Curso 270082 Aula 00 1981 Completo
Curso 270082 Aula 00 1981 Completo
Curso 270082 Aula 00 1981 Completo
Autor:
Alessandra Lopes
08 de Dezembro de 2023
Sumário
6. Indígenas .................................................................................................................................................... 43
1/187
Lista de Questões.......................................................................................................................................... 71
Gabarito .......................................................................................................................................................... 88
APRESENTAÇÃO DA PROFESSORA
Olá, queridas e queridos alunos, tudo bem?
Estou muito feliz por você iniciar nosso curso de História de Manaus para o
Concurso GCM-Manaus (Técnico Municipal I – Guarda Municipal) História de
Manaus - 2023 (Pós-Edital).
Desde 2004, dou aulas de História, Ciências Sociais e Humanidades em cursos preparatórios para
vestibulares, ENEM e concursos. Entre 2018 e 2019, iniciei minha jornada aqui no Estratégia, dou aula no
2/187
Posso afirmar, com segurança, que já contribui para a aprovação de muitos alunos nas mais variadas e
concorridas instituições do Brasil. Seja bem-vindo e bem-vinda ao nosso time :)
Dito isso, espero que você esteja seguro e segura para iniciar esta jornada importante que irá contribuir para
a conquista de pontos fundamentais para a sua aprovação.
Aproveite para me seguir nas redes sociais, há muitos conteúdos iscas e orientações focadas e cotidianas
que podem reforçar seus conhecimentos.
Grande abraço,
Bons estudos!
METODOLOGIA DO CURSO
Vamos conhecer a proposta do curso?
Esse curso vai no alvo e prioriza o que realmente cai. Foi pensado para você estudar até o
dia da prova.
Na disciplina de História, temos que fazer sempre o controle da temporalidade. Isso significa que
organizamos a disponibilização do conteúdo cronologicamente Além disso, tomamos como base a História
a partir do momento histórico em que Portugueses chegam aqui.
Duas sugestões:
1- Monte sua linha do tempo: durante a leitura da aula, cada data que aparecer você anota e completa sua
linha do tempo.
3/187
Você faz o controle dessa linha por meio da marcação do exato momento histórico que você
está estudando. Assim, você nunca mais vai ficar “perdido no tempo” (acreditem: essa é a
principal dificuldade dos estudantes – mas não será para você!).
Na composição do nosso curso, também temos as videoaulas. Dinâmicas e interativas, elas têm o
conteúdo completo que também consta nos Livros Digitais, especialmente, naqueles assuntos mais
espinhosos que quase todo mundo esquece na hora H. Nas videoaulas dou dicas e macetes preciosos para
você resolver as questões objetivas.
Os slides de aula também ficam disponíveis na plataforma e servem como verdadeiros resumos de
conteúdo. E são lindos S2 !!!
Há também o Fórum de Dúvidas, que será nosso mecanismo de contato permanente. Estaremos sempre
perto! Além de o Fórum permitir que você tire dúvidas rapidamente, o curso EAD permite que você estude
conforme suas necessidades e potencialidades. Aliás, essa é uma das principais vantagens do ensino EAD,
pois quem monta o horário de estudos é você. Tem quem mande bem pela manhã, outros à tarde, e tem o
estudante “super noturno”.
Então, assim que você terminar de estudar uma aula do Livro Digital e,
eventualmente, apareçam dúvidas, você poderá mandá-las lá no Fórum.
4/187
CRONOGRAMA DE AULAS
Vejamos a distribuição das aulas!
Essa é a distribuição dos assuntos ao longo do curso. Eventuais ajustes poderão ocorrer, especialmente por
questões didáticas. De todo modo, sempre que houver alterações no cronograma, vocês serão informados
e com a devida justificação, combinado?!
DATAS
DATAS
AULAS TÓPICOS ABORDADOS GRAVAÇÕES
PDF
DE AULAS
Aula 00 História da Cidade - Ocupação e 08/12/23
Período Colonial
Aula 01 História da Cidade - Império e 18/12/2023
República
Aula 02 Patrimônio Cultural 10/01/204
Aula 03 Aspectos Culturais e Pontos 17/01/2024
Turísticos
Você deve estar achando perda de tempo esse tópico, afinal já passou 12 anos na escola e estudou História
“pra caramba”. Então eu pergunto: você se lembra de tudo?
Talvez os mais fissurados na disciplina mandem muito bem. No entanto, a grande maioria só vai lembrar
daquele cara chamado Napoleão – e seu cavalo branco -, o Dom Pedro – que também tinha aquele cavalo
branco -, Júlio César - o imperador romano -, a Joana d’Arc – que se vestiu de homem para lutar contra...
(não se lembra, né?).
5/187
Em se tratando de prova de concurso tudo é importante e deve ser bem articulado, meu bem!
Há muito tempo a história não é mais contada como os grandes feitos de inesquecíveis heróis. Também, não
é mais contada apenas por temas, de maneira descontextualizada. A historiografia mais contemporânea
adota a perspectiva dos processos históricos coletivos e da história como experiência social.
Essa forma de compreender e escrever a história dos homens, das suas ideias e dos
seus feitos é a forma como as provas costumam elaborar suas questões de História.
6/187
Segundo: é necessário ter uma visão ampla sobre os períodos históricos. Isso significa que tem que saber
data sim!!! Maior mentira do mundo esse negócio de que data não importa. Então, a tradicional linha do
tempo é um exercício fundamental para quem quer gabaritar história. Em estatística, chamamos isso de série
histórica. Para entender tendências mais gerais do mercado de trabalho, por exemplo, o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) pega os dados de períodos grandes de tempo. Assim, consegue-se perceber
o movimento, as transformações, as
tendências e as variáveis constantes. É
Quando?
isso que fazemos com a História, como
qualquer outra ciência.
Para
Terceiro: é fundamental desvendar as quem?
Onde?
relações causais dos processos – causas e
consequências. São elas que ligam os fios
e fatos da História. Quando estamos Fato
Histórico
diante de um acontecimento precisamos
fazer as perguntas: quando, onde, por
que, por quem, resultou em que, para Resultou
Por quê?
quem? Vamos diagramar essa ideia? em quê?
Por quem?
Ou seja, querida/querido aluno,
ao encontrarmos as causas e as
consequências de fatos e
fenômenos, dentro de contextos amplos, conseguimos explicar os processos históricos.
É preciso mudar a perspectiva, e é isso que nós propomos com nosso material. A COMPREENSÃO DOS
PROCESSOS DEPENDE DA MEMORIZAÇÃO e NÃO EXISTE MEMORIZAÇÃO SEM COMPREENSÃO. Essas coisas
são complementares, sacaram?
7/187
O método TET ajuda você a ser mais eficiente, ou seja, a acertar muito mais questões.
a- O tempo T
b- O espaço (local) E
T.E.T.
c- O tema T
Identifique tudo isso no comando da questão e no texto do enunciado. Com isso você já
vai localizar do que se trata cada questão.
✓ Passo 2: A lei da prova é o comando da questão: faça exatamente o que se pede. Não
procure pelo em ovo.
✓ Passo 3: Sempre relacione cada alternativa com os 3 mandamentos da questão (espaço,
tempo e tema). Muitas vezes podem ter alternativas certas, mas que não condizem com o
tempo, espaço e tema que estão sendo cobrados na questão. Atenção a isso, pois falta de
atenção nesse aspecto costuma ser uma das principais causas de erros nas questões de
história.
Os dois últimos passos você pode explorar nos simulados e no dia da prova mesmo. Eles
servem para aumentar seu número de acertos.
✓ Passo 4: Interprete o texto, a imagem, a frase, olhe para todas as informações trazidas na
questão, sobretudo se você estiver em dúvida entre alternativas distintas e que parecem
muito parecidas. Algumas vezes, a fonte do texto pode ajudar.
✓ Passo 5: Essa dica vai para quando você não souber mesmo o assunto específico. Nesse
caso, encontre os 3 mandamentos (espaço, tempo, tema) e faça uma contextualização
8/187
geral. Você precisa lembrar dos aspectos mais gerais. Elimine todas as alternativas que não
estiverem ligadas ao contexto.
Por exemplo, todas as revoltas coloniais nativistas ocorreram contra o abuso de poder da
Metrópole e sua tentativa de aumentar a explorar por meio de cobranças de impostos excessivas,
fiscalização rígida; todas ocorreram pós União Ibérica e, por isso, no contexto da crise do sistema
colonial. Isso vai ajudar a acertar mesmo que não tenha certeza.
O calendário que rege a organização da vida social é como um plano cartesiano: o ano ZERO é o nascimento
de Cristo.
Assim, antes desse evento, os anos são contados em ordem decrescente, depois, em ordem crescente.
Veja a seguir:
___________________________________|___________________________________
Nascimento de Cristo
E essa cronologia toda foi subdividida pela historiografia com objetivos didáticos para podermos comparar
períodos, processos e fenômenos, uma vez que a história é o estudo da vida dos homens no seu devido
tempo. Sacou? A subdivisão é a seguinte:
9/187
1. Idade Antiga: 4000 a.C até 476 d.C (da invenção da escrita até queda do
Império Romano)
2. Idade Média: 476 d.C até 1453 d.C (até a queda de Constantinopla, capital
do Império Bizantino)
3. Idade Moderna: 1453 d.C até 1789 d.C (até a Revolução Francesa)
4. Idade Contemporânea: 1789 até os dias atuais
Idade
Idade Antiga: Idade Moderna:
Idade Média: 476 Contemporânea:
4000 a.C até 476 1453 d.C até 1789
d.C até 1453 d.C 1789 até os dias
d.C d.C
atuais
No que e refere à História do Brasil, ela se inicia com a chegada dos Europeus à América no século XV.
Mas lembre-se: o fluxo histórico é CONTÍNUO. Não tem um dia no qual os homens acordaram e se deram
conta de que “tinha acabado a Idade Média e começado a Moderna...” e disseram: “Aí, querido, agora somos
Modernos!!! :P......
Por isso, a divisão é um recurso pedagógico e de pesquisa, feito por diversos historiadores ao longo dos
últimos séculos e a mais aceita. Outras existem e em momentos oportunos, comento com você, ok?
10/187
Antes de começar o conteúdo, quero dizer que farei uma introdução sobre a História do Brasil e o
início do proesso de colonização para que vocês não se percam e possam compreender o processo
que levou à ocupação da Amazônia e à formação de Manaus.
A viagem para a América, mais especificamente a expedição comandada por Dom Pedro Álvares Cabral.
Em 22 de abril, a armada de Cabral avistou um grande monte, o Monte Pascoal (hoje, Parque Nacional do
Monte Pascoal, a 62 km de Porto Seguro). A reação foi de espanto, encanto e “vontade de tomar posse”,
segundo o que determinava o Tratado de Tordesilhas. Lembra dele?
11/187
Essa posse precisava ser registrada e, para tal intento, estava presente o experiente escrivão Pero Vaz
de Caminha – que escreveu a carta que serve, para Portugal, como um “atestado de nascimento” do Brasil.
Caminha escreveu uma longa, deslumbrada e exultante descrição da “terra nova”.
Leia alguns trechos da Carta de Pero Vaz de Caminha, com atenção para os grifos.
Reflita sobre como o texto alimenta os dois mitos.
1 “Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito, segundo
disseram os navios pequenos, por chegarem primeiro (..)Eram pardos, todos nus, sem coisa
alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham
todos rijamente sobre o bater; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E
eles os pousaram. [...] Quando saímos do batel, disse o Capitão que seria bom irmos
direitos à Cruz, que estava encostada a uma árvore, junto com o rio, para se erguer amanhã,
que é sexta-feira, e que nós puséssemos todos em joelhos e a beijássemos para eles
verem o acatamento que lhe tínhamos. E assim fizemos. A esses dez ou doze que aí
estavam acenaram-lhe que fizessem assim, e foram logo todos beijá-la. Parece-me gente
de tal inocência que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam logo cristãos, porque
eles, segundo parece, não têm, nem entendem em nenhuma crença. [...] Domingo, 26 de
abril: Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão de ir ouvir missa e
pregação naquele ilhéu. (...) E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual foi dita pelo
padre Frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela voz pelos outros padres e
sacerdotes, que todos eram ali. A qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos
1
Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo (1854–1916). História do Brasil (v.1), Rio de Janeiro: Bloch,
1980
12/187
com muito prazer e devoção. (..) Acabada a missa, desvestiu-se o padre e subiu a uma
cadeira alta; e nós todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa
pregação da história do Evangelho, ao fim da qual tratou da nossa vinda e do achamento
desta terra, conformando-se com o sinal da Cruz, sob cuja obediência viemos. O que foi
muito a propósito e fez muita devoção. Entre todos estes que hoje vieram, não veio mais
que uma mulher moça, a qual esteve sempre à missa e a quem deram um pano com que
se cobrisse. Puseram-lho a redor de si. Porém, ao assentar, não fazia grande memória de o
estender bem, para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal que a de Adão
não seria maior, quanto a vergonha. Ora veja Vossa Alteza se quem em tal inocência vive
se converterá ou não, ensinando-lhes o que pertence à sua salvação. [...] "Até agora não
pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos.
Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-
e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são
muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo;
por causa das águas que tem! Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me
que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela
deve lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui esta pousada para essa
navegação de Calicute bastava. Quanto mais, disposição para se nela cumprir e fazer o que
Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé.”
A narrativa construída pelos conquistadores adquiriu caráter simbólico, independente da realidade, embora
baseada nela.
Vejamos uma informação importante sobre a ideia de “índio”2 que confronta a narrativa mitológica,
conforme o antropólogo e professor do Museu Nacional da UFRJ, Eduardo Viveiros de Castro 3:
Devemos começar então por distinguir as palavras “índio” e“indígena”, que muitos talvez pensem ser
sinônimos, ou que “índio” seja só uma forma abreviada de “indígena”. Mas não é. Todos os índios no
Brasil são indígenas, mas nem todos os indígenas que vivem no Brasil são índios.
Índios são os membros de povos e comunidades que tem consciência —seja porque nunca a perderam, seja
porque a recobraram — de sua relação histórica com os indígenas que viviam nesta terra antes da chegada
dos europeus. Foram chamados de “índios” por conta do famoso equívoco dos invasores que, ao
aportarem na América, pensavam ter chegado na Índia. “Indígena”, por outro lado, é uma palavra muito
2
“A palavra indígena vem do latim indigĕna,ae “natural do lugar em que vive, gerado dentro da terra
que lhe e própria”, derivação do latim indu arcaico (como endo) > latim classico in- “movimento para
dentro, de dentro” + -gena derivação do radical do verbo latino gigno, is, genŭi, genĭtum, gignĕre,
“gerar”; Significa “relativo a ou população autoctone de um pais ou que neste se estabeleceu
anteriormente a um processo colonizador” ...; por extensão de sentido (uso informal), [significa] “que
ou o que e originário do pais, região ou localidade em que se encontra; nativo”. (Dicionário Eletrônico
Houaiss).
3
CASTRO, Eduardo Viveiros de. Os Involuntários da Pátria. ARACÊ – Direitos Humanos em Revista.
Ano 4, Número 5, fevereiro/2017, pp. 187-193.
13/187
antiga, sem nada de “indiana” nela; significa “gerado dentro da terra que lhe e própria, originário da
terra em que vive”. Há povos indígenas no Brasil, na África, na Ásia, na Oceania, e até mesmo na Europa.
O antônimo de “indígena” e “alienígena”, ao passo que o antônimo de índio, no Brasil, e “branco”,
ou melhor, as muitas palavras das mais de 250 línguas índias faladas dentro do território brasileiro que se
costumam traduzir em português por “branco”, mas que se referem a todas aquelas pessoas e instituições
que não são índias. Essas palavras indígenas tem vários significados descritivos, mas um dos mais comuns e
“inimigo”, como no caso do yanomami nape, do kayapo kuben ou do arawete awin. Ainda que os
conceitos índios sobre a inimizade, ou condição de inimigo, sejam bastante diferentes dos nossos, nao custa
registrar que a palavra mais próxima que temos para traduzir diretamente essas palavras indígenas seja “
inimigo. Durmamos com essa. (...)
Quando perguntaram ao escritor Daniel Munduruku se ele “enquanto índio etc.”, ele cortou no ato: “
não sou índio; sou Munduruku”. Mas ser Munduruku significa saber que existem Kayabi, Kayapo, Matis,
Guarani, Tupinamba, e que esses não são Munduruku, mas tampouco são Brancos. Quem inventou os “
índios” como categoria genérica foram os grandes especialistas na generalidade, os Brancos, ou por outra,
o Estado branco, colonial, imperial, republicano.
Apesar da chegada a uma terra com muitas riquezas naturais, como afirmou Caminha, Portugal não
alterou seu plano principal: dominar e monopolizar as rotas das especiarias para o Oriente. Tanto que Pedro
Álvares Cabral seguiu com sua esquadra em direção à Índia. Até mesmo porque, por essas terras dos
indígenas brasileiros, não se encontraram ouro e prata logo no início da conquista, como nas colônias
espanholas. Assim, a área reservada pelo acordo bilateral de Tordesilhas ficou para o futuro!
(COMVEST/SP/2011)
Em carta ao rei D. Manuel, Pero Vaz de Caminha narrou os primeiros contatos entre os indígenas e os
portugueses no Brasil: “Quando eles vieram, o capitão estava com um colar de ouro muito grande ao
pescoço. Um deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra,
e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. Outro viu umas contas de
rosário, brancas, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como
se dissesse que dariam ouro por aquilo. Isto nós tomávamos nesse sentido, por assim o desejarmos!
Mas se ele queria dizer que levaria as contas e o colar, isto nós não queríamos entender, porque não
havíamos de dar-lhe!”
(Adaptado de Leonardo Arroyo, A carta de Pero Vaz de Caminha. São Paulo: Melhoramentos; Rio de
Janeiro: INL, 1971, p. 72-74.)
Esse trecho da carta de Caminha nos permite concluir que o contato entre as culturas indígena e
europeia foi
14/187
a) favorecido pelo interesse que ambas as partes demonstravam em realizar transações comerciais: os
indígenas se integrariam ao sistema de colonização, abastecendo as feitorias, voltadas ao comércio do
pau-brasil, e se miscigenando com os colonizadores.
b) guiado pelo interesse dos descobridores em explorar a nova terra, principalmente por meio da
extração de riquezas, interesse que se colocava acima da compreensão da cultura dos indígenas, que
seria quase dizimada junto com essa população.
c) facilitado pela docilidade dos indígenas, que se associaram aos descobridores na exploração da nova
terra, viabilizando um sistema colonial cuja base era a escravização dos povos nativos, o que levaria à
destruição da sua cultura.
d) marcado pela necessidade dos colonizadores de obterem matéria-prima para suas indústrias e
ampliarem o mercado consumidor para sua produção industrial, o que levou à busca por colônias e à
integração cultural das populações nativas.
