ELVIRA
ELVIRA
ELVIRA
BRASÍLIA/DF
Maio/2021
MARINA RODRIGUES DE ARAÚJO
BRASÍLIA - DF
MAIO/2021
AGRADECIMENTOS
Estudo feito pelo Instituto Gênero e Mídia (2015) mostra que quase a metade do
público consumidor de horror é formada por mulheres. Apesar disso, a representatividade
feminina nesse gênero de filmes ainda é pequena. Partindo dessa ótica, procedemos a
análise das estratégias de branding de uma das marcas mais populares do horror: Elvira, a
Rainha das Trevas. As perguntas de pesquisa são: i) quais as estratégias de branding
foram usadas para o sucesso da marca Elvira no entretenimento do gênero horror nas
décadas de 1980 e 1990? ii) quais as percepções do público feminino jovem que consome a
marca Elvira no Brasil nos dias atuais? O objetivo do trabalho é compreender como a marca
Elvira obteve sucesso nos anos 1980 e 1990 e o impacto dela no público feminino
consumidor de horror. A metodologia consiste na pesquisa bibliográfica com autores de
comunicação organizacional, marketing, branding e brand equity. Inclui ainda a análise de
narrativa de um dos principais produtos da marca, a obra cinematográfica Elvira, a Rainha
das Trevas (1988). Além disso, foi feito um questionário online entre mulheres jovens, entre
20 e 40 anos e consumidoras de terror para avaliar o impacto da marca Elvira entre as
brasileiras. Os resultados mostram que a marca foi construída nos Estados Unidos, usando
estratégias de branding para identificar a personagem como sexy, assustadora e
engraçada. No Brasil o consumo ocorreu sobretudo por jovens de 20 anos e de classe
baixa. A maioria não consome os produtos associados à marca. No entanto, a popularidade
e o impacto do filme Elvira no público feminino do Brasil é grande, e constata-se a
representatividade feminina da personagem no entretenimento de horror.
Palavras-chave:
Representatividade feminina no cinema; Consumo de Horror; Elvira; Comunicação; Branding
ABSTRACT
A study made by the Gender and Media Institute (2015) shows that almost half of the
horror consuming public is made up of women. Despite this, female representation in this
genre of films is still small. From this perspective, we proceeded to analyze the branding
gangs of one of the most popular horror brands: Elvira, Mistress of the Dark. The research
questions are: i) what branding strategies were used for the success of the Elvira brand in
horror entertainment in the 1980s and 1990s? ii) what are the perceptions of the young
female public that consumes the Elvira brand in Brazil today? The objective of the work is to
understand how the Elvira brand was successful in the 1980s and 1990s and its impact on
the female audience that consumes horror. The methodology consists of bibliographic
research with authors of organization, communication, marketing, branding and brand equity.
It also includes the narrative analysis of one of the main products of the brand, a
cinematographic work Elvira, Mistress of the Dark (1988). In addition, an online questionnaire
was made among young women, between 20 and 40 years old and consumers of terror to
assess the impact of the Elvira brand among Brazilian women. The results show that a brand
was built in the United States, using brand strategies to identify a character as scary, funny
and sexy. In Brazil, the consumption occurred mainly by young people of 20 years and of low
class. Most do not consume the products associated with the brand. However, the popularity
and impact of the film Elvira on the female audience in Brazil is great, and there is a female
representation of the character in horror entertainment.
Keywords:
Female representativeness in the Movies; Horror Consumption; Elvira; Communication;
Branding
LISTA DE FIGURAS
INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………………………..5
REFERÊNCIAS ……………………………………………………………………………………..69
INTRODUÇÃO
1
Dados retirados do site do Instituto Geena Davis de Gênero na Mídia sobre pesquisa realizada pelo Instituto
Geena Davis de Gênero na Mídia. Disponível no link: https://seejane.org/research-informs-empowers/data/
6
Por outro lado, Elvira foi, e permanece sendo, uma das poucas protagonistas
femininas de horror a realmente construir uma marca forte e deixar seu legado na
mente do público. É preciso entender, do ponto de vista acadêmico, quais
elementos históricos e comunicacionais a levaram ao sucesso, assim como
compreender de que forma sua influência afetou essas jovens mulheres
espectadores que buscam exemplos em frente às telas.
