Dissertacao Hisashi para Entrega - 25-08-2012
Dissertacao Hisashi para Entrega - 25-08-2012
Dissertacao Hisashi para Entrega - 25-08-2012
São Paulo
2012
1
HISASHI TOYODA
São Paulo
2012
2
HISASHI TOYODA
Aprovada em ______/_________/2012.
Dedico.
4
Agradeço.
5
Provérbios, 24:16
6
RESUMO
ABSTRACT
SUMARIO
INTRODUÇÃO............................................................................................. 10
RELATIVIZAÇÃO.................................................................................... 17
INDIVÍDUO.......................................................................................... 18
DIREITO INTERNACIONAL..................................................................... 80
PÁTRIO........................................................................................................ 85
- O CASO EUROPEU........................................................................................ 98
9
CONTRIBUINTE....................................................................................... 123
FUNDANTES............................................................................................... 143
CONCLUSÃO.................................................................................................... 231
REFERÊNCIAS........................................................................................... 243
10
INTRODUÇÃO
políticos estáveis e soberanos. Foi também o ponto de partida para uma evolução
constitucionalização.
Essa foi uma etapa crucial, definindo um novo rumo para a relação entre
civil organizada. Do mesmo modo, a democracia não pode ser vista como um mero
também deve ser vista a sistemática legal para a sua proteção e efetividade.
frente ao Estado, o que confere um novo sentido às reflexões e aos debates sobre
que tem orientado a criação e a aplicação das normas tributárias, optou-se, neste
exação fiscal.
tributação regressiva que prioriza os impostos indiretos, o que contribui para elevar
trabalho teve como objetivo geral investigar como esses direitos podem ser
protetivo alcançado por meio da construção de uma via supraconstitucional para a sua
brasileiro, este trabalho lança uma luz sobre o processo de judicialização dos
14
o Estado e os indivíduos.
humanos em sentido amplo, a pesquisa contribui para lançar novos olhares sobre a
maior proteção e concretude dos direitos dos contribuintes, levando em conta sua
suscitado por novos cenários que exigem respostas inovadoras e ainda mais
ousadas para a real valorização do ser humano, seja como indivíduo, ou como
cidadão contribuinte.
marcou a busca de relações menos assimétricas entre o ente estatal e seus súditos.
bases do Estado do Direito e um campo relacional mais objetivo quanto aos limites
cada vez mais imbricada com as questões internas dos Estados na busca da
tema, aprofundado com estudo das decisões das Cortes Européias tendo como
humanos para alcançar uma nova e mais completa perfomance do Direito pátrio
dissertação, foi elaborado com base na lógica indutiva. Nas diversas fases desta
supraestatal.
com força para se impor perante os senhores feudais, e também devido a uma
centro das atenções, e não mais a religião como ocorrera na Idade Média.
1
Maquiavel (1469-1527) foi chanceler e secretário das relações exteriores da República de Florença,
tendo desempenhado o cargo de embaixador da cidade junto a Cesare Borgia por breve período.
19
Ricciardi (2005, p. 39) comenta: “Se o objetivo for uma ação política digna de êxito, é
necessário ler os tempos e suas contínuas mudanças, ainda que a realidade não
Em sua obra “O Príncipe”, deixou claro que não podia mais subsistir a
2
Comentam Arnaut; Bernardo que (2002, p. 94), “Os humanistas trataram desde o início em realizar uma
ofensiva contra a Escolástica, especialmente no que se refere à metodologia, baseada nas abstrações. O
humanismo repudiava tal metodologia, pois de acordo com sua tese, a filosofia deveria ter algum uso
prático na vida social e política, ou seja, todo conhecimento deveria servir para ser usado”.
3
Goyard-Fabre (2002) descreve o projeto político de Maquiavel como sendo “[...] embasado numa
vontade de ruptura com os pressupostos idealistas e as especulações utópicas da filosofia clássica”.
O autor afirma que, para o autor italiano, “é inútil dissertar sobre o ‘melhor regime’, cujos contornos
nunca farão compreender em que consiste a natureza do Poder político; essa natureza só se exprime
através dos empreendimentos que o chamam e que ele provoca”.
20
modo próprio de abordar o poder político, deixando de lado tudo o que não fosse
autonomia e vontade, como ser dotado de uma plenitude criadora e não mero
construção de um Estado liberto das amarras do poder da Igreja, afirma: “Deus não
fará tudo para não nos retirar o livre arbítrio e a parte de glória que nos cabe”.
“A efetividade das coisas e a efetividade da ação política, portanto, somam-se para sintetizar não só
4
a análise correta do estado atual das coisas, mas também a capacidade de se adequarem àquilo que
as circunstâncias pedem por causa da sua incontestável objetividade” (RICCIARDI, 2005, p. 40).
5
Pico della Mirandola, filósofo neoplatônico do período inicial do Renascimento (1486), em sua obra
“Oratio de hominis”, ressalta a liberdade do ser humano, com total liberalidade para tomar decisões e
fazer suas opções, de maneira a atender a seus anseios e desejos e criar as suas próprias leis,
produzindo sua própria história (BIGNOTTO, 1992).
6
Na concepção maquiavélica, o príncipe deve conciliar a capacidade (virtu) da intransigência com o
senso de oportunidade, de modo que possa tirar proveito de qualquer situação e assim ter êxito político.
Essa qualidade pessoal “é aquela autoconfiança e firmeza de convicções que permite que o príncipe
aproveite as oportunidades mesmo quando a contingência inesperada o pega de surpresa; permite que
a fortuna (i. e., o acaso, a sorte) seja dominada” (MORRISON, 2006, p. 90). A idéia de virtude também
está relacionada à fidelidade ou disposição do povo para preservar as instituições políticas, sendo este
senso de civismo tão importante quanto a virtu do governante no entender de Maquiavel.
21
divina, vinculando o poder a uma teleologia pessoal daquele que o exerce. Nesse
cidadania e polis.7
Estado articulado em torno de um poder político forte, pela ética clássica. Distinguiu
então duas éticas, a cristã, “[...] fundada na revelação e na consciência, e outra antiga,
Esse resgate do sentido político da polis para a reflexão sobre como deve se
não uma referência para a ação concreta. Para Maquiavel, somente por meio da
7
Conforme Silva (2010, p. 40), “Sendo o palco do ressurgimento de um conjunto de valores clássicos
associados ao republicanismo, a Florença da virada do século XIV para o século XV viu surgir uma
nova vaga de interesse em clássicos como Aristóteles e, principalmente, Cícero, cuja influência no
movimento intelectual do renascimento é enfatizada por Baron. O principal legado desses clássicos
da antiguidade para os humanistas do renascimento italiano teria sido a lição de que a plena
realização da humanidade dos indivíduos só seria possível mediante a participação desses indivíduos
– qua cidadãos – nos assuntos públicos.”
8
O Renascimento exalta o homem e sua liberdade, libertando-o das amarras da idéia de um destino
pré-determinado por Deus. Trazendo-o de volta à terra, exalta a razão, e não a crença religiosa, como
motor e ponto de partida para a construção dessa liberdade. Como conseqüência, o fim da existência
passa a ser visto como aquilo que cada homem entende ser adequado para a sua felicidade e bem-
estar, conforme lhe revela a razão.
22
devia e podia utilizar-se dos meios a sua disposição para manter-se no poder, não
menos necessário era que estivesse voltado para o atendimento do interesse geral.
ética, não mais aquele conferido pelo cristianismo, preocupado com o agir individual
e com a divindade como a suprema julgadora dos atos humanos. Sua ética dizia
respeito aos valores públicos. Não lhe interessava a abstração, mas o que podia ser
justificativa enquanto conduta baseada nas normas11, como Direito efetivo, não
mostram-se aqui em toda a sua força e significado. Nada há, fora desse objetivo,
9
Observa Reale (1984, p. 367) que “O Poder, para o qual Machiavelli atentara, passou a ser
examinado a uma nova luz, como fato ou relação de fatos”.
10
Refere Goyard-Fabre (2002, p. 66) que “[...] o florentino abre a via de uma compreensão moderna do
direito público, na medida em que o humanismo que o conduz se reporta à experiência e à história.”
11
“O Príncipe, fundador de uma ordem inteiramente nova, tem a seu cargo fazer de seu ‘principado
novo’ um sistema jurídico, isto é, um corpo de ordenações e de leis sobre o qual se edificará sua
prática política” (GOYARD-FABRE, 2002, p. 67).
23
Por isso afirma Goyard-Fabre (2002, p. 64) que Maquiavel não somente
poderia ser mantida pela sagacidade, pelas qualidades do Príncipe, seja pela via da
atenção e dedicação ao povo, mas também, pelo uso da força e por atitudes
subsistir, não mais nos termos do pensamento escolástico, isto é, pela força dos
racional, da vontade autônoma dos sujeitos, e nesse caso ele não pensava no
governante como alguém que deve e pode agir apenas por si mesmo, mas a partir
Florentines” que “[...] a ‘Cidade’ não tem necessidade de basear sua salvação na
que o Príncipe deveria recorrer à força, quando necessário, para que não
favor de alguns.
24
ressaltando que toda ação do governante deve ser realizada de modo a não onerar
tributária interna, onerosa para os seus súditos, e o que ele poderia dispor sem
maiores preocupações por ser produto das suas políticas de conquista e das
foi o ponto de partida para o debate erigido por Hobbes12. Todavia, na sua obra
13
Hobbes recusa a concepção montaigneana , assim como a de Maquiavel,
para quem a maldade humana é um teatro inesgotável de grandes e
pequenas vilanias, e procura entender o gênero humano a partir do que,
para ele, teria sido sua característica essencial. [...] Hobbes concluiu que há
um fundamento universal para a humanidade: o medo da morte violenta. A
morte violenta aparece, para os seres humanos, como o pior dos males.
12
Thomas Hobbes (1588-1679) foi secretário de Francis Bacon entre 1621 e 1626. Escreveu
“Elementos da Lei Natural” (1640). As lutas políticas inglesas o fizeram exilar-se em Paris, onde lançou
o ensaio “Sobre o cidadão”. Retornando à Inglaterra, publicou “O Leviatã” em 1651.
13
Michel de Montaigne (1533-1592), filósofo francês, autor de “Essaies”, foi um notório representante
do humanismo renascentista. Para ele o valor maior não é a recompensa do alcance de objetivos
pessoais, ao contrário do pensamento maquiaveliano. Contrapondo-se, também, ao pessimismo
hobbesiano, as suas idéias refletem uma visão otimista do ser humano, concebendo-o como alguém
capaz de fazer escolhas e que, ao portar-se segundo referências morais, não perde a sua autonomia
e a sua individualidade.
26
em exigência e condição para o bom governo, pois “[...] aquele que irá governar a
nação inteira deve ler, em si mesmo, não este ou aquele indivíduo em particular,
Isso não invalida o rigor racional com que Hobbes estruturou suas idéias,
discutindo a assimetria que o Estado impõe, já que o seu poder é soberano frente a
todos os indivíduos. Se antes todos eram iguais, com o surgimento do ente estatal
14
“É este o fundamento daquele direito de punir que é exercido em todos os Estados. Porque não foram
os súditos que deram ao soberano esse direito; simplesmente ao renunciarem ao seu, reforçaram o uso
que ele pode fazer do seu próprio [...] para a preservação de todos eles” (HOBBES, 1974, p. 190).
15
Hobbes, no Leviatã (6:46), fala sobre a natureza humana, identificando o desejo como fonte dos
conflitos humanos, no confronto das paixões movidas pelos interesses divergentes, situação
inexorável durante a existência terrena (MORRISON, 2006).
27
16
Entende Hobbes que, por mútuo acordo (o contrato social), os indivíduos transferiram parte da sua
liberdade em troca da proteção do Estado, e para isso este foi dotado de soberania, tendo um poder
superior para atingir seus fins: “É como se cada homem dissesse a cada homem: Cedo e transfiro
meu direito de governar-me a mim mesmo a este homem, ou a esta assembléia de homens, com a
condição de transferires a ele teu direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas ações.
Feito isto, à multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado, em latim civitas. É esta a
geração daquele grande Leviatã [...] Aquele que é portador dessa pessoa se chama soberano, e dele
se diz que possui poder soberano. Todos os restantes são súditos” (HOBBES, 1974, p. 109).
17
Hobbes usa o Leviatã (do latim Leviathan com derivação do hebraico, aparece no Livro de Jó, cap.
40, 20-22), monstro bíblico, como representação do Estado, figura onipresente, suprema que,
inspirando temor em todos, conduz os homens ao caminho da obediência às normas que com o ente
estatal surgem para o regramento da vida coletiva.
18
Importante destacar que nem Hobbes, nem outros contratualistas, consideravam o contrato social
como um fato histórico, utilizando-o como forma de referir-se a um momento em que os indivíduos,
por mútuo acordo, estabeleceram as bases para o surgimento do Estado. Como expõe Reale (1984,
p. 650) “[...] a referência a um contrato é antes de tudo uma forma de referir-se a um critério jurídico
para expressar um consenso coletivo, de onde derivou o aparecimento do Estado.”
28
deste foi o contrato social, por extensão o tributo também teve origem no livre
conflitos. Foi também a via pela qual surgiu um poder soberano, necessário para
assegurada pela força superior do Estado era impossível qualquer posse perene
29
pacífica. Num estado de liberdade irrestrita, todos podiam fazer o que bem
O contrato social criou o Direito, e com ele surgiu a figura do soberano, não
sendo este apenas uma pessoa, mas uma instituição que representava a vontade
dos que cederam parte da sua liberdade no pacto coletivo. O soberano representava
[...] de cujos atos cada um dos membros de uma grande multidão, por
acordos mútuos, transformou-se em autor, a fim de que ela possa usar a
força e os meios de todos eles, como lhe parecer oportuno, tendo em vista a
paz e a defesa comuns a todos (MORRISON, 2006, p. 112).
considerava inadmissível que aquele que fora designado pelo pacto social para
dos direitos dos indivíduos sempre que não observados pelo soberano.
efetividade dos direitos dos seus súditos, seu poder poderia ser contestado, pois não
mais subsistiria o pacto social originário: “Se os súditos devem agir conforme a lei e
assim o absolutismo a que se faz referência garante que a coletividade não seja o
O Estado e sua origem, nos termos hobbesianos, foi questionado por outros
pensadores, destacando-se Jonh Locke19, que entendeu ser o pacto social não a
19
John Locke (1632-1704) nasceu na Inglaterra, estudou em Oxford e visitou a França e a Holanda,
retornando à Inglaterra por ocasião da Revolução Gloriosa de 1688. Notabilizou-se como um dos
mais importantes precursores do Iluminismo, tendo sido árduo defensor do liberalismo, que iria ser a
referência política para as lutas contra o Estado absolutista na Europa entre os séculos XVII a XIX.
31
ao direito de fazer justiça, mas preservaram os seus direitos naturais, tais como o
Para Locke, a natureza belicosa do ser humano em princípio foi mediada pela
razão. Porém, não sendo esta capaz de assegurar a igualdade entre todos,
20
Embora seja apontado como um dos representantes dos ideais do liberalismo, a concepção
lockeana sobre um poder político dissociado do direito de propriedade não faz nenhuma referência a
um modelo de economia pautado nas relações de mercado: “A propriedade é sempre pensada em
conexão com a necessidade de assegurar a preservação da humanidade (e não dos indivíduos
isoladamente) e condicionada a este objetivo. Não se trata, portanto de uma propriedade privada tal
como a conhecemos, ilimitada, pois a categoria propriedade não é abordada de um ponto de vista
exclusivamente econômico, mas essencialmente moral” (CERQUEIRA, 2000, p. 11).
21
Jurista holandês, também chamado Hugo Grotius (1549-1632), amparando-se no racionalismo,
entendia que a sociedade é o resultado natural da condição humana, ou seja, antecede ao Direito
positivo. Este surge em um grupo social, e se transforma em pacto coletivo do qual se originam o
Estado e as normas jurídicas positivas, as quais têm substrato no Direito natural que lhe é anterior. O
seu pensamento representa, portanto, o chamado contratualismo parcial, ao contrário de Hobbes, que
entende ser o contrato a origem da sociedade e, por extensão, do Estado, como decorrência natural
dessa vontade comum posta a serviço de um objetivo de interesse geral, que é a proteção de cada um.
32
limitações. Locke sugeriu uma relação direta entre o Estado e a vontade popular,
executivo, deve assegurar “[...] tudo o que for útil à comunidade” (MORRIS, 2002,
p. 151).
trabalho individual23, não sendo algo que nasceu com o Direito, como supunha
Hobbes. Para Locke ela existia antes mesmo do Estado e das normas que dele
emergiram.
externo, derivado
22
“A Escola do Direito Natural ou do Jusnaturalismo distingue-se da concepção clássica do Direito
Natural aristotélico-tomista por este motivo principal: enquanto para Santo Tomás primeiro se dá a lei
para depois se pôr o problema do agir segundo a lei, para aquela corrente põe-se primeiro o indivíduo
com o seu poder de agir, para depois se pôr a lei. Para o homem do Renascimento o dado primordial
é o indivíduo, como ser capaz de pensar e de agir. Em primeiro lugar, está o indivíduo, com todos os
seus problemas, com todas as suas exigências. É da autoconsciência do indivíduo que vai resultar a
lei” (REALE, 1991, p. 645-646).
23
Segundo Locke (2001, II, p. 35) “[...] a condição da vida humana, que requer trabalho e materiais
com o que trabalhar, introduz necessariamente a propriedade particular”.
33
[...] do fato de que, além do direito proposto pela vontade do príncipe (direito
positivo), existe um direito que não é proposto por vontade alguma, mas
pertence ao indivíduo, a todos os indivíduos, pela sua própria natureza de
homens, independentemente da participação desta ou daquela comunidade
política. Estes direitos são os direitos naturais que, preexistindo ao Estado,
dele não dependem, e, não dependendo do Estado, o Estado tem o dever
de reconhecê-los, não pode violá-los, pelo contrário, deve assegurar aos
cidadãos o seu livre exercício (BOBBIO, 1997, p. 16).
vislumbrado por Hobbes, como causa dos conflitos entre os homens, mas
representação: o Leviatã, “[...] enquanto ‘pessoa única’ ou unum quid [...] é uma
(grifado no original).
rei, embora entendesse que o Estado devia estar dotado de um poder superior
além da pessoa do rei. Foi somente no século XVIII, com Sieyès25 (1988) que se
representativo e o Estado-nação.