Comentários
O direcionamento das expedições marítimas dos portugueses às Américas tinha um interesse
comercial. Os europeus, em geral, e os portugueses em específico vieram até o “Novo Mundo” em
busca de riquezas. Essa intenção está claramente explícita na carta de Pero Vaz quando ele faz
referência ao ouro e interpreta a ação dos índios aos olhos do conquistador: “como se dissesse que
dariam ouro por aquilo. Isto nós tomávamos nesse sentido, por assim o desejarmos! “. Nesse sentido,
a consequência da finalidade dos portugueses (a riqueza) para os índios foi a violência, nas mais
diversas formas. A alternativa que sintetiza essa compreensão histórica é a B.
A alternativa A transmite a noção de amistosidade entre as partes, índios e portugueses. A C insiste na
compreensão romântica de que os índios seriam seres doces. Além disso, a C erra ao afirmar que a
base do sistema colonial foi a escravização dos povos nativos. De fato, os índios foram escravizados,
mas a base do sistema colonial, em termos de mão de obra, foi a escravidão dos negros africanos.
Por fim, a D exagera por colocar a industrialização em um momento em que ela ainda não existia, por
isso, é uma alternativa “anacrônica” (fora do tempo/contexto).
Gabarito: B
15/187
Apesar de, em 1500, os interesses da Coroa Lusa estarem voltados para a rota das especiarias, nos
primeiros anos após a vinda de Cabral o governo português enviou algumas expedições de reconhecimento
para vasculhar o território e garantir sua posse. O objetivo principal era saber se aqui poderia se obter
metais preciosos.
Mas a riqueza do “Novo Mundo” não era dourada e prateada, era vermelha de pau-brasil, era verde de
florestas, era translucida de uma água que não se via na Europa, era de gente e de terra que tinham quase a
mesma cor. Nossa riqueza era outra.
É importante ressaltar que nessas expedições de reconhecimento, também chamadas por alguns
historiadores de expedições pré-colonizadoras, houve um trabalho de nomear as coisas encontradas, as
localidades, os acidentes geográficos, os rios e até as pessoas que aqui viviam.
Foram 3 as expedições:
Dessas expedições, o que se encontrou para explorar imediatamente foi o pau-brasil. Veja no mapa a seguir
a área de ocorrência da árvore.
Assim, entre 1501 e 1530, o que se verificou foi uma fase de economia extrativista. Não houve um
planejamento centralizado ou algo do tipo. Mesmo assim a exploração era monopólio da Coroa Portuguesa,
que permitia a exploração particular por meio de contrato de concessão. A atividade extrativista de pau-
brasil foi realizada com mão de obra indígena à base de escambo
Área de exploração de Pau-Brasil (início da
colonização) (troca de utensílios europeus, como machado, facas, por trabalho).
16/187
Contudo, é importante ressaltar que os contratos de concessão emitidos pela Coroa privilegiavam
exploradores portugueses. Tratava-se de uma forma de
protecionismo. O principal explorador foi Fernando de Noronha.
A madeira do pau-brasil era considerada uma especiaria no Oriente. A resina dessa árvore era utilizada
para tingir tecidos e a madeira para fazer móveis finos e embarcações. Nas terras dos índios tupi, o pau-brasil
era conhecido como “ibirapitanga” – que significa “pau-vermelho”. Os europeus, ao latinizarem a palavra,
chamaram-no de brecilis, bersil, brezil, brasil, brasily, paralavras que significavam: cor de brasa ou vermelho.
Assim, desde 1512, quando o pau-brasil entrou definitivamente no mercado internacional, a colônia
portuguesa passou a ser designada por Brasil.
4
SCHWARCZ, Lilia Moritz. e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Ed. Cia das
Letras, 2018, p. 32
17/187
Mas o cenário internacional obrigava Portugal a se posicionar mais seriamente em relação ao Brasil, a
fim de garantir a posse da parte do mundo que lhe cabia, segundo o Tratado de Tordesilhas. Observe os
elementos do cenário internacional que pressionavam a Coroa Portuguesa a agir:
COMVEST/SP/2013)
“Quando os portugueses começaram a povoar a terra havia muitos destes índios pela costa junto das
Capitanias. Porque os índios se levantaram contra os portugueses, os governadores e capitães os destruíram
pouco a pouco, e mataram muitos deles. Outros fugiram para o sertão, e assim ficou a costa despovoada de
gentio ao longo das Capitanias. Junto delas ficaram alguns índios em aldeias que são de paz e amigos dos
portugueses.”
(Pero de Magalhães Gandavo, Tratado da Terra do Brasil, em
http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/ganda1.html. Acessado em 20/08/2012.)
Conforme o relato de Pero de Gandavo, escrito por volta de 1570, naquela época,
a) as aldeias de paz eram aquelas em que a catequese jesuítica permitia o sincretismo religioso como forma
de solucionar os conflitos entre indígenas e portugueses.
b) a violência contra os indígenas foi exercida com o intuito de desocupar o litoral e facilitar a circulação do
ouro entre as minas e os portos.
c) a fuga dos indígenas para o interior era uma reação às perseguições feitas pelos portugueses e ocasionou
o esvaziamento da costa.
18/187
d) houve resistência dos indígenas à presença portuguesa de forma semelhante às descritas por Pero Vaz de
Caminha, em 1500
Comentários
De acordo com o documento do cronista Pero de Gandavo, os indígenas fugiam para o interior (sertão) como
forma de resistência à presença portuguesa. Desde o início do período colonial, vários grupos se opuseram
aos lusos, ocasionando diversos conflitos entre nativos e europeus. Dessa forma, fugir para o “interior”
dificultava a ação dos portugueses. Por isso, o gabarito é a alternativa C.
A alternativa A pode pegar os mais desatentos, pois, ao longo da colonização, de fato, as missões jesuíticas
levaram a sincretismos religiosos. Porém, não dá para afirmar categoricamente que os conflitos foram
solucionados. Além disso, repare que o texto da questão foi escrito por volta de 1570, ou seja, antes da
instalação da proliferação dos trabalhos das missões.
A B está errada porque o trecho final desloca o ciclo da mineração para um contexto em que ele ainda não
existia.
Já a D, contraria o que Caminha escreveu em sua carta.
Por fim, interessante perceber que o texto também mostra que, em muitos casos, algumas sociedades
indígenas também estabeleciam sistemas de alianças com os portugueses.
Gabarito: C
(UNICAMP/2014)
A história de São Paulo no século XVII se confunde com a história dos povos indígenas. Os índios não se
limitaram ao papel de tábula rasa dos missionários ou vítimas passivas dos colonizadores. Foram
participantes ativos e conscientes de uma história que foi pouco generosa com eles.
(Adaptado de John M. Monteiro, “Sangue Nativo”, em http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/
sangue-nativo. Acessado em 14/07/2013.)
Sobre a atuação dos indígenas no período colonial, pode-se afirmar que:
a) A escravidão foi por eles aceita, na expectativa de sua proibição pela Coroa portuguesa, por pressão dos
jesuítas.
b) Sua participação nos aldeamentos fez parte da integração entre os projetos religioso e bélico de domínio
português, executados por jesuítas e bandeirantes.
c) A existência de alianças entre indígenas e portugueses não exclui as rivalidades entre grupos indígenas e
entre os nativos e os europeus.
d) A adoção do trabalho remunerado dos indígenas nos engenhos de São Vicente contrasta com as práticas
de trabalho escravo na Bahia e Pernambuco.
Comentários
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, os índios já possuíam rivalidades entre si. Um exemplo são os
Tupinambas oriundos da Amazônia que, por volta do ano 1000, conquistaram a região da atual São
Vicnete/Santos (SP) dos índios Tapuias. Dessa forma, quando os europeus chegaram nas Américas, eles
souberam se aproveitar das diferenças entre os povos indígenas. Isso ocorreu no Brasil e na América
Espanhola. Por isso, no decorrer do século XVII, além dos vários conflitos envolvendo indígenas e europeus,
também houve conflitos entre indígenas e europeus de um lado, contra indígenas e europeus do outro lado.
19/187
Um caso clássico que podemos lembrar é o da Confederação dos Tamoios. Incentivados pelos franceses, os
índios das tribos tamoios conseguiram se unir a outras tribos e criaram a Confederação dos Tamoios, com
objetivo de guerrear contra os portugueses. No final dessa batalha, os portugueses saíram vitoriosos,
inclusive com o apoio de outros índios.
Nesse contexto, o Gabarito é a letra C.
A A está errada porque os índios não aceitaram a escravidão, tal como o item afirma. A alternativa B sugere
que jesuítas e bandeirantes adotaram a mesma estratégia de subjugação dos índios. Da forma como a frase
foi escrita ela está errada, pois é necessário diferenciar a atuação dos missionários e a dos bandeirantes.
Além disso, alternativa ainda coloca os índios como sujeito da ação, quando, na verdade, eles foram objeto
da dominação.
A alternativa D está equivocada porque não houve esse trabalho remunerado dos indígenas. Ainda mais em
São Vicente, ou melhor, no sudeste do país, região que manteve o trabalho escravo indígena por mais
tempo.
Gabarito: C
20/187
Em 1530, a Coroa Lusa organizou a 1ª. Expedição Colonizadora comandada por Martin Afonso de Sá. os
historiadores consideram que, com essa expedição, iniciou-se o 2º momento da colonização, ou a
colonização propriamente dita.
Note que entre os objetivos da expedição colonial, 2 são de natureza econômica: procurar metais
preciosos e encontrar o melhor lugar para o cultivo de cana de açúcar. Assim, podemos afirmar que o sentido
econômico da colonização era encontrar uma atividade que compensasse o esforço colonizador, leia-se, o
investimento. Além disso, gerar muita riqueza e superlucros para a metrópole e suas elites. Afinal, a lógica
era mercantilista, né gente?
O economista e historiador Caio Prado Jr., em seu livro Formação do Brasil contemporâneo, advoga a
tese de que o sentido econômico do projeto colonial esteve voltado para abastecer o mercado exterior e,
assim, transferir os dividendos desse comércio para os países colonizadores:
No seu conjunto a colonização dos trópicos toma o aspecto e uma vasta empresa colonial
destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio
europeu, é este o verdadeiro sentido da colonização tropical, de que o Brasil é uma das
resultantes[...]. Tudo se disporá naquele sentido: a estrutura bem como as atividades do
país. Virá o branco europeu para especular, realizar um negócio; inverterá seus cabedais e
recrutará mão de obra que precisa: indígenas ou negros importados5.
Perceba, portanto, que o objetivo do Rei de Portugal ao estabelecer metas para Martin Afonso não foi
desenvolver a colônia em si, mas descobrir uma atividade que pudesse pagar os investimentos desse
empreendimento bem como gerar superlucros.
É evidente, como veremos, que outras atividades econômicas acabaram criando uma economia colonial
própria, cujos lucros permaneciam na própria colônia e que, dessa forma, possibilitavam o surgimento de
grupos e interesses distintos daqueles da metrópole portuguesa. Mesmo assim, isso não inverteu o sentido
inicial da colonização e tão pouco o objetivo da Metrópole colonizadora. Sacou?
Caros, essa discussão sobre o sentido da colonização –– deu margem para a definição de 2 tipos de
colonização: a de exploração e a de povoamento. Vejamos:
5
PRADO JR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1979, p. 31-32.
21/187
Portanto, a exploração do Brasil, ou conquista, foi um projeto da Coroa Portuguesa para garantir os
superlucros, expandir a fé católica, repelir outros conquistadores (franceses, holandeses) e melhor disputar
a hegemonia marítima do Atlântico. Povoar a terra era um meio necessário para garantir tudo isso.
Para atingir esses objetivos, a Coroa precisou estabelecer um sistema político de administração e
organização colonial. Nesse sentido, a partir de 1530, predominaram 2 tipos, como vimos no esquema do
início da aula: Capitanias Hereditárias e Governo-Geral.
3. ADMINISTRAÇÃO COLONIAL
Se em 1530, o governo português mandou o expedicionário Martin Afonso de Souza iniciar a ocupação
da terra portuguesa, combater os corsários estrangeiros, procurar metais preciosos e sistematizar o
reconhecimento do litoral para implementar a produção de cana-de-açúcar, tornava-se necessário, também,
elaborar uma forma de administrar essas ações. Concorda?
Observe a imagem a seguir. Sei que você já deve ter isso tatuado na
mente, mesmo assim, observe as relações que construí. Fica safo!]
22/187
Deveres:
Direitos Assegurar ao
Rei de Portugal
Distribuir terras:
sesmarias. 10% dos lucros
Criar Vilas sobre TODOS os
produtos da terra
Exercer autoridade
administrativa e O monopólio da
judicial extração do pau- Carta de doação: O donatário
brasil tinha a posse da Capitânia, mas
apenas uma parte (pequena)
tornava-se sua propriedade.
Escravizar
indígenas
considerados
inimigos (guerra
justa)
Receber 5% do
comércio do pau-
brasil
6
Profe, isso era uma pegadinha, não era? O cara tinha que investir em tudo, corria todos os riscos, ficava
só com 5% da exploração do pau-brasil e inda tinha que garantir o lucro do rei? Gente, o Brasil era pior
que o Brasil!!!
Brincadeiras à parte, galera, parecia piada mesmo. Por isso, o sistema de capitanias não foi tão bem-
sucedido, se analisado do ponto de vista econômico e das pretensões da Coroa Portuguesa. Apenas duas
capitanias deram certo – e por um tempo: São Vicente e Pernambuco (mais à frente vamos voltar a falar
dessas duas capitânias, segura aí!).
6
ALBUQUERQUE, Manuel Maurício de. et all. Atlas Histórico Escolar. Ministério da educação e Cultura/
Fundação Nacional do Material Escolar, 7ª. Edição, 1977
23/187
Na verdade, nem todos que receberam do rei a carta de doação das capitânias seguiram adiante. Alguns
nem sequer vieram à Colônia tomar posse. Daqueles que vieram, foram muitos os obstáculos que precisaram
enfrentar. Listemos alguns:
Isolamento das capitanias, uma sem relação com as outras. As distâncias eram enormes,
por isso, a comunicação e a circulação também eram difíceis. Esse isolamento fazia com
que as soluções para as dificuldades tivessem que ser sempre conseguidas “dentro” da
capitânia. Mas essa terra não era um vazio, né?
Revolta e ataques dos povos indígenas. Como as capitanias, na prática, eram uma
expropriação do território indígena é evidente que muitos povos resistiram a essa
ocupação (ou invasão) e causaram verdadeiras guerras contra os colonizadores.
Dificuldades para desenvolver a lavoura, afinal, nem todas as capitânias possuíam terras
férteis. Na verdade, os europeus ainda não conheciam muito bem qual era o produto
mais adaptado ao clima tropical e equatorial. Assim, na verdade, o problema não estava
no solo, mas no desconhecimento dos portugueses sobre o que produzir para exportar e
gerar dividendos à Coroa.
Dificuldade de obter mão de obra para a louva e para o extrativismo.
Tudo isso, custava muito caro. Apesar dos donatários serem pessoas da nobreza
portuguesa, nem todos possuíam grande monta de recursos para enfrentar todos os
obstáculos acima arrolados.
Apesar das adversidades, havia um ponto positivo no que se referia ao sistema de capitanias, a saber: ele
deu a base para a formação dos primeiros núcleos de povoamento, como em São Vicente (1532), Porto
Seguro (1535), Ilhéus (1537) e Santos (1545).
Os dados historiográficos afirmam que a Coroa Portuguesa não contava com tantos
recursos acumulados para investir diretamente na colonização do Brasil. Assim, precisou
contar com recursos privados.
Para tanto, a solução encontrada foi doar terras – as sesmarias- em troca da exploração
dessas terras, de modo que parte das riquezas geradas fossem destinadas ao rei (via
impostos).
A origem dessa prática de sesmaria remonta ao período final da Idade Média e às práticas
de suserania e vassalagem. A distribuição de sesmaria não garantia a propriedade, mas o
usufruto. A concessão de sesmarias foi extinta apenas em 1822, sendo a origem dos
grandes latifúndios no Brasil.
24/187
Assim, tendo o sistema de administração descentralizada das capitanias hereditárias tido pouco êxito, a
Coroa Portuguesa buscou uma solução diferente e mais centralizadora: a formação de um Governo-Geral.
Tratava-se da criação de um órgão central de direção e de administração comandado por um funcionário da
Coroa, nomeado pelo Rei, para ajudar os donatários e interferir mais diretamente na implantação do sistema
de exploração colonial.
Para que você tenha uma noção dos objetivos, funções e estrutura burocrática, observe os esqueminhas
abaixo:
Governador-Geral
Funções do Governador
Militar: comando e defesa da colônia
25/187
Ouvidor-Mor:
encarregado das funcções
judiciais
CARGOS AUXILIARES
Provedor-mor:
Governador encarregado dos assuntos
da fazenda
Capitão-mor:
encarregado da defesa do
litoral
Os dois sistemas coexistiram. Isso acabou por gerar, em diversos momentos, um embate entre interesses
locais e metropolitanos. Em geral, o Governador Geral e seus auxiliares enfrentavam a oposição de poderes
locais, afinal, os donatários também tinham funções administrativas e judiciárias.
Esses homens proprietários de terra, gado e escravos, chamados de “homens-bons”, se organizavam nas
“câmaras municipais”. Elas se formaram no mesmo processo de formação das vilas (primeiros povoados).
Elas organizavam a administração da vila, a arrecadação tributária, o comércio local, as expedições de
reconhecimento e expansão territorial, além do aprisionamento indígena. Ou seja, eram uma verdadeira
estrutura de poder local. Assim, os homens-bons exerciam o poder político local.
A partir da análise dos esquemas, podemos concluir que a administração colonial apresentou
duas tendências que se revezaram ao longo do tempo: CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO.
Você consegue perceber como essas duas estruturas de poder (centralizado e descentralizado)
podem gerar conflitos se não estiverem funcionando em consonância de interesses e objetivos?
Pois é, além disso, essas diferenças entre governador e homens-bons eram acentuadas devido
à ausência de um sistema de comunicação adequado. Como diria o grande filósofo Chacrinha:
“quem não se comunica, se trumbica!”
Para que você saiba mais, em 1759, o sistema de capitanias deixou de existir permanecendo
apenas o Governo – Geral, até 1808, quando a família real desembarca no Brasil. Entretanto,
até que chegue o século XVIII, muitas dessas diferenças ensejaram conflitos e revoltas,
chamadas de nativistas, as quais iremos estudar nas próximas aulas. Por hora, guarde essa
reflexão geral, ok!
26/187
Por fim, para que você tenha uma noção de quem foram os Governadores Ferais, dá um bizu nos caras:
Mem de Sá - 1558-1572
1553
1558
Tomé de Sousa - 1549-
(UDESC/2013)
Analise as proposições sobre a administração colonial na América portuguesa, e assinale (V) para verdadeira
e (F) para falsa.
