Medida Protetiva Modelo

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 6

EXMO (A) SENHOR (A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DO 4°

JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR DA COMARCA DE


BELO HORIZONTE/MG

Autos n° 0234896-78.2020.8.13.0024

JOSÉ CARLOS DA CRUZ FILHO, já qualificado nos autos em epígrafe, por


meio de sua defensora dativa vem à presença de V.Exa. para apresentar

CONTESTAÇÃO ÀS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA,


apresentando as causas e circunstâncias que justificam o descabimento da medida, para o
que aduz as seguintes razões:

1. DA REAL VERSÃO DO REQUERIDO

Que, apesar das medidas cautelares de urgência, promovidas pela suposta vítima,
deseja o requerido descortinar as inverdades alegadas pela requerente. Na audiência de
acolhimento restou esclarecido pelo requerido que houve uma discussão, os ânimos se
exaltaram e a requerente cuspiu no requerido e atirou um vaso em seu braço, momento no
qual o requerido para se defender empurrou a requerente. E foi só o que houve, não
existindo injúrias por parte do requerido. Inclusive, em sua versão, a requerente confirma
que atirou um vaso no braço do requerente (f.21)

Não houve qualquer ameaça que justificasse o medo da requerida de sofrer


agressões ou que indicasse que sua vida e integridade física estivesse em perigo. Em
verdade, apenas houve um desentendimento familiar mais exaltado, que não culminou em
lesão corporal, apenas em vias de fato, com recíprocas investidas.
2. DA MAL INTERPRETADA AGRESSÃO

O requerido alega que apenas empurrou a requerente para se defender durante a


discussão acalorada que tiveram. Nota-se que pela narração dos fatos a suposta conduta
dirigida à requerida não se extrai a intenção de macular a sua integridade física, pois
concluiu-se que as leves ofensas físicas não acarretaram a incapacidade para
ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias, assim como não resultou na mesma
qualquer tipo de deformidade passageira e muito menos permanente, nem a perda e
nem a inutilização de qualquer membro, sentido ou função, ou seja, a requerente
continuou plenamente apta para trabalhar, estudar e seguir normalmente a sua vida.

3. DA FALTA DE DATA DE VALIDADE PARA AS MEDIDAS


PROTETIVAS

Na decisão de f. que deferiu medidas protetivas não houve qualquer menção


quanto ao prazo de validade destas. Como constituem restrições de direito ao requerido, é
de se esperar que tais restrições possuam um limite temporal estabelecido, sob pena de se
constituir verdadeira sanção perpétua, o que é vedado pelo ordenamento constitucional
pátrio. Deste modo, requer seja a decisão de f.22 revista para alterar as medidas
protetivas, no sentido de se conferir prazo para a eficácia das mesmas.

4. DA FALTA DE EXAME DE CORPO DE DELITO NOS AUTOS

Requerido pela autoridade policial à f.10, o exame de corpo de delito não


foi realizado. Ora, para que se consubstancie a existência das agressões referidas
pela requerente, era necessária a feitura do exame, sem o qual a concessão das
medidas protetivas e sua manutenção são ilegais, eis que falta materialidade aos
fatos narrados à inicial. Cabe ressaltar que não há nos autos ao menos um relatório
médico que fale sobre as lesões supostamente sofridas pela requerente.

Deste modo, resta insubsistente nos autos as provas das alegações da


requerente, de modo que as medidas protetivas não deveriam ter sido deferidas.
Deste modo entende o TJMG:

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL -


VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - DELITO DE LESÃO
CORPORAL - ART. 129, §9º, DO CP - DECISÃO QUE
JULGA SUBSISTENTES
AS MEDIDAS PROTETIVAS ANTERIORMENTE
DEFERIDAS E EXTINGUE O FEITO COM RESOLUÇÃO
DO MÉRITO - RECURSO DA DEFESA - AUTORIA DOS
FATOS - AUSENCIA DE COMPROVAÇÃO EFICAZ -
DEPOIMENTO DA SUPOSTA VÍTIMA - ÚNICA E
PRIMORDIAL PROVA - IMPOSSIBILIDADE -
AUSÊNCIA DE HIERARQUIA ENTRE AS PROVAS -
NÃO COMPROVAÇÃO DE EXISTÊNCIA DAS LESÕES -
AUSÊNCIA DE EXAME DE CORPO DE DELITO - ÔNUS
DA PROVA DA ACUSAÇÃO - ART. 156 DO CPP
- MEDIDAS PROTETIVAS INSUBSISTENTES E
INDEFERIDAS - RECURSO PROVIDO. A palavra da
vítima, mesmo que possua relevo especial em processos que
envolvam violência doméstica, não possui poder probante
absoluto, pois a parte não é detentora de fé-pública, ou seja,
necessita vir, minimamente, corroborada pelo restante
probatório dos autos, o que não ocorreu neste processo.

(...)No mérito, sustenta a Defesa que os boletins de


ocorrência juntados aos autos são unilaterais, deles constando
apenas a versão apresentada pela vítima, além de que
inexistente qualquer exame de corpo de delito a
comprovar as supostas agressões físicas, nem mesmo
testemunhas a corroborar qualquer tipo de agressão,
física ou verbal. Sustenta mais, que a acusação não se
desincumbiu do seu ônus de provar o fato típico, antijurídico
e culpável. (...)

