3 - A Sedução Do Princípe
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A Sedução do Príncipe
(His Shotgun Proposal)
Karen Toller Whittenburg
CAPÍTULO I
dos homens de sua vida. Todos eles. O único que gostaria de ver
naquele momento era o desconhecido que a colocara naquela
situação, um homem moreno e alto com um sorriso capaz de fazer
tremer seus joelhos. E a única razão pela qual desejava vê-lo era
para encará-lo e dizer que não precisava de nada dele. Exceto,
talvez, um novo fecho para a mala.
Tomando cuidado para não derrubar novamente a pilha de
bagagens, Abbie passou pela porta automática do aeroporto e olhou
para os dois lados tentando localizar uma caminhonete preta e um
caubói carrancudo, mas o movimento era intenso, como o tráfego
além da calçada. Ainda estava procurando por alguém parecido com
a descrição oferecida por Jessie quando sentiu o coração parar de
bater. Ele. Não podia ver seu rosto com clareza por causa do
chapéu que o encobria, mas a reação física que acabara de
experimentar era óbvia. Era ele! O estranho misterioso. O homem
de seus sonhos. O pai de seu bebê.
Que maravilha! Com tantas outras ocasiões para encontrá-lo,
tinha de ser justamente naquele momento? Vestia roupas largas e
amarrotadas depois da longa viagem, os cabelos estavam presos por
um elástico, e para completar usava os óculos de lentes espessas no
lugar das lentes de contato. Sentia-se sexy e atraente como um
prato com restos de mingau de aveia!
Por outro lado, se não o encarasse e exigisse tudo que uma
mulher grávida e falida deve exigir de um homem cujo nome não
sabe, mas cujo filho está esperando, não teria outra oportunidade.
O problema era que não se sentia disposta a suportar a humilhação.
E ele conversava animado com uma loura bronzeada de corpo esguio
e curvilíneo, uma jovem exuberante que não exibia um ventre
proeminente como o dela.
Perfeito! Caminharia até ele com toda a graça de uma baleia e
esperaria que ele a comparasse àquela deusa dourada de sorriso
hipnótico. Por outro lado, reclamar seus direitos e expor sua
verdadeira condição prejudicaria o flerte, e esse era um castigo
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seria tolice deixá-lo partir sem dizer nada. Afinal, tinha o dever de
informá-lo sobre o bebê que haviam criado juntos. Se não o tivesse
encontrado, se nunca mais o visse, teria simplesmente se
conformado com a impossibilidade de compartilhar a notícia de sua
gravidez. Tentaria explicar ao filho que o pai seria sempre um
mistério. Mas ele estava ali e tinha o direito de saber, mesmo que
preferisse afastar-se sem dizer nada.
A loura continuava no mesmo lugar. Ao lado da caminhonete. Um
veículo enorme e preto com uma cabeça de cavalo pintada na porta.
Um cavalo adornado por um manto árabe. As palavras Desert Rose
descreviam um semicírculo sobre a cabeça do animal, e a palavra
Árabes compunha a metade inferior da figura geométrica.
Oh, não! Aquilo não podia estar acontecendo. Não era verdade.
O destino não faria uma piada tão cruel. O homem misterioso não
podia ser o primo de Jéssica Coleman. Seria... Não conseguia pensar
em uma palavra capaz de descrever o horror de tal situação.
Entretanto, a seqüência de eventos fazia sentido. A festa de
formatura da faculdade que havia freqüentado com Jéssica, a
presença das duas famílias... Apesar da forte amizade existente
entre elas, os Jones e os Coleman não haviam sido apresentados. A
maneira como conhecera o homem misterioso fora do salão de baile,
no bar, momentos depois de Jéssica ter mencionado que um dos
primos havia saído para apanhar uma bebida. Era tudo tão plausível,
que Abbie desviou os olhos do logotipo na porta da caminhonete
para encarar o homem que, agora sabia, estava ali para pegá-la. Que
situação poderia ser mais constrangedora?
— Mac?
Havia sido apenas um sussurro. Uma espécie de teste de
realidade. Ele não podia ter ouvido o chamado angustiado.
Mesmo assim, ele se virou com ar confuso, questionando sua
presença, sua identidade, seu comportamento. Um olhar para o
rosto pálido de Abbie deve ter servido de confirmação. Os olhos
seguiram os dela para o logotipo do Desert Rose na porta da
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
— Passei o dia todo tão agitada, que quase não fiz nada! —
Jéssica subia a escada e olhava por cima de um ombro para
examinar Abbie que, calada, seguia seus passos como uma sombra
de rosto congestionado e óculos de armação escura. Havia algo de
errado na imagem, e Jéssica chegara a essa conclusão dois minutos
depois da chegada da amiga. Algo além das circunstâncias daquele
momento de vida haviam colocado o tom intenso de rosa em suas
faces e levado o queixo a assumir o ângulo altivo, quase arrogante.
Ela praticamente caíra da caminhonete na ânsia de abraçar sua
anfitriã, uma ação que podia ser interpretada como gratidão ou
pressa para escapar da expressão carrancuda de Mac.
Jess notara o ar sombrio do primo quase que por acaso, e a
curiosidade natural a levara a considerar a remota possibilidade de
uma coisa estar ligada a outra. Mas... não. Devia ser mesmo uma
simples coincidência. Poderia encontrar dezenas de explicações
lógicas, embora não conseguisse pensar em nenhuma delas de
imediato. Abbie parecia frustrada, irritada, aborrecida e ofendida.
Enquanto ponderava sobre todas as possibilidades, Jéssica
continuava subindo a escada e falando sem parar.
— Vai ficar neste quarto — disse, abrindo uma porta no início
do corredor do segundo andar. — Meus país ocupam a suíte principal
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pediu a ajuda de meu pai para tirá-los do país. Foi assim que eles
acabaram em Bridle, no Texas, protegidos sob o nome Coleman. A
história é longa e interessante, mas acho melhor esperar até que
tenha pelo menos desfeito as malas.
Abbie sentou-se na beirada da cama como se as pernas não
pudessem sustentá-la.
