O Que o Salmista Tem A Nós Dizer em Salmos 91
O Que o Salmista Tem A Nós Dizer em Salmos 91
O Que o Salmista Tem A Nós Dizer em Salmos 91
Salmo 91 (ARA)
1 O que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente
2 diz ao Senhor: Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu, em quem confio.
3 Pois ele te livrará do laço do passarinheiro e da peste perniciosa.
4 Cobrir-te-á com as suas penas, e, sob suas asas, estarás seguro; a sua verdade é pavês
e escudo.
5 Não te assustarás do terror noturno, nem da seta que voa de dia,
6 nem da peste que se propaga nas trevas, nem da mortandade que assola ao meio-dia.
7 Caiam mil ao teu lado, e dez mil, à tua direita; tu não serás atingido.
8 Somente com os teus olhos contemplarás e verás o castigo dos ímpios.
9 Pois disseste: O Senhor é o meu refúgio. Fizeste do Altíssimo a tua morada.
10 Nenhum mal te sucederá, praga nenhuma chegará à tua tenda.
11 Porque aos seus anjos dará ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os
teus caminhos.
12 Eles te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra.
13 Pisarás o leão e a áspide, calcarás aos pés o leãozinho e a serpente.
14 Porque a mim se apegou com amor, eu o livrarei; pô-lo-ei a salvo, porque conhece o
meu nome.
15 Ele me invocará, e eu lhe responderei; na sua angústia eu estarei com ele, livrá-lo-ei
e o glorificarei.
16 Saciá-lo-ei com longevidade e lhe mostrarei a minha salvação.
Embora o Salmo 91 não tenha autor comprovado, muito provavelmente foi escrito
por Davi, e é um dos salmos de proteção para aqueles que verdadeiramente crêem no
Senhor e agem sinceramente para com Ele.
A partir do versículo 3, ele já passa a descrever Sua proteção sobre coisas invisíveis
como o poder das trevas e os próprios juízos divinos:
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Mais uma vez o salmista compara a proteção do Senhor com as asas de uma ave,
como Jesus mesmo disse ao chorar por Jerusalém que gostaria de reunir seus filhos
como a galinha ajunta seus pintinhos debaixo das asas, mas eles não quiseram (Mt 23:
37-39; Lc 13: 34-35). Em grego, a palavra ‘asa’ é pterux (‘uma asa’), πτερυς, Strong
#G4420, significando: uma asa, ponta de asa, pena de asa. Em hebraico, a palavra usada
neste salmo para penas é ebrah ()אברת, Strong #84, que significa pena, asa, coto de asa,
ponta de asa. E para ‘asas’ (‘sob suas asas, estarás seguro’) a palavra é ‘kanaph’, a
mesma usada em Rt 2: 12 (asas), Rt 3: 9 (capa) e 1 Sm 24: 4; 5 (manto). No hebraico, a
palavra kanaph ( )כנפtem vários significados como: capa, manto (1 Sm 24: 4; 5 –
quando Davi corta a borda do manto de Saul), asa ou asas, alado (pássaro), extremidade
(de uma ave ou um braço), borda, canto (da veste ou de uma roupa de cama), camisa,
bainha (de roupa) aba, ala, um pináculo, cobertura, proteção. Tem, portanto, a
conotação de cobertura, domínio, posse, proteção, como se via nos pedidos de
casamento (Rute e Boaz, por exemplo, em Rt 3: 9: “Disse ele: Quem és tu? Ela
respondeu: Sou Rute, tua serva; estende a tua capa sobre a tua serva, pois tu és
resgatador”). Assim, o salmista procurava refúgio sob o manto protetor do Senhor, sob
Suas asas, como as asas de uma ave-mãe protegem seus filhotes (Sl 61: 4; Sl 63: 7).