24
Rex est populus.
25
Emmanuel Joseph Sieyès (1748-1836), escritor, eclesiástico e político francês, considerado o
precursor do constitucionalismo.
26
Charles Louis de Secondat, Barão de La Brède e Montesquieu (1689-1755), foi um dos principais
representantes do Iluminismo francês. Crítico mordaz do modelo absolutista, autor da obra “O Espírito
das Leis” -“L´Esprit des Lois”, de 1748, na qual comenta sobre a necessidade da separação dos
poderes, fundamentando a chamada “teoria dos freios e contrapesos”: Executivo, Judiciário e
Legislativo devem ser poderes autônomos, mas cada um atuando de maneira e impedir que os
demais se contraponham, de modo a se assegurar um equilíbrio necessário que permite evitar
abusos e melhor encaminhar a efetiva concentração no interesse coletivo.
35
por Foucault (2009), quando fala da pretensão de uma reforma penal, no bojo das
século XVIII, do qual emergiu uma nova consciência sobre o poder e seu exercício,
não mais firmada em uma vontade exclusiva, mas num interesse geral.
Buscava-se, segundo Foucault (2009, p. 79) fazer com que o poder de julgar
27
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), tendo nascido em Genebra, Suíça, tornou-se um dos mais
influentes pensadores iluministas na França, participando da elaboração da Encyclopédie.
Transitando entre a razão e a fé calvinista, retornou em 1754 a Genebra pra professar sua fé, mas em
1755, de volta à França, se lança em um projeto pessoal para discutir as questões cruciais da época,
do qual nascem seus livros mais importantes: “Nova Heloísa” (1760); o “Contrato Social” (1762) e
“Emílio” (1762). Esse período, porém, foi marcado pela ruptura com os enciclopedistas e com as suas
próprias raízes suíças.
28
Os filósofos iluministas assim eram denominados porque entendiam que a razão, imiscuída nos
atos de governo, seria o instrumento de iluminação, do esclarecimento geral, dando origem a um
novo homem e a uma nova sociedade, liberta das amarras do obscurantismo, das crenças errôneas,
conduzindo a um patamar de desenvolvimento geral pautado na valorização da liberdade e do
potencial humano.
36
de “estado de guerra”.29
sistema de governo desse tipo, explicitadas na sua obra “O Espírito das Leis”:
29
“O Espírito das Leis”, Livro XI, cap. VI.
Bussuet, um dos teóricos do absolutismo francês, encontra em Hobbes inspiração para seu
30
entendimento sobre o poder absoluto do soberano, concentrado, como vontade única, representação
do Estado, na qual se dilui a vontade popular: “Bossuet descreve o essencial da soberania
monárquica numa subdivisão que traz o seguinte título: ‘O que é a majestade?’. Nela encontramos a
incorporação do povo no rei e a unificação das vontades da multidão, características da problemática
do Leviatã: ‘O príncipe, enquanto príncipe, não é considerado como um homem particular: é um
personagem público; todo o Estado está nele; a vontade de todo o povo está encerrada na sua’.”
(JAUME, 2005, p. 180).
37
Judiciário. Essa separação arbitrária possibilita fixar certos limites para o exercício
do poder.
de tal forma que, em seu todo, pudessem concorrer para a consecução dos fins do
Mesmo tendo Hobbes feito referência à lei e à sua supremacia, entendeu que
poderia haver uma limitação legal ao poder real. Em posição contrária, Montesquieu
afirmou que um bom governo exige um monarca cujos poderes encontram limites,
ser o povo, e não o soberano, a fonte originária do poder. A vontade política não
estaria apenas no soberano, devendo ser partilhada com o povo, para o qual os atos
Rousseau, “[...] é preciso demonstrar que o desnível quase ontológico entre o príncipe
Para esse filósofo, a relação dialógica entre sujeito e norma era a condição
para que o contrato social31 refletisse a vontade de quem lhe deu origem, impedindo
do juízo individual permitem a comunicação com aquilo que a lei ordena, eu estou,
ao mesmo tempo, livre e obrigado, eu só obedeço, como dirá no Contrato, à lei que
Não admitiu a idéia da cessão da liberdade, feita por todos os homens para assegurar
tese de que o pacto social nasceu da percepção dos ganhos decorrentes da criação
31
Rousseau reconhece que a concepção de contrato social não pode ter conotação jurídica, já que
não se trata de um contrato propriamente dito, firmado em algum momento histórico, sendo
necessário considerá-lo mais apropriadamente como uma ficção necessária para a compreensão do
sentido e significado do Estado como instituição concreta e não abstração, afirmando assim que se
trata de um ato “puro de entendimento que raciocina” (GOYARD-FABRE, 2002, p. 222).
39
Sendo os cidadãos todos iguais pelo contrato social, o que todos devem
fazer, todos podem prescrever, ao passo que ninguém tem o direito de
exigir que um outro faça o que ele próprio não faz. Ora, é justamente este
direito [...] que o soberano dá ao príncipe instituindo o governo
(ROUSSEAU, 1995, p. 98).
[...] a vontade geral é infalível, quando é ela mesma. Ela é ela mesma
quando parte de todos e tem como objeto a coletividade em geral [...].
Ela não pode pronunciar-se nem sobre um homem nem sobre um fato.
Com efeito, o que a torna competente quando se pronuncia sobre o
corpo da nação indistintamente é que, então, é o árbitro e a parte de um
mesmo ser considerado sob dois aspectos. O soberano é o povo no
estado ativo; o povo é o soberano no estado passivo.
corpo distinto33, dotado de vontade própria, de modo que a igualdade entre todos
32
A concepção de vontade geral em Rousseau não significa anulação da vontade individual.
Comentando sobre a questão, afirma Jaume (2005, p. 186) que “[...] a vontade geral não é externa à
consciência do cidadão enquanto tal. Ela é, afinal, a vontade de se examinar do ponto de vista do
bem de todos: interiorizada individualmente por ser geral para todo o povo, mas universal por ser
apreensível a partir da interioridade pessoal.”
33
Rousseau utiliza o termos corpo político para referir-se a uma instituição ou indivíduo soberano, ou
seja, como elemento ativo, e Estado quando passivo; os indivíduos genericamente integrando o povo
são cidadãos quando participam da autoridade soberana, ou seja, quando ativos, e denominados
súditos quando sujeitos às normas estatais, isto é, na condição de sujeitos passivos (GOYARD-
FABRE, 2002, p. 223). Ainda segundo a autora, “[...] o Príncipe e o Estado são estruturalmente
corpos ou órgãos; enquanto que o Governo e o Soberano são funções ou potências” (p. 228).
40
acordo com a sua vontade, a qual deveria prender-se à lei enquanto expressão
população: “Não sendo a lei senão a declaração da vontade geral, está claro que,
no poder legislativo, o povo não pode estar representado; mas pode e deve sê-lo
no poder executivo, que outra coisa não é senão a força aplicada à lei
Nesses termos, o Legislativo foi considerado um poder que não podia ser
pelas quais deve ser buscado um interesse comum. Sendo uma condição sine
A soberania não pode ser representada pela mesma razão pela qual não
pode ser alienada; ela consiste essencialmente na vontade geral, e a
vontade não se representa: ela é a mesma ou é outra; não há nenhuma
solução intermediária. Com efeito, consiste na vontade, por parte do
sujeito político, de examinar-se do ponto de vista de todos, procurando
assim o bem de todos (JAUME, 2005, p. 192).
pelo qual essa mesma liberdade seria cerceada, de alguma forma, pelo poder
41
político. Analisando essa posição, Jaume (2005, p. 192) entende que o discurso da
homens, não sendo tolhidos por nenhuma norma nem pelo Estado ao viverem em
perante o direito, mas de uma igualdade real e efetiva perante os bens da vida.”
de natureza. Contrastando com Locke, para quem a norma devia atender a um fim
precípuo, que é aquele que deu origem ao Estado, isto é, garantir o direito à
propriedade, Rousseau tinha uma perspectiva mais ampla de igualdade, que não se
então ser considerada como uma visão original e diferente daquela que se encontra
34
“A vontade geral é um conceito específico; não se trata do simples cálculo matemático da ‘vontade
de todos’, como a mera manifestação empírica dos votos em qualquer sistema eleitoral simples. A
vontade de todos só se converte em vontade geral quando estiver em conformidade com os objetivos
do bem comum; em geral, é simplesmente a vontade de uma maioria, ou de uma minoria que tem
voto” (MORRISON, 2006, p. 190). Rousseau considera que a democracia verdadeira seria aquela na
qual o máximo de pessoas pode expressar diretamente a sua vontade, o que na prática dificilmente
pode se concretizar.
35
“[...] desse modo, cada qual se dá conta de que seu próprio bem e o bem comum estão
interligados.” (MORRISON, 2006, p. 190).
43
pelo Estado.
geral totalizadora, é vista como algo que tanto pode levar a bom termo esse
resultar numa subversão dos direitos elementares que deveriam ser tutelados.
representativo.
36
“[...] a seu ver, o único regime correspondente à relação correta que se pode imaginar entre o
Soberano e o Governo – regime no qual o Governo é a média proporcional entre o Soberano e o
Estado – é a democracia direta. Ora, não só, nessa ficção matemática, a própria idéia de Governo se
revela inútil, mas, de fato, esse regime é impossível [...]” (GOYARD-FABRE, 2002, p. 230).
44
A lição aportada por Rousseau continua válida ainda hoje: o governo, mesmo
Rousseau sugere que a liberdade política muito bem pode ser vista como
uma ilusão, necessária, mas mesmo assim uma ilusão. Por isso tem sido apontada
como relevante e atual a posição crítica levantada por esse contratualista francês: “A
mensagem de Rousseau para nós pode muito bem ter sido simples: cuidado com
todas as teorias sociais que pretendem fazer com que a modernidade pareça
sociedade, não nasceu com ele, tendo como precursor o filósofo Imannuel Kant.
limitação constitucional dos seus poderes para a garantia dos direitos do cidadão,
Kant postula uma ética que não é produto de uma intuição moral, mas da
própria razão. O pensamento kantiano desconfiou de tudo o que foi erigido antes
em dogma, tanto no campo religioso, como político. Por isso sua forma de pensar
emprego da razão para ir além das aparências criadas por modos não-racionais de
pensamento.
Em Kant não há lugar para a metafísica39. Ele postulou uma regra moral
universal que se desdobraria de uma razão universal, comum a todos, mas que não
37
“Somente a crítica é capaz de “[...] cortar pela raiz o materialismo, o fatalismo, o ateísmo, a
incredulidade dos espíritos fortes, o fanatismo e a superstição, que podem tornar nocivos a todos e,
por último, também o idealismo e o ceticismo, que são sobretudo perigosos” (KANT, 1994, p. 30).
38
Kant prefacia sua obra “Crítica da Razão Pura” observando que “Nossa época é, essencialmente,
uma época de crítica à qual tudo deve submeter-se. A religião, por conta de sua santidade, e a
legislação, por conta de sua majestade, tentam manter-se à margem do espírito crítico. Ao assim
procederem, contudo, despertam suspeitas contra si mesmas e não podem reivindicar aquele
respeito sincero que a razão confere a quem quer que consiga resistir a seu exame livre e aberto.”
39
O conhecimento só pode alcançar o que está no mundo sensível, nada além dele pode ser objeto
do conhecimento ou da demonstração racional. Mas Kant não refuta totalmente a metafísica, apenas
entende que ela não é o instrumento adequado para se chegar ao conhecimento da realidade, que
somente pode ser acessada pela via da razão.
46
direcionado para o foro exterior e não perquire sobre as intenções, mas apenas
sobre o concreto vivido através das ações dos homens (BERGEL, 2001).
Foi também na razão pura que Kant buscou uma explicação para o poder do
Estado. Nesse sentido, se afastou do naturalismo dos iluministas. Ele não se valeu de
supostas leis naturais justificadoras do poder estatal, mas tomou a razão universal
Partindo do pressuposto que a razão não está nas coisas, mas no sujeito
40
A liberdade em Kant não é o produto de um direito natural, tampouco encerra uma origem
metafísica, proveniente de vontade divina superior. Também não é produto da princípios inferidos
racionalmente, mas o arbítrio, como expressão do sujeito autônomo. “Não é simples excogitação de
possibilidades para a ação, mas consciência da capacidade de realizar concretamente estas
possibilidades agindo em sentido causal sobre o mundo exterior” (RAMETTA, 2005, p. 260).
47
ação. Não sendo determinada por eles, não pode ser “qualificada como livre”.
externamente de modo que o livre uso de teu arbítrio possa coexistir com a
liberdade de todos de acordo com uma lei universal” (KANT, 1993, p. 50).
kantiano para a liberdade como direito inato, anterior a qualquer outro, a liberdade
qualquer outro segundo uma lei universal, é este direito único, originário, que
todos os outros direitos. A liberdade para Kant é anterior a eles, confunde-se com
sua liberdade e exigir a sua garantia pelo Estado, devendo este, por todos os
41
Sendo originário como direito, a liberdade é direito a priori, portanto Kant opõe-se a Hobbes quanto
à cessão plena de direitos a um soberano ou ao Estado, já que este não é superveniente à liberdade
enquanto “idéia a priori da razão prática” (RAMETTA, 2005, p. 277).
48
“[...] sujeição à lei moral que ele próprio se outorga e atinge seu ponto mais alto
autodeterminação.
frente ao Estado. Embora isso não signifique que o direito à liberdade seja por
nada pode ou deve resistir por ser ele o mais apto a conduzir os destinos da
42
A dignidade do homem, para São Tomás de Aquino, está em sua transcendência, com ser dotado
de livre arbítrio, sendo criatura de Deus e que, tendo sido por ele criado à sua imagem, “[...] é
princípio de suas ações enquanto possui um livre-arbítrio e poder sobre suas ações”
(ANZENBACHER, 2009, p. 119).
43
Deleuze (1976) observa que a ênfase kantiana numa razão suprema acaba por tornar essa mesma
razão incriticável.
49
Embora Kant tenha destacado que não é o Estado em si, mas a razão que lhe
poder supremo que detém; pode sim apresentar as suas queixas, sempre que os
Não há que se falar, para o filósofo, em insurreição, pois Estado foi escolhido
individuais, realizando os fins para os quais essa mesma razão lhe deu origem e lhe
44
Arendt (1999) ao discorrer sobre a conduta do oficial nazista Eichmann, responsável pela execução
das ordens de extermínio dos judeus na Segunda Guerra Mundial, comenta sua postura “kantiana”,
cujo discurso atribuiu a sua determinação e as suas escolhas pessoais à necessidade de cumprir as
ordens do Führer, fonte superior e inquestionável de toda lei.
45
Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão, foi crítico contumaz do racionalismo, do iluminismo e das
idéias de Kant. Descreve o ‘imperativo categórico’ como uma forma de acorrentar o espírito humano,
diluir a liberdade verdadeira disfarçando-se em única via para sua efetividade. Entende que Kant na
verdade coloca o primado da razão e a torna um “senhor” acima de todas as existências individuais. É
possível antever nas suas críticas a esse “modo alemão de pensar e viver” uma contraposição ao
próprio regime nazista, marcado pela supervalorização do coletivo, do dever absoluto e anulação do
indivíduo. Apesar de ter sido celebrado pelo regime nazista, Nietzsche na verdade não era anti-semita
e criticava o regime político da Prússia (um dos estados alemães da sua época) por essa orientação
Mais do que ser um niilista, como muitos o interpretam, preocupou-se em fazer uma crítica acirrada
contra qualquer rigorismo de pensamento e conduta alçada em valores absolutos, destituindo a
subjetividade, daí ter se tornado um pensador polêmico, até mesmo desprezado, mas que de
qualquer forma continua atual por sua posição firme sobre a importância de resgatar o indivíduo, que
entendia ter sido destruído pelo racionalismo e pelas teorias de valor moral.
50
nascendo o Estado da razão, não mais pode ser negada sua autonomia, como
condição necessária para preservar a liberdade de cada um. Essa autonomia tem
sua fonte na própria razão universal. Portanto, não há mais como retroceder.
mais atento sobre o seu trabalho mostra que Kant não defendeu um Estado
Pelo contrário, o dever moral para ele importa sempre em fazer com que cada
pela supremacia da autoridade estatal, pelo contrário, ela apenas garante que essa
ao Estado, que foi a superação das vontades individuais fazendo-as convergir para
46
Fichte (1762-1814), como Kant, uma lei moral nasce da consciência interna do sujeito, o que o leva a
reconhecer o outro como ser igualmente livre. “Na medida em que se reconhecem como livres, os
homens devem reconhecer reciprocamente também a possibilidade de decidir se instituem ou não entre
eles uma comunidade. Neste se está contido o caráter condicionado da lei, cuja obrigatoriedade
funciona somente a partir da hipótese de que os homens tenham efetivamente decidido estabelecer
uma forma de convivência recíproca e, portanto, de fazer parte de uma comunidade de seres racionais.
Por outro lado, se tal condição é possível, então a obrigatoriedade da lei deve necessariamente se fazer
presente. Ela é, com efeito, a condição a priori, isto é, universal e necessária, com base na qual
unicamente se torna possível uma convivência entre seres racionais [...]” (RAMETTA, 2005a, p. 287).
51
uma “[...] vontade universalmente válida de modo que todos possam ser livres”
superior no plano das relações entre Estado e sociedade traz o inconveniente de ser
usada como justificativa para a negação do próprio indivíduo, numa sociedade que
indivíduos (ein grosser haufen), que não prima pelo uso da razão, vivendo
nesse ponto ele faz referência a um progresso moral da humanidade, que tem na
Trata-se de uma idéia importante e de certo modo atual, pois pode ser
47
Pode-se compreender essa visão kantiana sobre um futuro para a humanidade a partir do seu
entendimento sobre uma disposição moral existente em todo homem, que lhe permite subtrair-se de
fazer o mal. De modo que, ao contrário de Hobbes, não é pessimista em relação ao homem. Se este é
capaz de comportar-se de modo extremamente cruel, também tem dentro de si a possibilidade de
escolher o bem, ou uma disposição moral para subjugar o mal em seu interior (LUTZ-BACHMANN,
2004, p. 102).
52
obrigações, mas é antes uma idéia que tem origem na vontade universal.
Para Kant, o Estado nasceu de uma obrigação moral de cada indivíduo como
ser dotado de razão, sendo a Constituição “[...] o ato da vontade geral através do
sociais que exigiam a reformulação das bases de governo e das relações entre o
Estado e os indivíduos.