Do ponto de vista pessoal, a autora desta pesquisa é uma espectadora
frequente do gênero de horror e aprecia o suspense. Entende esse gênero como um
espaço para discutir questões sociais. Como comunicadora, a autora procura trazer
à luz reflexões sobre Elvira, importante personagem para compreendermos os
aspectos replicáveis de sua marca, tanto no sentido mercadológico quanto de
representatividade feminina.
Observa-se que muitas das personagens femininas dos filmes de terror são
retratadas de forma supérflua, rasa, sexualizada e imoral. Poucas são as
protagonistas e heroínas que sobrevivem até o final e dão um exemplo positivo
para jovens espectadoras. Mesmo não sendo parte da geração da autora, Elvira fez
parte de sua jornada no terror. Em sua opinião, apesar de sua figura ser polêmica,
Elvira carrega um simbolismo e representatividade em sua marca impossíveis de
serem ignorados.
O processo metodológico empregado nessa pesquisa inclui: pesquisa
bibliográfica, análise de narrativa de materiais e produtos relacionados à marca
"Elvira'' e por fim, a aplicação de um questionário (survey) online junto a mulheres
que consomem terror.
A pesquisa bibliográfica revisa conceitos necessários para o desenvolvimento
do projeto, utilizando autores que exploram comunicação mercadológica, marketing,
branding, brand equity, etc. Segundo Stumpf (2009) a bibliografia é o planejamento
inicial e geral de qualquer pesquisa, na qual é apresentada toda a leitura examinada
através de textos sistematizados.
Já a análise de narrativa será feita através de uma das obras
cinematográficas da personagem Elvira. Por meio da análise crítica do filme “Elvira,
As Rainhas das Trevas” lançado no ano de 1988, busca-se determinar como se deu
o fenômeno da marca e mapear estratégias usadas na construção do Branding da
personagem.
8
1. REFERENCIAL TEÓRICO
1.3 - Marketing
As discussões sobre o conceito de marketing permeiam o início do século XX
na sociedade ocidental. Em 1935, a Associação Americana de Marketing ofereceu a
primeira definição de marketing como sendo "a realização de atividades de negócio
dirigidas ao fluxo de bens e serviços". A definição partiu de um cenário em que a
logística envolvida no processo de venda era o fator mais predominante.
Já em 2005, a mesma associação redefiniu o conceito como: “a atividade,
conjunto de instituições e processos para criar, comunicar, entregar e trocar ofertas
12
que tenham valor para os clientes, parceiros e sociedade em geral.” (AMA, 1935).
Nesse contexto, já se entendia que o marketing atuava como um fator intangível.
Para Kotler e Keller (2006), o marketing pode ser entendido através de dois
contextos: o social e o gerencial. No social, o marketing entende-se como "um
processo social e gerencial pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e
desejam por meio da criação, da oferta e da livre troca de produtos e serviços de
valor com outros" (KOTLER & KELLER, 2006, p. 4).
Peter Drucker esclarece que "o objetivo do marketing é tornar supérfluo o
esforço de venda. [...] é conhecer e entender o cliente tão bem que o produto ou o
serviço seja adequado a ele e se venda sozinho" (KOTLER & KELLER apud
DRUCKER, 2003, p. 14).
Dado o cenário tecnológico e a ascensão de marcas vulneráveis na
atualidade, é importante ressaltar alguns conceitos abordados por Kotler em sua
mais recente obra “Marketing 4.0: Do Tradicional ao Digital” (2017). Sobre o meio
digital e marcas humanizadas, Kotler diz que “profissionais de marketing precisam
se adaptar a essa nova realidade e criar marcas que se comportem como pessoas –
acessíveis e amáveis, mas também vulneráveis.”. (KOTLER, 2017, p. 133)
Além disso, o autor completa dizendo que “o marketing centrado no ser
humano ainda é a chave para desenvolver a atração da marca na era digital, já que
marcas com uma personalidade humana serão possivelmente mais diferenciadas.
