Sissi e o Último Brilho Paulo Rezzutti
Sissi e o Último Brilho Paulo Rezzutti
Sissi e o Último Brilho Paulo Rezzutti
BRILHO DE UMA
DINASTIA
Paulo Rezzutti
Cláudia Thomé Witte
SISSI E O ÚLTIMO
BRILHO DE UMA
DINASTIA
Editora executiva
Izabel Aleixo
Produção editorial
Ana Bittencourt e Carolina Vaz
Edição de texto
Adriana Moura
Preparação
Carolina M. Leocadio
Revisão
Marcela Ramos
Diagramação
Alfredo Rodrigues
Rezzutti, Paulo
Sissi e o último brilho de uma dinastia : uma breve história não contada dos Habsburgos /
Paulo Rezzutti, Cláudia omé Witte. – São Paulo: LeYa Brasil, 2022.
264 p. : il. (Uma breve história não contada)
Bibliogra a
ISBN 978-65-5643-182-6
Introdução
Árvore genealógica da imperatriz Sissi
AEIOU
Ventos de mudança
Herdeiros de um império
Francisco José, o desejado
Novo imperador, velhas ideias
Uma noiva para o imperador
Sissi, a indomável
Um casamento imperial
Um início difícil
A imperatriz do povo
Altos e baixos
A viajante
A disputa na Alemanha
A rainha da Hungria
Uma tragédia mexicana
O culto à beleza
A dama do dominó amarelo
Mayerling
O ocaso da imperatriz
O herdeiro rebelde
Sarajevo
O último imperador
A serviço do país, no exílio
Os Habsburgos muito além do trono
Referências bibliográ cas
A última foto de Sissi, à esquerda, acompanhada por sua dama de
companhia Irma Sztáray. Imagem tirada sem seu conhecimento,
em setembro de 1898, enquanto caminhavam em Genebra.
INTRODUÇÃO
(1), (2), (3), (4): Números entre parênteses indicam a ordem dos
casamentos
Linha contínua, geração do primeiro casamento
Linha tracejada, geração do segundo casamento
Apressão para que Francisco Carlos e Sofia tivessem filhos havia sido
enorme, dado que era tido como improvável que Fernando, o então
herdeiro do trono, fosse fisicamente capaz de gerar descendentes. Para
piorar, Sofia sofreu diversos abortos espontâneos nos primeiros anos de
casamento. Até que, em 18 de agosto de 1830, conseguiu dar à luz um
menino saudável, que recebeu o nome de Francisco José. O nascimento do
muito desejado sucessor foi celebrado por todo o Império Austríaco, mas
principalmente pelo avô, o imperador Francisco I, que assim via assegurada
a continuidade do trono pelo qual tanto lutara.
A posição de herdeiro aparente fez com que Francisco José crescesse como
o centro das atenções da corte austríaca. Sua mãe, Sofia, tratou de planejar
sua educação com base nessa ideia de que um dia ele seria o imperador da
Áustria. Os diários dela trazem uma infinidade de detalhes sobre o
desenvolvimento físico e mental do menino.
A aia de Francisco José, responsável por sua educação até os seis anos, era
a baronesa Louise von Sturmfeder, uma aristocrata alemã inteligente,
instruída e capaz. Além de educar o herdeiro, a baronesa foi também
responsável pela educação dos outros arquiduques, irmãos dele. Ela já
conhecia Sofia da corte da Baviera; sua irmã mais nova, Fanny,
acompanhara a imperatriz d. Amélia ao Brasil quando de seu casamento
com d. Pedro I. Louise fora recomendada ao imperador por Metternich
quando a arquiduquesa ainda estava grávida. As duas tornaram-se
confidentes, e a baronesa viria a ser uma grande influência na formação do
caráter de Francisco José.
Francisco José tinha pouco tempo livre dentro do rígido sistema de ensino a
que foi submetido. Aos seis anos, entrava para a primeira aula às 7h30,
antes do café da manhã, e terminava a última às 19 horas. Um ano mais
tarde, o tempo dedicado às lições somava 32 horas por semana, e quando
ele chegou aos 16 anos o regime de estudos começava às 6 horas e só se
encerrava às 21 horas.
Mais tarde, no mesmo dia, Francisco José fez sua primeira aparição pública
como imperador ao inspecionar as tropas estacionadas em Olmütz.
Enquanto passava a cavalo, ele recebeu uma estrondosa ovação dos
soldados entusiasmados. Ao retornar ao palácio, foi recebido por um
membro da corte com a saudação “Sua Majestade”. Ao ouvir isso, de
acordo com a tradição, Francisco José teria murmurado: “Adeus, minha
juventude…”.2
NOVO
IMPERADOR,
VELHAS
IDEIAS
“Eu enviei meu anjo para guiá-lo”,
alegoria da subida de Francisco
José ao trono. Litografia de
Vinzenz Katzler, 1848.
Por sua vez, ao ver o filho passar tão perto da morte, a arquiduquesa Sofia
chegou à conclusão de que era urgente que Francisco José tomasse mais um
passo decisivo para o futuro da dinastia: ele deveria se casar.
UMA NOIVA
PARA O
IMPERADOR
Elisabete Amália Eugênia tinha sido o nome escolhido para a quarta dos
nove filhos do duque Maximiliano na Baviera e da duquesa Ludovica. Ela
nasceu na noite de Natal, 24 de dezembro de 1837, às 22h45, no Herzog-
Max-Palais, o palácio da família em Munique. O fato de ter nascido num
domingo e com um dente de leite já visível foi visto como bom presságio,
que indicavam que ela teria sorte na vida. Quando bebê, Elisabete era
chamada de Lisi, mas sua dificuldade em pronunciar o próprio apelido fez
com que ele evoluísse para Sisi dentro da família. Apenas os mais íntimos
chamavam-na assim; outros amigos costumavam chamá-la de Elise.
O “bom duque Max”, como era conhecido por sua generosidade, foi tão
ausente como pai quanto como marido. De temperamento artístico e
excêntrico, ele foi um dos grandes músicos de cítara, instrumento típico da
Baviera, no século XIX. Também mantinha, no terreno de um de seus
palácios, a arena de um circo que ele mesmo dirigia, às vezes tendo outros
aristocratas como atração, e chegou a se aventurar como dramaturgo sob o
pseudônimo de Phantasius. Ele gostava de frequentar tavernas e se misturar
ao povo comum, e até se permitia ser contratado por plebeus para tocar em
festas. Mas passava boa parte do tempo viajando para os países
mediterrâneos, a África ou o Oriente, onde se dedicava à música, a caçadas
e a pesquisas científicas. A mais importante dessas viagens iniciou-se
quando Sissi tinha poucos meses de idade, em 1838, e levou-o até o Egito e
o Oriente Médio. Max publicou o relato dessa jornada no livro Wanderung
nach dem Orient im Jahre 1838 [Jornada para o Oriente no ano de 1838],
considerado um dos relatos mais importantes sobre a cultura do Oriente
Médio no período.
Essa paixão pela natureza era uma das poucas coisas que Ludovica e Max
tinham em comum, embora não a apreciassem juntos. Ambos gostavam de
longas caminhadas e passeios a cavalo, e todas as crianças faziam
atividades físicas e aprenderam a montar muito bem. Afirma-se que, muitas
vezes, os mais jovens fugiam das aulas para correr pela floresta, e isso seria
uma das causas de sua educação irregular. Além de cavalos, Possenhofen
abrigava inúmeros cachorros, pássaros e outros animais. Foi nesse
ambiente idílico no castelo que eles chamavam de “Possi” que Sissi e seus
irmãos cresceram, unidos uns aos outros.
Assim como seu pai, Sissi preferia a vida ao ar livre aos salões e a
informalidade de Possenhofen à atmosfera sufocante da corte. Enquanto
Ludovica dedicava-se a dar uma educação esmerada a sua favorita Helena,
considerada pela família a mais bonita, inteligente e talentosa, a Sissi, de
quem se esperava pouco, era permitido levar uma vida desregrada. Os
estudos ocupavam apenas duas horas do seu dia, e, mesmo assim, a
governanta, a baronesa Louise Wulffen, observaria que a garota era a mais
sonhadora e distraída dos oito irmãos. Por outro lado, era a mais gentil e a
mais preocupada com os sentimentos dos outros.9
Sissi tinha grande admiração pela irmã, Helena, quatro anos mais velha,
com quem costumava conversar em inglês, mas era mais próxima do irmão
imediatamente mais novo, Carlos Teodoro. Ela era a favorita do pai, com
quem compartilhava o espírito independente. Max ensinou-a a tocar a
cítara, e Sissi frequentemente o acompanhava em suas caminhadas pelas
montanhas. Além de montar e caminhar, ela também gostava de nadar no
lago. O amor pelas atividades físicas a acompanharia por toda a vida.
Essa juventude sem limites teve um fim súbito quando Sissi ficou noiva de
Francisco José. Sem nunca ter sido preparada para um papel de grandeza,
ela teve de trocar a liberdade de Possenhofen pela rigidez da corte
vienense.
UM
CASAMENTO
IMPERIAL
A imperatriz Elisabete em 1854. Óleo
sobre tela atribuído a Franz Schrotzberg.
As duas famílias ainda permaneceriam em Bad Ischl por mais uma semana,
entre passeios, bailes e caçadas. Francisco José até mesmo arranjaria para
que um balanço fosse instalado nos jardins para sua jovem noiva. Sissi,
porém, continuava se sentindo inadequada. Ao ser cumprimentada por uma
das damas da corte austríaca, ela retrucou: “Vocês vão ter que ser muito
pacientes comigo”.11 Tampouco as outras mulheres da família estavam à
vontade. Magoada por ser preterida e considerando-se velha, aos 19 anos,
para arranjar outro par, Helena só pensava em voltar para casa, um
sentimento que ela compartilhava com Ludovica, sobrecarregada pelo
excesso de vida social e preocupada com Sissi, cujo acanhamento era
constantemente desafiado por sua nova posição.