Estado.
53
aprofundamento dos debates políticos que culminariam, no final do século XVIII, com
busca da igualdade de condições tornou-se uma via comum pela qual as sociedades
monárquicos tradicionais.
48
Comentando sobre a repercussão desse vínculo entre público e privado no âmbito capitalista,
Grau (2002, p. 173) afirma: “A legalidade consubstancia extensão da teoria da soberania popular e
da apresentação parlamentar. A Constituição contém a ação do Estado e a burguesia encontra, no
quadro da separação dos poderes, condições adequadas à defesa de seus interesses econômicos;
qualquer ‘atentado’ à liberdade econômica e à propriedade somente poderia ser consumado com o
consenso dos representantes da burguesia, isto é, através de uma lei. A legalidade assume desde
logo sua dupla face, como supremacia e reserva da lei. [...] à legalidade atribui-se o desempenho de
duplo papel: o de instrumento ancilar dessa preservação e o de substituto da legitimidade.”
54
jugo autoritário dos Estados, para sistemas democráticos de maior ou menor grau de
a democracia não pode ser vista como um mero processo de adensamento dos
reversão das posições até então inconciliáveis entre o ente estatal e os cidadãos.
49
“[...] os Direitos Humanos, referidos à pessoa humana historicamente considerada, acompanharam
as vicissitudes do desenvolvimento da humanidade, desde tempos imemoriais. Em outras palavras,
impossível falar-se em Direitos Humanos sem reconhecer seu caráter histórico e contingente, ligados
que são ao próprio desenvolvimento cultural da humanidade” (CORRÊA, 2008, p. 23).
50
Distinguem-se os direitos humanos dos direitos fundamentais. Apesar de serem empregados
indistintamente, “[...] a explicação corriqueira e, diga-se de passagem, procedente para a distinção é
de que o termo ‘direitos fundamentais’ se aplica para aqueles direitos do ser humano reconhecidos e
positivados na esfera do direito constitucional positivo de determinado Estado, ao passo que a
expressão ‘direitos humanos’ guardaria relação com os documentos de direito internacional, por
referir-se àquelas posições jurídicas que se reconhecem ao ser humano como tal,
independentemente de sua vinculação com determinada ordem constitucional, e que, portanto,
aspiram à validade universal, para todos os povos e tempos, de tal sorte que revelam um inequívoco
caráter supranacional (internacional)” (SARLET, 2006, p. 35-36).
55
o pensamento hobbesiano:
Estado de Direito uma relação direta com cada indivíduo que dele faz parte.
56
constituinte, como corpo político soberano. Analisando a sua obra, Duso (2005, p.
deve ser entendida não apenas no sentido do exercício do poder constituído, mas,
também, “[...] no nível mais alto do poder constituinte, uma vez que o povo, para se
51
Barberis (2005, p. 217) comenta que “Um velho lugar comum pretende que o liberalismo e
constitucionalismo – ou seja, teoria e práxis da limitação do poder – sejam oriundos da Inglaterra, e
que a contribuição continental, notadamente francesa-revolucionária, seria ou puramente negativa –
como no caso de Emmanuel Joseph Sieyès – ou amplamente tributária da tradição inglesa – como no
caso de Montesquieu, Benjamin Constant e Madame de Staël [...] O lugar comum em questão,
porém, possui, pelo menos, dois graves defeitos: um geral e outro particular. O defeito geral consiste,
obviamente, em subestimar a contribuição francesa-revolucionária ao liberalismo e ao
constitucionalismo; o defeito particular consiste em ocultar a derivação francesa-revolucionária de
algumas doutrinas atualmente consideradas liberais e/ou constitucionalistas por excelência, como as
de Constant e Madame de Staël.”
57
Assembléia Constituinte.”
produto intencional.
Por outro lado, a tradição inglesa orientou-se pela idéia de que a constituição
mercado.52
que formavam a Câmara dos Lordes, parte do corpo legislativo. O que era
52
No livroTheory of Moral Sentiments (1759), Smith sugere que os indivíduos, ao buscarem a
satisfação de seus interesses e objetivos, promovem sem querer um interesse coletivo, em um
processo não-intencional que se transforma na base do progresso geral da sociedade (BARBERIS,
2005).
58
Por isso a ênfase dos franceses numa Constituição escrita, como produção
carta constitucional.
lei superior, da qual todas as outras leis devem nascer, definindo também o modo
encontra no povo. Mas por este é exercido, ganhando assim legitimidade para
53
Barroso (2010) refere que o constitucionalismo tem como elemento comum a revolução. Não
considera desta natureza a “Revolução Gloriosa” de 1688 na Inglaterra, não tendo criado um novo
Estado, e tampouco dela derivou uma carta escrita.
54
Para Sieyès (1988), uma carta constitucional justa, assegurando direitos fundamentais como
liberdade e igualdade de seus tutelados, não pode dar lugar a relações de força imperativamente
construídas em privilégio de um grupo ou certa classe.
59
poder constituinte, que não se confunde com o poder originário que lhe dá forma,
que está no povo55 e não pode ser transferido como observa Sieyès (1988, p. 117):
civil, sendo essa fonte soberana que define as condições pelas quais ele deverá ser
exercido.57
55
O povo não é um significado abstrato, mas um “complexo de forças políticas plurais” (CANOTILHO,
2011, p. 75).
56
Tradução livre do original: “Les lois constitutionnelles dont dites fondamentales, non pas en ce sens
qu’elles puissent devenir indépendantes de la volonté nationale, mais parce que les corps qui existent
et agissent pour elles ne peuvent point y toucher. Dans chaque partie, la constitution n’est pas
l’ouvrage du pouvoir constitué, mais du pouvoir constituant”.
57
“Essa concepção de poder constituinte surgiu primeiramente na experiência política norte-americana
ao final do século XVIII. Conforme o preâmbulo da Carta Constitucional dos Estados Unidos, o povo
adota uma Constituição e se apresenta como a única autoridade legítima capaz de definir as condições
e termos de exercício do poder. Essa apropriação da função constituinte pelo povo encontrou guarida
na França revolucionária de 1789. Com a diferença de que, nesse país, o rei foi associado ao processo
constituinte, pois no momento em que os Estados Gerais elaboravam a Declaração de Direitos não
havia sido ainda o soberano destituído de seus poderes” (LAVROFF, 1999, p. 101-102).
58
A. de Tocqueville (1805-1859) ficou conhecido pelos estudos sobre o modelo democrático norte-
americano, tendo visitado os Estados Unidos entre 1831 e 1832, e nos anos seguintes outros países
europeus. O conhecimento da realidade política norte-americana deu origem à obra “De la démocratie
em Amérique” (1835). Foi um teórico político e analista da nova era instalada com a
constitucionalização possibilitando a participação política, embora marcada pela estratificação social,
gerada não mais pelas forças arcaicas do feudalismo, mas pelo contexto econômico do liberalismo e
do capitalismo industrial.
60
Foi com a idéia dos direitos que os homens definiram o que eram a licença
e a tirania. Esclarecido por ela, cada qual pode mostrar-se independente
sem arrogância e submisso sem baixeza. O homem que obedece a
violência se dobra e se rebaixa; mas quando se submete ao direito de
comandar que reconhece a seu semelhante, eleva-se de certa forma acima
daquele mesmo que o comanda. Não há grandes homens sem virtude; sem
respeito aos direitos não há grande povo - pode-se dizer que não há
sociedade, pois o que e uma reunião de seres racionais e inteligentes cujo
único vínculo é a força?
substituição do despotismo dos reis por um sistema de governo orientado pela lei,
dela emanando o espaço simbólico e prático das relações entre Estado e indivíduo.
Embora essas relações passassem a ser mediadas pelo Direito, isso não
garantia constitucional.
enquanto parcela indistinta do todo que constitui o objeto e o fim das estratégias e
o capitalismo e o ser humano que lhe dava sustentação. Como resultado, não
62
alargamento da previsão legal dos direitos humanos. Esse devir histórico do seu
Por isso entende Bobbio (1992, p. 5) que é preciso buscar a gênese dos
concretas e objetivas:
afirmação e a tutela legal dos direitos humanos. Para outros, todavia, não se pode
63
próprio homem.
século XIX e na primeira metade do século XX, definindo uma via pautada pela
A dicotomia Direito Natural vs. Direito Positivo torna-se cada vez mais
desgastada, dissolvendo-se através da identificação hegeliana entre o real e
o racional, desaparecendo a disputa entre vontade e razão como
fundamentos distintos do Direito. A lei posta pelo Estado passou a ser a
fonte exclusiva do Direito, coincidindo esta fase histórica com o período de
esmaecimento dos Direitos Humanos.
ser, imanente à prescrição contida na norma positiva, nada mais seria pertinente
ao Direito.
meras regras de conduta, sem valor jurídico, situando-se numa ordem metafísica.
59
Há consenso que a Proclamação dos Direitos do Homem e do Cidadão na França, em 1789, foi o
primeiro documento no qual se vislumbrou a universalidade dos direitos humanos. A Declaração da
Independência dos Estados Unidos da América em 1776, e antes dela, a Declaração da Virgínia,
também de 1776, embora contivessem dispositivos nos quais eram afirmados direitos inalienáveis do
indivíduo, não o fizerem no sentido de reconhecer sua universalidade, limitando-se a afirmá-los no
plano imediato das garantias aos habitantes das colônias inglesas na América do Norte.
64
Ao lançar um olhar sobre esse sistema, excludente com relação aos valores,
reconhecimento, ainda que restrito, dos direitos humanos nas Constituições a partir
anulação dos valores frente à lei no Estado alemão nacional-socialista. Esse autor
repercussões para a defesa dos direitos humanos, no plano da sujeição estrita aos
concepção dos direitos naturais, negada pela corrente positivista que havia se
informativo.
visão otimista sobre o futuro do homem numa sociedade dirigida pela ciência e
pela razão.
60
“A modernidade foi uma tentativa de criar uma sociedade justa, de estrutura organizada e
transparente – um mundo de práticas coerentes, organizado em torno de regras, onde as próprias
regras extraíssem sua legitimação da crença em alguma estrutura subjacente ou em sua
funcionalidade intrínseca, ou em termos de sua pureza” (MORRISON, 2006, p. 620).
66
Esta no entender de MacIntyre (2001) deve ser restada por ser a expressão
perceber que o viver em sociedade é mais do que uma mera convivência mediada
pelo Direito.
entes cuja existência tem uma finalidade, definida por valores partilhados, que são
Estado, que se vale da noção imprecisa de “interesse público” para fazer escolhas
segundo uma retórica que tende a ser justa apenas na aparência, segundo as
de valores éticos universais, que independem de previsão legal, mas que devem
nortear as normas positivas por serem imanentes à existência de todo ser humano.
Essa é uma questão que se tornou especialmente importante nos tempos atuais,
61
O discurso político da democracia na pós-modernidade é construído em torno da pretensão de que
as escolhas dos governantes, seguindo as orientações gerais das leis elaboradas pelos
representantes do povo democraticamente escolhidos, adquirem um status moral por essa razão, e
sua legitimidade encontra-se, além disso, na capacidade do sistema político, assim estruturado, de
fazer escolhas em nome do povo, sugerindo que uma “racionalidade” superior está no controle e é
quem melhor pode definir o que é bom ou justo para todos. Todavia, trata-se de mais de uma retórica
do que verdade e certeza, como observa Lyotard (2002), afirmando que a ciência, transformada em
instância superior do conhecimento, precisa recorrer a narrativas tradicionais, pois é incapaz de
chegar a uma verdade última apenas pelo ‘método científico’, e o mesmo ocorre com o Estado, que
tem de utilizar o recurso de uma narrativa estruturada de maneira a parecer ancorada em coerência e
lógica, porém cada vez menos dotada de credibilidade.
67
entendidos em sua unicidade, de forma que, violado um, também são atingidos
Essa intrínseca relação entre eles implica “[...] conjugar o catálogo de direitos
2009, p. 69).
força normativa no plano do Direito interno, o que não se fez de forma completa,
força normativa desses direitos, tendo como primeira e mais importante base a
Humanos.
de 1981.
62
A Corte Européia de Direitos Humanos (CEDH) foi criada pela Convenção Européia de Direitos
Humanos em 1959. Com sede em Strasbourg, França, esse órgão tem competência jurisdicional,
cabendo-lhe julgar os casos de violação dos direitos tutelados nessa Convenção. Suas decisões têm
caráter vinculante para os Estados submetidos à sua jurisdição. Explica Pagliarini (2012, p. 3), quanto
à jurisdição da Corte Européia de Direitos Humanos, que a ela se submetem “[...] não
necessariamente os Estados-membros da UE simplesmente por terem tal condição, mas os países
signatários da Convenção Européia para a Proteção dos Direitos Humanos e Liberdades
Fundamentais. A existência da Corte Européia de Direitos Humanos não esvazia a competência do
Tribunal de Justiça Europeu (Corte de Justiça das Comunidades Européias – CJCE) para também
julgar casos em que se tenha detectado condutas ofensivas aos Direitos Humanos.”
69
aplicabilidade dos preceitos a eles vinculados, tanto no que diz respeito aos
proclamada em 1945, ocorreu quando grande parte do mundo ainda estava sob
o jugo das políticas coloniais e muitos Estados hodiernos ainda não tinham se
constituído.
Duarte (2004, p. 2) utiliza o termo “Direito Europeu dos Direitos do Homem” para
63
Nos termos da Declaração de Viena: “5. Todos os Direitos do homem são universais, indivisíveis,
interdependentes e interrelacionados. A comunidade internacional tem de considerar globalmente os
Direitos do homem, de forma justa e equitativa e com igual ênfase. Embora se devam ter sempre
presente o significado das especificidades nacionais e regionais e os antecedentes históricos,
culturais e religiosos, compete aos Estados, independentemente dos seus sistemas político,
econômico e cultural, promover e proteger todos os Direitos do homem e liberdades fundamentais.”
70
instrumento de consagração dos direitos humanos com o mesmo valor dos tratados
Carta.
(KOMPLAK, 2008).
Não se pode olvidar que esses avanços históricos estiveram entrelaçados não
a modos de ser e pensar dos homens como atores do cenário social, sendo
necessário por isso adentrar nos debates sobre o papel e posição do indivíduo na
condição de ente com o qual a sociedade deve se confundir, porque nele estaria
64
Faz-se referência ao Direito enquanto produto dos legisladores. Nesse sentido, remete-se aos
comentários de Pontes (2004, p. 53-54): “Direito é aquilo que o Estado estabelece como direito, é o
que é a lei, é o que está na Constituição [...] com essa centralização normativa, o direito operou a
centralização da racionalidade. A modernidade assenta a sua organização cultural e social na
racionalidade do legislador. Quer dizer, os princípios jurídicos, as normas, elas serão o produto da
racionalidade do legislador. A lei, na visão dos oitocentistas, é a própria encarnação da razão; a
razão, o racional é aquilo que a lei estabelece, aquilo que a lei estabelece é o normativo. Portanto,
havia uma triangulação entre razão, normatividade e racionalidade.”
72
Direitos Humanos uma reverberação das vozes dissonantes acerca do ente estatal,
os demais. Nessa ótica, a luta pelo reconhecimento e a garantia dos direitos por
65
“As expectativas normativas possibilitam, pelo menos em sociedades mais complexas e mais ricas
em alternativas, uma mais acentuada redução da complexidade e da contingência” (LUHMANN,
1983, p. 141).
73
adaptadas a novas condições definidas dentro do próprio sistema que lhes deu
origem:
indivíduo, não são recentes, mas se inserem nesse processo histórico, do qual
experiências inéditas, caminhar este que muitas vezes convergiu para rotas sem
74
Por outro lado, entende Luhmann (2005) que as sociedades mais complexas
convergindo para uma adequada solução dos problemas, mas, pelo contrário,
[...] esta identificação com a sociedade liberal, isto é, com uma sociedade de
desenvolvimento endógeno onde a ação modernizadora confunde-se com o
exercício da própria modernidade, com a aplicação do pensamento racional à
vida social, através da maior diferenciação possível dos subsistemas –
econômico, político, judiciário, religioso, cultural – não traz nenhuma resposta à
dominação da vida política pelos donos da sociedade civil, notadamente pelos
donos do dinheiro, e não impede a sociedade liberal de ser, ao mesmo tempo
que uma sociedade de integração, uma sociedade de exclusão.
democracia, como espaço indispensável tanto para a garantia de direitos, como para
retorno ao Sujeito, como ser do qual emana a vontade e a determinação para dar
existência coletiva.
76
Em Touraine (2009), não é o coletivo, mas o Sujeito que deve ser valorizado e
emanadas do indivíduo como ente único, insubstituível, condição essa que é a própria
Sob esse ponto de vista, a cidadania pode ser entendida não como simples
Por essa via de pensamento, a cidadania confunde-se com o sujeito, por isso
idéia de que ser cidadão é participar, fazer parte de um todo maior, resultando, como
cidadania “[...] traz em si mesma mais perigos do que apoios para a democracia. Ela
adotar uma perspectiva de cidadania centrada no Sujeito, como entende esse autor.
democracia plena passa pela valorização do Sujeito, não pela sua desconstrução,
indivíduo, pois se tornam tanto mais indesejáveis quanto maior é o agrupamento que
como produto de uma vontade política desenvolvida de cima para baixo, a partir do
essencialmente humano.
material e de um homem superior, nascido das cinzas da derrocada de uma era das
mais ter todas as respostas, e os caminhos para a construção de uma sociedade mais
justa e fraterna parecem ser um discurso vazio e irreal, mais do que uma via de luta
revolucionária, tudo o que resta é voltar-se para o Ser em si, redescobrindo o homem.
79
[...] à maior solidariedade humana, mas essa solidariedade não é vista como
o reconhecimento de um eu nuclear – a essência humana – em todos os
seres humanos. É vista, antes, como a capacidade de considerar sem
importância um número cada vez maior de diferenças tradicionais (de tribo,
religião, raça, costumes, etc.), quando comparadas às semelhanças
concernentes á dor e à humilhação – a capacidade de pensar em pessoas
extremamente diferentes de nós como incluídas na gama do “nós”.