— Quer dizer que ele é mesmo... um príncipe?
— Mac? — Aha, Jéssica pensou, tentando não ter notado que
dentre os três primos, Abbie já se havia referido duas vezes a um
só deles. Sim, sabia que ela ainda não havia sido apresentada a Alex
e Cade, e que passara todo o tempo da longa jornada do aeroporto
ao rancho sozinha com Mac, mas mesmo assim... — Príncipe da
Irritação, se quer saber o que penso — Jess respondeu rindo. —
Eles vieram morar com meus pais antes de eu nascer, o que os torna
mais irmãos do que primos, e Mac é o que mais me provoca com suas
brincadeiras tolas. Quando quer me tirar do sério, ele me chama de
Husky por causa daquela raça de cachorros que quase sempre tem
olhos de cores diferentes. Ele sabe que odeio ter um olho verde e
outro azul. Quando quer apenas irritar-me um pouco, Mac me chama
de lourinha. — Ela mostrou os cabelos vermelhos, lamento não tê-los
negros ou louros, ou até mesmo castanhos.
Abbie ofereceu um sorriso pálido, mas seus pensamentos
estavam distantes.
— Falaremos sobre meus primos mais tarde. Agora deve
descansar, tomar um banho, desfazer suas inalas... Não sei por que
Mac está demorando tanto! — Jéssica aproximou-se da porta a
tempo de vê-lo terminando de subir a escada com as malas de
Abbie. Sua expressão era ameaçadora como um tornado, e Jéssica
não pôde deixar de erguer as sobrancelhas em uma reação
desconfiada. Por menos provável que fosse, algo havia desagradável
e devia ter acontecido entre o primo e sua amiga no trajeto de
Austin até o rancho.
— Será que pode me dar licença, Jess? —- ele perguntou
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Abbie. E fiquei feliz por ter telefonado para mim quando perdeu o
emprego. Quero que se sinta em casa aqui no Desert Rose e que
fique conosco pelo tempo que desejar.
— Jessie, eu...
— Não precisa dizer nada. Não estou pedindo nenhuma previsão
sobre sua estadia. Só queria dizer que é você quem está me
prestando um favor. Passei os últimos meses enterrada em papéis, e
os documentos continuam surgindo sobre a minha mesa. Talvez fuga
correndo quando a vir. E horrível! — Jéssica sabia que estava
falando demais, mas havia uma tensão na atmosfera, algo que não
conseguia identificar ou entender. — Só falei com mamãe e tia Rose
sobre sua gravidez. Elas são as únicas que sabem que perdeu o
emprego, e por isso precisava de um lugar onde pudesse pensar e
decidir o que fazer. Não tem de dar explicações a ninguém, ouviu
bem? Nem mesmo a mim.
— Não há muito o que explicar. Ainda nem contei a meus pais, e
já estou redonda como uma melancia. — Ela se levantou e suspirou.
— Sou muito grata por ter me aceito em sua casa em um momento
tão difícil, Jess, mas não creio que possa ficar. Não agora.
— É claro que vai ficar. E se Mac disse alguma coisa que a
ofendeu ou magoou, juro que vou quebrar o pescoço dele em três
partes!
Abbie reagiu apavorada.
— Por favor, não! Quero dizer, o que ele poderia ter dito?
Então estava certa. Ainda não podia unir as peças do intrigante
quebra-cabeça, mas sabia que havia uma história por trás daqueles
rostos carrancudos e sombrios.
— Não vamos mais falar nisso. Desfaça suas malas e não se
preocupe com nada. Precisa de algum tempo para pensar, para
decidir o que vai fazer, e este é o lugar perfeito. Prometo que
ninguém vai incomodá-la. Quero dizer, sei que vou incomodá-la com
todo aquele trabalho no escritório, mas, com exceção desse
pequeno detalhe, terá todo o tempo do mundo para descansar e
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Oh, sim, podia ver como o peito arfava sob a camiseta branca, e de
repente sentiu um ímpeto irracional de arrancá-la, de desnudar os
seios de maneira a poder vê-los fartos e rígidos. Pensar em todas as
mudanças provocadas naquele corpo pela gravidez não era excitante
apenas no sentido sexual. Sentia-se curioso, fascinado e
interessado, e a constatação o perturbou ainda mais, deixando sua
voz rouca e áspera.
— Cometeu um grande engano vindo ao Desert Rose. Não sei o
que esperava encontrar aqui, mas posso garantir que não vai ficar
feliz com o desfecho dessa história.
— Isso é mais do que evidente — ela respondeu com um suspiro
irritado. — Se não consegue atender nem aos pedidos mais simples...
— De que pedido está falando agora?
— Quero ficar sozinha.
Devia abandoná-la. Devia interpretar a ausência de argumentos
e negações como prova de sua teoria e deixá-la ali sozinha. Mas
aquele era seu rancho, sua casa, seu píer, e ela os contaminava com
sua presença, com as lembranças da única noite que passaram
juntos. Não sabia por que as recordações eram tão dolorosas e
intoleráveis, mas não permitiria que Abbie Jones o importunasse.
— Quero que vá embora amanhã — disse com firmeza, odiando
a onda de pesar que ameaçava crescer em seu peito. — Sei que
Jéssica tentará convencê-la a ficar, mas...
— Mas seria muito mais cômodo para você se eu partisse. Não
precisa redigir uma cartilha. Já sei que não devo reclamar nada
para mim ou para o bebê. Mas... sabe de uma coisa? Posso fazer
exatamente o que quer sem sair daqui.
— O que quer dizer?
— Posso esquecer que você existe. — Ela ergueu o queixo. Havia
um brilho intenso em seus olhos e uma arrogância sutil na maneira
como jogava a cabeça para trás a fim de encará-lo. — Vou ficar bem
aqui e trabalhar com Jessie conforme planejei, e você ficará fora
do meu caminho e bem longe dele. Em troca, prometo não chegar
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incomodado.