Em comemoração ao noivado, a arquiduquesa Sofia comprou o palácio
onde Francisco José e Sissi se conheceram. Ela o renovaria para que se
tornasse a residência de verão do casal imperial, a qual passaria a ser
conhecida como Kaiservilla. A arquiduquesa mandaria construir duas
novas alas, de modo que o edifício tivesse o formato de um E, de
“Elisabete”, que ainda hoje se reconhece em fotos aéreas. Atualmente,
parte do palácio é residência de alguns dos descendentes de Sissi e
Francisco José, enquanto o restante abriga um museu que conta a história
do casal.
Francisco José, por sua vez, ocupado com os assuntos de Estado e temeroso
de contrariar a mãe, oferecia à esposa pouco conforto e nenhuma proteção
contra as intrigas da corte. Ele pensava que o tempo resolveria os conflitos;
enquanto isso, procurava cobrir Sissi de presentes para distraí-la, sem
perceber que, como a parte mais vulnerável, ela tinha mais a perder.
Sentindo-se acuada, a imperatriz começou a se isolar cada vez mais nos
próprios aposentos, alimentando-se cada vez menos e abrindo-se apenas em
seus diários e poemas. Sua saúde ficou abalada, e sua solidão era tão
grande que apenas duas semanas após o casamento ela pediu ao marido que
convidasse o irmão favorito dela, Carlos Teodoro, para passar algumas
semanas em Viena.
Por essa época, todas as partes do império ansiavam por conhecer a jovem
imperatriz. Já na época do casamento apelos a ela haviam surgido na forma
de panfletos celebrando a união:
Você foi eleita pelos Céus para coroar a reconciliação entre um príncipe e
seu povo e para ligar para sempre os amantes separados. O que o homem,
brandindo a espada da justiça, não pode alcançar, a mulher vestindo a
folhagem da misericórdia trará.12
O casal retornou para Viena a tempo para a festa de Corpus Christi, na qual
Sissi, na condição de imperatriz, representou um papel principal a
contragosto. Ela receava as comparações com a majestade imponente de
Maria Ana, a mulher do ex-imperador Fernando, mas sua atitude graciosa
durante a procissão rendeu elogios. A viagem deveria continuar para a
Polônia e a Galícia, mas a saúde de Sissi causava preocupações. Ela sofria
de vômitos e dor de cabeça e ficou em Viena. A arquiduquesa Sofia
arranjou para que um médico a visse, e ele confirmou que a causa dos
problemas era na verdade uma felicidade. Apenas dois meses depois do
casamento, Francisco José e Sissi tinham cumprido um dos maiores
deveres de um casal imperial: ela estava grávida pela primeira vez.
A
IMPERATRIZ
DO POVO
Sissi e Francisco José com as
primeiras filhas do casal. Sofia está
no colo de Sissi, e Gisela, no berço.
Desenho de Ferdinand Laufberger
gravado por J. Sonnenleiter e
I. Lechleitner, Viena, 1856.
Mais tarde, Sissi alegaria que os filhos haviam sido tirados dela logo após o
nascimento, mas isso parece ser uma afirmação exagerada. Embora a
arquiduquesa-mãe tenha se encarregado das crianças desde o parto, é mais
provável que ao menos nas primeiras semanas elas tenham sido deixadas ao
lado da mãe. A própria Sissi afirmou numa carta a parentes na Baviera, três
semanas após o nascimento de Sofia, que a bebê ficava com ela quase todo
o tempo, o que lhe causava imensa alegria. Porém, intimidada pela sogra,
não ousava desafiar as determinações dela e mais tarde expressaria
arrependimento por nunca ter tido uma relação próxima com os filhos.
Por sua vez, Sissi estreou conquistando corações com seu charme e
interesse pela cultura local, mas logo foi distraída por um problema maior:
a pequena Gisela caiu doente com sarampo. Quando ela estava melhorando,
Sofia também pegou a doença e teve um caso mais grave, fazendo o casal
adiar a partida para outras cidades da Hungria para cuidar dela. A viagem
foi retomada quando os médicos declararam a menina fora de perigo. Mas,
cinco dias mais tarde, quando estavam em Debrecen, uma mensagem
alcançou Francisco José e Sissi avisando que Sofia havia piorado muito.
Em 28 de maio, os dois estavam de volta a Buda, e Sissi não saiu mais do
lado da filha, mas era tarde demais: Sofia faleceu no dia seguinte.
ALTOS E
BAIXOS
Logo, os médicos da corte perceberam que ela estava com uma febre que
não cedia. Os jantares e recepções previstos foram cancelados, e Sissi foi
rapidamente mandada para Laxenburg, onde ficou cercada de médicos.
Dessa vez, até Sofia estava alarmada e acreditou que a nora estava à beira
da morte. Francisco José ficou tremendamente preocupado, e até seus
ministros notaram a perturbação do imperador. Por fim, os médicos
chegaram ao diagnóstico equivocado de tuberculose galopante e
recomendaram uma nova viagem.
Dessa vez, o destino foi a ilha de Corfu, na Grécia. Sissi fizera uma parada
ali durante seu retorno da ilha da Madeira e ficara encantada com a beleza
do lugar. Mais uma vez, Francisco José seguiu com ela parte do caminho, e
Maximiliano ficou encarregado de levá-la para a ilha em seu iate. Como na
primeira viagem, os sintomas aliviaram-se e o apetite de Sissi retornou
antes mesmo que ela chegasse ao destino.
A ilha era parte do protetorado britânico das ilhas Jônicas, e Sissi ficou
hospedada em Mon Repos, um palacete próximo da cidade de Corfu
disponibilizado para ela pelo alto comissário local, Henry Stork. Quando as
ilhas Jônicas passaram para o domínio da Grécia, em 1864, a casa se tornou
propriedade da família real grega, e lá nasceram diversos de seus membros,
inclusive o príncipe Philip, que se casaria com a rainha Elisabete II da
Inglaterra.
Sissi apaixonou-se pelo local, onde ela podia escalar uma colina próxima
todas as manhãs e passar quanto tempo quisesse olhando o mar do
Mediterrâneo. Mais uma vez, sua irmã Helena deixou o marido e os filhos
pequenos na Alemanha para se juntar a ela. De início, ficou assustada com
a palidez da irmã mais jovem, mas, em alguns dias, escreveu para a mãe
dizendo que Sissi começara a se alimentar melhor, tossia menos e estava
sempre alegre. Francisco José também se juntou à esposa por alguns dias
em outubro e observou satisfeito a melhora na saúde dela. Ele havia
enviado diversos emissários para verificar o progresso de Sissi, nem todos
eles delicados o bastante, o que a irritou e prejudicou a relação entre o
casal. Mas a visita aproximou-os novamente, e os dois faziam longas
caminhadas juntos. O imperador aproveitou para inspecionar as
fortificações na ilha e observar incógnito as manobras militares dos
soldados britânicos.
Os primeiros esforços para unir esses povos vieram com uma aliança
aduaneira criada em 1834, abrangendo os 39 estados da Confederação
Germânica, uma associação estabelecida pelo Congresso de Viena. No
início da década de 1860 já havia uma série de esforços para incorporar
esses territórios sob uma administração única, embora houvesse propostas
divergentes sobre quem deveria estar no comando, a Áustria ou a Prússia.
Foi só após a derrota para a Prússia que Francisco José veio a reconhecer a
situação única da Hungria entre todos os povos do Império. Ao contrário
dos germânicos com a Prússia e dos eslavos com a Rússia, eles não tinham
uma “pátria-mãe” estrangeira para onde se voltar como referência cultural
e, portanto, só podiam contar com o próprio orgulho nacional para manter
sua identidade. No confronto com outros países, esse caldeirão de
inquietude tornava-se perigoso, pois podia ser manipulado pelos poderes
estrangeiros para enfraquecer o regime de Viena. Isso levou a questão da
Hungria para o centro das atenções do império.
Por essa época, Sissi já não era mais a garota assustada, oprimida pela
etiqueta da corte e sem autoconfiança. Ela também estava mais forte
fisicamente, graças às recomendações médicas de dieta rica em proteína
animal e temporadas anuais de cura pelas águas medicinais e à rotina
extenuante de exercícios a que se impunha. Até mesmo seus poemas
ganharam mais qualidade, com uma maior dedicação de sua parte à
literatura séria. Seu poeta favorito era o alemão Heinrich Heine, cuja obra
havia sido proibida em seu próprio país como subversiva, por suas ideias
socialistas e sua crítica à religião.
Fortalecida por ter ganhado essa batalha, Sissi tomou a decisão de partir
para uma guerra maior: intervir em favor da causa da Hungria. Entre as
pessoas de seu séquito de origem húngara, estava Ida Ferenczy, uma jovem
bonita, inteligente e culta que se tornou a companhia favorita da imperatriz.
Por ser da baixa nobreza, Ida não podia ser admitida como dama de
companhia, por isso recebeu o título de “leitora da imperatriz”. A corte
desprezava-a por sua origem inferior, mas Ida mantinha-se à parte das
fofocas, inteiramente dedicada à sua soberana. Ela tinha entre suas tarefas
acompanhar Sissi nas viagens e ler para ela em húngaro para melhorar sua
compreensão da língua. Por causa disso, as duas podiam comunicar-se
livremente nesse idioma, mesmo em frente das damas austríacas, que não o
compreendiam.
