Os Novíssimos
Os Novíssimos
Os Novíssimos
"Em tudo o que fazes lembra-te do teu fim e jamais pecarás." Ecle.
7,40
"Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se no fim perde a
sua alma".Mt 16,26
"É bom pensar nos novíssimos todos os dias... porque este
pensamento é eficacíssimo para nos fazer evitar o pecado." S. Pio X,
Catecismo Maior.
1 - A MORTE
Origem da Morte
A morte na ordem atual de salvação é consequência punitiva do
pecado (Dogma de fé)
“Podes comer do fruto de todas as arvores do jardim; mas não comas
o da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que o
comeres, certamente morrerás” Gen.2,16-17
S. Paulo ensina que a morte é castigo do pecado de Adão; “Por isso, tal
como por um só entrou o pecado no mundo e, pelo pecado, a morte,
assim a morte atingiu todos os homens, uma vez que todos pecaram...”
Rom 5,12 “Portanto como pela falta de um só, veio a condenação para
todos os homens, assim também pela obra de justiça de um só veio
para todos os homens a justificação que dá a vida.” Rom 5,18 “É que o
salário do pecado é a morte;” Rom 6,23.
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Pertence ao depósito da fé que a alma é a forma substancial do corpo
(Denz 481). Pois bem, na morte rompe-se essa união substancial
existente entre a alma e o corpo. O corpo sem o seu principio vital, do
qual depende intrinsecamente fica sem vida e converte-se
automaticamente em cadáver... Diz a sagrada escritura: “Lembra-te do
teu Criador nos dias da mocidade, antes que venham os dias da
desgraça... Antes que o fio de prata se rompa e o copo de ouro se
parta, antes que o jarro se quebre na fonte a roldana rebente no poço,
antes que o pó volte à terra de onde veio e o espírito [=alma] volte a
Deus que o concedeu.” (Eclesiastes 12,1.6-7)
2- O JUÍZO PARTICULAR
A morte coloca o ser humano em um estado definitivo, que não
se altera mais, porque a alma se separa do corpo e chega ao fim do
tempo que Deus concedeu para que a pessoa se decida por Ele ou
contra Ele; a partir daí não é mais possível obter méritos diante de
Deus. Assim, não há mais qualquer mudança quanto à sorte eterna da
pessoa. Disse o doutor da Igreja, São João Damasceno (749), que:
“Não existe arrependimento para eles depois da queda, como não
existe para os homens após a morte”.
Até o último instante de vida o homem pode mudara sua
posição diante de Deus, e se arrepender de seus pecados, e ser salvo
pela Sua misericórdia, mas depois da morte nada mais muda; sua
decisão torna-se irrevogável. Isto não é uma deficiência da infinita
misericórdia divina. O Catecismo da Igreja confirma que:
“Cada homem, em sua alma imortal, recebe sua retribuição eterna
a partir de sua morte, em um Juízo Particular feito por Cristo, juiz
dos vivos e dos mortos.” (§1051)
A Carta aos Hebreus deixa claro que cada homem morrerá uma só
vez e em seguida sua alma se apresenta diante de Deus:
“Como está determinado que os homens morram uma só vez, e
logo em seguida vem o juízo.” (Hb 9,27)
O mesmo ensinaram os Apóstolos:
“Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos,
se não relaxarmos. Por isso, enquanto temos tempo, façamos o bem a
todos os homens, mas particularmente aos irmãos a fé.” (Gl 6,9-10)
“Na qualidade de colaboradores seus, exortamos-vos a que não
recebais a graça de Deus em vão. Pois ele diz: Eu te ouvi no tempo
favorável e te ajudei no dia da salvação (Is 49,8). Agora é o tempo
favorável, agora é o dia da salvação.” (2Cor 6,1-2)
“Antes, animai-vos mutuamente cada dia durante todo o tempo
compreendido na palavra hoje, para não acontecer que alguém se
torne empedernido com a sedução do pecado.” (Hb 6,13)
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“Cada homem recebe em sua alma imortal a retribuição eterna a partir
do momento da morte, num juízo Particular que coloca sua vida em
relação à vida de Cristo, seja por meio de uma purificação, seja para
entrar de imediato na felicidade do céu, seja para condenar-se de
imediato para sempre.” (§1022)
“É o caráter irrevogável de sua opção, e não uma deficiência da
infinita misericórdia divina, que faz com que o pecado dos anjos
não possa ser perdoado”. ”Não existe arrependimento para eles
depois da queda, como não existe para os homens após a morte.”
(§CIC 393)
Se não começamos a amar a Deus nesta vida, não teremos como
viver com ele na eternidade. Nela Deus levará à plenitude nosso
amor por Ele. A pessoa que morrer sem amor a Deus, sem se
arrepender dos seus pecados, não poderá viver com Deus.
3 - O CÉU
O Concilio de Florença ensina que “... as almas dos que morrem sem
necessidade de purificação, ou depois de realizá-la no purgatório,
são imediatamente recebidas no Céu e vêm claramente a Deus uno
e trino, tal como é; uns, no entanto, com mais perfeição do que
outros, conforme a diversidade de merecimentos”. Denz 693
A título de exemplo, se alguém contemplar o mar da praia, não o vê
em toda a sua imensidade e profundidade; mas é evidente que vê o
mar, tal e qual ele é em si mesmo. Apesar de tudo, este exemplo é
bastante imperfeito, pois o que contempla o mar desde a praia não vê o
mar em toda a sua imensidade, mas os bem-aventurados no céu vêm
toda a essência divina, mas sem esgotar a sua infinita cognoscibilidade,
isto é, os infinitos modos de conhecer a Deus. É como que, se elevados
acima do mar, pudessem contemplar todo o mar, mas penetrando na
profundidade do mar em grau desigual.
Os eleitos do céu vêm a Deus na sua totalidade, mas não
totalmente. Assim, os eleitos no Céu vêm claramente a Deus tal como
é em si mesmo: uno em essência e trino em pessoas, com todos os
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seus atributos essenciais. Contudo, uns contemplam-no com mais
perfeição que outros, em função dos méritos adquiridos na vida
humana.
- O CÉU CONSISTE NA VISÃO IMEDIATA DE DEUS:
1Jo 3,2: “seremos semelhantes a Ele porque o veremos tal qual é”.
