CT Curso 4
CT Curso 4
CT Curso 4
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Rosane de Almeida Tierno
REGISTRO DA REURB
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Copyright © 2021 - Acesso à Terra Urbanizada by Programa de Desenvolvimento de Conteúdo Técnico e Capacitação
EAD Sobre Regularização Fundiária Urbana (MAPA)
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Presidente da República
Jair Messias Bolsonaro
Chefe de Gabinete
Rhaiana Bandeira Santana
Coordenador
Almir Mariano de Sousa Junior
Vice Coordenadora
Luciana Dantas Mafra
Título
Registro da REURB
Editores Técnicos
Almir Mariano de Sousa Junior
Luciana Dantas Mafra
Capa
João Vitor Alencar Rosa Ataíde
Diagramação
Cícero de França Neto, Francisco Caio Bezerra de Queiroz, Hugo Leonardo Pontes Nunes, João de Campos Lima Neto,
Larissa Oliveira Vargas, Nina Vitória Cavalcante e Silva e Sara Fernandes Rocha
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Rosane de Almeida Tierno
REGISTRO DA REURB
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Realização
Universidade Federal Rural do Semi-Árido / Ministério da Educação
Secretaria Nacional de Habitação / Ministério do Desenvolvimento Regional
Reitora
Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira
Vice-Reitor
Roberto Vieira Pordeus
Coordenação Editorial
Mário Gaudêncio
Conselho Editorial
Mário Gaudêncio, Keina Cristina Santos Sousa e Silva, Rafael Castelo Guedes Martins, Rafael Rodolfo de Melo,
Fernanda Matias, Emanuel Kennedy Feitosa Lima, Rafael Lamera Giesta Cabral, Franselma Fernandes de Figueiredo,
Antonio Diego Silva Farias, Luís Cesar de Aquino Lemos Filho e Pedro Fernandes de Oliveira Neto
Comitê Científico
José Cristiano Rilling da Nova Cruz, Marta Wendel Abramo, Mirna Quinderé Belmino Chaves, Luiz Felipe Monteiro
Seixas
Revisão Linguística
Cibele Naidhig de Souza
67 p. : il.
E-ISBN:
ISBN:
[2021]
Todos os direitos desta edição reservados ao Núcleo de Pesquisa e Extensão Acesso à Terra Urbanizada / Ministério do
Desenvolvimento Regional / Editora Universitária da UFERSA (EdUFERSA) Rua Francisco Mota, 572 – Bairro Pres. Costa
e Silva, Mossoró - RN, 59625-900 | +55 (84) 3317-8267 | edufersa.ufersa.edu.br | livraria.edu.br E-mail:
edufersa@ufersa.edu.br | mapa.terraurbanizada@ufersa.edu.br |www.terraurbanizada.com
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Nossos cadernos técnicos possuem conteúdo interativo. Isto quer dizer, que ao longo da leitura, você
será direcionado a aprofundar o conhecimento sobre regularização fundiária, em diferentes locais.
Clicando nos links e QR Codes que aparecem ao longo do caderno técnico, você encontrará videoaulas
sobre temas específicos, legislação na íntegra, dicas e informações atualizadas. Acesse as diferentes
opções que são oferecidas nesta leitura, e usufrua o melhor do universo virtual. Para facilitar seu acesso
a todas as plataformas, fique atento as informações abaixo:
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É com muita satisfação que o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e a Universidade
Federal Rural do Semiárido (Ufersa) passam a oferecer, de forma on-line e gratuita, o Curso sobre
Regularização Fundiária Urbana. Nosso objetivo é capacitar os agentes públicos e privados que atuam
nessa área, que agora ganha ainda mais importância. Regulamentado em janeiro de 2021, o Programa
Casa Verde e Amarela tem a regularização fundiária como um de seus principais pilares, junto ao
financiamento e à melhoria habitacional.
A regularização fundiária vai enfrentar um problema histórico no País e dar o título que garante o
direito real sobre o lote das famílias, oferecendo segurança jurídica, a redução dos conflitos fundiários, a
ampliação do acesso ao crédito, o estímulo à formalização de empresas e o aumento do patrimônio
imobiliário do País
O curso que estamos lançando, todo a distância, busca unir conhecimentos teóricos sobre a
legislação atual aos principais desafios práticos enfrentados durante os processos de regularização
fundiária. Queremos trazer conhecimentos e ferramentas aderentes às diversas realidades e formas em
que a necessidade de regulamentação fundiária se apresenta.
Ao mesmo tempo, o curso também se propõe a apresentar instrumentos de planejamento urbano
que podem auxiliar no sucesso das ações de regularização fundiária. Também queremos promover a
troca de experiências entre os diversos profissionais envolvidos, além de mobilizar agentes, gestores
públicos e a sociedade civil para refletir e aprofundar seus conhecimentos sobre o tema.
Nós, do Ministério do Desenvolvimento Regional, acreditamos que, ao oferecer esse curso,
estamos contribuindo para potencializar os esforços locais, estimulando estados, municípios e cidadãos
na promoção da integração urbanística e social de seus territórios.
Convidamos todos a serem agentes dessa transformação!
Rogério Simonetti Marinho
Ministro do Desenvolvimento Regional - MDR
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O presente curso sobre Regularização Fundiária Urbana visa aprofundar conceitos e atualizar os
conhecimentos sobre regularização fundiária à luz da Lei nº 13.465, de 2017, fornecendo os meios
técnicos e os instrumentos para aprimorar a ação de todos os agentes envolvidos no processo, sejam
eles técnicos e especialistas de prefeituras ou governos estaduais, gestores públicos, funcionários de
cartórios de registro de imóveis ou demais agentes públicos e privados que atuam na área. Será também
um espaço para fomentar a troca de experiências entre profissionais de todo o país, sistematizar e
divulgar o arcabouço legal e normativo e o material teórico e prático cuidadosamente selecionado sobre
os temas e conhecimentos já adquiridos.
Sabemos que as situações de precariedade e irregularidade no processo de urbanização são uma
realidade na grande maioria dos municípios brasileiros e as consequências de vivermos em cidades
pouco ou nada planejadas são graves. Mesmo para quem não é especialista, é nítido que o acesso à
qualidade de vida urbana é desigual e que boa parte do território de nossas médias e grandes cidades é
ocupada por assentamentos informais, vilas, loteamentos clandestinos e favelas, áreas muito mais frágeis
ao assédio de todo tipo de mazelas sociais. São locais constituídos em espaços irregulares, vulneráveis
e inseguros onde vive boa parte da nossa população e em que os problemas se acentuam por causa da
falta de acesso aos serviços públicos básicos e da concentração excessiva de moradias, em desacordo
com os padrões sanitários, urbanísticos e arquitetônicos recomendados.
Pesquisa de Informações Básicas Municipais – MUNIC, de 2017, revela a presença de
assentamentos irregulares em 100% das cidades com mais de 500.000 habitantes e 97% das cidades
entre 100.000 e 500.000. Até mesmo nos municípios entre 10 e 20 mil habitantes, os assentamentos
informais aparecem em quase 70% do universo.
Ao longo das últimas décadas, o enfrentamento da questão da regularização do território urbano
tem sido promovido pelas esferas governamentais em maior ou menor escala e com maior ou menor
sucesso. Os aprimoramentos legislativos ao longo desses anos trouxeram alguns avanços ao simplificar
procedimentos e criar novos instrumentos, mas para que a atual legislação seja aplicada em toda sua
potencialidade, é preciso conhecer não apenas o texto da Lei nº 13.465, de 2017, mas ter uma
compreensão de como ela se relaciona com o restante arcabouço normativo, dos obstáculos para sua
implementação e de como ela pode operar na prática.
A regularização fundiária, entendida como um processo que abrange medidas jurídicas,
urbanísticas, ambientais e sociais, visa minimizar as vulnerabilidades de um território ocupado de forma
irregular e desordenada. Envolve, portanto, além do reconhecimento de direitos reais aos ocupantes,
ações de âmbitos diversos em um esforço que exige o envolvimento articulado e coordenado de esferas
de governo e da população. A tarefa, a par de exigir uma gama múltipla de conhecimentos técnicos,
envolve ampla variedade de agentes, que intervêm nas diversas etapas do processo de regularização
fundiária, tais como agentes e gestores públicos, Cartórios, técnicos e especialistas. A observação na
implementação de Programas com tal finalidade tem demonstrado que quanto mais preparados e
conhecedores de todo o processo e sua complexidade, maior será a chance de sucesso.