( ) Com o objetivo de diminuir as dificuldades na administração das capitanias, D. João III implantou, na
América portuguesa, um Governo-Geral que deveria ser capaz de restabelecer a autoridade da Corte
portuguesa nos domínios coloniais, centralizar as decisões e a política colonial.
( ) A Capitania de São Vicente foi escolhida pela Coroa Portuguesa para ser a sede do Governo, pois estava
localizada em um ponto estratégico do território colonial português. Foi nesta Capitania que se
implementaram as novas políticas administrativas da Coroa com a instalação do Governo-Geral.
( ) Tomé de Souza foi o responsável por instalar o primeiro Governo- Geral. Trouxe com ele soldados, colonos,
burocratas, jesuítas, e deu início à construção da primeira capital do Brasil: Rio de Janeiro.
27/187
( ) A criação e instalação do Governo-Geral na América portuguesa foi uma alternativa encontrada pela Coroa
Portuguesa para organizar e ocupar a colônia, que enfrentava dificuldades, dentre elas os constantes
conflitos com os indígenas e os resultados insatisfatórios de algumas capitanias.
Assinale a alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo:
a) V – F – F – V
b) V – F – V – F
c) V – V – F – F
d) F – V – F – V
e) F – V – V – F
Comentários
Como vimos, o Sistema de Governo-Geral foi implantado para aprimorar o Sistema de Capitanias
Hereditárias. A Coroa visava dar resposta aos seguintes conflitos: com indígenas; com invasões estrangeiras;
fruto de fracassos em algumas Capitanias. Outra razão da nova administração foi o objetivo centralizador,
isto é, tomar conto sobre todos os assuntos da colônia. Diante disso, a primeira afirmação é verdadeira. Já a
segunda, não, pois São Vicente estava entre as regiões que não retornavam lucro para Metrópole. Além
disso, sabemos que a primeira capital foi Salvador, ou seja, os centros dos negócios passavam pelo Nordeste,
pelo menos no início da colonização. Nesse sentido, a terceira afirmação também é falsa, pois Rio de Janeiro
foi a 2ª capital.
Por fim, a última afirmação é verdadeira.
Gabarito: A
Mas você deve se lembrar, também, que o governo português, especialmente a partir de 1530, procurava
alguma atividade econômica mais rentável que o pau-brasil a fim de financiar o empreendimento colonizador
e garantir a posse efetiva e sistemática da terra. Isso porque, a concorrência com franceses, ingleses e
holandeses começava a diminuir o lucro metropolitano em relação aos negócios com as especiarias do
Oriente, além de existir o risco contínuo de invasão estrangeira no território colonial na América.
28/187
Em 1530, com a expedição de Martin Afonso de Souza, chegaram as primeiras mudas da cana-de-
açúcar para o desenvolvimento da atividade açucareira. A escolha da cana se deu porque Portugal tinha
experiência desse cultivo nas ilhas africanas do Atlântico – Açores e Madeira. Além disso, o açúcar tornara-
se, na Europa, uma especiaria de luxo. Uma mesa farta de doces açucarados era o símbolo da riqueza!!
Dessa forma, os colonos que desembarcaram no Brasil, juntamente com Martin Afonso, iniciaram a
produção canavieira na recém fundada Vila de São Vicente. Para plantar a cana e produzir o açúcar
desenvolveram um complexo produtivo chamado “engenho de açúcar” (vamos falar mais sobre engenhos
na sequência da aula, segura aí!).
Depois do pontapé inicial na Vila de São Vicente (atual Santos), tentou-se produzir cana-de-açúcar em
toda a extensão do litoral brasileiro em
diferentes Capitânias. No entanto, foi no
Nordeste que a planta vingou mesmo, pois o
solo da região e as condições climáticas eram
melhores. Veja a seguir uma lista de motivos que
explicam o sucesso do cultivo:
De fato, o crescimento da produção açucareira foi tanta que Portugal monopolizou o próprio comércio
internacional dessa iguaria doce. Com isso, Portugal e seus torrões branquinhos eram vedete no comércio
internacional e nas cortes europeias.
Podemos observar esse crescimento tomando como base o número de engenhos que surgiram em
Pernambuco – principal capitânia produtora. Observe o gráfico:
29/187
Na sequência de Pernambuco a produção se espalhou para as regiões dos atuais Rio Grande do Norte,
Pará e Bahia. E, assim, o “ouro branco” ganhava tanto “poder” que colônia e metrópole constituíam uma
relação de dependência desse produto.
Na seção seguinte vamos analisar o engenho – essa unidade produtiva que se tornou o núcleo difusor
da estrutura política, social e econômica da Colônia.
Evidentemente, quando falamos em economia também tratamos de trabalho, uma vez que é por meio dele
que se produz riqueza, como ensinou o liberal Adam Smith. Além disso, as relações econômicas e de trabalho
estabelecem a organização dos grupos sociais.
Entendendo a sociedade dentro dessa perspectiva complexa e combinada, podemos inferir que o
primeiro grande produto de exportação, a cana-de-açúcar, foi o elemento central do desenvolvimento da
sociedade colonial
Na colônia, a lavoura da cana ocupava uma grande porção de terra – um latifúndio. O trabalho era
realizado pelas pessoas escravizadas – os escravos ou cativos. Inicialmente, foram os indígenas, depois, os
africanos trazidos forçosamente. Como afirmamos ao longo da aula, a produção era voltada para o mercado
externo. Essas características formam o modo de produção tipicamente colonial: PLANTATION.
Há uma ressalva a ser feita sobre a empresa açucareira. Não havia refinarias de açúcar no Brasil.
Essa foi uma tarefa que portugueses deixaram para holandeses. Aliás, também é importante
recordar a participação do capital flamengo (eita, não é time, hein, é holandês) nos negócios do
açúcar. Em troca do financiamento para a instalação de engenhos, o governo português
concedeu a eles o direito de refinar e vender o açúcar brasileiro na Europa. Portanto, o capital
holandês foi fundamental para a expansão da produção e do alcance do açúcar brasileiro no
mercado internacional. Guarda isso, porque daqui a pouco vou falar mais dos holandeses.
30/187
O lugar que cada grupo ocupava no complexo açucareiro definia a classe social a que a pessoa/grupo
pertencia? Essa divisão, inclusive, determinava as relações políticas e sociais entre estes grupos. Vamos
articular?
Existiam os proprietários da terra, os homens livres que prestavam algum serviço relacionado à produção
açucareira (mestre do açúcar, caixeiro, purgador, caldeiro, banqueiro, feitos) e os escravos.
Com certeza, a figura mais poderosa dessa pirâmide social é o senhor de engenho – o proprietário das
terras, da produção e das pessoas. Além disso, como estamos discutindo nesta aula, o proprietário da terra
era uma pessoa com poderes políticos, administrativos e até judiciais. Então, alguns historiadores afirmam
que a autoridade desse senhor ultrapassava os limites de suas terras e, assim, conseguia atingir a vila e
povoados vizinhos. Com isso, ele podia estabelecer aliados políticos por meio da distribuição de favores e
privilégios.
Portanto, havia uma relação de dependência dos homens livres (e mais pobres), escravos e até mesmo dos
clérigos com o senhor de engenho. Pelo que afirma Padre Antonil, importante cronista da época, podemos
inferir que “senhor de engenho” era tido como algo parecido a um título de nobreza – a que muitos
aspiravam.
Veja que não se tratava de uma “nobreza hereditária”, como na Europa, mas “uma aristocracia da
riqueza e do poder”7. Ainda assim, muitas vezes, se auto cunhavam títulos como conde, barão, marquês.
A marca maior desse grupo aristocrático não era o que eles faziam, mas o que NÃO faziam: não se
dedicavam ao trabalho braçal, como cuidar de uma horta de uma loja, ou até mesmo, de realizar algum
artesanato ou manufatura. Por terras tropicais, pairava o velho pensamento medieval do trabalho como uma
ordem de coisas que “naturalmente” não cabe
aos senhores. Trabalho era coisa de classes e
grupos inferiores.
7
SCHWARCZ e STARLING, idem, p. 67.
31/187
5. A QUESTÃO DA ESCRAVIDÃO
Vejam, meus queridos e queridas, é impossível falar de aristocracia sem falar da escravidão. São duas faces
da mesma moeda que compõem uma estrutura social caracterizada por Gilberto Freyre como “sociedade
patriarcal”.
A expressão utilizada pelo autor em seu livro clássico Casa Grande & Senzala é “equilíbrio de antagonismos
de economia e cultura”. Uma realidade dual na qual a violência e o paternalismo são elementos de uma
mesma relação. Afinal, eu nem preciso ficar aqui descrevendo a “qualidade da vida de um escravo” para
você, né?
Mas, Profe, me explica por que esse par de opostos – paternalismo e violência?
Olha, meu querido e querida, a violência nos parece mais fácil de entender – ela é tão cotidiana que
entendemos bem as formas pelas quais ela se manifesta. Já a questão desse paternalismo era o modo como
o dono do escravo tratava algumas de “suas peças” (esse era o modo como a pessoa escravizada era tratada
no mercado). As vezes lhe dando agrados – como uma roupa melhor ou comida, permitindo alguma festa ou
lazer, entre outros – outras vezes, atribuindo trabalhos menos pesados e mais próximos à casa-grande.
Contudo, em diferentes situações o senhor castigava seu escravo. O castigo físico era absolutamente
recorrente – e até mesmo aceito pela Igreja – uma vez que o suplício físico era entendido como a salvação
da alma e a correção dos vícios mundanos. De qualquer maneira, a decisão sobre a vida e a morte do escravo
estava nas mãos do seu dono.
Portanto, paternalismo não tem a ver com a relação de pai e filho (carinhosa e cuidadosa), mas de controle,
dominação e submissão. Nessa sociedade patriarcal é o pai - o senhor de engenho - que controla a vida dos
escravos, mas de certa maneira, de todos aqueles que dependem de suas decisões.
Dito isso, podemos inferir que a cor da pele é um marcador social fundamental nas relações
coloniais brasileiras, como afirmam as autoras do livro Brasil: uma biografia:
“A cor logo se tornou um marcador social fundamental; as categorizações, fluidas, variavam com
o tempo e com o lugar, além de delimitarem classificações sociais e status.8
8
SCHWARCZ, Lilia Moritz. e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Ed. Cia das
Letras, 2018, p.71.
32/187
Diferentemente da colonização espanhola, no Brasil, a mestiçagem é uma marca social, já que não
houve nenhuma norma que proibisse a relação sexual entre diferentes povos. Por isso, as professoras Lília e
Heloísa usam o termo “cartografia de tons e subtons”.
Mas nem de longe podemos afirmar que a mestiçagem gerou igualdade - ou menos desigualdade de
oportunidades. As pessoas “de cor” sofriam toda sorte de discriminação, afinal, sua condição jurídica era de
“propriedade” – escravos inferiores. Assim, o constrangimento para a mestiçagem não era apenas jurídico,
também era social.
Em geral, essas relações eram extraconjugais, jamais expostas na “missa de domingo” – quando não,
poderiam ser, inclusive, relações de exploração e violência sexual. Lembram da personagem Bertoleza no
livro O Cortiço, de Aluísio de Azevedo? Ela é a escrava-amante de João Romão, que a engana com uma falsa
carta de alforria, ao mesmo tempo que a esconde de toda a sociedade.
A depender da condição da mãe, sim! Se fossem mestiços de homens brancos com mulheres negras
escravas, elas nasceriam na condição de escravos também, afinal, os filhos de escravas eram propriedade
dos seus donos.
Contudo, é verdade que a gradação da cor da pele poderia significar outras trajetórias. Há muitos
estudos históricos na demografia, na sociologia e na economia que demonstram que quanto mais clara é a
pele da pessoa maior suas possibilidades de alçar outras ocupações, inclusive, na época do complexo
açucareiro – um trabalhador de dentro da casa, um capataz, um entregador, um condutor de cavalos. Os
mestiços podiam, também, receber alguma instrução e trabalhar com atividades do comércio. A alforria era
mais possível, portanto, para pessoas com mais características brancas.
Vários pensadores, sobretudo na década de 1930, analisando a formação social do Brasil chegaram à
conclusão de que as relações sociais eram pautadas por uma complexidade de fatores que incluíam questões
de cunho pessoal, cultural e racial. Ou seja, no Brasil, o modo de relação não era só racial, só cultural, só por
amizades. Era a síntese de tudo isso e, em muitos sentidos, ainda é.
É inegável os efeitos da escravidão na vida social. Ela é estruturante de todas as outras relações que
se estabeleciam na civilização do açúcar.
Mas, afinal, profe, quem era o escravo utilizado nos trabalhos do complexo açucareiro?
No início, da atividade açucareira, a mão de obra utilizada era do indígena. Segundo alguns dados
demográficos de época, entre 1560 e 1570 não havia africanos nas lavouras de cana. A mão de obra utilizada
era do escravo índio conquistado nas “guerras justas”, afinal, era uma solução relativamente barata e
disponível.
33/187
“A grande lavoura açucareira na colônia brasileira iniciou-se com o uso extensivo da mão de obra
indígena (...) Do ponto de vista dos portugueses, no período de escravidão indígena, o sistema de
relações de trabalho era algo que fora pormenorizadamente elaborado. Tal período foi também
aquele em que o contato entre os europeus e o gentio começou a criar categorias e definições
sociais e raciais que caracterizaram continuamente a experiência colonial.” 9
No entanto, a situação começou a se alterar a partir da década de 1570. O que se processou nesse
período foi a substituição do trabalho livre, por exemplo nas tarefas mais especializadas da atividade
açucareira – tal como vimos na seção anterior sobre etapas da produção do açúcar –, para o trabalho
escravo.
Assim, a mão de obra escrava africana, e depois os afro-brasileiros, acabou constituindo a base das
principais atividades econômicas da colônia. Aqui não me refiro apenas à economia açucareira, que estamos
estudando nessa aula, mas a outras, como a mineração, pecuária, algodão e extrativismo vegetal.
Observe no mapa a seguir a localidade para onde iam os escravos trazidos para o Brasil:
9
SCHWARTZ, Stuart B. Segredos Internos: Engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia
das Letras, 2005, p. 57.
34/187
Mas Profe quem ganhava com isso, os donos dos escravos? Eram eles que faziam o
comércio?
Outro elemento fundamental para explicar os lucros desse comércio é a expectativa de vida de um escravo,
em geral, baixa – 35 anos. E sua idade produtiva começava aos 8 anos. É isso mesmo que você leu!! Aos 8
anos! Alguns documentos de época confirmam que o menino de 8 anos já era um homem feito e preparado
para o trabalho!! Assim, para o senhor de engenho, o ideal era comprar um escravo que trabalhasse, para
não “investir” em mão de obra pouco produtiva.
Para o senhor a lógica não era exatamente comprar e vender, mas, comprar para acumular, afinal, mais
escravos mais produção e mais status social. Dessa forma, o mercado com demanda sempre crescente
estimulava a chegada de mais pessoas escravizadas trazidas da África. Estima-se que o tráfico atlântico
implicou o deslocamento compulsório de 12 milhões e meio de homens, mulheres e crianças da África
para as Américas10.
Outro argumento mais tradicional para explicar a preferência pela mão de obra escrava negra é o cultural:
os indígenas do sexo masculino não estavam habituados ao trabalho agrícola, pois, em geral, eram as índias
que o realizavam. Entretanto, esse argumento tradicional (comum em provas) já é amplamente criticado por
pesquisas recentes, pois a noção de que o índio não era compatível com trabalho agrícola, na verdade,
expressa um desconhecimento mais específico do modo de vida dos povos indígenas (no Capítulo 6,
aprofundo as variáveis que levaram à substituição da mão de obra). Dentro desse argumento mais
tradicional, os africanos trazidos à América eram agricultores e, portanto, tinham certo conhecimento
técnico na lavoura. Principalmente, porque em regiões africanas já havia a plantação do açúcar.
Por fim, mas não menos importante é o argumento exposto pela Igreja. Naquela época, como veremos no
Capítulo seguinte, houve uma Carta Régia, de 1570, proibindo a escravidão indígena de povos que se
dispusessem à conversão ao catolicismo. Apesar de os colonos viverem em conflito com a Igreja e com o
Governo Geral por conta dessa proteção dos jesuítas, houve um desestímulo moral à escravização dos
povos indígenas.
Quando falamos da preferência do negro em relação aos índios para o uso sistemático da
mão de obra escrava, não podemos nos esquecer das contradições e da realidade pobre
da maioria do território colonial. Concretamente isso fez com que a escravidão indígena
continuasse sendo realidade em muitos lugares, a despeito das análises que muitos
historiadores fizeram.
A perseguição e subjugação dos índios no sudeste do Brasil foi incentivada por autoridades da Coroa
portuguesa presentes na colônia e por agentes particulares (portugueses endinheirados), que buscavam
novos investimentos, para além do comércio da cana de açúcar. Como a produção de açúcar das capitanias
de Santo Amaro e São Vicente (territórios equivalentes à região atual do estado de São Paulo) não
10
FLORENTINO, Manolo. Aspectos do tráfico negreiro na África Ocidental (c. 1500 -c.1800). In:
FRAGOSO, João & GOUVÊA, Maria F. (Org.). Coleção- O Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Ed. Civilização
Brasileira. V.1, 2018, p. 229.
36/187
conseguiam competir com o Nordeste, os paulistas tiveram que pensar em alternativas de investimento,
como: comércio de índios escravizados e busca por metais preciosos.
Além disso, alguns historiadores afirmam que apesar do grande aporte de africanos escravizados nas
lavouras de açúcar, bem como em outras atividades, a mão de obra indígena continuou sendo utilizada.
Assim, o que se processou foi uma diferenciação das tarefas a serem cumpridas por negros e por índios. Vale
ficar de olho nessas pesquisas mais recentes.
Lembra-se de que uma das tensões na Península Ibérica foi a relação entre católicos e
mulçumanos? Durante o processo de reconquista da Península Ibérica, a escravização de
populações mulçumanas passou a ser uma prática comum dos reinados, segundo a noção
de “guerra justa”. Nesses termos, a Coroa portuguesa nasceu com um pé na cultura
escravagista, pois passou a legitimar a escravização dos não-cristãos. Dessa forma, tanto as
monarquias, quanto a Igreja, alimentaram o trabalho forçado do “outro”. Para ambos, a
escravidão era necessária e justa.
Um argumento, muito popular, era a ideia da maldição divina. Por meio dela, a escravidão
era fruto do pecado de Adão e Eva, primeiros pais dos homens segundo a doutrina católica.
