel Arraes — diretor de núcleo
da Rede Globo —, para dirigir um dos episódios da série Brava Gente. De
imediato, Meirelles recusa o convite, porém, depois de repensar, aceita com a
condição de que pudesse desenvolver na série uma história ligada a uma das
fragmentações de pequenas histórias que há no livro e o uso dos jovens de sua
oficina de atores. Arraes assentiu e Meirelles e Kátia Lund dirigiram juntos o
episódio que serviu como uma espécie de ensaio para Cidade de Deus.[33] Foi
filmado na própria comunidade Cidade de Deus e acabou se tornando
um curta-metragem apresentado e premiado em Berlim.[34][35] O curta Palace
II resultou em aprendizados que favoreceu a equipe como um laboratório de
testes para Cidade de Deus. Em primeira instancia, Meirelles concluiu que não
poderia filmar na própria Cidade de Deus. Na época, a comunidade estava em
grandes conflitos e dividia em três áreas, cada uma comandada por um
traficante diferente. "A gente percebeu que era uma coisa muito instável, nunca
estava falando com a pessoa certa" contou Meirelles à Revista Trip que acabou
em busca de outras locações.[36] Globo Filmes e Videofilmes se aproximaram
do projeto sendo anexadas como coprodutoras do filme.[37]
Cidade de Deus foi a primeira experiência cinematográfica de considerável
parte do elenco. César Charlone, o diretor de fotografia, arquitetou seu trabalho
levando em consideração a dificuldade das cenas com estes atores não-
profissionais. Apesar do processo de preparação de elenco, não foi imposto a
eles a assimilação das técnicas de set de filmagem, como marcações,
localizações a cada take e luzes. "Pensar em fazer ensaios e em marcar as
cenas era uma fantasia" considera o diretor de fotografia que se adaptou com
as marcações pensadas sendo modificadas a cada tomada. Charlone compara
sua experiência no filme com trabalhos realizados por ele nos anos 1980
quando centrava na produção de documentários, com câmera na mão,
tentando interferir o mínimo na realidade e veracidade filmada. As referências
que influenciaram nas decisões de fotografia do filme, veio pela paixão de
Charlone ao neo-realismo italiano e o cinema novo. Como todas outras áreas,
a fotografia de Cidade de Deus também seguiu o esquema de divisão do longa-
metragem em três fases. Na primeira, a cinematografia seguiu um padrão
acadêmico, com takes mais "certinhos" facilitado pelo uso de tripés e com,
"travelling" e "enquadrados". A segunda fase procurou seguir o que Fernando
Meirelles intitulou de "não-fotografia", "com câmera e luz mostrando sem
'enfeitos', sem se deter a exploração, como se Paulo Lins operasse a câmera
na mão" considera Charlone. Já na terceira, levou todo o mecanismo usado na
fase anterior ao ápice.[38]
Com um orçamento estimado em 8,2 milhões de reais — dos quais 15% vieram
das leis de incentivo e o restante sendo bancado pela própria produtora de
Meirelles, a O2 Filmes —,[39] Cidade de Deus foi rodado durante nove
semanas entre 19 de junho a 21 de agosto de 2001.[29] Muitos dos figurantes
e até mesmo jovens que tinham papéis importantes no longa não tinham
telefone em casa. A produção ficou encarregada de enviar telegramas a todos
os envolvidos informando o dia, horário e local de filmagem. Durante todas as
semanas, não houve nenhum ator que não compareceu no local agendado.
[39] A gravação se deu em três fases, a primeira parte do filme — a Cidade de
Deus nos anos 1960 — foi filmada no conjunto habitacional de Nova Sepetiba,
Rio de Janeiro. Embora o tráfico já tivesse chegado ao local, não tinha nenhum
traficante tomando conta do lugar, o que possibilitou filmar com facilidade.
[40] Na segunda fase da produção, ambientada nos anos 1970, foi também
realizada em um conjunto habitacional construído na época, a Cidade Alta; já a
terceira e última fase foi filmada nas favelas selecionadas e em estúdios.[40]

Pós-produção
Com o fim das filmagens em agosto de 2001, Cidade de Deus avançou seu
estágio de desenvolvimento para a pós-produção. Em um processo de
montagem liderado por Daniel Rezende que durou cerca de cinco meses.
Rezende, assim como o roteirista Bráulio Mantovani, era estreante em Cinema.