Andrássy estava com 42 anos, catorze a mais que Sissi. Alto, de cabelos
escuros e atraente, incorporava a imagem de herói romântico devido à vida
aventurosa que levara desde seu envolvimento na revolução de 1848. Ele
estava em Constantinopla, para onde havia sido enviado para convencer o
governo do Império Otomano a não repatriar rebeldes húngaros para a
Áustria, quando recebeu a notícia de sua condenação à morte por traição.
Então se exilou, primeiro em Londres, depois em Paris, vivendo das
generosas rendas de suas propriedades na Hungria e brilhando na sociedade
internacional por seu charme, boa aparência e conversa inteligente e
espirituosa. Com as portas da aristocracia abertas para ele, tratou de
aproveitar esses novos contatos com os mais poderosos políticos da Europa
para angariar simpatias à causa húngara.
Foi Andrássy, junto com Deák, quem idealizou o que veio a ser o
Compromisso Austro-Húngaro de 1867. Por esse acordo, passou a haver
uma união real entre a Áustria e a Hungria, ou seja, ambos os países
compartilhavam o soberano, o sistema monetário e os assuntos externos,
mas internamente mantinham sua independência, cada um com seus
próprios parlamentos, legislações e sistemas judiciários e até mesmo
impostos e cidadanias separadas. Essa monarquia dual, com duas nações de
igual status liderando o império, traria uma solução aceitável às duas
partes, mas causaria conflitos com os outros povos, particularmente os
eslavos, que passaram a se sentir menosprezados no arranjo.
Essa “filha húngara” viria a ser a favorita de Sissi, que tomaria sua
educação nas mãos e daria a ela toda a atenção e afeto que fora privada de
conceder aos mais velhos. Maria Valéria seria criada sobretudo em
Budapeste, tendo o húngaro como primeira língua, e mais tarde
acompanharia a mãe em suas constantes viagens. As duas raramente
ficariam separadas, e a filha caçula registraria em seus diários as narrativas
que Sissi confidenciava a ela sobre sua juventude infeliz.
Quatro anos depois, Francisco José pressionou o irmão, que havia acabado
de ser nomeado vice-rei da Itália, a aceitar o casamento com Carlota da
Bélgica. O casal instalou-se inicialmente em Milão, de onde ele governava
os territórios italianos do Império Austríaco, e os dois construíram juntos o
castelo de Miramar, onde foram viver depois que Maximiliano foi
removido do posto de governador da Lombardia-Vêneto, em fevereiro de
1859, e de cujos jardins ele se ocupava pessoalmente. Porém a sombra de
Maria Amélia sempre perseguiu o relacionamento, e ele passou muito
tempo em viagens, incluindo à ilha da Madeira e ao Brasil, onde realizou
expedições e conheceu o irmão dela e seu primo, o imperador d. Pedro II.
O arquiduque não teve uma boa impressão do Brasil, mas retornou para
Miramar com muitas plantas e beija-flores, o pássaro preferido de Maria
Amélia.
Baseando-se nos mesmos princípios de justiça social que haviam sido seus
guias na Itália, Maximiliano criou uma regulação trabalhista e mostrou
interesse pelas condições dos indígenas, frequentemente maltratados nas
grandes fazendas de seus apoiadores. Para tentar mitigar seu
desconhecimento sobre o povo que governava, realizou uma longa viagem
a cavalo entre agosto e outubro de 1864, quando, vestido com roupas
comuns, procurou conversar diretamente com a população. Durante suas
ausências, Carlota assumia a frente do governo, o que a tornou de fato a
primeira mulher a governar o México.
Seu cuidado com o peso, numa época em que o padrão de beleza pedia
mulheres mais robustas, era quase incompreensível. Sissi manteve-se muito
magra durante toda a vida. Com 1,72 metro de altura – vários centímetros
mais alta que o marido –, tinha um peso que variava entre 45 e cinquenta
quilos, a não ser, naturalmente, quando estava grávida. Sua cintura tinha
apenas cinquenta centímetros, que os espartilhos reduziam ainda mais para
quarenta. Para manter essa circunferência tão estreita, ela usava um
espartilho especial apertado em três lugares diferentes, num processo que
chegava a demorar uma hora.
Ela se pesava todos os dias e mantinha uma dieta restritiva, que, em certos
períodos, resumia-se a líquidos como sopas ralas, laranjas, leite e cerveja.
A única exceção que fazia era para sorvetes e eventualmente doces, em
particular pétalas de violeta cristalizadas, às quais não resistia. Essa dieta
acabou por levá-la a uma profunda anemia, e parte do tratamento para sua
recuperação consistia no consumo de grandes quantidades de carne
vermelha. Para fazer isso sem abandonar seu regime, Sissi mandava
espremerem carne de vaca num equipamento e em seguida bebia o suco
resultante.
Um dos recursos que Sissi usava para afastar a fome era o fumo. Na época,
cigarros e charutos eram tidos como um hábito exclusivamente masculino,
indigno de uma dama, portanto a notícia de que Sissi e sua irmã Maria
fumavam tornou-se assunto internacional. Em 1890, o jornal Los Angeles
Times publicou que a imperatriz austríaca fumava de trinta a quarenta
cigarros turcos por dia, além de um charuto depois do jantar. Até a rainha
Vitória da Inglaterra teria demonstrado sua desaprovação.
Os cabelos, aliás, eram uma das grandes vaidades de Sissi. Nessa época, os
fios longos eram uma das características mais admiradas na aparência de
uma mulher. Isso porque, como eles costumavam ser cortados em períodos
de doença, eram um sinal de saúde. Os cabelos castanhos de Sissi eram
famosos não apenas por seu comprimento, chegando até os joelhos, mas
também pelo volume e brilho. Os cuidados com eles ocupavam três horas
diárias, entre escovar, tratar e fazer o penteado. A cada quinze dias, os fios
eram hidratados com uma mistura de conhaque com gemas de ovos, depois
lavados e secos, um processo que podia tomar a maior parte do dia. A
cabeleira era tão pesada que às vezes causava dores de cabeça severas. Para
reduzir a pressão, os fios tinham que ser erguidos e amarrados com fitas.
Fanny era a única pessoa autorizada a lidar com os fios de Sissi: se ela
ficasse doente, a imperatriz reclamava da substituta e frequentemente
cancelava todos os compromissos, recusando-se a ser vista em público. A
cabeleireira estava sempre a seu lado, tornando-se sua confidente mais
próxima. Ela desenvolveu um estilo particular de trançar os cabelos da
imperatriz, entrelaçados em torno da cabeça, que virou moda na Europa.
Além disso, conhecia as mínimas manias da patroa. Ao desembaraçar os
fios, costumava esconder agilmente todos os que se soltavam, mostrando
para Sissi um pente limpo como prova da saúde dos seus cabelos.
Sissi tornou-se tão dependente de Fanny que, quando esta decidiu se casar,
em 1866, interveio para que ela não fosse obrigada a deixar o serviço da
corte, como era de praxe. Não só convenceu Francisco José a mantê-la
como colocou o marido dela, Hugo Feifalik, a seu próprio serviço, numa
posição que permitia a ele viajar com a imperatriz e, consequentemente,
ficar junto da esposa.
Além de seu talento como cabeleireira, Fanny também tinha um tipo físico
parecido com o de Sissi: alta, esguia, de cabelos fartos e atraente. Por conta
disso, ela frequentemente servia de “dublê de corpo” para a imperatriz,
representando-a em público, enquanto a verdadeira passava discretamente
sem ser reconhecida. Algumas outras damas de confiança também faziam
esse papel, permitindo que Sissi tivesse alguma independência para fazer o
que quisesse. Por vezes, isso permitia a ela fazer brincadeiras, como vestir
roupas simples e misturar-se na multidão, enquanto Fanny ou outra pessoa
acenava para o povo se passando por ela, para escutar as opiniões das
pessoas comuns a seu respeito.
Com a fama da beleza de Sissi, cada vez mais pessoas acorriam para vê-la e
observar o menor detalhe de sua aparência, o que, aliado a sua natural
timidez e reserva, fazia de qualquer aparição pública uma causa de
ansiedade. A preocupação dela em esconder qualquer falha tornou-se tal
que, aos 30 anos, embora sua aparência fosse tão fresca e juvenil como
sempre, ela começou a recear estar envelhecendo. Para evitar rugas, criou
uma máscara facial composta de morangos esmagados e coberta por
pedaços de carne crua. Também costumava se banhar em azeite de oliva
para hidratar a pele.
Por fim, a pressão para que se mantivesse sempre bela ficou tão pesada que
ela decidiu que não se permitiria mais retratar ou fotografar, assim as
pessoas se lembrariam dela para sempre com seu rosto juvenil. Todas as
vezes que saía às ruas, escondia o rosto com véus e leques, ou mesmo
abrindo a sombrinha. Até mesmo suas caminhadas passaram a ser feitas à
noite para que as pessoas não pudessem vê-la claramente.
Por fim, Ida Ferenczy, sob sua fantasia de dominó vermelho, começou a
pressionar a companheira para irem embora. Pacher acompanhou as duas
até uma carruagem, e a dama de amarelo pediu a ele seu endereço, para que
pudessem se corresponder. No último instante, o rapaz tentou erguer a
máscara dela, mas Sissi acertou a mão dele com o leque para interrompê-lo.
Ele, então, tomou o leque das mãos dela e guardou-o consigo antes de se
despedirem.