Outra justificativa religiosa era aquela que apontava os africanos como descendentes de
Caim. Este personagem bíblico, que matou o próprio irmão por ciúmes recebeu de Deus,
ao ser amaldiçoado, uma marca no corpo para que não morresse e pudesse viver em
constante expiação de seu pecado. Ligou-se, a posteriori, a negritude dos africanos à marca
cutânea imposta por Deus a Caim. Essa ideia se combina com a de guerra justa, pois os
inimigos devem ser escravizados, pois deve-se preservar-lhe a vida – uma vez que esta tem
natureza divina. Só Deus decide sobre vida e morte. Assim, escravidão é preservação do
dom divino da vida e não condenação eterna
Por isso, à medida que os portugueses avançavam nas rotas marítimas ao longo da costa
africana o número de escravizados aumentava. Isso porque, para estabelecerem as
feitorias em territórios como, Madeira, Cabo Verde, Moçambique, muitos negros africanos
37/187
Primeira: os índios muito bem tratados e exibidos nas cortes europeias com simpatia e
tolerância. A representação positiva dos autóctones ficou marcada pela carta de Caminha.
Em 1741, o Rei de Portugal expediu um Alvara Real que determinava a punição de negros
aquilombados, isto é, afrodescendentes que fugiam e se abrigavam em quilombos. O texto régio dizia,
11
OLIVEIRA, João Pacheco. Os indígenas na fundação da colônia: uma abordagem crítica. In: FRAGOSO,
João. GOUVÊA, Maria de Fátima (Org.). Coleção – O Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Ed. Civilização
Brasileira. V. 1. 2018, pp 167-228.
12
Idem, p. 207.
38/187
Repare como era perversa e cruel a perseguição sobre os negros africanos e seus descendentes. O final do
texto ainda enfatiza que nenhum capturado teria direito a um “processo”. Bastava um “capitão do mato”
capturar um fugitivo para que ele sofresse a pena da marcação do “F” no ombro ou a da mutilação da orelha.
Pois bem, querido e querida aluna, se essa ordem real, datada de meados do século XVIII, expressava o
tratamento para com os negros, você imagine as barbaridades cometidas pelos portugueses, e demais
europeus proprietários de terras, logo no começo da colonização no século XVI? Primeiro, a opressão e a
exploração recaíram sobre os índios, depois, sobre os negros escravizados oriundos da África. Como vimos
anteriormente, a proibição da escravização dos índios em 1570 e, principalmente, com as possibilidades de
lucro via tráfico negreiro, começou um processo de substituição da mão de obra indígena pela dos africanos
aprisionados em seus territórios, deslocados para o Brasil e escravizados.
Agora, vejamos algumas formas de resistência dos negros frente ao racismo estrutural presente no sistema
colonial do Brasil. Contudo, lembremos alguns pontos do panorama sobre as condições de vida e de trabalho
forçado dos africanos transferidos para a América Portuguesa entre os séculos XVI e XVII:
39/187
✓ Aprisionamento em tronco;
✓ “vira-mundo” (instrumento que prendia pés e
mãos);
✓ “gargalheira” (instrumento que imobilizava o
pescoço);
✓ Mordaça e máscara;
13
Diante da condição escrava, os africanos trazidos para o Brasil, bem como seus descendentes, não ficaram
passivos. Reagiram de diferentes maneiras, em grande parte, sempre para amenizar as dores físicas e
mentais do trabalho escravo.
Algumas mulheres, para evitar que seus filhos nascessem naquele mundo,
provocavam abortos. Ao mesmo tempo que essa ação significava uma resistência,
também expressava uma violência contra o corpo dessas mulheres negras;
Outra “auto violência” corporal era o suicídio;
Sabotagens nos engenhos por meio de destruição de plantações, instrumentos e,
principalmente, da moenda;
Emboscadas e ataques surpresas à elite branca (senhores de engenho). Nesses
ataques, promovidos por ex-escravos, as casas-grandes eram saqVUNESPdas e os
canaviais e depósitos postos em chama.
Negociações com senhores de engenho para obtenção de melhores condições de
vida, como alimentos, vestuário e moradia;
Fugas dos engenhos, tanto individuais, quanto coletivas. Estas, por sinal, merecem
atenção especial pois resultaram na formação dos Quilombos.
Os escravos que conseguiam fugir dos engenhos começaram a organizar comunidades em regiões afastadas
da zona de controle dos colonos e da Coroa. A esses agrupamentos de negros livres se denominou Quilombos
ou Mocambos.
Durante muitos anos, a resistência quilombola marcou a história dos negros na América portuguesa. Muitos
quilombos, além de receber negros que fugiam da dominação do sistema escravista, chegaram reunir índios
e até brancos descontentes com as imposições do governo português. A vida nos quilombos era baseada na
13
Disponível em:
http://www.campanha.mg.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1431:tronco--
instrumento-de-castigo&catid=455:semana-de-museus&Itemid=248. Acesso em: 06/04/2019.
40/187
agricultura e em pequenas trocas comerciais com comerciantes e taberneiros das proximidades. A depender
da localidade, poderiam ainda fazer mineração e cerâmica.
Com a formação dos Quilombos, a preocupação dos senhores de engenho e da Coroa era com a
disseminação de ideias insurrecionais, contrárias, portanto, ao sistema escravista.
O Quilombo dos Palmares se destacou na resistência negra. Localizado em uma região da capitania de
Pernambuco, começou a ser organizado em 1580 e foi destruído por colonos e pela Coroa portuguesa em
1694. Ganga Zumba e Zumbi se destacaram entre os líderes de Palmares. O primeiro, governou de 1656 a
1678 e, Zumbi, governou de 1678 até a queda do quilombo. Zumbi era sobrinho de Ganga Zumba e articulou
a derrubada do tio por considerar que a política de Ganga Zumba de aproximação com os brancos não
condizia com a ideia de liberdade do negro. Zumba chegou a firmar um acordo com o governador de
Pernambuco que previa a libertação dos negros nascidos em Palmares, mas em troca, os fugitivos mais
recentes no Quilombo deveriam ser devolvidos. Zumbi não concordou com essa proposta e liderou uma
rebelião contra o então chefe.
Como já adiantei acima, o bandeirante Domingos Jorge Velho foi contratado para destruir Palmares. Em
1692, em uma primeira tentativa, Jorge Velho e seus aliados cercaram Palmares, mas os quilombolas
venceram o confronto. Dois anos depois, em 1694, Jorge Velho, com mais 6 mil soldados conseguiram vencer
Palmares. Zumbi escapou, mas foi pego em 1695. Após ser preso, foi morto e sua cabeça ficou estiada em
praça pública em Recife.
A organização dos quilombos se multiplicou em muitas regiões do país e, até hoje, existem as
assim denominadas “comunidades quilombolas”. Algumas conseguiram o direito ao
reconhecimento da terra que seus antepassados escravos conquistaram e outra, não. Por sinal, a
nossa atual Constituição, a Constituição Federal de 1988, prevê o direito à terra aos
descendentes de quilombolas.
(UDESC/2014)
Os anúncios publicados em diferentes jornais que circularam no Brasil, durante o século XIX, a respeito dos
anúncios de fugas e/ou vendas de negros cativos, constituem documentos importantes para a escrita da
História, pois permitem verificar o perfil do escravo que fugia, o cotidiano da escravidão, dentre outras
questões. O levantamento realizado no quadro abaixo sobre anúncios de escravos publicados no jornal O
Universal (Ouro Preto/MG), entre 1825 e 1831, permite algumas inferências sobre a história da escravidão.
41/187
De toda forma, perceba que o temática da resistência, fugas, condição do escravo, é algo muito importante
para os estudos para as provas.
Gabarito: C
6. INDÍGENAS
Diante da cultura escravista já presente na sociedade branca europeia, a extração do pau-brasil - único
recurso lucrativo disponível no Brasil conquistado - necessitava de mão de obra. Tanto para explorá-lo
(cortar, carregar, preparar e embarcar), quanto para organizar um povoamento português capaz de conter
invasões estrangeiras (como a dos franceses e holandeses), a mão de obra indígena foi estratégica. Claro,
estratégica do ponto de vista do colonizador branco português.
Em linhas gerais, durante os séculos XVI e XVII, o modo de inserir os cerca de 2,5 milhões de índios do
litoral brasileiro no processo de colonização consistiu, basicamente, em três métodos.
Com a crescente resistência dos povos indígenas, a política indigenista ficou caracterizada pelo seguinte
dualismo:
Os jesuítas foram os europeus que mais pressionaram a Coroa e os colonos a tratarem os índios como
filhos de Deus, o “bom selvagem” visto no começo da aula. Dessa forma, por um lado, atuaram para a
liberdade dos índios e contra o aprisionamento. Por outro, os jesuítas foram abnegados conversores da
subjetividade indígena. Assim como os clérigos atuantes nas colônias espanholas, como vimos na Aula 05, os
jesuítas no Brasil quiseram ampliar o número de fiéis, pois concebiam a cultura ameríndia como inferior e
pagã.
Converter índios em suas próprias aldeias. Ações com menor resultado de conversão;
43/187
Dessa forma, à luz dos ensinamentos do antropólogo Antônio Carlos de Souza Lima (professor UFRJ) 14, você
deve ter em mente que, do ponto de vista político, a ação colonizadora de “conquista” significou:
1) a conquista como uma modalidade de guerra, em que domínio sobre populações reduzidas pela
força militar, suas terras, seus recursos naturais foram apropriados num processo no qual a aliança
com parte das populações habitantes dos espaços a serem incorporados, e todo um aparato que
hoje chamaríamos de “meios de comunicação”, tiveram tanta ou mais importância que a violência
física;
2) a conquista não foi somente guerra e destruição (violência aberta, portanto); mas implicou em
produção de novas relações/identidades sociais, isto é, também se apresentou como violência
simbólica;
3) no caso dos povos presentes na porção do continente invadida pelos portugueses, devemos falar
no plural - em conquistas -, pois, ao contrário do México ou do Peru, onde os espanhóis lutaram
contra estruturas de poder com um modo de centralização similar a algumas existentes no passado
mediterrâneo, os dispositivos políticos dos índios brasileiros eram muito distintos.
No contexto da pregação cristã em terras indígenas, ao mesmo tempo que índios eram catequizados, eles
também mantinham suas identidades culturais originárias. Com isso, muitos sincretismos religiosos foram
formados, à revelia do controle da catequização dos jesuítas. Na prática, era uma forma de resistirem tanto
à violência física da escravização, quanto à violência subjetiva da catequização. Como as reduções acabavam
se transformando em locais protegidos, muitos índios passavam a viver sob a tutela dos jesuítas.
A mistura entre a cultura cristã e a indígena produziu visões de mundo, formas de pensar própria
das etnias indígenas, baseadas na resistência contra o europeu opressor e explorador, um
verdadeiro sincretismo.
Para você ter uma ideia, em 1580, no Recôncavo Baiano, ocorreu uma grande insurreição indígena. Até os
jesuítas ficaram surpresos. Antônio, um índio educado por jesuítas, reuniu vários índios escravizados para
anunciar a profecia da Terra sem Mal. Essa terra seria um lugar distante dos engenhos e das brutalidades
dos senhores. A revolta foi brutalmente massacrada por tropas portugueses da região nordeste. Por sinal,
no nordeste do Brasil colônia, o período de 1540 até 1570 marcou o apogeu da escravidão indígena nos
engenhos, especialmente naqueles localizados em Pernambuco e na Bahia, como vimos anteriormente.
14
LIMA, Antonio Carlos de Souza. Um olhar sobre a presença das populações nativas na Invenção do
Brasil. IN: Aracy Lopez da Silva; Luiz Donisetti Benzi Grupioni. (Org.). A QUESTÃO INDÍGENA NA SALA
DEAULA. NOVOS SUBSÍDIOS PARA PROFESSORES DE 1º E 2º GRAUS. 1 ed. BRASÍLIA: MEC, 1995, p.
407-419
44/187
A Coroa portuguesa publicou uma ordem de proibição da escravização dos povos nativos, em 1570, lembra?
Isso ocorreu devido a:
A perseguição e subjugação dos índios no sudeste do Brasil foi incentivada por autoridades da Coroa
portuguesa presentes na colônia e por agentes particulares (portugueses endinheirados), que buscavam
novos investimentos, para além do comércio da cana de açúcar. Como a produção de açúcar das capitanias
de Santo Amaro e São Vicente (territórios equivalentes à região atual do estado de São Paulo) não
conseguiam competir com o Nordeste, os paulistas tiveram que pensar em alternativas de investimento,
como: comércio de índios escravizados e busca por metais preciosos.
Os paulistas, em particular aqueles conhecidos como “bandeirantes”, organizaram vilas e terras agricultáveis
a partir da mão de obra escrava indígena. Contudo, tiveram que sair do litoral e adentrar o planalto em busca
de riquezas, de índios e terras mais agricultáveis. Por isso, esses colonizadores europeus passaram a ser
conhecidos como “sertanistas”, da qual “bandeirante” é uma variante.
O centro desse movimento de interiorização dos conquistadores foi a vila de São Paulo, fundada pelos
jesuítas em 1554. Nessa região, a escravização indígena foi empregada em setores específicos da agricultura,
como na plantação do trigo. Esse produto era comercializado com outras regiões, como a do Rio de Janeiro.
O interessante é que essa situação gerava um conflito entre bandeirantes e jesuítas – que combatiam a
escravização indígena – e, posteriormente, com a Coroa (Metrópole), quando ela passou a proibir a mão de
obra escrava indígena, em 1570. Muitos aldeamentos (as reduções) eram atacados por bandeirantes.
Por volta de 1640, os jesuítas das terras do sul, sudeste e centro-oeste, juntamente com os indígenas,
conseguiram resistir e impuseram derrotas aos bandeirantes. Dessa forma, o fornecimento de mão de obra
para a economia da capitania de São Vicente foi estagnado, dificultando ainda mais a vida econômica de uma
região marginal na economia açucareira.
Diante dessa derrota, os bandeirantes passaram a ser contratados para destruir e desarticular os quilombos
do Nordeste. Um desses contratados para agir no Nordeste foi o bandeirante Domingo Jorge Velho, que
45/187
recebeu uma fortuna em troca de dizimar o Quilombo dos Palmares. Com seis mil homens (a maioria brancos
paulistas e mamelucos, isto é, homens com ascendência europeia e indígena), após cercarem Palmares, a
resistência quilombola foi derrotada em janeiro/fevereiro de 1694.
A título de reforço, lembre-se de que outra violência empregada contra os índios foi a disseminação de
doenças. Tanto os colonos europeus, quanto os aldeamentos jesuíticos contribuíram para a propagação da
varíola, da gripe, dentre outras doenças não típicas dos povos nativos. Em 1562, em nome da “Guerra Justa”,
o Governador Mem de Sá se dirigiu com um exército até o litoral norte da Bahia e parte de Pernambuco para
conter uma revolta dos caetés. Depois de submetidos, esses índios sofreram com a epidemia de varíola.
Cerca de 70 mil deles morreram nesse momento.
Em resposta à deterioração das condições de vida, seja nas aldeias (vilas ou reduções),
seja fruto das perseguições, os índios responderam de muitas formas:
fugas para regiões mais interioranas;
conflitos físicos contra os conquistadores.
Cercamento de aldeias e ataques a engenhos;
Alianças com europeus rivais, por exemplo, Tupinambás aliaram-se com franceses
para combater os portugueses
Entretanto, as resistências indígenas não foram suficientes para conter as baixas. Conforme compilação
de dados governamentais, o balanço histórico da população indígena é percebido nos seguintes números:
Os Tupinambás ganharam destaque na preocupação da Coroa Portuguesa. Além de, em certas ocasiões se
aliarem aos franceses, eles realmente colocavam em risco os planos da Metrópole. Foram diretamente
citados nas ordens do Rei de Portugal aos Governadores para que todos os Tupinambás fossem “castigados
46/187
com muito rigor (...) distraindo-lhes suas aldeias e povoações e matando e cativando aquela parte deles que
vos parecer que basta para seu castigo e exemplo”15.
15
OLIVEIRA, João Pacheco. Op. Cit., p. 183.
16
SCHWART.Stuart B. O Brasil Colonial, c. 1580-1750: as grandes lavouras e as periferias. In (org)
BETHELL, Leslie. História da América Latina: América Latina colonial. Volume II. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo/USP; Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. Pp. 339-422.
47/187
Levando em consideração esse esquema lógico, vamos à análise que procura explicar por que, no século
XVII, a produção açucareira no Brasil passou do esplendor à decadência. Vejamos.
No começo do século XVII, com a expansão do século XVI, houve o aumento da oferta do produto no
mercado. Isso tornava o produto cada vez mais barato. Além disso, o aumento da produção do açúcar fez
aumentar a demanda por escravos, por isso, veremos que ao longo do século XVII ocorreu o aumento
expressivo do preço de cada escravo. E o que isso tem a ver, você poderia me perguntar.
A questão é que o escravo representava o maior custo da produção açucareira. Baseado nos números
de João André Antonil, o professor Schwartz afirma que o preço de cada escravo quadruplicou. Portanto, o
custo da produção aumentava. Qual a conclusão, meus caros?
“Pode-se dizer, de
modo geral que, o
Brasil defrontou-se
com custos
crescentes e preços
declinantes para o
seu açúcar.”
(SCHWATZ, idem,
p. 367-368)
É verdade
que a partir de
1620 os valores do
açúcar começaram
a subir na Europa. No entanto, as questões políticas internacionais com grandes consequências para as
questões locais na colônia não contribuíam para a retomada dos lucros da empresa açucareira na América
Portuguesa.
A União ibérica é o nome que se dá para o momento histórico em que houve união das coroas portuguesa e
espanhola, entre 1580 e 1640.
Mas Alê, o que aconteceu para unificar as coroas? Foi um casamento? Uma crise sucessória, o
que rolou?
48/187
Em 1578, morreu o último rei da Dinastia dos Avis – Dom Sebastião. Na verdade, ele sumiu durante
a conhecida Batalha de Alcácer-Quibir, contra os mouros no norte da África. Seu corpo nunca foi encontrado.
Como o jovem rei não deixou herdeiros, seu tio-avô, o Cardeal dom Henrique, governou Portugal. Dois anos
depois morreu e não deixou herdeiros.
Então, em 1580, o rei da Espanha, considerando-se herdeiro legítimo do trono de Portugal (porque
era um neto e um dos reis portugueses), invadiu Portugal e o submeteu. Nesse cenário prometeu:
Já está imaginando os rolos que podem ser gerados? Lembra do papel da Holanda na economia
açucareira de Portugal no Brasil? Pois, então....
Diante dessa disputa entre espanhóis e flamengos, uma das medidas do governo espanhol de Felipe II foi
excluir a Holanda do negócio açucareiro do Brasil. Assim, isso afetou diretamente as relações comerciais
entre Portugal e Holanda, sacaram?