Nesse mesmo sentido Garcia (2004, p. 261) fala em “repensar o Estado”, o que
implica numa outra concepção de cidadania, uma nova práxis política e novas formas
humanos, como será demonstrado, é uma via que possibilita maximizar a sua
imperante, no qual perde-se de vista o homem como fim primeiro da tutela jurídica
Numa definição preliminar, um tratado, nos termos do artigo 2º, § 1º, “a”, da
Embora não tratando dos direitos humanos, a questão da força normativa dos
66
Tradução livre do original: “[...] si l'on part de l'idée de la supériorité du droit international aux
différents ordres étatiques [...], le traité international apparaît comme un ordre juridique supérieur aux
Etats contractants [...] De ce point de vue, dit-il, le traité a vis-à-vis de la loi et même de la Constitution
une prééminence, en ce qu'il peut déroger à une loi ordinaire ou constitutionnelle, alors que l'inverse
est impossible. D'après les règles du droit international, un traité ne peut perdre sa force obligatoire
qu'en vertu d'un autre traité ou de certains autres faits déterminés par lui, mais non pas par un acte
unilatéral de l'une des parties contractantes, notamment par une loi. Si une loi, même une loi
constitutionnelle, contredit un traité, elle est irrégulière, à savoir contraire au droit international. Elle va
immédiatement contre le traité, médiatement contre le principe pacta sunt servanda.”
81
63) entende que não é o pacta sunt servanda propriamente que confere
normativa.
que se faz por via transversa, não com a mediação deste, mas a sua revelia como
Trata-se de uma
82
Estados. Nesse caso, a pacta sunt servanda, consubstanciando acordos entre as partes,
não deixa de ser um ato personalístico do ente estatal.67 Mesmo sob o pressuposto de
67
Para Mazzuoli (2010) a ratificação de um tratado é um ato discricionário e soberano do Estado.
83
68
Tradução livre do original: “[...] est inhérente à la définition même de ce droit et s'en déduit
immédiatement. Tout ordre juridique confère aux destinataires de ses normes des droits et pouvoirs
juridiques [...]; il leur impose des obligations, qui les lient. Par là même, tout ordre juridique s'affirme
supérieur à ses sujets, ou bien il n'est pas [...] Le droit international est inconcevable autrement que
supérieur aux Etats, ses sujets. Nier sa supériorité revient à nier son existence.”
69
Tradução livre do original: “Le principe de la supériorité des normes de droit international sur les lois
constitutionnelles a été affirmé maintes fois par la pratique arbitrale et judiciaire internationale. En ce
qui concerne la pratique arbitrale on peut citer l'affaire du “Montijo” (1875). Dans cette affaire la
Colombie, en prétendant que les dispositions de sa Constitution l'empêchaient de respecter les
termes d'un traité régulièrement conclu avec les Etats-Unis, a affirmé la supériorité de sa Constitution
sur le droit international. La sentence arbitrale a condamné une telle conception et affirmé clairement
qu’ un traité est supérieur à la Constitution.”
70
Tradução livre do original: “L'arbitre a fait triompher le traité franco-mexicain sur la Constitution de
ce dernier pays. Il a affirmé qu'«il est incontestable et incontesté que le droit international est
supérieur au droit interne [...] Les dispositions nationales ne sont pas sans valeur pour les tribunaux
internationaux, mais ils ne sont pas liés par elles.”
84
instrumentos internacionais.
tem sido justificada com base no artigo 27 da Convenção de Viena sobre o Direito de
Tratados de 1969, segundo o qual “[...] uma parte não pode invocar as disposições do
Para Carreau (1991, p. 42) “[...] esse princípio de superioridade significa que o
internacional em relação à “[...] ordem interna dos Estados onde ela viesse a vigorar ou
exaurem a sua força normativa maior e mais completa fora dos sistemas jurídicos
nacionais.
71
Tradução livre do original: “[...] ce principe de supériorité signifie que le droit international [...]
l'emporte sur l'ensemble du droit interne, qu'il s'agisse des normes constitutionnelles, législatives,
réglementaires ou des décisions judiciaires.”
72
Os doutrinadores portugueses Pereira; Quadros (2001) ressaltam que, para o Direito comunitário
vigorar no âmbito interno dos Estados-membros da União Européia. e se impor sobre o Direito
interno, não é necessária previsão expressa das Constituições nacionais, pois, uma vez que o Estado
adere à ordem comunitária a ela vinculando-se por meio dos instrumentos constitutivos da União,
implicitamente aceita a ordem jurídica que dela emana com todas as suas características basilares,
dentre elas o princípio do primazia do Direito Comunitário.
85
Por muito tempo ficou relegada a um segundo plano a corrente que defendia
que a aplicação dos tratados internacionais sobre os direitos humanos teria status
Essa posição foi superada, com o apoio dos aplicadores do Direito, como
seu caráter finalístico, que é garantir a fruição desses direitos em qualquer lugar
legais, uma vez que nega a possibilidade de limites à força normativa dos
Direito pátrio, para reconhecer a primazia dos direitos humanos e a sua força
nº 45, de 8 de dezembro de 2004, que, em consonância com o art. 60, § 2°, da CF,
O Ministro Gilmar Mendes, que antes havia advogado reiteradas vezes a tese
73
Sobre os tratados como equivalentes às normas internas – norma infraconstitucional: RE nº
80.004/SE, julgado em 01 jun. 1977; ADI nº 1.480-3/DF, julgada em 04 de setembro de 1997; HC nº
72.131/RJ, julgado em 22 nov. 1995; RE n° 206.482-3/SP, julgado em 27 maio 1998; HC n° 81.319-
4/GO, julgado em 24 abr.2002).
74
O Ministro Celso de Mello posicionou-se pela equiparação às normas constitucionais no julgamento
do HC 87.585/TO; prevaleceu, todavia, a tese do Ministro Gilmar Mendes, apoiado pelos votos dos
Ministros Ricardo Lewandowski, Ayres Britto, Carmén Lúcia e Menezes Direito, pela supralegadidade,
(BASTOS JÚNIOR; CAMPOS, 2001).
89
constituinte, limites que não podem ser equiparados às regras do direito interno
para embasar esse entendimento refratário. Nada mais falacioso, todavia. Por trás
75
Tradução livre do original: “Ce qui est difficilement concevable – voire même supportable – pour un
juriste constitutionnaliste, c’est d’avoir à constater la dépossession du pouvoir constituant. Et pourtant,
les différents types d’internationalisations aboutissent toujours à mettre le pouvoir constituant «sous
tutelle» voire à le confisquer définitivement.”
91
jurídico.
subtrair-se a isso. Como assevera Azevêdo (2009, p. 66), a decisão judicial provém
de modo que não se pode atingir uma isenção absoluta: a atuação do julgador
Constituição, como expõe Carvalho (2011, p. 16), afirmando que esse caráter
92
Por outro lado, Dworkin (2007) não nega a possibilidade de um Direito que se
O juiz, portanto, que aceita o direito como integridade está sempre apto a
abandonar princípios já seguidos no passado, pois, ora, é justamente esse
argumento que diferencia a tese de Dworkin do pragmatismo e do
convencionalismo. Nesse diapasão, o direito como integridade estaria a
consagrar que os juízos formulados no passado possam ser futuramente
modificados, conforme a melhor interpretação a ser no presente seguida.
normas, que tem delimitado o sentido da aplicação das normas dos direitos
humanos, seguindo uma lógica segundo a qual eles “[...] devem ser respeitados se
política, econômica ou por alguma outra via determinante no contexto das relações
numa sociedade que se diz pluralista, pautada na afirmação dos direitos da pessoa
humana, mas que, no contexto sociopolítico e, por extensão, jurídico, tem como
e o Estado.
constitucionais.
Constituição.
previamente quaisquer outras vias de raciocínio que possam tomar como ponto de
76
O axioma ou postulado denota “[…] uma proposição cuja veracidade é aceita por todos, dado que
não é nem possível nem necessário prová-la [...].” (ÁVILA, 2007, p. 5).
94
[...] não há, a nosso ver, objeção verdadeira a que certas regras de direito
internacional sejam superiores à Constituição nacional. [...] Que essa
superioridade da norma internacional sobre a norma nacional seja
considerado como abrangido pelo conceito de ‘supraconstitucionalidade’ é
78
gramaticalmente aceitável.
77
Tradução livre da resenha da edição n. 67 da revista francesa “Pouvoirs”, jan. 1993: “La
souveraineté est de ces idées pour lesquelles les hommes se sont beaucoup battus. Pour l’obtenir ou
pour la défendre, au sein de la communauté nationale comme dans les relations internationales [...]
Tant d’utilisations n’ont guère contribué à préciser la notion : son sens est brouillé, ses origines sont
oubliées, son titulaire est incertain. Quant à ses limites, elles varient au gré des intérêts en présence ;
et il faudrait peut-être se demander pourquoi les individus et les Etats y sont rattachés?
78
“[…] qu’il n’y a pas, à nos yeux, d’objection véritable à ce que certaines règles de droit international
soient supérieures à la Constitution nationale. […] Que cette supériorité de la norme internationale sur
la norme nationale soit regardée comme relevant du concept de « supraconstitutionnalité » est
grammaticalement acceptable.”
95
a relação de poder que permeia o campo das relações Estado e indivíduo. Nas
96
governantes/governados.”80
sobre o entendimento da Suprema Corte brasileira nessa seara, que adota uma
79
O autor refere-se à internacionalização do Direito e à crescente afirmação da supremacia das
normas do Direito Internacional sobre o direito interno.
80
Tradução livre do original: “[...] l’internationalisation est à la fois l’expression d’un rapport de forces
dominant/dominé et celle d’une certaine « vision du monde », le choix [...] d’une définition de l’ordre
politique et du rapport gouvernants/gouvernés.”
81
“[...] o pensar dogmático, desenvolvido em circuito fechado, tratando das normas e dos conceitos
jurídicos, de seu arranjo e funcionalidade internos, de suas inter-relações e de sua sistematização na
ordem jurídica positiva, termina por esvair-se em considerações intra-sistêmicas, esquecendo ou
deixando de lado a circunstância por certo não negligenciável de que o direito existe para satisfazer
necessidades e interesses individuais e sociais. Desemboca-se, por essa forma, no reducionismo
logicista e formalista pelo qual se quer construir uma ciência jurídica tão perfeita que termina não
dever satisfação à vida e aos dramas humanos” (AZEVEDO, 1989, p. 29).
82
O entendimento dominante é que o ao princípio do pacta sunt servanda pode opor-se a
Constituição Federal. Essa posição é criticada por Mello (2000, p. 119), afirmando que “[...] sustentar
que nossa Constituição é omissa nesta matéria significa apenas que a jurisprudência passa a ter um
papel mais relevante, mas não que a jurisprudência possa ignorar a tendência atual do direito nesta
matéria adotando uma concepção de soberania que desapareceu em 1919, pelo menos entre os
juristas”.
97
observam:
três quintos, em dois turnos, nas duas Casas do Congresso Nacional, para que um
tratado tenha o status de emenda constitucional, foi obra de zelo excessivo com os
aspectos formais, o que, todavia, não garante a máxima efetividade dos direitos
Tal quorum aumenta ainda mais a dificuldade que o Brasil tem de incorporar
os tratados internacionais ao direito interno. O procedimento regular de
integração (art. 49, I, e art. 84, VIII, já apresentados) produz uma grande fila
de tratados que já foram pactuados pelo Brasil, mas que esperam os
procedimentos formais para a sua integração ao ordenamento jurídico
pátrio.
humanos tem como pressuposto o seu caráter centrífugo, como normas superiores,
Direito universalizado, tendo como fundamento a pretensão de, como jus cogens,
está o indivíduo.
A satisfatividade dos seus direitos vai além da órbita do direito interno. À sua
há uma “[...] relação desigual entre Estado e indivíduos sob a sua jurisdição, que
bem pode caracterizar-se como uma relação vertical” (PINHEIRO, 2009, p. 8).
83
Sobre a efetividade, comenta Sarlet (2006, p. 223): “[...] podemos definir a eficácia jurídica como a
possibilidade (no sentido de aptidão) de a norma vigente (juridicamente existente) ser aplicada aos casos
concretos e de – na medida de sua aplicabilidade – gerar efeitos jurídicos, ao passo que a eficácia social (ou
efetividade) pode ser considerada como englobando tanto a decisão pela efetiva aplicação da norma
(juridicamente eficaz), quanto o resultado concreto decorrente – ou não – desta aplicação.”
99
embora não mais no contexto das limitações internas ao exercício do poder, mas
dos direitos humanos, tomando como referência o alcance efetivo das normas,
considerada como uma nova via que se constrói para assegurar a primazia do
84
Favoreu (1993, p. 74) chama de “normas supranacionais supraconstitucionais”.
100
dos tratados internacionais tem sustentado diversas decisões do Direito europeu, por
85
Segundo Ost; Kerchove (2002, p. 69), “Os partidários da supranacionalidade podem seguramente se
fundamentar na jurisprudência pretoriana da Corte de Justiça que [...] pode descrever a ordem jurídica
européia como uma nova ordem de direito internacional em favor do qual os Estados têm limitado seus
direitos soberanos, de modo ‘incondicional e irrevogável’, em ‘domínios mais e mais extensos’.”
Tradução livre do original: “Les partisans de la supranationalité peuvent assurément faire état de la
jurisprudence prétorienne de la Cour de justice qui [...] a pu décrire l'ordre juridique européen comme un
nouvel ordre de droit international au profit duquel les États ont limité leurs droits souverains, et ce de
façon ‘inconditionnelle et irrévocable’, dans des ‘domaines de plus en plus étendus’.”
101
Enquanto que Martins (2006) entende que a nova ordem jurídica comunitária é
autônoma e única não tendo vínculos com as ordens jurídicas nacionais, e tampouco
(2012, p. 9):
86
Tradução livre do original: “Le droit international est três fréquemment invoqué dans le contexte du
droit européen. Les règles en matière d’invocabilité des conventions internationales au sein du
système juridique de l’Union européenne ont été pour l’essentiel dégagées par la jurisprudence de la
Cour de Justice.”
102
Van Gend & Loos87, com a decisão pronunciada pela Corte de Justiça da
87
Decisão do Tribunal de Justiça da Comunidade Econômica Européia (CEE), proferida sobre a
contestação feita pela empresa transportadora belga van Gend en Loos perante o Tribunal
Administrativo holandês acerca de um novo imposto de importação estabelecido pela Holanda
incidindo sobre a uma carga de uréia proveniente da Alemanha. No acórdão, os julgadores
suscitaram o artigo 12 do Tratado de Roma (que deu origem à CEE) dispondo que "[...] os Estados-
Membros devem abster-se de introduzir entre si novos direitos aduaneiros de importação e de
exportação ou os encargos de efeito equivalente.” Na decisão, proclamou-se que os sujeitos de um
tratado entre nações soberanas não são apenas os Estados-membros, mas, também, os seus
cidadãos, incluindo-se aqui as empresas por terem personalidade jurídica.
88
Tradução livre do original: “[...] la Communauté constitue un nouvel ordre juridique de droit
international, au profit duquel les États ont limité, bien que dans des domaines restreints, leurs droits
souverains, et dont les sujets sont non seulement les États membres mais également leurs
ressortissants; [...] L’article 12 do traite instituant la communaute economique europeenne produit des
effets immediats et engendre dans le chef des justiciables des droits individuals que les jurisdictions
internes doivent sauvegarder.”
89
Em conflito com a Ente Nazionale Energia Eletrrica (E.N.E.L.), empresa estatal italiana criada com
a nacionalização da produção e distribuição de energia elétrica, M. Flamino Costa, na qualidade de
consumidor e de acionista da sociedade Edison Volta, afetado por essa nacionalização, demandou na
Justiça Italiana a aplicação do artigo 177 do Tratado da Comunidade Econômica Européia para obter
a interpretação dos artigos 102, 93, 53 e 37 do referido tratado que teriam sido violados pela lei
italiana que procedeu à nacionalização aludida. A decisão da Corte de Justiça da Comunidade
Econômica Européia manifestou-se favorável ao pedido, entendendo que nenhum ato unilateral
posterior ao tratado que deu origem à Comunidade poderia se opor às regras comunitárias firmadas.
90
Tradução livre do original: “Le transfert opéré par les États, de leur ordre juridique interne au profit
de l'ordre juridique communautaire, des droits et obligations correspondant aux dispositions du traité
entraîne donc une limitation définitive de leurs droits souverains”.
103
permite a maior efetividade dos direitos dos cidadãos da União Européia, pois a
sua garantia não está limitada pela soberania dos Estados-membros, tendo força
91
Arrêt da Cour de Justice de la CEE du 28 juin 1978. Affaire 70/77. Recueil de la Jurisprudence de la
Cou).
92
Com a União Européia a Corte de Justiça da Comunidade Econômica Européia (CJEE)
transformou-se na Corte Européia de Justiça (ECJ), atualmente denominada Corte de Justiça da
União Européia, que tem jurisdição sobre os cidadãos da União Européia e trata dos direitos
humanos segundo a Carta de Direitos Fundamentais da União Européia. Por sua vez, a Corte
Européia de Direitos Humanos julga os casos dos cidadãos de 47 Estados-membros que constituem
o Conselho da Europa (Council of Europe), formado pela União Européia e também por outros
Estados, signatários da Convenção Européia de Direitos Humanos.
93
O Tratado de Lisboa, firmado em 13 de dezembro de 2007, constitui a mais recente etapa no
processo de afirmação de um Direito Supranacional, reforçando as bases de construção da União
Européia e definindo de forma mais precisa instrumentos e mecanismos de superação dos entraves
nacionais, tendo em vista a consolidação da comunidade de Estados europeus.
104
94
As fontes do Direito da União Européia são três: primárias, derivadas e subsidiárias. As fontes do
Direito primário são os tratados que estabeleceram a união e seu funcionamento, definindo as
competências entre a União e os Estados-membros e fixando as bases de exercício do poder das
instituições européias. Eles determinam, também, o quadro jurídico no qual essas instituições
implementam as políticas comunitárias. São fontes primárias ainda, os tratados modificativos da
União Européia; os protocolos anexados aos tratados de fundação da união e aos tratados
modificativos, e os tratados de adesão dos Estados-membros da União Européia. Os Direitos
derivados compreendem os atos unilaterais dos Estados-membros e os atos convencionais. Por sua
vez, os Direitos subsidiários, além da jurisprudência da Corte de Justiça da União Européia,
abrangem também o Direito Internacional e os princípios gerais do Direito, fontes que possibilitam a
essa Corte superar as deficiências do direito primário e derivado possibilitando maior efetividade da
garantia dos direitos dos cidadãos da União Européia.