[...] as marcas precisam mostrar atributos humanos capazes de atrair consumidores
e desenvolver conexões de pessoa a pessoa.” (KOTLER, 2017, p. 134)
Nesse contexto, “uma grande marca não é construída por acidente. Ela é o
produto da realização cuidadosa de uma série de etapas ligadas logicamente com
os consumidores” (KELLER & MACHADO, 2006, p. 61).
Essa percepção surgiu no final da década de 1980 quando executivos
determinaram marcas como ativos que possuem patrimônio e determinam o
desempenho e a estratégia de um negócio. A aceitação de “marca como ativo” veio
pelo fracasso da crença de que a principal função do marketing era estimular as
vendas. Passou-se a considerar que os ativos de marca eram essenciais para um
crescimento sustentável. (AAKER, 2015, p. 16)
O branding, quando bem executado, é capaz de associar a marca a histórias,
representações, ideais, entre outros. Por isso, o conceito de branding vai muito além
da comunicação e envolve outros fatores como marketing, mídias, internet, vendas,
etc.
Kotler e Keller (2006) corroboram que o branding, de forma geral, precisa
exercer três funções para se mostrar eficaz: estabelecer a personalidade do produto
e a proposta de valor; comunicar essa personalidade de forma diferenciada; e
transmitir poder emocional além da imagem mental.
for elevada comparada à concorrentes, a marca pode até mesmo cobrar preços
maiores por produtos e serviços.
Por fim, a fidelidade da base de clientes é fator central no sucesso do
branding, uma vez que conquistado ele tende a perdurar. Elos de fidelidade são
difíceis de serem quebrados e, por isso, uma das principais ações da gestão ativa
de marcas deve ser fortalecer esses laços. Isso torna a base de clientes consistente
a longo prazo.
Partindo das funções de eficácia do branding, Aaker (2014) estabelece 20
princípios que decidem o sucesso das marcas a partir de estratégias de branding.
Um desses princípios ele chama de personalidade de marca.
Essas definições citadas por Jancovich (2001) levaram autores como Clover
(1992) a apresentar um novo conceito em comum no subgênero slasher, o conceito
da Final Girl. Em resumo, a Final Girl é “uma heroína feminina que não depende da
ação masculina para ser salva e derrota o monstro por ela mesma” (JANCOVICH,
2001. p. 5, tradução nossa).
Melhor definindo:
Ela é a personagem cuja história nós seguimos do início ao fim, e é
aquela cuja vantagem, seja através de cujos olhos, nós vemos a
ação; e é ela que, no final do filme, derrota o assassino (embora
frequentemente mais por acaso do que por intenção). Desnecessário
dizer, isso soa mais como um protagonista masculino do que um
feminino, e foi de fato um desenvolvimento surpreendente,
começando em meados de 1970 para terem não só alguns filmes,
mas dezenas deles, com a mulher no centro da história (CLOVER,
2015. p. X, tradução nossa)
Com esses novos conceitos em mente, o autor de Horror, The Film Reader
(2001) apontou que o período ainda viu a emergência de uma nova forma de horror
cômico, apesar da violência do gênero da época. Filmes como Um Lobisomem
Americano em Londres (1981), A Volta dos Mortos-Vivos (1985), A Hora do Espanto
(1985) e até mesmo Elvira, A Rainha das Trevas (1988) eram ícones
autoconscientes do gênero. Enquanto as obras possuíam momentos
verdadeiramente aterrorizantes, também eram categóricos em zombar do próprio
cinema de horror.