Ida ficou aflita de que alguém tivesse descoberto a identidade delas e fez a
carruagem dar uma grande volta para se assegurar de que não estavam
sendo seguidas. Mas tal cuidado era desnecessário: Pacher simplesmente
retornou para sua modesta residência com as lembranças da aventura
daquela noite. Uma semana depois, chegou uma carta com um carimbo de
Munique, assinada por Gabrielle. Era o início da longa correspondência que
o jovem manteria com a dama misteriosa durante os anos seguintes.
Como Pacher não tinha o endereço de Gabrielle, enviava as cartas para ela
ao correio central de Viena, mas recebia as respostas em casa. Estas vinham
dos lugares mais diversos, especialmente de várias cidades da Alemanha,
mas também da Inglaterra, para onde eram levadas pela irmã de Sissi,
Maria Sofia, ex-rainha de Nápoles, e postadas sobretudo de Londres. Em
outros casos, a imperatriz recebia os selos de pessoas em outros países,
colava na carta e pedia que seus criados as entregassem. Para despistá-lo
ainda mais sobre sua verdadeira identidade, ela contava histórias a respeito
de viagens fictícias e dos lugares onde fingia estar.
Uma coisa curiosa a respeito dessa carta final de Sissi está no envelope: ele
traz um selo do Brasil. Não se sabe exatamente como isso aconteceu, se
algum conhecido viajara ao país e postara de lá ou se o selo apenas fora
enviado à imperatriz como um presente. Esse detalhe inusitado chamou a
atenção de Pacher, que o registraria em sua narrativa a Conte Corti.28
Sissi, que estava caçando na Irlanda, não cou feliz com a escolha,
uma vez que sua relação turbulenta com a cunhada Carlota havia gerado
uma profunda antipatia dela pela família real belga. No entanto, a
imperatriz fez um desvio durante sua viagem de volta a Viena para
cumprimentar pessoalmente os noivos em Bruxelas. A visita durou
apenas quatro horas, mas a atenção da mãe foi su ciente para que
Rodolfo se convencesse de que havia tomado a decisão certa. Sissi, no
entanto, não tinha tanta segurança quanto à escolha do lho.
O casamento foi realizado em Viena em 10 de maio de 1881, diante
de convidados que incluíam os príncipes herdeiros da Inglaterra e da
Alemanha. Rodolfo e Estefânia passaram a lua de mel no palácio de
Laxenburg, numa convivência embaraçosa: os dois tinham pouco em
comum e quase não encontravam assunto para conversar. Ele se
interessava por política e ciências e tinha amplas ideias para o futuro da
dinastia, enquanto ela, criada numa corte muito conservadora, tinha
interesses intelectuais limitados, restringindo-se a pouco além de moda e
religião.
Isso mudou quando o jovem casal foi para Praga, onde Rodolfo
ainda estava servindo no regimento ali estacionado. Estefânia começou a
mostrar interesse pelos deveres militares do marido e frequentemente o
acompanhava não só em visitas o ciais, mas também em caçadas e
cavalgadas. A companhia da esposa, a quem logo se declararia
apaixonado, deu à vida dele uma certa ordem e ajudou-o a organizar os
pensamentos, colocando no papel suas críticas à situação política
austríaca e suas ideias para modernizar o país. Nesse memorial, ele
descreveu o pai como uma criatura solitária, sem amigos, cuja falta de
interlocutores o desconectava da realidade de seu tempo, e a mãe como
alguém que poderia contrabalançar a tendência conservadora do
imperador caso não dedicasse todo o seu tempo aos esportes e ao lazer.
Suas tentativas de obter o reconhecimento do pai, no entanto, foram
frustradas, pois Francisco José o manteve sistematicamente afastado de
qualquer poder de decisão.
O príncipe herdeiro Rodolfo e a
princesa Estefânia em 1881.
O momento não era o melhor para Rodolfo. Fazia alguns anos que
suas ideias liberais o levaram a se arriscar no jornalismo, escrevendo sob
diversos pseudônimos. Pouco antes de seu encontro com Vetsera, ele
havia sido associado a um novo jornal hostil aos pró-germânicos do
império e ao próprio imperador da Alemanha, Guilherme II. Seguiu-se
uma série de ataques contra o príncipe herdeiro, quase todos
antissemitas, ao denunciar a ligação de Rodolfo com empresários e
banqueiros judeus. A saúde do arquiduque também sofreu um novo
golpe com uma queda de cavalo em 19 de novembro. Estefânia chegou a
procurar o sogro implorando que o marido fosse enviado para fora de
Viena para se tratar, mas Francisco José considerou que o alarme da nora
não tinha fundamento.
Naquele ano, as festas de Natal, e também o aniversário de Sissi,
foram marcados pelo noivado entre a arquiduquesa Maria Valéria e o
arquiduque Francisco Salvador, do ramo toscano dos Habsburgos. Havia
o receio de que o casamento da irmã desagradasse a Rodolfo, mas ele
reagiu de maneira sentimental ao saber da notícia, abraçando-a com um
carinho pouco comum para ele. Uma outra cena emotiva ocorreu na
véspera de Natal, quando o lho abraçou Sissi e chorou por um longo
tempo. Ele também preparou um presente especial para ela: onze cartas
escritas pelo poeta Heine, o favorito da mãe, que ele mandara localizar e
comprar em Paris, gastando um valor exorbitante.
Enquanto janeiro começava calmo para a família imperial, com
Francisco José indo caçar com Rodolfo e Sissi viajando com Maria
Valéria para a Baviera, o caos instalou-se na casa dos Vetsera. Uma criada
denunciara à baronesa Helena as escapadas de Maria. A mãe mandou
arrombar a porta do quarto da lha e encontrou alguns presentes de
Rodolfo para ela, como uma cigarreira de aço com fecho de sa ras. Ao
ser confrontada, a jovem protestou inocência, e a própria baronesa
acabou considerando que um objeto de metal não precioso não poderia
ser um presente tão comprometedor assim.
Essa ilusão da mãe desfez-se em 27 de janeiro, durante uma
recepção em homenagem ao aniversário de Guilherme II da Alemanha.
Maria, diante da família e da corte, não fez questão nenhuma de disfarçar
seu interesse pelo amante, chegando, de acordo com algumas pessoas, a
tratar Estefânia com insolência. Para evitar um escândalo maior, a mãe e
a irmã da jovem arrastaram-na de volta para casa no meio do evento,
gritando com ela e esbofeteando-a.
Rodolfo e Francisco José também estavam vivendo uma crise.
Naquela manhã, os dois foram ouvidos discutindo violentamente, e o
príncipe herdeiro saiu furioso do Hourg. As ideias políticas de Rodolfo
podem ter ocasionado o embate, mas acredita-se que havia uma causa
mais grave. Pouco tempo antes, ele teria enviado ao papa Leão XIII um
pedido de anulação de seu casamento. Não só o pedido não teria sido
concedido como o papa também teria mandado informar Francisco José.
O imperador vinha sendo tolerante com o que considerava
excentricidades do lho, mas essa atitude cruzava uma linha inaceitável, e
ele teria exigido de Rodolfo que abandonasse Maria e voltasse para sua
família.
O príncipe herdeiro Rodolfo em 1888.
Gravura representando Francisco José, Sissi e a princesa Estefânia diante do corpo de Rodolfo.
Francisco Ferdinando e So a
Chotek, foto de circa 1900.
E m 9 de setembro, um dia antes da morte da esposa, Francisco José
voltara a Viena, depois de uma viagem a Bad Ischl e à Hungria, e
recebera notícias animadoras de Sissi. Ela havia escrito fazia alguns
dias para sua lha Maria Valéria falando sobre as melhoras em sua saúde
durante a estada na Suíça. Porém, às 16h30 o ajudante de ordens do
imperador entrou em seu escritório com um telegrama. Francisco José
imediatamente presumiu que a esposa tivera uma recaída, mas a
mensagem dizia que ela desmaiara após ter sido ferida. Alguns minutos
depois, um novo telegrama chegou, anunciando sua morte. O choque
desmoronou as defesas de Francisco José, que exclamou angustiado:
“Então não vou ser poupado de nada neste mundo!”. E em seguida
murmurou para si mesmo: “Ninguém faz ideia do amor que tivemos um
pelo outro”.33 Para sua lha Maria Valéria, ele diria algo semelhante:
“Você não sabe quanto eu amei essa mulher”.34
As autoridades na Suíça inquiriram das autoridades austríacas se
deveriam realizar uma autópsia, e Francisco José determinou que a lei
local deveria ser seguida. O exame revelou que Sissi fora atingida na
altura da quarta costela, quatro centímetros acima do mamilo esquerdo.
A lima havia atravessado o coração e atingido o pulmão. O ferimento
tinha apenas 2,5 milímetros de largura, e o sangramento foi contido pelo
espartilho apertado; quando as roupas foram afrouxadas, isso causou
hemorragia interna. O exame também mediu a altura da imperatriz e
notou que ela tinha bons dentes. Entre os pertences encontrados com ela,
estavam a aliança de casamento, que ela usava presa numa corrente de
ouro sob o vestido, e um medalhão contendo uma mecha dos cabelos de
Rodolfo.
Depois da autópsia, o corpo da imperatriz foi embalsamado, os
cabelos, arrumados do jeito habitual, e Sissi foi colocada num caixão para
a viagem de volta a Viena, aonde chegou em 15 de setembro. Ela havia
expressado o desejo de ser enterrada junto ao mar, mas, como ocorreu
com Rodolfo, isso também não foi respeitado. Em obediência ao
protocolo, o corpo da imperatriz foi depositado na cripta imperial, junto
aos outros Habsburgos.
Antiga gravura mostrando Francisco José
chorando pela morte da esposa, circa 1900.
Zita era uma das lhas do último duque de Parma, Roberto, deposto
em 1859, com sua segunda mulher, Maria Antônia, a irmã caçula de
Maria Teresa, ambas lhas de d. Miguel e, portanto, também oriundas da
dinastia de Bragança.