Pois é, se fosse só esse problema estava bom. A questão é que a Holanda não podia deixar passar em
branco, já que ela dependia da produção do açúcar para manter suas divisas. Nesse começo de século XVII,
ela não produzia açúcar, apenas transportava e refinava. Como você deve saber a essa altura da aula,
produzir cana-de-açúcar era um negócio complexo e custoso. Assim, o que a Holanda resolveu fazer?
INVADIR O BRASIL!!!!!
Perceberam qual era a intenção da Holanda? Ocupar o lugar de Portugal no mercado mundial,
ocupando suas feitorias, colônias e controlando o comércio com a Índia.
Para o Brasil tratava-se apenas de ser explorado por outra potência, ou seja, uma substituição de
quem manda.
49/187
A Holanda delegou a Companhia das Índias Ocidentais a tarefa de invadir o nordeste brasileiro – já que em
Pernambuco e na Bahia encontravam-se as principais zonas produtoras de açúcar. Veja a cronologia dos
ataques:
(FUVEST 1995)
Foram, respectivamente, fatores importantes na ocupação holandesa no Nordeste do Brasil e na sua
posterior expulsão:
a) o envolvimento da Holanda no tráfico de escravos e os desentendimentos entre Maurício de Nassau
e a Companhia das Índias Ocidentais.
b) a participação da Holanda na economia do açúcar e o endividamento dos senhores de engenho com
a Companhia das Índias Ocidentais.
c) o interesse da Holanda na economia do ouro e a resistência e não aceitação do domínio estrangeiro
pela população.
50/187
Para a economia açucareira, na América Portuguesa, a União Ibérica e os consequentes conflitos com
a Holanda foi um desastre. O saldo geral foi a diminuição das exportações de açúcar e a perda da liderança
no mercado mundial. O Brasil nunca mais foi o mesmo no sistema de comercio atlântico.
Portugal também nunca mais foi o mesmo, veremos que ele passará para uma posição de dependência e
submissão em relação a outros países que, nesses 60 anos, alçaram voos e ocuparam o espaço outrora
monopolizado pelos pioneiros portugueses. Veremos esse assunto na próxima aula
Abaixo trago para vocês uma lista das perdas que Portugal e Brasil tiveram nesse período, segundo artigo do
professor da Universidade de Yale, Stuart B. Schwartz:
Além disso, quero ressaltar que a Holanda passou a produzir cana-de-açúcar nas Ilhas Antilhanas. Durante o
tempo em que a Companhia das Índias Ocidentais permaneceu ocupando o nordeste brasileiro, ela aprendeu
e aprimorou as técnicas necessárias para desenvolver um engenho. Assim, detentores do conhecimento
sobre todas as fases dos negócios do açúcar (produção, refino e comercialização), os Holandeses passaram
a vende-lo mais barato que aquele produzido no Brasil. A Holanda saiu, levou o conhecimento da produção
e, também, os recursos econômicos que sempre foram necessários para o funcionamento dos engenhos.
51/187
Apesar da crise do açúcar, o que se passou em terras brasileiras foi a ampliação das fronteiras
coloniais, a ampliação de setores urbanos e as diversificações econômica e social. É aqui que entra
de maneira mais específica a história de Portugal com a porção no Norte do que hoje é o Brasil.
Historiadores afirmam que a partir do final do século XVII e durante o século XVIII o que marcou a história
da colônia foi a busca por outras fontes de riqueza.
De um lado, Portugal procurou algo que pudesse lhe devolver seu poderio econômico – de preferência,
metais preciosos –, de outro lado, os colonos buscavam qualquer atividade econômica que pudesse lhes
manter o sustento e gerar alguma riqueza. Ao longo do tempo essas buscas geraram interesses opostos.
✓ a diversificação econômica
Agora articula comigo uma ideia: a expansão territorial e a diversificação da economia são
processos combinados. Assim, temos de ter em mente que, conforme se buscavam alternativas
econômicas, o território brasileiro ia crescendo. Essa era a lógica, sacou?
52/187
==2c2b8d==
Tendo essas dimensões em mente, podemos afirmar que o povoamento, até meados do século XVII, era
litorâneo. Entretanto, a partir do século XVII a interiorização territorial ganhou um impulso. Portugueses
e colonos da América Portuguesa ultrapassaram as fronteiras impostas pelo Tratado de Tordesilhas. Foram
várias e diferentes formas de realizar isso:
53/187
Antes de entrarmos nos aspectos específicos da expansão territorial e diversidade econômica quero lembrar
de um aspecto fundamental da economia colonial: O Brasil nunca foi só açúcar!
Havia outros produtos que acabavam sendo exportados. Evidentemente, não em larga escala como o açúcar,
mas sim atrelados a atividades específicas e em regiões fronteiriças. Veja:
i. É o caso do couro, no Sul – produto comercializado com as regiões vizinhas na Bacia do rio da
Prata.
ii. Além disso, na Bahia desenvolveu-se uma forte produção de tabaco/fumo. O tabaco era
comercializado no eixo do comércio de pessoas escravizadas. Para acompanhar o fumo,
vendia-se para os comerciantes de escravos a cachaça – que fazia muito sucesso com os
operadores deste tipo de comércio atlântico.
Com efeito, a subordinação da colônia à metrópole não impediu a existência de outras atividades
econômicas internas. A produção agrícola de produtos voltados para o abastecimento e manutenção das
atividades coloniais deu um dinamismo que muitas vezes ficou esquecido nas narrativas sobre a
macroeconomia (sistema de exploração colonial) desse período.
Havia um comércio de alimentos como mandioca, arroz, milho, feijão. A pecuária extensiva também fornecia
alguma carne e couro próximo aos engenhos. Essa era a microeconomia colonial.
Assim, quando afirmamos que a partir de meados do século XVII havia uma busca por outras atividades
econômicas, muitas vezes, na prática, ocorreu a intensificação e ampliação de atividades que os colonos,
negros, índios, mestiços já conheciam e já desenvolviam antes mesmo da crise do açúcar.
54/187
Isso tem uma importância enorme, não apenas porque era, enfim, a realização do sonho de
Portugal – e a possibilidade de reequilibrar as contas da metrópole –, mas porque transformou o
sentido, a intensidade e a complexidade da economia colonial já existente. Assim, grosso modo,
podemos falar de uma economia colonial antes e depois do ouro. É dessa forma que eu quero
que você articule as próximas informações, relacionando-as com o ciclo da mineração.
8.1.1 – Pecuária
A pecuária foi uma atividade fundamental para a expansão territorial nas regiões do Nordeste e do
Sul. Seu caráter era extensivo, ou seja, o gado vivia solto nas enormes pastagens disponíveis. Vejamos como
foi no Nordeste e no Sul.
➢ No Nordeste:
Nesta região, a pecuária se desenvolveu próximo aos engenhos. Tinha três objetivos: Abastecer os
engenhos com carne e couro; impedir a destruição dos canaviais e realizar o transporte. Portanto, era uma
atividade complementar e subsidiária do complexo açucareiro. A pecuária demandava reduzido capital
inicial de investimento.
55/187
Para fins didáticos (para você aprender melhor ) podemos dividir essa história da pecuária nordestina
em 4 episódios diferentes. Se liga na série:
1º. Episódio:
Inicialmente foi introduzida pelos portugueses que fundaram os engenhos. Desse modo, eram criados
dentro da própria fazendo do açúcar.
2º. Episódio:
3º. Episódio:
Com a crise do açúcar, os criadores de gado começam a adentrar no território em busca de riquezas e
atingem as margens do rio São Francisco. Nesse caminho, muitos vilarejos foram formados com o objetivo
de abastecer as tropas de gado que passavam pelo percurso.
4º. Episódio:
No quarto e último episódio dessa série, ao percorrerem as margens do rio São Francisco os pecuaristas
atingiram a região Norte das Minas Gerais, na época da descoberta do ouro. Assim, a pecuária nordestina
transformou-se em um elo entre a economia açucareira e a mineradora.
➢ No Sul:
56/187
A ocupação de europeus no Sul se deu, inicialmente, por meio da ação dos jesuítas espanhóis, os quais
fundaram colônias e aldeamentos missionários para catequização indígena. Foram eles que introduziram o
gado nessa região.
Esses aldeamentos foram alvo da ação de bandeirantes paulistas (jajá eu vou falar desses caras com mais
detalhes, segura aí!). No século XVII houve grande destruição dos aldeamentos indígenas e o
aprisionamento dos índios que ali viviam. Diante dos conflitos, os jesuítas deixaram essas terras e migraram
para a região onde hoje é Buenos Aires (localize no mapa acima). Em algumas situações, eles ficaram e
lutaram ao lado dos índios. São diversas as histórias das guerras indígenas nessa área.
Observe no mapa a seguir a ocupação jesuítica e os dados, nomes e localização de guerras entre
indígenas e os jesuítas contra bandeirante e outros invasores.
Para trás, além de índios (que, em geral, tornaram-se escravos), os jesuítas deixaram o gado – que saiu
pastando aleatoriamente. O rebanho se dispersou e se reproduziu, em particular, porque havia ótimas
pastagens e a inexistência de abates e de grandes predadores. Pelo menos nesse momento inicial.
57/187
Mas, Profe, por que os bandeirantes não levaram o gado também, oras?
Porque, querido, os bandeirantes desse momento eram especialistas em apresamento de índios para
vendê-los como escravos. Esse era seu negócio! Sacou?
Agora, veja você, caríssimo aluno, que oportunidade: grandes rebanhos e extensas pastagens sem
dono!! Uau!!!! Foi esse cenário que levou alguns colonos paulistas, portugueses e de outras nacionalidades
a ocupar a região.
Como já sabemos, a rentabilidade da criação de gado não era alta. Por isso, os produtores dessa região
tentaram diversificar as possibilidades de negócios com o gado: vendiam o gado em pé (bicho vivo) ou o
couro. A carne era pouco comercializada porque não conheciam técnicas para conservação. Daí o hábito dos
sulistas de comerem carne em abundância. Contudo, havia um limitante econômico: vender para quem?
Nas terras sulistas também não havia a presença de escravos negros ou indígenas. Assim, as atividades
eram desenvolvidas em família. Surgiu a figura do peão de gado – ou gaúcho. Um trabalhador livre que
detinha autonomia e poderia trabalhar onde ele quisesse e para diversos proprietários de gado, quantos
fossem necessários. Uma liberdade invejável para uma colônia escravista!
Para sair um pouco da condição econômica quase de subsistência, os povoados sulistas procuraram
estabelecer contato e comércio com outras províncias da região do Rio da Prata (por onde era possível
escoar parte da produção) – como os territórios que hoje formam o Uruguai e as províncias argentinas de
Buenos Aires, Corrientes, Entre-Rios e Missiones.
Mas a situação econômica da região Sul começou a mudar para melhor quando os bandeirantes
paulistas abriram o caminho até o centro do Brasil com a descoberta do ouro. Como veremos, essa
atividade foi o propulsor de outras atividades econômicas e, tal como ocorreu com a pecuária nordestina, a
economia aurífera mudou o sentido da pecuária sulista. O GP$ dos pecuaristas gaúcho recalculou a rota para
a região das Minas.
Seria difícil, naquela época, imaginar que os eventos ocorridos lá nas Minas Gerais pudessem
influenciar os gaúchos sulistas, afinal eram 2 mil quilômetros de distância. Mas aconteceu! Minas Gerais se
desenvolveu como um centro de demanda por produtos. Era necessário abastecer a região rapidamente,
pois aqueles que se deslocavam para lá só queriam saber de ouro. Há relatos historiográficos de
extrativistas cheio de ouro e quase subnutridos, pois não havia comércio para comprarem.
58/187
Ora, os maiores rebanhos de gado muar (mulas) e bovino estavam justamente onde? No SUL, minha
gente!!!!! Assim, aproveitando a oportunidade, os produtores de gado sulistas passaram a abastecer o
mercado minerador, tanto com mulas (para carregamentos), quanto com gado (para consumo de carne).
Perceba, querido e querida, que esse momento é um divisor de águas para a pecuária sulista!
Os produtores saiam do Sul com tropas enormes de gado. Iam até a província de São Paulo. Ali eles paravam
para um momento de “engorda” do gado. Por sinal, na cidade paulista de Sorocaba formou-se a maior feira
de muares da colônia. Isso gerou uma diversidade econômica enorme para São Paulo. Era o início da
atividade que ficou conhecida como tropeirismo.
Dali as tropas, e seus tropeiros, levavam as mulas e os bois até Minas Gerais. Com o passar do tempo, os
sulistas desenvolveram uma técnica de conservação da carne chamada charque. Então, as mulas saiam do
Sul carregadas de carne charqVUNESPda, couro e mate. Passavam em São Paulo e carregavam mais alguns
produtos manufaturados ou importados e, assim, seguiam para as Minas Gerais.
Outra dinamização territorial e econômica ocorreu com a colonização da região Norte. Porém, nessas terras
a história foi um pouco diferente do que estamos falando até agora.
Em 1616, por iniciativa governamental, iniciou-se a ocupação da região Norte, que começou no Maranhão e
foi até o Amazonas. Observe no mapa mais abaixo. Evidentemente, seguindo o “desejo dourado” de
59/187
encontrar ouro nas possessões coloniais, o governo português montou um sistema administrativo e de
ocupação territorial a fim de descobrir metais preciosos.
A principal Expedição de Reconhecimento dessa grande região ocorreu em 1637, comandada por Pedro
Teixeira. Ele começou na foz do Amazonas, subiu todo o rio e depois foi por terra. Seguiu cruzando o território
até chegar nos Andes, em Quito, no Peru. Esse é um caminho de reconhecimento, mas, também de
destruição dos povos ribeirinhos (que viviam às margens do rio) e indígenas. Os sobreviventes fugiram mata
adentro e, na volta dos colonos, era impossível instalar qualquer sistema de exploração colonial, uma vez
que os europeus não sabiam cultivar em zonas de mata tropical fechada como a Amazônia. Da mesma forma,
os portugueses não contavam com nenhuma interação com os povos da floresta.
Você observou a data da expedição? 1637! Então, ela foi possível porque ocorreu
durante o período da União Ibérica. Nesse sentido os limites do Tratado de Tordesilhas
estavam suspensos devido à união das duas coroas!
A metrópole, então, secundarizou essa região, apenas criando 2 grandes regiões administrativas chamadas
de Maranhão e Grão Pará.
Contudo, alguns colonos, nessas andanças, notaram que diversos povos usavam produtos da floresta para
fins medicinais e alimentícios. Eram frutas, ervas, folhas, raízes que passaram a ser apelidadas de “drogas do
sertão”. Então, eles começaram a fazer o extrativismo dessa riqueza natural usando, para isso, mão de obra
de indígena escravizada .
Desse modo, grande parte do desenvolvimento econômico da região Norte se deu graças à atividade
particular dos colonos ligada a economia coletora das chamadas drogas do sertão. Essa foi a base da
atividade econômica amazonense por mais de 200 anos.
Drogas do sertão são produtos encontrados na Floresta Amazônica. São eles: cacau, baunilha, pimenta,
urucum, cravo, canela, guaraná, castanhas, resinas aromáticas. Elas se pareciam e, muitas vezes, poderiam
substituir as chamadas especiarias orientais (cravo, canela, pimenta, noz-moscada). São temperos, ervas
medicinais ou aromáticas. Hoje, são muito utilizadas pela indústria alimentícia, cosmética e farmacêutica.
60/187
Além dos colonos, essa região foi ocupada por várias missões religiosas que fundaram aldeamentos indígenas
ao longo do Rio Amazonas e seus afluentes. Nessas missões além de realizar a atividade religiosa, os
religiosos também exploravam a mão de obra indígena no extrativismo das drogas do sertão.
Observe o mapa que relaciona a localização das missões religiosas e o local de desenvolvimento econômico
desses produtos da floresta.
Apesar de colonos e missionários religiosos utilizarem a mão de obra indígena para a exploração das drogas
do sertão, a forma de tratamento dado ao índio pelos missionários era diferente do que aquela despendida
pelos colonos. Estes matavam e escravizavam indígenas, já os missionários utilizavam a catequese, a
aproximação pela conversão ao cristianismo. O trabalho parecia quase como uma consequência da mudança
cultural que ia sendo promovida nessa relação.
Não se esqueçam de que os missionários religiosos eram contrários à escravização dos indígenas. Eles se
apoiavam não apenas no discurso religiosos, mas em leis régias que proibiam a escravidão dos índios, com
exceção, como já falamos algumas vezes, daqueles que resistiam à conversão ao cristianismo e ocupação
colonial.
Assim, podemos imaginar que o cenário dessa região era de conflito entre religiosos e colonos, uma
vez que seus interesses eram diferentes e o produto da exploração o mesmo. Na prática, a situação teve
impacto na economia, pois enquanto a produção crescia nos aldeamentos indígenas, nas áreas dos colonos
a dificuldade aumentava.
Portanto, podemos caracterizar essa ocupação territorial como de baixa densidade, esparsa e de economia
coletora.
61/187
Na seção anterior comentei que a pecuária, tanto do Nordeste quanto do Sul, teve uma história antes
e uma depois da descoberta do ouro. Já a mineração é resultado de um longo processo que envolveu uma
atividade denominada bandeirismo.
Bandeirismo é um movimento de caráter particular, cuja origem está na região da Vila de São Vicente. Ele
era formado por colonos portugueses, brancos, mestiços e indígenas. Eram conhecidos como bandeirantes.
Assim, para entender o bandeirismo é necessário estudarmos as condições econômicas e sociais dessa
província.
• A grande distância que separava São Vicente da metrópole. Para você ter noção, levavam-se 30 dias
para chegar de Portugal até Salvador (capital do Governo-Geral) e mais 15 dias até São Vicente. Ou
seja, tempo demais para os negócios coloniais.
• A faixa litorânea de São Vicente era estreita, com muitos manguezais e, portanto, inapropriada para
a produção latifundiária do complexo açucareiro.
E vamos combinar, galera, segundo Caio Prado e Fernando Novais, a função de uma colônia era produzir
riquezas para a metrópole. Por isso, o fracasso do sistema exportador na região vicentina transformou a Vila
de São Vicente em uma região secundária, do ponto de vista da economia de exploração do sistema colonial.
Dessa maneira, podemos articular a seguinte formulação: havia muita escassez e pouca diversidade de
produção. Importar da Europa era lago absolutamente fora de cogitação, uma vez que os produtos eram
caros e, devido ao isolamento da região, quase não chegava um único produto importado.
Então, utensílios, roupas, ferramentas e até mesmo mão de obra especializada - como pedreiro, carpinteiro,
ferreiro- faltavam na província. Imagine livros, jornais, revistas ou qualquer meio de desenvolvimento da
intelectualidade? Por isso, muitos historiadores falam em que a população vicentina vivia na miséria.
Nesse sentido, o que se verificou foi uma interação maior entre colonos portugueses e indígenas. Colonos
aprendiam com os indígenas a guerrear, caçar e construir abrigos conforme os hábitos indígenas. Segundo
historiadores, até meados do século XVIII, os paulistas falavam, majoritariamente, tupi-guarani.