A escolástica insiste no caráter sobrenatural da visão beatifica e exige
uma especial iluminação de entendimento a que chamou a "LUMEN
GLORIAE", ou luz de glória que seria um dom sobrenatural e habitual
do entendimento que o capacita para o ato da visão de Deus. Cf Sum.
Th. I 12, 4 e 5
Jesus apresenta a felicidade celeste debaixo de uma imagem de
um banquete de bodas, Mt 25,10; cf Mt 22, 1 ss; Lc 14,15ss,
qualificando esta bem-aventurança de “vida” ou “vida eterna”; cf Mt
18, 8s;19,29;25,46;Jo 3,15ss;
A condição para alcançar a vida eterna é conhecer a Deus e a Cristo:
“esta é a vida eterna, que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro,
e ao teu enviado Jesus Cristo”. Jo, 17,3. Aos limpos de coração, lhes
promete que verão a Deus: “Bem Aventurados os limpos de
coração, porque eles verão a Deus”. (Mt 5,8).
S. Paulo insiste no caráter misterioso do Céu : “Nem olho viu, nem
ouvido ouviu, nem veio à mente do homem o que Deus preparou
para os que o amam”. 1Cor 2,9;cf 2 Cor 12,4
S. Pio X no seu Catecismo dizia "O Céu é o gozo eterno de Deus,
nossa felicidade e nele a posse de todos os outros bens sem mal
algum; e merece o Céu quem é bom, isto é, quem ama e serve
fielmente a Deus e morre na sua graça."
A visão direta de Deus, "cara a cara, tal como é em si mesmo" (1Jo
3,2) enche a alma de uma felicidade tão imensa e inarrável que
nenhuma mente humana a pode conceber e da qual, neste mundo
jamais teremos a menor ideia.
A felicidade celestial consiste na possessão e gozo fruitivo do Bem
absoluto e infinito que é Deus. O bem aventurado torna-se
participante da natureza divina. E é tal essa felicidade que todos os
outros prazeres, e que são imensos, são uma gota de água no oceano.
É como se a um multimilionário lhe dessem alguns cêntimos.
Pois bem, a felicidade humana, no seu gozo e prazer máximos
aqui na terra..., não passam de átomos de felicidade, quando
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comparados com o universo desses cêntimos... E pensemos nos
cêntimos que é possuirmos um corpo glorioso, que brilhará mais
do que o nosso sol natural.
“Então os Justos brilharão como o sol no reino de seu Pai. O que
tem ouvidos, ouça”.Mt 13,43.
O corpo dos eleitos brilhará com um resplendor único, uns mais do que
outros, segundo o grau de glória que tiverem alcançado, nesta vida. O
dote da claridade manifestou-o também o Senhor no dia de sua
Transfiguração, em que os três apóstolos lhe viram o rosto mais
resplandecente que o sol, (Mt. 17,2.)
Relembro que o grau de glória no céu redundará do grau de graça
santificante atingido nesta vida ou se quisermos, quem mais se
pareceu com Cristo na terra, maior participação terá na sua glória,
no céu.
- ALÉM DISSO OS CORPOS DOS ELEITOS POSSUIRÃO O DOM DA
AGILIDADE, em virtude do qual, poderão deslocar-se à velocidade do
pensamento a locais remotíssimos, atravessando distâncias fabulosas
em um instante: “Mas os que põem a sua esperança em Iahweh
renovam as suas forças. abrem asas como as águias, correm e
não se fatigam, caminham e não se cansam.” Is 40,31.
Este dote do corpo glorioso permitirá aos bem aventurados,
deslocarem-se sem estar presos às leis da gravidade ou quaisquer
outras leis materiais. Voarão diríamos nós, na nossa linguagem
humana. Mas voarão de forma perfeitíssima, com completa e total
liberdade!
- A SUTILEZA SERÁ OUTRO DOM ESPANTOSO QUE OS BEM
AVENTURADOS POSSUIRÃO, pois o corpo glorioso dos eleitos estará
completamente espiritualizado, “O mesmo se dá com a ressurreição
dos mortos; semeado corruptível, o corpo ressuscita incorruptível;
semeado desprezível, ressuscita reluzente de glória; semeado na
fraqueza, ressuscita cheio de força; semeado corpo psíquico,
ressuscita corpo espiritual.” 1 Cor 15,42-43.
Significa a "ESPIRITUALIZAÇÃO" do corpo glorificado. Existirá um
domínio absoluto da alma sobre a matéria; o corpo não oferecerá a
menor resistência à alma. O corpo que antes era grosseiro e compacto,
despirá no céu a mortalidade e tornar-se-á sutil e espiritual e assim já
não precisará de alimentação ou sono ou de outras funções animais.
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A matéria corporal, perderá a sua pesadez e torpeza, ficando
espiritualizada, aptíssima para seguir em tudo os voos ou exigências da
alma.
- ALÉM DISSO, O CORPO DOS BEM AVENTURADOS SERÁ UM
CORPO IMPASSÍVEL; esse dom da impassibilidade impedirá que os
corpos sintam qualquer dor, sofrimento ou incomodo. Tanto o fogo,
como o frio em graus absolutos não terão qualquer efeito sobre o corpo
glorioso dos eleitos, pelo que poderiam, literalmente andar no sol, sem
sofrerem qualquer incomodo com isso. Serão corpos incorruptíveis e
como tal impassíveis a qualquer dor ou sofrimento.
Mas repito, todos estes dotes do corpo glorioso, assim como todos os
deleites nos sentidos que os eleitos experimentarão no seu corpo em
completo delírio de felicidade e prazer, serão meras sombras com
aquela felicidade que advirá da nossa união com a essência divina, que
elevando misteriosamente a nossas faculdades intelectuais, permitir-
nos-á, contemplar aquele que é o Amor e a Beleza infinita... O
nosso Deus e Pai.
ETERNIDADE
A felicidade do Céu dura por toda a eternidade (Dogma de Fé )
O Papa Benedito XII declarou “uma vez que haja começado neles
essa visão intuitiva, face a face, e esse gozo, subsistirão continuamente
neles essa mesma visão e esse mesmo gozo sem interrupção, nem
tédio de nenhuma classe, e durará até ao Juízo Final e desde aí,
indefinidamente, por toda a eternidade” Dz 530
Jesus compara a recompensa pelas boas obras aos tesouros
guardados no céu, aonde não se podem perder (Mt 6,20; Lc 12,33).
