O Novo Direito Ao Nome Civil: The New Right To A Civil Name
O Novo Direito Ao Nome Civil: The New Right To A Civil Name
O Novo Direito Ao Nome Civil: The New Right To A Civil Name
11 - 2012
RESUMO
Este artigo visa a perquirir acerca do tratamento dado pelo ordenamento
jurídico brasileiro ao nome. Em suma, veremos de que maneira um direito da perso-
nalidade pode causar transtornos na vida de uma pessoa e quais os novos problemas
o ordenamento brasileiro tem pela frente.
PALAVRAS-CHAVE
Nome; Registro Civil; Evolução.
ABSTRACT
This work inquires the treatment given by the Brazilian laws to the civil
name. In short, we will see how can a personality right cause disorders in a persons
life, and what are the new problems the Brazilian law is planning ahead.
KEYWORDS
Name; Civil Registration; Evolution.
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EM TEMPO - Marília - v. 11 - 2012 Rainner Jerônimo Roweder (P. 192-208)
1. INTRODUÇÃO
Este artigo pretende trabalhar diversos aspectos do nome das pessoas na-
turais. O Código Civil de 2002 traz alguns exemplos de direitos da personalidade,
dentre eles está o nome1.
De acordo com Brunello Stancioli (2009), os temas concernentes à perso-
nalidade já circulavam entre os romanos e gregos, mas é necessária uma nova leitu-
ra de tal instituto jurídico. Segundo ele, os direitos da personalidade distinguem-se
dos demais direitos fundamentais por serem constitutivos da própria noção plena de
pessoa humana e que pessoa e personalidade têm seu fundamento constitutivo na
autonomia, na dignidade e na alteridade. Normas que contrariem esses valores são, a
princípio, atentatórias à pessoa humana. Uma disposição normativa do Direito Geral
de Personalidade é válida. As especificidades e normas adstritas podem ser obtidas
mediante esforço hermenêutico, que deve ser feito de maneira circunstanciada e à
luz de casos concretos2.
Segundo a ilustre doutrinadora Silma Mendes Berti,
1
Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a
exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.
2
STANCIOLLI, Brunello Souza. Sobre os Direitos da Personalidade no Novo Código Civil Brasileiro.
Disponível em http://www.hottopos.com/videtur27/brunello.htm#_ftn1, acesso dia 22/11/2011 às 15:00 h.
3
BERTI, Silma Mendes. Fragilização dos Direitos da Personalidade. Revista da Faculdade Mineira de Direi-
to, Belo Horizonte, v.3, n. 5 e 6, 1 e 2 sem. 2000. pp. 239-240.
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O nome civil é parcamente estudado pela doutrina brasileira e, quando é feito o es-
tudo, baseia-se em aspectos estritamente legalistas. Pretende-se, neste artigo fazer,
uma breve análise legal, histórica, doutrinária e prática sobre o nome civil. Sem a
intenção de esgotar o assunto, instaremos o leitor ao aprofundamento no tema.
2. ANÁLISE DOUTRINÁRIA
4
DE PLACIDO E SILVA, Vocabulário Jurídico, vol. III, 1977, Editora Forense, p. 1063
5
CICERO, De invetione, I, 24, Ed. De J. P. CHARPENTER ET. GRESLOU, Oeuvres Completes de Cicéron,
vol. II, p. 85, Paris, 1811. Tradução livre ( feita por R. Limongi França) de: Nomen est, quod uni cuique perso-
nae datur, quo suo quaeque próprio ET certo vocábulo appellatur.
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6
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol. I, 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
7
NUNES, Pedro. Dicionário de Tecnologia Jurídica, p. 444, Rio, 1948. Apud FRANÇA, Rubens Limongi, Do
nome civil das pessoas naturais, 3. Ed. rev., São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975, p. 20.
8
FERREIRA, A. B. H. Aurélio século XXI: o dicionário da Língua Portuguesa. 3. ed. rev. e ampl. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1999. 2128p.
9
Do Nome Civil – Ed. F. Briguiet & C., Rio de Janeiro, 1935.
JOSÉ NAUFEL, Novo Dicionário Jurídico Brasileiro, Vol. III, p. 210, Rio de Janeiro, S/D. Apud FRANÇA,
10
Rubens Limongi, Do nome civil das pessoas naturais, 3. Ed. rev., São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975, p. 20.
PEREIRA E SOUZA, Esboço de hum Dicionário Jurídico, Theorético e Prático, Lisboa, 1825. Apud FRANÇA,
11
Rubens Limongi, Do nome civil das pessoas naturais, 3. Ed. rev., São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975, p. 20.
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nome de pessoa, [...] é uma espécie.” 12 Entendo que o nome é conferido ou reco-
nhecido a uma pessoa, independentemente de seu registro civil, que possui natureza
declaratória de um Direito da Personalidade pré-existente.