Já no começo de 1990, muitos afirmavam que o gênero tinha se esgotado e
que a audiência já não levava o horror tão a sério. Apesar disso, os
desenvolvimentos das obras nessa época iam por um caminho diferente. Com o
lançamento de O Silêncio dos Inocentes (1991), uma série de filmes de horror de
grande orçamento começaram a ser feitos por diretores e atores renomados. Esta
última obra, inclusive, foi considerada por David Greven (2011) “o último filme de
terror a localizar seu drama central no desenvolvimento psicossexual de uma mulher
na feminilidade adulta” (GREVEN, 2011. p. 2, tradução nossa). O autor ainda aponta
que, após O Silêncio dos Inocentes (1991), o gênero de horror tornou-se cada vez
mais irônico, desconstrutivo, parodístico, meta-textual e pós-moderno.
26
O mesmo autor explica que para interpretar a mãe da Família Addams, foi
chamada a atriz Carolyn Jones, que trouxe o seu sex appeal, que fazia sucesso na
época, para a personagem. Com os tradicionais cabelos e vestido negros longos,
Jones se inspirou na personagem televisiva Vampira, que fazia sucesso
apresentando um show noturno sobre filmes de terror. A Figura 5 mostra a Carolyn
em seu papel como Morticia.
29
3..2 - Vampira
Holiday (2016) destaca que Vampira, interpretada por Maila Nurmi, foi a
primeira apresentadora de horror da televisão norte-americana e pioneira do horror
cômico. Segundo a produtora, a origem da personagem é de 1953, quando Nurmi
foi à uma festa em Hollywood fantasiada da matriarca macabra dos quadrinhos -
ainda sem nome na época - Mortícia Addams. Na festa, ela despertou a atenção do
produtor Hunt Stromberg Jr. que procurava uma personagem excêntrica para ser
apresentadora de um programa noturno sobre filmes clássicos de horror.
Nurmi se inspirou em Mortícia Addams, e adicionou a ela sua sensualidade.
Com longos cabelos negros e o vestido preto da matriarca Addams, Vampira
31
seus espectadores “bad dreams, darlings”. A obra Vampira and Her Daughters
(2017), diz que Maila Nurmi:
[...] também, às vezes sutilmente e às vezes não, interpretou, em
Vampira, um personagem que era uma paródia da fixação americana
por "cheesecake" e uma paródia da obsessão americana por
"valores familiares". Foi um exemplo muito real de empoderamento
feminino.” (COTTER, 2017, p. 153)
Holiday (2016) mostra que Cassandra Peterson foi a atriz escalada para
interpretar a personagem Elvira em 1981. Ela foi criada pelo produtor de televisão
local estadunidense, Larry Thomas. Ele procurava uma atriz com o mesmo
estereótipo valley girl para reviver o sucesso que Vampira teve nos anos 1950. Maila
Nurmi havia sido convidada para participar, mas não concordou com a escalação de
Peterson para interpretar a personagem que alavancou sua carreira, e - além de
retirar-se do projeto - processou Cassandra Peterson e a produtora, afirmando que
a personagem de Elvira era extremamente semelhante à sua criação.
Após os conflitos com a Nurmi, a personagem foi oficialmente nomeada
Elvira e o show Elvira’s Movie Macabre (1981-1986) foi lançado. Elvira trazia muitas
das características da sua antecessora Vampira e, consequentemente, de Mortícia
Addams. Seus cabelos negros compridos foram implementados com o estilo
bouffant popular nos anos 80. Seu longo vestido preto ganhou um significante
decote, que deixava em evidência o traço físico que marcou sua imagem: os seios.
Elvira trouxe a inspiração de Vampira e a amplificou enormemente. Adicionou
o sex appeal explícito que antes era implícito na personagem de Maila Nurmi e
potencializou o humor satírico, inteligente e ousado, perfeito para os olhos da
33
geração Y. Assim como Vampira, Elvira retrata-se como uma mulher independente,
progressista e livre de amarras. Apesar do seu sex appeal, Elvira sempre foi
retratada como uma mulher que não reprime suas vontades e não permite que
ninguém tire vantagens suas. A Figura 8 mostra a atriz Cassandra Peterson trajada
da personagem Elvira.
