Deisi Oliveira Machado
Deisi Oliveira Machado
Deisi Oliveira Machado
São Leopoldo
2014
DEISI OLIVEIRA MACHADO
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dra.Maria Luiza Sperb Indrusiak – Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Prof. Dra. Flávia Schwarz Franceschini Zinani – Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Prof. Dr. Paulo Roberto Wander (orientador) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos
SÃO LEOPOLDO
2014
RESUMO
This study aimed to analyze a generator set equipped with an Otto-cycle combustion
engine operating with biogas. In addition, it was an objective to perform a comparative analysis
between this system and other one using gasoline as fuel. The tests were performed in a Branco
generator, model B4T-5000 BIO, mono cylinder, with the generator charge variation performed
through a resistance bench. Performed analysis contemplates electric power generated by the
equipment, specific consumption, efficiency, rate of heat transfer in the cogeneration and its
effectiveness, λ factor, CO and O2 emissions. The results showed that is possible to obtain
electric power through a clean fuel, but the system presented low efficiency. The results of O2
and λ indicate that the combustion is performed with excess air to all configuration and the CO
emissions for the biogas were lower than 900 ppm whereas for the gasoline the CO emissions
were around 17.400 ppm for the compression rate of 10.2:1 and 70.500 ppm for the rate of
8.2:1.
Key words: Otto engine, biogas, emissions.
LISTA DE ABREVIATURAS
HC Hidrocarboneto
PMI Ponto morto inferior
PMS Ponto morto superior
LISTA DE SÍMBOLOS
λ Excessode ar
μ Viscosidade dinâmica do fluido [m2 s-1]
ϕA Diâmetro da região “A” do topo do pistão. [m]
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 12
1.1 TEMA ................................................................................................................... 13
1.2 OBJETIVOS ......................................................................................................... 13
1.2.1 Objetivo Geral ......................................................... Erro! Indicador não definido.
1.2.2 Objetivos Específicos ............................................... Erro! Indicador não definido.
1.3 JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 13
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................ 14
2.1 MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA ........................................................ 14
2.1.1 Ciclo Otto ............................................................................................................ 16
2.1.2 Biogás ................................................................................................................... 24
2.1.3 Motores a Biogás ................................................................................................. 25
2.1.4 Trabalhos Realizados na Área .......................................................................... 26
3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 30
3.1 INSTRUMENTOS E EQUIPAMENTOS ............................................................ 30
3.1.1 Moto Gerador ..................................................................................................... 30
3.1.2 Taxa de Compressão do Motor ......................................................................... 31
3.1.3 Trocador de Calor .............................................................................................. 38
3.1.4 Resistências ......................................................................................................... 40
3.1.5 Instrumentação ................................................................................................... 40
3.2 PROCEDIMENTOS DE ENSAIO....................................................................... 44
3.2.1 Potência Elétrica Gerada ................................................................................... 44
3.2.2 Consumo Específico............................................................................................ 45
3.2.3 Eficiência ............................................................................................................. 46
3.2.4 Cogeração ............................................................................................................ 46
3.2.5 Análise de Emissões ............................................................................................ 51
3.3 TESTES COM BIOGÁS ...................................................................................... 52
3.3.1 Aparato Experimental ........................................................................................ 53
3.3.2 Testes ................................................................................................................... 55
3.4 TESTES COM GASOLINA ................................................................................ 56
3.4.1 Aparato Experimental – Teste G1 .................................................................... 57
3.4.2 Aparato Experimental – Teste G2 .................................................................... 59
3.4.3 Realização dos Testes G1 e G2 .......................................................................... 59
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................................................... 61
4.1 POTÊNCIA GERADA ......................................................................................... 61
4.2 CONSUMO ESPECÍFICO E EFICIÊNCIA ........................................................ 62
4.3 COGERAÇÃO ..................................................................................................... 63
4.4 EMISSÕES ........................................................................................................... 69
4.4.1 Estequiometria das Reações .............................................................................. 69
4.4.2 Análise dos Resultados ....................................................................................... 72
5 CONCLUSÕES .................................................................................................................... 77
6 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 79
12
1 INTRODUÇÃO
Por muitos anos, a biomassa foi responsável por atender grande parte das necessidades
energéticas da humanidade, até que, durante o século XIX, devido à era dos combustíveis
fósseis, sua utilização começou a reduzir (KLASS, 1998). Entre os séculos XIX e XX a
principal fonte de energia primária era o carvão, e após a década de 1960 o carvão já havia sido
superado pelo petróleo. Nos dias atuais, o gás natural também é uma alternativa de fonte de
energia, possuindo um percentual de participação na matriz energética mundial na ordem de
25%.
Atualmente, devido à utilização de combustíveis fósseis ser responsável por mais da
metade das emissões antrópicas de gases causadores do efeito estufa (METZ et al, 2007), há um
grande interesse na utilização de fontes renováveis de energia (EC, 1997). É nesse contexto que
a biomassa passa a ser interessante como fonte de energia. Diversas formas de tecnologia para
converter a biomassa em produto energético estão sendo estudadas nos dias atuais (BAUEN et
al, 2009). Entre as tecnologias utilizadas, a digestão anaeróbica permite recuperar energia
através do biogás, a partir de resíduos e efluentes orgânicos, e impede a poluição ambiental
proveniente destes resíduos (PERSSON et al, 2006).
O biogás pode ser utilizado em todas as aplicações em que se utiliza gás natural, bem
como a produção de produtos químicos, produção de calor e vapor, produção de eletricidade e
combustível para veículos. Dentre estas aplicações, motores, foco deste estudo, são de grande
interesse em diversos países devido seu grande potencial e níveis baixos de emissões
(PERSSON et al, 2006).
Em regiões de difícil, ou restrito, acesso à energia elétrica, principalmente em zonas
rurais, que podem ser autossuficientes em biogás, um moto gerador a biogás pode ser uma
alternativa para obtenção de eletricidade. Além disso, a energia térmica residual deste gerador
pode ser utilizada em um sistema de cogeração para aquecimento de água. É neste contexto que
o presente estudo tendo como objetivo estudar e analisar o comportamento de um moto gerador,
provido de um motor de ciclo Otto, utilizando biogás como combustível. É também estudado
aqui a cogeração do sistema utilizando os gases do escapamento do motor para aquecimento de
água. O biogás utilizado neste estudo é proveniente de resíduos orgânicos de produção de frutas
cítricas e aves, armazenado e purificado na empresa ECOCITRUS, Cooperativa dos
Citricultores Ecológicos do Vale do Caí, situada em Montenegro, RS.
