Ensino de Artes
Ensino de Artes
Ensino de Artes
Autora
Elisabeth Seraphim Prosser
2009
Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.iesde.com.br
© 2006 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor
dos direitos autorais.
ISBN: 85-7638-361-6
1. Artes. I. Título.
CDD 700.7
Referências..............................................................................................................................75
Anotações................................................................................................................................77
O arte-educador, assim como o professor de História da Arte, luta por uma modificação
do olhar dos seus alunos, no sentido de aguçá-lo para a crítica consciente, o que irá auxiliar os
educandos tanto na formação de seus valores quanto na sua prática cotidiana.
1
Luciana Paes
E
m que meio vivemos? O que temos à nossa volta? O que vemos? O que ou-
vimos? Que objetos usamos? Em que tipo de construção moramos, estuda-
mos, passeamos?
Estamos mergulhados em um mundo repleto de sonoridade, imagens, obje-
tos, construções, estímulos, solicitações, exigências.
Se nos detivermos um pouco nessas questões, poderemos perceber que por
trás do CD que ouvimos, da música cantada no rádio ou na televisão, da trilha so-
nora de um filme, ou mesmo dos efeitos sonoros de uma propaganda, há todo um
processo de criação, de interpretação vocal e instrumental e de tratamento dos
sons, realizado, na maior parte, por músicos ou por especialistas nas áreas téc-
nicas do fenômeno sonoro, nas quais também envolvem criatividade, julgamento
estético, sensibilidade e expressão.
Ao observarmos a imagem do outdoor, o cartaz que anuncia um evento, a
capa da revista, as ilustrações do livro infantil, a fotografia do jornal, a vinheta da Mestre em Educação pela
televisão, o grafite no muro, veremos que por trás deles estão muitas pessoas que se PUCPR, na linha de pesquisa
ocupam de várias formas da arte: da arte da palavra, do desenho, da pintura, da ani- Filosofia e História da Educa-
ção. Especialista em História
mação, da criação e fixação da imagem em movimento – todas preocupadas com a da Arte, Música. Professora de
comunicação de uma idéia por meio de símbolos, linhas, cores, movimento. História da Arte e Estética da
Escola e Música e Belas Artes
do Paraná (UNESPAR). Arte
Se levarmos em conta, ainda, as casas, as escolas, os prédios públicos, as Educadora. Autora de diver-
igrejas, o traçado urbanístico da nossa cidade, reconheceremos a presença do ar- sos livros e artigos publicados
no Brasil e no exterior.
quiteto, que calcula, conhece os materiais que usa quanto à sua função, durabili-
dade e adequação e além disso trabalha em uma dimensão não apenas técnica mas
também artística, pois a sua prática inclui a criatividade, a imaginação e elementos
1 Luciana Paes, 19 anos,
aluna do Curso Superior
de Gravura da Escola de Mú-
sica e Belas Artes do Paraná,
estéticos como beleza, harmonia, proporção, equilíbrio, adequação à paisagem. 2002.
Olhe para a cadeira na qual você senta, o carro em que anda, a xícara, o gar-
fo, a jarra, o aparelho de telefone, a geladeira. Todos eles, sem exceção, ao lado da
sua parte técnica e utilitária, envolvem também outros parâmetros na sua cons-
trução: a maioria foi idealizada por desenhistas industriais, que levam em conta o
arrojo das novas linhas, as tendências da moda, a preferência das cores por parte
dos usuários, a leveza e a plasticidade dos materiais, entre outros.
Mesmo a roupa e o sapato que você usa foram desenhados por alguém que
se preocupou com a maleabilidade do tecido ou do couro, com o estilo, com a
combinação das cores, com o sentido do corte, a expressividade das costuras.
Tudo isso, é claro, sem esquecer dos custos, da possibilidade da produção em série
e da facilidade da venda do produto em questão.
O livro que lemos, a poesia estampada na camiseta, as letras chinesas que
sabemos significar algo especial, o roteiro do filme que acabamos de assistir –
tudo isso são maneiras diferentes de externar o pensamento e as emoções.
Até mesmo as cédulas do nosso dinheiro, que manuseamos diariamente,
foram idealizadas e executadas por artistas plásticos de primeira linha e, se re-
pararmos bem, têm elementos de extremo bom gosto e sensibilidade. A arte está
presente até na estampa e no modelo dos lençóis com os quais nos cobrimos en-
quanto dormimos.
Enfim, podemos perceber que a arte participa de cada instante que viven-
ciamos.
diadora do aprendizado relativo tanto ao seu mundo interno, quanto externo. Isso
porque ao desenhar, pintar, dançar, representar, criar formas e fenômenos sono-
ros, na realidade a criança está elaborando o seu próprio universo afetivo-cogniti-
vo, que, por sua vez, recebe constantemente estímulos e informações do contexto
em que ela vive. Ao mesmo tempo, ela estabele relações entre o seu mundo pes-
soal e o meio que a rodeia, em um diálogo construtivo e ininterrupto, alcançando
novos patamares de percepção e, conseqüentemente, de ação.
Quando a criança desenha ou canta, por exemplo, ela está representando
algo que lhe chamou a atenção. Ou quando canta uma música de que gosta, a letra
lhe diz algo ou significa algo importante para ela. No momento da experiência ar-
tística, isto é, no decorrer da ação de desenhar ou cantar, ela está relacionando-se
com aquilo que para ela é significativo. Ao mesmo tempo, está elaborando novos
sentimentos e novas reflexões acerca desse mesmo assunto e, em um terceiro mo-
mento, estabelece um diálogo com a realidade que a cerca, pois a externalização
do sentimento ou do pensamento se dá em relação a algo ou a alguém. A experi-
ência artística completa-se, então, na interação da criança com o outro ou com o
meio. Nessa interação, a criança percebe, também, que pode agir sobre o meio,
modificando-o. A partir daí, todo esse processo se reinicia, cada vez em novo pa-
tamar de experiência.
Se nos perguntarmos quando devemos iniciar as atividades artísticas na
educação, vemos que a criança já as realiza desde que nasce: quando bem peque-
na, ouve a mãe falar ou cantar, dialoga e canta com ela com suas interjeições; com
poucos meses, já se movimenta ao ritmo da música; logo que consegue pegar um
lápis, rabisca o papel, a parede, os móveis...
A cada idade, a criança aprendendo inicialmente por observação e imita-
ção e, depois, também de maneira mais abstrata, desenvolve-se na sua capacidade
de exprimir, representar e reelaborar a realidade. Importa desafiá-la a ir cada vez
um pouco mais adiante – respeitando, porém, o seu ritmo, as suas capacidades e
limitações. Ela mesma irá superá-las no decorrer do processo educativo, que, na
verdade, dura a sua (a nossa) vida toda.
Metodologia Tradicional
Presente no Brasil desde a colonização, foi introduzida pelos jesuítas. É
aquela em que a herança cultural é passada de geração em geração na forma de
conteúdos, técnicas e concepções a serem memorizadas e acumuladas. O profes-
sor derrama informações sobre o aluno, que apenas repete o que ouviu, sem re-
fletir, sem questionar, sem relacionar essas informações com a realidade em que
vive. O professor ainda ensina a desenhar como o mundo adulto acha que a crian-
ça deve desenhar, ensinar a cantar aquilo e da maneira que o adulto quer que ela
cante. Não leva em conta as fases do desenvolvimento da criança, tampouco suas
necessidades, sua criatividade, sua curiosidade. O centro do processo educativo é
o professor, que conhece e transmite o seu conhecimento.
Metodologia Tecnicista
Surgido nos Estados Unidos depois da segunda guerra mundial (1939-1945),
com o objetivo de formar mão-de-obra especializada para determinadas funções
e profissões, foi a metodologia adotada nos tempos da ditadura militar no Brasil.
Sua implantação, cujo objetivo era a profissionalização, teve outra conseqüência:
a despolitização, pois enfatizava a técnica e não dava espaço para a reflexão e a
interação com o contexto.
Na Arte, essa tendência traduziu-se nos ensino das técnicas: como pintar,
como fazer música, como representar, que materiais usar, como dominar esses
materiais. As razões, as causas e os porquês de desenhar, cantar, dançar, assim ou
de outra maneira, não eram considerados. Nas artes visuais, as principais técnicas
eram desenho, carvão, aquarela, guache, óleo, desenho técnico e desenho indus-
trial. Na música, privilegiavam-se a música erudita e o folclore: a música popular
não era olhada com bons olhos pelo governo, pois veiculava canções de protesto,
com textos considerados subversivos. Nas artes cênicas, ensinavam-se mímica,
pantomima, circo, dança e teatro (de preferência apenas infantil ou romântico).
As peças encenadas eram vigiadas e censuradas, pois tinham, na maioria, enga-
jamento político.
De maneira geral, ensinavam-se às crianças as técnicas, sem estimulá-las à
reflexão sobre o que criavam ou exprimiam.
Metodologia Histórico-crítica
Na Europa, a Escola de Frankfurt (Adorno, Benjamin, Marcuse) e depois
Habermas já discorriam sobre essa nova maneira de encarar a realidade, desde as
décadas de 1920 e 30. No Brasil, com a repressão do período ditatorial (1964-85),
a metodologia histórico-crítica tomou força depois da volta à democracia. Presen-
te antes de 1964, seus principais pensadores foram perseguidos e exilados, inclu-
sive Paulo Freire. Depois de 1985, com a volta dos exilados, núcleos de irradiação
dessa visão do mundo passaram a existir em universidades dos principais centros
do Brasil e, gradativamente, espalharam-se.
A metodologia Histórico-crítica parte do princípio de que o homem é um
ser inserido em um meio específico e na própria história. Nesse contexto, exis-
te uma herança cultural, na qual ela se move, com a qual convive e com o qual
aprende ou não dependendo das oportunidades que lhe forem dadas. O indivíduo
é um ser social, não está isolado e, à medida que vivencia e apreende essa herança
cultural, passa a poder agir sobre o seu meio, tendo a oportunidade transformá-lo.
Normalmente, ao ser humano é negado compartilhar do conhecimento acumula-
do pelas gerações, é negada, também, a participação nos processos de mudança
da própria vida. Assim, educar é permitir que o oprimido deixe de sê-lo, mediante
o conhecimento.