95
Tradução livre do original: “EU law is an ‘independent source of law’, the character of which would
be deprived if it could be ‘overridden by national law’. Therefore the validity of a EU measure […]
cannot be affected by allegations that it runs counter to either fundamental rights as formulated by the
constitution of that State or the principles of its national constitutional structure.”
105
que ele cria, a jurisprudência nacional, deve respeitar o Direito emanado da Corte
de março de 1995, no caso Loizidou versus Turkia, estabeleceu que “[...] nenhuma
Como essa Corte tem jurisdição não somente sobre os cidadãos da União
aplicabilidade.
106
que os direitos humanos têm prioridade sobre as normas nacionais, de modo que uma
direitos humanos.96
96
As decisões dessas Cortes não podem revogar as normas internas, tendo sido firmada jurisprudência
nesse sentido, reconhecendo-se apenas a inaplicabilidade destas em face do princípio da primazia.
Apesar disso, as Cortes dos Estados-membros, amparando-se na força dos tratados, podem relegar a
aplicação do direito interno, inclusive constitucional, sempre que os direitos dos cidadãos forem
denegados ou ameaçados.
97
Segundo o autor, o núcleo constitucional identitário corresponde a um conjunto de princípios
constitucionais formando uma categoria específica de normas denominadas de limites constitucionais
à integração européia: trata-se de normas constitucionais que escapam a toda possibilidade de
supressão e que têm um impacto sobre o processo de integração européia, interditando a produção
de uma norma primária da União ou impedindo a aplicação de uma norma de direito derivado,
malgrado os princípios da primazia e do efeito direto (este último princípio permite que se invoquem
as normas do direito comunitário perante o juiz nacional, princípio consagrado pela jurisprudência da
Corte de Justiça Européia no caso Van Gend en Loos vs Netherlands, processo 26/62, decisão de 5
de fevereiro de 1963).
98
“[...] o Tribunal Constitucional Alemão, bem como a Corte Constitucional Italiana apresentam
resistências quanto à aceitação do controle exclusivo da constitucionalidade pelo Tribunal de Justiça
da Comunidade Européia e não o aceitam, no que tange aos direitos fundamentais” (SILVA, 2009, p.
324).
107
Sobre o tema, Bobbio (1992, p. 40-41) entende que somente será possível
Para Torcol (2005, p. 2), embora muitos entendam ser inconcebível um novo
irreversível.”100
99
Sob o aspecto normativo, a soberania pode ser entendida enquanto produção e validade de
normas, dela emergindo seu caráter autônomo, não se submetendo a nenhuma outra norma. Essa
absolutidade é desconstruída com a aceitação de normas de caráter supraconstitucional que têm
gênese no Direito Internacional dos Tratados.
100
Tradução livre do original: “[...] est un phénomène observable, quantifiable et la dynamique de la
construction européenne est irréversible.”
108
Constituição do Reino dos Países-Baixos, ainda em 1972, cujo teor foi mantido na
disposições da Constituição.”101
101
Mello (2000, p. 121) comenta que “A Constituição holandesa é expressa no sentido de que os
tratados e, até mesmo, as decisões obrigatórias das organizações internacionais não podem ser
revogadas por legislação interna e revoga a esta. A norma internacional tem valor
supraconstitucional. Existe neste sentido o controle da convencionalidade e o D. Constitucional tem
que ser conforme ao DIP”.
102
“[...] o Tribunal Constitucional alemão enuncia toda uma série de proposições que vão muito além
da questão específica da garantia dos direitos fundamentais: na realidade o alto Tribunal suscita aí
toda a problemática de relações entre o direito constitucional nacional e o direito comunitário, em
termos que o levaram a recusar a aceitação da supremacia absoluta do direito comunitário derivado
sobre a Lei Fundamental” (CAMPOS; CAMPOS, 2004, p. 403). Apesar disso existem exceções que
levam em sentido contrário. Assim é o caso da decisão Solange: “Na decisão Solange I (BVerfGE
37, 271) de 29.05.1974, o Tribunal Constitucional Federal Alemão determinou que, enquanto a
ordem jurídica comunitária não dispusesse de um catálogo de direitos fundamentais equivalente ao
catálogo já previsto pela Lei Fundamental, todos os tribunais alemães estariam obrigados a não
aplicar qualquer ato jurídico comunitário que conflitasse com os direitos fundamentais reconhecidos
pela LF. Em sua decisão Solange II (2 BvR 197/83) de 22.10.1986, o Tribunal, contudo, reverte a
sua posição anterior ao declarar que, enquanto o direito comunitário garantisse uma efetiva
proteção dos direitos fundamentais e, equivalendo esta proteção àquela conferida pela LF, não
seria mais justificável o controle de constitucionalidade dos atos jurídicos comunitários por parte do
TCFA” (CEIA, 2009, p. 93). Apesar desse avanço, persiste a exigência de lei de aprovação como
“[...] fonte formal de validade e aplicabilidade dos tratados europeus no direito alemão. Em outros
termos, ainda que ditos tratados sejam de hierarquia superior às normas internas, o TCFA condiciona
a primazia do direito primário da União aos dispositivos constitucionais de recepção das normas de
direito internacional público” (CEIA, 2009, p. 92).
109
aplicação do Direito da União Européia, com a redução, por outro lado, do campo de
dos Direitos Humanos não tem se processado com a mediação estatal, mas a partir
vez mais fontes originárias da obrigação que se impõe aos Estados de acolher e
103
Na França, o Conselho Constitucional já admitiu a primazia das decisões das Corte de Justiça da
União Européia sobre o Direito francês, inclusive constitucional. Mello (2000, p. 120) cita como
precedente o entendimento do doutrinador francês VedeI (1993), “[...] que argumentou que se
qualquer tratado que limitasse a competência do Estado tivesse que ser por lei constitucional, o
Estado acabaria sem poder concluir tratados.” Segundo Zaine (2012), dois julgados, de 08 de
fevereiro de 2007, alteraram a tendência da jurisprudência francesa, reconhecendo a primazia do
Direito Comunitário sobre o direito constitucional francês (Societé Arcelor Atlantique et Lorraine et
outres; M. Gardedieu), marcando o fim de um processo de afirmação da ordem internacional sobre o
direito interno na França. Na Inglaterra, apesar do princípio constitucional da soberania parlamentar
(Parliament's sovereignty), tem sido admitida a discricionariedade do magistrado para aplicar a norma
comunitária, devendo o juiz pronunciar-se sobre a incompatibilidade das normas internas e externas,
embora não invalide ou anule ato do Parlamento. Mas a supremacia das normas da Comunidade
Européia sobre direitos humanos tem sido aceita por meio das decisões dos juízes locais na
aplicação das normas internas e seu ajustamento ao conteúdo normativo comunitário versando sobre
direitos humanos.
110
direitos humanos dos tratados comunitários sobre o direito interno francês, inclusive
constitucional:
Há toda uma série de hipóteses nas quais se pode fazer apelo a essas
normas supraconstitucionais internacionais: por exemplo, se houvesse
norma constitucional estabelecendo discriminações raciais, ou suprimindo
proibição de discriminações raciais. Parece difícil não considerar que França
não seria condenada por essa lei constitucional [...] O juiz nacional poderia
ele mesmo utilizar as normas supraconstitucionais internacionais para
controlar as leis constitucionais. Assim, se poderia conceber que ele opõe a
uma lei constitucional suprimindo a interdição das discriminações raciais
104
pelas normas supraconstitucionais internacionais.
construção de uma via jurídica própria, no âmbito das normas derivadas não de um
pleito, a manifestação dos Estados para a resolução do caso. Não sendo possível o
Humanos.105
104
“Il y a toute une série d’hypothèses dans lesquelles on pourrait faire appel à ces normes
supraconstitutionnelles internationales: par exemple s’il y avait une loi constitutionnelle établissant des
discriminations raciales, ou supprimant l’interdiction des discriminations raciales. Il paraîtrait difficile de
ne pas considérer que la France pourrait être condamnée pour cette loi constitutionnelle […]. Le juge
national pourrait lui-même utiliser des normes supraconstitutionnelles internationales pour contrôler
les lois constitutionnelles. Ainsi, on pourrait concevoir qu’il oppose à une loi constitutionnelle
supprimant l’interdiction des discriminations raciales des norms supraconstitutionnelles
internationales.”
105
Além dos cidadãos da Comunidade Européia, tem sido alargado o acesso à Corte Européia com a
inclusão de cidadãos de outros Estados europeus que aderiram à Convenção Européia de Direitos
Humanos.
111
direitos não se verifica, contudo, na América Latina. Por força do artigo 61, item 1, da
2010, p. 356).
são os seus direitos, pode ser relacionada ao que Canotilho (2011, p. 1.350)
conceito tradicional de soberania não tem mais lugar no plano de uma construção
Há que ter sempre presente que, distintamente das questões regidas pelo
Direito Internacional Público, em sua maioria levantadas horizontalmente
sobretudo em nível inter-estatal, as questões atinentes aos direitos
humanos situam-se verticalmente em nível intra-estatal, na contraposição
entre os Estados e os seres humanos sob suas respectivas jurisdições. Por
conseguinte, pretender que os órgãos de proteção internacional não
possam verificar a compatibilidade das normas e práticas de direito interno,
e suas omissões, com as normas internacionais de proteção, seria um
contrassenso.
expressa muito bem o avanço alcançado com relação às questões relativas à ampla
tutela dos direitos humanos, para além do dogmático conceito tradicional de soberania.
poder do Estado não pode mais ser concebido no sentido tradicional. A soberania
não pode ser mais absoluta, mas relativa. Deve prevalecer a aplicação da norma
normas constitucionais.
106
Tradução livre: “Au siècle des Lumières les philosophes déclaraient que la souveraineté réside
dans l’universalité des citoyens. Aujourd’hui, je dirai que les droits universels résident dans
l’universalité de l’humain, en d’autres termes de la substance humaine de l’individu.” (AVIGDOR,
2007, p. 13).
114
necessária garantia e efetividade dos direitos humanos, não tem mais relevância o
critério da relação de poder para estabelecer o que lhe é devido ou não como direito.
também reflete uma questão histórica de buscar soluções ao embate entre Estado-
(CALIENDO, 2009).
dos direitos fundamentais: "[...] o poder de tributar nasce no espaço aberto pelos
destacando Valadão (2000, p. 22) que “À parte de discussões que podem ser
garantias legais conferidas aos cidadãos. Nesse sentido, como afirma Machado
como alguns têm pretendido que seja. É relação jurídica, embora seu fundamento
O Leviatã107 fiscal foi diversas vezes confrontado pelos indivíduos, por meio
arrecadatória.
107
Monstro bíblico que Hobbes (1588-1679) utilizou para representar o Estado e o seu poder em razão
de um cenário de liberdade irrestrita, no qual se instalaram o caos e a violência, somente superados
com o pacto social, dando origem ao ente estatal soberano, em relação assimétrica de poder para com
seus súditos.
117
como princípio maior de organização da vida social e política e uma das bases da
108
“Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a
capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para
conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da
lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte” (art. 145, § 1°, da
CF/1988). O princípio da capacidade contributiva já estava inserido no ordenamento constitucional
desde a Constituição do Império de 1824: “Art. 179 – A inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos
cidadãos brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual e a propriedade, é
garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte: [...] 15) Ninguém será isento de
contribuir para as despesas do Estado em proporção dos seus haveres”.
118
individuais.
uma liberdade aparente, pois o homem acaba sendo aprisionado em seu próprio
consumo.
liberdade, que torna aceitável o sistema no qual o sujeito vive, ao sugerir-se que
Para esse autor, a partir de uma ampla aceitação social desse discurso, bem
individualidade perde seu valor, substituída pela noção imprecisa do coletivo e sua
necessária preponderância.
atividades estatais.
paga-se tributos sem ter consciência disso e, sobretudo, sem saber precisamente o
109
Rothbard (2010, p. 260) comenta que "[...] em uma democracia, o público só pode decidir sobre
questões públicas e votar em representantes públicos se eles tiverem total conhecimento das
operações do governo; e (2) que uma vez que os pagadores de impostos pagam as contas do
governo, eles deveriam ter o direito de saber o que o governo está fazendo. O argumento libertário
acrescentaria que, uma vez que o governo é uma organização violadora dos direitos e das pessoas
de seus cidadãos, logo a completa transparência de suas operações seria no mínimo um direito que
seus súditos poderiam arrebatar do Estado, e que eles poderiam utilizar para resistir ou reduzir o
poder do Estado.”
121
sentido de que, sem perceber o ônus que deve suportar no consumo com o tributo
aquilo que lhe traz prazer é, também, uma forma de contribuição para a
consciência do ser passa a ser determinada pela relação direta e imediata com a
pós-moderna do existir, segundo a qual, para ser feliz, é preciso adquirir coisas.
110
Nabais (2007) chama isto de anestesia fiscal, entendendo que a tributação sobre o consumo faz-
se de maneira invisível, não é sentida, embora onipresente, alcançando a todos.
122
à economia de mercado.
cidadania ativa.
111
Segundo Ramos (2007, p. 1) “[...] a sociedade do consumo produz um saber sobre o gozo que
afirma a alienação narcísica.”
123
das decisões no campo das relações entre Fisco e contribuinte, definiu um novo
individual:
112
Interessante reflexão sobre o Direito entrelaçado às condições sociais de existência e às regras do
poder e legitimação do seu exercício por um grupo é feita por Morrison (2006, p. 619): “Kafka situa os
sujeitos do seu conto num dilema sutil: o estado de direito é dado por certo, mas em termos práticos
isso significa que o domínio da nobreza é inquestionável. Uma vez que o segredo do direito só é
conhecido pela nobreza, só eles podem alegar saber o que é preciso fazer e, na verdade, o que deve
ser feito; a população – como admitiu Hart (1961) só precisa, em última instância, confiar na
integridade com que as autoridades desempenham sua tarefa. (É tentador substituir a nobreza de
Kafka por ‘especialistas’, obtendo a imagem de dominação numa modernidade supostamente
racional fundada sobre a mais profunda irracionalidade).”
125
privilégios.
constitucional da previsão prévia em lei. Todavia, como lembra Ergec (2005, p. 5):
113
Tradução livre do original: “Pourtant, les actes et normes fiscaux peuvent gravement affecter les
droits des particuliers dans leur patrimoine, dans leur activité professionnelle, dans leur reputation
et honneur, dans leur vie privée et dans leur liberté individuelle. Á mesure que la pression fiscal
s’est accrue et s’est diversifiée, embrassant presque toutes les facettes de l’activité humaine, la
nécessité de faire appel aux droits de l’homme a graduellement gagné les esprits.”
126
114
Derzi (2010, p. 1262-1263) observa que a simplificação encerra pensamento padronizante: “O ‘tipo’,
esquema ou padrão – quer resulte de características comuns, médias ou freqüentes de uma
multiplicidade de fenômenos, quer de um caso isolado erigido como modelo do normal – nesse
processo, altera o programa da norma e substitui os fatos isolados por uma presunção. Daí resultou a
expressão, atribuída pela doutrina estrangeira, de modo de ‘pensar tipificante’, que serve para designar
essa técnica de simplificar a execução da lei [...] Entretanto, desse modo de pensar não resultam
verdadeiros tipos jurídicos, como ordens abertas, graduáveis, transitivas, de características
renunciáveis. Nesse processo, ao contrário, são produzidos rígidos padrões, esquemas fixos, em regra
numericamente definidos, não raro funcionando como presunções iuris et de iure. A criação de tipos
propriamente ditos é meio que abstrai e generaliza [...] o objetivo da padronização simplificadora é
exatamente evitar a aplicação individual do Direito (que o tipo, no sentido próprio do termo, propicia),
estabelecendo, através da uniformidade rígida e fixa, a aplicação da lei a milhares de casos.”
127
contemporaneidade como assevera Lyotard (2002), pois é preciso cada vez mais
recorrer à força dos argumentos para assegurar uma via de consenso no mundo
político, e isso tem sido utilizado pelo Estado para atingir certos propósitos,
115
A alteridade refere-se ao reconhecimento do outro como igual; a consciência de si é, também, a
consciência acerca do outro, fundamento de toda relação ética e, nesse sentido, delimita a posição
do Estado frente ao indivíduo cidadão.
128
definir uma rede conceitual que lhe é própria” (FISCHER, 2001, p. 200).
(2010).
facilita a sua apropriação pelo discurso estatal, para construir justificativas coerentes
116
Rothbard (2010, p. 239) refletindo sobre o papel da ideologia na construção de discursos
legitimadores do Estado, afirma: “O teor específico das ideologias tem obviamente mudado com o
passar do tempo, de acordo com as mudanças das condições e culturas. Nos despotismos orientais,
o imperador era freqüentemente sustentado pela Igreja sob o argumento de ele próprio ser divino; em
nossa época mais profana, o argumento inclina-se mais para ‘o bem público’ e o ‘bem estar geral’.
Mas o propósito é sempre o mesmo: convencer o público de que o que o Estado faz não é, como
alguém poderia pensar, crime em uma escala descomunal, mas uma coisa necessária e vital que
deve ser apoiada e obedecida.”
129
não pode ser argüido como justificativa para construção de assimetria relacional em
como o ator mais capacitado a determinar o que é bom ou não para a sociedade.
seara tributária.
Para isso deve-se adotar uma perspectiva centrada nos valores universais,
como substrato axiológico e força imanente dos direitos de todo ser humano, que
formal interno.
fundamentalidade dos direitos humanos, outro marco para sua garantia e efetividade
dos princípios e valores influencia cada vez mais a forma como é pensada a relação
Nogueira (2008, p. 42) observa que “No campo específico do direito tributário,
sistema jurídico como um todo e, ainda, para preencher o conteúdo das normas
jurídicas.”
117
Segundo Aveline (2007, p. 253) “[...] se o objetivo da tributação é também o de possibilitar a
ampliação da liberdade, com o conseqüente aumento da riqueza da nação, não parece haver
qualquer incompatibilidade entre eficiência e justiça fiscal. Ao contrário, a eficiência parece ser
atributo inerente à idéia de liberdade em um Estado Fiscal.” Obviamente o autor refere-se a uma
situação ideal, que está longe de ser a realidade brasileira no momento. A crítica feita aqui sobre a
identificação da justiça fiscal com eficência é no sentido de que o Estado brasileiro, ao priorizar o
emprego de instrumentos e mecanismos fiscais tendo em vista tão somente seus objetivos
arrecadatórios, tem buscado apenas maximizar a entrada de recursos por meio da tributação, sem
uma real contrapartida, com o atendimento das necessidades individuais e sociais baseado na
observância da finalística que lhe é inerente como agente concretizador das demandas coletivas.