Estava ainda mais aborrecido por constatar que Abbie não só
nadava melhor do que ele, mas apreciava o exercício noturno com
prazer evidente. Ela flutuava nadava de frente e de costas,
alternava estilos e velocidades, e quando finalmente saiu da água e
voltou ao píer, ele foi forçado a admitir que só conseguira
acompanhá-la por pura obstinação. O fato de Abbie ter usado sua
camisa como traje de banho devia aborrecê-lo, não fosse pela visão
fascinante do corpo delineado pelo tecido molhado. Ela se virou de
costas, e antes que Mac pudesse vestir a calça, Abbie tirou a
camisa, torceu a peça encharcada e usou-a como toalha, e depois
vestiu a camiseta seca que deixara pendurada sobre a grade. O
traje aderia aos seios úmidos e modelava o quadril largo com uma
sutileza que ameaçava deixá-lo sem fôlego.
— Aqui está sua camisa — ela anunciou satisfeita ao devolver a
roupa molhada. — Obrigada.
— Por nada. É sempre um prazer emprestar minhas roupas a
uma donzela em perigo. — Queria ser sarcástico, mas as palavras
soavam delicadas, quase doces. — Não quer usar minhas botas? Os
pedregulhos da alameda até a casa do rancho podem ferir seus pés.
Ela parou de torcer os cabelos molhados e estudou-o, tentando
identificar a armadilha sob a oferta gentil.
— Não, obrigada.
— Você nada muito bem.
— Meus irmãos competiam em todas as provas da liga escolar, e
eu passei boa parte da minha infância assistindo a campeonatos e
participando das reuniões de equipe. Infelizmente, minha família
não aprovava a participação de uma garota nas competições.
— E você se deixou deter por esse pequeno detalhe?
— Não é incrível? — ela riu.
— Certamente. Deve ter desenvolvido o espírito de
independência depois disso.
— Depende da situação.
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CAPÍTULO IV
aqui.
Ah, não? Alguém naquele rancho já a incomodara. E ainda a
incomodava. Ali, onde esperava sentir-se livre para pensar e tomar
suas decisões com confiança, via-se tomada por emoções confusas e
incertezas. Ali se deparara com um problema ainda maior do que
aquele representado por sua família. Ali tinha de encarar Mac e a
descoberta de que, depois do beijo da noite anterior, ainda se
sentia atraída por ele.
houvesse roubado, ela não teria se casado com o pior dos dois
irmãos.
Bobagem. Serena e Cade estavam apaixonados, e Mac estava
contente por ser o último xeque solteiro do Desert Rose.
Ou não?
Tinha a sensação de que ele e Abbie já se haviam encontrado
antes de Mac ter ido buscá-la no aeroporto. Na noite de formatura,
talvez? Mac era o homem misterioso? O pai do bebê de Abbie?
Sabia que era impossível, absurdo, mas a idéia persistia. Por que os
dois não suportavam conviver por muito tempo no mesmo aposento?
Por que não se encaravam? Por que mal se falavam desde que ela
chegara ao rancho? Por que Mac passara meses perguntando sobre
suas amigas de faculdade, e de repente parecia ter perdido o
interesse pelo assunto?
Não. Estava sonhando, tentando construir uma teoria
fantasiosa baseada em hipóteses absurdas. Mesmo assim, a intuição
insistia em abraçar a idéia. Havia algo de errado em como Abbie se
mantinha em um lado da sala, conversando com Hannah, enquanto
Mac ficava no outro tentando aparentar uma alegria que estava
longe de sentir.
Era como se ele quisesse provar sua indiferença a Abigail Jones
e convencer Jessie de que mal podia raciocinar, tal a intensidade
com que ela o afetava. Seria hilário se não fosse tão sério. Abbie
estava grávida, e aquele filho podia ser de Mac.
Abbie riu de alguma coisa que Hannah estava dizendo. Os
ombros de Mac ficaram tensos, como se o som o atingisse de
maneira física e dolorosa. Sua teoria tinha algumas falhas,
certamente, mas ainda não tinha motivos concretos para abandoná-
la. De fato, quanto mais pensava nela, mais ela parecia plausível.
Mac e Abbie se conheceram por acaso na festa de formatura.
Passaram a noite juntos e, por alguma razão, seguiram caminhos
distintos na manhã seguinte. Mac era o pai do bebê que Abbie
estava esperando. Por isso os dois se comportavam de maneira tão
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estranha.
Mas não tinha certeza de nada, e por isso não podia
desmascará-los. Sabia que seria inútil interrogá-los, pois nenhum
dos dois diria a verdade. Sendo assim, tinha apenas uma alternativa.
Faria com que os dois ficassem juntos pelo maior tempo possível nos
próximos dias, Talvez pudesse provocar um espetáculo pirotécnico!
A partir da manhã seguinte, evitar a companhia do outro passaria a
ser motivo de grande frustração para seu primo e sua amiga. Jessie
sorriu. A brincadeira prometia ser divertida.
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg
CAPÍTULO V
mas são esses eventos que mantém nosso nome na mídia, dando aos
animais e aos nossos empregados o reconhecimento e a fama que
merecem e trabalham duro para conquistar. Treinar e exibir cavalos
árabes é a minha profissão, e sei que sou bom nela. Não perderia
uma exposição importante como a de Dallas, e Jéssica sabe disso.
Minha prima pode ser responsável por boa parte desta semana, mas
não acredito que esse pequeno erro de cálculo faça parte da lista
de responsabilidades.
— Então, além de ser uma mentirosa compulsiva, agora também
sou acusada de planejar minha presença em uma exposição de
cavalos árabes? Para quê? Para roubar segredos profissionais e
vendê-los à concorrência?
— Se acha que descobriu algum segredo durante esta semana,
não aprendeu nada sobre os cavalos ou sobre mim. Falei apenas
sobre o básico, sobre os primeiros passos do que é feito em um
rancho.
— Nesse caso, deve estar pensando em alguma outra maneira
nefasta de arruinar sua vida. Abbie Jones não perderia tempo
aprendendo sobre um assunto qualquer por mero interesse.
— Confesso que fiquei surpreso quando se dispôs a aprender.