Nesse contexto, o ensino da arte integra elementos das três metodologias ci-
tadas anteriormente, apesar de fazê-lo de forma diferente da original:
valoriza a herança cultural, não apenas como informação mas também como
objeto de reflexão e conhecimento de pensamentos e épocas distintas;
valoriza a arte como expressão psicológica, direcionando-a, porém, para
a conscientização das próprias capacidades e da possibilidade de intera-
ção com o outro meio;
valoriza o saber-fazer, isto é, o aprendizado das várias técnicas, não como
fim em si mesmas, mas como ferramentas, capacitando o educando a in-
teragir com o seu meio.
Porém, ao incluir esses elementos, a metodologia histórico-crítica os supe-
ra, abrangendo mais um, o principal: a capacidade de, por meio do conhecimento
e da análise da realidade, refletir e agir sobre ela, transformando-a.
Em síntese, essa pedagogia estimula o aluno a ler além das palavras; a ver e
não apenas a olhar; a ouvir e não apenas escutar.
E, para que o indivíduo possa realmente interferir e dirigir sua própria tra-
jetória, deverá, desde cedo, ser incentivado a observar criticamente o seu contex-
to, quer seja natural ou social. Nesse conjunto, estão várias manifestações da arte.
Algumas são usadas como apelo para a venda, outras como manipulação da von-
tade política, outras, ainda, como dominação etc.
Para poder ver e entender, é preciso conhecer. E aí está o papel da Arte na
escola: possibilitar que o educando leia o que é apenas sugerido, veja o que está
por trás da imagem, ouça o que não é sequer sussurrado. Permitir que ele vivencie
a arte em todas as suas dimensões é deixar que perceba os significados das mani-
festações artísticas (a serviço ou não de outros objetivos), podendo ser senhor da
sua própria história. Olhar criticamente é, portanto, libertar-se.
Fazer um passeio pela escola e pedir para cada criança procurar três novos elementos para a
lista (não contar para os outros alunos, pois os novos elementos somente serão compartilha-
dos em sala de aula). Se forem crianças alfabetizadas, elas poderão escrever listando os itens,
para lembrar deles depois.
Voltar à sala de aula, comentar e analisar os elementos novos, adicioná-los à lista.
Buscar os elementos comuns entre eles.
Refletir sobre os significados de alguns dos elementos encontrados, enfatizando a diferença en-
tre olhar e realmente enxergar, escutar e realmente ouvir, falar e realmente dizer alguma coisa.
Trabalhar a leitura dos significados, isto é, dos símbolos presentes.
O professor poderá propor jogos com os elementos encontrados.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. São Paulo: Moderna, 1996.
Paulo Freire
A sociedade e o ensino
D
iariamente, ouvem-se pelos corredores de escolas de ensino fundamental, médio e superior
professores comentando a falta de valores e de princípios com as quais são obrigados a con-
viver nas salas de aula. Os alunos retratam, mais e mais, a perda de rumo a que a sociedade
materialista, consumista, competitiva e preconceituosa em que vivemos os sujeitou.
Convivendo com essa realidade no seu círculo social e, principalmente, na mídia, nossas crianças
precisam ter, na escola, uma alternativa. Precisam de um espaço em que possam descobrir que a vida
consiste em muito mais do que aquilo que podem comprar ou ter. Necessitam de oportunidades para
perceber que há todo um universo rico e gratificante a ser explorado dentro de si mesmos e no outro.
Nesse sentido, tanto o fazer arte quanto o reconhecer e refletir sobre ela apontam para um cami-
nho de descobertas e vivências que ampliarão o universo sensitivo-cognitivo de cada criança. A Arte
possibilitará à criança, portanto, que conheça melhor a si mesma nas suas capacidades e limitações e
o seu contexto, com suas mensagens e símbolos. Ao compreender o que ocorre à sua volta, ela poderá
interagir com o entorno, tomar suas próprias decisões e até transformar esse entorno.
Para Vygotsky (1999),
a arte aparece como um fenômeno humano, que decorre da relação direta ou mediante do homem com um cosmo
físico, social e cultural, onde se constroem e se multiplicam variedades de facetas e nuanças que caracterizam o
homem como integrante desse cosmo.
Assim, a Arte aparece também como mediadora do conhecimento, pois ao observar o seu mun-
do e ao reelaborá-lo por meio da sua própria criatividade e imaginação a criança aprende a compre-
endê-lo e a relacionar-se com ele.
O papel do professor
Cabe ao professor, no entanto, explorar a prática da Arte no processo de
desenvolvimento da inteligência, do aprendizado e das relações humanas, tan-
to como atividade racional quanto como necessidade social. Também cabe a ele
utilizá-la como um recurso psicopedagógico, como um elemento enriquecedor do
currículo e como um instrumento de suporte do processo de ensino e aprendiza-
gem.
É ainda sua responsabilidade criar uma metodologia que transcenda a vi-
vência intelectual-cultural e que seja inserida no processo de desenvolvimento
integral da criança e do adolescente, como um ser completo. Um método ou uma
prática que não apenas “ensine a tocar, representar, recitar ou pintar”, mas que
oportunize a exploração dos infinitos vieses de transdisciplinaridade que a arte
possibilita, ao mesmo tempo que propicia ao educando a compreensão do seu uni-
verso interior e exterior.
Essa compreensão oportunizará ao aluno caminhar em direção a uma cada
vez maior qualidade de vida, que somente será possível se houver a formação bá-
sica e a vivência de conceitos éticos fundamentais. Então, haverá a oportunidade
para a experimentação de emoções gratificantes e que dão real valor à vida, tor-
nando o ato de viver uma experiência rica e prazerosa e possibilitando ao ser psi-
cológico a motivação necessária para continuar enfrentando as dificuldades com
que se depara a cada momento. Entre essas emoções, podem ser citadas: realiza-
ção pessoal, satisfação, prazer, equilíbrio, alegria, paz, compreensão, confiança,
reciprocidade, identificação com o outro e comunhão com o semelhante e com o
universo.
Se, como afirma Oliveira (1998) “a ética pode ser vista como meio de cons-
truir ações humanas pautadas pela tolerância, cujo significado se situa muito além
da mera condescendência, ou respeito para o diferente”, pode-se concluir que a
arte, por meio das vivências de conceitos éticos fundamentais que lhe são ine-
rentes, pode contribuir intensamente para a formação integral do homem e do
Reflexão
Na sala em penumbra e com as mesas e as cadeiras afastadas, ouvir uma música calma.
Pedir para que as crianças sentem-se no chão e fechem os olhos, imaginando uma paisagem
qualquer: seus cheiros, suas cores, as árvores, o céu, os sons...
Pedir que levantem-se e, ainda de olhos fechados e sem saírem do lugar, representem, com o
corpo, o balançar do vento em seus galhos, a energia da grande estrela Sol sobre a natureza,
a calma do lago, a fúria do mar...
Solicitar que imitem, com a voz, os ruídos que ouvem: o canto dos pássaros, o barulho do
vento, o ruído da moto, o trovão, a chuva, o vendaval, o enfraquecer do trovão, o distancia-
mento da moto, o acalmar do vento, o cessar a chuva, a volta do canto dos pássaros...
Dividir a turma em equipes: algumas representarão as árvores; outras, os pássaros; outras, o
trovão e a chuva; outras, a moto.
Representação da idéia com a exploração do espaço e do movimento.
Depois da atividade, todos deitam no chão para alguns minutos de silêncio.
Depois disso, sentam-se novamente em círculo, agora com as luzes acesas. Refletir sobre a
atividade, levando as crianças a perceberem componentes do processo e do resultado: o uso
do corpo, as suas possibilidades, a criação de uma história em grupo, na qual cada um é es-
sencial para a seqüência, a estrutura, a forma, a coerência... Refletir, também, sobre o papel
de cada criança no grupo e suas relações.
Peter Slade
T
odos nós somos seres criativos e temos dentro de nós um impulso que nos direciona para fazer
algo novo. É uma força que nos faz transformar os materiais ou as linguagens de que dispomos
em algo de que precisamos (uma ferramenta, um utensílio) ou em uma representação do que
pensamos, sentimos ou intuímos (um desenho, uma música, uma história).
Quando criamos uma ferramenta, chamamos esse processo de criação tecnológica ou científica.
Quando criamos a representação de uma idéia, uma elaboração do real com significados específicos,
chamamos de criação artística.
Um rabisco no papel, uma sonoridade diferente, um gesto para enfatizar uma expressão, um
batuque espontâneo: tudo isso é criação. Pode ser chamado de Arte e é uma modificação do nosso en-
torno e de nós mesmos, pois já não seremos mais os mesmos depois do que fizemos.
A criação acontece com a combinação dos meios, das linguagens, dos símbolos e significados
que escolhemos. E essa escolha já é individual por natureza. Por isso a criação acaba por ser única,
original. É absolutamente impossível que duas pessoas, por mais próximas que sejam, por mais que
vivam em um único tenham, façam uma mesma idéia. Mesmo que elas queiram copiar uma da outra,
sempre haverá diferença, mesmo que quase imperceptíveis.
Ao permitirmos que a criança exercite a sua criatividade fazendo desenhos, pintando, cantan-
do, dançando, representando, modelando, criando histórias, brincando com palavras, sonoridades ou
gestos, estamos estimulando-a a desenvolver sua capacidade de se expressar e, ao mesmo tempo, de
resolver sozinha os problemas que enfrentará no seu dia-a-dia.
Ao buscar os caminhos para representar os seus sentimentos, suas idéias ou impressões, ela
mesma estará percorrendo a trilha que vai do imaginar ao realizar. Nesse percurso, ela terá que tomar
decisões, fazer escolhas, avaliar o resultado da sua ação a cada passo do processo, adequando-o ao
seu objetivo final... Enfim, a criança fará vários julgamento e correções de rota até construir um pro-
duto que represente aquilo que a motivou.
Geralmente, a criação ocorre no seu próprio processo: tem-se um ponto de partida, uma idéia
difusa, que é elaborada e vai criando forma, ao mesmo tempo em que é traduzida em traços, cores,
sons, gestos, palavras. A criação é, portanto, um processo. Nele, além da escolha dos materiais, dos
símbolos e dos significados mencionados anteriormente, entra em jogo um outro tipo de julgamento:
o julgamento estético.