Havendo trabalhado editando campanhas publicitárias apenas. Rezende iniciou
o processo de edição ainda em estágio de filmagens. A cada cena filmada, o
material bruto era levado ao apartamento de Fernando Meirelles onde foi
montado o primeiro maquinário de pós-produção para o filme.[23] Ele compôs
seu workflow com grande influência da estrutura do roteiro, seguindo as
fragmentações divididas pelos anos 1960, 1970 e 1980, com um estilo de
montagem diferente.[41]
Para a primeira fase, nos anos 1960, foi utilizado uma linguagem clássica do
cinema. Rezende optou por uma montagem com cortes corretos
utilizando raccord, respeitando eixos e privilegiando a ação, com uma
continuidade plano a plano.[nota 1] Os poucos plano-sequências utilizados
enfatizam a situação dramática e o diálogo. Na segunda fase, nos anos 1970,
onde a criminalidade já não é a maior fonte de renda dando espaço às drogas
e ao tráfico, a técnica de corte raccord não é mais importante. "A liberdade dos
cortes causa um certo estranhamento no espectador, preparando-o para um
clima bem mais pesado que vai se aproximando" comenta Rezende.[41] Na
terceira fase, nos anos 1980 com a história de Mané Galinha e seu conflito com
Zé Pequeno, a montagem não levou em consideração nenhuma regra de
edição. Neste trecho, o filme tem uma carga explosiva de ação, e segundo o
montador, o uso da liberdade total nesta parte "causa estranhamento,
sensações de sufocamento e tensão ao espectador". Rezende exemplifica
estas condições de estranhamento com cenas que alguém fala, mas não
precisar mexer necessariamente os lábios, uma outra levanta em um take e
está totalmente acomodada no próximo. "O estranho é bem vindo" define
Rezende. Foi decidido usar estas técnicas, em virtude da decisão de Meirelles
e Katia Lund — em fazer o elenco não ler os diálogos definidos pelo roteirista
—, da qual possibilitou uma maior liberdade de improvisação visando tornar o
filme com uma tonalidade verdadeira. Porém, deixando dificuldades para o
montador.[41][43] De acordo com o músico Ed Côrtes, responsável pela trilha
de Cidade de Deus, a última fase do filme, foi usado músicas sombrias, com
flautas, batuque do samba bem lento, e alguns efeitos sonoros.[41]
O pôster do filme foi desenvolvido pelo designer gráfico especialista em cinema
Marcelo Pallotta, a partir de fotografias de Claudio Elizabetzky.[44] O projeto de
comunicação de um filme é comumente um trabalho de muitos envolvidos na
liderança. E o pôster deve conter um balanço de ideia não pesando tanto para
o lado artístico, bem como o comercial. Nesse contexto, as linhas criativas que
foram levadas em consideração para a divulgação do filme de Meirelles foram
estabelecidas após o designer junto à equipe assistir ao primeiro corte do filme.
Pallotta tinha em mente que o filme não possuía um protagonista fixo que
levasse a história do início ao fim de forma efetiva. E esta produção conta com
um quadro de atores não famosos e até mesmo não profissionais. Portanto,
não seria interessante comercialmente destacar alguém desconhecido. Com
tais constatações, Pallota criou cerca de 25 variações do cartaz de Cidade de
Deus. Dentre eles, o escolhido: uma galinha em destaque, o nome do filme ao
centro, e ao fundo a gangue de garotos.[45] Meirelles comenta sobre o cartaz
com bastante entusiasmo ressaltando que o fato da galinha "protagonizar-lo"
se dá pelo achismo na época que a cena de abertura — é onde a ave aparece
—, iria marcar o filme. Com a imagem o diretor revela que pretendeu passar o
contexto de humor, apesar do tema central ser violento o enredo do filme
contém uma linguagem humorizada e pop. Meirelles sumariza o layout do
cartaz de Pallotta com: "tem o humor, tem o fator social, e vende muito bem o
filme".[46] O material criado foi distribuído para mais de 60 países. Contando
com a exposição dos cartazes criados nas locadoras na época de lançamento
no Brasil em homevideo.[44]
Lançamento
Exibição e bilheteria
Cidade de Deus estreou em maio de 2002 no Festival de Cannes.[49] A
aproximação da equipe com a Rede Globo ainda nas filmagens tornando
a Globo Filmes uma das coprodutoras, facilitou o arranjo de distribuição do
filme. O que também possibilitou o acesso a eficazes canais de divulgação. A
emissora uniu forças dando suporte de mídia na campanha de lançamento,
com crossmedia, referências em telenovelas, programas e telejornais. As
estratégias de lançamento ficaram a cargo de Bruno Wainer — diretor-
executivo da Lumière Brasil — e Daniel Filho da Globo Filmes, supervisionadas
pela O2 Filmes.[37]
O longa-metragem enfrentou um grande período de negociações para a
distribuição internacional. Em primeira análise, os resultados foram pareceream
"satisfatórios", uma vez que Fernando Meirelles havia entrado em contato com