132
Assim, por exemplo, o discurso da justiça social tem sido construído pelo
ricos pagam mais tributos, mas o que se verifica é cada vez mais o emprego do
subterfúgio do imposto invisível, que incide sobre todos, não sendo percebido
pelos mais pobres como uma carga tributária que lhes é muito mais onerosa.
Tal é a regra da maior parte das democracias ocidentais. Ela tem por
nome ‘justiça social’ e apresenta, para os homens do Estado, a imensa
vantagem de ocupar os sentimentos do povo, dispensando-o de se
questionar sobre o que não vai bem no país, começando pelos impostos
que ele paga evidentemente, mas de modo tão pouco visível quanto
118
possível, pois é necessário que nossos príncipes e seu Estado vivam.
com uma imposição tributária mais gravosa para os níveis de renda mais altos.
118
Tradução livre do original: “Telle est la règle de la plupart des ‘démocraties’ occidentales. Elle a
pour nom ‘justice sociale’ et présente, pour les hommes de l'État, l'immense avantage d'occuper les
sentiments du peuple, le dispensant de s'interroger sur ce qui va mal dans le pays, en commençant
par les impôts qu'il paie évidemment, mais de façon aussi peu visible que possible, car il faut bien que
nos princes et leur État vivent.”
119
“Calcadas num sentimento de injustiça pelas diferenças (sejam elas quais forem: financeiras, estéticas,
filosóficas) e na idéia de que todos deveriam ser igualmente contemplados, muitas políticas de
expropriação foram conduzidas. Desde o sec. XVIII, com o emblemático lema da revolução francesa
‘igualdade, fraternidade e liberdade’ até as revoluções socialistas (sec. XIX e XX) apregoa-se esta filosofia
da igualdade, um ópio para o sentimento de inveja, que ganha força demagógica nesta, aparentemente
justa, indignação.” (COUKIER, 2011, p. 14).
133
governantes.120
120
Comentando a conduta do Estado perante os indivíduos, Rothbard (2010, p. 238-239) ressalta que
a legitimação do exercício do poder faz-se por meio de argumentos próprios da democracia, com
base numa suposta representatividade, o que possibilita a aceitação inconteste do seu poder, mesmo
quando fundada em atos coercitivos, como na imposição de tributos: “Mas o Estado, em contraste
com uma quadrilha de ladrões de estrada, não é considerado uma organização criminosa; ao
contrário, seus subordinados em quase toda parte tem lhe assegurado as posições de status mais
elevados da sociedade. Este é um status que possibilita que o Estado se alimente de suas vítimas
enquanto faz com que pelo menos a maioria delas o apóie, ou ao menos aceite este processo
explorador. Este apoio é obtido com o Estado sendo uma ‘democracia’, uma ditadura ou uma
monarquia absolutista. Pois o apoio depende da disposição da maioria (e não, novamente, de todos
os indivíduos) de acompanhar o sistema: de pagar os impostos, de ir sem muita reclamação lutar as
guerras do Estado e de obedecer às regras e decretos do Estado.” (destaques do autor)
134
praticidade que tem levado a novas e variadas estratégias fiscais que não se
boa-fé objetiva122, que devem ser observadas na relação tributária, a ser construída
quanto buscar a certeza ou praticidade por parte do Fisco. Qualquer outro modo de
121
Como explica Garcia (2004), garantias não se confundem com direitos, mas são instrumentos
assecuratórios destes, constituindo assim bases da sua efetividade; o direito, para concretizar-se não
depende apenas do seu reconhecimento com a previsão normativa que o estabelece, sendo
necessário instrumentos que lhe conferem possibilidade de concretude, para além da declaração
formal. Ainda segundo Bastos (1986, p. 231-232), “Enquanto os direitos individuais asseguram bens
da vida (a liberdade, a igualdade, a propriedade) [...] as chamadas garantias individuais cingem-se ao
asseguramento, à proteção jurídica daqueles bens, mas não podem ser valorados senão a partir do
sistema jurídico.” Por outro lado, em sentido amplo, garantias não deixam de ser direitos, uma vez
que “[...] todos são direitos por se caracterizarem na outorga de prerrogativas ou na proteção de
interesses tutelados pela ordem jurídica.”
122
Derzi (2008) comenta acerca das ações da Fazenda Pública no intuito de ameaçar e constranger o
contribuinte, por meio da divulgação de listas de supostos devedores, pedidos de prisão e de falência,
caracterizando má-fé e evidente desrespeito à confiança do contribuinte.
123
O Estado de Direito está fundado em padrões estruturantes e princípios, sendo dois deles
elementares a sua preservação: o princípio da segurança jurídica e o princípio da confiança do
cidadão (CANOTILHO, 2011).
135
conexos, irradiando-se por todo o sistema jurídico e, portanto, com inflexão direta
constitucional basilar.
direitos fundamentais.
homens, que é a sua dignidade. Não se admite nenhuma afronta a esse valor
136
universal e inerente ao ser humano, ainda que sob a justificativa de estar sendo
quando se trata da proteção e garantia aos direitos do indivíduo, mesmo que seja
124
A Ontologia é a parte da filosofia que se dedica ao estudo do ser enquanto objeto do
conhecimento e das suas características e essência.
137
“mínimo ético” como critério de análise da flexibilização das garantias aos direitos
fundamentais, que tem sido imposta pela afirmação da vontade soberana do Estado
O Estado tem utilizado uma retórica que serve tanto para justificar, como para
conferir aparente legitimidade a suas estratégias arrecadatórias, e para isso tem sido
comum. Apresenta-se então como aquele que pode realizar as melhores escolhas
estar geral.
interesse geral e, por extensão, aquele que pode concretizar o que, inicialmente,
do interesse público.
125
Como explica Di Pietro (2001, p. 97), conceito indeterminado é o termo relativo aos vocábulos ou
expressões jurídicas “[...] que não têm um sentido preciso, objetivo, determinado, mas que são
encontrados com grande freqüência nas normas jurídicas dos vários ramos do direito. Fala-se em
boa-fé, bem comum, conduta irrepreensível, pena adequada, interesse público [...].”
138
“intelecções diferentes” (p. 23), “[...] sem que, por isto, uma delas tenha de ser
havida como incorreta, desde que quaisquer delas sejam igualmente razoáveis”.
caso precisa ser feita de modo a realizar o que Andrade (2009) considera um
todavia, com brilhante acuidade, ressalta Mancuso (2000, p. 29) que, “Quando se
em primeiro plano”.
onde o motor é a ideologia do interesse geral que justifica tudo e explica tudo - sem
O ente estatal emerge com toda a sua força quando se fala em interesse
público porque este remete a uma aspiração que não está no plano puramente
126
Tradução livre do original: “L'administration intrinsèquement contraint; elle classe et agit dans une
perspective globalisante - dont le moteur est I'idéologie de l’intérêt général qui justifie tout et explique
tout - sans jamais définir son contenu [...]”
139
metafísico, mas constitui uma vontade coletiva a ser efetivada, o que, todavia,
supremacia do interesse primário é condição sine qua non para definir o alcance e
sobre o primário porque isso implica desvirtuar todo o arcabouço sobre o qual
não exclui a fundamentalidade do ser em si a quem ela diz respeito, ou seja, não
127
“[ ...] embora seja comum falar em ‘ato discricionário’, a expressão deve ser recebida apenas como
uma maneira elíptica de dizer ‘ato praticado no exercício de apreciação discricionária em relação a
algum ou alguns dos aspectos que o condicionam ou compõem’. Com efeito, o que é discricionária é
a competência do agente quanto ao aspecto ou aspectos tais ou quais [...]. O ato será apenas o
‘produto’ do exercício dela. Então, a discrição não está no ato, não é uma qualidade dele; logo, não é
ele que é discricionário, embora seja nele (ou em sua omissão) que ela haverá de se revelar”
(MELLO, 2009, p. 18).
140
e projetos. O Estado não é senão aquele que, de forma reflexa, deve realizar esses
valores.128
decisões estatais.
128
O que não significa que o Estado não deva enveredar pela seara da moral. Se a ele cabe realizar
os valores dos indivíduos e da sociedade, não se pode esquecer que ele é constituído por pessoas
enquanto entes morais, formando a comunidade estatal como a denomina Edith Stein, e é nessa
condição se define a via a ser trilhada pelo Estado na condução de suas decisões (ROMANO, 2010).
141
especialmente porque não se pode tornar absoluto o que deve ser apreciado à luz
são pertinentes.
tributação, que a condição do sujeito frente ao Estado precisa ser resgatada, por
individualidade. É a isso que Bobbio et al. (1998, p. 707) se referem quando falam
sobre um princípio pelo qual “[...] as outras pessoas são reconhecidas em sua
dignidade, diante da própria pessoa, e a cada uma delas se atribui um direito igual
ao próprio direito".
concretamente vivenciada por todos, o que não será possível sem a passagem
de um plano ideal e formal, para o real e vivido, tornando-se os direitos que são
uma nova interface entre o Estado fiscal e os contribuintes que, por estar
universalista e relativista.
efetividade na vida de todo homem, o que passa da órbita do pensamento puro para
o campo da práxis.
Por outro, não há consenso quanto à forma como o Direito pode ampliar as
posicionamento inconclusivo.
outro lado, tão atuais as situações tormentosas que marcaram, naquela época, o
129
Francis Fukuyama (1952- ), norte-americano, PhD. em Ciência Política pela Universidade de
Harvard, autor de “Fim da história e o último homem”, postulou nessa obra que o liberalismo econômico
seria a culminância de um processo evolutivo da economia, ao qual estaria atrealado o desenvolvimento
de novas de organização social, de cunho democrático, favorecendo uma crescente igualdade de
oportunidade e a autonomia como base do desenvolvimento pessoal (FUKUYAMA, 1992).
145
“democratização” mundial.
econômicos, sociais e políticos, acabaria por derrubar outros modelos sem a mesma
teocráticos islâmicos.
à perspectiva niilista do “fim da história”, são produtos dessa razão indolente que,
146
humanos.
Internacional que possa servir a todos. A dinâmica das relações internacionais, e mesmo
pluralidade de culturas, pois, se cada cultura fosse tão completa como se julga,
comum, o que se vislumbra, nesse ponto de vista, é a consolidação de uma dupla via
130
Recorre-se aqui à teoria de Einstein, que não logrou jamais completar, sobre um sistema
matemático capaz de abarcar todas as forças fundamentais do Universo em um único campo.
131
Tradução livre do original: “Les droits de l’homme, les constitutions, les conventions internationales, les
systèmes nationaux: toutes ces sources ne s’excluent pas mutuellement ; elles ‘parlent’ l’une à l’autre. Les
juges sont tenus de coordonner ces sources en écoutant ce qu’elles disent.”
148
tomando como referência os direitos humanos e a sua força normativa que se irradia
entendida como um refinamento da teoria monista, ajustada a uma nova visão sobre
132
Erik Jayme é expoente do Direito Pós-Moderno, vertente que considera a emergência de novas
possibilidades no campo da afirmação e imperatividade dos direitos humanos no contexto do
pluralismo das fontes do Direito.
149
Por essa proposta, a tutela jurídica dos direitos humanos implica afastar-se do
interno. A soberania estatal pode ser relativizada para a aplicação da norma mais
Direito interno e Internacional. Apesar da interface entre eles, um não pode adentrar
dialógica foi levantada pelo Ministro Gilmar Mendes, por ocasião da manifestação
do Supremo Tribunal sobre a aplicação da lei pátria que prevê a prisão por
133
Julgamento do R.E. 466.343-1/SP tendo como Relator o Ministro Cezar Peluso, o Banco Bradesco
S/A como recorrente e o Luciano Cardoso Santos como recorrido. O recurso extraordinário foi
interposto pelo referido banco com arguição do artigo 102, inciso III, alínea “a” da Constituição
Federal, contra o acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que negou provimento ao
recurso de apelação n° 791031-0/7, manifestando-se pela inconstitucionalidade da prisão civil do
devedor fiduciante em contrato de alienação fiduciária em garantia, frente à previsão da Carta
Constitucional em seu artigo 5º, inciso LXVII: “não haverá prisão civil por dívida, salvo a do
responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário
infiel;”
134
Firmado em San José, Costa Rica, em 1969, entrou em vigor em 1978. Tem como signatários os
Estados-membros da Organização dos Estados Americanos (OEA). O Brasil aderiu oficialmente à
Convenção apenas em 1992. Dispõe a referida pactuação: “7. Ninguém deve ser detido por dívidas.
Este princípio não limita os mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de
inadimplemento de obrigação alimentar.” (BRASIL, 2012).
150
norma mais favorável às vítimas que têm seus direitos humanos violados ou
Direito nos planos interno e externo, pautada no primado dos direitos humanos
que exige essa comunicabilidade entre os sistemas, para que se estabeleça uma
135
Segundo o entendimento da aplicabilidade automática, os tratados internacionais versando sobre
direitos humanos, desde o momento da sua ratificação pelo Executivo, ficam incorporados
automaticamente à legislação interna, tendo equiparação às normas constitucionais, não dependendo
de aprovação por maioria qualificada no Congresso Nacional como prevê a Emenda Constitucional n°
45/2004 que acrescentou o parágrafo 3º ao artigo 5º da Carta Magna.
136
Bonavides (2000) denomina de princípio da proporcionalidade, entendendo-o como um princípio
que possibilita compatibilizar realidades não captadas, pautando a escolha daquela que for menos
nociva aos interesses do cidadão.
151
original).
modo que “Muito longe de unificar o mundo, isso iria intensificar o embate entre
regimes legais e modos de pensar, alguns mais centrais do que outros, cada qual
137
Tradução livre do original: “Far from unifying the world, this would intensify the clash of legal
regimes and modes of thought, some more central than others, each organized through an internal
hierarchy.”
153
teoria das redes de Castells (2002), que aponta o desenvolvimento de uma nova
assim construir um sistema único, com base num substrato comum a todas as
138
Walzer (2001, p. 17) postula a existência do que chama de moralidade mínima, comum às
diferentes culturas humanas, consistindo em “[...] princípios e regras que são reiterados em diferentes
épocas e locais, e que são vistos como similares ainda que sejam expressos em diferentes idiomas e
reflitam diferentes histórias e diferentes versões de mundo”. Tradução livre do original: “[…] principles
and rules that are reitered in different times and places, and that are seen to be similar even though
they are expressed in different idioms and reflect different histories and different versions of the world”.
154
ponto de partida de uma nova tradição no Direito, a qual não tem como origem
passa a constituir uma nova tradição jurídica que adquire consistência e se torna parte
dois sistemas jurídicos, por uma racionalidade unificadora, ou nos termos da teoria
139
Tradução livre do original: “Cette expérience est une cognition corrélative. L’expérience est
connectée à une autre en réduisant encore la complexité. Le caractère provisoire de cette cognition
corrélative qui attend davantage de connexion, est une définition finale de la cognition. C’est-à-dire
qu’elle n’existe qu’en tant que constamment possible de connecter. La ‘connection’ se présente ainsi
comme une nodosité ou un couplage qui lie le passé et le futur dans le present”.
155
de forma inédita.
Mas essa perspectiva também pode ser interpretada como uma recusa para
conceitos fechados, pois, em sua interrelação com a dinâmica social, não é uma
Remete-se aqui à perspectiva sistêmica, pela qual sujeito e Estado podem ser
compreendidos em razão das funções que lhe são inerentes em um complexo maior
jurídico, e mesmo nas decisões dos tribunais, inclusive na seara dos direitos
a novas realidades sem que isso implique em abrir mão da ordem posta.
do que a escolha de uma via racional e objetiva para resolver as antinomias entre o
ocorre por meio do que Cadermatori; Duarte (2009, p.19) chamam de “mecanismo
constitucionais diversos, de modo que deles possa emergir uma ordem jurídica
Nessa condição, nada obsta a passagem de uma cultura nacional para outra,
do constitucionalismo tradicional.
Européia não caracteriza nem mesmo uma soberania relativizada, mas a construção
140
Tradução livre do original: “On peut avancer que les origines de l'idée de souveraineté se trouvent
au Moyen-Age. Cette conception d'une puissance étatique absolue et arbitraire a été mise en
obsolescence par différents facteurs - comme notamment des développements technologiques,
économiques, politiques, et sociaux. Néanmoins, elle demeure toujours le fondement de l'idée
occidentale de la puissance étatique. Il s'agit désormais de mieux circonscrire l'idée de souveraineté,
en amenant certaines limitations (comme les droits de l'homme) à son pouvoir absolu. Pour cette
raison, il nous semble erroné de voir la disparition - plus correctement la cession théoriquement
révocable - d'une partie de la souveraineté étatique vers une organisation internationale, comme une
atteinte au principe de légalité. Une telle cession, dans le sens d'une exécution du pouvoir souverain,
constituerait l'une des transformations juridiques nécessaire pour que l'idée nouvelle d'une puissance
étatique limitée puisse émerger.”
159
alternativa pode ser contraditória, se for considerada a relativização dos valores que
da práxis jurídica na solução dos conflitos resultando, porém, sob um olhar crítico,
em uma diluição dos valores que deveriam, eles mesmos, serem absolutos, em
razão do caráter substancial dos direitos humanos, que é o “ser em si”, ao qual
tradições e rejeição de uma teleologia que poderia ser identificada em uma matriz
das antinomias, neste caso, envolvendo a extensão das alterações na Lei Geral de
2012).
O entendimento foi que a Lei de Execução Fiscal (Lei Federal 6.830/80) teve
tornando mais célere a sua cobrança, devem ser aplicadas à execução fiscal.
Como resultado, o diálogo das fontes serviu como base para uma
Nesse caso, houve uma evidente relativização dos valores, posto que os
qual apesar das diferenças, o que se observa não é uma fragmentação inevitável,
sociedades humanas imposta pelas forças exógenas que impõem uma revisão
141
Tradução livre do original: “Les administrations publiques de la plupart des pays occidentaux ont
entrepis au cours des dernières années des changements profonds quant à leur role, leur structure e leur
mode de fonctionnement. [...] ces changements ne son pas seulement le résultat de la crise des finances
publiques que traversent les pays occidentaux, mais [...] sont tout autant le produit d’une mutation des
valeurs individuelles et du processus de transformation sociopolitique que celle-ci engendre. Le droit, em
tant qu’expression formelle de la volonté politique, ne peut evidemment rester à l’ecart de cette évolution.