Essas idéias são baseadas nas palavras de Vygotsky (1990, p. 17), para quem
a imaginação cria “novos graus de combinações, mesclando primeiramente ele-
mentos reais [...] combinando depois imagens da fantasia [...] e assim sucessiva-
mente”. A criança, no seu processo de compreensão da vida e do mundo, vai
aprendendo frações da realidade a que está exposta e as reelabora no seu universo
conhecido. Esse seu universo está repleto de informações, muitas reais, muitas
fantasiosas, mas todas elas igualmente importantes e reais na criança. Na sua bus-
Descobrindo o eu e interagindo
com o mundo externo
Durante a atividade criativa, ao estabelecer um diálogo interior entre a sua
imaginação e o mundo real, a criança passa a conhecer mais a si mesma, o seu
entorno e o seu lugar nesse contexto.
A descoberta gradativa do eu, durante o processo do fazer arte, está intima-
mente ligada ao tempo em que a criança está absorta no seu agir, pois está abso-
lutamente concentrada na sua atividade. Durante esse percurso, a criança dialoga
consigo mesma e experimenta diversas emoções, tece considerações sobre o que
faz ou o que gostaria de estar conseguindo fazer, combina na sua psique idéias
e imagens, permitindo que elas mesmas interajam. Nessa caminhada, a criança
tem oportunidade de mergulhar profundamente em si mesma e no seu universo e
deixa virem à tona fatos, impressões, situações, sensações vividas e que podem,
então, ser trabalhadas espontaneamente.
Em relação ao seu mundo exterior, ela cria um desenho, modela uma peça,
representa um personagem, brinca com palavras ou sons. A sua criação material,
no caso a produção do seu trabalho, torna-se parte do meio em que ela vive. Essa
“obra de arte” ou esse produto artístico torna-se fonte de informação para alguém,
torna-se símbolo veiculando significados que serão lidos pelo outro, influencian-
do-o e portanto, transformando, a realidade.
Ao produzir, ao mesmo tempo em que se conscientiza do seu poder de in-
fluenciar o seu meio, a criança vai percebendo as limitações que lhe são impostas
pela natureza, pelo outro e pelo ambiente. Entre os sucessos e frustrações nessas
iniciativas, ela terá que lidar com suas próprias reações e com os resultados das
suas ações, o que, novamente, irá remetê-la ao autoconhecimento e à busca do seu
papel no meio.
Nessa contínua e ininterrupta trajetória de aprendizado da vida, a arte de-
sempenha um papel fundamental, pois permite que o diálogo tanto no interior da
criança quanto entre ela e o que está ao seu redor aconteça, possibilitando que ela
progressivamente, alcance, novos patamares de experiência de vida.
As artes visuais
(BRASIL, Ministério da Educação,2001, p. 85-89)
Introdução
As artes visuais expressam, comunicam e atribuem sentido às sensações, aos sentimentos,
aos pensamentos e à realidade por meio da organização de linhas, formas, pontos, volume, es-
paço, cor e luz na pintura, no desenho, na escultura, na gravura, na arquitetura, nos brinquedos,
bordados, entalhes etc. Podem ser tanto bidimensionais como tridimensionais. O movimento, o
equilíbrio, o ritmo, a harmonia, o contraste, a continuidade, a proximidade e a semelhança são
atributos da criação artística. A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, intuitivos, esté-
ticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter
significativo às artes visuais.
As artes visuais estão presentes no cotidiano da vida infantil. Ao rabiscar e desenhar no chão,
na areia e nos muros, ao utilizar materiais encontrados ao acaso (gravetos, pedras, carvão), ao
pintar objetos e até mesmo seu próprio corpo, a criança pode utilizar-se das artes visuais para ex-
pressar experiências sensíveis.
Tal como a música, as artes visuais são linguagens, portanto, uma das formas importantes de
expressão e comunicação humanas. [...]
Cores e formas
Material necessário: papel sulfite branco, cola, revistas velhas.
Individualmente, a criança escolherá figuras, as letras e os símbolos, que signifiquem algo
para ela e os recortará.
Criará com os recortes uma nova idéia, mensagem ou figura.
No grupo, a criança explicará no que pensou ao construir sua nova idéia, porque escolheu
essas figuras e não outras e o que quis realizar com essa combinação.
FERRAZ, Maria Heloísa C. T.; FUSARI, Maria Felisminda de Rezende e. Arte na Educação Esco-
lar. São Paulo: Cortez, 1993.
Luigi Pareyson
D esde que nascemos, estamos mergulhados em um contexto natural, social e cultural com o
qual convivemos, no qual nos movemos e com o qual estamos em um diálogo ininterrupto.
O mundo da natureza cerca-nos com o céu infinito, seus astros e com a terra fértil, sobre a qual
pisamos e construímos nossas casas. Nesse ambiente, convivemos com as plantas – de árvores fron-
dosas e flora minúscula e de todas as cores, frutos, sementes e raízes que nos servem de alimentos – os
animais – desde organismos microscópicos até os mamíferos maiores – e os minerais – que usamos
tanto para fabricar instrumentos e máquinas – ferro, aço –, quanto para enfeitar – cobre, ouro, pedras
preciosas.
O mundo social é aquele constituído pelas pessoas com as quais compartilhamos o tempo e o
espaço. Existem pessoas mais próximas e com quem dividimos o cotidiano (a família, os amigos, os
colegas, os professores) e círculos sociais concêntricos, cada vez mais amplos, que englobam desde a
comunidade do nosso bairro, da nossa escola, da nossa cidade, do nosso país, até a humanidade vista
como um todo. O mundo social é o dos relacionamentos entre os seres humanos.
O mundo cultural é formado pelas elaborações do homem no decorrer de toda a sua trajetória:
pelas maneiras como ele se relaciona com o ambiente e com as pessoas e pelos conhecimentos que
acumulou nesse percurso. Envolve as ciências, as letras, as artes, a tecnologia, os meios de produção,
as maneiras de pensar e agir, as tradições, a religião, os costumes, o saber, a filosofia, enfim, os resul-
tantes da interação do homem e com seu semelhante.
A percepção
De fato, vivemos em um contexto que integra a natureza, a sociedade e a cultura. E é esse con-
texto, com toda a sua diversidade e complexidade, que se apresenta a cada novo ser compreendido e
transformado por ele.
Desde bem pequena e de maneira constante, a criança, curiosa e interessada em tudo o que
ocorre à sua volta, recebe informações e imagens desse universo. Vygotsky escreve sobre a “percep-
ção de objetos reais” na vida da criança, mostrando que essa percepção ocorre desde o nascimento e
envolve não apenas as formas desses objetos. Mas, principalmente, os seus significados, o que é no
A elaboração
É pelo mundo interior da criança, com suas sensações, suas emoções, sua
intuição e sua razão que ela percebe e conhece progressivamente o mundo exte-
rior, apreendendo-o e organizando as informações recebidas. Do confronto entre
esses dois universos (o interno e o externo) surge um novo processo, o da reelabo-
ração da realidade. Trata-se das reações que se estabelecem na mente da criança,
nesse caminho de interação consigo mesma e com sua ambiência. Ela quer enten-
der, busca as relações entre fatos distintos, anseia por coerência.
A sua ação investigativa da vida, a revelação de novas realidades e a elabo-
ração de novos conceitos propiciam-lhe compreensão cada vez mais ampla do real
e permiti-lhe a construção de novos saberes. Assim, percebendo o seu entorno,
percebendo a si mesma e trabalhando no seu íntimo cada elemento novo, a criança
trilha patamares de experiência cada vez mais elevados. Esse processo dura a vida
toda, acompanhando-a por todas as fases da sua caminhada e velhice.
Cada pessoa, ainda que exposta aos mesmos fatos que outra, ao reelaborá-
los, chegará a resultados diferentes. Isso ocorre porque as relações entre fatos,
sentimentos, sensações, insights etc, que cada uma estabelece, depende também
de toda a sua experiência vivida anteriormente e do peso que cada experiência
teve. São tantos os itens diferenciadores envolvidos nesse processo de reelabora-
ção, que ele será invariavelmente individual e original.
O professor, nesse sentido, tem o encargo de ajudar o aluno a refletir sobre
o assunto ou sobre o fato percebido, para que o próprio aluno possa tecer uma teia
rica entre esse fato e as várias situações e informações da sua vivência. É o tecer
dessa teia que vai levá-lo em direção à construção de novos saberes sobre si mes-
mo, sobre o outro e sobre tudo que está a sua volta.
A expressão
Ao exprimir seus pensamentos, suas sensações e seus sentimentos, a crian-
ça (assim como o adulto) exterioriza a sua própria visão da realidade: suas impres-
sões, seus medos, suas alegrias, seus anseios, sua compreensão das coisas. Ela
busca maneiras de expressar, de comunicar, de tornar visível, audível e compre-
ensível a sua idéia ou aquilo que tem a mostrar. Ela busca materiais, instrumentos,
formas, maneiras de expressão para definir o que tem em mente.
Para isso, ela pode usar de vários meios: sons, palavras, gestos, movimen-
tos, linhas, cores, brincadeiras de faz-de-conta e jogos dramáticos, entre outros,
todos igualmente úteis e eficientes à comunicação da sua idéia. Ao fazer isso, ela
está utilizando de maneira criativa e inventiva as diversas linguagens artísticas.
Todas elas são formas de expressar o que pensa ou sente e podem ser tão mais
eloqüentes quanto forem intensas e densas as mensagens que elas estiverem vei-
culando.
A representação
Vimos que cada pessoa percebe faces diferentes de um mesmo aconteci-
mento, vê ângulos ou cores diversas de um mesmo objeto, entende coisas diferen-
tes ao ouvir o mesmo texto que a outra. Isso acontece porque a trajetória de cada
uma é absolutamente única e individual. O mesmo ocorre com o processo de en-
tendimento da informação nova: mesmo vendo cores e formas iguais em um certo
objeto, a elaboração interior faz percursos diversos em cada ser humano, condu-
zindo-o a perguntas, respostas, conclusões e resultados, por vezes até opostos.