13
1.1 TEMA
O tema deste trabalho foi escolhido devido a ser, além de um assunto interessante ao
pesquisador, uma forma de energia renovável, extremamente importante nos dias atuais.
1.2 OBJETIVOS
1.3 JUSTIFICATIVA
O biogás é uma alternativa de combustível renovável que pode ser produzido em zonas
rurais. A sua utilização em moto geradores, além de prover energia elétrica, possibilita o
aquecimento de água através da cogeração. Em regiões de difícil acesso à energia elétrica este
tipo de sistema pode facilitar a vida das pessoas.
Outro ponto que justifica este estudo é o fato de que os geradores a biogás existentes no
Brasil, hoje, são de ciclo Otto adaptados para o uso com biogás e não desenvolvidos
especificamente para utilizar este combustível, o que pode implicar em algumas ineficiências
destes motores. Estas condições de operação e a utilização de um combustível renovável para
obtenção de energia elétrica são os fatores que incentivam a realização deste estudo.
14
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
composição de 63,7% de CH4, 36,1% de CO2 e 0,2% de O2, e para a gasolina do tipo C, onde o
C8H18 é uma fórmula aproximada de representação da gasolina, estão apresentadas nas Equações
2.1 e 2.2, respectivamente.
A? = MASSA DE AR ADMITIDA
(2.3)
C MASSA DE COMBUSTIVEL ADMITIDA
A?
32.45
CREAL
λ=
A?
CIDEAL
Figura 2.3 – Turbulência da mistura ar/combustível. (A) Tumble; (B) Swirl; (C) Squish.
Fonte: Lumley, 1999.
Atualmente, grande parte dos motores de ciclo Otto utilizam como combustível a
gasolina, que é um composto de hidrocarbonetos proveniente do petróleo bruto (PULKRABEK,
2004). Essa mistura de hidrocarbonetos é complexa e depende das condições de refino e do tipo
de petróleo originário (FERREIRA, 2003). Neste cenário, cada país é responsável pela
caracterização (propriedades e especificações) dos combustíveis utilizados em seu território. No
Brasil, a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) é o órgão que
estabelece as regulamentações sobre os combustíveis comercializados no país. A gasolina
comercializada no Brasil possui em sua composição 25% de etanol anidro, conforme a
Resolução CIMA Nº 1, de 28 de fevereiro de 2013.
20
O monóxido de carbono é um gás inodoro e incolor que pode ser proveniente de fontes
naturais ou da combustão incompleta de combustíveis que possuem carbono em sua formulação.
É um gás extremamente tóxico e no organismo humano reage com a hemoglobina presente no
sangue causando redução dos níveis de O2 transportado para as células.
A formação deste tipo de poluente é influenciada pela turbulência na câmara de
combustão, a temperatura e o excesso de oxigênio existente na mistura. (ONURSAL et al,
1997). O CO é o resultado de um baixo tempo de residência do combustível em altas
temperaturas, deste modo a sua oxidação para dióxido de carbono é impedida (DAVIS, 2000). A
conversão do CO para CO2, na atmosfera, é lenta, podendo levar de dois a cinco meses
(ONURSAL et al, 1997).
O dióxido de carbono é um gás inodoro e pouco mais denso que o ar. Emissões deste gás
contaminam o ar, contribuindo para o aumento do efeito estufa e do aquecimento global, mas ao
ser humano ele não gera impactos.
2.1.1.3.3 Hidrocarbonetos – HC
2.1.2 Biogás
de configuração possui algumas limitações, como o fato de que não é possível dar partida sem o
fornecimento de diesel para ignição porque pode-se ter um superaquecimento dos jatos de
injeção de combustível quando o percentual de diesel estiver em valores menores que 15% do
fluxo total de combustível (SUZUKI et al, 2011).
Os sistemas de ciclo Diesel, operados somente a gás, tem como principais alterações:
retirada dos injetores; utilização de velas de ignição; de um carburador a gás e de redução da
razão de compressão. Apesar de serem necessárias mais alterações no motor para este tipo de
configuração, a utilização de biogás é mais adequada neste tipo de sistema (SUZUKI et al,
2011).
Os motores de ciclo Otto podem ser facilmente modificados para utilizar biogás, pois
este tipo de motor é projetado para utilizar uma mistura de ar e de combustível com ignição por
faísca. A principal modificação está no fornecimento de ar e no processo de mistura do ar ao
biogás, substituindo o carburador de um motor que utiliza combustível em estado líquido, assim,
o motor é controlado através da quantidade de biogás que é abastecido. Para otimizar este tipo
de sistema é desejável um aumento na razão de compressão, o que possibilita um menor
consumo de combustível e uma maior potência. De qualquer forma, a transformação de um
motor Otto operado a gasolina para biogás terá como consequência uma produção de energia
inferior do que quando operado a gasolina. Isso ocorre porque, ao deixar de utilizar gasolina
para usar biogás a eficiência volumétrica do sistema é reduzida. Essa redução é devida ao fato
de que em um mesmo volume de mistura, um combustível líquido possui maior energia que a
mistura de um combustível gasoso. Além de todas estas características citadas, o biogás possui
uma velocidade de combustão mais lenta que a gasolina e o álcool, mas é possível ajustar o
sistema de ignição para trabalhar nesta condição (MIHIC, 2004).
A potência e o controle de velocidade de motores a biogás são realizados através da
variação da vazão de abastecimento da mistura A/C por uma válvula do tipo borboleta. Quando
esta válvula está fechada (efeito estrangulamento) há uma menor quantidade de mistura A/C,
reduzindo a potência e a eficiência do motor (SUZUKI et al, 2011).
Conforme o estudo apresentado por Muñoz et al (2000), realizado com um motor Honda
de 270 cm3 abastecido com biogás bruto e com razão de compressão e ponto de ignição da
27
gasolina inalterados, apresentou decréscimo nas curvas de torque e potência. Através das curvas
pode-se observar uma redução em 50% de torque e de potência quando comparado ao mesmo
ciclo operado a gasolina. A Figura 2.5 mostra esta redução.
Figura 2.5 - Curvas de potência e torque, sendo a linha contínua referente à aplicação com
gasolina e a tracejada, com biogás.
