Escola e Sociedade
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Resumo
Abstract
This article addresses the school as an institution and historicity. The school institution
prepares the citizen for the society of the future, unveiling the projects that are linked to
the Family School and the performance of educational activities brought by the Unified
Education Center (CEU). It investigates the way in which these projects contribute to
increase the quality of teaching, critical and cultural vision of the student, in line with the
perspectives brought by the new National Common Curricular Base (BNCC), to
understand the way in which the educational routine is built in some educational
institutions.
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Mestre em Ciências da Educação pela Universidade de San Lorenzo (UNISAL, Paraguai). Especialista
em Gestão de Educação Pública pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Licenciado em
Pedagogia pelas Faculdades Integradas Rio Branco (FIRB) e em História pelo Centro Universitário
Claretiano (CEUCLAR). Pós-graduado em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Nove
de Julho (UNINOVE). Diretor Escolar de Educação Básica no Colégio Fernão Dias Pais. Contato:
ivan.canovas13@gmail.com
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Pós-doutora em Ciências Sociais pelo Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP). Doutora em Arquitetura
e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU). Bacharel
em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professora do Curso de
Especialização em Gestão da Educação Pública da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Contato: luciana.itikawa@gmail.com
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Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, volume 7, número 23, fevereiro de 2020.
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Introdução
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1 Referencial teórico
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As conexões existentes entre a escola e a sociedade não são dadas a priori, mas
estão continuamente se alterando, construindo/reconstruindo significados o sistema
escolar em função das necessidades e interesses sociais de diferentes contextos históricos
se modificam a cada instante. Para compreensão deste processo podemos dialogar com
os textos de Michael Apple e Mariano Enguita, nos quais esses autores discutem a escola
enquanto instituição e também em sua historicidade.
Em seu livro Educação e Poder, Apple (1989) leva-nos a refletir sobre a conexão
entre a escola e a sociedade, ressaltando como interesses econômicos se colocam também
como necessidades sociais, definindo caminhos pedagógicos, organizando e estruturando
os sistemas escolares, bem como norteando as experiências educacionais de professores,
alunos e especialistas situados na sociedade capitalista conforme expressa em seu livro
(APPLE, 1989, p. 37).
Portanto, a escola pode servir para formar trabalhadores de forma a torná-los
aptos às diversas habilitações, profissionais existentes no mercado de trabalho. Porém, na
verdade nem disso tem dado conta, pois no mundo globalizado em que vivemos, o
mercado de trabalho está sempre exigindo e oferecendo habilitações novas.
Além, disso por conta das exigências da competitividade, ampliou-se a demanda
dos conhecimentos e da informação, crescentemente disponíveis nas mídias, sobretudo
na internet, levam a questionar e a repensar os temas e conteúdos em sua abrangência
cognitiva e social, e os caminhos de ensinar e aprender que precisam ser modificados e/
ou ajustados a partir dos paradigmas emergentes.
O processo educativo mais do que ultrapassa o período de escolarização
permanente, favorecida por novas modalidades de ensino como por exemplo a educação
à distância, popularmente conhecida como Educação à Distância (EaD), em relação ao
cotidiano escolar, tem-se falado demais em metodologias ativas, onde o objetivo por
primazia seria a participação mais efetiva do aluno em aula, colocando esses estudantes
como coautores do seu processo de aprendizagem, sendo estes mecanismos
modificadores no cenário atual ao qual vivemos.
Apple (1989) também nos alerta para o risco de concebermos a escola como
espelho da sociedade, ou seja, como mera reprodutora da ordem social, analogia que ele
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considera simplificadora. Ressalta como a escola moderna tem ultrapassado essa função
(de ser formadora de profissionais semi ou super qualificados), na medida em que tem
sido formadora de atitudes, desenvolvendo hábitos e posturas de docilidade e sujeição,
ou desenvolvendo posturas de lideranças e crítica, ao mesmo tempo que inculca nos
educandos os valores da ideologia dominante, seja mediante os programas curriculares,
ou mesmo pelo currículo oculto (APPLE, 1989, pp. 83-84).
Por conta dessas considerações os professores devem se questionar sobre o que
ensinam: quais conteúdos/ temas devem ser ensinados? A quem serve esses conteúdo?
Eles contribuem para uma formação geral de cidadania? Contribuem para ensinar e fazer
escolhas, e a tomar decisões? Contribuem para selecionar e interpretar informações?
Servem para formar e alicerçar a cultura nacional? Servem para formar posturas de
respeito e outrem e de solidariedade? Ou servem para enquadrar e domesticar os
educandos em função de interesses econômicos e sociais que garantem a manutenção de
estruturas sociais e de poder dominante?