Se cada indivíduo enxerga a realidade de maneira diversa, é natural que
cada um represente do seu ponto-de-vista e a partir dos seus referenciais. Ao re-
fletir sobre os diferentes modos de expressão possíveis, sobre as linguagens esco-
lhidas, os materiais, os símbolos usados e os significados, deparamo-nos com uma
diversidade tão imensa, que passamos a compreender a vida e as pessoas como
seres criativos e inventivos por natureza.
Transpondo isso para nossa sala de aula, percebemos que cada criança tem
um universo todo a exprimir e uma leitura de mundo completamente individual a
expor e a construir. Cabem a nós, professores, incentivar nossos alunos a buscarem
suas próprias leituras, expressões e opiniões. Notamos que as diferenças não ape-
nas entre o que eles produzem e representam devem ser valorizadas, mas também,
e especialmente, as diferenças entre eles mesmos: cada uma de suas necessidades,
sibilitará à criança enxergar aquilo que não é tão evidente ou claro, mas que está implícito nas solici-
tações e informações do seu dia-a-dia, bem como a expressar as sutilezas da sua visão de mundo e do
seu próprio eu, de maneira mais eficaz e comunicativa.
FERRAZ, M. Heloísa C. de T.; FUSARI, M. F. de Rezende e. Arte na Educação Escolar. São Paulo:
Cortez, 1993.
Luigi Pareyson
J
á vimos que, por intermédio da Arte, o ser humano, seja qual for sua idade, expressa seus pen-
samentos, suas emoções, sua visão do mundo. A Arte é um veículo de expressão da sua própria
elaboração da realidade. Na verdade, a Arte vai mais além, ela não exprime apenas o que a pes-
soa vê, o que ela pensa, mas o que ela realmente é: sua vitalidade, sua força, sua fraqueza, seus medos,
seus sonhos, suas vontades, suas dúvidas, seus conflitos, seu temperamento, seu caráter...
Luigi Pareyson (1984, p. 30), um grande pensador sobre a Arte, escreveu:
Certamente, a arte é expressão. Mas é necessário não esquecer que há um sentido em que todas as operações
humanas contêm a espiritualidade e a personalidade de quem toma a iniciativa de fazê-la e a ela se dedica com
empenho; por isso, toda a obra humana é como um retrato da pessoa que a realizou.
Ao exprimir-se, a pessoa mergulha no fundo de si mesma com intensidade e absorção tais, que
a concentração fica totalmente dirigida ao que está realizando. E durante o tempo em que ela está de-
sempenhando uma atividade física, ela não apenas exterioriza o que sente e pensa, mas os próprios
sentimentos e conceitos vão transformando-se. Pode-se afirmar, até, que o indivíduo que iniciou um
trabalho artístico não é o mesmo que o terminou: ele passou por uma nova e rica experiência de apren-
dizado e elaboração do seu eu psicológico, em que não apenas o resultado da atividade é importante,
mas também o seu processo.
Na Educação, a Arte além de ser uma ferramenta para o desenvolvimento da criança, é ainda
um meio de o educador poder conhecer e compreender melhor o seu aluno e ajudá-lo no seu percurso.
Por meio da Arte, o professor poderá perceber as mudanças que ocorrem no íntimo de cada criança:
seus sucessos, suas vitórias, seus problemas, suas dificuldades, a maneira como está reagindo a deter-
minada situação, suas alegrias, suas tristezas. O professor atento poderá enxergar inúmeras nuanças
da vida psicológica, dos seus educandos, nas entrelinhas do que é dito ou escrito, nos gestos e nas ex-
pressões faciais da fala ou na representação, nos espaços vazios dos desenhos, nas linhas mais leves
ou mais enérgicas sobre o papel, nas cores usadas, nas palavras não ditas.
As luzes e as cores
(FUSARI; FERRAZ, 1993, p. 85-90)
Do ponto de vista físico e fisiológico, a cor é uma sensação provocada pela
luminosidade. A luz branca sintetiza em si todos os comprimentos de ondas
luminosas que podemos perceber. Essas ondas vão corporificar-se nas seguin-
tes cores: violeta, anil (índigo), azul (cian),verde, amarelo, laranja, vermelho.1 A
nossa percepção dessas cores e de suas relações com as demais depende tam-
bém da qualidade e cor da luz que as estiver iluminando. Isto porque as cores
(nas superfícies, nos volumes) têm a capacidade de refletir e filtrar a luz para os
nossos olhos.
Se, por exemplo, numa superfície branca, pintamos uma forma com tinta
vermelha e a iluminarmos com luz branca, a camada vermelha irá filtrar essa luz,
retendo as outras ondas luminosas coloridas e refletindo, para os nossos olhos, a
vermelha. Por isso, vemos o vermelho que foi refletido pelo objeto iluminado e
não vemos as outras cores, que não foram por ela refletidas. Um outro exercício
interessante que pode ser feito é iluminar a mesma forma pintada de vermelho,
com uma luz diferente da branca – por exemplo, a luz azul: observa-se que a for-
ma será vista na cor preta, porque a luz azul contém a onda luminosa vermelha.
Essa capacidade da luz branca sintetizar todas as ondas luminosas e, con-
seqüentemente, todas as cores, permite várias possibilidades de trabalho com as
luzes. Qualquer objeto, ou superfície branca, iluminado por uma luz colorida,
adquire esta cor, que será refletida para os nossos olhos. Por outro lado, se for ilu-
minado com duas cores sobrepostas, veremos outra coloração luminosa:
Luz violeta + luz verde = luz azul (cian)
Luz violeta + luz vermelha = luz vermelho-púrpura (magenta)
Luz violeta,verde,vermelha sobrepostas = luz branca
Luz cian + luz vermelha = luz branca
Luz violeta + luz amarela = luz branca
Essa característica de alteração cromática pelas luzes é aproveitada nos efei-
tos cenográficos de teatro e shows. A televisão em cores é também resultado das
combinações das luzes vermelhas, verde e violeta.
Como as tintas coloridas são obtidas através de pigmentos, elas produzem efeitos diferentes das
luzes coloridas. Ao somar-se luzes coloridas, correspondentes ao espectro solar, obtém-se uma sínte-
se aditiva que é a luz branca, mas ao somar-se tintas coloridas, também correspondentes ao espectro,
obtém-se uma tinta preta, que sintetiza uma subtração de possibilidades de refletir as cores.
As tintas
A tintas utilizadas em nossas pinturas são substâncias químicas que possuem basicamente
dois elementos: os corantes (anilinas naturais, artificiais, pigmentos minerais) e os aglutinantes
(resinas, caseína, cera de abelha, óleo de linhaça) capazes de fixar os corantes nos espaços pinta-
dos. Os corantes transparentes permitem a filtragem da luz, de tal maneira, que a superfície pinta-
da reflete também a cor que vemos. Os corantes opacos, por sua vez, cobrem as áreas em camadas
(espessas ou não) e são estas que refletem a cor final (e não tanto a superfície que as recebeu). [...]
As cores-pigmento
As cores-pigmento utilizadas para pintar, desenhar, presentes no guache, acrílico, aquarela,
têmpera, óleo, anilina, cera, grafite, pastel, não servem para impressão, mas têm uma infinidade
de possibilidades no campo artístico, pela variedade de cromatismo e de plasticidade. Como essas
cores são obtidas de pigmentos e meios variados (químicos, minerais, animais, vegetais) existem
diversas nuanças de uma mesma cor. Exemplificando, o azul pode ser azul-da-prússia, azul-ultra-
marinho, azul-celeste, azul-cobalto, mas sempre pertence à mesma gama de cor, que é a do azul.
Para os artistas, esse conhecimento é muito importante, pois essa variedade permite qualidades
cromáticas específicas.
As cores fundamentais são o azul, o amarelo, o vermelho e suas respectivas derivações: o
verde, o laranja e o roxo.
Pigmento azul + pigmento amarelo = verde
Pigmento amarelo + pigmento vermelho = laranja
Pigmento vermelho + pigmento azul = roxo
Podem apresentar-se em plena saturação, ou seja, em alto grau de pureza, sem misturas de
branco e preto, ou diminuída a saturação, quando combinadas com estas últimas. Desta forma, a
cor vermelha é mais saturada do que a rosa, porque esta resulta de uma mistura com o branco.
Ao acrescentar-se as cores branco ou preto às outras cores, obtém-se uma variação de tonali-
dade, que é uma característica qualitativa da cor. Neste caso, podemos perceber os valores de claro
e escuro. É possível conseguir-se gradações de tonalidades, dependendo da quantidade de branco,
preto ou cinza adicionada.
As alterações de saturação e tonalidade interferem, ainda, na capacidade das cores refletirem a luz.
As combinações das cores entre si e com as linhas, as texturas, as luminosidades, as superfí-
cies, os espaços, os volumes apresentam resultados plásticos diversos.
Pedir que as crianças façam relações entre as cores que vêem e emoções. O professor não
deve sugerir nada. Deixar que eles pensem e descubram. Exemplo: Azul = paz, tranqüi-
lidade. Amarelo = alegria, calor, vida. Se algumas crianças derem significados diferentes
(opostos) às cores que outras, conversar sobre isso, mas respeitar a visão de cada um.
Cuidado para não limitar a visão da criança e estereotipar com modelos negativos. Exem-
plo: vermelho = sangue, violência, raiva; mas, também, alegria, calor, energia, vitalidade,
languidez.
Perguntar se três ou quatro delas gostariam de representar uma emoção com o corpo,
expressões e gestos. O restante da turma observará essa representação e escolherá quais
as cores que melhor expressam aquela emoção. Depois, outras três ou quatro representam
outra emoção e a atividade pode continuar, relacionando-se cores a emoções, explorando
esse tema.
No final da atividade, conversar sobre ela, avaliando se a luz colorida, realmente, acentua
a expressividade da ação ou não. Pode-se falar da cor das roupas, das casas, do material
escolar, da mochila, do livro e porque se gosta mais desta ou daquela. Importante é res-
peitar sempre a opinião e o gosto de cada um, valorizando cada afirmação.
Comentário sobre as atividades
Nas três atividades, nós experimentamos as cores primárias e as cores complementares. Vimos
como a mistura de pigmentos com as cores primárias resultam nas suas complementares. Pudemos
comparar o comportamento dos pigmentos e das luzes e avaliar se o que acontece com a combinação
das cores é semelhante.