62/187
Essa interação teve como resultado uma cultura específica, sertaneja e guerreira ao mesmo tempo. A
mentalidade formada nesse contexto foi a condição necessária para a atuação do bandeirismo: o
desenraizamento. Nada prendia os bandeirantes à terra. Eles podiam viajar longuíssimas distâncias e passar
meses longe de seus vilarejos. Até o início do século XVIII, não se havia encontrado riquezas que lhes
rendesse ficar em um único lugar.
Agora cuidado: essa interação não quer dizer trocas, igualdade de condições e nada disso. Índios eram visto
como selvagens, gentios, bravos e inferiores. No início, os colonos escravizaram índios para trabalhos
domésticos e pequena lavoura local. Os colonos vicentinos se apoiavam, inclusive, nos conflitos e guerras
entre os diversos povos indígenas, alterando a própria constituição das relações interétnicas. Lembre-se,
também, da aula anterior sobre a postura dos conquistadores europeus sobre os indígenas.
Havia 3 atividades fundamentais desenvolvidas pelos bandeirantes, entre os séculos XVI e XVIII, que definem
3 tipologias de bandeirismo.
O que se viu, na prática, foram os bandeirantes fazendo tudo o que lhes desse alguma riqueza. É claro que o
“sonho dourado” era como aquele ideal das pessoas de hoje em dia de ganhar na mega-sena ou algum
investimento empreendedor no youtube. Quem não joga, não ganha, né, gente!
Então, a cada expedição bandeirante, independentemente se era uma atividade particular ou um contrato
feito com algum senhor de terra rico, sempre o bandeirante sonhava em encontrar ouro no caminho!
O aprisionamento de índios foi uma prática na região de São Paulo e adjacências. Mas, no século XVII, no
contexto da ocupação holandesa no Nordeste, houve uma ruptura do comércio escravista. Como sabemos,
a Holanda dominou não apenas Pernambuco, mas parte importante das feitorias portuguesas na África que
eram responsáveis pelo abastecimento do comércio de escravizados.
63/187
O local onde isso ocorreu de maneira acentuada foi nos atuais Mato Grasso do Sul e Rio Grande do Sul,
sobretudo ao longo dos rios Paraguai e Paraná, na Bacio do Prata, em um dos maiores aldeamentos indígenas
chamado Sete Povos das Missões, fundado por jesuítas espanhóis. Nessa região ocorreram muitos
massacres, mortes e a escravização dos sobreviventes. Os bandeirantes responsáveis por essas expedições
de apresamento foram Raposo Tavares, Manoel Preto e Fernão Dias (localize no mapa anterior).
Na segunda metade do século XVII, o aprisionamento de indígenas já não era tão lucrativo. Além disso, como
já vimos, Portugal restaurou a monarquia em 1640 e, no Brasil, portugueses, colonos e indígenas expulsaram
os holandeses. Fortaleceu-se o comércio negreiro.
Uma dessas expedições foi liderada por Fernão Dias Paes. Esse bandeirante partiu de São Paulo em direção
ao Noroeste, atual território do Estado de Minas Gerais, e ficou 7 anos buscando ouro. Encontrou apenas
64/187
pedras turmalinas. Mas ele abriu rotas e caminhos que foram seguidos por outros bandeirantes, como Borba
Gato, o famoso e terrível Bartolomeu Bueno da Silva (o Anhanguera), entre outros.
Em 1693, descobriram-se as primeiras jazidas de ouro, na região das Minhas Gerais. A partir disso, iniciou-
se um povoamento na região da Mantiqueira e do Espinhaço. Até 1725 fundaram-se as cidades de Caeté,
São João del Rey, Sabará, Mariana, Vila Rica, Arraial do Tejuco, Vila do Príncipe.
Dessas cidades mineiras, os bandeirantes seguiram para a região do Mato Grosso e, em 1719, descobriram
ouro nessas terras. A partir disso, formaram-se as cidades de Cuiabá, Vila Bela, Coimbra, Príncipe da Beira,
Miranda e Albuquerque.
Na sequência, rumaram mais para o Oeste e, em 1725, chegaram em Goiás, onde descobriram novas jazidas.
Aqui foi fundada Vila Boa, a atual Goiás.
(UFSJ 2013)
“Ilha do Bananal, atual Estado de Tocantins, ano de 1750. Um grupo de homens descalços,
sujos e famintos se aproxima de uma aldeia carajá. Cautelosamente, convencem os índios a
permitirem que acampem na vizinhança. Aos poucos, ganham a amizade dos anfitriões. Um
belo dia, entretanto, mostram a que vieram. De surpresa, durante a madrugada, invadem a
aldeia. Os índios são acordados pelo barulho de tiros de mosquetão e correntes arrastando.
Muitos tombam antes de perceber a traição. Mulheres e crianças gritam e são silenciadas a
golpes de machete. Os sobreviventes do massacre, feridos e acorrentados, iniciam, sob chicote,
uma marcha de 1 500 quilômetros até a vila de São Paulo – como escravos.” TORAL, A. e
BASTOS, G. Os brutos que conquistaram o Brasil. In: Revista Superinteressante, abril de 2000.
Fonte: http://super.abril.com.br/historia/brutos-conquistaram-brasil-441292.shtml.
Acesso em 29/08/2012
Ações desse gênero, ocorridas na América Portuguesa, eram frequentemente empreendidas
pelos
a) invasores franceses.
b) jesuítas ibéricos.
c) funcionários da coroa portuguesa.
d) bandeirantes paulistas
Comentários
65/187
Um dos primeiros tipos de bandeirismo foi o de aprisionamento, tal como a situação relatada
no texto do enunciado. No século XVI, como vimos, muitos bandeirantes fizeram incursões no
interior do país para aprisionar e escravizar indígenas. As bandeiras paulistas foram as que mais
se destacaram entre os século XVI e XVIII.
Gabarito: D
66/187
Antes de entrarmos mais a fundo na ocupação do Norte para chegarmos na História da Manaus,
vamos aproveitar esse estudo e essa reflexão sobre o papel dos bandeirantes para tratar alguns aspectos da
colonização do Sul e as disputas territoriais entre Portugal e Espanha em que estiveram envolvidas as missões
jesuíticas e a formação de colônias e aldeamentos.
A colonização portuguesa se estendeu até o Sul após a destruição das missões jesuíticas espanholas
pelos bandeirantes paulistas e com o desenvolvimento da pecuária e produção de couro e, mais tarde, de
carne.
Além dessa ocupação há outra que gerou tensão diretamente entre Portugal e Espanha. Tratou-se da
fundação da Colônia de Sacramento, no extremo Sul do território. Ela foi constituída a fim de dominar o
controle da Bacia do rio da Prata. Isso complementava a expansão da atividade pecuária.
Contudo, espanhóis escoavam toda a produção de prata da região mineradora do Potosí (na atual Bolívia)
pelo rio da Prata (olha o porquê de o nome desse rio tão importante para a América do Sul), que
desembocava justamente onde? Na Colônia de Sacramento, meu caro e minha cara! Assim, a Espanha
desconfiava que Portugal pudesse usar o rio para invadir e tomar a região mineradora de Potosí. Sacou os
motivos das disputas em relação à fronteira no Sul?
Os conflitos entre Portugal e Espanha vieram à tona depois de findo a União Ibérica e com a crise geral do
mercantilismo, no final do século XVII e começo do XVIII. Desse modo, surgiu a necessidade de reverem os
limites territoriais impostos pelo Tratado de Tordesilhas.
Nas discussões que envolveram a definição das fronteiras Portugal conseguiu impor como norma básica das
negociações o princípio do direito internacional romano chamado uti possidetis. Conforme esse princípio, a
posse efetiva de um território é de quem o ocupa de fato.
Foram muitas tentativas de negociação. Vou listar os acordos mais importantes para a sua prova:
Levando em consideração que a busca por riquezas foi um impulsionador da expansão territorial. Veja
os mapas abaixo:
67/187
As duas décadas finais do século XVII são de crise econômica para a metrópole e para a colônia em razão dos
efeitos da União Ibérica e da invasão holandesa na área de produção do açúcar (Pernambuco) (ponto 2 dessa
aula). Assim, sabemos que houve um processo de busca por novas riquezas para sanear essa crise, com já
adiantei acima. Além disso, a coroa portuguesa criou medidas para intensificar o pacto colonial ampliando o
controle sobre os impostos cobrados nas atividades econômicas praticadas na colônia.
Por isso, na região Norte, a Coroa intensificou o controle sobre a atividade extrativista das drogas do sertão.
No Maranhão, especificamente, criou a Companhia de Comércio do Maranhão. O objetivo era monopolizar
a exportação das drogas do sertão - atividade esta controlada, até então, pelos próprios colonos por meio
do Porto de Belém do Pará. Além disso, proibiu-se a escravidão indígena – outra vez.
A situação na região do Maranhão já era de muita escassez e pobreza, afinal, no Maranhão não havia a
disponibilidade de drogas do sertão, tal qual na Amazônia. Com a monopolização do comércio e da
exportação pela Cia Real, ficou impossível desenvolver uma atividade econômica rentável para os colonos.
68/187
17Nesse contexto miserável, em 1684, surgiu uma revolta de colonos liderados por dois irmãos da família
Beckman. Por isso, conhecemos esse acontecimento como a Revolta dos irmãos Beckman (que estudaremos
na aula específica sobre processo de independência). O resultado dessa revolta foi o fechamento da
Companhia, até porque ela e seus objetivos econômicos fracassaram.
Quase um século depois, em 1755, o Governo criou outra Companhia, agora abarcando as atividades de toda
a região Norte. Era a Companhia do Comércio do Grão Pará e Maranhão. Dessa vez, o sucesso foi maior
porque eles implantaram o cultivo de algodão, também com uso de mão de obra escrava. Deu certo porque
havia uma demanda internacional na Inglaterra por algodão para abastecer o início da produção provocada
pela Revolução Industrial. Assim, durante 25 anos o Maranhão foi o maior exportador de algodão do mundo.
17
Atlas Histórico do Brasil. FGV/CPDOC. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/crise-do-sistema-
colonial/mapas/exportacoes-do-maranhao-na-colonia. Acesso em 13-04-2019.
69/187
Diante desses acontecimentos, percebemos que a ocupação da região Norte foi um processo de longo prazo
que envolveu a ação da Coroa, de colonos sertanistas, de missionários religiosos e das práticas escravagistas.
Reforço que as atividades principais desenvolvidas tiveram como foco a produção para exportação.
Retomaremos a ocupação e o desenvolvimento da colonização no Norte na próxima aula
(FUVEST 2013)
A economia das possessões coloniais portuguesas na América foi marcada por mercadorias
que, uma vez exportadas para outras regiões do mundo, podiam alcançar alto valor e garantir,
aos envolvidos em seu comércio, grandes lucros. Além do açúcar, explorado desde meados do
século XVI, e do ouro, extraído regularmente desde fins do XVII, merecem destaque, como
elementos de exportação presentes nessa economia:
a) tabaco, algodão e derivados da pecuária.
b) ferro, sal e tecidos.
c) escravos indígenas, arroz e diamantes.
d) animais exóticos, cacau e embarcações.
e) drogas do sertão, frutos do mar e cordoaria.
Comentário
70/187
Bem, queridas e queridos alunos chegamos ao final da nossa aula. Eu fico por aqui. Você segue até a última
questão.
Aproveita TODOS os comentários, pois foram desenvolvidos em cada detalhe para fazer você mentalizar,
aprender a responder uma questão, não escorregar nos caprichos do examinador. Gabaritar história não é
só sobre saber o conteúdo, mas também é ser safo para adotar as melhores formas de responder cada
questão!
Bons estudos,
LISTA DE QUESTÕES
1. (IBFC - 2021 - Auxiliar (MGS)/Apoio ao Educando)
71/187
(C) Por volta do século XVIII, a confirmação da presença de ouro incentivou o deslocamento de
pessoas e a instalação de vilas no interior do território, como é o caso da fundação de Vila Rica,
em Minas Gerais
(D) As terras que correspondem ao atual estado do Acre pertenciam à Bolívia e foram anexadas
ao Brasil em 1903, por meio do Tratado de Petrópolis, após uma série de conflitos
A migração de populações indígenas para o interior da colônia brasileira gerou uma escassez
de sua mão de obra, sobre as consequências desse movimento migratório, assinale a
alternativa correta.
(A) A escassez de mão de obra nativa nas redondezas intensificou e interiorizou as expedições
de apresamento de escravos e expos mais as populações indígenas ao morticínio e epidemias
(B) Esse movimento migratório criou uma nova relação de trabalho indígena baseada na troca
de serviços
(C) Obrigou os nativos a retornaram ao litoral devida o a escassez alimentar no interior
(D) Significou uma nova forma de resistência indígena que se aproveitando da vantagem de
conhecer o território, resistiu e derrotou as tentativas europeias de expansão territoriais
3. (VUNESP/Aluno-Oficial PM-SP/2012)
4. (VUNESP/Aluno-Oficial PM-SP/2012)
72/187
5. (VUNESP/Aluno-Oficial PM-SP/2012)
6. (VUNESP/Aluno-Oficial PM-SP/2013)
73/187
7. (VUNESP/Aluno-Oficial PM-SP/2013)
Certa vez, um velho Tupinambá me perguntou: “Por que vocês, mairs [franceses] e perós
[portugueses], vêm de tão longe para buscar lenha? Por acaso não existem árvores na sua
terra?” Respondi que sim, que tínhamos muitas, mas não daquela qualidade, e que não as
queimávamos, como ele supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir. “E precisam de tanta
assim?”, retrucou o velho Tupinambá. “Sim”, respondi, “pois no nosso país existem
negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que
se possa imaginar, e um só deles compra todo o pau-brasil que possamos carregar.”“Ah!”,
tornou a retrucar o selvagem. “Você me conta maravilhas. Mas me diga: esse homem tão rico
de quem você me fala, não morre?” “Sim”, disse eu, “morre como os outros”. Aqueles
selvagens são grandes debatedores e gostam de ir ao fim em qualquer assunto. Por isso, o velho
indígena me inquiriu outra vez: “E quando morrem os ricos, para quem fica o que deixam?”
“Para seus filhos, se os têm”, respondi. “Na falta destes, para os irmãos e parentes
próximos.” “Bem vejo agora que vocês, mairs, são mesmo uns grandes tolos. Sofrem tanto
para cruzar o mar, suportando todas as privações e incômodos dos quais sempre falam quando
74/187
aqui chegam, e trabalham dessa maneira apenas para amontoar riquezas para seus filhos ou
para aqueles que vão sucedê-los? A terra que os alimenta não será por acaso suficiente para
alimentar a eles? Nós também temos filhos a quem amamos. Mas estamos certos de que,
depois da nossa morte, a terra que nos nutriu nutrirá também a eles. Por isso, descansamos
sem maiores preocupações.” (BUENO, Eduardo. Pau Brasil. São Paulo: Axis Mundi, 2002)
O diálogo entre o pastor calvinista Jean de Léry (1534-1611) e o velho Tupinambá, travado em
algum momento da estada de Léry no Rio de Janeiro, entre março de 1557 e janeiro de 1558,
é revelador
a) da aliança entre portugueses e franceses no Atlântico sul, o que permitiu aos dois países
explorarem conjuntamente as riquezas da América e, ao mesmo tempo, isolarem os espanhóis
na porção mais ocidental do continente.
b) da necessidade que Portugal tinha em exigir do papado um posicionamento favorável à
partilha das terras “recém-descobertas e por descobrir” apenas entre portugueses e
espanhóis, o que só aconteceu no final do século XVII.
c) do permanente conflito ocorrido entre os povos nativos da América e os colonizadores
europeus, que não conseguiram estabelecer nenhuma forma de diálogo com os povos
indígenas e participaram de constantes guerras de extermínio.
d) da importância econômica que o pau-brasil tinha para os europeus no início da colonização
e das intensas disputas entre portugueses e franceses pelas terras da América do Sul no século
XVI, há pouco descobertas pela Coroa Portuguesa.
e) da proximidade de pensamento entre os povos indígenas e os franceses, em geral mais
respeitosos na relação com a natureza e com os nativos da América do que os portugueses,
responsáveis por uma prática econômica predatória
8. (VUNESP/Aluno-Oficial PM-SP/2015)
75/187
Portuguesa a centrar todos os seus esforços na violenta repressão aos quilombos, visando a
sua destruição.
d) o forte vínculo econômico que aproximava Portugal à Holanda, responsável pelo refino e
pela comercialização de grande parte do açúcar português exportado para a Europa, o que
tornava a guerra direta entre portugueses e holandeses algo incômodo e desinteressante.
e) o receio que tinha Portugal de que a guerra contra a Holanda pudesse insuflar a própria
população contra a dominação portuguesa, acirrando os conflitos entre colônia e metrópole, e
colocando em risco o projeto português de construção de um grande império colonial.
9. (VUNESP/Aluno-Oficial PM-SP/2016)
Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será de
cordialidade – daremos ao mundo o “homem cordial”, um traço definido do caráter brasileiro,
na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões
de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal.
(Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil. Adaptado)
76/187
O Padre Antônio Vieira fez parte do esforço missionário jesuíta na América, que via a catequese
como fundamental em um contexto de
a) ampliação das atividades econômicas agroexportadoras na América portuguesa, o que
tornou a cristianização de povos indígenas parte fundamental na arregimentação de
mão de obra escravizada para o trabalho nos engenhos coloniais.
b) intensificação do processo de interiorização da presença portuguesa na América do Sul, o
que fortaleceu a aliança entre jesuítas e bandeirantes, com o objetivo de dominarem os nativos
e ampliarem as possessões portuguesas no continente.
c) refluxo da Igreja Católica na Europa por conta das Reformas protestantes, o que levou alguns
jesuítas a se aproximarem das línguas nativas para cristianizarem os ameríndios com o objetivo
de conquistar novos fiéis para a Igreja.
d) aprofundamento das disputas e conflitos entre a Coroa Portuguesa e os jesuítas, o que
resultaria, poucos anos depois, na expulsão da Companhia de Jesus da América devido aos
enclaves autônomos das missões no continente.
e) disputa entre as Coroas Espanhola e Portuguesa pelas terras da América do Sul, de tal forma
que os jesuítas constituíram-se como aliados estratégicos dos portugueses na ampliação dos
seus domínios territoriais coloniais.
77/187
13. (VUNESP/2018)
Os grandes lucros que diziam auferir os mercadores portugueses que fizeram o tráfico do pau-
brasil nas duas primeiras décadas após o descobrimento, os rigores do monopólio fiscal
decretado pelo rei de Portugal e até notícias fantasiosas de riquezas da terra virgem
contribuíram, em primeira linha, para originar e desenvolver o contrabando nas costas da Santa
Cruz. (Bernardino José de Sousa. O pau-brasil na história nacional, 1978.)