parceiros internacionais — Wild Bunch e Miramax Filmes —, ainda na fase de
preparação do elenco em meados de 2000. Ao fim das questões contratuais
finalizadas no segundo semestre de 2001, Meirelles constatou, que, no entanto
não tinha feito bons contratos. Na época, quando o filme já estava pronto ele
aspirou ao máximo recuperar o que tinha investido do próprio bolso. E mesmo
sem experiência na área e sem advogados auxiliando com presença ativa
assinou acordos que julgou "contratos que até crianças fariam melhor". O
resultado final que reverberou por mais de uma década, foi uma divida de 4
milhões de reais com a distribuição do filme.[24][37]
Nos circuitos brasileiros, Cidade de Deus foi distribuído exclusivamente pela
Lumière. Wainer, executivo da Lumière, relatou que, desde quando a
distribuidora se tornou parceira da Videofilmes comercializando Central do
Brasil em 1998, estabeleceu-se um laço de confiança entre as duas
companhias. A partir disto, qualquer projeto em que Vídeofilmes estava
envolvida, tendia a ser um bom negócio para Lumière.[37] Lumière juntamente
com Globo Filmes conseguiu baixar a classificação etária do filme de 18 para
16 anos.[50]
Em 30 de agosto de 2002 o filme foi lançado no Brasil em noventa salas.
Porém, na segunda semana já havia 120 cópias em exibição, chegando a 180
cópias na sexta semana nas bilheterias. Na terceira semana em cartaz, com
duzentas cópias, Cidade de Deus alcançou a marca de 1 milhão de
espectadores nos cinemas brasileiros.[51] Segundo notas de Filme
B divulgadas em 2004, o público total foi de 3 307 746 espectadores.[37] Em 3
de janeiro de 2003 o filme foi lançado na Inglaterra, tornando-se a terceira
maior abertura de um filme em língua estrangeira no país, atrás apenas de O
Tigre e o Dragão e Le fabuleux destin d'Amélie Poulain, arrecadando 1,4
milhão de reais.[52][53] Em janeiro de 2003, Cidade de Deus foi lançado
nos cinemas norte-americanos, e obteve também uma grande recepção
positiva.[2] Durante janeiro o filme foi lançado em outros países da Europa,
como na Espanha em noventa cinemas, e França, em 150 salas.[54]
Análise da crítica
Cidade de Deus foi amplamente considerado um dos melhores filmes de 2002
pela imprensa brasileira e norte-americana; recebendo aclamação universal
pela crítica especializada e elogios favoráveis. No site Rotten Tomatoes, o filme
tem uma aprovação de 91%, chegando ao consenso de "Um olhar chocante e
perturbador, mas sempre atraente para a vida nas favelas do Rio de Janeiro".
[55] No Metacritic, recebeu 79 por cento de aprovação, baseado em 33
opiniões, e classificado como "geralmente favorável" pela nota e análise do
público.[56] O critico José Couto do jornal Folha de S.Paulo relatou que
"Cidade de Deus é um filme de vigor espantoso e de extrema competência
narrativa. Seus grandes trunfos são o roteiro engenhosamente construído e a
consistência da mise-en-scène".[57]
O crítico brasileiro Érico Borgo do site especializado Omelete escreve em sua
resenha que sente-se orgulhoso ao assistir uma obra de origem nacional "que
solta aos olhos do mundo todo". Borgo elogia principalmente a direção de
Meirelles e relata que "em certas passagens, é tão pop e inovadora quanto os
melhores exemplares hollywoodianos".[58] A recepção britânica foi bastante
positiva, The Guardian, um dos grandes jornais do país, classificou Cidade de
Deus como "o primeiro grande filme do ano". "Não caminhe para o cinema,
corra", disse Peter Bradshaw em sua resenha. A revista Sight and Sound, do
instituto British Film publicou uma reprodução do crítico brasileiro Ismail
Xavier de três páginas, com outras ótimas resenhas do critico Paul Julian
Smith.[53] Vicent Maraval, executivo da distribuidora Wild Bunch julgou que
esta grande recepção na Inglaterra dará "um grande empurrão" para as
estreias em outros países.[52] Em outras resenhas, Fernando Meirelles é
comparado aos cineastas estadunidenses Quentin Tarantino e Martin
Scorsese, este último sendo pelo jornal britânico The Independent. Meirelles foi
questionado pela Folha de S.Paulo sobre estas comparações e reage com
risadas. "Fico mais lisonjeado pelo Scorsese, mas acho um exagero sem
sentido. Minha cultura cinematográfica não chega nem na canela desses dois",
diz ele.[52]
Stephen Holden do The New York Times elogia particularmente a sequência da
festa de despedida de Bené (Phellipe Haagensen), no final da história, "como
uma das partes mais espetaculares do filme".[59] Em Los Angeles Times, o
crítico Kenneth Turan em sua resenha define o filme como "uma potente e
inesperada mistura de autenticidade e luxo visual" e "uma peça vigorosa de
realismo social que está inegavelmente amparada em algo verdadeiro". Turan
enaltece particularmente a montagem de Daniel Rezende como "eletrizante".