Os justos irão à “vida eterna” (Mt 25,46; cf Mt 19,29; Rom 2,7; Jo
3,15s.)
Sto Agostinho acrescenta: “Como podia falar-se de verdadeira
felicidade se faltasse a confiança da duração eterna da mesma?”
De Civ. Dei XII 13,1
A vontade dos bem aventurados se encontra de tal modo confirmada
no bem por uma intima união de amor com Deus, que lhes é
moralmente impossível afastar-se Dele pelo pecado Impecabilidade
Moral.
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DESIGUALDADE
O grau de felicidade celestial é distinto em cada um dos bem-
aventurados segundo a diversidade dos seus méritos (de Fé)
As alegrias do Céu não são igualmente intensas para todos os bem-
aventurados. Quem aqui na terra, amou mais a Deus e o serviu mais
fielmente, receberá no céu o amor de Deus em medida mais
abundante.
Jesus nos assegura: “o Filho do Homem dará a cada um segundo
as suas obras” Mt 16,27.
S. Paulo afirma, “cada um receberá a sua recompensa conforme o
seu trabalho” 1 Cor 3,8. “O que semeia com largura, com largura
colherá” 2 Cor 9,6; cf 1 Cor 15,41s.
Jesus fala-nos das muitas moradas que existem na casa do Pai (
Jo,14,2).
4 - O INFERNO
DOUTRINA DA IGREJA CATÓLICA
As almas dos que morrem em estado de pecado mortal vão ao
inferno (Dogma de fé)
“Morrer em pecado mortal sem arrependimento e sem dar
acolhimento ao amor misericordioso de Deus é a mesma coisa que
morrer separado d’Ele para sempre, por livre escolha própria”. E é
este estado de auto exclusão definitiva da comunhão com Deus e com
os bem aventurados que se designa pela palavra “inferno”. Catecismo
da Igreja Católica nº 1033.
“A doutrina da Igreja afirma a existência do inferno e a sua eternidade.
As almas dos que morrem em estado de pecado mortal descem
imediatamente depois da morte, aos infernos, onde sofrem as
penas do inferno, “o fogo eterno”. A principal pena do inferno
consiste na separação eterna de Deus, único em quem o homem pode
ter a vida e felicidade para que foi criado e a que aspira” . Catecismo
da Igreja Católica nº 1035.
No inicio do séc. II, S. Inácio da Antioquia (ano 110 DC) afirma: “Todo
aquele que pela sua péssima doutrina, corromper a fé de Deus
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pela qual foi crucificado Jesus Cristo, irá ao fogo inextinguível, ele
e aqueles que o escutam”. (Eph 16,2).
- O QUE É O PECADO?
O grande Santo Agostinho de Hipona dizia que “o mal consiste em
abusar do bem”, e ainda: “O pecado é o motivo da tua tristeza. Deixa a
santidade ser o motivo da tua alegria”.
O CATECISMO COMEÇA DIZENDO QUE:
“O pecado é uma falta contra a razão, a consciência reta; é uma falta
ao amor verdadeiro, para com Deus e para com o próximo, por causa
de um apego perverso a certos bens”. (CIC §1849)
Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, viam-no como uma
“desordem”, e diziam que é “uma palavra, um ato ou um desejo
contra a lei eterna”. (Faust. 22; S.Th.1-2,71,6)
Ainda para Santo Agostinho ele é fruto do “amor de si mesmo até o
desprezo de Deus”. (Civita Dei 14,21)
Segundo a sua gravidade, a Igreja classifica os pecados em veniais e
mortais, seguindo a sua própria Tradição.
O pecado mortal leva o pecador a perder o “estado de graça”, isto
é, a “graça santificante”. O Catecismo afirma que:
“Se este estado não for recuperado mediante o arrependimento e o
perdão de Deus, causa a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna
no inferno, já que nossa liberdade tem o poder de fazer opções para
sempre, sem regresso”. (§1861)
O CATECISMO LEMBRA QUE:
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“É pecado mortal todo pecado que tem como objeto uma matéria
grave, e que é cometido com plena consciência e deliberadamente”.
(§1857; RP,17)
É bom notar que para haver o pecado mortal é preciso que a pessoa
queira deliberadamente, isto é, sabendo e querendo, uma coisa
gravemente contrária à lei de Deus e ao fim último do homem.
Portanto, para que haja pecado mortal deve haver pleno
conhecimento e consentimento; e quem peca deve saber e deve ter
consciência do caráter pecaminoso do ato a praticar, e de sua ofensa à
Lei de Deus.
“A matéria grave é precisada pelos dez mandamentos segundo a
resposta de Jesus ao jovem rico: ‘Não mates, não cometas adultério,
não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes ninguém,
honra teu pai e tua mãe’ (Mc 10,19)”. (CIC §1858)
Portanto, a gravidade dos pecados pode ser maior ou menor conforme
o dano provocado pelo mesmo. Também a qualidade da pessoa
ofendida entra em consideração. Ofender ao pai é mais grave que
ofender um estranho.
O pecado gera na pessoa uma tendência ao próprio pecado. Podemos
dizer que quanto mais se peca, mais se está predisposto ao
pecado. A repetição torna-se vício. E assim, nasce na pessoa a
inclinação à perversão, obscurece-se a consciência, e vai se
perdendo o discernimento entre o bem e o mal. Não foi sem razão
que o Papa Paulo VI disse certa vez que, o pior pecado deste mundo é
achar que o pecado não existe. A prática do pecado, continuamente,
faz com que a pessoa perca a noção da sua gravidade. No entanto,
por pior que seja, o pecado não consegue, de todo, “destruir o senso
moral até a raiz”. (CIC §1864)
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5 - O PURGATÓRIO
As almas dos justos que no instante da morte têm pecados
veniais ou penas temporais devidas, vão ao purgatório. (Dogma de
fé).
O purgatório (= lugar de expiação) é um lugar e estado aonde se
sofrem temporariamente castigos de expiação.
Os concílios de Lyon e Florença fizeram a seguinte declaração contra
os gregos cismáticos, que se opunham principalmente à existência de
um lugar especial de purificação , ao fogo do purgatório e ao caráter
expiatório das suas penas: “As almas que partiram deste mundo em
caridade com Deus, com verdadeiro arrependimento dos seus
pecados, antes de terem satisfeito com verdadeiros frutos de
penitência pelos seus pecados por obras e omissões, são
purificadas depois da morte com as penas do purgatório”; Dz
464,693 ; cf Dz 456,570s.