Admito até que fiquei honrado com todo esse esforço para chamar
minha atenção.
Ah! Como se houvesse tentado!
— Se quisesse chamar sua atenção, teria pulado a lição sobre
como limpar os dentes dos cavalos e passado diretamente ao
mergulho noturno.
Mac parou para pensar.
— Se me lembro bem, fui eu que a convidei para nadar naquela
noite.
— Oh, sim! E como sua memória é muito superior à minha, como
todo o resto, deve ter sido assim mesmo. Você nunca erra, não é?
— Quer que eu pare a caminhonete para você descer? — Mac
disparou impaciente. — A caminhada de volta ao rancho é longa, mas
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será ainda mais difícil voltar de Dallas. E saiba que não vou tolerar
provocações e antagonismos durante a exposição.
Primeiro ele a acusava de ser a pior pessoa do mundo, e depois
a proibia de reagir. Como pudera considerá-lo atraente?
Um olhar na direção de Mac Coleman, e Abbie encontrou a
resposta. Ainda se lembrava de como aquele rosto era
transformado por um sorriso, de como os olhos escuros brilhavam
iluminados pela paixão. Queria que ele a olhasse com desejo
novamente, que a tocasse com ternura e fizesse seu corpo entoar a
mais linda canção de amor. Mesmo sem querer, ainda se lembrava da
confiança que depositara nele no momento em que se conheceram.
Havia sido uma experiência única, algo que jamais esperara viver,
mas naquele momento compreendera que aquele era um ser humano
especial que poderia aprender a amar com o tempo. Mas não tivera
tempo. A um passo da independência, de seu primeiro emprego e do
começo de uma vida nova, partira sem sequer despedir-se. Talvez
tudo houvesse sido diferente se houvesse ficado com ele por mais
algumas horas, se houvesse esperado Mac despertar para dizer seu
nome e deixar um número de telefone, caso ele quisesse encontrá-
la. Por outro lado, agora sabia que ele era um príncipe, um homem
com um destino traçado que a teria visto apenas como uma princesa
em potencial, não como uma mulher normal com desejos, sonhos e
projetos. Mac jamais a veria novamente como aquela mulher que
passara a noite em seus braços.
— Não posso voltar a pé para o rancho — disse. — E não vou
perder a chance de assistir a um evento tão importante só porque
você é um canalha egoísta com complexo de perseguição.
— Ah, passou da defesa ao ataque! É uma tática mais
apropriada ao seu estilo. E como o final de semana está apenas
começando, sugiro que façamos uma trégua até o final da exposição.
— Uma trégua? — Abbie repetiu, certa de que não ouvira
corretamente.
— Vamos fumar o cachimbo da paz. Superar diferenças pelo
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costas. — Pensei que nem gostasse dela, mas Hannah jura que havia
percebido seu interesse desde o início. Na verdade, ela tem certeza
de que já existe algo entre vocês dois. Hannah não é espantosa?
Alex parecia ter se mudado para o paraíso. Vivia sorrindo e
elogiando as qualidades de sua esposa, e toda aquela doçura estava
começando a irritá-lo. Em dias como aquele, chegava a ter certeza
de que o amor havia afetado os neurônios do irmão mais velho.
— Do que está falando? Só porque Abbie percorreu alguns
quilômetros do trajeto até aqui em minha caminhonete, acha que
estamos... que temos... que existe alguma coisa entre nós?
— Eu nunca havia pensado naquela possibilidade, mas quando
soube como seriam as acomodações da equipe, passei a concordar
com Hannah.
— Que acomodações?
— Dizem que você pediu um quarto duplo e registrou o nome de
Abbie ao lado do seu. Todos estão falando nisso.
Mac teve de fazer um grande esforço para não explodir. Era
evidente que não podia confiar em Abbie, uma mulher sem nenhum
senso de responsabilidade e consideração. Teria de vigiá-la durante
todo o final de semana.
— Se ela está registrada como minha companheira de quarto,
alguém deve ter cometido um engano. Mal a conheço! Por que
dividiria o quarto com ela? Além do mais, a mulher está grávida!
— Hannah garante que o sexo pode acontecer até o final da
gravidez. E ela é médica. Deve saber o que está dizendo.
— Hannah é veterinária. E não vou fazer sexo com Abbie. A
situação com o quarto é um engano que pretendo esclarecer
imediatamente.
— Desista, meu irmão — Alex anunciou com um suspiro
resignado enquanto lustrava os arreios de prata de um de seus
cavalos. — O hotel está lotado. Não há outro quarto disponível.
Talvez consiga dormir com Stanley, se ele ainda não tiver outro
companheiro. De qualquer maneira, pode ir dormir no chão em nosso
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quarto, se quiser.
— Hannah odiaria essa idéia.
— Hannah? Só ofereci o quarto porque sabia que você
rejeitaria minha proposta!
— Se for preciso, dormirei na caminhonete — Mac decidiu
antes de afastar-se para ir descobrir como Abbie conseguira
tornar sua vida ainda pior.
visse pela primeira vez, e por isso não teve tempo para reagir antes
que Abbie o arrancasse de sua mão.
— Alô? — ela atendeu, virando-se para garantir um mínimo de
privacidade. — Brad! Eu não pedi para não me ligar antes do
anoitecer? — Uma pausa. Uma risada nervosa. — É claro que ainda
estou nas montanhas! Sim, no acampamento. Onde mais eu poderia
estar? — Ela olhou para Mac. Depois abaixou a cabeça e virou-se de
costas, impedindo-o de ouvir o que dizia.
Brad. Um homem. Que não devia ligar àquela hora do dia. Que
acreditava que ela estivesse em algum lugar muito distante de onde
realmente estava. O Desert Rose ficava no coração do território
texano, mas não havia uma única montanha em um raio de muitos
quilômetros. E ninguém jamais chamara seu rancho de acampamento.
Abbie estava mentindo para Brad, quem quer que ele fosse. Mais
uma prova concreta de que a mulher era uma mentirosa, como
suspeitara desde o início. Tinha todo o direito de sentir-se
justificado, indignado e furioso. Então, por que sentia apenas
tristeza?