12
FRANÇA, Rubens Limongi, Do nome civil das pessoas naturais, 3. Ed. rev., São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1975, p. 21
13
MOURA, Mario de Assis. Manual dos Escrivães do Cível. 1a. ed. São Paulo: Editora Saraiva & Cia.
1934, p. 07
14
Idem, p.25
15
Ibidem, p.48
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16
Disponível em http://www.dji.com.br/codigos/1916_lei_003071_cc/cc0192a0201.htm
17
FRANÇA, Rubens Limongi, Do nome civil das pessoas naturais, 3. Ed. rev., São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1975, p. 49
18
Art. 55, Parágrafo único in verbis. Os oficiais do registro civil não registrarão prenomes suscetíveis de expor
ao ridículo os seus portadores. Quando os pais não se conformarem com a recusa do oficial, este submeterá
por escrito o caso, independente da cobrança de quaisquer emolumentos, à decisão do Juiz competente.
19
Art. 56. O interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil, poderá, pessoalmente ou por
procurador bastante, alterar o nome, desde que não prejudique os apelidos de família, averbando-se a altera-
ção que será publicada pela imprensa.
20
Tal princípio já se encontrava presente no Digesto de Ulpiano com a afirmação rerum enim vocabula imuta-
bilia sunt, hominum mutabilia (Os nomes das coisas são, em verdade, mutáveis, os dos homens imutáveis).
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pleto e uniforme. Após a 6.015/73, as leis que foram publicadas tratando do nome
dispunham, em regra, de alterações da Lei de Registros Públicos.
4. OPINIÃO TÉCNICA
Para dar maior credibilidade a esta pesquisa foi realizada uma entrevista,
via e-mail, com a Registradora Civil de Belo Horizonte, Letícia Franco Maculan As-
sumpção21, que nos presenteou com o seu brilhante conhecimento prático e teórico
sobre o assunto aqui tratado. Vejamos:
1 - Sabemos que o Registrador pode recusar prenomes suscetíveis de expôr ao ridí-
culo os seus portadores. Qual é o juízo utilizado pelo registrador para saber se
o prenome expõe ou não o seu portador ao ridículo?22
21
Letícia Franco Maculan Assumpção
Oficial de Registro do Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais do Distrito do Barreiro – Belo Horizonte/MG
Ex-Procuradora do Município do Belo Horizonte/MG
Ex-Procuradora da Fazenda Nacional
Especialista em Direito Público pela UNIGRANRIO
22
Ressalte-se que as perguntas por mim elaborada se encontram em negrito.
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23
LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil. Vol 1. 7ª Ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,1989.
24
TABAPALIPA, João Guilherme. Aspectos Jurídicos dos Nomes Ridículos. Florianópolis: Momento Atual,
2005, p. 55.
25
Disponível em: http://stj.jus.br/webstj/processo/Justica/detalhe.asp?numreg=200300499069&pv=01000000
0000&tp=51
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Sul, na Apelação Cível n. 70010282937, julgada em 2004, foi deferido pedido para
mudança do prenome constrangedor “Lidonete” para “Fernanda”, nome pelo qual a
pessoa preferia ser chamada desde criança:
26
TJRS. Apelação Cível Nº 70010282937, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz
Felipe Brasil Santos, Julgado em 22/12/2004. Disponível em: http://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/
consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal+de+Justi%E7a&versao=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_
comarca=700&num_processo_mask=70010282937&num_processo=70010282937&codEmenta=983010&tem
IntTeor=true.
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a) Nomes que não correspondem ao sexo do titular ou que possam causar dúvi-
da nessa identificação. Ex.: Jaci, Ivanir, Têmis, Valdete, Dalas, Iacy, Suzely, Sirley,
Rhaine, Neide, Suzely, Edulaci, Lindamar, Teorizes, Rayone, Walderei.
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Chá, Asteróide, Arnaldo Queijo, Danúbio, Brasil Guarani, Verme, Sete Rolos de
Arame Farpado, Hidráulico, Boto, Galo, Dinossauro, Cavalo Antônio, Dignatário
da Ordem do Cruzeiro do Sul, Colírio, Placenta, Oceano Pacífico, Mansidão, Barri-
gudinha, Veneza Americana do Recife, Epílogo, Gol Santana, Remédio, Pôr-do-Sol,
Júpiter, Saturno.
h) Número, mês ou data: Um Dois Três, 007, Um Mesmo, Treze de Maio, Janeiro
Fevereiro de Março Abril.
n) Palavras vulgares: Maria Privada de Jesus, Maria Cólica de Jesus, Avagina, Bun-
dasseca, Bucetildes, Mijardina, Dosolina Piroca, Sansão Vagina.