[60] Cidade de Deus não chegou a ter cópias dubladas nos cinemas, sendo
exibido apenas legendado. Sobre as legendas, o crítico Mike Clark do USA
Today diz que "mesmo fãs de filmes de ação avessos a ler legendas deveriam
dar uma chance a este filme".[61]
Home video
Cidade de Deus foi lançado em VHS e DVD no Brasil em 17 de junho de 2003
apenas para locação pela distribuidora Imagem Filmes.[62][63] Em formato
comercial, chegou as lojas em setembro de 2003 com comentários em áudio
do montador Daniel Rezende, do roteirista Bráulio Mantovani e do
diretor Fernando Meirelles, e com quase uma hora de extras, incluindo
filmagens feitas durante as oficinas de atores e cenas do filme removidas na
edição.[64] Em outubro do mesmo ano o filme foi lançado em edição especial
para colecionadores, em um box com DVD duplo; um continha o filme, outro
continha, além dos extras presentes no primeiro DVD, cenas extras, lista de
prêmios, galeria de cartazes, Cidade de Deus Remix, charge animada
e trailers.[65][66]
Em 14 de outubro de 2009 o filme foi lançado na França em formato Blu-
ray pela Warner Bros. Pictures France em conjunto da M6 Vídeo. Em território
francês o disco do filme estava disponível para venda apenas para região B,
[nota 2] e ainda continha extras que foram remasterizado para alta definição.
Até dezembro de 2011, Cidade de Deus já havia sido lançado neste formato
em países como Canadá, Holanda, Reino Unido e Estados Unidos.[carece de
fontes] Imagem Filmes, a detentora brasileira dos direitos de distribuição
em home-video não se manifestou abertamente sobre o lançamento em alta
definição.[67]
Esnobe no Oscar 2003 e reformulação do prêmio
Segundo uma pesquisa divulgada por Waldemar Dalenogare Neto em abril de
2019, Cidade de Deus foi esnobado no Óscar 2003 após alguns dos membros
utilizarem uma brecha no regulamento para dar nota baixa ao filme. Um
número minoritário de membros da comissão de filme estrangeiro se retirou da
sessão interna da academia onde estava sendo exibido o filme, antes do final,
e imediatamente a nota da produção caiu de 10 para 6. Na época, isso era
permitido pelo regulamento interno, e foi a primeira vez aconteceu o
esvaziamento de uma sessão. Um dos pontos apontados na pesquisa, é o
perfil da época dos membros que faziam parte da comissão, composto por
homens de perfil conservador, e que não gostava de cenas de sexo e violência
nos filmes, a não ser que tenha uma justificativa de acordo com o ponto de
vista deles. Devido a reação negativa, a Miramax desistiu de fazer campanha
para o filme e adiou para o ano seguinte. Quando Cidade de Deus recebeu
quatro indicações no Oscar 2004, a reação negativa voltou-se para o Oscar de
melhor filme estrangeiro. Em 2005 a academia encomendou um estudo para
evitar tais injustiças, o que levou a criação da short list (pré-lista), para
diversificar a seleção. Posteriormente, devido a uma nova polêmica no perfil do
comitê nos anos 2010, foram adicionados mais membros.[68]
Estrutura narrativa
Cidade de Deus apresenta uma história não-linear estruturada em torno de
fragmentos divididos em três décadas onde o filme é ambientado. Apesar do
livro de Paulo Lins conter também uma narrativa não totalmente linear,
Fernando Meirelles encontrou problemas com o grande leque de histórias e
personagens. "Se você fica cortando de um para o outro o tempo todo, o
personagem nunca esquenta. Tivemos que abandonar alguns pelo caminho e
mais tarde voltar para recuperá-los, colocando-os de volta no filme. São idas e
vindas que ajudam o espectador a acompanhar e se envolver com a trama"
conta Meirelles à Revista Trópico. Segundo o diretor, esta técnica foi adotada
ao filme com a intenção diametralmente oposta da de Quentin
Tarantino em Pulp Fiction. Tarantino, segundo Meirelles, inverte o rolo dos
filmes procurando um resultado de "confusão estimulante" ao espectador,
criando uma espécie de jogo com a audiência. Já Cidade de Deus, o diretor
julga a não-linearização como um modo de explicar o filme, sendo didático.[20]
O filme é desenvolvido em três fases, cada uma com características distintas
sendo consideradas por Meirelles como "se fossem três filmes diferentes".