O Governo Federal entende que seu papel estratégico é oferecer ferramentas para o
fortalecimento das capacidades institucionais locais, uma vez que as principais atribuições no processo
de regularização fundiária urbana estão concentradas na esfera municipal. Disponibilizar solidariamente
meios e recursos
técnicos e financeiros, assim como mobilizar e sensibilizar o país para a necessidade de sua
implementação é uma das tarefas do Governo Federal.
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É nesse contexto que o MDR está oferecendo este Curso sobre Regularização Fundiária Urbana,
desenvolvido em parceria com a Universidade Federal Rural da Região do Semi-Árido (UFERSA) com o
objetivo de dotar os profissionais de diversas áreas dos conhecimentos e ferramentas técnicas mais
relevantes, destinadas a facilitar a compreensão do processo de regularização fundiária e superar os
principais obstáculos encontrados na sua implementação. O curso foi estruturado em módulos
independentes, que abordam temas gerais como procedimentos e instrumentos para regularização,
registro, arcabouço legal e normativo, cadastramento social de moradores e outros temas específicos
relacionados à regularização fundiária urbana.
Ao final do curso, o MDR pretende ver ampliada a capacidade dos agentes, públicos ou não, em
encaminhar solução para dois dos maiores problemas das modernas cidades brasileiras: a irregularidade
e a informalidade que caracterizam muitos dos nossos assentamentos e que privam seus moradores dos
mais básicos direitos de cidadania. Ao atingirmos este objetivo, estamos certos que estaremos dando um
passo importante na diminuição das desigualdades no território urbano.
Alfredo Eduardo dos Santos
Secretário Nacional de Habitação
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Conjunto Eldorado, Natal – RN
Foto: Acesso à Terra Urbanizada. Julho/2019
PARTE 1
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O presente módulo tratará do registro da regularização fundiária urbana (REURB) junto ao
Cartório de Registro de Imóveis competente. O cartório de registro de imóveis é ator fundamental no
procedimento da REURB, posto que as pesquisas fundiárias têm início na serventia imobiliária, e a
finalização do processo de REURB culmina com o registro da CRF e abertura de matrículas
individualizadas contendo o devido título registrado nas mesmas. Daí a importância de estudo do tema.
O plano de estudo desse módulo se inicia com análise da legislação aplicável ao exercício dos
cartórios, fiscalização e normatização; direitos reais; passando para os princípios que regem a atividade
registral. A partir desse ponto, partiremos para o estudo dos atos de registro e averbação, para as normas
ferais atinentes aos procedimentos de registro da regularização fundiária. Segue-se então para o estudo
do ato único de registro com destaque para a compreensão da listagem única dos ocupantes, que possui
um papel inovador na legislação aplicável.
A par das matérias elencadas acima, será objeto de abordagem no presente módulo, outrossim,
os seguintes temas: emolumentos do registro da Reurb; comprovação de pagamentos de tributos no
registro da Reurb-E; sanção pelo descumprimento da lei pelos registradores; Reurb em área inscrita no
INCRA como rural; notificações; registro de Reurb de condomínios informais; registro de conjunto
habitacional; dispensa de retificação prévia de registro; elementos formais das peças técnicas e
documentos da CRF, e exercício dos cartórios, fiscalização e normatização.
Os exercícios dos cartórios extrajudiciais estão previstos constitucionalmente, por meio do art.
236 da Constituição Federal, que determina:
Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter
privado, por delegação do Poder Público.
§ 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e
criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e
definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário.
§ 2º Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de
emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e
de registro.
§ 3º O ingresso na atividade notarial e de registro depende de
concurso público de provas e títulos, não se permitindo que qualquer
serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de
remoção, por mais de seis meses.
Trata-se, assim, de atividades jurídicas que são próprias do Estado, porém exercidas por
particulares mediante delegação. A sua delegação somente pode recair sobre pessoa natural, e não
sobre uma empresa. Para se tornar delegatária do poder público, tal pessoa natural há de ganhar
habilitação em concurso público de provas e títulos.
Assim, os oficiais registradores e tabeliães são profissionais do direito, dotados de fé pública, que
interpretam e aplicam as leis. As serventias extrajudiciais se compõem de um feixe de competências
públicas, embora exercidas em regime de delegação a pessoa privada.
As competências fazem das serventias uma instância de formalização de atos de criação,
preservação, modificação, transformação e extinção de direitos e obrigações.
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As atividades dos notários e registradores são Para acessar a lei na íntegra,
disciplinadas pela Lei nº 8.935 de 18 de novembro de leia o QRCode
1994, que regulamenta o art. 236 da Constituição
Federal.
São arrolados no art. 5º dessa lei os titulares
de serviços notariais e de registro:
I II III IV V VI VII
Oficiais de
Tabeliães e Oficiais de
Tabeliães de Oficiais de registro de
oficiais de registro civis Oficiais de
Tabeliães de protesto de registro de títulos e
registro de das pessoas registro de
notas títulos imóveis documentos e
contratos naturais e de distribuição
civis das
marítimos interdições e
pessoas
tutelas
jurídicas
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Compete aos registradores de imóveis, de títulos e documentos civis das pessoas jurídicas, civis
das pessoas naturais e de interdições e tutelas, a prática dos atos relacionados na legislação pertinente
aos registros públicos, de que são incumbidos, independentemente de prévia distribuição, mas sujeitos
os oficiais de registro de imóveis e civis das pessoas naturais às normas que definirem as circunscrições
geográficas (art. 12 da Lei nº 6015/1973).
Em continuidade, o §1º. do art. 236 da Constituição Federal informa que a lei “regulará as
atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus
prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário”. Assim, os serviços extrajudiciais
são fiscalizados pelo Tribunal de Justiça, por meio das Corregedorias Permanentes Locais, ou seja, sob
a fiscalização de um juiz corregedor permanente, tendo em vista a natureza pública do serviço. E, por se
tratar de serviço público, deve estar abrigado pelos princípios da Administração Pública (legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência). É nesse sentido que a Lei nº 8.935, de 18 de
novembro de 1994 determina sobre a matéria:
Art. 37. A fiscalização judiciária dos atos notariais e de registro,
mencionados nos artigos. 6º a 13, será exercida pelo juízo
competente, assim definido na órbita estadual e do Distrito Federal,
sempre que necessário, ou mediante representação de qualquer
interessado, quando da inobservância de obrigação legal por parte de
notário ou de oficial de registro, ou de seus prepostos.
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1.2 Provimentos e Regularização Fundiária
Hoje, no Brasil, apenas os estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia,
Maranhão, Piauí, Acre, Pará, Tocantins, Rondônia, São Paulo, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina, e
Rio Grande do Sul possuem normas especificadas e editadas pelos respectivos Tribunais de Justiça com
a especificidade da matéria de regularização fundiária urbana, conforme levantamento efetuado pela
UFERSA (Quadro 01):
Quadro 01: Provimentos de Regularização Fundiária
Para acessar os
Provimentos sobre
Regularização Fundiária, leia
ou clique no QRCode
abaixo:
Esclareça-se que a não existência de provimento ou outra norma emanada pelos respectivos
tribunais de justiça não impede o registro, contudo, nos estados onde existem essas normas, elas devem
ser observadas e mencionada para registro da regularização fundiária.
Especificamente sobre o sistema registral brasileiro, note-se que se encontra organizado pela Lei
Federal nº 6.015/1973, também conhecida como Lei de Registros Públicos, conforme art. 1º, § 1º, Inciso
IV:
Art. 1º Os serviços concernentes aos Registros Públicos,
estabelecidos pela legislação civil para autenticidade, segurança e
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eficácia dos atos jurídicos, ficam sujeitos ao regime estabelecido nesta
Lei.
§ 1º Os Registros referidos neste artigo são os seguintes:
[...]
IV - o registro de imóveis.
§ 2º Os demais registros reger-se-ão por leis próprias. (p.ex. protestos
e notas).
Os Direitos Reais definem-se como um conjunto de princípios e regras que disciplinam a relação
jurídica entre pessoas que tenha por objeto bens.
À luz do estabelecido pelo art. 1225 do Código Civil, confira a seguir o rol que compõe os direitos
reais:
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A importância do registro para o estudo do registro em Reurb funda-se, especialmente, no
disposto no art. 1.227 do Código Civil ao determinar que os DIREITOS REAIS somente são constituídos
ou transmitidos mediante o registro no cartório de registro de imóveis, como regra geral. Daí o bordão: SÓ
É DONO QUEM REGISTRA!
Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos
por atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de
Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os
casos expressos neste Código.
Portanto, é imprescindível o registro imobiliário nas atividades da Reurb, como será estudado
ao longo desse módulo.
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A atividade registral tem natureza de atividade pública, portanto, deve obedecer aos princípios
gerais da Administração Pública previstas no artigo 37 da Constituição Federal e também aos princípios
próprios da atividade registral, que serão devidamente abordados mais adiante. Os princípios gerais da
Administração Pública que devem ser atendidos pelo registrador são: legalidade do título ou qualificação
registral; princípio da impessoalidade; princípio da moralidade; princípio da publicidade; e princípio da
eficiência.
Oficial de
Legalidade
Registro
Seguir Observar
Formalidades Requisitos
Contudo, a atividade registral, como área do direito, deve estar submetida a princípios jurídicos
próprios. Esses princípios estão definidos na Lei de Registros Públicos (Lei Federal nº 6.015/1973). São
eles: princípio da inscrição; princípio da instância; princípio da unitariedade; princípio da legitimação
registral; princípio da especialidade objetiva; princípio da especialidade subjetiva; princípio da
continuidade; princípio da verdade ou realidade; e princípio da eficácia das vontades. Estudaremos a
seguir os princípios supra indicados.
O título apresentado para registro é examinado à luz das normas vigentes e é analisada sua
aptidão formal. Por esse princípio somente os títulos previstos em lei acessam o registro (art. 167, inciso
I). A Lei nº 13.465/2017, embora não traga alterações substanciais em relação à Lei nº 6.015/1973, inova
ao introduzir novos instrumentos, títulos aptos a registro: a Certidão de Regularização Fundiária (CRF) e
o projeto aprovado de regularização fundiária (art. 42 da Lei nº 13.465/2017).
Note-se que a Lei nº 13.465/17 admite também o registro, como título hábil à aquisição da
propriedade o registro dos seguintes títulos: os compromissos de compra e venda, as cessões e as
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promessas de cessão. O que é fundamental em se tratando de loteamentos irregulares que foram
comercializados por particulares ou ente público quando de sua implantação. Em regra, mesmo que a
Prefeitura viesse a regularizá-los, não haveria instrumentos legais que permitissem a transferência de
propriedade aos adquirentes, assim, o dispositivo do parágrafo único, do art. 52 da Lei nº 13.465/2017
veio a resolver tal entrave:
Art. 52.
Registrada a CRF, será aberta matrícula para cada uma das unidades
imobiliárias regularizadas. Parágrafo único. Para os atuais ocupantes
das unidades imobiliárias objeto da Reurb, os compromissos de
compra e venda, as cessões e as promessas de cessão valerão como
título hábil para a aquisição da propriedade, quando acompanhados
da prova de quitação das obrigações do adquirente, e serão
registrados nas matrículas das unidades imobiliárias correspondentes,
resultantes da regularização fundiária.
A Lei Nacional de Registros Públicos - Lei nº. 6015/1973 contempla o registro dos compromissos
de compra e venda, as cessões e as promessas de cessão, em seu art. 167, I, “9”.
Contudo, vale lembrar que o registro do termo de quitação não opera a transferência de
propriedade se não vier acompanhado dos títulos previstos no art. 167, I, “9”, conforme dispositivos
abaixo:
Art. 167 - No Registro de Imóveis, além da matrícula, serão feitos.
II - a averbação:
32. do termo de quitação de contrato de compromisso de compra e
venda registrado e do termo de quitação dos instrumentos públicos ou
privados oriundos da implantação de empreendimentos ou de
processo de regularização fundiária, firmado pelo empreendedor
proprietário de imóvel ou pelo promotor do empreendimento ou da
regularização fundiária objeto de loteamento, desmembramento,
condomínio de qualquer modalidade ou de regularização fundiária,
exclusivamente para fins de exoneração da sua responsabilidade
sobre tributos municipais incidentes sobre o imóvel perante o
Município, não implicando transferência de domínio ao
compromissário comprador ou ao beneficiário da regularização.
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O princípio da impessoalidade estabelece:
Saliente-se ainda, que o art. 30 da Lei nº 8.935/1994 estabelece os deveres éticos atribuídos
aos notários e registradores.
O princípio da publicidade exige a ampla divulgação dos atos praticados pela Administração
Pública. Na esfera administrativa, o sigilo só se admite a teor do art. 5°, XXXIII da Constituição Federal,
ou seja, na hipótese de imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. De acordo com o inciso
XXXIII, do art. 5°, da Constituição, "todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas àquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado". O princípio da Publicidade determina a obrigação de fornecer as informações solicitadas e as
certidões requeridas pelos interessados.
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Poderá recusar o fornecimento Se não houver clareza
de certidões do objeto solicitado
Sobre o tema nos esclarece Oliveira (2010, p. 14 apud REMÉDIO; AGUIAR, 2017, p. 14):
Outra modalidade de publicidade é a declarativa, que é imposta como
condição para oponibilidade perante terceiros, sendo então requisito
de eficácia erga omnes. A escritura pública, antes de registrada irradia
seus efeitos somente entre as partes, sendo condição sine qua non o
seu registro, e assim seus efeitos poderão atingir terceiros. É o mesmo
que acontece com a penhora devidamente averbada, cuja inscrição
gera a presunção absoluta de conhecimento por terceiros e, por
consequência, oponibilidade erga omnes (OLIVEIRA, 2010 p. 14). Por
fim, temos ainda a publicidade constitutiva, adotada no Brasil conforme
previsto no art. 1.245 do Código Civil de 2002, que é requisito
essencial para a transmissão da propriedade, ou seja, para a
existência e validade dos atos e negócios jurídicos.
O princípio da eficiência foi inserido como princípio da Administração Pública, no art. 37, da
Constituição Federal por meio da Emenda Constitucional n°. 19, de 04 de junho de 1998, que tratou da
reforma administrativa.
Assim, conforme Meirelles (1997, p. 90):
Dever de eficiência é o que se impõe a toda agente público de realizar
suas atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o
mais moderno princípio da função administrativa, que já não se
contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo
resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento
das necessidades da comunidade e de seus membros.
A Lei nº 8.935/1994 estabelece expressamente, no art. 30, Inciso II, o dever do registrador de
atender as partes com eficiência, urbanidade e presteza.
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3.1 Princípio da Inscrição
Segundo o princípio da instância somente o titular do direito registral tem a legitimidade para
solicitar alterações nos dados tabulares. O art. 13, incisos I, II e III da Lei nº 6015/1973 estabelece que
“salvo as anotações e as averbações obrigatórias, os atos do registro serão praticados”:
Contudo, a Lei nº 13.465/2017 amplia esse rol ao estabelecer no art. 14 uma lista de legitimados
para promover a Reurb, inclusive explicitando em seu parágrafo único, a aptidão dos entes listados para
também promover os atos de registro:
Observe quem pode requerer a Reurb:
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A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
diretamente ou por meio de entidades da Administração
Pública indireta
Os seus beneficiários, diretamente ou por meio de cooperativas
habitacionais, associações de moradores, fundações, organizações
sociais, da sociedade civil de interesse público
Os proprietários de imóveis ou de terrenos, loteadores ou
incorporadores
E o Ministério Público
É fundamental, assim, que o princípio da instância, no que diz respeito à Reurb, contemple todos
os legitimados do art. 14 da Lei nº 13.465/2017, além daqueles arrolados no art. 13 da Lei nº 6015/1973
(Lei Nacional de Registros Públicos).
De acordo com o princípio da unitariedade, cada imóvel deve ter matrícula própria, a cada imóvel
corresponde uma única matrícula. Assim, a unitariedade sempre foi um princípio basilar em matéria de
registro da regularização fundiária, desde a Lei nº 11. 977/2009, que instituiu o procedimento de
demarcação urbanística, prevendo como primeira etapa do procedimento a criação de uma matrícula
única, que tecnicamente é denominada de base fundiária, apta a recepcionar o registro da regularização
fundiária.
A lei inovou, na medida em que permitiu a criação de uma nova matrícula com mais de um titular
de domínio, inclusive nos casos em que parte da gleba, ou sua totalidade, não tinha proprietário
encontrado pelo fólio registral. Exige-se, portanto, uma base de dados geográficos capazes de
individualizar o imóvel, determinando o espaço terrestre por ele ocupado. A esse conjunto de
informações, que, em função do bem inscritível, são levadas ao registro, denomina-se fólio real.