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Depois ele diz que a verdade, a fidelidade de Deus, é semelhante a um escudo, tanto
o grande quanto o pequeno. Ele diz: “a sua verdade é pavês e escudo [NVI: a fidelidade
dele será o seu escudo protetor]”. O pavês (hebraico: çinnâ ou tsinnah, צנה, Strong
#6793; em grego, thyreos, de thyras = porta) era o nome dado ao escudo grande; e
‘escudo’ (também chamado de broquel, mâgen) significa o escudo menor. O broquel era
um escudo antigo, redondo e pequeno, segurado por uma alça ou usado no antebraço. O
pavês dava a entender uma proteção maior como algo em torno da pessoa, ou seja, a
proteção do Senhor ao redor dos Seus ungidos. Em outras palavras, ele diz que Deus
será pavês para nos proteger na batalha, e um escudo atrás do qual nós podemos nos
esconder e nos defender.
A palavra hebraica usada aqui para ‘terror’ é pachad (Strong #6343; )פחד, que
significa: terror, horror, pavor, um alarme (repentino), um grande medo de algo (como a
morte, por exemplo).
Aqui, o salmista fala das calamidades que podem acometer as pessoas tanto de dia
quanto de noite, mas Deus estará sempre atento aos seus filhos em todo momento.
O terror noturno pode se referir às coisas terríveis que acontecem à noite como a
invasão de inimigos, os assassinatos, roubos e assaltos, até fogo e tempestades. E ‘a seta
que voa de dia’ pode estar relacionada aos julgamentos de Deus, como a espada, a fome
e a peste, chamadas setas ou flechas de Deus – Dt 32: 23-24; 42; Ez 5: 16. Pode também
dar continuidade ao tema da guerra (pavês e escudo), ao qual ele fez menção no
versículo anterior, ou seja, as armas que nossos inimigos empunham de dia. Se
enfocarmos o lado espiritual desse versículo 5, nós podemos dizer que Deus nos dá
força e proteção contra as coisas ocultas (‘noite’) que são tramadas contra nós e contra
as ameaças claras e patentes (‘dia’). E reforça a idéia de que aqueles que crêem no
Senhor não precisam viver temendo absolutamente nada, pois têm a garantia da
proteção e do livramento dele quando necessário. Embora muitas vezes o Senhor não
nos isente das provas da vida, Ele nos garante a Sua presença conosco nos dando
segurança em todas as situações. Ele não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de
amor e de moderação [NVI: equilíbrio] (2 Tm 1: 7). Também não nos deu o espírito de
escravidão para vivermos outra vez atemorizados, mas nos deu um espírito de adoção,
baseados no qual clamamos: ‘Aba, Pai’, pois somos Seus filhos (Rm 8: 15; Gl 4: 6-7).
6 nem da peste que se propaga nas trevas, nem da mortandade que assola ao meio-
dia [NVI: nem a peste que se move sorrateira nas trevas, nem a praga que devasta ao
meio-dia].
7 Caiam mil ao teu lado, e dez mil, à tua direita; tu não serás atingido.
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As pragas que Deus enviou contra os Egípcios pouparam os Israelitas (Êx 9: 26; Êx
10: 23; Êx 11: 7). Isso quer dizer que Deus faz a diferença entre aqueles que O servem e
os que não O servem. Ele sempre nos justifica em todas as situações diante daqueles
que nos afrontam; mais cedo ou mais tarde, a verdade vem à tona. Quem toca sem razão
em filhos de Deus receberá Dele mesmo uma resposta. E Deus não fará Sua justiça
apenas no futuro, no Dia do Julgamento dos ímpios e da redenção dos justos, mas faz
todos os dias sobre Seus filhos que pedem, choram e clamam diante do Seu trono.
Nosso Deus é um Deus presente, um Deus do hoje, um Deus que se dá a conhecer a nós,
que nos mostra Seus milagres e maravilhas quando pensamos que tudo está acabado.
Pela fé nós podemos ver o destino dos ímpios, pois a bíblia nos fala claramente; por
isso, podemos deixar as nossas causas nas mãos de Deus. Como está escrito em Jó 35:
4: “Dar-te-ei resposta, a ti e aos teus amigos contigo”. E em Jó 19: 28-29: “Se disserdes:
Como o perseguiremos? E: a causa deste mal se acha nele, temei, pois a espada, porque
tais acusações merecem o seu furor, para saberdes que há um juízo”.