Dando uma sensação de transformação e evolução do crime ao espectador.
[69] A primeira fase se passa nos anos 1960, e têm como transição para
segunda fase nos anos 1960 com a morte de Cabeleira (Jonathan Haagensen)
que marca o fim do Trio Ternura; o desenvolvimento da segunda fase tem seu
fim com a decisão de Mané Galinha (Seu Jorge) enfrentar Zé Pequeno
(Leandro Firmino), onde se inicia a terceira e última fase no longa, que se
passa nos anos 1970. Toda esta cronologia é narrada e explicada por Buscapé
(Alexandre Rodrigues) que compõe a hierarquia da história, com outros
personagens importantes, sendo o central da história, Zé Pequeno.[70]
Temas e análises
"Eu acreditava que conhecia o apartheid social que existe no Brasil até ler o
livro. Percebi que nós, da classe média, não somos capazes de enxergar o que
está na nossa cara. Estado, leis, cidadania, polícia, educação, perspectiva e
futuro são temáticas abstratas, mera fumaça quando vistos do outro lado do
abismo. Cidade de Deus não fala apenas de uma questão brasileira e sim de
uma questão global. De sociedades que se desenvolvem na periferia do mundo
civilizado. Da riqueza opulenta do primeiro mundo, que não consegue mais
enxergar o terceiro ou quarto mundo, do outro lado ou no fundo do abismo".
— Fernando Meirelles[71]
Cidade de Deus aborda temas com referências no cotidiano e na contradição
social brasileira, sobretudo, na problematização da favela como um lugar de
extrema violência, motivada pelos pontos de venda de drogas e a sucessão de
líderes do tráfico.[72][73] O filme tem seu andamento desencadeado por
decisões dos personagens que são dividas em partes e não seguem uma
ordem cronológica. Estes determinantes são apresentados no filme pelos ritos
de passagem estabelecidos para os personagens com participações
importantes na trama,[73] sempre usando técnicas e estéticas da televisão e da
publicidade.[74]
Estes ritos que definem fases e evoluções de personagens foram bastante
utilizado em Cidade de Deus. Um desses casos acontece com Mané Galinha
no desenvolvimento de uma sequência de cenas que termina em um assalto ao
banco, onde a morte de um inocente passa ser "exceção à regra". Contudo, a
morte de um destes inocentes desencadeia na queda de Galinha. Outra cena
onde é explorado esta técnica é quando Marreco e Alicate estão escondidos da
polícia em cima de um arvore. A câmera é usada de forma a passar toda
agonia e inquietação do Alicate (Jefechander Suplino) que está em transe e
decide abandonar a vida do crime.[73]

Crime e o tráfico de drogas


O tráfico de drogas é usado na trama do filme como o principal causador da
grande guerra entre Sandro Cenoura e Zé Pequeno na terceira e última parte
do filme, situada nos anos 1980. As drogas logo vêm acompanhas pelo cenário
criminal, que é explorado na primeira e segunda parte do filme com os
personagens do Trio Ternura — Cabeleira, Alicate e Marreco. A violência em
conjunto do tráfico de drogas e o crime é a consciência da trama e são os
fatores que desperta os importantes personagens e desencadeia uma das
principais temáticas.[73]

"No pé ou na mão": Cena considerada por site especializado no meio


cinematográfico como a mais violenta da história do cinema
Os incidentes criminais são aviados pelas crianças que cresceram nesta vida e
são vertentes importantes no enredo. O longa se permite explicar os
mecanismos de trabalho desde a fabricação ao mercado do narcotráfico nas
comunidades, que é realizado por jovens e adolescentes. Eles podem servir
em funções que a obra intitula por "avião", "soltador de pipa", "vapor" ou
"menino dos recados" — este último desempenhado por Filé com Fritas (Darlan
Cunha).[75] Ao levar um recado de Zé Pequeno para seu rival, Sandro
Cenoura, Filé é repreendido por Mané Galinha, que o lembra que é apenas
uma criança e este no momento responde: "Que criança? Eu fumo, eu cheiro,
já matei, já roubei, sou sujeito homem".[76]
Nestes crimes, também opera com condutas antissociais os garotos do grupo
"Caixa Baixa", que praticam assaltos dentro e fora da favela Cidade de Deus.