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Figura 01: Planta de matrícula do conjunto habitacional
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A unitariedade passa a ser prestigiada também pela Lei nº 13.465/2017, na medida em que,
além de contemplar a demarcação urbanística (arts. 19 a 21), introduziu uma espécie de demarcação
embutida em ato único junto ao procedimento de registro da Reurb.
Art. 44. [...]
§ 2º Quando o núcleo urbano regularizado abranger mais de uma
matrícula, o oficial do registro de imóveis abrirá nova matrícula para a
área objeto de regularização, conforme previsto no inciso I do § 1º
deste artigo, destacando a área abrangida na matrícula de origem,
dispensada a apuração de remanescentes.
[...]
Art. 50. Nas matrículas abertas para cada parcela, deverão constar
dos campos referentes ao registro anterior e ao proprietário:
I - quando for possível, a identificação exata da origem da parcela
matriculada, por meio de planta de sobreposição do parcelamento com
os registros existentes, a matrícula anterior e o nome de seu
proprietário;
II - quando não for possível identificar a exata origem da parcela
matriculada, todas as matrículas anteriores atingidas pela Reurb e a
expressão “proprietário não identificado”, dispensando-se nesse caso
os requisitos dos itens 4 e 5 do inciso II do art. 167 da Lei nº 6.015, de
31 de dezembro de 1973.
O princípio da legitimação registral estabelece que os atos de registro são válidos enquanto não
for promovido o seu cancelamento (art. 252 da Lei nº 6015/1973).
Determina a individualização do imóvel por meio da descrição tabular. Por esse princípio, a
descrição deve dar conta de distinguir um imóvel de outro, permitindo a sua perfeita localização
geográfica. Segundo Afrânio de Carvalho (2001, p. 206), o princípio da espacialidade significa que toda
inscrição deve recair sobre um objeto precisamente individuado. Os requisitos da matrícula, são os dados
geográficos que se exigem para individuar o imóvel, isto é, para determinar o espaço terrestre por ele
ocupado. Isto está previsto no art. 176, §1º, inciso II da Lei nº 6015/1973. Observe abaixo como é feita a
identificação quando o imóvel é rural e quando ele é urbano:
Em caso de Em caso de
imóvel rural imóvel urbano
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Mais uma vez, tal como o tratamento da qualificação objetiva, as exigências da qualificação
subjetiva são mitigadas pela Lei nº 13.465/2017, ao diminuir consideravelmente os componentes desse
princípio, conforme se verifica das informações mínimas de qualificação constantes da listagem única
dos moradores, que deve ser levada a registro em se tratando de titulação por meio de legitimação
fundiária.
Art. 41. A Certidão de Regularização Fundiária (CRF) é o ato administrativo de
aprovação da regularização que deverá acompanhar o projeto aprovado e deverá
conter, no mínimo:
[...]
VI - a listagem com nomes dos ocupantes que houverem adquirido a respectiva unidade,
por título de legitimação fundiária ou mediante ato único de registro, bem como o
estado civil, a profissão, o número de inscrição no cadastro das pessoas físicas
do Ministério da Fazenda e do registro geral da cédula de identidade e a filiação.
ARTIGO
estiver poderá ser feito imóvel esteja
matriculado ou sem que o imóvel matriculado, não
registrado em a que se referir se fará o registro
nome do esteja que dependa da
outorgante, o matriculado, apresentação do
oficial exigirá a devendo a título anterior, a
prévia matrícula e matrícula fim de que se
o registro do mencionar preserve a
obrigatoriamente continuidade do
título anterior (...) ao número do
para manter a registro.
registro anterior.
continuidade do
registro.
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Art. 50. Nas matrículas abertas para cada parcela, deverão constar
dos campos referentes ao registro anterior e ao proprietário:
[...]
II - quando não for possível identificar a exata origem da parcela
matriculada, todas as matrículas anteriores atingidas pela Reurb e a
expressão “proprietário não identificado”, dispensando-se nesse caso
os requisitos dos itens 4 e 5 do inciso II do art. 167 da Lei nº 6.015, de
31 de dezembro de 1973.
O princípio da eficácia das vontades prevê que as partes envolvidas, desde que
consensualmente, podem alterar as informações tabulares de um imóvel. Mesmo com as alterações da
Lei nº 6.015/1973 (Lei de Registros Públicos), os procedimentos administrativos para retificação de
matrículas ainda permanecem como um dos principais dificultadores nas ações de regularização
fundiária. A superação dessas dificuldades só se dará na medida em que os princípios registrais passem
a ser aplicados em consonância com outros princípios igualmente previstos em lei.
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O registro imobiliário tem como função básica constituir o repositório fiel da propriedade imóvel
e dos atos e negócios jurídicos a ela referentes. O art. 172 da Lei nº 6.015/1973 (Lei de Registros
Públicos), dispõe que no Registro de Imóveis serão feitos, nos termos da própria lei, por meio de registro
ou averbação:
Art. 172:
O registro e averbação dos títulos ou atos constitutivos, declaratórios, translativos e extintivos de
direitos reais sobre imóveis reconhecidos em lei, inter vivos ou causa mortis quer para sua
constituição, transferência e extinção, quer para sua validade em relação a terceiros, quer para sua
disponibilidade.
A matrícula do imóvel, em
sentido amplo;
Os atos de registro, em
sentido estrito;
As averbações.
O sistema registral imobiliário utiliza alguns termos específicos, cuja definição, ainda que
simplificada, a seguir são identificadas:
Título – é o documento pelo qual se reconhece um direito, como por exemplo, cheque,
escritura, hipoteca, instrumento particular, título judicial (termo de legitimação de posse,
termo de legitimação fundiária, sentença de usucapião, sentença de desapropriação);
Página | 30
Contrato – é documento que expressa o negócio firmado entre duas pessoas
e que estabelece a vontade delas em comprar e vender, entregar e receber,
doar. O contrato estabelece direitos e deveres para as partes envolvidas;
pode se dar por escritura pública ou por instrumento particular;
O art. 167, da Lei Federal nº 6.015/1973, traz nos seus dois incisos os atos que são passíveis
de registro ou averbação. Apontaremos aqueles que são de interesse imediato ou específico nos
procedimentos de Reurb:
Observa-se que a Lei nº 13.465/2017 incluiu no rol citado acima, como título registrável, a
Certidão de Regularização Fundiária, e a legitimação fundiária, instituto esses, criados com a lei em
comento.
4.1 Averbação
São sujeitos a averbação os títulos cujos atos apenas alterem ou complementem um registro, e
são devidamente especificados os casos de averbação, conforme se depreende da leitura do art. 167,
inciso II, da Lei nº 6.015/1973, cujos principais dispositivos para o estudo em questão, elencamos abaixo:
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4) da mudança de denominação e de numeração dos prédios, da
edificação, da reconstrução, da demolição, do desmembramento e do
loteamento de imóveis;
[...]
6) dos atos pertinentes a unidades autônomas condominiais a que
alude a Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964, quando a
incorporação tiver sido formalizada anteriormente à vigência desta Lei;
[...]
11) das cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e
incomunicabilidade impostas a imóveis, bem como da constituição de
fideicomisso;
12) das decisões, recursos e seus efeitos, que tenham por objeto atos
ou títulos registrados ou averbados;
13) "ex offício", dos nomes dos logradouros, decretados pelo poder
público.
[...]
15 - da rerratificação do contrato de mútuo com pacto adjeto de
hipoteca em favor de entidade integrante do Sistema Financeiro da
Habitação, ainda que importando elevação da dívida, desde que
mantidas as mesmas partes e que inexista outra hipoteca registrada
em favor de terceiros.
[...]
18) da notificação para parcelamento, edificação ou utilização
compulsórios de imóvel urbano;
19) da extinção da concessão de uso especial para fins de moradia;
20) da extinção do direito de superfície do imóvel urbano.
[...]
22. da reserva legal;
23. da servidão ambiental;
24. do destaque de imóvel de gleba pública originária;
26. do auto de demarcação urbanística.
27. da extinção da legitimação de posse;
28. da extinção da concessão de uso especial para fins de moradia;
29. da extinção da concessão de direito real de uso;
[...]