Fonte: Muñoz et al, 2000.
alterações no motor, tais como: uma abertura no venturi do carburador original para entrada do
biogás; utilização de uma válvula de fluxo de baixa pressão (para controle da vazão); e avanço
do motor em +4,82°. Os resultados deste estudo mostraram que, para o sistema com gasolina,
obteve-se uma potência média de 840,2 W, enquanto para o operado a biogás, a potência média
identificada foi de 934,59 W. A tensão no sistema com gasolina apresentou-se maior que do
sistema com biogás, 109 V no primeiro e 100,9 V no segundo. Os autores concluem que a
configuração estudada neste trabalho, operada a biogás, é estável e pode ser operada somente
com este combustível.
Porpatham et al. (2008) analisaram a influência da concentração de CO2 no desempenho
e emissões de um motor Otto operado a biogás. Para conseguir alterar a concentração de CO2
presente no biogás foi utilizado hidróxido de cálcio (Ca(OH)2), que quando em contato com o
CO2 do biogás dá origem ao carbonato de cálcio (CaCO3). Eles observaram neste trabalho que,
com a redução dos níveis de CO2, houve um aumento da potência gerada pelo sistema, um
aumento da faixa de operação para misturas ricas ar/combustível, além de um aumento na
eficiência térmica. Mas para obter estes resultados foi necessário retardar a ignição na câmara de
combustão para evitar a detonação. Sobre os níveis de emissões, este trabalho mostrou que, com
a redução do CO2, os níveis de HC foram reduzidos, porém para misturas muito pobres houve
acréscimo do nível de emissões de HC. Isto porque nesta situação o efeito da combustão
incompleta é predominante. Já as emissões de NOX aumentaram na proporção em que CO2 era
reduzido. Isto é justificado pelo fato de que quanto menor o percentual de CO2 na mistura, maior
será a admissão de CH4 e O2, o que acarreta em valores de temperaturas de combustão maiores.
Outro estudo, Porpatham et al (2012), analisou a influência da razão de compressão no
desempenho do motor operado a biogás. Como um motor do tipo Diesel possibilita maiores
valores de razão de compressão que um do tipo Otto, este foi adaptado para trabalhar como ciclo
Otto abastecido a biogás. Este trabalho mostrou que, em maiores valores de razão de
compressão, observa-se um aumento na potência gerada, justificado por apresentar maior
eficiência térmica nestas condições. Em misturas pobres verificou-se uma redução da potência
com a carga do motor correspondente a 25% do total. Isso pode ser explicado pelo fato de que
em misturas pobres a combustão ocorre incompleta, aumentando as emissões de HC e reduzindo
a eficiência térmica da combustão. Nesta condição, apesar do aumento da razão de compressão,
a potência gerada ainda era reduzida.
Campelo (2003) realizou um estudo de simulação de um sistema de cogeração para
produção de vapor d’água utilizando GNV. Para a simulação foram utilizados os softwares:
SuperPro Designer; @Risk for Excel e Statistica. Esta simulação considerou um sistema moto
29
gerador para produzir energia elétrica e vapor de água a partir da água de resfriamento do motor,
já aquecida, considerando troca térmica com os gases de escapamento do motor. O moto gerador
utilizado nesta análise é do fabricante Dresser Waukesha, modelo F11G, com um motor de 6
cilindros e uma razão de compressão de 10,0:1, tendo um consumo médio, entre 1200 e 1800
RPM, de 22,28 m3/h. Para as simulações foi considerado energia desejada fornecida pelo
sistema de 80 kW, com 95% de eficiência do gerador e temperatura de saída dos gases em torno
de 430 °C. A temperatura da água, proveniente do sistema de resfriamento, na entrada do
trocador de calor igual a 98 °C. Nestas condições, o modelo de simulação proposto verificou
que, após o trocador de calor, o vapor d’água apresentava uma temperatura de 115 °C. O autor
conclui que o sistema proposto mostrou um bom aproveitamento da energia disponibilizada pelo
combustível, e estima que 33,25% da energia foi transformada em elétrica e 46,25% aproveitada
em forma de calor, num total de 79,5%. Por fim, o autor salienta que, para que o projeto seja
viável economicamente, é necessário trabalhar com um motor que produza gases de escape em
uma temperatura de 440 °C.
Berndsen (2007) apresentou um estudo de produção simultânea de eletricidade, calor e
frio utilizando um sistema moto gerador, composto de um motor ciclo Otto, Volkswagen,
modelo Parati 1997. O gerador utilizado foi fabricado pela empresa Kolbach, modelo 180 e
apresenta 24 kW de potência ativa e 30 kW de potência aparente, além de 60 Hz de frequência.
O sistema original a gasolina sofreu algumas alterações para operar também com GNV (89% de
CH4) para que um comparativo entre os dois combustíveis fosse possível. Para o sistema de
aquecimento de água, os trocadores de calor utilizados foram de correntes opostas. No estudo
foram utilizados dois trocadores de calor, o primeiro (TC1) utiliza o calor proveniente do fluido
do ciclo de arrefecimento do motor para aquecer água a temperatura ambiente. Já o segundo
trocador (TC2) utiliza os gases quentes do escapamento para aquecer a água na saída do TC1. O
TC2 foi construído a partir de um silenciador automotivo e uma serpentina foi utilizada no duto
de passagem dos gases para facilitar a troca térmica. Este estudo conclui que é viável a
utilização de gases do escapamento para a produção de vapor d’água. O motor operado a GNV
apresentou um consumo de 0,0271 kg/s e com gasolina um consumo de 0,00308 kg/s. O autor
relata também que foi possível otimizar o sistema através da variação das vazões nos trocadores
de calor. O rendimento de todo o sistema, trocador de calor TC1 e TC2 e o sistema de
refrigeração, apresentou uma eficiência de 0,62, considerando a primeira Lei da Termodinâmica
e 0,53 para a segunda Lei.
30
3 METODOLOGIA
Para a realização dos ensaios utilizou-se o gerador B4T-5000 BIO fabricado pela
empresa Branco, conforme mostra a Figura 3.1.
O motor adquirido para a realização deste estudo não disponibiliza, em catálogos, o valor
da razão de compressão. Assim, a razão de compressão foi calculada utilizando a Equação 3.1.
33.15
Vcil +Vcc
rc=
Vcc
onde rc é a razão de compressão, Vcil é o volume do cilindro com o pistão no PMI e Vcc é o
volume da câmara de combustão.
Para determinar o cálculo do volume do cilindro com o pistão no PMI foi necessário
identificar suas dimensões. Como o topo do pistão possui geometrias diferentes, o curso e o
diâmetro foram verificados para cada região, A, B e C, conforme mostra a Figura 3.2.