Desert Rose, mas estava tão fascinada pelo espetáculo criado por
homens e animais na arena que. se sentia quase grata por Mac tê-la
forçado a ser apenas uma espectadora. Os cavalos eram uma
novidade em seu mundo, mas já sabia que sentiria falta deles
quando tivesse de partir. E por mais que odiasse pensar nisso, sabia
que seu período no Desert Rose se aproximava do fim.
Mac suspeitava de cada movimento que fazia. Seus irmãos
estavam desconfiados e inquietos. Até o bebê emitia sua opinião
através de movimentos bruscos e pontapés inesperados, lembrando
que ela não poderia continuar adiando o momento de enfrentar a
família e o futuro. Quando retornasse ao rancho, explicaria a
Jéssica que não podia ficar e partiria no final da próxima semana.
Isto é, se as provocações de Mac não a levassem a partir antes
disso.
Livy entrou na arena conduzindo Khalahari e Khalid. A platéia
aplaudiu com entusiasmo, e o potro moveu a cabeça como se
quisesse provocar um reconhecimento ainda mais intenso.
— Olhe só para ele! — Hannah comentou rindo. — Khalid está
agindo como se tivesse certeza do campeonato. Deve ter sido
contaminado pelo espírito dos Coleman!
— Eles sempre vencem?
— Bem, sempre é um termo impreciso, mas eles têm mais
vitórias do que derrotas. Quando Alex, Cade ou Mac entram na
arena montando um dos animais do Desert Rose, é praticamente
impossível superá-los. Especialmente no torneio de trajes típicos.
Há algo de místico nos irmãos vestindo as roupas de seu país de
origem e cavalgando um árabe puro-sangue. Na primeira vez em que
vi Alex montando Jabbar, fiquei completamente apaixonada por ele.
Devia ter oito anos de idade. E claro que ele precisou de mais tempo
para se dar conta de que eu existia, mas finalmente Alex notou-me
e reconheceu em mim sua alma gêmea. — Hannah sorria com aquela
expressão iluminada que só o amor pode pôr no rosto de uma
mulher.
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Abbie sentiu uma rápida ponta de inveja por não poder viver
uma alegria tão completa e intensa, mas sufocou o sentimento e
sorriu para a nova amiga.
— Os irmãos Coleman são realmente impressionantes, e os
cavalos do Desert Rose são os mais lindos que já vi.
— É mais que isso — opinou Hannah. — Não consigo descrever a
imagem, mas garanto que gostaria de vê-la. Espere até esta tarde,
quando Mac entrar na arena!
Duas horas mais tarde, quando Mac entrou na arena, Abbie
compreendeu a razão de todo o fascínio de Hannah. Era como se não
existissem outros competidores. Não conseguia desviar os olhos do
conjunto harmonioso formado por cavalo e cavaleiro. O traje era
vermelho e esvoaçante, adornado por desenhos prateados que
deviam ter algum significado específico. O adorno de cabeça
realçava seus traços árabes, e só a linha firme da mandíbula
revelava a concentração e a força com que ele dominava o animal.
Era uma visão tão envolvente, tão deslumbrante, que mal conseguia
respirar.
— Ficou sem fôlego, não é? — riu Hannah. — Conheço a
sensação. É difícil lembrar que estamos vendo apenas um homem e
um cavalo.
Abbie suspirou e repetiu:
— Sim... apenas um homem e um cavalo.
CAPÍTULO VI
me, mas não sei o que rima com píer. Quer ir comigo?
Mac queria tirá-la da casa para acusá-la de alguma coisa.
Queria gritar e extravasar a frustração, ou chamá-la de nomes que
não seriam bem recebidos pela família. Sim, só podia ser isso. Há
três dias ele a tratava com gentileza e atenção, agindo como se
quisesse ser seu amigo. Ainda não sabia o que estava por trás da
transformação, mas tinha uma forte suspeita de que, o que quer que
fosse, não ia durar.
— É claro. — Abbie levantou-se do sofá. — Se vamos nadar, é
melhor ir buscar sua camisa de brim.
— Oh, não! Desta vez vai ter de providenciar seu maio.
O brilho em seus olhos era íntimo, como se ele a convidasse
para mais do que um simples passeio, como se quisesse encontrar
uma maneira de rimar píer e beijo.
— Não estou com vontade de nadar — ela disse. Depois virou-se
para sair.
— Caminhar faz bem. — Mac também deixou a sala de tevê e
vídeo onde vários membros da família e alguns empregados do
rancho se reuniam depois do jantar. — Gosto de andar um pouco
depois das refeições. E você?
— Gosto de andar, mas não consigo deixar de pensar que
Chapeuzinho Vermelho deve ter sentido algo muito parecido quando
encontrou o lobo no caminho da casa de sua avó. Mac riu.
— Acha que estou interessado em sua cesta de guloseimas?
— De certa forma... Acho que me atraiu até aqui para enfiar-
me em uma caixa de correspondência e despachar-me para
Timbuktu.
— Não... Eu teria de verificar o código de endereçamento
postal, e não quero perder uma noite tão linda com a cabeça metida
entre as páginas de um catálogo do correio.
— Tem razão, a noite está linda.
— Como você.
— Está dizendo isso para animar-me. Sei que estou gorda, sem
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sobre ele que teria levado anos para aprender. Como interpretar o
leve tremor em seus lábios como um sinal de controle determinado.
Também sabia que ele a desejava mais do que queria admitir, e que
recuaria, caso pedisse mais do que estava disposto ou preparado
para oferecer. O beijo era um teste, e por mais que pensasse,
Abbie não conseguia pensar em uma única maneira de passar por ele.
Mas de repente, como que por milagre, ela havia sido aprovada.
O beijo fragmentou-se em uma chuva de carinhos espalhados por
seu rosto, pelos olhos, pelo nariz e o queixo. Os braços a apertavam
com mais força, e o ar exalado pelos pulmões de Mac produzia o som
de um suspiro aliviado.