Vimos também que as cores transmitem sensações e traduzem emoções e podem ser usadas
para transmitir ou fortalecer uma idéia.
DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
Paulo Freire
S
abemos que cada ser humano é único. É único em sua maneira de ser, em suas ações, em suas
reações, em sua leitura de mundo, em como se relaciona com ele. Cada um é, portanto, indivi-
dual, diferente de todos os outros. De outro lado, somos, também, seres sociais. É impossível
vivermos isolados, distantes das pessoas e da sociedade, dos produtos da cultura.
Fazemos parte de diversos grupos, alguns menores, outros maiores: a família, os amigos, os
companheiros de turma, a vizinhança, a comunidade da escola, os colegas de trabalho, a população
de uma cidade, de um estado, de um país... Dependemos de outras pessoas e elas dependem de nós.
Nesse contexto social, desempenhamos tarefas, muito freqüentemente, em colaboração uns com
os outros. Mesmos nas atividades individuais, interferimos de alguma maneira na vida em grupo: o
produto de nossa ação e as mudanças que ocorrem no nosso interior e exterior estão, invariavelmente,
ligados à nossa vida em comunidade.
A Arte, como nós já vimos, é uma atividade cujas características principais são a criatividade, a
inventividade, a expressão da nossa visão de mundo, a reelaboração da realidade em um novo produto
e a comunicação. O objeto artístico resultante desse processo (seja ele visual, sonoro, gráfico, repre-
sentacional ou audiovisual) fará parte, por sua vez, da nossa ambiência e da nossa cultura, portanto,
da vida da sociedade à qual pertencemos.
Mesmo no campo da arte, inúmeras atividades não podem ser realizadas por uma única pessoa:
precisam da participação direta de outras. Nelas, a soma de idéias, das experiências, das especiali-
dades de cada uma serão indispensáveis e complementares, possibilitando, assim, a criação de algo
maior.
Podemos tomar como exemplo, a composição de uma canção em parceria, como ocorre na
nossa maravilhosa Música Popular Brasileira – a MPB, em que um grande poeta, como Vinicius de
Moraes, tinha seus textos musicados por Toquinho ou Tom Jobim, estes, por sua vez, músicos de alto
nível. Suas composições são inesquecíveis e não dependem do tempo para nos ensinarem algo novo.
Nas nossas salas de aula, podemos usar a gravação de A Arca de Noé (de Toquinho e Vinicius) como
ponto de partida não apenas paras as atividades nas diferentes linguagens artísticas, mas, também, em
Ciências, Geografia, Ecologia ou Português.
Da gravação do CD que usamos para ouvir essas músicas, participaram muitas outras pessoas,
tão indispensáveis quanto os compositores, para que elas pudessem chegar até nós. De fato, enquanto
a composição está somente escrita ou somente na memória de alguém, ela não está completa. Ela pre-
cisa ser executada, cantada, para poder realmente existir como fenômeno sonoro. Ela depende, então,
de alguém que a cante e de um ou mais instrumentos (alguém que toque o violão, a bateria, o tecla-
do, outros instrumentos de percussão, a flauta, o baixo ou, talvez, toda uma orquestra). O processo
ao editor, para várias correções e mudanças, para assim, depois de tudo isso, ser
impresso na gráfica (outro percurso que envolve técnica e arte), montado e distri-
buído para as livrarias.
O mesmo acontece com jornais e revistas. São tantas as pessoas anônimas
envolvidas e que nem imaginamos existirem, que nos surpreenderemos imensa-
mente se examinarmos todas essas áreas de atividade humana mais de perto.
Grandes painéis são executados, muitas vezes, por um conjunto de pessoas.
Em várias cidades, nós os encontramos realizados em azulejos, concreto, mosai-
cos etc, alguns são idealizados por um só arquiteto ou artista plástico, outros o são
por uma equipe.
São nos campos da publicidade (gráfica ou audiovisual) e do cinema, que
mais pessoas estão envolvidas. Em muitas empresas desses ramos, o processo de
criação começa com uma reunião em que vários profissionais fazem o que cha-
mam de brainstorm, que quer dizer: uma tempestade cerebral. Essa “tempestade”
é uma conversa, em que todos sem ter muito tempo para pensar, vão externando
suas idéias. Eles dizem o que lhe vêm à mente, sobre um certo tema ou certa cam-
panha publicitária, por exemplo, que têm para criar. Às vezes são idéias boas, às
vezes não. Mas o importante é que cada uma faz surgir outra e outra, até que se
delineiem direções novas e inventivas, imagens fortes e significativas daquilo que
se quer exprimir.
Esse percurso de criação é muito rico, porque leva o grupo a caminhos que,
sozinhos, os indivíduos não chegariam jamais. Ele desencadeia uma atividade
imaginativa fértil e fecunda, ágil e movimentada, em que a mente consegue fu-
gir dos mecanismos de autocensura e dos convencionalismos que cada um de nós
traz, dentro de si.
A autocensura é um comportamento aprendido na nossa adaptação à so-
ciedade. Desde bem pequena, a criança é educada a distinguir o certo e o erra-
do, entre atitudes desejáveis e outras que deve controlar, ou até mesmo evitar. Ela
passa a ser aprovada ou reprovada, dependendo do que fizer ou disser. Os “não
faça isso, não faça aquilo, não diga isso, não diga aquilo, você não deve, você não
pode, você não vai conseguir” são essencialmente repressivos e paralisantes, ao
invés de, apenas, diretivos. Dependendo do temperamento da criança, acentuam
sua insegurança ou sua timidez, criando bloqueios.
Convencionalismo quer dizer tudo igual àquilo que a maioria acha bom, ou
que já foi feito antes, seguindo normas e padrões estabelecidos. É não ousar usar
elementos diferentes, não quebrar fazeres “aceitáveis e desejáveis”.
A atividade artística e experiências como a “tempestade cerebral” traba-
lham no sentido oposto: elas buscam não uma adequação a um meio via expres-
são, não uma padronização de comportamentos, mas enfatizam as diferenças, a
ousadia criativa e a inventividade. Elas permitem que as crianças superem seus
receios de não serem aceitas, de terem sua opinião ou produção reprovada, rejei-
tada. Elas incentivam que o educando se exprima e se exponha, ajudando-o a su-
perar seus medos.
A confecção de um painel
De um todo (a idéia) para as partes (elaboradas individualmente ou em duplas) que formarão um
novo todo (o painel).
Material convencional necessário: dez metros de papel-filtro branco (ou menos, dependendo
do tamanho da superfície disponível para exposição), papel sulfite branco, tamanho A4 ou
ofício, lápis preto e lápis de cera coloridos, tintas guache, canetas de ponta porosa, pincéis
macios de diversos tamanhos, borracha, durex ou fita crepe e cola branca.
Materiais alternativos diversos: retalhos de tecido, sementes, folhas, recortes de revistas pe-
daços de papel ou de madeira, arames, barbantes, fios, areia, pedrinhas, argila, gravetos,
massas de modelar coloridas etc.
Primeira etapa
Escolha do local em que será exposto o painel, definindo dimensões, suporte etc.
Proposição de possíveis temas pelas crianças e escolha do tema a ser elaborado.
Idealização do painel pelas crianças.
Elaboração conjunta de um esboço no quadro-negro, em tamanho menor, para posterior am-
pliação.
Definição dos materiais a serem utilizados.
Definição das frases da execução.
Divisão das tarefas (a coleta do material, a preparação do espaço e das superfícies, quem
executará que parte do painel).
Cada criança copiará em uma folha de papel sulfite o esboço feito em grupo.
Segunda etapa
Na aula seguinte, refazer o esboço no quadro-negro a partir dos desenhos das crianças.
Dividir os esboços em pequenas áreas iguais e distribuí-las entre as crianças (em duplas) que
as executarão no papel-filtro, ao chão.
Cada dupla executará a parte que lhe couber.
Quando prontas, as partes serão unidas umas às outras como um quebra-cabeças.
Colocar o painel na parede, em exposição, convidando o grupo todo a observá-lo e a conver-
sar sobre o processo de criação e construção, bem como sobre o resultado obtido.
Convidar amigos, pais etc., para ver o que o grupo construiu.
Terceira etapa
Trocar seções de lugar ou substituí-las por outras, criando novas e divertidas represen-
tações.
Usar partes do painel como ponto de partida para outras idéias.
KNELLER, George Frederick. Arte e Ciência da Criatividade. 10. ed. São Paulo: Ibrasa, 1978.
J
á nos ocupamos da arte como expressão humana, como uma exteriorização daquilo que o indi-
víduo sente e pensa, como uma elaboração da maneira como vê a realidade que o cerca e como
concebe o mundo. Vimos, também, que o homem é um ser social, que depende dos outros e que
tudo o que faz ou diz passa a fazer parte desse contexto social, influenciando-o e modificando-o.
As linguagens artísticas com todas as suas possibilidades e particularidades servem como ins-
trumentos, como recursos para veiculação dessa expressão.
Ora, quem exprime alguma coisa, o faz para alguém: diz algo para que alguém ouça, escreve
para que alguém leia, faz música para que alguém escute, pinta ou esculpe para que alguém veja. Esse
alguém pode ser ele mesmo. Nesse caso, o autor assume também a posição de espectador, interagin-
do com sua própria obra, ou pode ser outro indivíduo, um grupo específico, ou ainda, as pessoas em
geral.
O produto artístico, então, desempenha uma função mediadora: ele exprime uma idéia que é
traduzida em símbolos e transformada em ação ou elemento concreto. Este novo elemento, por sua
vez, transmite algo para a outra pessoa, que pode entender a mensagem de maneiras diferenciadas,
conforme seus próprios referenciais. É por isso que as leituras da obra de arte por indivíduos diversos
serão sempre diferentes: cada um verá aquilo que estiver mais próximo da sua própria experiência de
vida, das informações que tiver acumulado e vivenciado, da sua história.