33
Figura 3.2 – Topo do pistão, separado por regiões para o cálculo do diâmetro e curso do
pistão.
Fonte: Autor (2014).
Para realizar estas medições foram utilizados um relógio comparador de 10,0 mm com
resolução de 0,01 mm, para garantir que o pistão estará no PMI e um paquímetro de
34
profundidade de 150 mm, com resolução de 0,05 mm, para identificar o curso do pistão no PMI.
Primeiramente, o relógio comparador foi fixado no tanque de combustível do motor e então
posicionado no pistão. Após a fixação do relógio comparador, o eixo foi movimentado no
sentido horário e anti-horário para verificar o ponto zero do curso do pistão, o PMI, Figura 3.4.
Com o PMI identificado, pode-se verificar o curso do pistão de cada uma das regiões
apresentadas anteriormente, conforme Figura 3.5.
A junta original, de grafite, do cabeçote possui uma espessura de 1,0 mm. Para efeito de
cálculo, considerou-se que 10% desta espessura é comprimida após a montagem, assim a
espessura da junta comprimida, LJ, é de 0,9 mm.
Com estes dados, considerando a geometria do pistão, e o volume do cilindro, Vcil, é
calculado pela Equação 3.2.
Assim, a o volume do cilindro pode ser reescrito, como apresenta a Equação 3.3.
36
πLC 3∅C ext 52 π 3LB -LC 5 ∅C ext 2 ∅C ext ∅B ∅B 2 π LJ 3∅C ext 52 π 3LA -LB 5 3∅A 52
Vcil = +A B C D E + D E+D E F+ -
4 3 2 2 2 2 4 4
Com esta análise, definiu-se acrescentar duas juntas de cobre ao conjunto cabeçote, além
da junta original de grafite, para obter a razão de compressão de 8,2:1. As juntas foram
confeccionadas na Universidade do vale do Rio dos sinos, a Figura 3.8 mostra as juntas de cobre
que foram utilizadas.
Figura 3.8 – Juntas de cobre utilizadas para reduzir a razão de compressão do motor.
Fonte: Autor (2014).
3.1.5 Instrumentação
T
Rotâmetro Verificar vazão de
OMEL Escala de 0 2%
para biogás biogás fornecido.
a 5 Nm3
Auxiliar na
Proveta Escala de 0
verificação de vazão ±5 mL
para gasolina a 100 ml
consumida.
Identificar e mensurar
Analisador de gases Tecnomotor TM 132 Conforme
os gases de exaustão.
Tabela 3.9
Identificar a corrente
e a tensão elétrica
Multímetro Minipa ET-3610 1%
fornecida pelo
gerador
Termômetro digital e
Medir temperatura no APPA MT-
Termopar tipo K (+) Minipa ±0,75%
escapamento. 520
Chromel
A Figura 3.13 mostra o analisador de gases utilizado e a Tabela 3.9 suas especificações.
Figura 3.14 – Ponto de medição da temperatura dos gases na saída do escapamento e dos
níveis de emissões.
Fonte: Autor (2014).
43
O layout do aparato experimental para biogás está apresentada na Figura 3.16. e para o
sistema a gasolina, na Figura 3.17.
Como metodologia de estudo, para as análises com biogás e com gasolina, serão
estudados os seguintes dados:
Para cada tipo de combustível estudado foram realizados três ensaios com a razão de
compressão do motor como fornecido pelo fabricante, 10,2:1, e mais três ensaios com a razão de
compressão alterada para a condição original do motor, 8,2:1. Em cada teste realizado foram
45
aplicadas seis cargas através dos disjuntores, sendo que cada carga corresponde a
aproximadamente 0,50 kW. A carga 0 trata-se do funcionamento do equipamento sem carga no
gerador, a carga 1 aproximadamente 0,5 kW, carga 2 1,0 kW e assim por diante até 3,0 kW.
Antes do início de cada ensaio, primeiramente, o motor é colocado em funcionamento
para aquecimento. Após, para ambos combustíveis, a cada carga, partindo com o gerador sem
carga, foram verificados: a potência elétrica gerada pelo sistema a vazão mássica de
combustível; as emissões de gases (CO, HC, O2) e a temperatura dos gases na saída do
escapamento.
Durante os testes, alguns dados do sistema em estudo foram verificados diretamente
através da instrumentação realizada. Os dados de frequência, corrente elétrica, tensão e potência
elétrica gerada foram medidos através do multímetro. Sendo que a potência também pode ser
calculada através da Equação 3.4.
PE =V I (3.4)
Vcomb
CE= (3.5)
PE
3.2.3 Eficiência
Para a análise de eficiência, é importante salientar que, como os testes foram realizados
no motor acoplado ao gerador, não será possível determinar a eficiência considerando a
eficiência térmica somente do motor. A eficiência do sistema foi analisada considerando a
eficiência do gerador elétrico em condições de operação e a eficiência do motor de combustão
interna estimada. A Equação 3.6 mostra o cálculo realizado para determinar a eficiência do
sistema.
η=
PE
(3.6)
mcomb PCIcomb
3.2.4 Cogeração
onde mar é a vazão mássica de ar admitido, e mgases é a vazão mássica total de gases no
escapamento.
O potencial de energia existente disponível para troca térmica, ou seja, a energia sensível
liberada pelos gases do escapamento foi verificada, analiticamente para cada configuração,
utilizando a Equação 3.9, (INCROPERA, 2008).
onde qpot é o potencial de energia existente disponível para troca térmica, , Cpgases é o calor
A taxa de transferência de calor efetiva no trocador de calor foi identificada pela Equação
3.10 (INCROPERA, 2008).
onde Cgases é a taxa de capacidade calorífica dos gases de exaustão e Cágua é a taxa de
capacidade calorífica da água.
O valor de capacidade calorífica de menor valor é definido como Cmín e o maior é o Cmáx.
Assim a relação de transferência de calor máxima pode ser calculada através da Equação 3.15,
(INCROPERA, 2008).
q
ε= (3.16)
qmáximo
4mgases
ReD = (3.17)
πDµ
4?
NuD =0,023ReD 5 Prn (3.18)
onde NuD é número de Nusselt para este tipo de escoamento, Pr é o número de Prandtl, sendo
n igual a 0,4 para aquecimento e 0,3 para resfriamento.