— Abbie... Não sei como isso vai funcionar, mas... -O telefone
tocou. Escondido no bolso traseiro da calça para gestantes, o
aparelho produziu um som abafado, porém inoportuno. Pensou em
desligá-lo. Talvez devesse simplesmente atirá-lo no lago. Mas, no
final, certa de que o momento já havia sido arruinado, esperou que
Mac se afastasse alguns passos para atender à ligação do irmão.
estou. Porque você viria para cá, causaria problemas, e não preciso
de sua ajuda nesse sentido! — Abbie tremia como uma árvore
batida pelo vento, e Mac virou-se para fitá-la sem se importar com
o fato de expor a própria curiosidade. — E claro que estou zangada!
Faço o melhor que posso para... para cuidar da... — Um soluço
anunciou que as lágrimas se aproximavam.
Quem quer que fosse Brad, já havia causado danos demais com
seu telefonema. Não permitiria que ele a fizesse chorar. E se a
tensão coincidisse com uma daquelas alterações de humor causada
pelos hormônios? Seria terrível!
Mac deu dois passos na direção de Abbie. Com uma das mãos
segurou seu braço. Com a outra, arrancou o telefone de sua mão e
levou-o à orelha.
— Escute aqui, Brad — começou, ignorando o grito horrorizado.
— Você perturbou Abbie, e no estado em que ela está, pode
começar a chorar e nunca mais parar.
Sufocando um grito desesperado, ela tentou recuperar o
aparelho, mas Mac frustrou sua tentativa. Estava se esforçando
para protegê-la de um canalha insensível!
— Abbie não quer mais falar com você neste momento. Sendo
assim, vou desligar o aparelho, e ela poderá ligar de volta se e
quando quiser.
Houve uma longa pausa. Depois uma voz masculina e apreensiva
indagou:
— Quem está falando?
Não tinha motivos para esconder-se.
— Mac Coleman. — Ele encerrou a ligação e desligou o telefone,
orgulhoso por ter pensado rápido e solucionado o problema antes
que se tornasse maior.
Olhou para Abbie esperando ver a gratidão em seu rosto, mas
tudo que viu foi o desânimo, a aflição e a derrota.
— Não devia ter feito isso, Mac.
— Não tente me convencer de que estava gostando da
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg
CAPÍTULO VII
— Tem razão — ele murmurou. — Mas não sei mais o que fazer
com você. Beijá-la parece ser a única alternativa.
— Eu... não creio que seja uma boa idéia.
— Prefere chorar?
— Não, mas...
— Está tremendo. Tem medo de mim?
Devia ter. Ele a magoara com suas suspeitas. Mesmo que
passasse a noite fazendo amor com Mac, nada mudaria. Quando o
novo dia chegasse, ele continuaria pensando o pior a seu respeito.
Mas como queria ficar... Como queria reencontrar a paixão em seus
braços e saciar a fome em seus beijos!
— Não, Mac — respondeu ofegante, colando o corpo ao dela em
uma rendição silenciosa. — Não tenho medo de você.
Ele beijou sua orelha para recompensá-la pela confissão
corajosa. Ou só para deixá-la louca de desejo. Um fogo intenso
incinerava sua capacidade de raciocínio, convencendo-a de que tudo
que importava era o que sentia naquele momento.
— E bom saber disso — Mac murmurou enquanto beijava seu
pescoço —, porque eu estou morrendo de medo de você.
Não sabia se ele dizia a verdade. Não tinha importância. Era
maravilhoso sentir as mãos dele em seu corpo novamente e reviver
sensações que só havia experimentado uma vez antes.
— Você é linda, Abbie. Quero beijá-la e tocá-la em todos os
lugares, quero fazer amor com você a noite toda, mas...
Não suportaria se ele a rejeitasse. Mac pretendia puni-la
privando-a de seus beijos, prometendo o paraíso para depois
abandoná-la no inferno, e isso era algo que tinha de impedir a
qualquer custo.
— Por favor — sussurrou, oferecendo os lábios como uma flor
oferece suas pétalas para o sol da manhã. — Faça amor comigo.
Ele a beijou, e o resto do mundo deixou de existir. Aquilo era
tudo de que precisava. Mac. Aceitaria tudo que ele tivesse para
oferecer e pagaria o preço por aquela segunda noite de perfeição.
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg
estava ali para enganá-lo, mas para amá-lo, para ser desejável e
sedutora em seus braços. Talvez não tivesse certeza de seus
motivos, e certamente não se sentia pronto para dar o grande passo
e assumir a paternidade de seu bebê. Talvez nunca estivesse, mas
seu coração já havia decidido que mereciam uma segunda chance.
CAPÍTULO VIII
telefone.
— Meus irmãos estão aqui — disse, certa de que mataria a
amiga de curiosidade, caso adiasse aquela conversa por mais tempo.
— Ainda quer ser apresentada ao quarteto? Pode escolher o que
preferir, e ainda terá um desconto se levar mais de um.
Jessie conseguiu rir, apesar da agitação provocada pela
discussão com Nick.
— Já conheci seus irmãos. São grandes, atraentes e doces, e
vieram para cá correndo por pensarem que a irmãzinha precisava de
ajuda.
— Agora eles só estão preocupados com o casamento da
irmãzinha.
— Eu soube. Seus irmãos vão ficar na casa de hóspedes até a
cerimônia. Mamãe fez questão de convidá-los. Acha que seus pais
também virão?
Abbie suspirou, desanimada com as perspectivas para o futuro
próximo.
— Espero que não. Disse a Quinn que quero telefonar e explicar
a eles tudo que aconteceu. Se meus irmãos permitirem que eu cuide
pelo menos desse aspecto da questão, talvez possa impedi-los de
fazer uma viagem desnecessária.
— Eu não contaria com isso. Se não me engano, mamãe já se
ofereceu para telefonar e convidar seus pais para se hospedarem
no rancho. E se bem a conheço, ela já deve ter telefonado e
verificado quais são suas preferências para o café-da-manhã.