Os membros desta gangue adolescente chama a atenção de Zé Pequeno que
não gostava de roubos na favela onde ele é o dono. Para resolver este
impasse, Pequeno chama Filé com Fritas para caçar os garotos da gangue no
intuito de "dar uma lição".[75] Este fato desfecha em outro rito de passagem
quando o personagem Filé com Fritas é obrigado por Pequeno a escolher e
matar um dos meninos do Caixa Baixa.[73]
Este momento resulta em uma cena impactante considerada a mais violenta do
cinema, descrita pelo site especializado Pop Crunch como a mais difícil de ser
assistida.[77][78] A cena, cujo objeto ocorrente é a reação de uma criança ao
levar um tiro no pé, foi enaltecida pela crítica por seu alto realismo com uma
criança exposta a uma situação-limite.[79] O interprete da criança com o pé
perfurado por uma bala da arma do personagem Filé com Fritas é Felipe
Paulino da Silva, que tinha 7 anos e realmente chorou nas filmagens. "O
Felipinho confundiu ficção com realidade", disse, em uma entrevista coletiva, o
diretor Fernando Meirelles.[79] O fator "violência" causou agitação durante as
exibições de Cidade de Deus para comissões oficiais do Óscar de Melhor Filme
Estrangeiro de 2003. Segundo Folha de S. Paulo considerável parte dos
membros da Academia deixaram a sala antes do término da projeção, em
virtude do alto grau de violência realista presente no filme, que os deixaram
escandalizados.[80]
Legado e influência
Cidade de Deus fez história e se tornou um dos filmes brasileiros mais
importantes de todos os tempos.[81] Desde seu lançamento, até então o filme
continua sendo citado em matérias e listas sobre melhores filmes em
categorias como melhores filmes de drama, melhores filmes de ação e
melhores filmes estrangeiros da década em sites e revistas especializadas e de
renome no mundo cinematográfico.[82][83][84] Cidade de Deus é comumente
enaltecido por seus diálogos que deixaram marcas e ainda são reproduzidos.
Como na cena em que Zé Pequeno toma a boca de fumo de Neguinho, onde é
dita a frase "Meu nome agora é Zé Pequeno, porra!", considerada um marco e
titulada como uma das mais inesquecíveis do cinema.[7][85] Francisco Russo,
crítico do AdoroCinema, relata que o filme merece todos estes títulos "pelas
qualidades artísticas e estéticas ou pela repercussão que alcançou" e pelo fato
de ser até agora o único longa-metragem brasileiro indicado em quatro
categorias do Óscar.[86] Cidade de Deus por sua importância, foi o marco final
do período conhecido como "a retomada do cinema brasileiro".[87]
A graphic novel Coringa tem quadro inspirado em Cidade de Deus na edição
de 2008.