Algum tempo depois do encontro de Carlos com Zita, passou a
circular um rumor de que a jovem estava para car noiva de um nobre
espanhol. O arquiduque procurou Maria Teresa tentando con rmar se a
informação era verdadeira. Ela a rmou que não, ao que Carlos
respondeu: “Bem, é melhor me apressar […] ou ela vai car noiva de
outra pessoa”.37 Ele solicitou ao tio-avô, o imperador Francisco José,
permissão para pedi-la em casamento e viajou para a Itália, onde ela se
encontrava. Os jovens caram noivos em junho de 1911 e casaram-se em
21 de outubro, numa cerimônia que contou com a presença do
imperador e da maior parte da corte. Um ano mais tarde, nasceria o
primeiro dos oito lhos do casal, Oto, que descendia, pelas duas avós, dos
dois ramos dos Braganças: tanto de d. Miguel quanto de d. Pedro. Assim,
a união dinástica sonhada por d. João VI quase um século antes se
concretizava de uma maneira inesperada.
Pela lógica legal da sucessão, se Francisco Ferdinando tivesse
assumido o trono, como os lhos não poderiam herdar a coroa, seu
herdeiro seria o sobrinho, o arquiduque Carlos. Em termos dinásticos,
Carlos tinha uma série de qualidades que faltavam tanto a Rodolfo
quanto a Francisco Ferdinando. Ele era gentil, humano, disciplinado,
íntegro, religioso, dedicado à família e pouco inclinado a contrariar as
disposições imperiais. Mesmo assim, Francisco José manteve-o afastado
de todas as decisões políticas, insistindo que se dedicasse à carreira
militar. Apenas após o assassinato de Francisco Ferdinando, quando
Carlos se tornou o herdeiro direto do trono, o imperador tomou alguma
iniciativa em educá-lo para governar. Mas essa decisão foi abalada com o
início da Primeira Guerra Mundial.
Casamento de Carlos e Zita, em 1911. O imperador Francisco José está sentado ao centro, do lado
esquerdo dele está Zita, e ao lado dela, o marido Carlos.
Procissão do funeral do imperador Francisco José. Na frente estão o imperador Carlos I, seu lho Oto
e a imperatriz Zita, seguidos dos reis da Baviera e da Bulgária, do príncipe herdeiro da Alemanha e do
rei da Saxônia.
Embora bem-intencionado, Carlos tinha pouco conhecimento do
funcionamento do Estado que passara a governar. Suas tentativas de
reforma, como aumentar a autonomia dos povos do império, tropeçaram
nas realidades de um país em guerra, com uma máquina estatal
monstruosa e com uma grande agitação interna, especialmente de cunho
nacionalista, como as dos eslavos.
Além disso, a experiência de Carlos na guerra tornou-o um
paci sta, que via o con ito como um desastre anunciado para seus
súditos. Quase imediatamente após a coroação, ele começou a trabalhar
para tirar a Áustria-Hungria da guerra. Encarregou um irmão de Zita,
Sixto de Bourbon-Parma, de entrar em contato secretamente com a
França para abrir uma frente de negociação com os países da Entente. As
negociações arrastaram-se por boa parte de 1917, mas acabaram
arruinadas pela exigência da Itália de que a Áustria-Hungria cedesse a
eles o Tirol.
Esse poderia ser o m da história, entretanto em abril de 1918 o
ministro austríaco de Assuntos Estrangeiros, em meio a um discurso no
qual buscava levantar o moral das tropas do país, apontou o primeiro-
ministro francês, Georges Clemenceau, como um obstáculo à paz.
Clemenceau irritou-se com a acusação e divulgou as negociações com o
imperador Carlos, chegando a publicar algumas das cartas trocadas com
Sixto. O imperador viu-se numa situação difícil e negou ter
conhecimento sobre o assunto, para não abalar ainda mais as relações
com a Alemanha, que já não estavam bem. Mas isso não bastou.
Humilhado, viu-se forçado a visitar o kaiser Guilherme II e a rmar sua
lealdade à aliança.
Foto o cial de Carlos e Zita coroados como
reis da Hungria em 1916. O arquiduque
Oto aparece no meio dos pais.
Carlos ajudando a
desembarcar os lhos
no exílio na ilha da
Madeira, em 1922.
C arlos e a família instalaram-se no castelo de Wartegg, que pertencia
a parentes de Zita. O local, hoje um hotel, está situado junto ao lago
Constança, no extremo leste da Suíça, com vista para a fronteira
austríaca. A insistência do ex-imperador em declarar inválida a renúncia
a seus direitos levou as autoridades suíças a temerem um con ito
diplomático se eles permanecessem ali, e dois meses depois a família foi
forçada a se mudar para a Villa Prangins, junto ao lago Genebra, do outro
lado do país.
Na Suíça, os Habsburgos levavam uma existência feliz e pací ca em
família, porém Carlos nunca desistiu da ideia de retomar o trono. Ele
acreditava que seu direito tinha origem divina e que não poderia
renunciar às suas responsabilidades. O ex-imperador contava com o
apoio velado da França e de alguns elementos do exército britânico, além
de inúmeros seguidores que não o abandonaram.
Uma oportunidade então surgiu na Hungria. Desde sua
transformação em república, os húngaros tinham vivido tempos
turbulentos. Em março de 1919, o primeiro-ministro havia sido
removido do poder por uma coalizão de esquerda, que proclamou um
regime comunista no país. Mas esse novo governo não durou muito,
sendo derrubado meses mais tarde. O arquiduque José Augusto, membro
de um ramo colateral dos Habsburgos instalado na Hungria, assumiu
como regente do país em 7 de agosto de 1919, mas foi obrigado a
renunciar menos de vinte dias depois por pressão dos países vencedores
da Primeira Guerra. Os aliados acreditavam que um Habsburgo no poder
poderia desestabilizar a Europa Central. Antes de deixar o cargo, ele
con rmou o almirante Miklós Horthy como comandante em chefe do
exército. Este foi feito regente em março de 1920, e o Reino da Hungria
foi o cialmente restabelecido.
Embora o novo regime não tenha chamado Carlos, devido
sobretudo à posição dos aliados a respeito do retorno dos Habsburgos ao
poder, ele cou otimista com o restabelecimento do reino e, aconselhado
por alguns de seus seguidores, decidiu retornar ao país por conta própria.
Ele acreditava que sua mera aparição em Budapeste levaria a opinião
pública a reinstalá-lo no trono húngaro. Em março de 1921, munido de
um passaporte espanhol falso e tendo raspado o bigode, Carlos deixou a
Suíça e atravessou a fronteira austríaca, chegando à Hungria no dia 26,
Sábado de Aleluia. Aproveitando a calmaria do feriado de Páscoa,
reuniu-se com alguns partidários legitimistas que apoiavam sua
reivindicação e tentou convocar o primeiro-ministro, conde Pál Teleki,
que o aconselhou a se reunir com Horthy.
Carlos chegou ao palácio sem ser anunciado bem quando a família
de Horthy estava sentada para o almoço de Páscoa. O almirante recebeu-
o calorosamente, mas manteve-se in exível de que não era o momento de
o rei retornar ao país. Ao m da discussão, Carlos acreditou que o
convencera, mas Horthy tinha outras ideias. O parlamento húngaro
aprovou um voto de con ança no regente e requereu que o ex-imperador
se retirasse do território, o que ele foi obrigado a fazer em 5 de abril.
Como resultado da desastrosa aventura, o governo suíço decidiu
restringir os movimentos de Carlos, exigindo que ele se instalasse em
outra área e que informasse as autoridades se desejasse deixar o país.
Mas, apesar da indiferença do povo e da falta de suporte do exército, ele
ainda acreditava que os húngaros estavam à espera de seu legítimo rei. De
fato, o novo primeiro-ministro, István Bethlen, começou a dar sinais de
que uma restauração da monarquia poderia ser considerada, e alguns
legitimistas mais entusiasmados mandaram uma mensagem a Carlos
informando que poderia se aproveitar da situação política turbulenta
para retomar o poder. Ele não esperou: em 20 de outubro saiu
clandestinamente da Suíça com Zita e desembarcou na Hungria.
Dessa vez, erroneamente informados de que um golpe comunista
estava sendo tramado, e acreditando que Carlos teria o apoio das grandes
potências, batalhões do exército apoiaram o monarca e partiram para
Budapeste. Mas a marcha foi tão mal organizada que deu tempo a Horthy
para reunir seus próprios homens. Em 23 de outubro, Carlos e suas
tropas estavam a trinta quilômetros de Budapeste, e uma guerra civil
parecia prestes a acontecer. Porém Horthy e Bethlen conseguiram
comunicar-se com alguns dos líderes legitimistas e informaram-nos da
real situação: caso os Habsburgos voltassem, a Hungria seria invadida
militarmente pela Tchecoslováquia, e nenhuma das grandes nações dera
sinal de defender a causa monarquista. Em 24 de outubro, Carlos aceitou
negociar e na mesma tarde deu ordem de rendição. Era o m das suas
tentativas de retomar o trono.
Casamento do arquiduque Oto com a princesa Regina. Nancy, França, 1951. Ao fundo, entre a noiva e
o noivo, está a imperatriz Zita.