(...) Ora, a palavra da vítima, mesmo que possua


relevo especial em processos que envolvam violência
doméstica, não possui poder probante absoluto, pois a parte
não é detentora de fé-pública, ou seja, necessita vir,
minimamente, corroborada pelo restante probatório dos
autos, o que não ocorreu neste processo. (...)

(...) Em caso análogo assim já decidiu este eg. TJMG:


"EMENTA: DIREITO PROCESSUAL PENAL - DELITO DE ROUBO
- PROVA INCRIMINADORA COLHIDA EXCLUSIVAMENTE NO
INQUÉRITO POLICIAL - INSUFICIÊNCIA - ABSOLVIÇÃO
MANTIDA - RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. Não se
pode reputar suficiente para uma condenação criminal
somente a declaração prestada pela vítima, na fase
extrajudicial, que não encontra respaldo em qualquer outra
prova produzida sob o crivo do contraditório, mormente
após a entrada em vigor da Lei nº 11.690/2008, que deu
nova redação ao art. 155 do Código de Processo Penal".
(TJMG - APELAÇÃO CRIMINAL N° 1.0363.03.009686-3/001 -
COMARCA DE JOÃO PINHEIRO - RELATOR: EXMO. SR. DES.
ADILSON LAMOUNIER; j. 18 de janeiro de 2011).
Ora, a teor do art. 156 do CPP, cabia à acusação o ônus
probatório, o qual não se desincumbiu de produzir a
contento, ou seja, não foram produzidas provas suficientes
a embasar o deferimento das medidas protetivas
pretendidas.
Na verdade, não restou demonstrada a existência de
qualquer risco ou perigo à incolumidade física ou psíquica
da suposta vítima, a justificar o deferimento de uma
medida protetiva de urgência, com suas graves
consequências.
Ante ao exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso, para
reformar a decisão objurgada, de forma a tornar
insubsistentes e, consequentemente, indeferir as medidas
protetivas pretendidas pela apelada, Dulcéia Aparecida de
Gouveia. ( Agravo de Instrumento-Cr 1.0024.13.098398-
4/001 0983984-88.2013.8.13.0024 (1).Relator(a)Des.(a)
Sálvio Chaves Órgão Julgador 7ª CÂMARA CRIMINAL.
Grifos nossos)

E ainda em outra decisão do TJMG:

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - LEI MARIA DA PENHA - MEDIDAS


PROTETIVAS - NECESSIDADE E URGÊNCIA NÃO DEMONSTRADAS -
DESINTERESSE DA OFENDIDA - LAPSO DECORRIDO DESDE OS FATOS -
ATUALIDADE OU IMINÊNCIA DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA -
INEXISTÊNCIA.

- As medidas protetivas da Lei Maria da Penha devem ser concedidas


em face de violência atual ou iminente.

- Decorrido longo período de tempo desde os fatos não se vislumbra


urgência que justifique o seu deferimento, mormente se a suposta
vítima não quis representar contra o seu algoz, tendo se recusado a
ser submetida a exame de corpo de delito. ( Apelação
Criminal 1.0024.11.232662-4/001 2326624-
84.2011.8.13.0024 (1) Relator(a)Des.(a) Júlio Cezar
Guttierrez, Órgão Julgador 4ª CÂMARA CRIMINAL.
Grifos nossos)

Assim sendo, ante as consequências gravosas das medidas protetivas para o


requerido, requer que estas sejam revogadas, vez que não há nos autos qualquer prova no
sentido de a integridade física ou psicológica da vítima estar ameaçada. Há apenas a
palavra da vítima e o boletim de ocorrência, que são documentos e depoimento parcial, que
não têm o condão de provar as supostas agressões narradas à inicial.

5. DA DESIGNAÇÃO DE AUDIÊNCIA PARA A OITIVA DE


TESTEMUNHAS

O requerido pugnou à f. 34 para que fosse ouvido em juízo, e disse ainda ter várias
testemunhas dos fatos. Deste modo, requer seja designada audiência para a oitiva das
testemunhas do requerido. Por falta de contato com o representado, esta dativa pugna pela
intimação do requerido para que apresente o seu rol de testemunhas, qualificando-as.

6. DOS PEDIDOS

Postas tais considerações e por entendê-las prevalecentes sobre as Medidas


Protetivas de Urgência, e confiante no discernimento afinado e no justo descortino de
Vossa Excelência, a defesa requer, alternativamente:

6.1. Seja recebida a presente contestação, para que surta os seus efeitos legais.

6.2. A imediata REVOGAÇÃO das Medidas Protetivas de Urgência em desfavor


do requerido.
6.3 A determinação de data de término para a validade das medidas protetivas de
urgência, caso entenda V.Exa pela não revogação das mesmas.

6.4 A intimação do requerido para que apresente e qualifique as testemunhas que


tenha a seu favor, uma vez que esta dativa possui dificuldades de comunicação com o
mesmo.

6.5 Sejam as testemunhas indicadas pelo requerido intimadas da audiência a ser


designada.

6.6 Seja ouvido o ilustre MP.

6.7 Seja deferida a produção de todas as provas em direito admitidas, mormente a


prova testemunhal.

Nestes termos, pede e espera deferimento

Belo Horizonte, 12 de setembro de 2020.

Martilene Martins da Silva

OAB/MG 186.721

Você também pode gostar