O coeficiente de transferência de calor por convecção pode ser verificado através da
Equação 3.19 (INCROPERA, 2008).
hD
NuD = (3.19)
k
Através das Equações 3.17, 3.18 e 3.19 apresentadas, é possível verificar a influência da
vazão mássica dos gases no coeficiente de transferência de calor por convecção. Este
coeficiente, para a configuração de trocador de calor estudada, é diretamente proporcional ao
produto U.A, porque a resistência térmica dos gases é a dominante. O que permite escrever a
Equação 3.20.
h=f Hmgases 5I
4?
(3.20)
Assim, as propriedades dos gases no escapamento do motor com biogás e com gasolina
são semelhantes, é possível afirmar que a diferença, em percentual, entre o coeficiente de
transferência de calor por convecção da gasolina e do biogás, é proporcional à diferença de
vazão mássica elevada ao expoente “0,8”. Assim, pode-se estimar o produto U.A para o biogás,
através do valor identificado no motor com razão 10,2:1 abastecido a gasolina.
Com o produto U.A do biogás estimado é possível utilizar o método da Efetividade-
NUT, Equações 3.22 e 3.23 (INCROPERA, 2008).
UA
NUT= (3.22)
Cmin
Cmin
Cr = (3.23)
Cmáx
51
1-expJ-NUT31-Cr 5K
3Cr <15
1-Cr expJ-NUT31-Cr 5K
ε= (3.24)
PE +q
ηG = (3.25)
mcomb PCIcomb
Como já citado neste estudo, a combustão que ocorre dentro da câmara de combustão não
é ideal, o que produz emissões do tipo CO, HC, O2 e NOx. Para identificar como é a equação
real de combustão, nas condições estudadas, foram utilizados os resultados de cada medição de
gases na saída do escapamento. Como o analisador de gases utilizado não realizou as medições
dos valores de emissões para o NOx e, conforme estudo apresentado por LEMOS (2013), que os
valores de NOx são inferiores a 400 ppm para biogás e menores que 200 ppm para gasolina, a
medição de NOx foi descartada para ambos combustíveis. Assim, as equações de combustão
para o biogás e para a gasolina podem ser escritas conforme mostram as Equações 3.26 e 3.27
respectivamente.
52
0,637CH4 +0,361CO2 +0,002O2 +c3O2 +3,76N2 5→dCO2 +eH2 O+fN2 +gCO+hHC +iO2 (3.26)
0,75C8 H18 +0,25CH3 CH2 OH+c3O2 +3,76N2 5→dCO2 +eH2 O+fN2 +gCO+hHC+iO2 (3.27)
onde, nas Equações 3.25 e 3.26 os valores dos coeficientes “g”, “h” e “i” são identificados
através do analisador de gases e os valores “c”, “d”, “e” e “f” através da estequiometria da
reação.
Com estas informações é possível identificar o fator λ, que indica como ocorreu a
combustão no motor. Como apresentado anteriormente, trata-se da razão entre A/C REAL e A/C
IDEAL. Para cada combustível, através das emissões verificadas no escapamento e da
estequiometria da reação verificou-se os valores de λ em cada condição estudada.
Para a realização dos testes foi utilizado biogás purificado, com nível de H2S inferior a
100 ppm, sendo este disponibilizado para o uso diretamente da bolsa de armazenamento, à
pressão atmosférica. Na sequência o biogás é direcionado a dois tubos, sendo o primeiro deles
um filtro de gás e o segundo uma câmara de expansão, equipamento que faz parte do conjunto
gerador B4T-5000 BIO. A Figura 3.20 apresenta como é este equipamento e a Figura 3.21
mostra a montagem dele no aparato experimental.
.
Figura 3.23 – Rotâmetro utilizado nos testes com biogás.
Fonte: Autor (2014).
55
3.3.2 Testes
Para a razão de compressão igual a 8,2:1 o motor não estabilizou, mesmo na condição
sem carga o motor não conseguiu entrar em operação. Com o intuito de compensar a baixa razão
de compressão, foram alteradas as vazões da alimentação de biogás, em valores iguais a 0,5, 1,5
e 2,5 Nm3, porém não foi suficiente para estabilizar e obter o funcionamento completo do
sistema. Os testes com razão de compressão de 8,2:1 para o biogás, pelo motivo apresentado
acima, foram descartados.
Considerando somente o teste com a razão igual a 10,2:1, para identificar o poder
calorífico do biogás, foi utilizada a fórmula de Dulong. Esta equação propõe que o calor de
combustão de um determinado composto é equivalente a soma dos calores liberados, através da
reação de combustão, de cada elemento integrante. A Equação 3.27 apresenta a equação de
Dulong para o cálculo do poder calorífico inferior, kcal/Nm3 (OKAMURA, 2013).
56
Para o cálculo do poder calorífico do biogás a Equação 3.28 pode ser escrita novamente
conforme a Equação 3.28.
Como a Equação 3.28 fornece um valor de PCI em kcal/Nm3 e para efeito de cálculo é
interessante utilizar esta equação em MJ/kg, este valor foi convertido para MJ/kg considerando a
massa específica, sendo esta identificada através da Equação 3.29. A Tabela 3.11 mostra o PCI
de cada amostra de biogás utilizada para a realização dos testes.
PM
ρ = (3.29)
RT
Tabela 3.11 – Poder calorífico inferior e a massa específica do biogás utilizado nos testes,
P=101325 Pa e T=295,15 K.
TESTE 1 TESTE 2 TESTE 3
CH4 [%] 68,0 64,4 63,7
PCI [MJ/kg] 23,60 21,49 21,09
L [kg/m3] 1,03 1,07 1,08
Os testes foram realizados para as relações de compressão de 10,2:1 e 8,2:1, e para cada
uma divididos em duas partes:
• G1: sem o trocador de calor acoplado no escapamento do motor;
• G2: com o trocador de calor acoplado no escapamento do motor, para as cargas
de 50 e 100%.
Após, para a verificar o consumo de combustível, utilizou-se uma proveta graduada, onde
a vazão de combustível consumido foi verificada através da razão entre a quantidade consumida
em um determinado período de tempo. A mangueira na saída da proveta foi conectada na
alimentação de combustível do motor. As Figuras 3.25 e 3.26 mostram a alimentação de
combustível líquido no motor.
Para o teste G2, além das alterações já realizadas no G1 foi acoplado ao escapamento do
motor o trocador de calor, e a esse foram conectados o trocador o reservatório de entrada e de
saída de água do sistema.
como mostrado anteriormente. Para as demais cargas, o motor apresentou estabilidade sem a
necessidade de acionar o afogador.