Como presidente da União Pan-Europeia, Oto organizou em 1989 o
Piquenique Pan-Europeu, uma demonstração paci sta realizada na
fronteira entre a Áustria e a Hungria que buscava a integração dos dois
lados da Cortina de Ferro – a divisão da Europa entre nações capitalistas
e comunistas. O governo da Hungria encampou a ideia e aceitou abrir
temporariamente a fronteira para o país vizinho. Em 19 de agosto, uma
passagem por uma estrada foi liberada. A ideia era que os cidadãos dos
dois países pudessem confraternizar por algumas horas num evento
informal, com música e comida, mas folhetos convocando ao piquenique
sugeriam a ideia de que cada visitante cortasse um pedaço de arame
farpado da cerca da fronteira e levasse consigo. Quando a notícia se
espalhou, milhares de pessoas começaram a viajar de outros países
comunistas, especialmente da Alemanha Oriental, para a região. Embora
apenas uma pequena parcela tenha conseguido atravessar a fronteira,
muitos caram acampados perto, e uma grande parte da cerca foi
desmantelada.
A falta de intervenção das tropas húngaras e o silêncio do governo
da União Soviética acabaram transformando uma bola de neve em
avalanche. A fronteira austro-húngara foi de nitivamente aberta em 11
de setembro, e 30 mil alemães orientais acampados ali atravessaram para
o Ocidente. O movimento chegou à Tchecoslováquia, onde novas rotas
de saída acabaram sendo criadas. As tentativas de repressão a essas
movimentações levaram a um levante popular na Alemanha Oriental.
Em 9 de novembro, o Muro de Berlim foi derrubado, efetivamente
acabando com a Cortina de Ferro e abrindo caminho para a uni cação
alemã, em 31 de agosto de 1990.
Memorial ao Piquenique Pan-Europeu, de autoria de Miklós Melocco, Sopron, Hungria. © Derzsi
Elekes Andor.
No início dos anos 2000, Oto entrou com pedidos para recuperar a
cidadania de outros países que também haviam pertencido ao Império
Austro-Húngaro. Como resultado, na época de sua morte, o ex-apátrida
contava com passaportes da Alemanha, da Áustria, da Hungria e da
Croácia.
Sua mãe, a imperatriz Zita, falecera na Suíça aos 97 anos em 14 de
março de 1989. Oto passou a che a da casa para seu lho Carlos em
2007, falecendo na Alemanha em 4 de julho de 2011, aos 98 anos, e está
sepultado na cripta da família em Viena.
O arquiduque Oto na Baviera em 2006. Foto de Oliver Mark.
OS
HABSBURGOS
MUITO ALÉM
DO TRONO
“Erzsi”, a arquiduquesa
Elisabete, neta de Francisco
José e Sissi, em 1901.
O atual chefe da Casa de Habsburgo é Carlos, lho de Oto
Habsburgo. Nascido na Alemanha em 11 de janeiro de 1961, ele
visitou a Áustria pela primeira vez em 196838 e em 1981 decidiu se
mudar para o país, onde prestou serviço militar voluntariamente,
entrando para a Força Aérea. Embora a lei austríaca tenha revogado
todos os títulos de nobreza e no dia a dia ele assine como o cidadão
comum Karl von Habsburg, não é raro que a imprensa local ainda se
re ra a ele pelos títulos ancestrais de arquiduque e de príncipe real.
Sua atividade política começou em 1986, quando se tornou
presidente da seção austríaca da União Pan-Europeia, tendo ajudado o
pai a organizar o Piquenique Pan-Europeu. Como representante da
organização, em 1990, ele liderou pessoalmente um comboio de ajuda
humanitária para a Lituânia, depois que a União Soviética bloqueou o
envio de bens a esse país após este declarar sua independência.
Carlos, que chegou a ser apresentador de um programa de TV, foi
deputado no Parlamento Europeu de 1996 a 1999 e está envolvido em
inúmeras organizações não governamentais e de caridade. Seu trabalho
principal está voltado à preservação do patrimônio histórico, e desde
2008 ele preside a organização Blue Shield, que pretende ser o equivalente
à Cruz Vermelha no que se refere a bens culturais. A entidade busca
proteger o patrimônio cultural material e imaterial em situações como
con itos armados e desastres naturais. Além disso, ele atua na proteção
dos direitos humanos de povos minoritários e chegou a ser presidente da
Unpo (Organização das Nações e Povos Não Representados), que luta
pela defesa de povos marginalizados e sem representação internacional.
Enquanto as lhas de Sissi, Gisela e Maria Valéria, se casaram,
tiveram lhos e desfrutaram de uma vida relativamente tranquila após a
morte dos pais e o esfacelamento do império, o capítulo mais inusitado
de um descendente direto da imperatriz e de Francisco José cou por
conta de uma neta deles, Elisabete. Filha única do arquiduque Rodolfo e
da princesa Estefânia, Erzsi era a preferida do avô, que se tornou
responsável por sua educação depois da morte do pai da menina. Foi
para ela que Sissi deixou em testamento todos os seus objetos pessoais e
as joias que ainda possuía quando faleceu. A neta receberia as famosas
estrelas de diamantes da avó por ocasião de seu casamento.
O imperador desejava que Erzsi se casasse com o herdeiro de
alguma dinastia, mas em 1900, aos 17 anos, ela se apaixonou pelo
príncipe Otto de Windisch-Grätz. A paixão dela era, aparentemente, sem
futuro: Otto já era comprometido, estava noivo, e era de posição social
abaixo da arquiduquesa. Mas tanto Erzsi insistiu com o avô que ele
forçou o príncipe a abandonar seu compromisso e a se casar com ela.
Embora Francisco José tenha permitido que a neta mantivesse o título e
tenha oferecido um dote vultoso, ele fez com que ela renunciasse aos
direitos sucessórios por si e seus descendentes.
O casamento, ocorrido em 1902, foi marcado por brigas e
escândalos. Já no ano seguinte, Erzsi descobriu que o marido estava
tendo um caso com uma atriz. Ela encontrou os dois amantes na cama e
disparou contra a jovem, que foi ferida no peito e acabou falecendo. O
assassinato, no entanto, foi abafado. A arquiduquesa, por sua vez,
também não era el ao marido. Mesmo assim, os dois tiveram quatro
lhos. Após a morte de Francisco José e o m da monarquia, o casal
separou-se formalmente, e Erzsi voltou sua atenção para a política. Em
1921, ela renunciou ao seu título e liou-se ao Partido Social-Democrata,
defendendo o socialismo e a mudança na estrutura da sociedade por
meio do voto.
Erzsi cou conhecida como “a arquiduquesa vermelha”, e sua gura
alta e elegante podia ser vista vendendo cravos vermelhos, um símbolo
do socialismo na Europa central, durante o Dia do Trabalho,
participando de comícios e até mesmo atuando como conselheira
municipal. Na política ela encontrou, além de um novo propósito, um
novo amor: Leopold Petznek, um professor de origem humilde que
chegou a ser presidente do parlamento de um dos estados da Áustria. Os
dois estavam impedidos de se casar: a separação de Erzsi, que ainda
estava correndo na justiça, não permitia uma nova união, e Petznek era
casado, embora sua mulher estivesse internada num hospital
psiquiátrico. Mesmo assim, os dois foram morar juntos numa mansão
que ela comprou em 1929 nos arredores de Viena e que encheu de
objetos de arte e relíquias imperiais de sua família, lado a lado com obras
de Karl Marx.
A separação judicial foi concedida em 1924, e seguiu-se uma árdua
batalha pela guarda dos lhos, que ela acabou vencendo. Erzsi tentou dar
a eles uma educação inspirada por seus princípios socialistas. Embora
fosse uma mãe dedicada, mais tarde a relação com as crianças
deteriorou-se. Sua lha, Estefânia, mudou-se para a Bélgica, onde foi
aceita como um membro da família real, e casou-se na aristocracia desse
país. Anos depois, a rmaria que escolheu o marido porque sua mãe não
gostava dele. Em 1934, o ex-marido e um dos lhos tentaram interditá-la
sob o pretexto de que ela estava dilapidando sua fortuna, destinando
vultosas doações ao Partido Social-Democrata, mas, posteriormente,
desistiram da acusação.
Ao contrário de muitos de seus parentes, Erzsi lutou contra a
restauração da monarquia, defendendo que uma república democrática
era o melhor regime para a Áustria. A ascensão da extrema direita no
país atingiu duramente os sociais-democratas. Por ter renunciado a seu
título, Erzsi não estava sujeita à lei de banimento e foi deixada em paz,
mas Petznek foi preso duas vezes, uma em 1933 e outra em 1944, quando
foi enviado para Dachau, sendo libertado quando os aliados chegaram ao
campo de concentração. Mas a liberação de Viena não trouxe sossego ao
casal: a mansão onde viviam foi saqueada por soldados soviéticos e mais
tarde requisitada pelo comandante da zona de ocupação francesa. Os
dois só puderam retornar para seu lar em 1955.
Em 1948, com Erzsi nalmente divorciada do primeiro marido e
Petznek viúvo, eles puderam se casar. Entretanto, a saúde dos dois não
estava boa, e ele morreu de um ataque cardíaco em julho de 1956. Erzsi
passou seus últimos anos criando cães da raça pastor alemão e con nada
a uma cadeira de rodas por causa da gota. A arquiduquesa vermelha
faleceu em 16 de março de 1963 e, a seu pedido, foi enterrada ao lado do
marido num túmulo simples e anônimo em Viena. Ela também legou
todos os bens preciosos que herdara dos Habsburgos para o Estado
austríaco. Hoje seus tesouros estão distribuídos entre vários museus.
Erzsi perto do nal da vida.
A queda do império liberou os membros da família Habsburgo,
como Erzsi, Oto e seus lhos, para defenderem livremente as próprias
opiniões políticas e envolverem-se em causas humanitárias. Sissi, apesar
de suas ideias, não teve a oportunidade de se expressar abertamente
sobre alguns assuntos devido à posição que ocupava, ao protocolo e à
mentalidade da sociedade de sua época. Mas ela arrumou um modo de
fazer isso após a morte.