O texto alude aos primeiros contatos dos colonizadores com o litoral da “nova terra” e descreve
a) o controle legal e efetivo da economia colonial pela Metrópole portuguesa.
b) o início e o desenrolar da ocupação da colônia por numerosas famílias portuguesas.
c) o financiamento e a instalação de engenhos de açúcar nas terras férteis da colônia.
d) a atração real e imaginária exercida pelas riquezas da colônia sobre os europeus.
e) a catequização e a escravização dos indígenas nas explorações auríferas coloniais.
14. (VUNESP2015)
A colonização portuguesa do vale do rio Amazonas apresentou um padrão de reconhecimento
e ocupação do território idêntico ao utilizado em outras regiões do Brasil, uma vez que
a) a agricultura de exportação exigiu grandes investimentos em maquinários pesados
importados da Europa.
b) a colonização de povoamento ampliou o mercado consumidor de produtos industrializados
metropolitanos.
c) o vale amazônico foi dividido em várias capitanias hereditárias doadas a fidalgos
portugueses.
d) o sistema fluvial da região representou, para a navegação, um prolongamento do litoral
atlântico.
e) a escravidão africana foi a mão de obra predominante na extração dos produtos da floresta.
79/187
80/187
O que queremos destacar com isso é que o tráfico atlântico tendia a reforçar a natureza
mercantil da sociedade colonial: apesar das intenções aristocráticas da nobreza da terra, as
fortunas senhoriais podiam ser feitas e desfeitas facilmente. Ao mesmo tempo, observa-se a
ascensão dos grandes negociantes coloniais, fornecedores de créditos e escravos à agricultura
de exportação e às demais atividades econômicas. Na Bahia, desde o final do século XVII, e no
Rio de Janeiro, desde pelo menos o início do século XVIII, o tráfico atlântico de escravos passou
a ser controlado pelas comunidades mercantis locais (...). João Fragoso et alii. A economia
colonial brasileira (séculos XVI-XIX), 1998.
O texto permite inferir que
a) o tráfico atlântico de escravos prejudicou a economia colonial brasileira porque uma enorme
quantidade de capitais, oriunda da produção agroindustrial, era remetida para a África e para
Portugal.
b) as transações comercias envolvendo a África e a América portuguesa deveriam,
necessariamente, passar pelas instâncias governamentais da Metrópole, condição típica do
sistema colonial.
c) a monopolização do tráfico negreiro nas mãos de comerciantes encareceu essa mão de obra
e atrasou o desenvolvimento das atividades manufatureiras nas regiões mais ricas da América
portuguesa.
d) as rivalidades econômicas e políticas entre fidalgos e burgueses, no espaço colonial,
impediram o crescimento mais acelerado da produção de outras mercadorias além do açúcar
e do tabaco.
e) nem todos os fluxos econômicos, durante o processo de colonização portuguesa na América,
eram controlados pela Coroa portuguesa, revelando uma certa autonomia das elites coloniais
em relação à burguesia metropolitana.
82/187
[...] se o interesse da Coroa estava centralizado na atividade minerária, ela não poderia
negligenciar outras atividades que garantissem sua manutenção e continuidade. É nesse
contexto que a agricultura deve ser vista integrando os mecanismos necessários ao processo
de colonização desenvolvidos na própria Colônia, uma vez que, voltada para o consumo
interno, era um meio de garantir a reprodução da estrutura social, além de permitir a redução
dos custos com a manutenção da força de trabalho escrava.
Guimarães, C. M. e REIS, F. M. da M. “Agricultura e mineração no século XVIII”, in Resende, m.e.l. e
VILLALTA, L.C. (orgs.) História de Minas Gerais. As minas setecentistas. Belo Horizonte: Autêntica
Editora/Companhia do Tempo, 2007, p. 323.
Assinale a alternativa que interpreta corretamente o texto.
a) Para o desenvolvimento das atividades de exploração das minas foi decisiva a permissão
dada pela metrópole ao desenvolvimento técnico e industrial da região.
b) Os caminhos entre as minas e Salvador, além de escoar a produção mineradora e permitir a
entrada de escravos, ficaram marcados pelo aparecimento de importantes vilas e povoados.
c) A produção agrícola na região das minas desenvolveu-se a ponto de se tornar um dos
principais itens da pauta de produtos exportados no período colonial.
d) Apesar do crescimento da agricultura e da pecuária, o mercado interno não se desenvolveu
no Brasil colonial, cuja produção se manteve estritamente voltada ao mercado externo.
e) As atividades agrícolas e a pecuária desenvolveram-se de certo modo integradas ao
desenvolvimento da mineração e da urbanização da região mineradora.
Dos engenhos, uns se chamam reais, outros inferiores, vulgarmente engenhocas. Os reais
ganharam este apelido por terem todas as partes de que se compõem e todas as oficinas,
perfeitas, cheias de grande número de escravos, com muitos canaviais próprios e outros
obrigados à moenda; e principalmente por terem a realeza de moerem com água, à diferença
de outros, que moem com cavalos e bois e são menos providos e aparelhados; ou, pelo menos,
com menor perfeição e largueza, das oficinas necessárias e com pouco número de escravos,
para fazerem, como dizem, o engenho moente e corrente. ANTONIL, André João. Cultura e
83/187
opulência do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp. 1982, p. 69. O texto oferece uma
descrição dos engenhos no Brasil no início do século XVIII. A esse respeito é correto afirmar:
a) O engenho de açúcar foi a principal unidade econômica do sertão nordestino durante o
período colonial, permitindo a ocupação dos territórios situados entre o rio São Francisco e o
rio Parnaíba.
b) A produção de açúcar no nordeste brasileiro colonial, em larga escala, foi possível graças à
implantação do sistema de fábrica e ao uso do vapor como força motriz nas moendas.
c) Os engenhos da Bahia utilizavam, sobretudo, mão de obra escrava africana, enquanto que
nos engenhos pernambucanos predominava o trabalho indígena.
d) Os grandes engenhos desenvolviam todas as etapas de produção do açúcar, do plantio,
passando pela moagem, a purga, a secagem e até a embalagem.
e) A produção de açúcar no sistema de “plantation” ficou restrita aos domínios lusitanos das
Américas, durante a época colonial, o que garantiu bons lucros aos produtores locais e aos
comerciantes reinóis.
22. (UNIVESP/2019)
Os historiadores são unânimes em afirmar que Portugal foi o país pioneiro nas Grandes
Navegações europeias entre o final da Idade Média e o início da Idade Moderna.
Esse pioneirismo se deveu, principalmente,
a) à fragmentação do poder real, às disputas comerciais com a Inglaterra, ocorridas ao longo
do século XIII, e à proximidade geográfica entre Portugal e Índia.
b) à centralização monárquica, realizada em Portugal entre os séculos XII e XIV, à posição
geográfica privilegiada e ao aperfeiçoamento das técnicas de navegação a partir do século XV.
c) à adoção do liberalismo econômico, a partir do século XVI, ao fluxo de metais preciosos das
colônias para Portugal e ao investimento estatal na armação de navios mercantes no século
XVII.
d) ao tráfico de escravos, cujo fluxo constante ligava África e Europa desde o século XI, e aos
investimentos da burguesia comercial, fortalecida pelos lucros do açúcar produzido no Brasil.
e) ao desenvolvimento da bússola, do astrolábio e do quadrante, invenções de cientistas
portugueses abrigados na Escola de Sagres, pioneira no desenvolvimento de técnicas e
instrumentos de navegação no século XIX.
23. (VUNESP/2017)
Mar português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
84/187
d) I, II e III, apenas.
e) I, II, III e IV.
25. (VUNESP/2015)
A contestação francesa ao Tratado de Tordesilhas teve no monarca Francisco I o mais veemente
representante. Em 1540 chegou a dizer que “‘o sol brilhava tanto para ele como para os outros’
e que ‘gostaria de ver o testamento de Adão para saber de que forma este dividira o mundo...’
Declarou também que só a ocupação criava o direito, que descobrir um país, isto é, vê-lo ou
atravessá-lo, não constituía um ato de posse e que considerava como domínio estrangeiro
unicamente ‘os lugares habitados e defendidos’. São essas as bases da colonização moderna”.
MOUSNIER, Roland. História Geral das Civilizações. Tomo IV Os Séculos XVI e XVII. Tomo IV. 2
Volumes. São Paulo: Diofel, 1958.
A crítica feita por Francisco I ao Tratado de Tordesilhas baseia-se
a) no uso da força, previsto no Tratado, como forma de efetivar a ocupação das novas terras a
serem descobertas.
b) na existência de documento papal, nunca trazido a público, que determinava em testamento
a divisão do mundo.
c) no fato de apenas países europeus terem direito às terras, deixando de fora os países árabes
do norte da África.
d) na divisão das terras ocidentais entre Portugal e Espanha, sem levar em consideração as
demais nações europeias.
e) na possibilidade de qualquer país ocupar novas terras, desde que as ocupasse de fato
segundo as regras do Tratado.
"Já se verificando nesta época a diminuição dos produtos das Minas, viu-se o capitão Bom
Jardim obrigado a voltar suas vistas para a agricultura (...) Seus vizinhos teriam feito melhor se
tivessem seguido exemplo tão louvável em vez de desertar o país, quando o ouro
desapareceu."
(John Mawe. "Viagens ao Interior do Brasil, principalmente aos Distritos do Ouro e
Diamantes".)
Segundo as observações do viajante inglês, os efeitos imediatos da decadência da extração
aurífera em Minas Gerais foram
a) a esterilização do solo mineiro e a queda da produção agropecuária.
b) a crise econômica e a consolidação do poder político das antigas elites mineiras.
c) a instalação de manufaturas e a suspensão dos impostos sobre as riquezas.
d) a conversão agrícola da economia e o esvaziamento demográfico da província.
86/187
87/187
GABARITO
1- B 17- E
2- A 18- E
3- D 19- D
4- E 20- E
5- A 21- D
6- E 22- B
7- D 23- A
8- A 24- E
9- C 25- D
10- C 26- D
11- E 27- B
12- D 28- B
13- D 29- D
14- D
15- E
16- D
88/187
QUESTÕES COMENTADAS
1. (IBFC - 2021 - Auxiliar (MGS)/Apoio ao Educando)
Comentários:
O Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, dividia o mundo novo entre Portugal e Espanha. O território da
América Portuguesa, de acordo com o tratado, ficava restrito à costa atlântica. No entanto, a partir do século
XVI, os portugueses começaram a explorar o interior do território, motivados por atividades econômicas
como a cana-de-açúcar, o ouro e a borracha.
A alternativa (A) está correta porque, no século XVI, os colonizadores portugueses investiram na atividade
canavieira e em engenhos de açúcar que foram instalados na zona litorânea. A cana-de-açúcar tornou-se a
principal atividade econômica da colônia, e a sua produção exigiu a mão de obra de escravos africanos.
A alternativa (B) está incorreta porque o Pau Brasil, embora tenha sido uma importante atividade econômica
no século XVII, não acarretou um forte desenvolvimento econômico e migração populacional para o estado
do Amazonas naquele momento. O Pau Brasil era uma árvore que era extraída da floresta para a produção
de tinta, e a sua exploração era realizada por uma pequena quantidade de pessoas, que não se fixavam na
região.
A alternativa (C) está correta porque, por volta do século XVIII, a confirmação da presença de ouro incentivou
o deslocamento de pessoas e a instalação de vilas no interior do território, como é o caso da fundação de
89/187
Vila Rica, em Minas Gerais. A corrida do ouro foi um dos principais fatores que contribuíram para a ocupação
do interior do Brasil.
A alternativa (D) está correta porque as terras que correspondem ao atual estado do Acre pertenciam à
Bolívia e foram anexadas ao Brasil em 1903, por meio do Tratado de Petrópolis, após uma série de conflitos.
O Tratado de Petrópolis foi um acordo entre o Brasil e a Bolívia que definiu as fronteiras entre os dois países.
Gabarito: B.
A migração de populações indígenas para o interior da colônia brasileira gerou uma escassez
de sua mão de obra, sobre as consequências desse movimento migratório, assinale a
alternativa correta.
(A) A escassez de mão de obra nativa nas redondezas intensificou e interiorizou as expedições
de apresamento de escravos e expos mais as populações indígenas ao morticínio e epidemias
(B) Esse movimento migratório criou uma nova relação de trabalho indígena baseada na troca
de serviços
(C) Obrigou os nativos a retornaram ao litoral devida o a escassez alimentar no interior
(D) Significou uma nova forma de resistência indígena que se aproveitando da vantagem de
conhecer o território, resistiu e derrotou as tentativas europeias de expansão territoriais
Comentários:
A migração de populações indígenas para o interior da colônia brasileira foi um fenômeno complexo, que
teve diversas causas e consequências. Entre as causas, destacam-se a fuga da escravidão, a busca por
melhores condições de vida e a resistência à colonização.
A alternativa (A) está correta porque, com a escassez de mão de obra nativa nas redondezas, os colonos
portugueses passaram a intensificar as expedições de apresamento de escravos, adentrando cada vez mais
o interior do território. Essas expedições expuseram mais as populações indígenas ao morticínio e epidemias,
pois os colonos não hesitavam em usar a violência para submeter os indígenas.
A alternativa (B) está errada porque o movimento migratório não criou uma nova relação de trabalho
indígena baseada na troca de serviços. A mão de obra indígena continuou a ser utilizada na produção de
açúcar, na mineração e em outras atividades econômicas da colônia.
A alternativa (C) está errada porque a escassez de alimentos no interior não foi uma das causas da migração
indígena. Os indígenas que migravam para o interior geralmente eram os que já estavam vivendo em contato
com os colonos e conheciam as condições de vida no interior.
A alternativa (D) está errada porque a migração indígena não significou uma nova forma de resistência
indígena. A resistência indígena tomou diversas formas, como a guerra, a fuga e a diplomacia. A migração
para o interior foi uma forma de resistência, mas não foi uma forma nova.
90/187
Gabarito: A.
3. (VUNESP/Aluno-Oficial PM-SP/2012)
Comentários
O Tratado de Methuen, ou tratado de Panos e Vinhos, foi um acordo entre Portugal e Inglaterra
vigente entre 1703 e 1836 e que envolvia a troca entre os produtos têxteis ingleses e o vinho
português. Acredita-se que os resultados do tratado foram desfavoráveis a Portugal porque os panos
ingleses eram fabricados com técnica apurada, muito superiores aos produzidos pela indústria
portuguesa. Além disso, o acréscimo na exportação de vinho, decorrente do acordo não bastou para
equilibrar a balança comercial entre ambos os países, acarretando enormes prejuízos aos lusitanos,
pois, além do consumo pelos ingleses de seus vinhos jamais ter alcançado a mesma cota do consumo
de tecidos ingleses, as suas terras cultiváveis foram, em grande parte, transformadas em vinícolas,
causando uma escassez de alimentos a ponto de se recorrer à importação. Portugal não tinha quase
nenhuma indústria, quase todos os produtos manufaturados consumidos em Portugal eram
comprados na Inglaterra por preços altos. Restava como seu produto principal o vinho, que Portugal
vendia aos ingleses, mas que não era suficiente para pagar tudo o que importava. Portugal devia
muito dinheiro aos ingleses e, além disso, o comércio com os ingleses era muito importante para a
economia portuguesa. Por causa disso, Portugal ficou cada vez mais dependente da Inglaterra, e para
pagar suas dívidas, restava apenas recorrer ao ouro que obtinha do Brasil. A parte do ouro que ficava
no Brasil era pequena, e aquela destinada a Portugal também não permanecia lá. Portanto, quem
mais se beneficiou com o ouro brasileiro foi a Inglaterra. Com isso, sabemos que a alternativa correta
é letra d).
Gabarito: D
4. (VUNESP/Aluno-Oficial PM-SP/2012)
91/187
A exaltação dos bandeirantes, em São Paulo, está presente na nomenclatura de estradas, avenidas e
monumentos. Monumentos que vão desde a bela obra do escultor Brecheret junto ao Parque
Ibirapuera até o assustador Borba Gato, gigante de botas plantado no bairro de Santo Amaro. A estátua,
aliás, é muito pouco realista, pois existem boas indicações de que muitos bandeirantes marchavam
descalços.
(Bóris Fausto, História do Brasil)
A exaltação dos bandeirantes descrita costuma omitir, mascarar e esconder algumas das suas
atividades. Trata-se de uma tentativa de esquecer e apagar da História algumas ações não tão nobres
dos bandeirantes, tais como
a) a descoberta de metais preciosos nas Minas Gerais.
b) a contribuição para a extensão territorial do Brasil.
c) o trabalho relacionado à produção de açúcar.
d) a contribuição com os jesuítas na catequização de indígenas.
e) o combate e a repressão aos quilombos
Comentários
Havia 3 atividades fundamentais desenvolvidas pelos bandeirantes, entre os séculos XVI e XVIII, que
definem 3 tipologias de bandeirismo, são elas:
5. (VUNESP/Aluno-Oficial PM-SP/2012)
O dia 21 de abril, data do enforcamento de Tiradentes, tornou-se feriado logo após a proclamação da
República. Durante o Império, no entanto, a lembrança do episódio da Conjuração Mineira era
incômoda, pois
a) os inconfidentes tinham demonstrado clara oposição à forma monárquica de governo.
b) a revolta nas Minas Gerais se declarou muitas vezes contrária à independência.
c) a escravidão, mantida no Império, foi questionada pelos inconfidentes, que defendiam a abolição.
d) a elite imperial se identificava com o Iluminismo, negado pelos revoltosos de 1789.
92/187
e) os dois imperadores do Brasil eram contrários aos impostos defendidos pelos inconfidentes.
Comentários
A Conjuração Mineira foi uma revolta anticolonial, de caráter elitista e republicana. Provavelmente, foi o
primeiro movimento colonial a receber influência direta dos ideais iluministas. Ela ocorreu na então
capitania de Minas Gerais, Estado do Brasil, entre outros motivos, contra a execução da derrama e o
domínio português, sendo reprimida pela Coroa portuguesa em 1789. Vejamos as alternativas:
a) Correta. Uma das principais características desse movimento foi a defesa da República e a oposição à
monarquia.
b) Incorreta. Era um movimento separatista.
c) Incorreta. Os inconfidentes não questionavam a escravidão.
d) Incorreta. Os revoltosos se identificavam com o Iluminismo, a elite imperial não.
e) Incorreta. Os inconfidentes se opunham aos impostos.
Gabarito: A
6. (VUNESP/Aluno-Oficial PM-SP/2013)
93/187
Comentários
Cacau, Guaraná e Castanha do Pará são alguns dos produtos que ficaram conhecidos como "Drogas do
Sertão". Para responder à questão, vamos relembrar o que estudamos na aula sobre esse tema:
Grande parte do desenvolvimento econômico da região Norte se deu graças à atividade particular dos
colonos ligada a economia coletora das chamadas drogas do sertão. Essa foi a base da atividade econômica
amazonense por mais de 200 anos.