Muito antes das definições do papa Gregório I, em 593 e do Concílio
de Florença de 1439 e do de Trento em 1563 a doutrina do
Purgatório era amplamente conhecida pelos primeiros
cristãos, como bem demonstram as seguintes evidências
patrísticas. Por ser uma doutrina tão conhecida pelos primeiros
cristãos, temos aí uma certeza absoluta dela ter sido ensinada pelos
Apóstolos aos Bispos e seus sucessores.
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esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que
fossem absolvidos do seu pecado”.
As palavras de Jesus em Mt 12,32 “Se alguém disser uma palavra
contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas se disser
contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo,
nem no vindouro.” admitem a possibilidade de que outros pecados se
perdoem não só neste mundo, mas também no outro.
São Gregório Magno comenta “nesta frase se nos dá a entender que
algumas culpas se podem perdoar neste mundo e algumas
também no futuro”. Dial. IV 39.
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VISÕES DE ALGUNS SANTOS E MISTICOS INFERNO
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parte das almas que lá estão é justamente daqueles que não
acreditavam que o inferno existia.
Quando voltei a mim quase que não podia refazer-me do terror
daquela visão. Como as almas sofrem horrores ali! Por isso, rezo com
mais fervor ainda pela conversão dos pecadores. Rogo
incessantemente a Misericórdia de Deus para eles. Ó meu Jesus,
preferia sofrer a maior agonia, até ao fim do mundo do que vos ofender
com o menor que fosse dos pecados.” Diário da Irmã Faustina, caderno
II, 741.
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VISÕES DO PURGATÓRIO DE SANTOS E MÍSTICOS
Santa Margarida Maria Alacoque (1647 —1690) escreveu na sua
autobiografia (edição de 1920, pg 98): “Estava diante do Santíssimo
Sacramento e, de repente, apareceu à minha frente uma pessoa toda
em fogo. O seu estado lamentável fez-me compreender claramente que
se encontrava no purgatório e verti abundantes lágrimas. Disse-me que
era a alma do monge beneditino que tinha ouvido a minha confissão e
me tinha permitido ir comungar. Por esse motivo Deus tinha-lhe
concedido o favor de poder dirigir-se-me, para que lhe adoçasse a
pena. Pediu-me que oferecesse por ele, durante três meses todas as
minhas obras e o meu sofrimento. No fim de três meses, vi-o inundado
de alegria e de esplendor: ia gozar a felicidade eterna. Agradeceu-me
dizendo que velaria por mim junto de Deus”.
São João Bosco (1815 - 1888) perdeu em 1839 o seu mais íntimo
amigo de infância, Luigi Comollo. “Os dois amigos tinha feito a
recíproca promessa, um pouco temerária, de que o primeiro que
morresse viria descansar o sobrevivente sobre a sua sorte no outro
mundo. Na noite seguinte ao enterro de Luigi, sentiu-se no dormitório
ocupado por vinte seminaristas, um estrondo impressionante.
Brilhavam relâmpagos de fogo e depois extinguiam-se. A casa tremia.
Uma voz gritou:“Estou salvo!”Os seminaristas ficaram apavorados e
nenhum ousou mexer-se até despontar a aurora. Uma história incrivel!
Mas houve testemunhas que o viram pessoalmente” von Matt, Don
Bosco, p.p.
Santa Gertrudes, abadessa de Hefia, autora da célebre obra “O
arauto do amor divino”, falecida por volta de 1302, viu um dia a alma de
um religioso defunto que lhe fez compreender, por gestos, que
continuava afastada do seu divino Esposo. Gertrudes perguntou-lhe a
causa. Respondeu esta alma: “É que não estou ainda perfeitamente
purificada das manchas deixadas pelos meus pecados. Se Ele me
concedesse que entrasse livremente no céu, neste estado, eu não
consentiria porque, por muito brilhante que pareça aos teus olhos, sei
que ainda não sou uma esposa digna do meu Mestre”.
Santa Cristina da Bélgica, pastora de Saint Trond, na diocese de
Liege, foi chamada também Cristina a Admirável, tantas coisas
admiráveis se contam dela, coisas admiráveis que aconteceram
durante a sua vida e que as testemunhas atestam. Numa visão foi-lhe
concedido contemplar o Céu e o Purgatório. Ela ouviu uma voz
dizer-lhe: “Cristina, tu estás na felicidade do Céu. Dou-te liberdade de
escolher: ou morar desde hoje entre os eleitos, ou voltar alguns anos à
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terra para, por boas obras, ajudares as almas do Purgatório. Se
escolheres a primeira alternativa ficas em segurança e não tens mais
nada a temer; no outro caso voltas à terra para sofrer um verdadeiro
martírio a fim de ajudares os infelizes e embelezares a tua
coroa...” Cristina respondeu: “Senhor, deixa-me voltar e sofrer pelos
defuntos; não tenho medo de nenhuma dor, de nenhuma amargura”. E
ela realizou obras expiatórias extraordinárias pelas almas do
Purgatório. Muitas de entre elas, entre outras a do conde Luís de Léon,
apareceram-lhe em reconhecimento por tê-las libertado do purgatório.
Santa Perpétua de Cartago No ano 202, Santa Perpétua foi atirada
para a prisão em Cartago. Rezava no cárcere com quatro outros
cristãos quando ouviu uma voz pronunciar o nome de Dinocrato, seu
irmão defunto, em quem não tinha voltado a pensar depois da sua
morte. O rapaz tinha falecido com a idade de sete anos por causa de
um tumor canceroso da face. “Chorei, conta ela, com a recordação da
sua morte e compreendi que devia rezar por ele. Foi o que fiz. Na noite
seguinte, tive esta visão: na minha prisão vi Dinocrato sair de um local
obscuro onde se encontravam também outras pessoas. Estava afo-
gueado, sem fôlego, e coberto de poeira. O seu rosto era macilento,
poeirento e ainda sangrava da chaga que lhe tinha causado a morte:
uma horrível chaga cancerosa que lhe roera as bochechas a tal ponto
que o seu cadáver era uma visão medonha... Havia entre nós dois uma
grande distância que me impedia de ir ter com ele. Perto dele estava
um tanque cheio de água, mas o bordo era demasiado alto para que
ele conseguisse beber, mesmo pondo-se em bicos de pés. Emocionada
por ele não poder beber, acordei e compreendi que o meu irmão ainda
sofria; mas esperava poder dar-lhe alívio. Rezei por ele o tempo todo,
até nos levarem para a prisão do campo, porque estávamos destinados
aos jogos que deviam ser dados em honra do imperador Gete.