9 Pois disseste: O Senhor é o meu refúgio. Fizeste do Altíssimo a tua morada.
10 Nenhum mal te sucederá, praga nenhuma chegará à tua tenda. A NVI escreve:
“Se você fizer do Altíssimo o seu abrigo, do Senhor o seu refúgio, nenhum mal o
atingirá, desgraça alguma chegará à sua tenda”.
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Então, ele continua no versículo 9 dizendo que o Senhor é o seu refúgio e que a sua
morada segura é nos braços de Deus. Ele habita diariamente em Sua presença. Dessa
forma, nenhum mal chegara à sua moradia (‘Nenhum mal te sucederá, praga nenhuma
chegará à tua tenda’). Neste versículo, a palavra ‘praga’, em hebraico, é ‘nega’ (– נגע
Strong #5061), que significa ‘marca’, e procede de ‘naga’: um golpe (de maneira
figurada), uma mancha (concretamente, uma pessoa leprosa); uma ferida ou marca ou
lesão física. Nós podemos dizer que ‘praga’ aqui não se aplica apenas às feridas e lesões
físicas, se levarmos em consideração o significado hebraico da palavra, mas também
podemos crer que nenhuma palavra destrutiva, nenhuma maldição de sentença (‘praga’)
poderá nos atingir, tentando destruir nossa fé em Deus e no Seu poder de livrar e fazer
milagres. Por isso, a NVI escreve: “desgraça alguma chegará à sua tenda”. Nenhuma
desgraça atingirá nossa vida nem os da nossa casa, enquanto permanecermos obedientes
à direção de Deus.
O Senhor nos dá anjos, cuja incumbência é guardar a nossa vida do mal e evitar que
tais pragas nos atinjam. Seus escudos de guerra barram as setas inflamadas do inimigo
para que não cheguem a nós. Quantos livramentos Ele já nos deu, e nós ficamos
sabendo mais tarde! Nós já recebemos muitos, mesmo sem saber. A palavra ‘pedra’ não
apenas diz respeito a pedras naturais, rochas ou a outros obstáculos físicos, mas também
a todo tipo de obstáculo à nossa caminhada cristã. A bíblia fala sobre não pôr pedras de
tropeço no caminho de um cego (Lv 19: 14), ao mesmo tempo em que Jesus disse que
bem-aventurado aquele que não achar nele motivo de tropeço (Lc 7: 23; Mt 11: 6), e
para cortar e lançar fora o que faz um homem tropeçar (Mt 18: 8-9). Isso quer dizer tudo
o que pode desencaminhar um crente, como por exemplo, os escândalos, as doutrinas
não compatíveis com a bíblia, falso ensino, falsa profecia e conselhos de homens, tanto
crentes quanto ímpios (Sl 1: 1). Os anjos não só receberam de Deus essa incumbência
de guardar Seus filhos (como os arcanjos, por exemplo), mas a nós também foi dada por
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Ele a capacidade de dar ordens a eles para que quebrem as armas forjadas contra a nossa
vida, e essas ordens são a própria Palavra de Deus que usamos a nosso favor quando
oramos debaixo da unção do Espírito Santo, pois quando sabemos o que a ela contém,
nós também temos a capacidade de julgar o que está em desacordo com ela. Além disso,
os anjos guerreiam nas regiões celestiais para quebrar as barreiras das trevas a uma
revelação que buscamos de Deus. Daniel foi um exemplo disso.