En effet, les nouvelles valeurs qui s’imposent à la societé civile et à l’appareil public posent des défis de
taille au droit appliqué à l’administration [...] trois phénomènes rompant avec la rationalité traditionelle du
droit: il s’agit des dérogations aux regimes généraux, des assouplissements à la réglementation et des
modes alternatifs de résolutions des conflits.”
163
constituindo forças alheias e acima dos voluntarismos dos governos nacionais. Isso
em um sentido planetário.
sentido de uma nova entidade soberana face aos Estados-nacionais, todavia contra
internas e estabelece uma nova arena global para a ampla satisfatividade dos
direitos humanos:
Com efeito, as relações internacionais devem ser cada vez mais relações
reguladas em termos de direito e de justiça, convertendo-se o direito
internacional numa verdadeira ordem imperativa, à qual não falta um núcleo
material duro – o jus cogens internacional – vertebrador, quer da política e
relações internacionais, quer da própria construção constitucional interna.
Para além deste jus cogens, o direito internacional tende a transformar-se
em suporte das relações internacionais através da progressiva elevação dos
direitos humanos – na parte em que não integrem já o jus cogens– padrão
jurídico de conduta política, interna e externa. Estas últimas premissas – o
jus cogens e os direitos humanos –, articuladas com o papel da organização
internacional, fornecerão um enquadramento razoável para o
constitucionalismo global.
164
mesmo planeta.
da comunidade internacional.
142
De acordo com o princípio da atribuição, as competências da União Européia são estritamente
aquelas que lhe são conferidas nos Tratados. A subsidiariedade e a proporcionalidade são princípios
corolários do princípio da atribuição. Determinam o âmbito do exercício das competências da União,
delimitado nos Tratados. Em razão do princípio da proporcionalidade, a atuação da UE não pode ir
além do estritamente necessário para concretização dos propósitos convencionados. O princípio da
subsidiariedade determina o nível de intervenção compatível com as competências compartilhadas
entre a União Européia e os Estados-Membros. A UE somente pode intervir quando sua mobilização
se revelar mais adequada ou eficaz do que a ação dos Estados-Membros.
143
Segundo esse autor português, a despeito dos princípios de atribuição, de subsidiariedade e de
proporcionalidade, a Constituição Europeia tem logrado estabelecer uma nova forma de aplicação de
normas definidas num espaço supracional, mas que ambém assum o caráter de direito constitucional
por força da sua aplicação no âmbito interno dos Estados-membros da Comunidade (CANOTILHO,
2012). Quando fala em Constituição Européia, este doutrinador entende que já existe uma ordem
constitucional para a União, mesmo que ainda não tenha sido formalizada em um documento,
derivada dos institutos formadores e de toda uma estrutura jurídica que tem possibilitado a efetividade
das normas comunitárias no interior de todos os Estados-membros.
165
Compelido a abdicar o ente estatal da sua soberania, torna-se cada vez mais
intrínseca entre direitos humanos e direitos do contribuinte é uma questão que ainda
não recebeu total atenção, e tem sido tratada de forma pouco contundente no
144
Tradução livre do original: “La pénétration du droit par les droits de l’homme ne s’est fait sentir que
progressivement après la seconde guerre mondiale, à la faveur des instruments universels comme le
Pacte international relatif aux droits civils et politiques et régionaux au premier rang desquels figure la
Convention européenne des droits de l’homme. La percée s’est manifestée d’abord en droit penal,
puis em droit civil, dans les domaines où la liberte individuelle s’expose le plus aux ingérences
arbitraires. À l’époque, personne n’aurait songé au droit fiscal. Le paiement de l’impôt ne correspond-il
pas à um devoir civique de premier ordre et le droit d’établir et de collecter des impôts ne constitue-t-il
pas une prérogative consubstantielle à l’idée de puissance publique?”
166
mas segundo a sua imbricação com o sistema de garantia e proteção aos direitos
Para esse autor, a posição recalcitrante dos juízes (embora fazendo alusão à
França), não deixa de ser aplicável ao nosso país, vislumbrando-se traços comuns
interno sob a égide da judicialização, a qual não ocorre de forma aberta, mas
segundo uma visão fechada do Direito interno e da sua relação exclusiva com as
normas constitucionais.
E a razão para isso é uma postura dúbia, situada entre a estrita preocupação
Poderes no Brasil. Nesse caso, cabe ressaltar que a separação dos poderes não
elimina a necessária interrelação entre eles, mas sem que a influência determinante
145
Tradução livre do original: “[...] un formalisme rigide et un refus systématique d'admettre des
innovations juridiques pour garantir les droits des contribuables. Selon nous, la source de ce
formalisme est l'ambiguïté et l'ambivalence inhérentes au concept des droits de l'homme. Ce
formalisme nous paraît être la réponse pratique de l'administration face à l'incertitude théorique
inhérente à l'idée des droits de l'homme. La conséquence de ces deux faits est que que les droits de
l'homme peuvent avoir peu de poids pour la protection des personnes. Néanmoins, la défense des
contribuables par les droits de l'homme reste toujours possible. Mais notre étude montre qu'une
transformation réelle de ces droits potentiels s'avère problématique - du moins sans une remise en
cause radicale des fondements du système, tel que la souveraineté.”
168
de um Poder se faça sentir além do que lhe é inerente nos termos constitucionais,
caso tendo em vista não somente a garantia das expectativas normativas, como
dos cidadãos.146
146
Não se pode esquecer que as normas constitucionais são elaboradas pelo poder constituinte
derivado, mas o seu fulcro está na vontade do poder originário que consubstancia a própria idéia de
Constituição, estando este no povo.
169
possíveis, não somente aquelas emanadas dos órgãos jurisdicionais, como também
as oriundas do amplo espectro de atores do corpo social, embora não façam parte
normas e aos princípios constitucionais, bem como aos valores a eles conexos.
o Direito e a realidade.
estrita da norma dá lugar a uma atuação criativa dos julgadores, a qual não
primeiro porque nem sempre a norma é estritamente racional, e depois porque não é
relacionadas à forma como tem sido abordada a questão dos princípios e valores
Esser apud Bonavides (2000, p. 243) que, ainda que não tenham natureza e caráter
de lei, “[...] como ratio legis – prossegue o abalizado jurista – são, possivelmente ,
dos valores que opera pela via de interpretações subjetivas e de níveis diferentes de
valoração do fato.
particulares, ínsitas em cada indivíduo, de maneira a se criar uma ponte por meio da
147
Filósofo alemão, crítico contumaz do racionalismo, do iluminismo e das idéias de Kant. Descreve o
‘imperativo categórico’ como uma forma de acorrentar o espírito humano, diluir a liberdade verdadeira
disfarçando-se em única via para sua efetividade.
173
primariedade dos princípios em sua força normativa, como necessário caminho para
148
“Deve-se ter claro que a Constituição, como documento jurídico-político, está submersa em um
jogo de tensões e poderes, o que não pode significar como querem alguns, a sua transformação em
programa de governo, fragilizando-a como paradigma ético jurídico da sociedade e do poder, ao invés
de este se constitucionalizar, pondo em prática o conteúdo constitucional” (STRECK; MORAES, 2006,
p. 153).
174
legislativa na forma de lei escrita que, por força da estrutura normativa na qual se
coletiva, ainda que representam valores em sua mais alta abstração, sendo mais
difusos quanto ao conteúdo e genéricos quanto aos casos em que podem ser
aplicados.
concretização [...]”.
Seus efeitos têm caráter restritivo para a aplicação das regras, e também
apontada por ele como o núcleo da diferenciação entre princípios e regras. Estas, ao
contrário dos primeiros149, em caso de conflito entre si, não podem ser ponderadas,
Assim, com relação ao conflito entre princípios, Dworkin (2007) aponta como
solução a ponderação entre eles, entendendo que cada um tem peso diferenciado.
ínsito nos princípios, que por si só é suficiente para dar bom termo a cada caso
concreto.
que não está isolado no mundo, mas vivendo nele. Conseqüentemente a sua
149
Conforme a idéia da concordância, os princípios não se sobrepõem hierarquicamente: "Na
hipótese de colisão entre bens constitucionalmente protegidos, o intérprete deverá fazer a redução
proporcional do âmbito de aplicação de cada um deles, de maneira que a afirmação de um não
implique o sacrifício total do outro" (NOVELINO, 2008, p. 78).
150
A atividade “de sopesamento de regras ocorre, com certa freqüência, no sistema common law, na
medida em que os precedentes, embora não sejam nem autodefiníveis, tampouco autoaplicavéis,
também possuem um elemento descritivo, que somente é superado mediante a ponderação de
razões e fins” (SOARES, 2008, p.37).
176
Nesse sentido, afirma Azevêdo (2009) que a decisão judicial nunca é isenta
efetiva das situações concretas em que se faz necessária a tutela dos direitos de
cada um.
[...] isso pode ser criticado como sendo um formalismo sistemático e cego. A
limitação das proteções dos contribuintes tem uma justificação prática – a
diversidade de fontes dos direitos [...]. Mas, pode-se avançar que essa
recusa sistemática de considerar as interpretações inovadoras se parece
com uma perspectiva distorcida. A recusa da proteção dos contribuintes
pelos juízes não é o resultado de um poder diminuído – e não é produto dos
mecanismos jurídicos. A não-realização dos direitos nos contenciosos
fiscais é o resultado de uma escolha voluntária; em efeito, em decorrência
de um problema prático – o fato que todo contribuinte procura se defender –
os juízes impõem regras destinadas a favorecer a Administração.
151
Tradução livre do original: “Néanmoins, ceci peut être critiqué comme étant un formalisme
systématique et aveugle. La limitation des protections des contribuables a une justification pratique -
la multitude des sources des droits [...]. Mais, on pourrait avancer que ce refus systématique de
considérer des interprétations novatrices s'assimile à un aveuglement. Le refus de la protection des
contribuables par les juges n'est pas le résultat d'un manque de pouvoir - et n'est pas issu des
mécanismes juridiques. La non-réalisation des droits dans les contentieux fiscaux est le résultat d'un
choix volontaire; en effet, suite à un problème pratique - le fait que tout contribuable cherche à se
défendre - les juges imposent des règles destinées à favoriser l'administration.”
178
mas de outros, implícitos, que também podem ser extraídos do caráter substancial
capacidade tributária.154
valores humanos, para que se possa dar maior efetividade aos direitos dos
Direito, de Miguel Reale (1994, p. 119): “[...] o Direito é uma integração normativa de
152
O princípio da legalidade está expresso nos artigos 5º, inciso II, da Constituição Federal de 1988:
“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”, e 150,
inciso I, que dispõe a vedação de “exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça.” Esses
dispositivos definem o chamado princípio da reserva absoluta da lei formal. O princípio da legalidade
está relacionado ao princípio da anterioridade, como se depreende do disposto no artigo 150, inciso
III, alínea b, da Constituição Federal, determina que a cobrança de um tributo só pode ocorrer no
exercício seguinte ao da publicação da lei que o instituiu ou aumentou. A mesma atenção foi
dispensada no artigo 150, inciso III, alínea a, quando a Constituição dispõe que a cobrança de
tributos não pode ocorrer com relação a fatos geradores supervenientes à vigência da lei que os
instituiu ou aumentou. Existem exceções à irretroatividade, porém, somente em casos previstos na lei
e quando for beneficiário o contribuinte.
153
Artigo 5º da Constituição Federal: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza [...] II – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações [...]”).Igualdade esta transposta
para a relação tributária entre Estado e indivíduos na sua condição de sujeitos contribuintes, sendo
vedada a discriminação ou qualquer status conferido a eles que implique em diferenciação de
tratamento, como se depreende do artigo 150 da Constituição Federal de 1988: “Sem prejuízo de outras
garantias asseguradas aos contribuintes, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios: II- instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação
equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida,
independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos [...]”.
154
A capacidade tributária tem relação com a igualdade. Uckmar (1999, p. 67-68) discorre sobre a
relação entre a igualdade como direito genérico nas Constituições, e sua imanência na relação
tributária: em sentido jurídico, “como paridade de posição, com exclusão de qualquer privilégio [...]”
para que “[...] os contribuintes que se encontrem em idênticas situações sejam submetidos a idêntico
regime fiscal.”; na esfera econômica, definindo o “[...] dever de contribuir aos encargos públicos em
igual medida, entendida em termos de sacrifício, isto é, [...] em relação à capacidade contributiva dos
indivíduos”.
179
fatos segundo valores [...].” Ainda segundo essa fonte: “Se o ser não passa para o
pode definir uma relação impositiva entre o Estado e os contribuintes. Para Machado
(2010, p. 33), a relação tributária, embora não seja estritamente uma relação de
soberana do Estado, o que define o sentido que ainda hoje é conferido às decisões
em face do contribuinte:
Com referência a esse cenário, Garcia (2004) fala numa “perversão tributária”,
termo que define bem sua posição quanto à afronta indiscutível do Estado no
exercício do seu poder de tributar o qual, mesmo como qualidade da sua soberania,
não pode nunca exceder o aceitável e o justificável, não somente nos termos da lei
180
posta, mas também diante dos princípios e dos valores a eles adstritos, num campo
pessoa humana. Se é certo que o Estado tem suas competências fixadas nas
negar que os seus atos, nesse amplo campo da relação que nasce dos tributos,
observa que até mesmo o Supremo Tribunal Federal tem reiteradas vezes
contributiva, Pessôa (2009), constatou que existe uma grande distância entre
155
Em suas reflexões sobre a aplicação ampla dos princípios tributários, observa Torres (2009, p.
167) que “[...] temos uma tradição positivista no País de só reconhecer a existência dos princípios
quando eles aparecem formalmente no texto básico”.
181
contribuintes.
em sua defesa,
estatal tributante:
impraticáveis, o caminhar do Direito na busca da justiça não pode ser visto como
sociedade por um mundo melhor, objetivo ao qual não pode estar alheio o Estado na
que pode ser diretamente dela extraído. É preciso adentrar no campo axiológico, ir
de encontro aos valores. Superar a visão restritiva destes é indispensável para que a
idéia da força normativa dos princípios não acabe sendo retórica, a favor não da
como no grande número de julgados do STF analisados por Pessôa (2009) e aqui
183): “É certo que o julgado se torna fator de jurisprudência somente quanto aos
referências".
resquício juspositivista que continua a permear a visão restritiva dos direitos dos
contribuintes ao denegar aos princípios a sua força imanente, situada num plano
conjunto normativo em vigor, uma vez que, como observa o eminente jurista
antes citado "A jurisprudência auxilia o trabalho do intérprete; mas não o substitui,
contribuintes.
Tribunal Federal.
estabelece uma via dupla na qual, por vezes, em razão de ingerências políticas
não diz respeito ao aspecto formal das questões a eles relacionadas, mas ao
alterando sua denominação para “contribuição”, uma vez que, como taxa, era
demais entes federativos, somente pode instituir taxas para exercer o seu poder
especificidade dos serviços são definidas nos termos do artigo 79, incisos I e II,
pelos municípios e o Distrito Federal, gerando-se aí uma afronta aos direitos dos
Todavia, para atender aos interesses dos erários municipais, a solução dos
fiscal, sem qualquer consideração pelo contribuinte que deveria arcar com o ônus de
ter sido embasada numa análise mais profunda dos fatos, necessária para atender
visão indistinta do sujeito, que se confunde com o todo, o coletivo. É condição típica
se da correção legislativa.
189
referida contribuição é
constituintes derivados constituiu uma ilegalidade eficaz, abrindo uma nova porta
agravada sua condição econômica, pois foi criada uma exação à revelia dos
comentar que uma Emenda Constitucional não tem o poder de anular ou reduzir a
Não é fácil definir o que seja confisco, entendendo eu que sempre que a
tributação agregada retire a capacidade de o contribuinte se sustentar e se
desenvolver (ganhos para suas necessidades essenciais e ganhos a mais do
que estas necessidades para reinvestir ou se desenvolver), estaremos diante
do confisco.
além de afirmar o Ministro Gilmar Mendes (BRASIL, 2009) que era costumeiro o
constitucionalmente válida.
191
inconstitucionalidade formal, uma vez que não foram cumpridos os requisitos da lei
observância dos ditames constitucionais, mas também da parte vulnerada pela nova
comenta que:
(2006, p. 256):
157
O princípio recebeu especial acolhida no Direito Alemão e Suíço, e também é recepcionado de
modo especial no Direito Comunitário Europeu, particularmente na França. Irradiando-se por todo o
sistema jurídico, na área tributária se apresenta como requisito para uma relação confiável entre
Estado e contribuinte. O princípio da boa-fé objetiva é corolário do princípio da proteção da confiança,
que se efetiva na segurança jurídica e constitui fundamento do Estado de Direito, e tem relação direta
com a justiça enquanto valor que também deve ser buscado pelo Direito Tributário.
193
Nesse sentido, Martins (2006, p. 46-48) entende que a Emenda 39/2002 criou
Não foi apenas a boa-fé objetiva que foi atingida com a criação da
afetamento das condições de existência, com ofensa ao direito à vida, uma vez que
contraria o fim precípuo do Direito Tributário, que é a busca da justiça fiscal, valor
apontados, a Emenda Constitucional 3/93 não foi atacada por sua inconstitucionalidade
pelo Supremo Tribunal Federal. E tampouco o fez com relação à Lei Complementar
87/96, que passou a disciplinar a referida exação tributária do ICMS em todo o território
nacional, embora essa norma tenha delegado158 à lei ordinária dos Estados-membros e
[...] ‘ex vi’ do citado art. 155, § 2º, XII, b, da CF. Não poderia, destarte, ser
objeto de delegação, se por mais não fosse em razão do princípio geral de
Direito Público contido no aforisma delegatur delegare non potest. [...] De
fato, quanto o Texto Magno outorga uma competência, visa a promover um
interesse público, que só considera atingível, v.g., por meio de lei
complementar. É justamente o caso. Inconstitucionais, portanto, os aludidos
artigos quando delegarem à lei ordinária dos Estados e do Distrito Federal
competências para esmiuçar a substituição tributária no ICMS.
políticas (que eram fortes em razão de ser matéria crucial para os interesses dos
158
Segundo o artigo 9º da Lei Complementar 87/96, “A adoção do regime de substituição tributária
em operações interestaduais dependerá de acordo específico celebrado pelos Estados interessados.”