ícone da cultura pop. Apesar de Vampira também carregar o título de ícone pop,
Elvira foi capaz de manter-se consistente e no radar do público até os dias atuais e
destacou-se como uma figura de empoderamento feminino. Segundo o autor:
De acordo com Carter (2017), apesar de ter sido uma personagem planejada
e roteirizada, Cassandra Peterson deu um diferencial para Elvira. Com uma carreira
estabelecida em um grupo de comédia, o humor satírico e o físico atraente foram os
aspectos que fizeram com que a atriz fosse escalada para o papel.
A própria Cassandra conta em uma entrevista concedida ao site Cryptic Rock
(2017) como desenvolveu a personagem:
Quando fui para a audição, entrei parecendo eu mesma - mas tentei
improvisar e ser engraçada - embora o roteiro fosse mais
assustador. Eu consegui o papel, e quando eu consegui, foi de
repente - surgiu com um visual, um personagem, uma roupa. Pedi ao
meu melhor amigo na época, que é um artista, para ajudar a esboçar
alguns desenhos de algo que eu pudesse parecer. Descobrimos
várias coisas e a estação escolheu uma. Foi uma espécie de
reviravolta dos anos 80 em uma típica vampira sexy. (CRYPTIC
ROCK, 2017, tradução nossa)
Nota-se que os três maiores picos de interesse pelo termo “Elvira” coincidem
na mesma época. O primeiro, com pontuação 100, no período de 28 de outubro a 3
de novembro de 2018. O segundo, com pontuação 88, entre 25 de setembro e 5 de
outubro de 2019. E o terceiro, com pontuação de 66, entre os dias 25 a 31 de
outubro de 2020. Percebe-se um padrão anual de aumento pela busca da marca
“Elvira” em meados de setembro, outubro e novembro, meses em que a indústria
em volta do Halloween costuma aquecer-se.
Outra tendência interessante é que, por volta da mesma época anual, o perfil
oficial da marca e personagem Elvira no Instagram costuma ganhar mais
seguidores. A Figura 10 mostra o gráfico dessa tendência, mostrando o número de
seguidores ganhos mensalmente no perfil Elvira, Mistress Of The Dark. A
ferramenta utilizada para essa análise foi o Social Blade e o período compreendido
na análise foi de 2018 a 2021.
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Da mesma forma que no gráfico anterior, este também conta com três picos
em datas semelhantes. O primeiro, mostra o ganho de 43.640 mil seguidores no
mês de outubro de 2018. O segundo, 44.873 mil novos seguidores em outubro de
2019. E o terceiro, 29.296 novos seguidores em outubro de 2020. O crescimento de
seguidores também coincide com a época do Halloween.
Elvira, que carrega o título de “Rainha do Halloween”, parece ter a tendência
de ser mais procurada e consumida durante esta data festiva. Subjetivamente,
pode-se atribuir a essa tendência a qualidade percebida da marca, uma vez que os
consumidores percebem a autoridade e relevância da marca ao associá-la a um dos
pontos relevantes atribuídos pela branding.
As associações da marca dizem respeito às ações feitas para fortalecer o
relacionamento da marca. Essas ações, no caso da marca Elvira, se dão
principalmente pela variedade de produtos, data comemorativa, símbolos e
personalidade de marca.
Entre as ações citadas, uma das que mais se destaca é a variedade de
produtos. Cassandra Peterson afirmou em uma entrevista para o apresentador de
um programa famoso de televisão norte-americano, Larry King, em 2017, que
quando não está interpretando Elvira, está comandando o negócio “Elvira”, fazendo
licenciamentos, merchandising e produzindo novos produtos. A atriz diz que
transformou a personagem em uma grande franquia. A fala da empresária reflete-se
na quantidade e variedade de produtos associados à marca Elvira.
