INTRODUÇÃO MF Djeny
INTRODUÇÃO MF Djeny
INTRODUÇÃO MF Djeny
INTRODUÇÃO
Segundo Kay et al. (2004), nas orientações para águas recreativas seguras da Organização
Mundial de Saúde há duas abordagens centrais definidas como ferramentas de gestão: a primeira,
como ferramenta central, está relacionada ao conceito de classificação da praia, baseado na
avaliação da qualidade microbiológica e inspeção sanitária, que implica em uma avaliação dos
riscos a priori; a segunda, se baseia na previsão da má qualidade da água, para ajudar na
avaliação de risco em tempo real e proteção da saúde pública. Em diversas regiões costeiras tem-
se buscado a minimização dos riscos à saúde humana associados às más condições de qualidade
microbiológica das águas através de melhores métodos de monitoramento e gestão. Novas
metodologias para deteção rápida de indicadores de contaminação fecal vêm sendo utilizadas
com o intuito aprimorar esse monitoramento, como apresentado nos trabalhos de Wade et al.
(2010) e Boehm et al. (2015). Entretanto por serem mais onerosas ainda não estão muito
difundidas na gestão balnear de praias em países em desenvolvimento. Além destas
metodologias, outra ferramenta importante para auxiliar na gestão da qualidade das águas
balneares são os modelos determinísticos preditivos. Estes são baseados em representações
matemáticas dos processos que afetam a densidade das bactérias indicadoras de
contaminação fecal, de modo a prever as condições em que os limites de qualidade da água
balnear são ultrapassados. Eles incluem desde técnicas mais simples até técnicas mais
complexas de modelagem (USEPA, 2010).
A gestão das águas balneares tem como objetivos a proteção da saúde humana e a
preservação, proteção e melhoria da qualidade do ambiente.
A classifição deve ser feita anualmente com base nos resultados da monitorização da
água durante um período de tempo de, no mínimo, 4 anos ou com recurso a 16 amostras.
As atividades recreativas que utilizam a água como base, como as águas balneares,
constituem potenciais vias de infeção que podem provocar surtos, originando assim um grave
problema para a saúde pública (EEA, 2018a; Brondani, 2015). A contaminação fecal das
águas tem origem em diversas fontes, contudo são os esgotos que mais contribuem para a sua
contaminação (Owa, 2014). A contaminação com origem nos esgotos resulta das descargas
de águas insuficientemente tratadas, do transbordo do esgoto ou das águas pluviais (EEA,
2018a; EEA, 2016a). As águas pluviais são águas resultantes da precipitação que entram no
sistema de esgotos. Quando em excesso, escorrem à superfície ou fluem para os sistemas de
esgotos combinados ou sistemas de águas pluviais, onde são encaminhadas posteriormente
para uma Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) ou são descarregadas
diretamente no meio recetor. Devido ao volume de água, à intensidade do escoamento e à
De acordo com o artigo 1.º da Diretiva 2006/7/CE, de 15 de fevereiro de 2016, que define
o objetivo e âmbito de aplicação, o seu objetivo é, essencialmente, proteger a saúde pública,
através da preservação, proteção e melhoria da qualidade dos recursos hídricos e do
ambiente. A Diretiva das Águas Balneares baseia-se particularmente na contaminação
proveniente de microrganismos. Os recursos hídricos podem conter microrganismos, tais
como bactérias, vírus e protozoários. O contacto com a água contaminada pode suscitar a
ocorrência de infeções gastrointestinais, respiratórias, nos ouvidos, olhos, na cavidade nasal e
na pele (Milieu Consulting SPRL, 2019).
Para além destes parâmetros, que são utilizados para a monitorização das águas
balneares, podem ser considerados outros parâmetros caso seja justificado. De entre estes,
podem ser analisadas cianobactérias, quando é detetada a presença de florescência, tapete ou
espuma (DGS, 2017; Diário da República, 2009). A monitorização da tendência de
proliferação de macroalgas e/ou fitoplâncton marinho é também recomendada, assim como, a
deteção de outros parâmetros como resíduos de alcatrão, vidro, plástico, borracha, entre
outros (REA, 2019). A Salmonella, que apesar de não estar inserida na última legislação
relativa as águas balneares como um parâmetro obrigatório para a monitorização da água, é
aconselhada a sua análise para verificar se a água é recomendada para banhos (DGS, 2017).