Abbie apreciava a hospitalidade generosa dos Coleman, mas
preferia que eles não fossem tão simpáticos com sua família.
— Preciso resolver tudo isso de algum jeito.
— Não quer ensaiar comigo?
Abbie suspirou. Sabia que teria de começar por algum lugar.
Ofereceria um relato breve e vago e guardaria os detalhes para
mais tarde, quando tivesse esclarecido todos os rumores que
circulavam entre os Coleman.
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg
CAPÍTULO IX
hábitos e cultura tão diferentes do dela. Não devia ter sido fácil,
por mais que ela houvesse amado o marido.
A garçonete chegou com os pedidos, um sanduíche de queijo e
chá gelado para Abbie e hambúrguer e refrigerante para Rose.
Assim que a moça se afastou, Rose confessou:
— Ainda não estou na América há tempo suficiente para ter
superado minha obsessão por hambúrgueres. Antes nem gostava
tanto deles, mas durante os anos que passei no sanatório, esse era o
único prato que desejava realmente comer. Naquela época, enquanto
suportava a tortura de dias tediosos e longas noites solitárias,
prometi a mim mesma que um dia comeria todos os hambúrgueres
que quisesse. Ainda não atingi meu ponto de saturação.
Abbie sorriu e sentiu-se à vontade para abordar um assunto
delicado.
— Jessie me contou um pouco sobre os anos que passou no
exílio. Ela disse que era mantida drogada durante todo o tempo. Por
que alguém faria tal coisa?
A expressão de Rose sofreu uma pequena alteração, mas foi o
suficiente para que Abbie compreendesse que ela ainda não havia
perdoado completamente as pessoas que roubaram anos preciosos
de sua vida.
— Estou começando a encontrar algumas respostas através da
correspondência que mantenho com o pai de Serena, o Rei Zakariyya
Al Farid de Balahar. Ele é um bom homem com muitos conselheiros
de confiança, e são essas pessoas que continuam buscando a
verdade em meu passado. Com o tempo, talvez consiga entender o
que aconteceu comigo.
Abbie sabia que não havia mais nada a dizer sobre o assunto e
sentiu que passaria a ser o centro da conversa. Por mais que
gostasse de Rose, não estava preparada para fazer confidências.
Afinal, ela era a mãe de Mac. Por isso expressou a primeira idéia
que passou por sua cabeça.
— Não creio que pudesse ter feito o que fez — disse. — Não
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg
como seus irmãos, meu marido e meus filhos. Eles temem que o
objeto de seu amor se perca ou seja roubado, caso deixem de fazer
o que consideram ser seu dever. Por isso estão sempre tentando
controlar tudo, certos de que assim essa perda nunca acontecerá.
Alex e Cade já estão aprendendo que o verdadeiro amor é um ato
de equilíbrio. Mac continua lutando, mas também vai aprender a
abrir mão do controle e confiar no poder do amor. Não desista dele,
Abbie.
Era melhor ser honesta.
— Apesar do que Mac disse esta manhã, Rose, não vou me casar
com ele.
Ela assentiu e fez a troca do refrigerante pelo hambúrguer.
— Respeito sua decisão, seja ela qual for. Mas, pelo bem de
meu neto e pela felicidade de meu filho, espero que mude de idéia.
Acredito que Mac a ama, apesar de ainda ter medo. — Rose deu a
primeira mordida no sanduíche e sorriu com satisfação genuína. —
Ah, o gosto da liberdade! Adoro hambúrgueres! — Ela olhou pela
janela para o outro lado da rua. — Depois de comer, vou ter de
passar pelo correio e verificar se há alguma correspondência para
mim. Estou esperando uma carta que ainda não deve ter chegado,
mas já que estou aqui... Se quiser ir à loja vizinha da agência do
correio, irei encontrá-la lá assim que terminar de resolver esse
assunto.
— Combinado. — Era estranho que Rose Coleman tivesse de ir
ao correio verificar sua correspondência. Um carteiro entregava as
cartas no rancho seis dias por semana, e ela mesma separava todos
os envelopes diariamente. Por outro lado, Rose levara uma vida que
ela não conseguia sequer imaginar. Como poderia julgar estranhas ou
curiosas as atitudes de uma mulher que um dia abrira mão de tudo
que conhecia para casar-se com um príncipe do deserto? — Quero
agradecer mais uma vez por ter me convidado para almoçar.
— O prazer foi meu, Abbie. Pode acreditar...
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg
CAPÍTULO X
Seu casamento.
Mas era tarde demais para reconsiderar. Assumira a
responsabilidade por Abbie e pelo bebê. Não podia se levantar no
meio de todo aquele entusiasmo e anunciar que mudara de idéia, que
Abbie era uma mentirosa trapaceira que não seria capaz de
identificar o verdadeiro pai da criança em uma fila de candidatos.
Cade disse alguma coisa e Mac respondeu com um vago
movimento de cabeça, fingindo estar presente e atento. Também se
sentia cansado. Ver os irmãos de Abbie entrando no quarto naquela
manhã destruíra algo importante dentro dele; ficara tão zangado
com ele mesmo que não pudera pensar com clareza, e mais tarde
passara a questionar por que se permitira confiar em outra mulher.
Depois de Gillían, havia jurado que isso não voltaria a acontecer.
Mas então conhecera Abbie com seus sorrisos suaves, com seus
olhos luminosos e sua paixão ardente, e sua resolução fora posta à
prova. Como um completo idiota, se deixara envolver por ela. Não
uma, mas duas vezes. Sabia que fora tolo e ingênuo, mas na noite
anterior chegara a pensar que...
Não tinha importância o que havia pensado, a esperança que
deixara germinar em seu coração. A estratégia de Abby era muito
boa, e o ultraje diante da súbita aparição de seus irmãos fora
convincente demais para não ser parte de um plano ardiloso. Ela
fizera uma jogada de mestre, e em vez de pagar para ver e
desmascarar o blefe, aceitara a aposta e perdera.