Examinando todo esse percurso com detalhes, veremos que o objeto artístico, como mediador
da comunicação, transmite mensagens nem sempre compreendidas em primeiro momento. Freqüen-
temente, é necessário olhar um quadro longamente, ou ouvir uma música, ou uma poesia, várias ve-
zes; assistir a uma peça ou a um show com muita atenção, para apreender toda a gama de significados
que pode conter. É preciso saber quem foi o autor daquela obra, onde e em que época viveu, quais as
causas pelas quais lutava e quais as inspiraram, porque escolheu este ou aquele elemento, enfim, é
preciso tentar enxergar o que está por trás das palavras, dos sons, dos gestos, das linhas e das cores
que se pode perceber.
Entender a mensagem comunicada depende da abertura em relação ao objeto artístico. Ele pró-
prio falará conosco, mostrar-se-á, revelar-se-á. Não se trata de inventar ou fantasiar algo que nós mes-
mo queremos ver. Trata-se de tentar aproximar-se ao máximo do pensamento e das motivações do
autor, de permitir que ele, por intermédio da sua obra, dialogue conosco.
Para que isso possa ocorrer, é necessário que o espectador conheça os ele-
mentos da linguagem que ele está usando.
Se forem palavras, os aspectos a serem observados vão desde as sonorida-
des das palavras propriamente ditas (seu ritmo, sua melodia, sua intensidade) até
os significados que cada uma delas têm naquele texto, as suas ambigüidades e
as relações entre elas e as imagens que criam em nossa mente. Pode-se analisá-
las do ponto de vista etimológico, buscando entender seus componentes; pode-se
combiná-las de diferentes maneiras, procurando vislumbrar os vários sentidos em
que são usadas; pode-se dizê-las em voz alta e com diferentes entonações e ex-
pressões faciais, ou corporais, para descobrir as diferentes cargas emocionais que
podem carregar.
Nas artes visuais são outros os recursos usados. Ao se examinar um qua-
dro, um desenho, um cartaz, uma ilustração ou uma fotografia, por exemplo, dis-
tinguimos a superfície, a linha, as formas, as cores, a transparência, o brilho, a
opacidade, as texturas, os volumes, a diferença de planos, o movimento, a compo-
sição, a técnica. Observar vagarosamente cada um desses elementos e notar como
podem revelar dados preciosos sobre o autor, sua visão do mundo e sua época.
Já a música pode envolver sons e ruídos agudos e graves, intensidades fortes
ou fracas, andamentos lentos ou rápidos, ritmos mais simples ou mais complica-
dos, melodias, harmonias, efeitos sonoros, massas de som em metamorfose, diver-
sos timbres, conforme a fonte sonora (instrumentos musicais ou outros produtores
de ruídos). Uma certa célula rítmica ou melódica pode trazer-nos a lembrança de
certas situações (o canto do galo, o trompete de um soldado, um bebê dormindo,
uma determinada dança). Essa lembrança pode traduzir-se em imagens na nossa
mente, ou em estados de espírito, em emoções que nos levam a pensar sobre algo
que nos diga respeito. A música, muitas vezes, leva-nos a sentimentos e à atitu-
des: se a música é vigorosa, temos vontade de agir com energia e coragem; se ela
é calma, somos levados à sensação de tranqüilidade; se ela retrata violência, de-
sespero, angústia, podemos ser invadidos por sentimentos e pensamentos inquie-
tantes; se ela é cheia de humor e leveza, queremos sair dançando, rindo, fazendo
brincadeiras.
Cada elemento usado é um símbolo e carrega em si uma infinidade de signi-
ficados, que serão “lidos” pelo espectador ou pelo ouvinte. É como se a mensagem
fosse colocada em um código, que o outro terá que decodificar para entender.
Nesse contexto, o papel do educador é o de possibilitar que a criança tenha
um contato amplo e vivenciado com os elementos das diferentes linguagens. Não
basta olhar e ouvir: é preciso conversar, no grupo, sobre o que se está vendo e
ouvindo e sobre os possíveis significados de cada coisa. É igualmente importan-
te fazer, experimentar, as diferentes técnicas. A descoberta dos componentes de
criação será, assim, vivida, e a criança poderá, posteriormente, reconhecê-los e
analisá-los na produção de outros.
Ao estimular tanto a vivência das diversas linguagens, quanto a leitura dos
diferentes produtos culturais, o professor estará ajudando o educando a alargar o
seu universo de conhecimentos e os seus ângulos de visão, para que ele possa per-
ceber e compreender as mensagens contidas nos símbolos e nas obras artísticas.
Ele o estará auxiliando a enxergar o que está velado, a ouvir o que não é óbvio,
a perceber nuanças da comunicação cotidiana e a entender o mundo que o cerca
com mais profundidade.
Arte é comunicação. De outro lado, as mensagens de comunicação estão
repletas de arte. É preciso oportunizar à criança a aquisição do instrumental ne-
cessário para a compreensão desse universo comunicacional.
colares, com guias que explicam cada objeto e, às vezes, fornecem material de
pesquisa. Se em um museu houver uma mostra específica sobre um tema que está
sendo estudado na sala de aula, vale a pena levar os alunos até lá. Bem-prepara-
dos para observar certos aspectos e sabendo de tudo que envolve uma instituição
dessa natureza, as crianças, com certeza, saberão como se portar e mostrarão que
merecem nosso voto de confiança.
O mesmo acontece se as levarmos para assistir a um concerto didático ou a
uma peça teatral. Além de ser uma situação nova e cheia de novidades, um passeio
é uma quebra da rotina; os assuntos que serão abordados devem ser trabalhados
com as crianças antes do evento, aguçando-lhes a atenção para pontos especiais.
Na volta, é necessário debater sobre os aspectos mais importantes da experiência
e se possível, haver continuidade da ação, isto é, a continuação da atividade com a
exploração de outras possibilidades. Isso deverá, de preferência, incluir uma ela-
boração própria dos alunos, individual ou em grupo.
Nas galerias de arte é possível pôr em prática todos os aprendizados das
crianças sobre as artes visuais: as técnicas, as observações das massas, das linhas,
das cores, das pinceladas, do traço, a desfiguração e deformação de figuras e ob-
jetos, a estilização de certos artistas, o academicismo de outros, o vigor do uso
de cores e formas de uns, a delicadeza do estilo de outros, o trágico, o poético, o
social, o festivo, o doloroso. É possível comparar obras, mensagens e estilos; se
houver produções de diferentes épocas, pode-se reconhecer elementos da história,
das sociedades, do modo de vida das diferentes comunidades etc.
Nas igrejas, nos prédios públicos e nas casas antigas, pode-se observar o es-
tilo da construção e seus referenciais históricos, a simbologia e a função dos ador-
nos e dos objetos, a distribuição do espaço e o tipo de pensamento ao qual remete.
Os monumentos públicos nas praças, parques e ruas ensinam-nos fatos sobre a
nossa própria identidade; o setor histórico da nossa cidade mostra-nos um pouco
do que as pessoas corajosas e determinadas tiveram que enfrentar para construir
a cidade em que vivemos.
Como vemos, muitos dos espaços socioculturais em que nos movemos são
recintos fechados, alguns de acesso limitado, pois este depende da compra de um
ingresso. Outros, ao contrário, são realmente públicos, abertos a todos sem distin-
ção de classe social ou de poder aquisitivo. Nesse sentido, o mais democrático de
todos é a rua. A rua com toda a sua riqueza.
Feiras de artesanato, festas das etnias, mercados de antigüidades, tudo isso
são oportunidades em que se convive com a arte nas suas mais variadas formas:
o artesanato na sua multiplicidade, as comidas típicas, os objetos criados e usados
por descendentes de determinados povos, os móveis e os utensílios específicos de
cada um, as suas canções e as suas danças, os repentistas, os anunciadores de pro-
dutos com suas falas, as roupas regionais (mesmo no Brasil, temos contrastes tão
grandes, como as do gaúcho e as do cangaceiro!).
Até os grafites (não a pichação) nos muros e nas paredes pelos quais pas-
samos todos os dias, no nosso caminho de casa para a escola, são arte. É bom
Sonoridades I
Sentar em círculo no chão. Na penumbra, se possível, fechar os olhos e
ouvir os sons e os ruídos.
Compartilhar com o grupo os sons e ruídos ouvidos.
Explorar altura, intensidade, repetição e transformação do som e do ruí-
do.
Criar uma história que envolva esses sons. A palavra pode e deve ser
usada também.
Contar a história com os sons e ruídos a partir deles.
No final da atividade, deitar no chão de olhos fechados, tentando perce-
ber outros sons e ruídos.
Sentar no chão em círculo e comentar a atividade.
Sonoridades II
Trazer de casa objetos ou brinquedos com os quais se possa produzir ruídos ou sons.
Experimentá-los na sala de aula, manuseando os objetos sonoros trazidos e permitindo que
os outros alunos os manuseiem também.
Criar uma história.
Contá-la utilizando-se da voz, dos sons produzidos com os objetos trazidos e com o corpo.
No final da atividade, deitar no chão de olhos fechados, ao som de uma música calma e em
intensidade fraca.
Depois de calmos e sentados no chão, em círculo, comentar a atividade.
PEREGRINO, Yara Rosas (Coord.). Da Camiseta ao Museu: o ensino das artes e a democratização
da cultura. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 1995.
Vygotsky
O lúdico e a Arte
Brincadeira e aprendizado
M
uito se tem discutido sobre a importância do brinquedo, da brincadeira e do jogo no desen-
volvimento infantil. Psicólogos do calibre de Piaget e Vygotsky estudaram profundamente
esta questão e de que maneira o brincar se transforma, à medida que a criança vai crescendo
e amadurecendo.
Ao tentarmos definir brincadeira e jogo, deparamo-nos com palavras como: diversão, entre-
tenimento, distração, atividade prazerosa, passatempo, exercício recreativo sujeito a determinadas
normas (algumas criadas durante o próprio jogo, outras preestabelecidas). O jogo pode ser entendido
como uma atividade infantil em que as crianças colocam em movimento capacidades como a inven-
tividade, a imaginação, a criatividade, a habilidade e a astúcia, entre outras.
As brincadeiras, para as crianças, estão repletas de desafios, experimentos e prazeres, e trazem
consigo a vivência de alguma situação anterior, a descoberta de novas faces e possibilidades de algo
conhecido ou a resolução de uma dificuldade nova. Ao brincarem umas com as outras, elas interagem
de tal forma, que constroem juntas realidades vividas e/ou objetos que passarão a fazer parte da sua
trajetória e do seu mundo. Criam novas imagens, vivem situações como se fossem reais (como ao brin-
carem de casinha, de super-herói, de fazer compras no supermercado, de corrida de Fórmula 1 etc.).
