Memorial Final TCC Camila Macedo
Memorial Final TCC Camila Macedo
Memorial Final TCC Camila Macedo
CAMILA MACEDO
CURITIBA
2014
CAMILA MACEDO
CURITIBA
2014
CAMILA MACEDO
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Profª. Ma. Juslaine de Fátima Abreu Nogueira
Universidade Estadual do Paraná – Unespar/FAP
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Profª. Ma. Carolina Ribeiro Pátaro
Universidade Federal do Paraná – UFPR
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Prof. Dr. Jamil Cabral Sierra
Universidade Federal do Paraná - UFPR
À memória de Denize Regina Detzel Bernert,
cuja presença continua viva em minha trajetória.
AGRADECIMENTOS
À Ana Paula Macedo Máttar e Marco Kramer, minha irmã e meu irmão. Por
todas as divergências que me possibilitam tanto crescimento e evolução. Por
estarem sempre comigo. Por serem um lar.
Virginia Woolf
1 WOOLF, Virginia. Orlando. Tradução de Cecília Meireles. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978.
MACEDO, Camila. Pós-pornografia e a produção discursiva das sexualidades
dissidentes: um estudo sobre a heteronormatividade nas representações de
gênero. Trabalho de Conclusão do Curso de Cinema e Vídeo. Universidade Estadual
do Paraná/Faculdade de Artes do Paraná. 2014. 42f.
RESUMO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10
2 GÊNEROS INTELIGÍVEIS .................................................................................... 11
3 O SABER-PRAZER DA PORNOGRAFIA ............................................................ 15
4 PÓS-PORNOGRAFIA ........................................................................................... 22
5 UMA INVESTIGAÇÃO AUTOBIOGRÁFICA ........................................................ 28
6 REFLEXÕES SOBRE O EXPERIMENTO FÍLMICO ............................................ 35
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 40
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 42
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1 INTRODUÇÃO
2 Contrariando as normas da ABNT, acredito ser necessário nomear as e os autoras/es que cito para
além do nome “de família”. Primeiro, por acreditar na tendência de que o uso apenas do sobrenome
acaba por dar a entender serem todos homens. Segundo, por não defender a ideia de conhecimento
“neutro” e entender ser relevante saber a partir de que visão de mundo determinada pelas condições
materiais de existência se aponta dado conhecimento sobre gênero/sexo/desejo.
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ou seja,
Em outras palavras, o “sexo” é um construto ideal que é forçosamente
materializado através do tempo. Ele não é um simples fato ou a condição
estática de um corpo, mas um processo pelo qual as normas regulatórias
materializam o “sexo” e produzem essa materialização através de uma
reiteração forçada destas normas. O fato de que essa reiteração seja
necessária é um sinal de que a materialização não é nunca totalmente
completa, que os corpos não se conformam, nunca, completamente, às
normas pelas quais sua materialização é imposta. (BUTLER, Judith, 2013,
p. 154)
Por “estrutura binária do sexo”, quer-se dizer a divisão dos indivíduos em dois
únicos grupos (“machos” ou “fêmeas”) pautada na classificação das diferenças
anatômicas e biológicas também em duas únicas variáveis (“pênis” ou “vagina”, “XY”
ou “XX”), estipulando-se assim uma ordem estável – digo, não flutuante – de
catalogação do sexo. Ocorre que, ao se tomar o sexo como uma realidade material
neutra e anterior à cultura e o gênero como o construto que o tornará discursivo,
invoca-se a instituição de uma relação mimética do gênero com o sexo, resultando
em uma ordem compulsória na qual invariavelmente pênis indica macho e macho
indica masculino em oposição à vagina, que indica fêmea, fêmea indicando
feminino.