Segundo o artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 135/2009, de 3 de junho, alterado pelo Decreto-
Lei n.º 113/2012, de 23 de maio, correspondente à monitorização de águas balneares, antes
do início da época balnear, a APA, I.P. define um calendário de amostragem para cada água
balnear. Este calendário deve ser cumprido no prazo máximo de quatro dias a contar da data
indicada no calendário.
No caso de águas balneares cuja época não ultrapasse as oito semanas ou estejam situadas
numa região sujeita a condicionantes geográficas especiais, são necessárias apenas três
amostras. As datas de recolha têm que ser distribuídas com regularidade ao longo da época
balnear, não devendo o intervalo entre elas ultrapassar um mês.
Com base nestes valores e de acordo com o número de análises realizadas ao longo da época
balnear, as águas balneares são classificadas em C (G), C (I), NC, Freq, NS ou INT de acordo
com os critérios:
C (G) – Conforme segundo os valores guias - Se 80% das análises efectuadas são
inferiores a G para os parâmetros bacteriológicos.
C (I) – Conforme segundo os valores imperativos - Se 95% das análises efectuadas
são inferiores a I para os parâmetros bacteriológicos e físicoquímicos.
NC – Não conforme - Se mais de 5% das análises efectuadas excedem I para os
parâmetros bacteriológicos e físico-químicos.
Freq – Se a frequência da amostragem mínima não é cumprida.
NS – Se não é recolhida nenhuma amostra no decorrer da época balnear.
INT – Se a prática de banhos for interdita.
2.6. Classificação da Qualidade das Águas Balneares
Se após o fim da época balnear e da avaliação da qualidade da água, a água balnear não
obtém uma das classificações apresentadas anteriormente, a água balnear fica “Sem
Classificação” (SNIRH, 2018). Conjuntamente com a classificação das águas balneares definida
pela legislação, existem diversos galardões que premiam as águas balneares que cumprem
requisitos específicos. O programa Bandeira Azul tem como base a educação para a
sustentabilidade dos recursos marinhos e lacustres e o incentivo a implementação de medidas e
comportamentos sustentáveis. É um galardão atribuído anualmente às praias, marinas e portos de
recreio ou de embarcações ecoturísticas que cumprem um conjunto de critérios na área da gestão
ambiental, informação e educação ambiental, qualidade da água balnear, serviços e segurança
(REA, 2019).
Análises quinzenais durante a época balnear, para as águas balneares que não
apresentem variações significativas de qualidade. No caso das águas balneares
terem revelado qualidade boa pelo menos nas duas épocas imediatamente
anteriores, a frequência pode ser mensal;
Quando se verifique variações sistemáticas de qualidade, a análise realizada passa
a ter uma frequência semanal.
Se uma zona, durante a época balnear, apresentar degradação da qualidade por uma
contaminação acidental, evidenciada por um ou mais resultados de classificação Má, esta será
temporariamente encerrada através da afixação no local de painéis, alertando para a inaptidão
temporária para banhos, até que a água em questão recupere a qualidade compatível com a
actividade balnear.
As zonas balneares litorais e interiores que nos últimos anos apresentaram má qualidade
devido a problemas de contaminação crónica de difícil ou demorada resolução, apresentam um
painel de "Água imprópria para banhos". Este painel permanecerá na zona balnear enquanto o
plano de acção estabelecido para a melhoria da qualidade das águas não estiver funcional.
Concluimos que para uma melhoria das condições das praias é necessário a
implementação de um sistema de previsão que era representar de maneira satisfatória os
principais processos que implicam na má qualidade da água das praias, podendo contribuir para a
gestão e tomada de decisão. A disseminação dos resultados vem ocorrendo de maneira
eficiente para os atores locais. Entretanto, para que os resultados possam ser incorporados nas
operações, aumentando a eficiência e segurança da informação, o sistema deve ser
continuamente validado e refinado, podendo consequentemente fornecer melhores e mais seguras
informações de saúde pública para a população.
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