39
O principal meio de obter esses produtos é por meio do website oficial, que é
dividido em em 6 categorias, onde 4 delas possuem subcategorias. A primeira
categoria é “Vestimenta” e as subcategorias são: Mulheres, Homens e Crianças, A
segunda categoria é “Acessórios” e as subcategorias são: Chapéus, Meias, Capas
de Celular, Compactos e Chaveiros. A terceira categoria é “Utensílios Domésticos” e
as subcategorias são: Canecas, Porta-copos, Imãs, Utensílios de Bar, Escritório e
Pets. A quarta categoria é “Autógrafos” e as subcategorias são: Fotos Autografadas
8x10” e Mercadoria Autografada. A quinta categoria é “Pets” e a sexta “Cripta dos
Colecionadores”.
A Figura 11 mostra alguns produtos da categoria “Acessórios”.
4. O PROCESSO METODOLÓGICO
Ano 1988
Duração 1h 36min
Cena 1
Na Cena 1, Elvira acaba de chegar à cidade de Fallwell, Massachusetts em
seu carro (mais tarde apelidado de Macabre Mobile), que chama atenção por seu
modelo Mustang, pela cor preta, estofados com estampa de oncinha e pela alta
música que toca no veículo.
47
Cena 2
A Cena 2 ambienta-se no boliche da cidade de Fallwell, no estado de
Massachusetts, nos Estados Unidos. Estão na cena Elvira, a recepcionista do
boliche, Patty, o Bob, interesse romântico de Elvira e dois homens, Billy e Travis.
Billy e Travis conversam enquanto tomam cerveja, até que observam Elvira
entrar no boliche. Imediatamente, Travis chama a atenção de Billy e diz “Olha o que
acabou de entrar”, apontando para Elvira. Ela, com seu figurino exótico e decote
ousado, senta-se na mesa diretamente em frente aos dois. A próxima cena mostra
Patty e Bob impressionados com a presença de Elvira.
Em seguida, Billy e Travis se levantam e sentam-se à mesa com Elvira, um
à direita e o outro à esquerda. Billy é o primeiro a falar “Ei baby, tenho algo para
mostrar a você”, insinuando que esse algo seria sua genitália. Elvira responde com
ironia e sarcasmo: "Desculpe, deixei minha lupa em casa", sugerindo que o órgão
sexual de Billy seria muito pequeno para ser visto à olho nu. Travis então ri
despretensiosamente da resposta e diz, com falsa modéstia: “Isso foi engraçado.
Billy! Isso não é jeito de falar com uma dama”. Elvira revira os olhos, demonstrando
tédio com a situação.
Logo depois, Travis diz: “Então, que tal um boquete?”. Travis e Billy riem
animosamente da fala, enquanto ela olha com desdém para os dois. Enquanto riem,
Elvira pega as canecas de cerveja que os homens trouxeram consigo, e despeja o
conteúdo delas no colo de cada um deles.
Na Figura 16 observa-se o momento em que Elvira derrama as cervejas em
Travis e Billy, numa ação que demonstra sua independência e seu empoderamento
em não permitir que tirem vantagem dela.
50
Cena 3
Na Cena 3, Elvira está em apuros após ter sido acusada pelos cidadãos da
cidade de bruxaria. A personagem foi presa e espera a sua condenação por morte
na fogueira. Segundo Creed (1993), papéis de bruxas, vampiras, fatais, psicopatas,
entre outros, são comumente associados à figura feminina nos filmes de horror. Isto
porque o monstro feminino reafirma o medo patriarcal de mulheres ameaçadoras e
progressistas.
Dessa forma, Elvira é condenada à fogueira por bruxaria. Seus aliados na
cidade, os jovens e adolescentes tentam resgatá-la da prisão abrindo um buraco no
52
teto da cela. Porém, eles se enganam e acabam entrando na cela errada e Elvira foi
levada à fogueira.
A caminho da fogueira, Elvira é humilhada e odiada pelos moradores da
cidade, que gritam palavras de ódio enquanto seguram tochas e machados
esperando ansiosamente pelo momento da execução. Liderando o grupo que leva
Elvira ao local da fogueira está um padre, que abre o caminho jogando água-benta
sob a população que grita em coro “Queime, bruxa!”.