Continuei a rezar e a suplicar noite e dia. No dia em que fomos
vergastados, tive uma outra visão. O lugar escuro onde antes tinha
visto Dinocrato, vi-o iluminado. O rapazinho estava vestido com um
belo fato, o corpo limpo e lavado de fresco. A chaga do rosto estava
curada e só se via a cicatriz. O rebordo do tanque estava tão baixo que
ele podia facilmente chegar à água. No bordo havia uma taça cheia de
água. Quando saciou a sede, correu a jogar longe do tanque, como
fazem as crianças. Quanto a mim, acordei cheia de alegria: compreendi
que ele estava livre da sua pena.
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VISÃO DO PURGATÓRIO - SANTA FRANCISCA ROMANA
Para que se firme ainda mais a crença nesta realidade, desde o século
XIV o Senhor bondade infinita, permitiu que sua serva Francisca
conhecesse todas as dependências do Purgatório, objetivando poder
transmitir fielmente a humanidade todas as informações em benefício
da vida de cada criatura.
O texto foi escrito pelo Padre Giovanni Mattiotti, confessor da
Santa, e ele, respeitosamente inicia assim: Em nome da
Santíssima Trindade começo o Tratado do Purgatório,
descrevendo todos os locais onde esta humilde serva de Cristo
esteve conduzida pelo Arcanjo Rafael.
FRANCISCA LOGO NO PRINCIPIO DE SUA NARRATIVA DIZ QUE O
PURGATÓRIO É DIVIDO EM TRÊS IMENSOS PLANOS: UM
INFERIOR, O MÉDIO E O PLANO SUPERIOR.
Na entrada viu as letras que diziam: “Aqui é o Purgatório, lugar de
esperança; neste lugar as almas se elevam; é momento de trégua
e purificação, diante do único desejo de salvação.” Observou que é
um local com muita disciplina e ordem, completamente diferente
daquilo que viu no inferno, e como disse o Arcanjo Rafael e a serva do
Senhor escreveu: “O Purgatório é onde as almas se purificam de
todos os seus defeitos, e por isso é denominado lugar de suplica e
de esperança para outro lugar”.
O Plano Inferior é um local cheio de um fogo claro, diferente do
fogo do inferno que é negro e tenebroso. Este fogo do Purgatório
tem a chama alta, de cor vermelha, contudo não infunde brilho nas
almas. Por esse motivo, a alma neste lugar está sempre cercada por
trevas exteriores. Mas se torna brilhante interiormente por causa das
imensas graças alcançadas durante a sua purificação, que a faz
reconhecer a verdade justa que fixou os limites do tempo de sua
permanência. A alma cheia de pecado lamenta o estado de sua vida e
deixa tudo a critério do Anjo encarregado de fazer a infusão para a sua
purificação naquele fogo. E deste modo, conforme a qualidade e
quantidade de seus pecados, o pecador permanecerá no fogo o tempo
necessário para expiar os seus crimes praticados contra a Justiça de
Deus.
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Todas as almas que estão no Lugar Inferior do Purgatório se
mostram com disposição para a tortura e todos os sofrimentos, e
são envolvidas completamente pelas chamas, suportando aquele
fogo ardente que as atormenta vigorosamente, proporcionalmente
a quantidade e qualidade dos pecados que cada uma cometeu.
Assim, a alma que está no fogo, insensivelmente vai purgando os seus
pecados, do mesmo modo que cresce nela a pureza espiritual. E
terminado o tempo da dívida, ela deixa aquele lugar e sobe para um
local logo acima, que é o Plano Médio do Purgatório. Todavia, se a
alma que está no Plano Inferior foi condenada por ter cometido
pecado mortal, deverá permanecer neste Local num mínimo de
setenta anos, sob o intenso fogo para purificar todos os pecados.
Francisca disse ainda que, aqueles favores que as pessoas no mundo
fazem em beneficio das almas que estão no Purgatório sempre dão
bons resultados, mesmo no caso das almas que estão no Plano
Inferior cujas penas não podem ser reduzida, contudo, elas
também lucrarão com a preciosa ajuda, pois haverá redução na
intensidade do fogo, o qual não as atormentará tanto. Assim
sendo, os favores, orações e esmolas, feitas pelas pessoas no
mundo, contribuem efetivamente para que aquele fogo não seja
tão atroz e ardente para as almas que lá estão em purificação.
O Plano Inferior do Purgatório é aquele que está mais próximo do
inferno, mas os espíritos malignos não podem entrar, permanecem de
fora, no lado esquerdo, para evitar que as almas que lá estão, além das
severas penas, sofram também ao ficarem expostas aos demônios,
perto daquelas horríveis visões e ouvindo as repreensões, os
xingamentos e terríveis impropérios dos diabos.
Francisca disse ainda que por causa das penas severas que sofrem
neste lugar, clamam chorosamente com vozes humildes e
incansáveis: “Ó Deus piedade e misericórdia, misericórdia,
misericórdia”. Certamente conhecendo quão justa e correta é a
Justiça Divina, as almas que lá estão compreendem que estas
penas são justas e dignas de suportar. E por isso também elas
mesmas, apesar de suas constantes súplicas, ficam contentes,
sentindo certa consolação, sabendo que à medida que vão
transcorrendo os dias da purificação, vão se aproximando os dias de
sua libertação à abençoada glória.
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Disse esta humilde serva de Deus, que os Anjos gloriosos são
dados em custódia as almas que tiveram em vida, uma boa
conduta no trabalho e na maneira de falar, e ao contrário, os
demônios acusam os seus pecados e querem prejudicar estas
almas.
Por outro lado, quando alguém por causa da afeição carnal
abandonou a boa conduta, após a sua morte, receberá a pena no
tempo determinado. Diante do justíssimo juiz, de nenhum modo tal
alma tem mérito senão depois de cumprir integralmente o tempo
determinado por causa de seus pecados. Mas se ela, apesar de seus
pecados, tiver uma conduta aprovada e primordialmente se cultivou a
caridade fraterna, sua pena será menor.