Em 2 de março de 2005 foi lançado o livro City of God in Several Voices -
Brazilian Social Cinema as Action[nota 3] escrito por Else Vieira, que ministrava
estudos brasileiros na Universidade de Londres. O lançamento contou com a
presença de Fernando Meirelles e três integrantes do elenco que estava
no Reino Unido apresentando métodos usados durante as filmagens.[88] O
livro em língua inglesa de Else aborda discussões sobre a situação social do
filme, o processo de produção de sua gênese ao lançamento e as polêmicas
que seguiram a sua realização, como a discussão que Meirelles seguiu uma
estética estrangeira.[89] A ida do elenco ao país foi organizada e patrocinada
pela Universidade de Londres e pela organização não-governamental ABC
Trust, que realiza trabalhos assistenciais no Brasil. Após Londres, os atores
realizaram oficinas em Liverpool e em Coimbra, em Portugal.[88]
O filme de Meirelles foi usado como inspiração e em caráter de homenagem
em grandes projetos no Brasil e no mundo. Em outubro de 2008 foi lançada
a graphic novel Coringa desenhada por Lee Bermejo e roteirizada por Brian
Azzarello. Um quadro da página 118 da história em quadrinho foi noticiado pela
impressa internacional como "referência clara" à cena de Zé Pequeno — ainda
então Dadinho — cometendo seus pequenos crimes.[90] Bermejo desenhou
outros quadros da revista buscando inspirações como em The Dark Knight e no
cantor Iggy Pop, líder do grupo punk The Stooges.[91] No Brasil, o longa foi
homenageado em um episódio especial da série animada Turma da Mônica.
No episódio ocorrente Chico Bento aparece contracenando com Zé Pequeno
em uma paródia da cena de abertura de Cidade de Deus onde a equipe de
Pequeno corre atrás de uma galinha.[92]
Tekkonkinkreet, anime japonês de 2006 dirigido por Michael Arias se inspira
abertamente nas estruturas narrativas de Cidade de Deus. Arias em entrevista
concedida à revista Otaku USA especializada em mangás e animes, diz:
Cidade de Deus foi uma enorme influência. Pedi à equipe para assisti-lo porque
é uma experiência muito densa, com muita informação, e achei que era muito
relevante para o que eu pretendia alcançar com Tekkon. [A obra] não gasta
muito tempo com explicações e também acontece em um mundo bastante
fechado, uma favela. E muitos de seus personagens são crianças, então achei
que seria uma referência muito boa. É um filme fantástico.[93]

Apesar da tematização da favela no cinema brasileiro não ser uma


novidade, Cidade de Deus influenciou a estrutura estética de filmes que
começaram a receber o rótulo de "favela movie" pela crítica especializada e
jornalistas.[10] Esta atribuição a filmes que seguem esta mesma temática
entrou em grande uso, sendo considerado atualmente um novo gênero
cinematográfico, que centraliza ou aborda em algumas passagens de roteiro a
favela como ambientação, sendo veemente acompanhado por violência
explicita e o tráfico de drogas.[94][95][96]
Em maio de 2005, foi escolhido como um dos 100 melhores filmes de todos os
tempos pela revista estadunidense Time em uma lista que não coloca os filmes
em ordem.[97][98] Em 2008, a revista britânica Empire escolheu o longa como
um dos melhores filmes de todos os tempos, atingindo a posição 177º,[99] e
em 2010, a Empire reformulou a lista, colocando-o como o sétimo melhor filme
do cinema mundial, elogiando a narrativa e interpretação do elenco e, no
mesmo ano, recebeu a sexta colocação como melhor filme de ação pelo The
Guardian.[100][101] Em 2016, figurou na lista dos Os 100 melhores filmes do
século XXI segundo a BBC, aparecendo na 38a posição.[102] Em outubro de
2018, foi o único filme da América do Sul a aparecer na lista de 100 melhores
filmes estrangeiros da BBC, ocupando a 42ª posição no ranking.[103]
Durante o painel da Netflix na San Diego Comic-Con 2016, Cheo Hodari Coker,
produtor da série Luke Cage, revelou ter se inspirado no filme: "Em muitos
termos, a série trata de assuntos que a sociedade negra dos Estados Unidos
hoje discute, mas ao mesmo tempo diz a respeito do mundo todo. É
como Cidade de Deus, um filme incrível, que tem uma cultura diferente da
nossa, mas que você consegue identificar uma originalidade e sentir a energia
que a história em si transmite." Ainda no evento, Coker continuou enaltecendo
a obra de Meirelles enfatizando, segundo ele, que é o melhor filme da cultura
pop de todos os tempos. Abrindo parenteses para falar das histórias
fragmentadas que depois se entrelaçam e a dinâmica dos personagens.