A imperatriz estabeleceu em 1890 que seus diários poéticos, uma
série de poemas que escrevera ao longo de seus últimos anos, seriam
deixados sob a guarda de um de seus irmãos. Após sessenta anos de sua
morte, eles deveriam ser entregues ao governo da Suíça e publicados.
Nesses textos, ela falava sobre seu cotidiano e tecia críticas provocativas
ao modo de vida dos Habsburgos e à própria instituição da monarquia.
Ainda por decisão de Sissi, o valor obtido pela venda das obras deveria
ser direcionado para o benefício das famílias de prisioneiros políticos do
Império Austro-Húngaro.
A primeira edição de Das Poetische Tagebuch [O diário poético] só
saiu em 1984. Como a Áustria-Hungria não existia mais, o governo da
Suíça decidiu que o dinheiro obtido com a venda deveria bene ciar o
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Até hoje esse
órgão da ONU recebe toda a renda do livro. Ela é usada para ajudar
pessoas que tiveram de fugir por motivos políticos e se refugiaram em
regiões que um dia foram parte do império dos Habsburgos. Esse fundo
foi usado, por exemplo, em 2019 para proteger 2.600 refugiados na
Ucrânia.
Ao contrário dos Romanovs, que foram perseguidos e mortos na
Rússia após a revolução de 1917, os Habsburgos puderam continuar com
suas vidas no exílio e espalharam-se pelo mundo. Um dos membros da
família até mesmo veio parar no Brasil. Maria Antônia da Áustria-
Toscana pertencia ao ramo italiano da família. Nascida em 1899 na
Croácia, ela era lha do arquiduque Leopoldo Salvador, cujo irmão
Francisco se casara com Maria Valéria, a lha mais nova de Francisco
José e Sissi. Sua mãe, Branca, era uma infanta da Espanha.
Com a proclamação da república e o con sco das propriedades dos
Habsburgos, a família perdeu toda a sua fortuna. Os pais de Maria
Antônia decidiram se instalar na Espanha, onde Branca tinha parentes, e,
assim, mudaram-se com oito de seus dez lhos para viver modestamente
em Barcelona. Ali, a jovem arquiduquesa voltou-se para a religião,
chegando a pensar em se tornar freira. Isso horrorizou os pais, que
achavam que ela não tinha vocação nem temperamento para a vida
religiosa. O receio passou quando Maria Antônia, que fora mandada para
Mallorca para re etir sobre sua decisão, se apaixonou por Ramón
Orlandis y Villalonga, um aristocrata espanhol de família empobrecida.
Os dois se casaram em 1924 e tiveram cinco lhos, mas Ramón faleceu
durante a Guerra Civil Espanhola, em 1936.
Viúva, sem dinheiro e com cinco lhos pequenos para criar, Maria
Antônia tomou a decisão de embarcar num navio para a América do Sul.
Ela foi viver no Uruguai, onde conheceu um argentino de origem
aristocrática, d. Luis Perez Sucre. Os dois se casaram em 1942 e acabaram
se mudando para o Brasil, onde continuaram vivendo com di culdades
em Porto Alegre. Depois da morte do marido, em 1957, Maria Antônia
foi reduzida a uma pobreza tal que muitas vezes ia pegar restos de
comida no mercado municipal da cidade. Em seus últimos anos, vivia
sozinha numa casa de madeira em Canoas com seu cachorro, afastada
dos lhos. Maria Antônia faleceu de câncer em Porto Alegre em 22 de
outubro de 1977.
Mais de cem anos após a queda da monarquia, a memória dos
Habsburgos ainda permanece muito viva nos países que compuseram o
seu império. No castelo de Liubliana, na Eslovênia, por exemplo, o
audioguia conta a história da arquiduquesa Leopoldina de Habsburgo,
que se casou com o herdeiro do trono de Portugal e se tornou imperatriz
do Brasil. Mas é a imagem de Sissi que reina absoluta. Aqueles que
andam pelas ruas de Viena esbarram com ela a cada passo, seja nos
prédios históricos e museus, seja nas lojas de suvenires, que vendem todo
tipo de lembrança relacionada à imperatriz. Ela tem seu rosto estampado
em chocolates, canecas, ímãs de geladeira, caixinhas, livros, porta-joias,
louças em miniatura e até mesmo lenços de papel. É possível tropeçar em
réplicas das famosas estrelas de diamantes em todas as lojas de
lembranças.
No palácio de Hourg, no centro de Viena, um museu foi instalado
nos antigos apartamentos imperiais e conta a história da dinastia, com
foco em Sissi e no imperador Francisco José, enquanto outra ala inteira é
dedicada apenas a ela, o Sisi Museum. Formam-se ali longas las de
turistas que desejam ver os mais de quinhentos objetos relacionados à
famosa imperatriz, incluindo luvas, leques, peças de roupas, baús de
viagem, o sanitário dela no trem imperial e até o atestado de óbito
original. Um alerta de alguém que tomou uma bronca em três idiomas
diferentes por causa de um ato descuidado: guarde seus celulares e
máquinas fotográ cas assim que passar de um museu para o outro.
Enquanto tudo pode ser fotografado na câmara do tesouro, qualquer
registro é proibido no museu dedicado à imperatriz que cou famosa por
passar boa parte de sua vida procurando se esconder.
Cartão-postal de Corfu, virada do século XIX para o XX, onde não só a Villa Achilleion aparece, mas
a própria Sissi, como se fosse um atrativo local.
Mas essa tentativa de permanecer oculta não teve sucesso.
Verdadeira celebridade durante a vida, após a morte Sissi se tornou mito.
Ela continua sendo relembrada, e não apenas no museu do Hourg. Sua
imagem aparece em estátuas na Áustria, Hungria, Itália, Alemanha e
Portugal, e museus em outros países também contam a sua história. Um
deles ca em Possenhofen, na Alemanha, onde Sissi cresceu, e outro em
Corfu, na Grécia, na Villa Achilleion, dividido com o outro proprietário
ilustre, Guilherme II da Alemanha. Na própria Áustria, existe um
segundo museu sobre a imperatriz, em Salzburgo, no castelo Fuschl, que
serviu de locação para os lmes que trouxeram a imperatriz para o
imaginário coletivo internacional: a série Sissi.
Os três lmes, lançados entre 1955 e 1957, Sissi; Sissi, a imperatriz e
Sissi e seu destino, fazem parte de um fenômeno do cinema alemão do
pós-guerra, os chamados “ lmes da terra natal”. A Alemanha saíra havia
pouco tempo da Segunda Guerra Mundial como perdedora. Além das
cidades destruídas e da economia em frangalhos, pesava sobre o país a
sombra do nazismo e todo o mal causado por esse regime
ultranacionalista. O apoio internacional, sobretudo por meio do Plano
Marshall, ajudou o país a começar sua recuperação, e uma das áreas
bene ciadas foi o cinema. A ideia era ajudar a reforçar o sentido de
orgulho nacional de uma maneira mais leve e poética. Isso foi feito por
meio do resgate de uma Alemanha idealizada do século XIX, com
mocinhas de tranças e guirlandas de ores vivendo aventuras românticas
inocentes, tendo os Alpes como cenário. Foi necessário apenas mais um
passo para que os lmes incorporassem o conto de fadas da jovem
princesa que se casou com o imperador.
A história, largamente romanceada e embelezada, fez um imenso
sucesso, não só na Alemanha como em muitos outros países. Parte desse
sucesso deve-se à escolha da atriz que interpretou a protagonista. Romy
Schneider, vinda de uma família de atores, tinha 17 anos e era
praticamente uma desconhecida. De olhos claros, cheia de vida e com
uma beleza angelical, a encantadora adolescente tinha a aparência e o
charme exatos para interpretar Elisabete, que o mundo passou a
conhecer pelo apelido de Sissi, recriado para o lme. Conforme o mundo
se apaixonava por Schneider, também se apaixonava pela gura
idealizada da imperatriz. O lme cumpria assim o seu papel como fuga
romântica num período no qual os horrores da Segunda Guerra ainda
impactavam a vida das pessoas.
Cartaz do lme Sissi, a imperatriz, de 1956, com a atriz Romy Schneider no papel de Sissi e Karlheinz
Böhm como Francisco José.
Décadas mais tarde, gerações continuam a assistir e a car
fascinadas pela trilogia, alimentando o mito de Sissi. Esse mito, por sua
vez, impulsiona o turismo. Desde o palácio de Gödöllő, na Hungria, até a
ilha da Madeira, multidões de admiradores fazem verdadeiras
peregrinações para qualquer lugar associado ao seu nome. Assim, Sissi, a
imperatriz que tanto rejeitou seu papel, tornou-se um símbolo romântico
que faz sobreviver no imaginário coletivo o nome e o esplendor da
família Habsburgo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PALMER, Alan Warwick. Twilight of the Habsburgs: the Life and Times of
Emperor Francis Joseph. Nova York: Grove, 1995.
VOVK, Justin C. Imperial Requiem: Four Royal Women and the Fall of the
Age of Empires. Bloomington: iUniverse, 2014.
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LeYa Brasil
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CORPO 12PT, PARA A EDITORA LEYA BRASIL
CADERNO DE IMAGENS
Águia bicéfala com 11 brasões dos reinos e países que compunham os domínios dos Habsburgos.
Escudo feito por volta de 1900. FOTO DE BIRGIT E PETER KAINZ. © MUSEU DE VIENA
A família do imperador Francisco I no castelo de Laxenburg. A menina que aponta para o lago é a
arquiduquesa Leopoldina, futura imperatriz do Brasil. O menino próximo a ela é o arquiduque
Francisco Carlos, que no futuro seria pai do imperador Francisco José. LITOGRAFIA COLORIDA DE F.