Elvira então é presa à uma tora de madeira posta em volta de feno. Ela grita
por ajuda e então a personagem Patty, mais uma das inimigas de Elvira na cidade,
interrompe quando o guarda começa a colocar fogo no feno e diz: “Espere aí, xerife!
O que você está fazendo é errado". Elvira olha para Patty confusa e diz: “Patty?!”.
Patty então pega a tocha das mãos do xerife e diz “Vai pegar mais rápido se você
acender em vários lugares” e então acende a fogueira.
Assim que acessa, Chastity comemora e diz com excitação “Nós temos que
ter uma dessa todo ano!” e logo depois, Patty complementa dizendo “Queime no
inferno, bruxa!”. A multidão então comemora e os jovens presos na cadeia olham
pela janela apreensivos. Finalmente, Bob aparece para socorrê-la.
Bob tenta desesperadamente apagar as chamas já altas com a sua jaqueta,
mas as tentativas são em vão. Gonk, o cachorro e protetor mágico de Elvira,
começa a latir para a protagonista. Ela olha para ele e tem uma visão do passado,
onde bebê ela foi deixada na porta de sua tia-avó Morgana com um anel vermelho
junto ao seu berço. A voz da visão diz “Lembre-se, você carrega o poder com você”.
A Elvira então lembra-se de que ela está usando aquele mesmo anel e então,
esforça-se para livrar a mão do anel das cordas. Com a mão em punho, Elvira
aponta o anel para o céu e um raio é disparado através da joia, como mostra a
Figura 23. Imediatamente, uma tempestade se forma e a chuva começa a cair,
apagando a fogueira que pretendia queimar Elvira. Com a chuva, a multidão se
dispersa e Elvira consegue soltar-se das amarras.
53
Apesar das tentativas de seus aliados em ajudar Elvira, quem foi responsável
por a salvar no final das contas foi ela mesma. Como dito em entrevista para o
jornalista Jared Collard para a FIEND Magazine (2002), Peterson sempre fez
questão de trabalhar arduamente para que Elvira se defendesse sozinha e fizesse
as coisas por ela mesma sem precisar de um salvador para resgatá-la das
situações. A Cena 3 demonstra esse esforço da atriz em transparecer a
personagem como independente, forte, confiante e poderosa.
O maior destaque da Cena 3 é a condenação de Elvira por bruxaria. Já
estabelecida como um monstro feminino desde a Cena 1, a protagonista é dessa
vez associada à figura da bruxa, que é repetidamente vinculada ao Mal no cinema
de horror.
Segundo Creed (1993), o monstro feminino é fruto de questões religiosas e
noções históricas de abjeção, onde a ameaça que perturba a normalidade e a
estabilidade deve ser eliminada em prol de um bem maior. Essas questões e noções
histórias de abjeção citadas por Creed possuem raízes na história milenar de
condenação de mulheres consideradas bruxas.
Segundo Larocca (2016), a essência maligna e destrutiva da bruxa
geralmente aparece através de duas imagens estereotipadas: a mulher velha, com
pele pálida, verrugas e nariz torcido, e a bruxa jovem, poderosa e sexualmente
54
bruxas. Porém, o que realmente a leva a condenação, são suas atitudes para com a
população da conservadora cidade de Fallwell, na cidade de Massachusetts.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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https://www.youtube.com/watch?v=1nteBo2nwx8. Acesso em: 17 abr. 2021.
EXCLUSIVE Interview With Elvira, Mistress of the Dark. [S.I]: Nuke The Fridge,
2020. P&B. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5PHXSTo8WQs.
Acesso em: 06 abr. 2021.
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https://www.huffpost.com/entry/elvira-mistress-of-the-dark_n_5ba26dbbe4b0823ea1
9a7217. Acesso em: 06 abr. 2021.