"Quando assisti ao filme pela primeira vez e vi aquelas cenas dentro do
apartamento, a corrida com a galinha, tudo isso me remeteu à cultura dos anos
70 de um jeito incrível. Levo Cidade de Deus como inspiração para todo o meu
trabalho e com Luke Cage não é diferente", completou o produtor.[104]
Michael B. Jordan, que interpretou o vilão Erik Killmonger no filme Pantera
Negra, comentou que Cidade de Deus serviu de inspiração para seu papel: "Fiz
pesquisa para meu personagem vendo o filme de Fernando Meirelles e Kátia
Lund, e ele se tornou um de meus favoritos na vida. Quando [o diretor] Ryan
Coogler disse que ele queria que os meninos de Cidade de Deus se vissem na
tela em Pantera Negra ele resumiu de uma forma bem crua o sumo deste
nosso papo."[105]
Documentário
Ver artigo principal: Cidade de Deus - 10 Anos Depois
Em 2012 foi exibido em festivais — como Festival do Rio, Festival Internacional
de Miami, Festival de Havana entre outros — o documentário Cidade de Deus -
10 Anos Depois dirigido por Cavi Borges, que tem o objetivo de apresentar todo
o impacto nacional e internacional que o filme causou, contando ainda com as
transformações vividas por boa parte do elenco.[106] O documentário
evidencia a importância de Cidade de Deus e sua influência na vida dos atores
que na época eram não-profissionais que participaram do projeto. Alice
Braga conseguiu notoriedade após participar do filme mesmo não estando em
um papel recorrente na trama. Alice relata no documentário que "a hora do
beijo virou um frame do filme que ajudou muito para mim, pois foi o frame que
foi pro pôster dos Estados Unidos".
Cidade de Deus - 10 Anos Depois ficou pronto em 2012, no entanto, levou
exatos três anos para ser vinculado comercialmente nos cinemas brasileiros.
Embora a demora para exibição em circuito cause estranheza, o filme obteve
grande interesse e apreço por parte do público fã de Cidade de Deus.
[107] Borges recebeu grandes críticas negativas sobre a falta de participação
de membros da produção do longa Cidade de Deus, sobretudo, a ausência de
maiores esclarecimentos de Fernando Meirelles e Kátia Lund sobre o valor
pago aos atores — assunto que foi colocado no documentário em perspectiva
com a estreia em Cannes, as quatro indicações ao Oscar e a repercussão em
torno da obra.[86]
Turismo no Rio de Janeiro
Cidade de Deus, assim como o filme Tropa de Elite (2007), centra sua trama
em uma comunidade do Rio de Janeiro onde envolve extrema violência e caos
devido o grande tráfico de drogas na região. Com a ampla repercussão
internacional de ambos os filmes, muito se repercutiu por críticos e jornalistas
que isto influenciaria na construção e difusão de uma imagem generalizada das
favelas utilizadas como ambientação nos filmes.[108] A preocupação levando
em conta uma possível dedução no fluxo turístico internacional do Rio de
Janeiro foi acatada, devido a taxa de criminalidade ser de fato muito altas.[109]
No entanto, o sucesso de Cidade de Deus e outras obras do gênero favela
movie geraram ao contrário do esperado, quebrando paradigmas e
estabelecendo um novo parâmetro de turismo no Rio de Janeiro, o reality
tour nas favelas.[110] A influência do filme de Meirelles nesta nova modalidade
é constatada por agentes de turismo que afirma ter crescido o fluxo
consideravelmente desde 2002 com a repercussão do longa. O conjunto
habitacional que inspira o filme fica longe da privilegiada zona sul da cidade,
tornando a Rocinha como um dos pontos mais visitados pelos fãs.[110]
Prêmios e indicações
Ver artigo principal: Lista de prêmios e indicações recebidos por Cidade de
Deus
O sucesso de Cidade de Deus junto a crítica também refletiu-se nos prêmios
recebidos pelo filme. O longa não conseguiu uma nomeação ao Óscar no ano
em que foi lançado, pois não tinha entrado em circuito internacional, sendo
lançado na Europa e Estados Unidos apenas em janeiro de 2003. Bruno
Wainer — executivo da distribuidora Lumière —, lamentou que o longa não foi
nomeado dentre os cinco indicados para o Oscar de melhor filme
estrangeiro no ano de lançamento nos cinemas brasileiros. Para ele, se
houvesse a indicação naquele momento, o filme superaria a marca de quatro
milhões de espectadores.[37][111][112] Em janeiro de 2004, o longa foi indicado
a quatro categorias na Academia — melhor direção, melhor roteiro
adaptado, melhor edição e melhor fotografia.[113] O filme também obteve
indicações em massa no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, vencendo nas
categorias melhor filme, melhor diretor (Fernando Meirelles), melhor roteiro
adaptado (Bráulio Mantovani), melhor fotografia (Cesár Charlone), melhor som
e melhor edição (Daniel Rezende).[114]

Você também pode gostar