31. da certidão de liberação de condições resolutivas dos títulos de
domínio resolúvel emitidos pelos órgãos fundiários federais na
Amazônia Legal;
32. do termo de quitação de contrato de compromisso de compra e
venda registrado e do termo de quitação dos instrumentos públicos ou
privados oriundos da implantação de empreendimentos ou de
processo de regularização fundiária, firmado pelo empreendedor
proprietário de imóvel ou pelo promotor do empreendimento ou da
regularização fundiária objeto de loteamento, desmembramento,
condomínio de qualquer modalidade ou de regularização fundiária,
exclusivamente para fins de exoneração da sua responsabilidade
sobre tributos municipais incidentes sobre o imóvel perante o
Município, não implicando transferência de domínio ao
compromissário comprador ou ao beneficiário da regularização.
Importante destacar, que a Lei nº 13.465/2017 incluiu as alíneas 31 e 32 acima, junto ao rol dos
atos averbáveis, com a finalidade sistêmica de integração normativa.
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Conjunto Eldorado, Natal – RN
Foto: Acesso à Terra Urbanizada. Julho/2019
PARTE 2
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Os art. 42 a 54 da Lei nº 13.465/2017 tratam dos procedimentos de registro da regularização,
que se inicia com o requerimento de registro da CRF e todos os seus componentes no cartório de registro
de imóveis da circunscrição competente. Após recebida a CRF, o oficial deverá:
ESTANDO TUDO
PRENOTÁ-LA CERTO, PRATICAR OS
ATOS DE REGISTRO
OU NOTA DEVOLUTIVA
AUTUÁ-LA
EM CASO DE RECUSA
INSTAURAR O E NO PRAZO DE 15
PROCEDIMENTO DIAS, EMITIR NOTA DE
REGISTRAL EXIGÊNCIAS
Nos casos de recusa, a nota devolutiva deverá ser fundamentada, da mesma forma que a nota
de exigências, hipótese que se admite quando houver exigências a serem satisfeitas, conforme se
depreende da leitura do art.42 da lei nº 13.465/2017:
Art. 42. O registro da CRF e do projeto de regularização fundiária
aprovado será requerido diretamente ao oficial do cartório de registro
de imóveis da situação do imóvel e será efetivado independentemente
de determinação judicial ou do Ministério Público.
Parágrafo único. Em caso de recusa do registro, o oficial do cartório
do registro de imóveis expedirá nota devolutiva fundamentada, na qual
indicará os motivos da recusa e formulará exigências nos termos desta
Lei.
Após cumpridas todas as exigências formuladas pelo oficial, serão efetuados os atos de
registros ínsitos à Reurb, a teor do art. 44, §1° da Lei nº 13.465/2017, que são:
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Abertura das
Abertura de nova
matrículas Registro dos
matrícula que se
individualizadas direitos reais nas
constituirá na base
para os lotes e matrículas abertas
fundiária
áreas públicas
[...]
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Figura 03: Planta de Matrícula individualizada destacada nos lotes do Conjunto Eldorado
Art. 50. Nas matrículas abertas para cada parcela, deverão constar
dos campos referentes ao registro anterior e ao proprietário:
I - quando for possível, a identificação exata da origem da parcela
matriculada, por meio de planta de sobreposição do parcelamento com
os registros existentes, a matrícula anterior e o nome de seu
proprietário;
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II - quando não for possível identificar a exata origem da parcela
matriculada, todas as matrículas anteriores atingidas pela Reurb e a
expressão “proprietário não identificado”, dispensando-se nesse caso
os requisitos dos itens 4 e 5 do inciso II do art. 167 da Lei nº 6.015, de
31 de dezembro de 1973.
É muito comum em loteamentos irregulares, originados de venda e compra de lotes sem projeto
aprovado ou registrado, a existência de “contratos particulares” tabulados entre o loteador e adquirente”.
Frequentemente esses contratos lastrearam a alteração do polo passivo do contribuinte do IPTU, o fato
é que a Lei nº 13.465/2017, por meio do parágrafo único do artigo 52, conferiu a possibilidade de registro
desses instrumentos, materializados como contratos de compra e venda, cessões e promessas de
cessão, tornando possível a transferência de propriedade para esses adquirentes quando
acompanhados da prova de quitação.
Art. 52. [...]
Esses instrumentos particulares, e respectiva quitação, deverão ser registrados nas matrículas
correspondentes. Resta saber qual descrição ou área de superfície prevalecerá em caso de divergências
entre a matrícula aberta e o instrumento particular. Nesses casos, decerto, deverá prevalecer a descrição
e a área de superfície informadas na matrícula aberta, porque a regularização fundiária é atividade
pública, e sob controle estatal, ao contrário dos instrumentos particulares, devendo assim, prevalecer o
princípio da verdade real, materializada pelo projeto de regularização fundiária realizado a partir de
medições in loco.
Nos termos do art. 53 da Lei nº 13.465/2017, com o registro da CRF, todas as áreas públicas
destinadas no projeto são automaticamente transferidas para o poder público municipal,
independentemente de doação pelo loteador.
Art. 53. Com o registro da CRF, serão incorporados automaticamente
ao patrimônio público as vias públicas, as áreas destinadas ao uso
comum do povo, os prédios públicos e os equipamentos urbanos, na
forma indicada no projeto de regularização fundiária aprovado.
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O art. 53 da Lei nº 13.465/2017 guarda inspiração do art. 22 da Lei Federal nº 6766/1979 que
estabelece:
Lei nº 6766/79:
Contudo, a abertura de matrículas das áreas públicas pode ser requerida antes mesmo do
registro da CRF, ou seja, da Reurb, isso porque, apesar de a Lei nº 13.465/2017 ser silente sobre o
tema, existe autorização legal para tanto expressa na Lei nº 6.766/1979.
Art. 22. [...]
Parágrafo único. Na hipótese de parcelamento do solo implantado e
não registrado, o Município poderá requerer, por meio da
apresentação de planta de parcelamento elaborada pelo loteador ou
aprovada pelo Município e de declaração de que o parcelamento se
encontra implantado, o registro das áreas destinadas a uso público,
que passarão dessa forma a integrar o seu domínio.
Nesse caso, o procedimento para abertura de matrículas de áreas públicas se encontra previsto
na Lei nº 6.015/1973, especificamente no art. 195-A.
Art. 195-A. O Município poderá solicitar ao cartório de registro de
imóveis competente a abertura de matrícula de parte ou da totalidade
de imóveis públicos oriundos de parcelamento do solo urbano
implantado, ainda que não inscrito ou registrado, por meio de
requerimento acompanhado dos seguintes documentos:
Planta e memorial descritivo do imóvel público a ser matriculado, dos quais constem a sua
01 descrição, com medidas perimetrais, área total, localização, confrontantes e coordenadas
preferencialmente georreferenciadas dos vértices definidores de seus limites;
Planta de parcelamento ou do imóvel público a ser registrado, assinada pelo loteador Páginaou
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No caso de unidades não edificadas que tenham sido comercializadas, a matrícula deverá ser
aberta e registrada em nome do adquirente, não importando a qualidade do título de comercialização.
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Conjunto Eldorado, Natal – RN
Foto: Acesso à Terra Urbanizada. Julho/2019
PARTE 3
Página | 42
O ato único de registro é uma das principais alterações nos procedimentos de regularização
fundiária. Sucintamente, consiste no registro do projeto de Reurb por meio da CRF, conjuntamente com
a constituição do direito real. O ato único de registro se encontra previsto no art. 221, § 3º da Lei nº
6.015/1973, cuja redação foi alterada pela Lei nº 13.465/2017.
Art. 221. [...]
[...]