28
Segundo Tabalipa (2005, p.60), tais prenomes, chamados por ele de incomuns, não causam, a rigor, nenhum
sentimento contrário, pois existem na nossa língua. Convém, porém, que os notários sejam cautelosos, adver-
tindo os pais sobre possíveis problemas que a criança possa ter, no futuro, devido ao nome “diferente”.
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Naturais diz respeito ao prenome. No entanto, também é preciso atentar para o nome
completo, porque o ridículo pode estar no sobrenome ou mesmo no conjunto preno-
me e sobrenome.
Efetivamente, um prenome normal e um sobrenome normal, se somados,
podem resultar em cacofonia29, como é o exemplo de um certo senhor, citado por
Oliver, cujo nome era Jacinto Leite Aquino Rego. Em casos como esse, deve-se
sugerir uma simples alteração na ordem dos nomes de família ou a escolha de outro
sobrenome dentre aqueles da família.
Sobre esse assunto, vale ressaltar a opinião do professor Walter Ceneviva.
Segundo ele, o serventuário pode recusar o registro do prenome suscetível ao ridícu-
lo, mas não possui poder legal para impedir o registro de um sobrenome que possa
ser fonte de constrangimento, devendo apenas chamar a atenção dos pais para tal
fato, sugerindo - e não impondo - uma solução.30
3 - O art. 56 da lei 6015 estabelece que “O interessado, no primeiro ano após ter
atingido a maioridade civil, poderá, pessoalmente ou por procurador bastante,
alterar o nome, desde que não prejudique os apelidos de família, averbando-
se a alteração que será publicada pela imprensa”. Tal prática é recorrente? É
indagado o motivo que leva à alteração? Existe algum procedimento específico
para tal prática? Pode ser feita diretamente no cartório?
A prática não é recorrente e entendo que deve ser feita por procedimento ju-
dicial, pois é necessário demonstrar que a pessoa não está buscando mudar de nome
para fugir de obrigação civil ou a processo ou condenação criminal.
29
Conforme Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Cacofonia), cacofonia, cacófato ou cacófaton é o nome que
se dá a sons desagradáveis ao ouvido formados, muitas vezes, pela combinação de palavras que, ao serem
pronunciadas, podem dar um sentido pejorativo, obsceno ou mesmo engraçado. Alguns exemplos são: por
cada; boca dela; vou-me já; vi-a; uma mão; ela tinha; confisca gado; vi ela; como as concebo; moça fada; havia
dado; por ter me tido; amar ela.
30
CENEVIVA, Walter. Lei dos Registros Públicos Comentada. São Paulo: Ed. Saraiva, 19 ed., 2009
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Tal alteração também se faz pela via judicial, onde deverá ser demonstrado
que o apelido é público e notório. Casos muito conhecidos são os do ex-presidente
Lula, da apresentadora Xuxa e do ex-jogador de futebol, Pelé.
5. NOVOS DESAFIOS
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Algo próximo ao Município em nosso ordenamento jurídico.
204
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32
ALVARENGA, Luiz Carlos. O REGISTRO CIVIL DOS TRANSEXUAIS. Belo Horizonte: Edição do autor.
2005. p. 84.
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6. CONCLUSÃO
33
TJRS. Apelação Cível Nº 70013909874, RELATORA: MARIA BERENICE DIAS, Porto Alegre, 05 de abril de
2006. Disponível em: http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_
id=1076
34
HAIDAR, Rodrigo. Supremo reconhece união estável homoafetiva. Consultor jurídico. Disponível em:
http://www.conjur.com.br/2011-mai-05/supremo-tribunal-federal-reconhece-uniao-estavel-homoafetiva
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REFERÊNCIAS
FIÚZA, César. Direito Civil: curso completo. 8 ed. Belo Horizonte: Del Rey,
2004.
FRANÇA, Rubens Limongi, Do nome civil das pessoas naturais, 3. Ed. rev., São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1975, 679 p.
JOSÉ NAUFEL, Novo Dicionário Jurídico Brasileiro, Vol. III, p. 210, Rio de Ja-
neiro, S/D. Apud FRANÇA, Rubens Limongi, Do nome civil das pessoas naturais,
3. Ed. rev., São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975, p. 20.
LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil. Vol 1. 7ª Ed. Rio de Janei-
ro: Freitas Bastos,1989.
MOURA, Mario de Assis. Manual dos Escrivães do Cível. 1a. ed. São Paulo, Edi-
tora Saraiva & Cia. 1934, p. 07
NUNES, Pedro. Dicionário de Tecnologia Jurídica, p. 444, Rio, 1948. Apud FRAN-
ÇA, Rubens Limongi, Do nome civil das pessoas naturais, 3. Ed. rev., São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1975, p. 20.
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PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol. I, 20. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2004.
VILLELA, João Baptista. Direito, Coerção & Responsabilidade: Por uma Or-
dem Social não violenta. Belo Horizonte: UFMG, 1982, passim.
208