O brincar pode acontecer a partir de um objeto construído com esse fim, ou a partir de algo que
passe a simbolizar esse brinquedo: um pedaço de madeira pode transformar-se em um caminhão via-
jando entre as montanhas, em um navio atravessando o oceano, em uma parede, em uma mesa para
as bonecas, em um livro ilustrado...
Mais importante que qualquer aspecto, nesse processo de construção e representação da situa-
ção, é o percurso que a criança faz durante todo o tempo em que está envolvida. Ela inventa, ela cria,
ela segue os seus próprios sentimentos e emoções. Imita o seu mundo exterior, usa de elementos dele,
tudo isso com liberdade e autonomia. Ela é senhora dos elementos que utiliza, da direção da experiên-
cia, de até onde ela quer ir e do tempo em que quer estar mergulhada nela. Para Vygotsky (1989, p.117),
na brincadeira é como se a criança fosse maior do que é na realidade. Como no foco de uma lente de
Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.iesde.com.br
Ensino de Artes
Brinquedo e arte
Nesse contexto, as brincadeiras de faz-de-conta, que são na verdade uma
representação, isto é, um jogo dramático, apresentam-se ricas em simbolismos
e significados, em diálogos com personagens da vida real e da vida imaginária e
permitem uma atividade intensa de criação, inventividade e improvisação. Esses
três elementos são componentes sempre presentes, também, nas outras manifes-
tações artísticas. O mesmo ocorre quando a criança desenha, pinta, experimenta
sonoridades novas ou canta uma canção.
É interessante notar que, nas suas brincadeiras, as crianças empregam fre-
qüentemente as linguagens artísticas, mesmo sem o saberem. O seu mundo é
imensamente rico e variado, sua mente é flexível e fecunda. Elas não se limitam
à fala ou algum programa preestabelecido: suas mentes estão em constante movi-
mento e as ações, mesmo que diversificadas e complexas, estão integradas em um
todo coeso e com sentido – a experiência.
O faz-de-conta envolve espontânea e naturalmente as várias artes: cada
criança, no seio dessa brincadeira, age sobre o arranjo do espaço, experimentando
conceitos arquitetônicos e decorativos (ela organiza e distribui os móveis na sua
casinha de bonecas, que na loja imaginária em que faz suas compras...); ela tra-
balha elementos concretos que molda, esculpe, constrói, pinta, desenha (faz uso,
portanto, de várias manifestações das artes visuais); ela interpreta ou inventa as
músicas que canta para sua boneca ou durante a corrida de carro (canções de ni-
nar, a canção que era tocada toda a vez que Ayrton Senna ganhava uma corrida)
e imita sons e ruídos, exercitando-se nas artes sonoras; ela cria falas para as suas
personagens, representa, dança (artes cênicas)...
A vivência é tão completa que abrange não apenas aspectos psicológicos
e emocionais, mas também ajuda a criança a conhecer seu corpo, no sentido de
coordenar movimentos e de desenvolver tipos específicos de coordenação moto-
ra. Essas atividades oportunizam-lhe relacionar seu pensamento lógico e abstrato
(matemático) à operações simples do cotidiano (comprar maçãs imaginárias, con-
tá-las, contar o dinheiro para pagá-las; cronometrar o tempo gasto pelo seu cavalo
e pelo de seu amigo na corrida de cavalos ou efetuando operações aritméticas).
Os jogos e a Arte, em sala de aula, podem desempenhar um papel privile-
giado de instrumentos educativos. Tudo o que é realizado de maneira agradável e
alegre resulta em participação, interesse e corrobora a motivação. Obtemos muito
mais rendimento e cooperação dos nossos alunos, se o nosso dia-a-dia na esco-
la estiver impregnado de bom humor e desse espírito brincalhão. A atividade de
aprender pode ser prazerosa, sempre, em qualquer campo do saber. E, nesse con-
texto, a atmosfera de liberdade e de respeito propiciada pela Arte torna-se, de um
lado, veículo de autoconhecimento e de autoconfiança; de outro, oportuniza a ma-
nipulação dos conteúdos e a fixação do aprendizado.
As atividades artísticas fornecem aos educandos, ainda, um outro tipo de
equilíbrio extremamente necessário ao seu crescimento harmonioso: enquanto
existem conteúdos programáticos como a Matemática, o Português e as Ciên-
cias, que, na maioria das vezes, permitem chegar a apenas uma resposta (como 2
+ 2 = 4; bocarra é o aumentativo de boca; ou o Paraná está localizado na região
Sul do Brasil), a Arte admite uma infinidade de caminhos, soluções e resultados.
Enquanto certas disciplinas direcionam e têm padrões homogeneizantes, as artes
ensinam-nos a encontrar nossos próprios trajetos e, mais ainda, definirmos pró-
prias metas.
Arte e jogo
O exercício da liberdade, a possibilidade da escolha, a decisão sobre que
meios usar para este ou aquele fim treinam o aluno para a vida prática, em que
estará sujeito a inúmeras situações inesperadas e ainda não aprendidas. É nessas
ocasiões que capacidades inerentes à Arte e mencionadas anteriormente, como a
criatividade, a inventividade e a improvisação, são essenciais. E apenas as ativi-
dades relacionadas a esses elementos permitem esse treinamento, tão vital, para
sobrevivência em sociedade.
Ao mesmo tempo em que o lúdico e a Arte estão presentes nos processos
de vivência espontânea da criança e são usados, também, como instrumento no
aprendizado das diversas disciplinas do tecido curricular, o próprio “fazer arte” e
o conhecer a Arte como área do saber podem e devem ser imbuídos desse espírito
divertido e alegre. Assim, podemos usar o brinquedo e a brincadeira como parte
integrante dos métodos e procedimentos educativos de um programa de Arte, pois
“a experimentação, a criação, a atividade lúdica e imaginativa, que sempre estão
presentes nas brincadeiras, no brinquedo e no jogo, são também os elementos bá-
sicos das aulas de arte para crianças”. (FERRAZ; FUSARI, 1993, p. 89).
É necessário, no entanto, cuidado especial para não perder o rumo do pro-
cesso educativo. O brincar deve ser incentivado sem perder de vista o conteúdo a
ser ministrado. Brincar, nesse caso, seria apenas uma estratégia (mas uma maravi-
lhosa estratégia) para a melhoria da qualidade de aprendizagem. Não a finalidade
em si mesma e, muito menos, algo para manter as crianças ocupadas.
A produção do som:
instrumentos de percussão, de sopro e de cordas
A produção do som pode ocorrer de várias maneiras. As tradicionais são
os instrumentos de percussão, de sopro e de cordas, usados na maioria do que até
pouco tempo chamávamos de música.
Os instrumentos de percussão são todos aqueles em que se bate, se percute. Nesse grupo, estão
os tambores com suas inúmeras formas, o triângulo, os pratos, o xilofone, o metalofone, o litifone, os
pauzinhos, os chocalhos, o berimbau, o piano (pois martelos batem nas cordas) e a bateria.
Instrumentos de sopro são todos os que produzem sons por intermédio de uma coluna de ar:
as flautas doces, as flautas transversais, os apitos, o oboé, a clarineta, o fagote, o trompete, a tropa, o
trombone, a tuba, o órgão antigo (de tubos).
Os instrumentos de corda são divididos em: instrumentos de cordas dedilhadas, friccionadas
e pinçadas. Ao primeiro grupo pertencem o violão, o bandolim e o alaúde; ao segundo, o violino, a
viola, o violoncelo, o contrabaixo; e ao terceiro, o cravo e a harpa.
Esses instrumentos eram os mais usados, até que se descobriu a eletricidade. A partir daí, foram
surgindo outros como a guitarra elétrica, o baixo e o teclado. Com o desenvolvimento do computador
apareceu o sintetizador, que cria e manipula sons, imita instrumentos tradicionais etc.
Estes são os instrumentos musicais mais usados, atualmente. No entanto, cada civilização, cada
sociedade no decorrer da história criou e desenvolveu seus próprios instrumentos, todos eles com o
fim específico de criar um determinado tipo de sonoridade. Eram feitos dos mais variados materiais,
desde pedras, paus, bambu, madeira, conchas, couro, ossos, cerâmica, cobre, prata, latão, zinco, até
vidro, cristal, marfim e ouro.
Nós mesmos podemos fazer instrumentos com objetos e materiais que encontramos a nossa volta.
Experimentando os sons
O professor trará instrumentos musicais de fácil manipulação: pios de passarinheiro, instru-
mentos de percussão em geral e de corda.
As crianças poderão observar sua construção, suas formas, sua sonoridade.
Poderão experimentá-los.
Criar uma história que sugira sonoridades.
Criar as atmosferas sugeridas, com a voz e os instrumentos.
Em casa, as crianças deverão procurar objetos que produzam som, poderão construir outros
instrumentos e deverão trazê-los na aula seguinte.
HEMSY DE GAINZA, Violeta. Estudos de Psicopedagogia Musical. São Paulo: Summus, 1988.
v. 31: Novas buscas em educação.
Luigi Pareyson
E
xaminamos, anteriormente, alguns aspectos em relação à Arte como integrante da experiência
do indivíduo: um fazer, um compreender o nosso universo, uma leitura da mensagem de outro
alguém; nós a analisamos, também, como uma construção conjunta, mas, sempre, abordando o
crescimento e a vivência daquele que a faz e a experimenta. Mas, até que ponto a Arte é uma expe-
riência ou uma realização, apenas e completamente, individual? Ela pode ser considerada uma ma-
nifestação de uma coletividade, de uma sociedade? Podemos ler nela realidades que ultrapassam os
pensamentos e as emoções daquele que a elaborou? Ou ela é incapaz de revelar-nos algo que trans-
cenda essa dimensão?