Registro do Registro
Especialização Projeto de dos
1 da Gleba 2 3 Títulos
Regularização
Fundiária Individualizados
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Desse modo, os documentos a serem prenotados no cartório de registro de imóveis, devem
conter a descrição detalhada da gleba e dos lotes individualizados, por meio dos elementos gráficos e
técnicos devidamente aprovados pela municipalidade, e a identificação por meio de qualificação mínima
dos titulares dos direitos reais dos ocupantes. LEMBRANDO, OS DOCUMENTOS QUE COMPÕE A CRF
SÃO:
PROJETO DE
REGULARIZAÇÃO
FUNDIÁRIA APROVADO TERMO DE
COMPROMISSO
RELATIVO À SUA LISTAGEM DOS
EXECUÇÃO OCUPANTES DO
NÚCLEO URBANO
INFORMAL
REGULARIZADO
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Lei nº 13.465/2017 Decreto nº 9.310/2018
CONCEITO CRF
6.1.2 Segunda Abordagem à Listagem dos Ocupantes – Reurb-S Sobre Bem Público
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Lei nº 13.465/2017 Decreto nº 9.310/2018
Art. 17. Na Reurb-S promovida sobre bem Art. 10. Na Reurb-S, promovida sobre bem público, o
registro projeto de regularização fundiária e a constituição
público, o registro do projeto de regularização de direito real em nome dos beneficiários poderão ser
fundiária e a constituição de direito real em feitas em ato único, a critério do Poder Público
nome dos beneficiários poderão ser feitos em promovente.
ato único, a critério do ente público
promovente. § 1º Na hipótese a que se refere o caput, serão
encaminhados ao cartório de registro de imóveis o
Parágrafo único. Nos casos previstos no instrumento indicativo do direito real constituído, a
caput deste artigo, serão encaminhados ao listagem dos ocupantes que serão beneficiados pela
Reurb e as suas qualificações [...]
cartório o instrumento indicativo do direito real
constituído, a listagem dos ocupantes que § 6º Na Reurb-S promovida pela União, pelos Estados ou
serão beneficiados pela Reurb e respectivas pelo Distrito Federal em áreas de suas propriedades,
qualificações, com indicação das respectivas caberá a estes a definição do instrumento indicativo do
unidades, ficando dispensadas a direito real constituído e a listagem dos ocupantes a
apresentação de título cartorial individualizado serem beneficiados, que poderão ser encaminhados ao
cartório de registro de imóveis juntamente com a CRF ou
e as cópias da documentação referente à
em momento posterior, conforme previsto no § 5º.
qualificação de cada beneficiário.
Ao tratar do registro da legitimação fundiária (art. 23, § 5º. da Lei nº 13.465/2017 e art. 16, § 5º,
§ 6º e § 7º do Decreto nº 9.310/2018), as normas expressamente “dispensam” a apresentação do título
individualizado, permitindo a complementação posterior da listagem. Isso vale para Reurb-S e Reurb -E.
O §6º do art. 16 do Decreto nº 9.310/2018 chega a aludir, com redação redundante em relação
ao §5º, que a CRF será acompanhada exclusivamente pelo projeto de regularização fundiária
aprovado, a listagem dos ocupantes, com a sua qualificação, e a identificação das áreas
ocupadas; contudo, essa “exclusividade” não se encontra prevista na redação da Lei em sentido estrito,
portanto, de legalidade ambígua. Averigue o disposto no quadro comparativo abaixo:
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Lei nº 13.465/2017 Decreto nº 9.310/2018
Legitimação Fundiária
§ 5º Nos casos previstos neste artigo, o poder § 5º Na legitimação fundiária, o Poder Público
público encaminhará a CRF para registro encaminhará ao cartório de registro de imóveis,
imediato da aquisição de propriedade, para registro imediato da aquisição de
dispensados a apresentação de título propriedade, a CRF, dispensados a
individualizado e as cópias da documentação apresentação de título individualizado e as cópias
referente à qualificação do beneficiário, o projeto da documentação referente à qualificação do
de regularização fundiária aprovado, a listagem beneficiário, o projeto de regularização fundiária
dos ocupantes e sua devida qualificação e a aprovado [...]
identificação das áreas que ocupam. § 6º Para fins do disposto no §5º, a CRF será
acompanhada exclusivamente pelo projeto de
§ 6º Poderá o poder público atribuir domínio regularização fundiária aprovado, a listagem dos
adquirido por legitimação fundiária aos ocupantes, com a sua qualificação, e a
ocupantes que não tenham constado da listagem identificação das áreas ocupadas.
inicial, mediante cadastramento complementar,
§ 7º O Poder Público poderá atribuir domínio
sem prejuízo dos direitos de quem haja constado adquirido por legitimação fundiária aos
na listagem inicial. ocupantes que não tenham constado da listagem
inicial, por meio de cadastramento
complementar, sem prejuízo dos direitos de
quem tenha constado da listagem inicial.
A quarta menção à listagem dos ocupantes está inserida na definição da CRF, no art. 41 da Lei
n° 13.465/2017 e inciso VI do art. 38 do Decreto n° 9.310/2018. É informado, em ambos os documentos,
que a listagem dos ocupantes, em que se tratando de legitimação fundiária, é integrante dos documentos
mínimos que compõe a CRF, veja:
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Lei nº 13.465/2017 Decreto nº 9.310/2018
CRF
6.1.5 Quinta Abordagem à Listagem dos Ocupantes – Dispensa de Títulos para Registro de
Regularização Fundiária
A Lei de registros públicos (LRP) prevê no art. 221, incisos I a V, o rol de títulos aptos ao registro,
daí a importância da inclusão do §3º visando a expressamente, dispensar a apresentação desses títulos,
quando presentes as seguintes condições cumulativamente. Trata-se de:
1. registro de projeto de regularização fundiária;
2. constituição de direito real;
3. ente público promotor da regularização fundiária.
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Lei 6015/1973 - Lei de Registros Públicos
Note-se que o sentido impingido pela Lei Nacional de Registros Públicos, Lei nº 6.015/1973,
amplia o rol dos direitos reais aptos à registro mediante listagem dos ocupantes, posto que a Lei nº
13.465/2017 e o decreto nº 9.310/2018 preveem a dispensa do título somente em se tratando:
genericamente, de Reurb-S sobre bem público; de legitimação de posse e legitimação fundiária (Reurb-
S e Reurb-E).
Assim, pode-se inferir que a dispensa dos títulos individualizados é uma faculdade do ente
regularizador, que encontra guarida na legislação de regência, e pode ser útil na prática corrente da
regularização fundiária.
Página | 49
Contudo, as leis e seus regulamentos não obrigam expressamente a utilização da listagem
única, apenas a dispensam. Há casos específicos em que a apresentação da listagem pode não ser
eficiente aos atos praticados, como, por exemplo, núcleos regularizados por iniciativa e de propriedade
de sociedades de economia mista, tal como Companhias de Habitação (COHABs) e Companhias de
Desenvolvimento Habitacional Urbano em São Paulo (CDHU), em que ocorreram alienações anos antes
do evento da regularização fundiária. Muitas vezes, houve alienações sucessivas de unidades
habitacionais. Algumas vezes, com a anuência da empresa de economia mista; outras, sem essa
expressa anuência.
Nos casos das COHABs e CDHUs, seria tarefa impossível, ou até contrária aos regulamentos
internos da empresa, perquirir e informar por meio de listagem única o atual adquirente, morador ou não.
Há situações também, em que devido à dimensão e à complexidade do mosaico fundiário da área
regularizanda, é recomendável que, primeiramente, seja equacionado o registro da base fundiária e dos
projetos que compõem a CRF.
Deve-se ter em mira que a elaboração da listagem única importa em cuidadoso trabalho
multidisciplinar, mormente com participação obrigatória de sociólogos e assistentes sociais, seguido por
análise da documentação coletada em campo e respectivos dados, tanto por esses profissionais, como
também da área jurídica, em vista das diversidades das situações do estado cível de seus ocupantes.
Portanto, a preparação da listagem dos ocupantes é um trabalho de grande responsabilidade, que
demanda vultuosos recursos humanos e financeiros, daí a relevância da análise de sua obrigatoriedade
ou faculdade.
Embora o fornecimento da listagem de ocupantes se trate de faculdade do ente regularizador,
o Provimento 56/2019 da Corregedoria Geral de Justiça do Tribunal de Justiça de São Paulo, passou a
exigir tal listagem para todos os casos de Reurb, ampliando-se assim, o desiderato legal de referência:
Provimento 56/2019
[...]
274.5. Não serão aceitas CRF’s sem a listagem de ocupantes e sem
o reconhecimento de direito real sobre as unidades imobiliárias
derivadas da regularização.
A isenção dos emolumentos dos registros da Reurb -S está prevista expressamente no art. 13,
do §1º da Lei nº 13.465/2017, que informa que “serão isentos de custas e emolumentos, entre outros, os
seguintes atos registrais relacionados à Reurb-S”:
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I O primeiro registro da Reurb-S, o qual confere
direitos reais aos seus beneficiários;
Página | 51
Os dispositivos arrolados possibilitam a isenção de uma gama de atos registrários ínsitos aos
procedimentos da regularização fundiária, inclusive, todas as pesquisas cartoriais que devem ser
realizadas previamente ao registro, e que visam a balizar a elaboração dos elementos técnicos que serão
levados à aprovação e que compõem a CRF (Inciso VIII), do art. 13 da Lei nº 13.465/2017.