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ccounter=1&guce_referrer=aHR0cHM6Ly93d3cuZ29vZ2xlLmNvbS8&guce_referrer_
sig=AQAAAJ3jHH0i8D6yCdzi5WMXUlXf0KjrRZkVs6e3JwAiTuqKoyVlArAXu24fHyQ
ZhrIWSnACU1y4hViDOj5TeSzXWRvtLc0hwPW7fCuqClnttLSJpWSTJ8CCBqMrdX8
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abr. 2021.
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tradução de Ivo Korytowski. Rio de Janeiro: Sextante, 2017.
PAULO NOBUO. Vix. 7 filmes muito adultos que passaram na Sessão da Tarde.
Disponível em:
https://www.vix.com/pt/bbr/2145/8-papeis-que-provam-que-dicaprio-e-um-dos-melho
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30 out. 2015. Disponível em: <https://www.bustle.com/articles/119524-6-
things-to-know-about-4th-wave-feminism>
APÊNDICE A –
QUESTIONÁRIO ESTRUTURADO ÀS MULHERES CONSUMIDORAS DE
ENTRETENIMENTO DE HORROR
Sim 106
Não 2
Quinzenalmente 6
Mensalmente 7
Eventualmente 16
Mortícia Addams 94
Elvira 84
Vampira 28
Lily Munster 19
Sidney Prescott 40
Carrie White 53
Laurie Strode 32
74
Wandinha Addams 2
Nancy Thompson 1
Reagan (Exorcista) 1
Adoro as do AHS 1
Nancy 1
Ripley 1
Buffy Summers 1
Ellen Ripley 1
Stretch 1
Frankenstein bride 1
Sim 108
Não 0
Cinema 64
Séries/Streaming 5
Programas de TV 30
Internet 39
Portais de notícias 0
Redes sociais 23
Sessão da tarde 2
Beetlejuice 1
Humor ácido 88
Inteligência 75
Sensualidade 98
Ironia 70
Extravagante 77
Submissa 0
Independente 82
Oportunista 11
Rude 3
Divertida 11
Aterrorizante 9
Transgressora 1
Empoderada
Forte 1
Peitões 1
1- 2- 3- 4- Não
Discordo Concordo Concordo sei dizer
em parte totalment
e
Sim 35
Não 71
N/A 2
Sim 19
78
Não 88
N/A 1
11. Se a resposta anterior foi sim, qual produto da Elvira você já adquiriu?
DVD 5
Roupas 8
Fantasia 0
Boneco/Action-figure 2
Jogo 0
Livro 0
Pôster 0
Broche 1
Camiseta 1
Menos de 25 anos 38
Entre 25 e 30 anos 33
Entre 31 e 35 anos 17
Entre 36 e 40 anos 17
Mais de 40 anos 3
R$0 - R$1.254,00 37
79
R$1.255,00 - R$2.004,00 33
R$2.005,00 - R$8.640,00 32
R$8.641,00 - R$11.261,00 3
R$11.262,00 - Mais 3
14. Raça
Branca 73
Preta 13
Parda 19
Amarela 2
Indígena 1
Fundamental incompleto 0
Fundamental Completo 0
Médio Incompleto 0
Médio completo 20
Universitário incompleto 37
Universitário incompleto 43
Mestranda 5
Doutoranda 3
Estudante 30
Servidora Pública 11
enfermagem, etc)
Empresária 2
Engenheira/Arquiteta 2
Jornalista/Publicitária/Profissional da Comunicação 11
Comerciante 5
Pesquisadora 4
Do lar 0
Desempregada 10
Artesã 1
Analista de CX 1
Assistente de compras 1
Designer 1
Tosadora 1
Consultora de Onboarding 1
Oficial de cartório 1
Auxiliar administrativa 1
Freelancer 1
Auxiliar administrativo 1
Vendedora 1
Bancária 2
Recepcionista 3
Assistente de planejamento 1
Autônoma 1
Prestadora de serviços 1
Tatuadora 1
Gerente 1
Aux de cozinha 1
17. Nacionalidade
Brasileira 108
Estrangeira 0
Norte 4
Nordeste 14
Centro-Oeste 15
Sudeste 57
Sul 18