WOLF DE 1835 BASEADA EM DESENHO DE JOHANN NEPOMUK HÖCHLE DE 1807.
Retrato da família imperial ao redor de Napoleão Francisco, duque de Reichstadt, lho de Napoleão
Bonaparte e neto de Francisco I. Da esquerda para a direita: Carolina Augusta da Baviera, imperatriz
da Áustria; Francisco I; Napoleão Francisco; So a Frederica da Baviera, arquiduquesa da Áustria;
Maria Luísa da Áustria, duquesa de Parma, mãe de Napoleão Francisco; Fernando, futuro imperador
Fernando I; e Francisco Carlos, marido de So a, futuros pais do imperador Francisco José. ÓLEO
SOBRE TELA, LEOPOLD FERTBAUER, 1826. FOTO DE BIRGIT E PETER KAINZ. © MUSEU DE VIENA
Retrato do arquiduque Francisco José, futuro imperador da Áustria. FOTOTIPIA A CORES DE 1908
BASEADA EM UMA PINTURA DE FRIEDRICH VON AMERLING, VIENA, 1838.
Tentativa de assassinato do imperador Francisco José. JOHANN JOSEPHF REINER, ÓLEO SOBRE TELA, 1853.
FOTO: BIRGIT E PETER KAINZ. © MUSEU DE VIENA
Imperador Francisco José em uniforme de gala de marechal de campo. FRANZ RUSS, O VELHO, ÓLEO
SOBRE TELA, 1852. FOTO: BIRGIT E PETER KAINZ. © MUSEU DE VIENA
Este retrato de Sissi a cavalo foi um presente de noivado dela para Francisco José. Ao fundo, vemos
uma parte de Possenhofen, propriedade de sua família na Baviera. PINTURA A ÓLEO DE KARL THEODOR
VON PILOTY E FRANZ ADAM, 1853.
Sissi retratada por Franz Russ, o Velho, em 1855. FOTO: BIRGIT E PETER KAINZ. © MUSEU DE VIENA
Família imperial em 1856. Da esquerda para a direita: a arquiduquesa So a com a neta Gisela no colo;
de pé, o arquiduque Francisco Carlos; no centro, está Sissi, e, ao seu lado, Francisco José, com a lha
So a na frente. LITOGRAFIA COLORIDA FEITA COM BASE EM GRAVURA DE JOSEPH KRIEHUBER, DE 1856. ©
MUSEU DE VIENA
Sissi segurando Rodolfo nos braços. No chão, está Gisela, e, na parede, o quadro da falecida So a.
LITOGRAFIA DE JOSEF JOSEPH KRIEHUBER, LAXENBURG 1858.
Sissi em 1865, no famoso retrato em que aparece com as suas estrelas de diamantes nos cabelos. ÓLEO
SOBRE TELA DE FRANZ XAVER WINTERHALTER. © HOFBURG
Sissi com seus longos cabelos soltos. Esse quadro era um dos que o imperador Francisco José mandou
colocar em seu estúdio e que ainda é possível ver no Hourg. ÓLEO SOBRE TELA DE FRANZ XAVER
WINTERHALTER, 1854. © HOFBURG
Sissi vestindo o traje de corte húngaro. ÓLEO SOBRE TELA DE GEORG RAAB, 1867. © SISI MUSEUM
Chegada de Sissi ao castelo de Miramar em 1861. No alto, no cais, vemos Sissi, de negro,
cumprimentando a princesa Carlota. No barco, estão Francisco José e seu irmão Maximiliano. ÓLEO
SOBRE TELA DE CESARE DELL’ACQUA, 1865. © CASTELO DE MIRAMAR.
O imperador Maximiliano do México e sua esposa, Carlota, recebendo a visita de indígenas da tribo
Kikapú, que buscavam proteção para suas terras. ÓLEO SOBRE TELA DE JEAN ADOLPHE BEAUCÉ, 1865. ©
CASTELO ARTSTETTEN.
Castelo de Possenhofen, Baviera, onde Sissi passou boa parte de sua infância. FOTO AÉREA DE CARSTEN
STEGER.
Kaiservilla, Bad Ischl, Áustria. Nesse local, Francisco José e Sissi caram noivos em 1853. Na foto, é
possível ver as três alas do prédio, que formam a inicial “E”, de Elisabete. FOTO DE SIGMUNDS, 2007.
Francisco José em 1874. ÓLEO SOBRE TELA DE GEORG RAAB. © MUSEU BELVEDERE
Sissi em 1874, aos 36 anos, num dos últimos retratos que ela permitiu que zessem dela. ÓLEO SOBRE
TELA DE GEORG RAAB. © MUSEU BELVEDERE
A família imperial no parque de Gödöllo, Hungria. Da esquerda para a direita: Rodolfo, Francisco
José, Sissi, com Maria Valéria no colo, e Gisela. LITOGRAFIA COLORIDA DE VINCENZ KATZLER, 1871.
Villa Achilleion, em Corfu, Grécia, mandada construir por Sissi e onde ela passou algumas
temporadas. FOTO DE PRZEMEK PIETRAK.
Francisco José, a cavalo à direita, e Sissi, na carruagem, encontrando-se com Rodolfo e Estefânia no
parque do castelo de Laxenburg. ÓLEO SOBRE TELA DE KARL SCHWENINGER, 1881. FOTO DE BIRGIT E PETER
KAINZ © MUSEU DE VIENA
O imperador Francisco José, viúvo, em seu estúdio no palácio de Schönbrunn pouco antes de falecer,
em 1916. Na parede, vemos um retrato de Sissi quando jovem. ÓLEO SOBRE TELA DE FRANZ VON
MATSCH. FOTO BIRGIT E PETER KAINZ. © MUSEU DE VIENA
Francisco José e seus herdeiros, o arquiduque Carlos, de pé, e o lho dele, Oto, com soldados de
brinquedo. Litogra a colorida de J. Streyl, 1915.
Chegada da rainha Zita e do príncipe herdeiro Oto ao palácio real em Budapeste, em dezembro de
1916, para a coroação dos reis da Hungria. ÓLEO SOBRE TELA DE GYULA ÉDER, 1929.
Estátua de Sissi no Funchal, Ilha da Madeira. Escultura feita em bronze por Lagoa Henriques em
2000. FOTO DE PÁSZTÖRPERC.
1 ANDERS; EGGERT, Maximilian von Mexiko, 1982. p. 12.
2 BAGGER, Francis Joseph, 1927. p. 125.
3 BAGGER, Francis Joseph, 1927. p. 214.
4 HAMANN, e Reluctant Empress, 1986. p. 13.
5 Ibid., p. 14.
6 Ibid., p. 15.
7 Ibid., p. 16.
8 Ibid., p. 18.
9 DES CARS, Jean. Sissi, 1995. p. 25.
10 HAMANN, e Reluctant Empress, 1986. p. 11.
11 HAMANN, e Reluctant Empress, 1986. p. 20.
12 HAMANN, e Reluctant Empress, 1986. p. 34.
13 TSCHUDI, Elizabeth, Empress of Austria and Queen of Hungary, 1901. p. 58.
14 Ibid, p. 59.
15 PALMER, Twilight of the Habsburgs, 1995. p. 96.
16 Apud HABSBURGO; BÉLGICA, Memórias da minha vida: Um inverno na Madeira, 2011. p.
164.
17 HAMANN, e Reluctant Empress, 1986. p. 104.
18 PALMER, Twilight of the Habsburgs, 1995. p. 151.
19 Idem.
20 BRAGANÇA, A Princesa Flor dona Maria Amélia, 2009. p. 53.
21 Idem.
22 HASLIP, e crown of Mexico, 1972. p. 499.
23 Idem.
24 PALMER, Twilight of the Habsburgs, 1995. p. 160.
25 HAMANN, e Reluctant Empress, 1986. p. 45.
26 Ibid., p. 203.
27 CORTI, Elizabeth, Empress of Austria, 1936. p. 239.
28 Ibid., p. 361.
29 PALMER, Twilight of the Habsburgs, 1995. p. 215.
30 HAMANN, e Reluctant Empres, 1986. p. 278.
31 HAMANN. e Reluctant Empress, 1986. p. 369.
32 WILLIAMSON, Terrorism, war and International Law, 2016.
33 PALMER, Twilight of the Habsburgs, 1995. p. 285.
34 HAMANN, e Reluctant Empress, 1986. p. 370.
35 Idem.
36 ALBERTINI, e origins of the war 1914, 1980. p. 51.
37 VOVK, Imperial Requiem, 2014. p. 221.
38 HABSBURG, Curriculum vitae, [2022].
Sumário
Capa
Folha de rosto
Créditos
Dedicatória
Sumário
Introdução
Árvore genealógica da imperatriz Sissi
AEIOU
Ventos de mudança
Herdeiros de um império
Francisco José, o desejado
Novo imperador, velhas ideias
Uma noiva para o imperador
Sissi, a indomável
Um casamento imperial
Um início difícil
A imperatriz do povo
Altos e baixos
A viajante
A disputa na Alemanha
A rainha da Hungria
Uma tragédia mexicana
O culto à beleza
A dama do dominó amarelo
Mayerling
O ocaso da imperatriz
O herdeiro rebelde
Sarajevo
O último imperador
A serviço do país, no exílio
Os Habsburgos muito além do trono
Referências bibliográ cas
Saiba mais no canal do youtube de paulo rezzutti
Caderno de imagens
Os últimos czares
Rezzutti, Paulo
9786556431444
280 páginas