Pois bem, que fosse assim. Nos próximos dias, sabia que ela
tentaria convencê-lo de que era contra a idéia do casamento, que
não o desejava e não se curvaria aos ditames dos irmãos, embora
esse houvesse sido seu objetivo desde o início. Se não se enganasse,
Abbie faria de tudo para fazê-lo acreditar que estava furiosa com a
interferência dos irmãos, mas não tinha forças para enfrentá-los.
Talvez a ouvisse, nem que fosse apenas para ver até aonde ela seria
capaz de ir em sua ânsia de subir ao altar.
Talvez estivesse esperando por ela. Talvez não. Talvez fosse
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg
Abbie não podia acreditar que era tão difícil conseguir cinco
minutos de privacidade com o homem com quem supostamente se
casaria dentro de cinco dias.
Quatro dias.
Três dias.
O tempo passava depressa ocupado por planejamentos e
compras, por preparativos e confrontos. Sempre que se dispunha a
conter a enxurrada de eventos, alguém a segurava pelos braços e a
obrigava a seguir em frente. O bebê se movimentava e protestava
contra a interminável seqüência de atividades. Quem poderia
imaginar que um casamento que nem ia acontecer consumiria tanta
energia? Ou seria programado sem a participação dos noivos?
Fosse por acidente ou intenção, e estava inclinada a acreditar
que tudo era um plano cuidadoso de seus irmãos, não conseguia ter
um momento de privacidade com Mac para falar sobre o que tinham
de discutir. Sempre que entrava em um aposento, ele parecia estar
saindo. Quando ia procurá-lo, era sempre seguida por um ou mais de
seus irmãos. Quando o encontrava, ele estava sempre com um ou
com os dois irmãos e não se mostrava interessado em trocar sua
companhia pela dela. Era como Mac tivesse quase tanta proteção
quanto ela.
Pronto. Havia dado um nome ao estranho sentimento. Era como
se ele precisasse de proteção, como se não quisesse ficar sozinho
com ela, como se não sentisse a necessidade de discutir qual seria o
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg
próximo passo. E isso era loucura. Sabia que Mac não queria o
casamento. E também não queria se casar com ele. Não daquela
maneira. Não pelas razões erradas. Não porque alguém havia
decidido que essa era a decisão correta a tomar. Não por falta de
opções.
Precisava conversar com Mac. Sozinha. E depressa, porque o
tempo estava passando.
Gillían na idéia de que não tem nenhum valor pessoal para uma
mulher, nada a oferecer se não um título real e bens materiais. Tem
medo de mim porque não consegue acreditar que eu poderia tê-lo
amado de verdade. Tem medo de mim porque, em algum recanto
escuro e secreto de seu coração, sabe que poderia ter me amado de
verdade.
O coração de Mac soluçou, mas continuou batendo. Ela estava
enganada. Só queria envolvê-lo com falsas promessas para, em uma
última tentativa desesperada, fazê-lo mudar de idéia.
— Desista, Abbie. Só existe um jeito de convencer-me de que
não é como Gillían: vá embora agora, esta noite, e não volte nunca
mais.
— Estarei na caminhonete às duas e meia. Assim teremos algum
tempo de vantagem antes que todos acordem. Só queria...
Mac também queria alguma coisa... mas não sabia o que era.
— Queria estar em outro lugar longe daqui — ela concluiu.
Depois afastou-se de cabeça erguida.
Cada passo de Abbie a levava para mais longe de seu alcance.
Para longe de sua vida.
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg
CAPÍTULO XI
— Como?
— Ela diz que sabe quem sou através do que sente quando estou
por perto.
— Mas...
— Sinto muito, Mac, mas, desta vez, estou do lado de Abbie.
Ela o ama de verdade, ou não teria partido.
— Abbie partiu porque não tinha outra alternativa.
— Ou é você quem não está dando uma escolha a si mesmo?
— Sabe de uma coisa, Cade? Tenho coisas mais importantes
para fazer além de ficar aqui ouvindo seus conselhos de psicólogo
amador.
— Ah, nesse ponto você tem razão! Estão todos reunidos na
cozinha esperando por uma explicação, Mac. Tente fingir que está
feliz antes de enfrentá-los, ou todos vão pensar que está tão
miserável quanto parece. Agora trate de ir resolver esse assunto,
porque nada é mais importante. — Cade afastou-se sem esperar por
uma resposta.
contrário...
— ...todos estarão aqui antes do amanhecer de um novo dia.
Tem razão, vamos ligar e informar que estamos a caminho de Las
Vegas para nos casarmos.
— Podemos casar em Vegas ou na floresta amazônica, se quiser,
mas eu prefiro me casar na igreja de Bridle diante das nossas
famílias. Isto é, se não se importar, é claro.
E por que se importaria? O casamento devia acontecer em
Bridle, no Texas, onde Mac se tornara o orgulhoso xeque que ela
havia conhecido, onde seus filhos cresceriam e seriam felizes.
— Tem razão, Mac. E como nossas famílias já planejaram todos
os detalhes do casamento, seria melhor se esse esforço não fosse
desperdiçado.
— Não prefere planejar o casamento sozinha? -Ela riu.
— É tarde demais para começar a pensar em detalhes. Dentro
de alguns meses estarei muito ocupada com o bebê, e não quero
desperdiçar minha energia cuidando do protocolo de uma cerimônia
de casamento. Prefiro reservar minhas forças para nossa lua-de-
mel na casa de hóspedes perto do lago.
— Agora você elaborou um plano perfeito, futura Sra. Coleman
El Jeved. Ou prefere ser chamada de Princesa Abigail?
— Guarde os títulos para nossa filha. Prefiro ser apenas a boa e
velha Abbie.
— Linda Abbie. Minha esposa forte e independente.
— Primeira e única! Insisto em seguir a tradição criada por seu
pai sobre não manter um harém.
— Se acha que vou ter tempo para outras mulheres, está
exagerando em suas expectativas. Sou apenas um homem comum,
apesar do título real e do sangue azul.
— E eu tenho planos para mantê-lo muito ocupado, meu príncipe.
— Mal posso esperar para começar naquele novo ramo de
atividades...
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg
FIM