Gêneros “inteligíveis” são aqueles que, em certo sentido, instituem e
mantêm relações de coerência e continuidade entre sexo, gênero, prática
sexual e desejo. Em outras palavras, os espectros de descontinuidade e
incoerência, eles próprios só concebíveis em relação a normas existentes
de continuidade e coerência, são constantemente proibidos e produzidos
pelas próprias leis que buscam estabelecer linhas causais ou expressivas
de ligação entre o sexo biológico, o gênero culturalmente constituído e a
“expressão” ou “efeito” de ambos na manifestação do desejo sexual por
meio da prática sexual. (BUTLER, Judith, 2003, p. 38)
“Que outra máquina política conhece que tenha o mesmo poder de produzir
prazer?”, é o que responde Beatriz Preciado ao ser questionada pela revista Parole
de Queer sobre qual a importância política da pornografia.
Figura 2 – Mulher saltando: a mão se ergue, a fenda da saia revela a coxa, ela sorri.
Nuno Cesar Abreu não descreve o money shot como o momento genérico do
orgasmo, mas sim “a ejaculação masculina fora do orifício vaginal feita para a
câmera” (1996, p. 96). Mesmo que o autor apresente o princípio dinâmico motivador
dos filmes pornôs como “a diferença fundamental entre o masculino e o feminino”,
destacando a imperatividade de se dividir os seres entre sexos, ao considerar o gozo
do homem a finalidade máxima do desenrolar da narrativa, concluo ser possível que
à pornografia mainstream se encaixe a mesma análise feita por Monique Wittig
sobre a gramática nas línguas francesa e inglesa: “[...] não há dois gêneros. Há
somente um: o feminino, o “masculino” não sendo um gênero. Pois o masculino não
é o masculino, mas o geral” (apud BUTLER, Judith, 2003, p. 42).
Logo, o olhar hegemônico da pornografia clássica é, indubitavelmente, o que
foi convencionalmente atribuído ao prazer do homem cisgênero heterossexual.
Diante de tal contexto, o surgimento da pós-pornografia marca a possibilidade de se
instituir a representação do desejo e do prazer a partir de olhares mais flutuantes e
diversificados, trazendo à tona sexualidades anteriormente marginalizadas.
são, não obstante, densamente povoadas por aqueles que não gozam do status de sujeito, mas cujo
habitar sob o signo do ‘inabitável’ é necessário para que o domínio do sujeito seja circunscrito”.
(BUTLER, Judith, 2013, p. 155)
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8 Disponível em http://girlswholikeporno.com/shortfilms/love-on-the-beach/
9 Disponível em http://postop-postporno.tumblr.com/videos
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Mantive, durante toda a infância, uma diversão secreta com algumas amigas.
Chamávamos pelo código “brincar de namorado” e, basicamente, era quando
fingíamos ser um casal heterossexual vivendo enredos que envolvessem sedução e
erotismo. Embora alternássemos, eu quase sempre escolhia desempenhar o papel
masculino. As fantasias masturbatórias transfiguradas nessas brincadeiras eram,
claro, repletas de referências culturais sobre quais os atributos dos homens e quais
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skatista e o uso de cuecas samba canção. Assim como os meninos, eu deixava uma
parte da cueca para fora das calças largas e caídas, o que, no colégio, rendeu-me a
fama de “puta” – a justificativa, de acordo com os colegas, era a de que eu mostrava
as minhas roupas íntimas para provocá-los.
Figura 8 – Eu com a cueca samba canção aparecendo
Em acordo com a ideia de que às/aos que não se sentem contemplados pela
pornografia vigente cabe experimentar novas formas de representar o sexo, encerro
a presente pesquisa com a proposição de um experimento fílmico, visando
representar poeticamente o meu corpo a partir da maneira como eu o vivencio,
tentando não reforçar o imperativo heteronormatizante.
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dos corpos podendo ser experimentadas livremente, podendo ser “brincadas” pelo
corpo em cena. Alguns enquadramentos geram uma cisão entre membros
superiores e membros inferiores, convidam-nos a pensar: aqueles movimentos de
pernas cabem àquele rosto, àqueles seios, àqueles braços? O corpo é uma unidade
homogênea? O reverberar de seus movimentos é estático na qualidade de
masculino ou feminino? Há uma identidade fixa manifestada pela matéria?
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
WILLIAMS, Linda. Hard Core: Power, pleasure, and the “frenzy of the visible. Los
Angeles, University of California Press, 1989.