Luigi Pareyson, filósofo italiano cuja obra foi escrita e difundida especialmente na segunda
metade do século XX, explica-nos esta questão de uma maneira bastante clara. No texto a seguir, ele
parte não do ponto de vista do indivíduo, mas da óptica do todo, da coletividade à qual aquele ser
pertence. Para ele,
a obra de arte contém o espírito do tempo, a voz de um povo, a expressão de um grupo, mas tudo isso o contém
retratado na singularíssima espiritualidade de uma pessoa [...]. No mundo humano, qualquer manifestação cole-
tiva é sempre, ao mesmo tempo, pessoal: aquilo que é comum é resultado das contribuições pessoais e age atra-
vés de adesões e realizações individuais. Um povo, um grupo, uma civilização são realidades suprapessoais nas
quais, no entanto, somente se participa pessoalmente. Por isso, a obra de arte contém a voz do povo e do tempo
[...] enquanto contém a participação pessoal do artista no espírito do povo e do tempo, participação de adesão ou
de revolta, mas, sempre, uma reação pessoal. [...] Esta voz pessoal e singularíssima traz consigo [...] a voz coletiva
e suprapessoal, não necessariamente deformada ou transfigurada, mas, muitas vezes, [...] fielmente recolhida e
apresentada, [...] interpretada pela perspectiva irrepetível e inconfundível do artista”. (PAREYSON, 1989, p.83).
Quando Pareyson se refere a “um povo, um grupo, uma civilização” como “realidades supra-
pessoais”, ele nos mostra que o coletivo não é uma anulação do individual, mas, sim, a soma de to-
dos os particulares. Assim, o pensamento de um grupo ou de uma época é o produto da contribuição
de cada um, ao mesmo tempo em que serve como base para a construção de novas idéias e conheci-
mentos pessoais. É como se um se alimentasse do outro, em um processo interminável: o coletivo é o
fundamento sobre o qual surgem novas concepções (nas pessoas); essas novas concepções fundem-se
novamente no todo, como uma nova contribuição; e começa tudo outra vez (lembremo-nos da cons-
trução da experiência como uma espiral infinita).
Assim, temos agora duas novas linhas a examinar: a primeira diz respeito à
Arte como integrante de todos os processos e atividades das sociedades humanas;
a segunda, à análise dos elementos que constituem as linguagens artísticas dos vá-
rios povos do nosso planeta, durante toda a sua história e que nos revelam, conti-
nuamente, inúmeros fatos novos, e surpreendentes, acerca deles e de nós mesmos,
como seres humanos.
como um saco, no qual se sopra, e que possui três tubos de tamanhos diferentes,
que recebem o ar ininterruptamente desse saco. Existe, também ligada a esse re-
cipiente de ar, um outro tubo que é uma flauta e na qual o gaiteiro toca a melodia.
O pedal é dado pelos três tubos fixos, enquanto a melodia “brinca, dança e ri” so-
bre ele.
Outra dessas fórmulas musicais é o bordão: um motivo curto que se repete
por longo tempo, enquanto a melodia é feita por outra voz ou outro instrumento.
Podemos observar esse tipo de construção na música das orquestras de metalofo-
nes de Bali, por exemplo, ou na dos nossos índios brasileiros.
Desde inícios do século XX, o ruído passou a fazer parte do conceito de
música, e se estivermos bem atentos ao assistirmos a alguns filmes, ou mesmo a
desenhos animados na nossa televisão, poderemos perceber que dentro do tecido
sonoro, muito acontece, usando-se efeitos. Os efeitos podem ser como o barulho
de uma moto, a buzina de um navio, o cair de um copo que se quebra, em segui-
da a batida de um carro em um muro, o grito de susto de alguém, uma gargalha-
da gostosa, entre outras e pode ser também a criação de uma atmosfera sonora
a partir de ruídos ou de sonoridades musicais. Podemos criar a impressão de um
turbilhão, de um enxame de abelhas, de um maremoto, de desordem, de paz, de
felicidade, de uma praia ao por do sol, do espaço sideral... E tudo isso com a aju-
da de instrumentos musicais ou de outros produtores de som, de gravadores, de
computadores...
Mas é essencial não perdemos de vista que não é a complexidade dos obje-
tos que usamos que vai fazer da nossa música uma criação melhor, ou menos boa.
Podemos usar objetos bem simples, podemos construir nossos próprios instru-
mentos a partir até mesmo de sucata e obter resultados ricos e cheios de inventivi-
dade. O mais importante é que podemos deixar nossa imaginação fluir à vontade,
ultrapassando barreiras, imposições, chavões e clichês, e podemos render-nos ao
curso da nossa fantasia. A criação encontra caminho a partir de quaisquer meios
ou instrumentos que estejamos usando. Na verdade, ela é mais forte que as ferra-
mentas. É ela que nos impulsiona e nos obriga a realizar o que já está intuído na
nossa mente.
Refletir sobre o que o texto quer dizer. Avaliar a adequação da idéia veiculada (por exemplo,
em Atirei o pau no gato).
Todos cantarão juntos a canção.
A professora dividirá a turma em dois grupos.
Metade da classe cantará a canção e a outra metade receberá instrumentos.
O grupo instrumental ensaiará a sua parte.
O grupo vocal ensaiará a sua parte.
Todos ensaiarão várias vezes e por trechos.
Depois haverá a troca de papéis: quem tocou cantará, quem cantou tocará, repetindo-se o
processo da distribuição de células rítmicas e ou melódicas, os ensaios e a execução.
2. Cada professor deverá construir entre um e três instrumentos, a partir de sucata ou de obje-
tos do cotidiano e deverá trazê-los ao próximo encontro. Executar a atividade proposta para as
crianças.
SANTAELLA, Lúcia. Arte e Cultura: equívocos do elitismo. São Paulo: Cortez, 1990.
P
esquisas realizadas nas articulações de crânios de homens pré-históricos de cerca de 100.000 anos,
considerando os ligamentos e os músculos cujo funcionamento pode-se deduzir cientificamente, de-
monstraram que a linguagem cantada ou cantada-falada é anterior à linguagem falada. Essas revelam
que grunhidos, interjeições, sinais vocais retratando medo, satisfação, raiva entre outros e, mesmos, melo-
dias cantadas, constituíram um primeiro código de comunicação. Na sua vida grupal, o homem primitivo,
com toda a certeza, foi desenvolvendo fórmulas de comunicação que, mais tarde, se organizaram em sis-
temas lingüísticos. Por meio desses sistemas, que constituíram as primeiras línguas, podem transmitir aos
outros e às gerações seguintes os seus conhecimentos, experiências e histórias.
Em pinturas rupestres (de aproximadamente 15.000 anos a.C.) vemos cenas em que homens
pré-históricos parecem estar dançando, cantando, batendo palmas, tocando instrumentos primitivos e
representando em rituais e festas.
Assim, tanto os crânios, como as pinturas e as cenas nelas expostas, mostram-nos que as ma-
nifestações artísticas estiveram presentes desde os primórdios da existência da humanidade, de-
sempenhando um papel social de extrema relevância: era um fazer constante e integravam todas as
dimensões da vida.
Vemos, portanto, que as artes sonoras (música, efeitos sonoros), visuais (desenho, pintura, es-
cultura, gravura, arquitetura) e cênicas (dança, teatro, mímica, pantomima) são tão antigas quanto a
própria humanidade, e que as artes verbais (contar histórias, declamação) logo passaram a fazer parte
desse universo.
Ao longo da história e com a descoberta de novos meios, novas ferramentas, novas técnicas e
tecnologias, surgiram, também, novas maneiras de fazer Arte, com essas mesmas linguagens, que fo-
ram somando-se às anteriores.
Com a invenção da escrita, cerca de 4.000 a.C., apareceram as artes literárias (antes artes ver-
bais). Surgem os primeiros registros escritos, tanto documentais quanto artísticos. Com a invenção
rádio, nos luminosos, nas revistas, nos jornais, na internet, no videogame, no CD,
nos modelos dos objetos de consumo (carros, móveis, utensílios domésticos).
Se analisarmos as peças publicitárias, geralmente realizadas com muita cria-
tividade, expressividade, humor e inventividade, veremos que a Arte, essência des-
sas peças, passou a constituir um instrumento para influenciar as pessoas e vender
um produto ou uma idéia. Nesse contexto, a Arte é tratada como uma linguagem,
uma ferramenta na criação das imagens e representações. Ela é também socializa-
da, mas sua finalidade não é mais a vivência estética, mas a venda de uma merca-
doria. Mesmo filmes produzidos em grade escala podem pretender disseminar uma
determinada visão do mundo, como a de Hollywood na segunda metade do século
XX e que está presente, até hoje, na programação diária das emissoras de TV.
Quanto ao mundo cheio de estímulos visuais em que vivemos, Maria Lúcia
de Arruda Aranha (1996, p. 235) afirma:
vivemos em uma época que privilegia a imagem e os meios audiovisuais nos bombar-
deiam o tempo todo com figuras atraentes e fragmentárias. O signo verbal escrito cede
lugar ao simulacro, ou seja, pode-se mesmo dizer que as imagens espetacularizam a vida,
à medida que simulam o real com formas hiperreais, convertendo as pessoas em especta-
dores de um show permanente. A universalização da imagem não se restringe ao mundo
do lazer e do entretenimento, mas dá origem a uma outra forma de pensar, distante do
saber tradicional.
pais, cada vez mais, do processo educativo dos seus filhos, deixando-o a cargo da
escola. É ela, então, que acaba ficando com a responsabilidade de ensinar à crian-
ça a diferença entre ver e enxergar, ouvir, e escutar, distinguir o que está por trás
da palavra, do gesto e da imagem.
É urgente, pois, uma prática educativa que muna a criança para a leitura do
universo da comunicação em que está envolvida. Educar criticamente é essencial
no caminho que vai do reconhecer a realidade ao transformá-la.
PORCHER, Louis. Educação Artística: luxo ou necessidade? São Paulo: Summus, 1982.
Parte I Parte II
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido Brasil, de amor eterno seja símbolo
De amor e de esperança à terra desce, O lábaro que ostentas estrelado,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido, E diga o verde-louro dessa flâmula
A imagem do Cruzeiro resplandece. – “Paz no futuro e glória no passado.”
Dos filhos deste solo és mãe gentil, Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Pátria amada,
Brasil! Brasil!
Atualizado ortograficamente em conformidade com a Lei 5.765, de 1971, e com o artigo 3.º da Convenção Ortográfica
celebrada entre Brasil e Portugal em 29/12/1943.