A regra geral, portanto, é a isenção de emolumentos em se tratando de Reurb-S e pagamento
efetivo dos respectivos emolumentos de todos os atos registrários relativos à Reurb-E, o que é
corroborado pelo §5º do mesmo art. 13, da Lei nº 13.465/2017.
§ 5º A classificação do interesse visa exclusivamente à identificação
dos responsáveis pela implantação ou adequação das obras de
infraestrutura essencial e ao reconhecimento do direito à gratuidade
das custas e emolumentos notariais e registrais em favor daqueles a
quem for atribuído o domínio das unidades imobiliárias regularizadas.
(grifos nossos)
O §2º do art. 13, da Lei nº 13.465/2017, veda, aos oficiais de registro, exigir a comprovação do
pagamento de tributos ou penalidades tributárias. Leia-se:
[...]
§ 2º Os atos de que trata este artigo independem da comprovação do
pagamento de tributos ou penalidades tributárias, sendo vedado ao
oficial de registro de imóveis exigir sua comprovação.
O art. 44 da Lei n° 13.465/2017, por sua vez, reafirma o teor do §2º do art. 13 da Lei n°
13.465/2017:
Art. 44 [...]
Art. 44
6.6 Notificações
As notificações aos confrontantes e titulares de domínio devem ser expedidas pelo município.
Essa é a regra geral. No entanto, nada obsta que o cartório proceda a essas notificações, quando o ente
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regularizador não for o município. Um exemplo seria a Reurb requerida pelo beneficiário, pela defensoria
pública, ou Ministério Público, além de outros entes legitimados.
Art. 44 [...]
§ 6º O oficial de registro fica dispensado de providenciar a notificação
dos titulares de domínio, dos confinantes e de terceiros eventualmente
interessados, uma vez cumprido esse rito pelo Município, conforme o
disposto no art. 31 desta Lei.
Na hipótese da área regularizanda ser superior à área de superfície da (s) matrícula (s) de
origem, ou vir a atingir outros imóveis lindeiros, o registrador notificará os confrontantes para a devida
ciência do processo administrativo, conforme procedimento abaixo: previsto na Lei nº 13.465/2017:
Art. 46.
Nas décadas de 1980 e 1990, foi muito comum a implantação de loteamentos irregulares cuja
titularidade de domínio caracteriza-se pela copropriedade dos donos dos lotes, em forma de fração ideal.
Figura 04: Loteamento com desenho Irregular
Essa forma de parcelamento do solo visava a burlar a Lei 6766/1979, que até o advento da Lei
n°. 9.785/1999 (que dentre outras, alterou a Lei n°. 6.766/1979), exigia, na atividade de parcelamento do
solo, a destinação de 30% de áreas públicas.
Página | 54
A alternativa dos empreendedores imobiliários, visando a lograrem a máxima capacidade de
venda da terra, sem que precisassem destinar áreas públicas, foi a simulação de venda de frações ideais,
mas que, na prática, se caracterizava como atividade irregular de parcelamento do solo, pois apesar de
cada coproprietário possuir uma fração ideal, na realidade, possuía lotes devidamente demarcados e
identificados.
Essa tipologia de irregularidade marcou, por exemplo, os parcelamentos de solo para fins de
implantação de chácaras de recreio. A fim de solucionar essa forma de irregularidade fundiária, foi criado
o seguinte dispositivo específico na Lei nº 13.465/2017:
Art. 45. Quando se tratar de imóvel sujeito a regime de condomínio
geral a ser dividido em lotes com indicação, na matrícula, da área
deferida a cada condômino, o Município poderá indicar, de forma
individual ou coletiva, as unidades imobiliárias correspondentes às
frações ideais registradas, sob sua exclusiva responsabilidade, para a
especialização das áreas registradas em comum.
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PROCESSO CG-2.588/2000 – CAPITAL -CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA
PARECER Nº 348/2001-E
Registro de Imóveis – Alienação de partes ideais quantificadas em metragem quadrada – Indícios
registrários de que se trata de expediente para irregular desmembramento do imóvel – Fraude à lei que
impede o registro – Situação evidenciada na verificação das certidões das matrículas, e que deve ser
necessariamente observada pelos tabeliães de notas, dada a irregularidade administrativa da lavratura de
instrumentos públicos cujo registro se mostra inviável – Necessidade da inclusão, em todos os
instrumentos públicos que envolvam a alienação de partes ideais que possam caracterizar fraude à lei de
parcelamento do solo, de advertência às partes quanto ao fato de que não está sendo transmitida a
propriedade de área certa e localizada – Alteração das Normas de Serviço da Corregedoria Geral de
Justiça.
[...]
Narra o Ministério Público, de maneira precisa e concisa, o modo como se pratica a fraude, com o
fracionamento do imóvel pelo loteador irregular, que “dá ao parcelamento a roupagem de condomínio
ordinário do Código Civil, denominando as parcelas do imóvel, nos instrumentos de compra e venda que
celebra com os adquirentes, de frações ideais, partes ideais, quotas sociais ou apenas quotas, quando,
de fato, cada uma dessas porções é na verdade um LOTE, com localização exata na gleba, conferindo
posse e domínio exclusivo ao adquirente, que até mesmo o escolheu a partir de visita feita ao local em
que está situado.”
Tais vendas são instrumentalizadas, no entanto, sem referência a metragem certa, numeração e
localização dos lotes, de forma a contornar a vedação administrativa expressa no item 151 do Capítulo XX
das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça, tendo sido objeto da lavratura de escrituras
públicas pelos tabeliães de notas, muitas das quais ingressam no registro imobiliário, o que lhes confere
a falsa aparência de legalidade e legitimidade.
[...]
RIBEIRO (2001, p. 367 a 383).
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Figura 05: Conjunto Habitacional Eldorado, Natal-RN, em 2019
Em regra, os conjuntos habitacionais são formados por condomínios. Nessa perspectiva, a lei é
silente se a CRF deve estar instruída pelos documentos de instituição e especificação de condomínio,
podendo ser objeto de normatização específica por meio de provimento da respectiva corregedoria geral
de registro. De qualquer forma, não há como ser produzido o registro de condomínios sem as informações
da instituição e especificação. Com efeito, o art. 48 da Lei nº 13 .465/2017 não possui maiores
especificações acerca da matéria:
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Art. 48. O registro da CRF produzirá efeito de instituição e
especificação de condomínio, quando for o caso, regido pelas
disposições legais específicas, hipótese em que fica facultada aos
condôminos a aprovação de convenção condominial.
[...]
Os padrões das peças técnicas e gráficas devem ser determinados pela municipalidade,
significando que não cabe ao registrador se imiscuir ou interferir nesses padrões técnicos, conforme
previsto no dispositivo abaixo da Lei nº 13.465/2017:
Art. 47. Os padrões dos memoriais descritivos, das plantas e das
demais representações gráficas, inclusive as escalas adotadas e
outros detalhes técnicos, seguirão as diretrizes estabelecidas pela
autoridade municipal ou distrital competente, as quais serão
consideradas atendidas com a emissão da CRF.
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Conforme analisado, o registro da REURB é etapa imprescindível ao procedimento de
regularização fundiária, vez que é o mesmo que finaliza todo o processo materializado na abertura de
matrícula individual e o registro dos títulos, que pode ser todos aqueles elencados nos módulos
anteriores.
Como pudemos notar, a além da Lei de REURB, Lei Federal nº 13.465/2017, o atendimento às
normas previstas Lei Nacional de Registros Públicos, Lei nº 6.015/73 é imprescindível. Além disso, se faz
essencial que logo do início do procedimento de REURB, seja identificado o Cartório de Registro de
Imóveis, ao qual pertence a circunscrição da área a ser regularizada, e assim travar estreitas tratativas
com o registrador em todas as etapas da regularização fundiária.
Decerto, o procedimento da REURB, para seu completo êxito e com o dispêndio de menor
tempo e recursos possíveis, prescinde de boa interação entre os atores internos e externos envolvidos
no processo, dentre eles, destacamos, sobre o prisma do presente Módulo, os legitimados da REURB, a
Administração Pública municipal, e o cartório de registro de imóveis.