É importante ressaltar ainda que, atualmente, nos debates pedagógicos
realizados nos cursos de formação de professores e nos congressos de educação e mesmo
nos diversos espaços da mídia muito se discute sobre aprendizagem, mais atualmente o
modelo de aprendizagem ativa promete revolucionar o currículo. Ele traz à tona a velha
dinâmica da maiêutica socrática, na qual o objetivo principal é colocar o aluno como
agente questionador e formulador de hipóteses estruturantes, considerando assim a
organização curricular preexistente.
Discutem-se os aspectos teóricos e psicológicos da aprendizagem, mas também
são colocadas reflexões mediante os relatos de experiências pedagógicas, em relação aos
caminhos metodológicos de se ensinar e de aprender, reconhecendo que existem
diferenças na aprendizagem das faixas etárias, bem como em relação as condições
socioculturais dos alunos.
O próprio papel do professor está sendo continuamente repensado e
ressignificado. Ele deixou de ser um mero transmissor de conhecimentos, para ser um
orientador e facilitador da aprendizagem, o tão fomentado mediador do conhecimento
passa a dar à luz a um construtor da autonomia do aluno, fazendo-o refletir e se
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reestruturar nesta nova demanda acadêmica ao qual o próprio mercado o impõe. Neste
panorama, repensar o currículo e sua aplicabilidade passa a ser um novo objetivo para
este mestre do conhecimento e suas especificações e especialidades passam a dar vazão
ao novo modelo de aula, onde o aluno se coloca como o novo centro da aprendizagem
escolar.
Neste sentido, é importante salientar as contribuições de Piaget (1973),
Vygostky (1987) e Ausubel (1983) que nos ajudam a compreender e praticar uma
aprendizagem significativa, esses autores em sua contemporaneidade, conversam em um
diálogo onde nos apresentam uma compreensão que parta realmente do aluno o
conhecimento e não de seu mestre.
O aluno é o sujeito do processo educativo e a ele deve-se se fornecer subsídios
para aprofundamentos e construção de saberes relativamente aplicáveis. No cenário
brasileiro fala-se e discute-se muito a formulação e construção de uma BNCC sólida que
traga à tona este tipo de discussão de significados, dando autonomia a alunos para
construção de grades curriculares aos quais façam sentido para o mesmo, repensando a
visão laboriosa que discutimos no item anterior.
Entretanto, o processo de construção e autonomia para estes alunos se dá de
forma errônea, pois a mesma autonomia dada ao Ensino Médio Regular, não se postula
para as bases de aprendizagem em construção na Educação Infantil e no Ensino
Fundamental, que deveriam ter por primazia alicerçar essas escolhas, considerar as
capacidades e necessidades intelectuais, emocionais e familiares do aluno, reconhecendo,
portanto, este aluno como um sujeito do processo educativo.
Outra questão ainda, também colocada refere-se ao papel do Estado no campo
educacional. O Estado regimental pode intervir no sistema escolar para garantir a
produção de mercadorias culturais, isto é de conhecimentos mediante “patrocínio de
sansões, programas e instituições” que correspondem às pressões de determinados setores
sociais, sendo assim, a escola serve a uma determinada camada social, havendo
mercantilização do ensino, levando em consideração os interesses de uma pequena
camada social, atingindo interesses que não visem uma educação de qualidade, mas sim
uma manipulação do produto ao qual denominamos conhecimento (APPLE, 1989, p. 74).
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2 Metodologia
mesmo a escola sendo um ambiente precário e com professorado politizado, mas com
pouca perspectiva conteudista, alegando diversos motivos para o trabalho de construções
significativas, a priorização para inclusão se fomenta de maneira a vivenciar o exercício
da cidadania, e dando voz à comunidade.
Isso significa dizer que a comunidade passa a ser reconhecida também como
sujeito do processo educativo, ao lado de outros sujeitos tradicionais como os alunos,
professores e funcionários, dados estes que temos por meio de observações do cotidiano
escolar. Nesta participação comunitária a relação escola-sociedade ganha novas
interpretações. O problema e as necessidades comunitárias são discutidos na escola em
diferentes momentos de reuniões de professores, ou de pais. A partir disso projetos
educativos são elaborados, buscando soluções para os problemas apontados.
A Instituição escolar passa a ser compreendida como um espaço que pode ser
melhor utilizado e aproveitado, trazendo benefícios para a comunidade. Como exemplo
dessa atuação educativa podemos citar o Programa Escola da Família3 e os Centros de
Educação Unificados4 ambos alocados na cidade de São Paulo.