Como a composição da gasolina é fixa e os valores identificados em cada teste, G1 e G2,
foram semelhantes, os valores utilizados para análise são uma média dos resultados
identificados em cada teste, para cada condição.
61
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.000
3.500
Potência, W
3.000
2.500
2.000
1.500
1.000
500
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Carga aplicada ao gerador [%]
O consumo específico identificado nos testes realizados está apresentado na Figura 4.2.
Consumo específico, m3/kWh
6
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Carga aplicada ao gerador [%]
A Figura 4.2 permite identificar que, para gerar valores semelhantes de potência, o
biogás consome mais combustível que as duas configurações com gasolina. Isto é justificável
pois seu poder calorífico é inferior ao da gasolina.
Outra questão importante é que, à medida que a carga aplicada no gerador aumenta, o
consumo específico de combustível cai. Isto ocorre porque o sistema moto gerador analisado
possui alimentação de combustível com controle mecânico, não sendo possível ajustar para
baixas cargas aplicadas no gerador. Assim, o consumo específico tende a diminuir em condições
de melhor operação do sistema, ou seja, mais próximo da potência nominal do gerador, 100% de
carga aplicada.
Pode-se observar também que o consumo específico é maior na razão de compressão de
menor valor analisada, ou seja, de 8,2:1. Esta condição ocorre pois, como apresentado por Dal
Bem et al (2008), a razão de 10,2:1 possui maior eficiência de conversão de energia do
combustível em energia térmica que a razão de 8,2:1. Assim, é possível obter um melhor
aproveitamento da energia liberada pelo combustível, resultando em uma maior pressão no
interior dos cilindros e menor consumo específico.
A eficiência do sistema é um parâmetro inversamente proporcional ao consumo
específico. A Figura 4.3 mostra a eficiência dos sistemas estudados.
63
18
16
Eficiência, η, %
14
12
10
8
6
4
2
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Carga aplicada ao gerador [%]
Biogás - Taxa 10,2:1 Gasolina - Taxa 10,2:1 Gasolina - Taxa 8,2:1
4.3 COGERAÇÃO
Tabela 4.1 – Dados obtidos diretamente no aparato experimental para cogeração com 50% de
carga aplicada.
Biogás, 10,2:1 Gasolina, 10,2:1 Gasolina, 8,2:1
m .á [kg/s] 1,69 10-2 1,69 10-2 2,76 10-2
m [kg/s] 1,14 10-3 3,84 10-4 3,56 10-4
T1 [°C] 435,0 295,0 329,0
T2 [°C] - 178,0 200,0
t1 [°C] 20,0
T [°C] 22,0
Analisador de
gases
HC [ppm] 37 44 47
Os valores de calor específico utilizado nos cálculos de cogeração para 50% de carga
aplicada no gerador,estão apresentados na Tabela 4.2.
Os resultados dos cálculos de cogeração com 50% de carga aplicada no gerador estão
apresentados na Tabela 4.3.
Tabela 4.3 – Resultado dos cálculos de cogeração com 50% de carga aplicada no gerador.
Biogás, 10,2:1 Gasolina, 10,2:1 Gasolina, 8,2:1
A/CREAL 7,38 20,11 16,09
UQV [kg/s] 8,42 10-3 7,72 10-3 5,72 10-3
UPQRSR [kg/s] 9,56 10-3 8,10 10-3 6,08 10-3
NáPTQ [kW/K] 7,09 10-2 7,10 10-2 11,55 10-2
NPQRSR [kW/K] 1,04 10-2 8,71 10-3 6,50 10-3
NV 0,14 0,12 0,06
t2 [°C] - 34,4 27,3
∆WUX - 205,0 235,6
∆Y% 14,11 - -
-3 -3
UA [kW/K] 5,67 10 4,97 10 3,56 10-3
NUT 0,54 0,57 0,55
Z [kW] 1,77 1,02 0,84
ZUá[\U][kW] 4,32 2,39 2,01
ZO]^ [kW] 4,30 2,38 1,99
_ 0,41 0,42 0,42
Tabela 4.4 - Dados obtidos diretamente no aparato experimental para cogeração com 100%
de carga aplicada.
Biogás, 10,2:1 Gasolina, 10,2:1 Gasolina, 8,2:1
m .á [kg/s] 3,79 10-2 3,79 10-2 4,34 10-2
m [kg/s] 16,20 10-4 5,02 10-4 5,62 10-4
T1 [°C] 511,0 345,0 381,0
T2 [°C] - 251,0 181,0
t1 [°C] 20,0
T [°C] 22,0
de gases
HC [ppm] 58 44 55
Os valores de calor específico utilizado nos cálculos de cogeração para 100% de carga
aplicada no gerador estão apresentados na Tabela 4.5.
Os resultados dos cálculos de cogeração com 100% de carga aplicada no gerador estão
apresentados na Tabela 4.6.
67
Tabela 4.6 - Resultado dos cálculos de cogeração com 100% de carga aplicada no gerador.
Biogás, 10,2:1 Gasolina, 10,2:1 Gasolina, 8,2:1
A/CREAL 6,77 18,72 15,39
UQV [kg/s] 1,09 10-2 9,40 10-3 8,66 10-3
UPQRSR [kg/s] 1,26 10-2 9,90 10-3 9,22 10-3
NáPTQ [kW/K] 1,59 10-1 1,59 10-1 1,81 10-1
NPQRSR [kW/K] 1,38 10-2 1,08 10-2 9,96 10-3
NV 0,09 0,07 0,05
t2 [°C] - 26,4 30,9
∆WUX - 272,4 243,4
∆Y% 21,12 - -
UA [kW/K] 4,51 10-3 3,72 10-3 8,18 10-3
NUT 0,33 0,34 0,82
Z [kW] 2,53 1,01 1,99
ZUá[\U][kW] 7,04 3,51 3,59
ZO]^ [kW] 6,74 3,49 3,57
_ 0,36 0,29 0,55
Z [kW]
50% 1,77 1,02 0,84
100% 2,53 1,01 1,99
ZUá[\U] 50% 4,32 2,39 2,01
[kW] 100% 7,04 3,51 3,59
ZO]^ [kW]
50% 4,30 2,38 1,99
100% 6,74 3,49 3,58
50% 0,41 0,42 0,42
_
100% 0,36 0,29 0,55
68
Através da Tabela 4.7 é possível dizer que o sistema com biogás apresentou maior taxa
de transferência possível, `aábcad , e maior potencial de energia disponível para troca térmica
através dos gases de escapamento, `edf . Este potencial de energia mostra o quanto de energia
sensível é disponibilizada ao trocador de calor. Este valor é maior para o biogás, frente às duas
outras configurações estudadas, pois a vazão e a temperatura dos gases no escapamento, para o
motor com biogás, são maiores que os testes realizados com gasolina. Esta vazão maior é uma
consequência do maior consumo específico apresentado pelo sistema com biogás. Nos sistemas
a gasolina a maior temperatura foi verificada em menores relações de compressão, o que está de
acordo com o estudo apresentado por Porpatham et al. (2012). Neste trabalho o autor mostra que
em maiores relações de compressão ocorre diminuição da temperatura dos gases de exaustão.