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BRASIL. Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964. Dispõe sobre o condomínio em edificações e as
incorporações imobiliárias. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2020. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4591.htm. Acesso em: 16 de maio de 2020.
BRASIL. Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano e
dá outras Providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2020. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6766.htm. Acesso em: 16 de maio de 2020.
BRASIL. Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros públicos, e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l6015compilada.htm. Acesso em: 16 de maio de 2020.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso
em: 16 de maio de 2020.
BRASIL. Lei nº 13.465, de 11 de julho de 2017. Dispõe sobre a regularização fundiária rural e
urbana, sobre a liquidação de créditos concedidos aos assentados da reforma agrária e sobre a
regularização fundiária no âmbito da Amazônia Legal; institui mecanismos para aprimorar a
eficiência dos procedimentos de alienação de imóveis da União; altera as Leis n os 8.629, de 25 de
fevereiro de 1993 , 13.001, de 20 de junho de 2014 , 11.952, de 25 de junho de 2009, 13.340, de 28
de setembro de 2016, 8.666, de 21 de junho de 1993, 6.015, de 31 de dezembro de 1973, 12.512,
de 14 de outubro de 2011 , 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), 13.105, de 16 de março
de 2015 (Código de Processo Civil), 11.977, de 7 de julho de 2009, 9.514, de 20 de novembro de
1997, 11.124, de 16 de junho de 2005, 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 10.257, de 10 de julho
de 2001, 12.651, de 25 de maio de 2012, 13.240, de 30 de dezembro de 2015, 9.636, de 15 de
maio de 1998, 8.036, de 11 de maio de 1990, 13.139, de 26 de junho de 2015, 11.483, de 31 de
maio de 2007, e a 12.712, de 30 de agosto de 2012, a Medida Provisória nº 2.220, de 4 de
setembro de 2001, e os Decretos-Leis n º 2.398, de 21 de dezembro de 1987, 1.876, de 15 de julho
de 1981, 9.760, de 5 de setembro de 1946, e 3.365, de 21 de junho de 1941; revoga dispositivos da
Lei Complementar nº 76, de 6 de julho de 1993, e da Lei nº 13.347, de 10 de outubro de 2016; e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2020. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13465.htm. Acesso em: 16 de maio
de 2020.
BRASIL. Lei nº 11.977, de 07 de julho de 2009. Dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida
– PMCMV e a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas; altera o
Decreto-Lei no 3.365, de 21 de junho de 1941, as Leis nos 4.380, de 21 de agosto de 1964, 6.015,
de 31 de dezembro de 1973, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 10.257, de 10 de julho de 2001, e a
Medida Provisória no 2.197-43, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/lei/l11977.htm. Acesso em: 16 de maio de 2020.
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BRASIL. Lei nº 12.424, de 16 de junho de 2011. Altera a Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009, que
dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida - PMCMV e a regularização fundiária de
assentamentos localizados em áreas urbanas, as Leis nº 10.188, de 12 de fevereiro de 2001, 6.015,
de 31 de dezembro de 1973, 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 4.591, de 16 de dezembro de
1964, 8.212, de 24 de julho de
1991, e 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil; revoga dispositivos da Medida Provisória nº
2.197-43, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12424.htm.
Acesso em: 16 de maio de 2020.
BRASIL. Lei nº 8.935, de 18 de novembro de 1994. Regulamenta o art. 236 da Constituição Federal,
dispondo sobre serviços notariais e de registro (Lei dos cartórios). Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8935.htm. Acesso em: 16 de
maio de 2020.
MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo Brasileiro. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. 733 p.
MELLO, C.A.B. Curso de Direito Administrativo. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. 655 p.
PAIVA,J.P.L. Caravana Registral: regularização fundiária. Santo Ângelo, RS: [S.l. ], 2019. Slide 59.
SÃO PAULO (Estado).Tribunal de Justiça. Provimento nº 56. Atualiza o Tomo II das Normas de
Serviço da Corregedoria Geral da Justiça - Serviços Extrajudiciais de Notas e de Registro do Estado
de São Paulo. São Paulo, SP: Portal Extrajudicial do Tribunal de Justiça de São Paulo [2019].
Disponível em: https://www.extrajudicial.tjsp.jus.br/pexPtl/visualizarDetalhesPublicacao.
do?cdTipopublicacao=3&nuSeqpublicacao=262. Acesso em: 14 de maio de 2020.
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Rosane de Almeida Tierno é advogada, graduada
em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. Mestra em Urbanismo e pesquisadora
do Laboratório de Habitação e Assentamentos
Humanos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Sua
linha de pesquisa é: qualificação e Regularização
da Habitação de Interesse Social: cidade e meio
ambiente.
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O Núcleo de Pesquisa e Extensão Acesso à Terra Urbanizada é composto por diversos programas
e projetos em temáticas associadas ao planejamento e desenvolvimento territorial, tendo a
regularização fundiária urbana como um dos principais eixos de atuação desde o seu surgimento.
O Núcleo Acesso à Terra Urbanizada iniciou suas atividades em 2014, com o Programa Acesso à
Terra Urbanizada, uma parceria com o, à época, Ministério das Cidades, e a Universidade Federal
Rural do Semi-Árido (UFERSA), e foi responsável pelo o primeiro título proveniente de legitimação
fundiária, a partir da Medida Provisória 759/2016, que posteriormente foi convertida na Lei nº
13.465/2017.
Outras cooperações vêm sendo pactuadas ao longo do tempo entre o Núcleo e as diferentes
escalas públicas para execução de regularização fundiária urbana; plano diretor participativo;
sistemas e estratégias que colaborem para a promoção de cidades inteligentes; cadastro territorial
multifinalitário; elaboração de conteúdo técnico e capacitação à distância acerca de regularização
fundiária urbana; criação e disseminação de campanha de desenvolvimento urbano. Dentre os
principais parceiros está o Ministério do Desenvolvimento Regional, que financiou o curso de
Regularização Fundiária à distância, ofertado em 2021.
Destaca-se que o Núcleo Acesso à Terra Urbanizada, além de gerar produtos para cumprir com
as exigências dos convênios que integra, incentiva e colabora assiduamente para a pesquisa e
extensão, tendo publicado continuamente diversos livros, artigos em periódicos qualificados,
trabalhos em congressos nacionais e internacionais relacionados a diferentes áreas do
conhecimento.
Além disso, o Núcleo possui, em seus programas e projetos, equipes multidisciplinares de mestres,
doutores, profissionais e estudantes bolsistas que atuam de forma integrada, o que gera
contribuição, também, para a formação de recursos humanos especializados, para a
conscientização da população sobre a importância do ordenamento territorial, incluindo a
regularização fundiária, e para a instrumentalização de agentes promotores de políticas públicas.
Portanto, o Núcleo de Pesquisa e Extensão Acesso à Terra Urbanizada desempenha atividades
que visam promover o direito à moradia adequada e o direito à cidade por meio de suas ações e
enquanto universo da construção de conhecimento prático para a sociedade e para diferentes
entes públicos e privados.
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Especificações Gráfica:
Tamanho 170mmx244mm
Papel da capa Couchê 250
Papel miolo sulfite (Offset 75g)
Cor da capa, colorido frente e verso, sem orelha na capa
Cor do miolo colorido
Acabamento da capa laminação com brilho
Acabamento livro cola
Grampeado para caderno com mais de 60p
67 páginas
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O Caderno Técnico denominado Registro da Reurb é composto por três seções: parte I – sobre os
registros; parte II – sobre as normas; parte III – sobre os atos. Na seção I, é realizada uma introdução
aos registros públicos; são apresentados os princípios que devem ser atendidos pela atividade registral;
e expostas as definições e características de registro e averbação. Na seção II são enfatizadas as
normas gerais de procedimentos de registro da regularização fundiária urbana (matrículas
individualizadas; registros de títulos individualizados anteriores à Reurb; registro de áreas públicas;
unidades sem ocupação e não comercializadas – unidades não edificadas). Na seção III, o ato único de
registro da Reurb é detalhado (listagem dos ocupantes; emolumentos do registro da Reurb;
comprovação de pagamentos de tributos no registro da Reurb-e; sansão pelo descumprimento da lei
pelos registradores; Reurb em área inscrita no INCRA como rural; notificações; registro de Reurb em
condomínios informais; registro de conjunto habitacional; dispensa de retificação prévia de registro;
elementos formais das peças técnicas e documentos da CRF).
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