197
fundo.
arrecadação).
O fator gerador presumido, por isso, não é provisório, mas definitivo, não
dando ensejo à restituição ou complementação do imposto pago, senão, no
primeiro caso, na hipótese de sua não-realização final. Admitir o contrário
valeria por despojar-se o instituto das vantagens que determinaram a sua
concepção e adoção, como a redução, a um só tempo, da máquina-fiscal e
da evasão fiscal a dimensões mínimas, propiciando, portanto, maior
comodidade, economia, eficiência e celeridade às atividades de tributação e
arrecadação (DERZI, 2010, p. 1273).
159
Convênio celebrado, no intuito de prevenir a guerra fiscal, derivada de eventuais concessões de
benefícios tributários, relativos à restituição do ICMS cobrado a maior, quando a operação final é de
valor inferior ao do fato gerador presumido.
198
Por sua vez, o citado artigo 4º, caput, da Emenda Constitucional n° 41/2003
estabeleceu que:
conferindo nova roupagem à lei que, anteriormente, em razão de óbices à sua validade,
havia sido reputada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. Conseguiu, por
artigo 4º. Todavia, neste caso o Supremo Tribunal Federal, em decisão unânime,
160
STF - ADInMC 2010/DF, Min. Diário da Justiça 12.04. 2002.
200
da aposentadoria conquistada.
disposto no artigo 5º, inciso XXXVI, onde estabelece a irretroatividade das leis,
princípio pelo qual nenhuma lei pode atingir o direito adquirido, o ato jurídico perfeito
e a coisa julgada.
Bastos (1994, p. 43) ao discorrer sobre a irretroatividade das leis, afirma que
uma base fundamental de segurança jurídica aos cidadãos, a qual está vinculada
regulando fato passado, como observa Carrazza (2006, p. 348) ao afirmar que
[...] é por todos os títulos, inconstitucional a lei tributária "ex post facto"
(Araújo Castro). Outra inteligência justificaria a instalação do império da
incerteza, nas relações entre o Fisco e o contribuinte, o que contrariaria
o regime de direito público e o próprio princípio republicano.
Brasil.
pois é resultado
202
meio representa uma exigência fundamental, considerada por Silveira (2005, p. 75)
como uma
da contribuição aos inativos, os quais, tendo contribuído por muitos anos para a
contrapartida pelo que haviam pago, viram-se novamente na obrigação de arcar com
o ônus previdenciário.
Não foi apenas atingido o direito adquirido, mas essa situação também
configura uma evidente bitributação, uma vez que a exação incide novamente sobre
aposentar.
objetiva, neste caso com uma medida incompatível com o mínimo ético a nortear as
203
cidadãos, uma vez que “[...] legitima o controle jurisdicional de todos os atos do
qual, apesar de seguir os trâmites formais, não pode subsistir sob o ponto de vista
democrático, que pressupõe a fiel observância dos limites legais para não atingir
ligados aos direitos violados, pois é inconcebível que se venha a onerar aqueles
imaginaram que, pelo contrário, justamente daqueles de quem esperavam que essa
garantia não seria de modo nenhum afetada, nasceria uma norma reduzindo o valor
204
rendimentos previdenciários.
passam a receber, o qual, em muitos casos, nem mesmo pode ser considerado justo
sagrados, como o lazer, a saúde, a moradia digna, entre outros, os quais remetem
à necessária qualidade de vida do ser humano quando adentra nos anos e se torna
sua vida, direitos imbricados e indissociados da condição humana. Mais uma vez,
informadora das decisões judiciais, a qual estabelece uma fórmula que se ajusta às
interesses políticos, tanto quanto à praticidade fiscal visada pelo Estado, para
público” que foi edificada a decisão do Supremo Tribunal Federal, na ADIN nº 3.105-
8 (BRASIL, 2005).
183-184):
206
“interesse público”.
Previdência precisa de recursos para se manter, e, por atender a interesses que não
Cabe ressaltar que a aplicação de um princípio não pode nunca ser feita
Nesse caso, cabe destacar, não foi sequer apresentada uma projeção
possível ingerência inadequada dos recursos por parte do Estado, o que mudaria o
Além disso, outra questão importante deve ser aventada: pode-se dissociar os
valores das questões pragmáticas, para que não prevaleçam, sem questionamento,
ponte para a sua concretude no cotidiano dos cidadãos, muitas vezes acabam
gerando soluções contraditórias, em desfavor dos indivíduos, ainda que sob o rigor
base na idéia de que os valores somente podem assumir significados numa dimensão
prática e objetiva que se desenvolve alheia a eles, afirma Oliveira (2007, p. 122):
O que ocorreu no caso em comento parece ter sido uma decisão pautada,
da solidariedade.
Costa (2008) sintetiza muito bem esse problema ao afirmar que é sempre
necessário tomar decisões aceitáveis pela sociedade, pois a elas se destinam; não
basta que a decisão seja emitida unicamente por força da autoridade, presumindo-
se que isso seja suficiente. Pelo contrário, as decisões devem ser justificadas,
ajustada aos valores sociais, ou aos valores aceitos pelos juristas, normalmente é
judiciário.
Ocorre que o STF adotou o efeito modulador, pelo qual estabeleceu-se uma
tributação, uma vez que ficou decidido, que somente os contribuintes cujos
aqueles que não tinham ajuizado ações até o dia do julgamento ficaram excluídos
desse benefício.
decisão.
161
A inconstitucionalidade foi arguida pelo fato da Lei n° 8.212/91 ter estabelecido prazos
decadenciais e prescricionais, o que não pode ser tratado por lei ordinária, mas por lei especial, no
caso da matéria pela norma tributária maior, o Código Tributário Nacional que tem natureza de Lei
Complementar à Constituição Federal.
211
profunda, optou-se pela finalística fiscal, e isso remete a mais uma decisão política
simplificador da realidade, que acabou por ferir o princípio da igualdade, ainda que
deve atender.
direitos humanos não podem ser afastados, ainda mais quando se trata de conceder
212
o rigor dos efeitos de uma eventual observância fiel da Constituição, que deveria
A mitigação dos efeitos para o Estado nesse caso é questionável, sob o ponto
justificabilidade.
tributária, na qual devem ser clarificados, sempre, os direitos e deveres das duas
partes, Fisco e contribuinte, pois “[...] seria um contrassenso jurídico permitir que o
213
saldo positivo dos cofres públicos prevaleça aos direitos e garantias constitucionais”
norma é produzida por ele, “[...] não apenas a partir de elementos que se
caso ao qual será ela aplicada, isto é, a partir de elementos da realidade (mundo do
Supremo Tribunal Federal são evidentes nas decisões dos julgadores versando
Grau (1998), observando que uma norma é sempre expressão de poder, e isso, para
Existe uma relação entre a interpretação e a aplicação da norma. Mas por não
ser o conteúdo da norma idêntico ao conteúdo do texto, isso leva o “[...] intérprete a
Mais do que suscitar questionamentos sobre quão flexíveis podem ser as bases
dos contribuintes, num espaço em que atuam com toda sua potência as forças
irradiantes do sistema político, e que se espraiam, muitas vezes de forma acintosa, para
enfrentadas sob um olhar atento de quem busca a efetividade dos direitos humanos,
Estado e contribuinte.
pecuniários envolvidos. Essa referência deve orientar as decisões judiciais, sob pena
imposições do Fisco.
e eficácia arrecadatória.
Além disso, como foi demonstrado, uma das questões de fundo no confronto
Ainda sobre a forma como poderá ser promovida a força cogente dos direitos
o órgão judicial máximo venha a negá-lo, e o faça sob uma argumentação pautada
sociedade que supostamente representam, posição esta que também tem permitido
direitos humanos.
constitucional deve ser um processo democrático. De forma que o poder dos juízes,
217
sucessivas decisões da Corte Européia dos Direitos Humanos consolidou uma base
europeus por meio das normas comunitárias emanadas dos tratados de direitos
humanos:
162
Tradução livre do original: “Expression de la souveraineté des États et menace constante pour les
droits et libertés des citoyens, la fiscalité pourrait désormais être soumise à l'examen de la Cour
européenne des droits de l'homme, voire être directement remise en question devant les juridictions
nationales sur le seul fondement de la Convention.”
218
idéia de que existe, por força da Constituição, limites que determinam certos
internacional.
interna, tornada inaplicável por força da decisão, dando nova solução processual
L’HOMME, 2012a).
vulneração da autonomia decisória deste por força das relações que mantém, no
0interior do sistema, as quais nunca são absolutamente isentas, seja por força da
sua formação, seja em razão da dinâmica inerente à divisão dos poderes, a qual
não se trata de matéria que pode ser limitada por regras vinculadas a um sistema
dos direitos humanos diante da possibilidade do juiz nacional pautar a sua decisão nas
diálogo das fontes, mas da criação de uma ponte de unificação – o juiz, em qualquer
evolução do Direito pátrio, a qual, em suas bases gerais, pode ser descrita com base
pois contraria as condições impostas para a defesa dos direitos humanos segundo o
direitos humanos pela prevalência das normas derivadas dos tratados sobre o
sentir num campo mais próximo e em íntima conexão com o Direito pátrio.
Humanos (CIDH), cujos efeitos já se fazem sentir no plano interno dos países que
mesma força cogente das decisões da Corte Européia de Direitos Humanos (que
163
A CIDH foi criada em resolução emitida pelos países participantes da Quinta Reunião de Consulta
dos Ministros das Relações Exteriores, realizada em Santiago, no Chile, em 1959.
222
deverá adotar medidas próprias ou se deverá remeter o caso para a apreciação pela
Cabe ressaltar que essa competência da Corte somente se aplica nos casos
Estados-partes da Convenção.”164
164
No sistema comunitário europeu, qualquer indivíduo pode apresentar seu pleito à Corte Européia,
independentemente da aceitação, pelo Estado-membro, da Convenção Européia de Direitos
Humanos.
223
diretamente pela Corte Interamericana, uma vez que não é admitido o jus standi, que
165
O jus standi para representação direta na Corte Européia de Direitos Humanos foi consagrado por
intermédio do Protocolo nº 11, de 01 de novembro de 1998, inserindo o artigo 34 na Convenção
Européia: “A Corte pode receber petições de qualquer pessoa, organização não governamental ou
grupo de indivíduos que se considere vítima de violação por qualquer Alta Parte Contratante dos
direitos reconhecidos na Convenção ou nos seus protocolos. As Altas Partes Contratantes
comprometem-se a não criar qualquer entrave ao exercício efetivo desse direito”.
224
por simples decisão dos Estados-membros, mas também por força dos próprios
garantia e ampla tutela dos direitos humanos é expressão da cidadania ativa. Pode-
atos judiciais válidos, em todas as fases do processo, tema já que foi superado no
internacional por não serem os produtores das leis, incumbência do Estado, que
Embora conste como parte a pessoa ou pessoas que tiveram seus direitos
violados, a presença no pólo ativo da ação é condição de aceitação e
prosseguimento da ação, não se admitindo atuação dos indivíduos de forma
autônoma e independente em todas as fases dos procedimentos judiciais.
Portanto, não se viabiliza o jus standi como se vê na Corte Européia.
Partindo da compreensão que incapacidade processual tem a ver com
impossibilidade de exercer atos jurídicos válidos, necessitando de
assistência ou representação, temos que na esfera internacional vis a vis o
direito processual interno, a Comissão Interamericana tem atuado como
representante ou assistente dos indivíduos, o que enfatiza a incapacidade
individual de praticar atos válidos no processo.
americana, sendo possível delinear outra questão de fundo, relativa ao que tem sido
Humanos, revela que a maior parte dos casos encaminhados para apreciação da
CIDH diz respeito a violações graves dos direitos humanos no campo penal
outros.
aos direitos das minorias, à liberdade religiosa, à orientação sexual, à livre disposição
1.815 decisões proferidas nesse exercício, 464 envolviam questões sobre direitos
relevantes, o que já não ocorre na Europa. Certamente um avanço ainda maior nessa
de Direitos Humanos, como pela crescente confiança dos cidadãos de outros Estados
Direitos Humanos, que cada vez mais buscam assegurar os direitos que as Cortes
Pode-se falar neste caso num novo caminho para a afirmação do direito de
resistência dos cidadãos, tema tratado pela eminente doutrinadora Garcia (2004) na
proclamação legal.
de ser social e político devem se estabelecer as condições pelas quais poderá agir
para que os seus objetivos pessoais e os coletivos sejam alcançados. De modo que
exercício do poder.
consubstanciado na lei constitucional, no artigo 5º, parágrafo 2º, da Magna Carta: “Os
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
parágrafo 2º, do artigo 5º, pode assumir diferentes formas, seja a desobediência civil,
mais importante para superar as limitações do cenário descrito por Garcia (2004, p.
166
Qualquer ação que esteja relacionada ao direito à resistência é um ato inovador, uma vez que
visa alcançar um propósito: demonstrar a injustiça da lei e levar a uma mudança no quadro legal em
vigor (GARCIA, 2004).
229
no Brasil, será necessário adotar uma nova sistemática, mais adequada ao propósito
poderá ser alcançado por intermédio da atividade jurisdicional difusa, como já ocorre
na Europa.
abreviar o curso do tempo, o que é importante tanto para fazer valer a sua eficácia o
especial para que um processo seja julgado no Supremo Tribunal Federal, é muito
230
alto, o que impede muitos cidadãos de terem a sua causa devidamente apreciada
direitos humanos dos cidadãos, pode aplicar o remédio jurídico mais adequado, por
tenha de pedir ou esperar a sua revogação prévia por via legislativa ou por qualquer
167
Tradução livre da Decisão da Corte Européia de Direitos Humanos no caso Krzysztof Filipiak
contra Dyrektor Izby Skarowej w Poznaniu: “81. Selon une jurisprudence bien établie, le juge national
chargé d’appliquer, dans le cadre de sa compétence, les dispositions du droit communautaire, a
l’obligation d’assurer le plein effet de ces normes en laissant au besoin inappliquée, de sa propre
autorité, toute disposition contraire de la législation nationale, même postérieure, sans qu’il ait à
demander ou à attendre l’élimination préalable de celle-ci par voie législative ou par tout autre
procédé constitutionnel” (COUR EUROPÉENE DES DROITS DE L’HOMME, 2009, p. I-11049).
231
CONCLUSÃO
qual também foi definida a identidade do ente estatal, atrelada à soberania, corolário
com a maior proeminência do poder real frente à autoridade da Igreja que culminou
exercício do poder.
os Estados podem subsistir, não mais pela força dos costumes ancorados em um
autônoma dos sujeitos, e nesse caso ele não pensa no governante como alguém
que deve e pode agir unicamente por si, mas a partir de uma relação com os seus
não deixa de reconhecer que acima deste estão as normas, o conjunto de leis,
despeito das teorias sobre a origem divina do pode real e outras que adotaram uma
soberano não deixa de ser sempre contraposto a uma vontade coletiva que,
mesmo transferindo seu poder ao rei, subsiste, de modo que, tendo sido
social.
governado, na qual o Estado tomou forma como um ente dotado de poder soberano,
sociedade, que estaria sob a ameaça de dissolução caso o pacto fosse quebrado.
popular.
não se corporifica somente por intermédio do primado da vontade geral que deverá
ser seguida pelos governantes, mas, sobretudo, pela demarcação objetiva do modo
Sob o pressuposto de que a vontade geral não pode ser considerada senão
como somatório das vontades individuais, tornou-se uma condição sine qua nom a
aos direitos que lhe são inerentes, tanto quanto a legalidade dos atos dos
governantes.
objetivas e explícitas as regras que deveriam conduzir o Estado a realizar seus fins.
235
proclamada em 1948.
Tendo por objeto um amplo conjunto de direitos, inclusive os que não estão
referenciados em nenhuma regra jurídica em particular, uma vez que surgem com
direitos.
intrínseca ligação com o conceito tradicional de Estado, o qual tem exaurido da sua
externamente.
soberania, pode ser entendida em sentido ainda mais abrangente, uma vez que,
exclusivos de jurisdição.
Direito como instrumento para a concretização dos direitos humanos, na qual deixa
sobre os direitos humanos não estão mais limitadas pelo sistema jurídico-político
para que o Direito, no seu modo de atuar, deixe de vincular-se às estruturas e aos
contribuintes assegurados.
Não foi primeiramente no plano fático, mas no mundo das idéias, que se
limites a serem observados, sob o ponto de vista dos direitos reconhecidos como
contribuinte não se deram de forma linear, mas num processo dialético, entre indas e
arrecadadora.
238
iniciativa individual:
tributárias, bastando o apelo comumente feito ao interesse público, termo que por
sua imprecisão oferece ampla base de justificação para medidas discutíveis sob o
do contribuinte.
humanos.
239
pátrio, tem afastado a possibilidade de apreciação judicial fora das vias tradicionais,
pois representa uma séria restrição para a satisfatividade desses direitos, observando-
se muitas vezes uma nítida ingerência dos interesses políticos e um desvio evidente
justiça parece ser um caminho não somente possível, mas necessário, para
abstração teórica, mas como via efetiva e factível. Quando se analisa o modo como
Estados nacionais.
do idealismo para a realidade fática, por meio de decisões que conduzem à maior
para a relação entre Estado e indivíduo, mediada por uma nova via na aplicação do
Direito no propósito de dar concretude aos direitos humanoas, o que passou a ser
feito sem as amarras da sujeição dos pleitos dos cidadãos à apreciação única dos
idealístico.
responder de forma mais efetiva ao que deve ser o objeto primeiro do Direito, o
interna de apreciação judicial que, como foi demonstrado, muitas vezes não tem
axiomáticos e raciocínios circulares que acabam por conduzir à negação dos direitos
de critérios pessoais para definir o que é bom, ou o que deve ser, imiscuindo
Tribunal Federal.
do Estado.
sobre direitos humanos, e na apreciação destes por parte dos juízes nacionais,
em qualquer instância, uma via de resposta mais rápida, menos onerosa e com
aventura intelectual por espaços puramente teóricos, pois pode ser considerada um
avanço moral.
justo e do correto, mas quando se torna mais imaginativo. O desafio intelectual para
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positivismo e a difícil relação entre política e direito. Thesis, São Paulo, ano III, v. 5,
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