Porém, o trocador de calor construído para este estudo não consegue aproveitar toda a
energia, em forma de calor, disponibilizada pelos gases. Para o trocador de calor estudado foi
considerado ausência de perdas de calor para vizinhança, propriedades do fluido constantes,
resistência térmica na parede do tubo desprezível e condições de escoamento completamente
desenvolvidas. Mesmo assim, os valores calculados de transferência de calor existente, `, foram
baixos. Comparando a diferença dos valores de `edf . com os de ` é possível ver que o
percentual de energia que não foi aproveitada para a troca térmica é elevado, como mostra a
Tabela 4.8.
Tabela 4.8 – Percentual de energia desperdiçada no trocador de calor.
Carga Biogás, 10,2:1 Gasolina, 10,2:1 Gasolina, 8,2:1
% de energia 50% 58,796 57,149 57,987
desperdiçada 100% 62,416 70,912 44,295
alterações no trocador de calor visando aumentar a área de troca térmica, tais como aumento de
diâmetro do tubo e a utilização de aletas.
Apesar do sistema de troca térmica ter apresentado baixa efetividade e que melhorias
nele seriam necessárias para um melhor aproveitamento energético, a quantidade de energia
utilizada na cogeração gera um aumento da eficiência global do sistema. A Tabela 4.9 apresenta
os valores de eficiência referentes à potência elétrica gerada, g, e os valores de eficiência global
do sistema, gh .
ij [kW]
50% 1,815 1,718 1,693
100% 3,630 3,406 3,304
Z [kW]
50% 1,773 1,019 0,839
100% 2,534 1,014 1,992
50% 7,556 10,487 11,150
k
100% 10,635 15,898 13,763
50% 14,937 16,710 16,677
kl
100% 18,060 20,634 22,062
Aumento da eficiência 50% 97,667 59,331 49,566
[%] 100% 69,821 29,787 60,298
Como pode ser verificado na Tabela 4.9, a eficiência global do sistema apresentou um
aumento significativo em relação à eficiência referente à potência elétrica, em alguns casos este
aumento foi próximo a 100% do valor encontrado para g.
4.4 EMISSÕES
Já a relação A/C REAL, para o mesmo combustível, a cada valor de carga aplicada no
gerador haverá um valor diferente. Isto porque a solicitação de carga é alterada no gerador o que
implica em alteração da alimentação de combustível. A Tabela 4.12 apresenta os resultados para
o biogás.
71
Tabela 4.12 - Reação de combustão real para biogás, razão de compressão 10,2:1
HC [ppm] 29 31 44 37 46 54 58
(O2+3,76N2)
1,91 1,66 1,38 1,41 1,33 1,35 1,29
Estequiometria da
[moles]
Reação
A Tabela 4.13 apresenta os resultados de A/C REAL para a gasolina com a razão de
compressão do motor igual a 8,2:1.
Tabela 4.13 – Reação de combustão real para gasolina, razão de compressão 8,2:1.
Carga aplicada do gerador, %
Reação de combustão
0 17 33 50 67 83 100
CO [ppm] 26.566 50.133 62.800 70.500 29.200 40.233 52.233
Analisador
de Gases
HC [ppm] 35 66 58 47 32 41 55
(O2+3,76N2)
15,59 12,92 12,20 11,38 12,64 11,88 10,89
Estequiometria da
[moles]
Reação
E a Tabela 4.14 apresenta os resultados de A/C REAL para a gasolina com a razão de
compressão do motor igual a 10,2:1.
Tabela 4.14 - Reação de combustão real para gasolina, razão de compressão 10,2:1.
Carga aplicada do gerador, %
Reação de combustão
0 17 33 50 67 83 100
Analisador de
HC [ppm] 41 68 35 44 25 30 44
(O2+3,76N2)
Estequiometria da
10
8
O2 [%]
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Carga aplicada ao gerador [%]
Biogás - Taxa 10,2:1 Gasolina - Taxa 10,2:1 Gasolina - Taxa 8,2:1
1,8
1,5
Fator λ
1,2
0,9
0,6
0,3
0,0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Carga aplicada ao gerador [%]
74600
64000
CO [ppm]
53400
42800
32200
21600
11000
400
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Através da Figura 4.6 pode-se observar que os níveis de CO para o biogás são menores
que as duas configurações estudadas com gasolina. E é possível observar que este percentual
apresenta um leve aumento com o aumento da carga aplicada ao gerador. O resultado
apresentado neste estudo está de acordo com o trabalho de Korakianitis et al.(2011). Neste
trabalho é apresentado que as emissões de CO, em motores abastecidos com gás natural, são de
50 a 90% menores que as emissões apresentadas por motores a gasolina. Os percentuais
identificados neste estudo também são semelhantes aos valores encontrados por LEMOS (2013).
O comportamento das curvas de gasolina com razão de compressão de 8,2:1 e de 10,2:1
foram bem semelhantes nas suas devidas proporções. O comportamento das emissões de CO
pode ser explicado através do modo como o motor, em ambos os testes, estabilizou até 50% de
76
carga. Nesta faixa de trabalho, como já apresentado, o afogador trabalhou semi acionado para
estabilizar seu funcionamento. Assim, de 0 a 50% da carga aplicada, quando a entrada de ar foi
restringida, é observado um aumento das emissões de CO com o aumento de carga aplicada. No
instante em que o afogador deixa de ser acionado a entrada de ar está livre, então os percentuais
de CO no escapamento reduzem e apresentam um aumento conforme a carga aplicada ao
gerador novamente. Outro ponto importante de salientar é que a curva para a razão de
compressão de 8,2:1 apresenta um percentual de CO superior a de 10,2:1. Isto é justificado
através da turbulência existente na combustão. Como apresentado por Martins (2011), a razão de
compressão de 10,2:1 possui uma turbulência de mistura maior que a razão de compressão de
8,2:1, o que facilita a oxidação do CO para CO2.