Esta alma devota de Deus disse que aquele fogo do Purgatório se
assemelha ao fogo do inferno do meio, ainda que com alguma
diferença, porque o fogo do inferno é negro e escuro, e aquele do
Purgatório é claro. Ela disse que viu na entrada do Purgatório Inferior,
letras escritas que diziam: “Prostibulo”. E viu logo acima, letras
relacionando os maiores pecados mortais, que se praticado por uma
alma ela estará condenada a sofrer naquele fogo por setenta anos
completos (no mínimo), e nada poderá diminuir esta quantidade de
tempo mencionada.
No Purgatório Inferior ela ainda observou que haviam três locais
separados. Um lugar maior onde são infligidas as penas, e nele havia
também almas de sacerdotes, onde precisamente a parte do fogo era
muito mais ardente. Na segunda parte havia almas de pessoas e de
membros do clero não havendo, todavia, sacerdotes ordenados, e na
qual o fogo não era tão ardente. Na terceira parte havia muitas almas
de homens e mulheres seculares com grandes pecados cometidos e
em cuja parte o fogo não era tão ardente, como na segunda parte. E,
no entanto, os sacerdotes não expiavam pecados tão graves e tão
pesados quanto aqueles dos seculares (homens e mulheres civis).
Contudo suportavam penas maiores por um motivo racionalmente
exigente: a dignidade sacerdotal, que é tão grande e tão importante,
que supera a maldade dos grandes pecados. Também, porque
tiveram um conhecimento muito maior, mais oportunidade de
santificação e estimulo ao discernimento espiritual, que as
pessoas seculares tem apenas uma parte. Aquela devota serva de
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Cristo disse ainda que a alma do sacerdote também suporta castigos
maiores e tão grandes, conforme outras circunstâncias, referentes à
qualidade e quantidade dos pecados cometidos, em razão da qualidade
funcional e da dignidade do cargo que exerceu.
Depois Francisca foi conduzida pelo Arcanjo Rafael para visitar o
Local do Purgatório Médio, no qual também tem três divisões
cujos lugares são suficientemente grandes e onde, da mesma
forma, a Justiça Divina realiza de modo perfeito o seu trabalho. Na
primeira área, o local estava cheio de gelo diferente e especial,
extremamente frio; o segundo estava cheio de madeira liquefeita
misturada com óleo ferventíssimo e outras coisas para tornar o
sofrimento da pena mais difícil; o outro local estava cheio de alguma
coisa metálica liquefeita, provavelmente ouro ou prata, formando uma
espécie de liga bem clara incandescente.
Assim, depois que a alma sai do Lugar Inferior ela sobe para o
Purgatório Médio. Por outro lado, a administração Divina, é constituída
por trinta e oito Anjos que recebem as almas saídas (com os pecados
já eliminados) do fogo do Purgatório Inferior, e recebem também as
almas que no corpo estavam no mundo, que não cometeram graves
pecados, de modo não merecer estar no fogo inferior. E estes
gloriosos Anjos recebem estas almas e as submetem ao seu grau
de purificação. Eles as recebem de modo gracioso e humano,
mudando-as de local em local, à medida que vão cumprindo a pena, e
fazem isso com grande caridade. Precisamente estes Anjos não são
aqueles que enviam as próprias almas para a infusão, para extrair o
mal que existe em cada uma, mas são Anjos a serviço das ordens da
Divina misericórdia.
Francisca disse ainda, que as almas que estão no Purgatório Médio,
que vieram do grande Lugar Inferior onde recentemente foram
queimadas completamente, todas e qualquer uma delas, se praticaram
algum pecado mortal permanecerão neste mesmo local do
Purgatório Médio, por quinze anos contínuos, ainda que já tivessem
sofrido pelos seus grandes pecados e já tivessem permanecido no
Lugar Inferior no mínimo por setenta anos. Porém, estes quinze anos
de pena neste Lugar Médio poderão ser abreviados pelo sufrágio
de orações e esmolas da humanidade, dirigidas a todas as almas
que estão no Purgatório.
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Também disse esta alma devota de Deus que neste lugar Médio do
Purgatório, as almas não têm aquela visão horrível dos demônios, os
quais estão externamente ao Lugar Inferior do Purgatório, e também
não ouvem os impropérios daqueles demônios, lançando censuras as
almas, por causa de seus muitos pecados. A alma que está no Lugar
Inferior sempre grita e suplica por piedade clamando: “Misericórdia,
misericórdia”, mas as almas que estão no Lugar Médio sempre louvam
a misericórdia infinita do Senhor, e repetem muitas vezes os seus
agradecimentos. Por outro lado, o favor e qualquer benefício que as
pessoas no mundo por caridade fazem às almas que estão no
Purgatório, vão ajudar mais efetivamente aquelas que estão sendo
purificadas no Lugar Médio. Elas não só lucrarão a diminuição do
castigo temporal, mas também a diminuição da pena total, tanto as
almas que foram condenadas diretamente ao Purgatório Médio como
aquelas que vieram do fogo inferior.
Disse ainda aquela humilde serva de Cristo, que todas as boas obras,
orações e sacrifícios feitos por amigos e parentes em beneficio das
almas que estão em qualquer lugar do Purgatório, o próprio auxílio será
mais útil se feito por plena caridade, por que assim, também beneficiará
a todas as outras almas existentes em purificação. Disse também que
as orações e esmolas feitas caridosamente por amigos e parentes em
beneficio daquelas almas que agora já estão na gloria, e, portanto, não
necessitam das mesmas, tais orações e bons benefícios alcançam a
finalidade, ajudando as outras almas necessitadas pelas quais ninguém
faz sufrágios, ninguém reza e nem dão esmolas. Isto é geral para todas
as almas que estão no Purgatório. Ainda disse, sobre o sufrágio, que se
as almas a quem os mesmos são dirigidos estão no inferno, elas não
poderão receber qualquer benefício, mas unicamente eles, os
sufrágios, resultarão em utilidade para as pessoas que os praticarem.