As escolas ficam abertas à comunidade nos finais de semana para que mediante
trabalhos remunerados e voluntariados e/ ou parcerias com empresas privadas sejam
oferecidos aos moradores locais cursos de finais de semana, atividades de lazer. Refletir
sobre a Instituição Escolar, como uma realidade na qual se insere uma trama de relações
e poder, desenvolvidas a partir das suas estruturas materiais e curriculares do ambiente
escolar que tem uma história, leva-nos a buscar explicações centradas não apenas nas
teorias de ensino/aprendizagem como nos apresenta a didática, mas a fixarmos nossas
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Este programa vem sendo desenvolvido desde novembro de 2002 pela Secretaria de Estado da Educação
do Estado de São Paulo e visa a integração escola-comunidade. Em 2018, por exemplo, participaram do
programa mais de 200 mil educadores, 43.355 funcionários, 13.000 bolsistas universitários e diversos
voluntários, sendo que atendem 6 milhões de estudantes e muitos de seus familiares. Cada escola organiza
seu trabalho conforme a necessidade e possibilidades, se dividindo em quatro eixos de trabalho, esporte,
cultura, saúde e trabalho. (Informações obtidas no site do Estado de São Paulo - FDE/SEE)
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O Centro de Educação Unificada, popularmente conhecidos como CEU visa promover o desenvolvimento
integral da criança, jovens e adultos por meio de experiências educacionais inovadoras e atividades
educativas diversificadas e se constitui como polo de desenvolvimento comunitário. Inaugurado desde 2003
foram entregues 45 prédios que estão em funcionamento, mesmo dada a precarização de investimentos da
prefeitura de São Paulo, estes centros de Cultura desenvolvem diversos trabalhos que buscam a
incorporação da comunidade escolar (Informações colhidas no site da Prefeitura Municipal de São Paulo e
entrevistas com professores que trabalham no próprio Centro de Educação Unificado).
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análises na práxis pedagógica, que visa reconhecer o sujeito como um ser histórico que
vivencia processos de ensino e aprendizagem, um ser ativo na relação construtora do
saber.
A pesquisa traz o embasamento ideológico apresentado por Apple e Enguita, que
tem como preocupação abordar temas ligados a uma sociedade transformadora, ao
questionar as relações de poder dentro do ambiente escolar estes autores nos fazem refletir
as mazelas sociais vivenciadas dentro dos muros da escola.
Em uma visão paternalista de governo, nos tornamos muitas vezes escravos de
uma situação acadêmica pontual, que busca em diferentes mecanismos fazer um trabalho
diferenciado, ao abordarmos os projetos pedagógicos desenvolvidos pelas redes estaduais
e municipais de educação na cidade de São Paulo, trazemos à tona esse debate sobre um
currículo que realmente faça a diferença. Vejamos o depoimento da professora Mara,
retirado do livro: Currículo e Educação Básica (FERRAÇO, 2011, p. 28).
Ampliando esta discussão para a área da escolarização, começamos a perceber
que também não tem sentido entender os saberes/ discursos do campo do currículo
isolados dos saberes/ discurso dos demais campos, isto é, dos campos da formação, da
avaliação, do ensino, da didática, da aprendizagem, do planejamento, da gestão, entre
outros. Também aqui se trata de saberes que se hibridizam, que se tecem juntos, que se
mesclam, que se relacionam mutuamente, apesar das tentativas de sistematiza-los em
classificações teórico-metodológicas e/ou das tendências pedagógicas específicas
(MORIN, 2002, p. 564- 565).
Mediante a tantos questionamentos voltamos a pergunta inicial desta trabalho,
será que realmente os projetos culturais em instituições de ensino estadual e municipal,
contribuem para o aumento do rendimento e da qualidade de ensino nas escolas públicas?
A resposta para o questionamento é que mediante aos dados coletados eles contribuem
para o aumento da socialização dos alunos, pois os indicies de educação continuam
baixíssimos precisando ser revistos algumas metodologias de aplicação.
Mas, este é assunto para ser abordado em outra pesquisa, que envolvam
mecanismos de analises de campo, onde se trabalhe o olhar do professor em relação a sua
vivência prática de ensino, a intervenção pontual do professor nas demandas ligadas as
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Considerações finais
Referências
ENGUITA, Mariano. A face oculta da escola. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
MELLO, G. N.; SILVA, R. N. da. A gestão e a autonomia da escola nas novas propostas
de políticas educativas para América Latina. Estud. Avançados, São Paulo, v. 5, n.
12, maio/ago. 1991.
MORIN, E. (Org.). A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro.
Bertand Brasil, 2002.
SÃO PAULO. Governo do Estado de São Paulo. Escola da Família. Disponível em:
<http://escoladafamilia.fde.sp.gov.br/v2/Subpages/sobre.html>. Acessado em: 16 maio
2019.
ZIGMUNT, Bauman. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Madrid:
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Espanha, 2005.
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