Após a conclusão de cada teste o motor foi desmontado e analisado o estado do topo do
pistão. A Figura 4.7 mostra o topo do pistão no final de cada teste.
A Figura 4.7 apresenta o estado do topo do pistão no final dos três testes. Ela mostra que
os testes com biogás, o topo do pistão estava praticamente limpo, embora pela foto pareça mais
escuro, característica deste tipo de combustível.
Porém, as imagens referente aos testes com gasolina, razão de compressão de 10,2:1 e de
8,2:1, apresentaram depósitos de carbono no topo do pistão, indicando que a combustão não foi
completa em nenhuma das razões de compressão, gerando depósitos de combustível não
queimado.
77
5 CONCLUSÕES
O presente estudo, de modo geral, mostra que a geração de energia elétrica é satisfatória
para as condições estudadas. Para cada carga solicitada, utilizandos os combustíveis estudados,
os valores de potência elétrica gerada pelo sistema moto gerador foram semelhantes.
Porém, para gerar a mesma potência elétrica a condição de biogás como combustível
apresentou maior consumo, logo menor eficiência do sistema. Esta baixa eficiência, consequente
de um maior consumo, produz uma vazão maior de gases no escapamento do motor. Este fato
fez com que o sistema com biogás apresentasse o maior potencial de energia térmica disponível
do sistema na cogeração.
O sistema de cogeração mostrou um bom potencial de energia térmica, proveniente dos
gases de escapamento, mas a conversão deste potencial em potência térmica de fato é baixa.
Para o biogás, comparando o potencial disponível com o valor de taxa de transferência de calor
existente é possível verificar um desperdício de energia térmica de 58,8% com o sistema em
50% de carga aplicada, e de 62,4% em 100% de carga aplicada. Para a gasolina com razão de
compressão de 10,2:1 e de 8,2:1 os percentuais de energia térmica não aproveitada na cogeração
também são elevados, superiores a 50%. Porém, mesmo o sistema de cogeração com valores de
efetividade baixos, resultando em desperdício de energia térmica, a eficiência global do sistema
moto gerador e cogeração apresentou valores significativos comparado com a eficiência
somente da potência elétrica do motor. O sistema com biogás foi o que apresentou o maior
aumento, a eficiência global foi 97,7% maior que a eficiência considerando a potência elétrica,
com 50% de carga aplicada no gerador. Com 100% de carga aplicada foi observado um aumento
de 69,8%. Os valores de eficiência global, bem como os de taxa de transferência de calor
existente podem ser melhorados através de modificações no trocador de calor. Estas alterações
devem permitir um maior aproveitamento dos gases quentes que circulam no trocador de calor,
tais como a utilização de aletas, de serpentina ao longo da tubulação e do aumento do diâmetro
dos tubos.
As emissões de O2 e do fator λ indicaram que os sistemas estudados trabalharam com
excesso de ar. Para a condição com biogás pode-se observar uma tendência em valores de λ
mais próximos de 1 quando o moto gerador está operando em potências próximas a nominal do
equipamento.
Quanto as emissões de CO, gás extremamente tóxico, o sistema utilizando biogás
apresentou níveis baixos, como era esperado. Para os sistemas estudados a gasolina, com a razão
78
REFERÊNCIAS
BRUNETTI, F.. Motores de Combustão Interna: volume 1. São Paulo: Blucher, 2012.
COSTA, A.C. N.; JÚNIOR, F. Z.; FARIAS, R. M.; MORAES, M. M.; PEREIRA, L. C.;
SÉRGIO, M. P.; SOUZA, J. A. Emprego do álcool etílico nos motores aeronáuticos
alternativos. 2005. Disponível em: <http://www.ciaar.com.br/EM%20FOCO/2006/av-2/av2-
alcool.html> Acesso em 25 Jan 2014.
80
DAL BEM, et al. Análise de Desempenho de um Motor Ciclo Otto Alimentado com Etanol
de 75°INPM e com Taxa de Compressão Aumentada. Tese – Escola de Engenharia de São
Carlos. Universidade de São Paulo. São Paulo. 2008
DAVIS, W. T. Air pollution engineering manual. New York: Air & Waste Management
Association, 2000.
HUANG, J.; CROOKES, R. J. Assessment of simulated biogas as a fuel for the spark
ignition engine. Fuel, v.77, n15, p.1793-1801, 1998.
HUANG, Z.; ZENG, K.; HUANG, Y.; JIANG, D.; WANG, X.; MIAO, H. Experimental
Study on Engine Performance and Emissions for an Engine Fueled with Natural Gas-
Hydrogen Mixtures. Engine & Fuels, 2006.
METZ, B.; DAVIDSON, O.; BOSCH, P. R.; DAVE, R.; MEYER, L. Climate Change 2007:
Mitigation. Contribution of Working Group III to the Fourth Assessment Report of the
Intergovernmental Panel on Climate Change. IPCC, Summary for Policymakers. In:
Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom and New York, NY, USA. 2007.
MIHIC, S. Biogas fuel for internal combustion engines. Annals of Faculty Engineering
Hunedoara. Tome II, facicole 3, 2004.
ONURSAL, B., GAUTAM. S.P. Vehicular Air Pollution: Experiences from Seven Latin
American. World Bank Technical Paper, no.373, 1997.
OWEN, K., COLEY, T. Automotive Fuels Reference Book. 2nd ed. SAE, 1995.
RIBEIRO, S.K.; COSTA, C.V.; DAVID, E.G.; REAL, M.V.; D’AGOSTO, M.A. Transporte
e mudanças climáticas. Rio de Janeiro: MAUAD, 2000.
82
SOUZA, J.; SOUZA, N. M. S.; MACHADO, P.M. Desempenho de um motor ciclo otto
utilizando biogás como combustível. 2004. Disponível em: <
http://www.feagri.unicamp.br/energia/agre2004/Fscommand/PDF/Agrener/Trabalho%2040.pdf
> Acesso em 25 Jan 2014.
SUZUKI, A. B. P.; FERNANDES, D.M.; FARIA, R. A. P. F.; VIDAL, T. C.M. Uso de biogás
em motores de combustão interna. Revista Brasileira de Tecnologia Aplicada nas Ciências
Agrárias, v. 4, n.1, p. 221-237. Guarapuava, Paraná, 2011.
TURNS, S.R. An introduction to combustion: concepts and applications. McGraw- Hill, Inc,
1996.