Esta feliz alma viu também algumas letras escritas no mencionado
Lugar Médio do Purgatório dizendo que a alma com o pecado
mortal naquele lugar deverá permanecer por quinze anos se não
receber nenhum sufrágio. Do Lugar Médio do Purgatório, cumprida as
suas penas, as almas são conduzidas pelos Anjos ao Lugar Superior.
Ela viu dois setores no Lugar Superior do Purgatório, que
precisamente são os melhores locais quanto às penalidades. Ali é
onde existe uma imensa fonte de água que lava a alma, tornando-a
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mais bonita, digna e honrada. A alma que permaneceu purgando os
seus delitos no local mencionado ou em algum outro, e que agora
completa o seu tempo de purificação neste lugar, a bondade Divina as
eleva a esse lugar onde estão alguns Anjos e um Deles que dá a
ordem. Ele é quem recebe as almas agora purificadas de seus
pecados. Ele ordena as almas a ficar sempre com a parte superior da
cabeça naquela corrente de água, e de repente o próprio Anjo
as mergulha totalmente na correnteza, a fim de limpar o restante do
mal existente. Algumas almas se retiram mais rapidamente daquele
lugar tão grande, de acordo com a quantidade de seus pecados
cometidos e purificados. Neste local é onde precisamente a alma
receberá grande quantidade de água para alivio, consolação e sua
própria alegria, porque completando a sua purificação estará agora sem
nenhuma pena ou culpa.
Aquela alma devotíssima de Deus viu também, que quando uma
alma vem do mundo e não tem nenhuma pena a cumprir, é
colocada por aquele Anjo glorioso na mencionada água, e mais
rapidamente a retira de lá, porque a alma está limpa. Ela viu a alma
de um homem e também de uma mulher, que neste mundo trabalharam
em santas obras e se conformavam com a Vontade Divina. Viu
também a alma de uma criança recentemente batizada que nunca
cometeu um pecado e a alma de um jovem que recebeu o martírio por
amor a Deus. Todos eles passaram rapidamente pela água rumo à
eternidade feliz. Desse modo, por pequena que seja a alma neste
mundo, sendo justa e fazendo penitencia poderá ingressar nesse lugar,
mas é necessário que antes de alcançar a glória beatífica seja colocada
naquela água, que seguramente é de purificação e completa a limpeza
espiritual. Contudo, exceção para as almas que são privilegiadas
por Nosso Senhor Jesus Cristo e por sua Mãe Santíssima, que
sobem direto para a felicidade eterna.
NESTE LUGAR SUPERIOR DO PURGATÓRIO HAVIA NA ENTRADA
UMAS POUCAS LETRAS QUE DIZIAM: “Lugar de Purificação”. No
Lugar Inferior havia também o letreiro que dizia: “Aqui é o Lugar dos
Corruptos”. Na entrada do Lugar do Purgatório Médio o letreiro
dizia: “Aqui é o Lugar do Purgatório”.
Também disse esta alma devota de Deus, que, passada na
mencionada água, a alma recebe com grande alegria e júbilo aquele
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Anjo que lhe foi dado em custódia para fazer a infusão, e com ele
segue até um lugar denominado seio de Abraão. Dali, ela viu como
o Anjo Custódio fazia a infusão nas almas e avaliava o grau de
purificação, e conforme o mérito, ela podia ficar nesse lugar, ou
permanecer no Coro dos Anjos mais baixo. Isto porque, são nove os
Coros dos Anjos, e sobre este assunto Francisca fez uma ampla
exposição no Tratado das Visões. Os Anjos que custodiavam a
infusão para a purificação, sempre conduzem primeiro as almas para
aquele local, no seio de Abrahão. Na verdade, aqueles Anjos dados em
custódia para as almas e, por conseguinte, que fazem as infusões, são
os Anjos do Coro mais baixo e das mais baixas residências dos
próprios Coros. Assim, depois que a alma está naquele lugar que é
denominado seio de Abrahão, sem demora os Anjos, que são do
Coro para onde elas devem subir, vêm satisfeitos e com a máxima
alegria e as conduzem para o seu Coro e sua residência, e ali as
almas vivem muito felizes e com bastante júbilo e euforia, na
companhia dos Anjos. E do mesmo modo, se por ventura as almas
devem ser colocadas no terceiro Coro, os Anjos do Terceiro Coro virão
para esse lugar, e assim também, com o mesmo procedimento para os
Anjos dos outros Coros.
Disse também essa venturosa alma dileta de Deus que quando uma
feliz alma está isenta de pecado, de acordo com o seu mérito poderá
alcançar o Coro Seráfico. Isto acontecendo, nenhum dos outros Coros
Angélicos se aproximará para conduzir aquela alma a outro Coro. Se
aquela feliz alma está num lugar inferior, que foi dito seio de
Abraão, é envolvida por um som melodioso inconcebível de uma
suavíssima música, que se eleva admiravelmente, atravessando
todos os Coros Inferiores e a Divina Providência coloca aquela
feliz alma na morada do Coro dos Serafins.
E quando aquelas felizes almas, purificadas de todos os seus pecados,
se aproximam do seio de Abraão e seus méritos são avaliados,
conforme a Providência Divina, todos os Anjos gloriosos que estão
naquele Coro e naquelas residências, fazem uma grande festa com
muita alegria para todas elas. E quanto mais ela subir, pelos seus
méritos e pela misericórdia de Deus, para os Coros e residências
Superiores, maiores solenidades e muito mais júbilo acontecerão, e
aquela alegria pouco a pouco vai aumentando, e assim por todos os
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Coros Angélicos e em toda pátria celeste acontece uma alegria indizível
com todas as almas que sobem para a glória beatífica.
Uma vez, o seu pai espiritual abordando o assunto sobre o espírito
humano e os Anjos, perguntou-lhe se eles eram perfeitos? Ela
respondeu dizendo que os espíritos humanos na glória eterna são mais
perfeitos e têm maiores aptidões do que vivendo no mundo, porém os
espíritos angélicos são puros, serenos, virtuosos, belos e formosos, e
são também simples e precisos na compreensão do abismo Divino.
Assim em seu cantar eles são suaves e com lindas melodias sempre
louvam e bendizem o misericordiosíssimo Senhor por suas graças.