O leão e a áspide, o leãozinho e a serpente ilustram todo o mal que possa ameaçar o
crente, todas as forças das trevas. O leão é símbolo poder, liderança, além da
manifestação de poderes ou influências espirituais sobre os homens. Daniel viu animais,
como o leão com asas de águia (Dn 7: 4), por exemplo, o símbolo da Babilônia. João
viu o leão como uma das faces dos querubins diante do trono (Ap 4: 7), bem como a
besta que emerge do mar, símbolo do anticristo, cuja boca era como a de um leão (Ap
13: 2). Ezequiel também descreveu o leão como uma das faces dos querubins ao redor
do trono de Deus (Ez 1: 10); Sansão matou um leão, significando a sua vitória sobre um
poder do mal. A serpente, a áspide, a cobra, mencionada em muitos textos bíblicos, em
especial os dos profetas também dizem respeito ao poder de Satanás, muitas vezes
usando exércitos inimigos na terra. Por exemplo, Isaías (Is 14: 29) descreve os reis
assírios com o simbolismo de cobra, áspide e serpente voadora. Já em Is 27: 1, os
inimigos são descritos como a ‘serpente veloz’ (Assíria), a ‘serpente sinuosa’ (o Império
Babilônico, também situado entre os rios Tigre e Eufrates, rios sinuosos) e o monstro
(‘tannin’ ou ‘tanniyn’ ou ‘tanniym’) que está no mar, símbolo do Egito. No livro de
Apocalipse, o dragão é descrito como a antiga serpente (Ap 12: 9; Ap 12: 15-17; Ap 13:
2b, 4); e em Gênesis (Gn 3: 15), ao se referir profeticamente a Jesus como vencedor
sobre a serpente, Deus disse: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua
descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.”
É interessante perceber que neste texto do salmo 91: 13 a palavra traduzida na
nossa bíblia por ‘serpente’, na versão original em hebraico e na KJV é ‘dragão’, a
mesma palavra escrita em Is 27: 1 (‘tannin’ ou ‘tanniyn’ ou ‘tanniym’, תנין, Strong
#8577, significando ‘monstro’, como o monstro marinho muitas vezes descrito no livro
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Na KJV, ‘Porque a mim se apegou com amor’ está escrito: ‘Ele colocou seu amor
sobre mim’, mas a palavra hebraica ‘amor’ neste salmo não procede do verbo usado
para ‘amar’ (Ahavá ou ahvá, = האהבamor). Neste texto a palavra usada é chashaq, חשׁק,
Strong #2836, que significa ‘deleite, se deleitar’, que tem origem numa raiz primitiva
que significa: apegar-se, ou seja, unir-se, (figurativamente) amar; deleitar-se ou se
entregar; ter um prazer, ter um desejo, ansiar por, começar a amar. Assim, a expressão,
‘Porque a mim se apegou com amor’ transmite mais a idéia de ter por perto, abraçar
apertado com amor, com afeição (Dt 7: 7; Dt 10: 15) ou se deleitar em alguém.
Seguindo: ‘eu o livrarei; pô-lo-ei a salvo’ ou ‘eu o resgatarei; eu o protegerei’, na KJV é
traduzida como ‘eu o estabelecerei no alto’; e a palavra hebraica usada para ‘no alto’ ou
‘a salvo’ ou ‘eu o protegerei’ é sagab, שׂגב, Strong #7682, que significa ‘exaltado’.
Procede de uma raiz primitiva que quer dizer: ser ou tornar elevado ou inacessível; por
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implicação, seguro, forte (literal e figurativamente); defender, exaltar, ser excelente, ser
colocado no alto, em posição elevada, estar seguro, estabelecer no alto, ser forte demais.
A outra expressão ‘porque conhece o meu nome’ dá a idéia de um relacionamento
íntimo e experiente com Deus (Jo 1: 18, onde ‘viu a Deus’ significa ‘compreendeu Sua
plenitude’).
Então, podemos entender o versículo da seguinte forma: porque o salmista de
deleita em Deus e quer ficar perto dele e porque O conhece mais profundamente, Ele o
livrará de todo o mal, o protegerá e o exaltará, o colocará em posição de honra. Em
outras palavras, ele é favorito do próprio Deus e por isso, recebe Seu consolo. Mais do
que isso, conhecerá o que é a salvação.
15 Ele me invocará, e eu lhe responderei; na sua angústia eu estarei com ele, livrá-
lo-ei e o glorificarei [NVI: Ele clamará a mim, e eu lhe darei resposta, e na adversidade
estarei com ele; vou livrá-lo e cobri-lo de honra].