Porém a serva de Cristo fez questão de realçar, as melodias para a
gloriosa Rainha do Céu feitas por todos os espíritos angélicos e
humanos transcendem, e excedem em beleza e ternura, são
maravilhosas. De fato se o canto angélico tem uma melodia tão
grandiosa que não é possível de se imaginar, com muito mais
amplidão, perfeição e suavidade são as músicas dedicadas a MÃE DE
DEUS que ressoam na pátria eterna.
Aquela feliz Francisca, disse, além disso, que quando ela própria
estava naquela visão beatífica, observando o posicionamento dos
espíritos humanos na glória celeste, disse que eles se olham com
humildade, e lá mantêm sua compreensão e capacidade individual
como estavam na carne mortal. Ao mesmo tempo se consideram
dentro do espetáculo Divino, não somente admirando por que não
podem compreender as coisas Divinas profundamente, mas até ficam
aturdidos, impressionados, todas as vezes que observavam a precisão
agudíssima, sutil e penetrante dos espíritos seráficos, e a tão imensa
compreensão que eles têm daqueles indizíveis abismos Divinos. Por
esta compreensível razão, aquela humilde serva de Cristo, estava
excessivamente admirada e com uma impressão muito ampla e
preciosa, sobre a grandeza indizível da profundidade Divina na criação
e no governo dos próprios espíritos seráficos.
Além disso, Francisca estava também impressionada com a
compreensão e harmonia única que existe entre os espíritos seráficos,
se entendendo mutuamente com imenso discernimento penetrante,
ciência infusa, saber e prudência, em todos os Coros Angélicos, e se
excedendo em ternura e pontualidade conforme a sua capacidade,
atuando da mesma maneira como se fosse um único ser. E isto é uma
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advertência, por que os espíritos seráficos apresentam de fato muita
inteligência e perspicácia, e da mesma forma em todos os outros Coros
Angélicos. Por isso, quem quiser estar mais próximo da morada
Divina, deve procurar seguir a Vontade do Senhor a fim de
alcançar a maior propensão de compreender e conhecer as coisas
de Deus. Francisca ainda disse que em todas as moradas de qualquer
Coro tem uma mesma quantidade de espíritos Angélicos, e todos os
Anjos numa morada são semelhantes em nobreza e sobriedade, e
mesmo em moradas diferentes.
Disse também, que quanto mais o espírito é capaz ou inteligente, tanto
mais se satisfaz com a visão beatífica. E embora todos os espíritos
na eternidade sintam uma imensa e plena satisfação nas visões
beatíficas, contudo, uns mais que outros têm maior compreensão
conforme a sua própria capacidade e sobriedade em entender a
Divina Vontade. De fato, por exemplo, os próprios Apóstolos quando
estavam na carne, uns mais do que outros receberam graças vinda do
Espírito Santo, isto por que nenhum deles tinha capacidade e
perspicácia em discernimento e em viril disposição para realizar a
missão que o Senhor lhes confiou. Só alcançaram os dons, necessários
ao cumprimento da missão, através da graça de Deus, uns mais, outros
menos.
Francisca ao concluir afirmou: o Purgatório é um lugar de
esperança. Apesar das muitas transgressões e dos pecados da
humanidade, o Purgatório é um estimulo as pessoas para se
corrigirem dos seus vícios e hábitos perversos, buscando o
caminho do direito e do amor fraterno, por que enseja uma
oportunidade segura de alcançar a eternidade feliz. A estrada da
conversão do coração é estreita e árdua, requer perseverança,
fidelidade e amor, passando pelo exercício das penitências, das
permanentes orações, das Santas Missas, da correta recepção dos
Sacramentos, das pequenas e grandes abstinências e de uma
profunda consciência da renúncia. Só assim será possível
alcançar êxito na reconquista da amizade do Senhor, de quem se
afastou pelos seus muitos pecados cometidos.
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PADRE VIU CÉU, INFERNO E PURGATÓRIO
Frei José Maniyangat é um padre indiano que após um acidente, viu o
Céu, o Inferno e o Purgatório. Atualmente é padre da igreja Santa Maria
Mãe da Misericórdia em Macclenny, Florida. Este é o seu testemunho:
“Eu nasci em 16 de julho de 1949, em Kerala, na Índia. Fui ordenado
sacerdote em 1 de janeiro de 1975 para servir como missionário na
Diocese de Thiruvalla. No domingo, 14 de abril de 1985, Festa da
Divina Misericórdia, eu estava indo para celebrar a Missa em uma
igreja da missão no norte de Kerala, e eu tive um acidente fatal. Eu
estava andando de moto quando fui atingido de frente por um jipe
conduzido por um homem que estava embriagado depois de um festival
hindu. Eu estava apressado para um hospital a cerca de 35 quilômetros
de distância. No caminho, minha alma saiu do meu corpo e eu
experimentei a morte. Imediatamente, eu reconheci o meu Anjo da
Guarda. Eu vi meu corpo e as pessoas que estavam me levando para o
hospital. Ouvi-os chorando e rezando por mim. Neste momento, meu
Anjo me disse: "Eu vou te levar para o Céu. O Senhor quer se
encontrar e conversar com você". Ele também disse que, no
caminho, ele queria me mostrar o Inferno e o Purgatório."
SOBRE O INFERNO:
Era horrível. Parecia um mar de fogo, onde moviam-se figuras negras e
estranhas. As pessoas que lá chegavam tinham o aspecto humano,
mas eram logo totalmente transformadas em monstros a blasfemar o
tempo todo. Havia gente estranha com chifres e rabos, repugnantes,
todas escuras, como demônios. Viram uma moça loira com cabelos
longos e chifres, sofrendo no fogo e rodeada por demônios a saltar.
Dois dos videntes, com medo, não quiseram ver. Nossa Senhora
respeitou sua liberdade.
SOBRE O PURGATÓRIO:
Como um espaço sombrio, pleno de trevas, entre o Paraíso e o Inferno,
onde mal se vislumbrava os semblantes pálidos daqueles que ali se
encontravam. Estava cheio de algo parecido com cinza. Era
assustador. Nossa Senhora disse-lhes: ali é o lugar onde as almas se
purificam; é preciso rezar por elas. Somente as nossas orações,
sacrifícios e a Graça de Deus podem libertá-las de lá. Tudo aquilo era
terrível.
Nossa Senhora explicou: Mostro-lhes o Céu e o Inferno para que
vejam a recompensa preparada por Deus para os que O amam e a
punição reservada aos que O ofendem.