Drogas do sertão são produtos encontrados na Floresta Amazônica. São eles: cacau, baunilha, pimenta,
urucum, cravo, canela, guaraná, castanhas, resinas aromáticas. Elas se pareciam e, muitas vezes, poderiam
substituir as chamadas especiarias orientais (cravo, canela, pimenta, noz-moscada). São temperos, ervas
medicinais ou aromáticas. Hoje, são muito utilizadas pela indústria alimentícia, cosmética e farmacêutica.
Além dos colonos, essa região foi ocupada por várias missões religiosas que fundaram aldeamentos indígenas
ao longo do Rio Amazonas e seus afluentes. Nessas missões além de realizar a atividade religiosa, os
religiosos também exploravam a mão de obra indígena no extrativismo das drogas do sertão.
Gabarito: E
7. (VUNESP/Aluno-Oficial PM-SP/2013)
Certa vez, um velho Tupinambá me perguntou: “Por que vocês, mairs [franceses] e perós
[portugueses], vêm de tão longe para buscar lenha? Por acaso não existem árvores na sua terra?”
Respondi que sim, que tínhamos muitas, mas não daquela qualidade, e que não as queimávamos, como
ele supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir. “E precisam de tanta assim?”, retrucou o velho
Tupinambá. “Sim”, respondi, “pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos,
facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que se possa imaginar, e um só deles compra todo o
pau-brasil que possamos carregar.”“Ah!”, tornou a retrucar o selvagem. “Você me conta
maravilhas. Mas me diga: esse homem tão rico de quem você me fala, não morre?” “Sim”, disse
eu, “morre como os outros”. Aqueles selvagens são grandes debatedores e gostam de ir ao fim em
qualquer assunto. Por isso, o velho indígena me inquiriu outra vez: “E quando morrem os ricos, para
quem fica o que deixam?” “Para seus filhos, se os têm”, respondi. “Na falta destes, para os irmãos
e parentes próximos.” “Bem vejo agora que vocês, mairs, são mesmo uns grandes tolos. Sofrem
tanto para cruzar o mar, suportando todas as privações e incômodos dos quais sempre falam quando
aqui chegam, e trabalham dessa maneira apenas para amontoar riquezas para seus filhos ou para
aqueles que vão sucedê-los? A terra que os alimenta não será por acaso suficiente para alimentar a
eles? Nós também temos filhos a quem amamos. Mas estamos certos de que, depois da nossa morte,
a terra que nos nutriu nutrirá também a eles. Por isso, descansamos sem maiores preocupações.”
(BUENO, Eduardo. Pau Brasil. São Paulo: Axis Mundi, 2002)
O diálogo entre o pastor calvinista Jean de Léry (1534-1611) e o velho Tupinambá, travado em algum
momento da estada de Léry no Rio de Janeiro, entre março de 1557 e janeiro de 1558, é revelador
94/187
a) da aliança entre portugueses e franceses no Atlântico sul, o que permitiu aos dois países explorarem
conjuntamente as riquezas da América e, ao mesmo tempo, isolarem os espanhóis na porção mais
ocidental do continente.
b) da necessidade que Portugal tinha em exigir do papado um posicionamento favorável à partilha das
terras “recém-descobertas e por descobrir” apenas entre portugueses e espanhóis, o que só
aconteceu no final do século XVII.
c) do permanente conflito ocorrido entre os povos nativos da América e os colonizadores europeus,
que não conseguiram estabelecer nenhuma forma de diálogo com os povos indígenas e participaram
de constantes guerras de extermínio.
d) da importância econômica que o pau-brasil tinha para os europeus no início da colonização e das
intensas disputas entre portugueses e franceses pelas terras da América do Sul no século XVI, há pouco
descobertas pela Coroa Portuguesa.
e) da proximidade de pensamento entre os povos indígenas e os franceses, em geral mais respeitosos
na relação com a natureza e com os nativos da América do que os portugueses, responsáveis por uma
prática econômica predatória
Comentários
O diálogo trata de um produto que foi extremamente explorado no início da colonização brasileira: o pau-
brasil, árvore da qual era extraída uma tinta vermelha extremamente utilizada e valiosa na Europa para o
tingimento de roupas, cujo lucro era remetido à Metrópole Portuguesa. No diálogo, observamos a conversa
entre o pastor francês Jean de Léry e um indígena, o que retrata o grande interesse, por parte dos franceses,
na extração do pau-brasil. A disputa pela ocupação e consequente extração destes produtos, em relação ao
território brasileiro, aconteceu entre os séculos XVI e XVII, sendo que houve tentativas, por parte dos
franceses, em colonizar o Brasil, tais como as expedições realizadas até o Rio de Janeiro em busca de
implantar a França Antártica (1555), e em São Luís (1612), com o objetivo de implantar a França Equinocial.
Ambas as tentativas, contudo, foram controladas pelos portugueses e não obtiveram o sucesso esperado.
Vejamos as alternativas:
b) Incorreta. O texto traz um diálogo entre o pastor francês e um índio sobre a exploração do pau-brasil.
Assim, nada tem a ver com a necessidade portuguesa de aprovação do papado.
Gabarito: D
8. (VUNESP/Aluno-Oficial PM-SP/2015)
95/187
A guerra ou as guerras holandesas assistiram ao emprego crescente dos recursos locais, e decrescente
dos da metrópole, tendência que se acentuou durante a restauração. (Evaldo Cabral de Mello, Olinda
restaurada. Disponível em: <https://goo.gl/gLRQDz>. Adaptado)
Contribuiu(íram) para tal tendência
a) o fato de que os luso-brasileiros já não dispunham do apoio da monarquia espanhola, de quem
Portugal se separara há pouco, e a prioridade que tinha para Portugal a guerra contra a Espanha nas
fronteiras do reino, e não o conflito no Brasil contra os holandeses.
b) a baixa importância econômica que Pernambuco e seu entorno representavam para Portugal à
época, e, portanto, o apoio quase nulo dado pelos portugueses à expulsão dos holandeses, pois
estavam mais preocupados com a exploração do ouro das Minas Gerais.
c) o aparecimento de vários quilombos em diferentes regiões da colônia portuguesa, entre eles o
quilombo dos Palmares, liderado por Zumbi e localizado no Nordeste, o que levou a Coroa Portuguesa
a centrar todos os seus esforços na violenta repressão aos quilombos, visando a sua destruição.
d) o forte vínculo econômico que aproximava Portugal à Holanda, responsável pelo refino e pela
comercialização de grande parte do açúcar português exportado para a Europa, o que tornava a guerra
direta entre portugueses e holandeses algo incômodo e desinteressante.
e) o receio que tinha Portugal de que a guerra contra a Holanda pudesse insuflar a própria população
contra a dominação portuguesa, acirrando os conflitos entre colônia e metrópole, e colocando em risco
o projeto português de construção de um grande império colonial.
Comentários
A questão aborda um episódio muito importante da História do Brasil Colônia, o qual reflete alguns dos
interesses europeus na colônia portuguesa: as guerras holandesas existentes no período conhecido como o
da Restauração Portuguesa (a partir de 1640, com o fim da União Ibérica e a separação entre Espanha e
Portugal). Neste sentido, é possível observar que a metrópole portuguesa não se empenhou, diretamente,
em expulsar os holandeses do Brasil, uma vez que se encontrava em pleno processo de Restauração e luta
contra o reino espanhol. Vejamos as alternativas:
b) Incorreta. Pernambuco era muito importante economicamente para Portugal. Além disso, o ouro só foi
descoberto no fim do século XVII.
c) Incorreta. De fato, na segunda metade do século XVII ocorreu a Guerra dos Palmares. Contudo, não é disso
que o texto trata. Isso porque ele mostra que a metrópole estava afastada da colônia, não apenas da
economia açucareira.
d) Incorreta. A tendência descrita é o afastamento entre metrópole e colônia, o que acaba resultando em
certa autonomia colonial.
e) Incorreta. Segundo o texto, Portugal não se empenhou em expulsar os Holandeses pois vivia outro
problema.
96/187
Gabarito: A
9. (VUNESP/Aluno-Oficial PM-SP/2016)
Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será de cordialidade –
daremos ao mundo o “homem cordial”, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos,
em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados
no meio rural e patriarcal.
(Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil. Adaptado)
O “meio rural e patriarcal” a que se refere o trecho está relacionado
a) à exploração das drogas do sertão no vale amazônico, em que os comandantes das expedições de
extrativismo cumpriam o papel simultâneo de autoridades públicas e agentes comerciais.
b) à interiorização da ocupação no vale do Rio São Francisco, graças à expansão da pecuária que
abastecia os engenhos da zona da mata, centrada na figura dos vaqueiros.
c) à produção de açúcar no engenho, no qual se constituíram relações sociais marcadas pela escravidão
e pelo convívio familiar, organizadas em torno da autoridade do senhor.
d) ao bandeirantismo, em que os bandeirantes portugueses exerciam o poder sobre uma vasta
população de negros, índios e mestiços que adentravam o continente em busca de ouro.
e) às missões jesuíticas, em que os jesuítas escravizavam povos indígenas com o objetivo de explorar a
sua mão de obra para fins comerciais relacionados à monocultura exportadora.
Comentários
A questão traz um texto de Sérgio Buarque de Holanda, um dos mais importantes historiadores brasileiros.
Em seu famoso livro “Raízes do Brasil”, o autor procura criticar um aspecto presente na sociedade brasileira,
o qual ele nomeia como a cordialidade e que é visto desde o período colonial, enquanto herança das relações
privadas e que, de forma característica, se expande para as relações públicas dentro da sociedade. Dito isto,
um exemplo claro em que se envolvem as relações rurais e patriarcais, citadas pelo historiador, encontra-se
nos engenhos de açúcar, localizados em grandes porções de terras pertencentes ao senhor de engenho e
que, dessa forma, as relações sociais eram marcadas, por parte dos escravos, pelo trabalho compulsório e,
por parte da autoridade senhorial, no convívio da sua família em torno de sua figura. Assim sendo, os
engenhos de açúcar eram lugares nos quais as relações sociais refletiam as diferenças existentes entre os
mais ricos e aqueles que deveriam se dedicar ao trabalho braçal, em torno da figura patriarcal do senhor de
engenho. Tendo isso em mente, a alternativa correta é letra c).
Gabarito: C
97/187
O Padre Antônio Vieira fez parte do esforço missionário jesuíta na América, que via a catequese como
fundamental em um contexto de
a) ampliação das atividades econômicas agroexportadoras na América portuguesa, o que tornou a
cristianização de povos indígenas parte fundamental na arregimentação de
mão de obra escravizada para o trabalho nos engenhos coloniais.
b) intensificação do processo de interiorização da presença portuguesa na América do Sul, o que
fortaleceu a aliança entre jesuítas e bandeirantes, com o objetivo de dominarem os nativos e
ampliarem as possessões portuguesas no continente.
c) refluxo da Igreja Católica na Europa por conta das Reformas protestantes, o que levou alguns jesuítas
a se aproximarem das línguas nativas para cristianizarem os ameríndios com o objetivo de conquistar
novos fiéis para a Igreja.
d) aprofundamento das disputas e conflitos entre a Coroa Portuguesa e os jesuítas, o que resultaria,
poucos anos depois, na expulsão da Companhia de Jesus da América devido aos enclaves autônomos
das missões no continente.
e) disputa entre as Coroas Espanhola e Portuguesa pelas terras da América do Sul, de tal forma que os
jesuítas constituíram-se como aliados estratégicos dos portugueses na ampliação dos seus domínios
territoriais coloniais.
Comentários:
A Companhia de Jesus, fundada em 1534 por Inácio de Loyola e cujos membros são conhecidos como
jesuítas, teve um papel fundamental na propagação da fé católica em meio ao contexto das Reformas
Protestantes da Europa, a partir de 1517, com Martinho Lutero e a redação das suas “95 Teses” na Alemanha.
Em meio a um refluxo da doutrina da Igreja Católica na Europa, marcada por escândalos de venda de
indulgências (perdão), usura, luxo excessivo, dentre outros aspectos, procurou-se alcançar aqueles povos
que, segundo se afirmava, não possuíam religião (fato este que sabemos que não condiz com a realidade,
uma vez que os nativos possuíam deuses e rituais religiosos próprios, porém, diferentes daqueles que
pertenciam ao catolicismo). Neste sentido, as missões jesuíticas se direcionaram à cristianização de
ameríndios, em busca de alcançar novos fiéis e fortalecer a Igreja Católica, na qual o Padre Antônio Vieira
esteve inserido com os seus famosos “Sermões”. Era comum, ademais, que os jesuítas aprendessem as
98/187
línguas nativas, com o intuito de se comunicarem mais facilmente e, dessa forma, propagar a fé católica
através da catequização dos ameríndios. Assim, o gabarito é letra c).
Gabarito: C
“As tropas holandesas e luso-brasileiras enfrentaram-se nos montes Guararapes em 1648 e 1649. Nas
duas ocasiões, as bem treinadas forças da Holanda foram derrotadas por uma milícia local da colônia
portuguesa. As batalhas travadas nos Guararapes são consideradas decisivas para a expulsão dos
holandeses, que ainda levaria cinco anos para se concretizar.”
(Lilia M. Schwarcz; Heloisa M. Starling. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras,
2015. Adaptado)
O detalhe da obra destacado na questão evidencia
a) a importância da escravização de negros para a vitória luso-brasileira contra os holandeses, na
medida em que os invasores eram contrários à utilização da mão de obra negra escravizada na
produção de açúcar.
b) a violência do processo de escravização, pois os negros presentes nas batalhas estavam lá apenas
obedecendo ordem de seus senhores e correndo o risco de serem castigados em caso de derrota para
os holandeses.
c) a ideia de traição associada a Calabar no contexto das batalhas, na medida em que os negros e
mestiços brasileiros lutaram ao lado dos holandeses como forma de resistência à escravização
promovida pelos senhores luso-brasileiros.
d) as contradições da sociedade luso-brasileira do século XVII, na medida em que os senhores
prometeram a alforria aos negros escravizados que participassem das batalhas contra os holandeses.
e) a perspectiva de expulsão dos holandeses feita à base de mistura racial, constituindo-se numa
espécie de marco zero de criação da nação brasileira, devido à presença de negros e mestiços
escravizados e forros nas batalhas.
Comentários
99/187
A Batalha dos Guararapes foi uma batalha travada em dois confrontos — primeiro em 18 e 19 de abril de
1648 e depois em 19 de fevereiro de 1649 — entre o Exército da Holanda e os defensores do Império
Português no Morro dos Guararapes na então Capitania de Pernambuco. Os defensores do Império
Português eram os luso-portugueses que viviam em Pernambuco, alguns negros e mestiços libertos e
escravizados, além de índios potiguares, que formaram uma resistência local. A dupla vitória portuguesa,
nos montes Guararapes, é considerada o episódio decisivo da Insurreição Pernambucana, que pôs fim às
invasões holandesas no Brasil e ao chamado "Brasil Holandês", no século XVII. Tal obra representa uma
espécie de primórdio da criação da nação brasileira, uma vez que apresenta a mistura racial que teria
derrotado os holandeses. Vejamos as alternativas:
b) Incorreta. Todo o exército retratado é composto por negros e mestiços, de maneira que não há uma
distinção entre escravizados e livres.
d) Incorreta. Nem a obra, nem o texto fazem qualquer referência à essa questão.
Gabarito: E
Comentários
100/187
A questão nos pede para identificar qual a conjuntura histórica em que ocorreu a Inconfidência Mineira e
como o projeto defendido pelos inconfidentes se relaciona com ela. Para responder, vamos relembrar o
que foi esse movimento e quando aconteceu. Bom, a conjuração mineira foi uma revolta anticolonial, de
caráter elitista e republicana. Provavelmente, foi o primeiro movimento colonial a receber influência
direta dos ideais iluministas. Importante lembrar que o Iluminismo foi um movimento intelectual que
surgiu durante o século XVIII na Europa; ele defendia o uso da razão, se opunha ao antigo regime e pregava
maior liberdade econômica e política. Os inconfidentes pretendiam iniciar a revolta no dia da derrama
(cobrança forçada dos impostos), pois a coroa portuguesa pressionava para envio de ouro dado que em
1789, ano da inconfidência, já havia cinco anos que as remessas do mineral não eram enviadas, parte
devido ao contrabando parte devido ao esgotamento das jazidas. Diante disso, a alternativa certa é letra
d).
Gabarito: D
13. (VUNESP/2018)
Os grandes lucros que diziam auferir os mercadores portugueses que fizeram o tráfico do pau-brasil
nas duas primeiras décadas após o descobrimento, os rigores do monopólio fiscal decretado pelo rei
de Portugal e até notícias fantasiosas de riquezas da terra virgem contribuíram, em primeira linha, para
originar e desenvolver o contrabando nas costas da Santa Cruz. (Bernardino José de Sousa. O pau-brasil
na história nacional, 1978.)
O texto alude aos primeiros contatos dos colonizadores com o litoral da “nova terra” e descreve
a) o controle legal e efetivo da economia colonial pela Metrópole portuguesa.
b) o início e o desenrolar da ocupação da colônia por numerosas famílias portuguesas.
c) o financiamento e a instalação de engenhos de açúcar nas terras férteis da colônia.
d) a atração real e imaginária exercida pelas riquezas da colônia sobre os europeus.
e) a catequização e a escravização dos indígenas nas explorações auríferas coloniais.
Comentários
O texto do enunciado demonstra como o início da colonização do Brasil por Portugal precisou ser forjado
como algo grandioso, tanto por parte da Coroa quanto pelos primeiros exploradores de pau-brasil.
Descrevia-se que o empreendimento era muito lucrativo, e que essa possibilidade forçou a Coroa a exercer
uma grande fiscalização no território.
Assim, analisando as alternativas podemos excluir a opção “a”. Portugal demora e muito para exercer um
poder mais controlador dentro da região encontrada, mais precisamente com a constituição do Governo
Geral, em 1548, e mesmo assim, tal decisão só ocorre como medida de acabar com qualquer invasão
estrangeira, já que as capitanias hereditárias não deram certo. Portanto, em nenhum momento existiu a
preocupação de uma ocupação numerosa de portugueses na região, o que exclui a opção “b”.
Por mais que, de fato, o financiamento do açúcar fosse impulsionado pela Coroa, o texto em nenhum
momento se refere a tal ciclo econômico, o que faz a alternativa “c” incorreta. E em nenhum momento o
texto aborda a questão de catequização ou escravização indígena.
101/187
Portanto, a alternativa correta é a “e”. Atração imaginária de lucro exorbitante do pau-brasil foi uma mentira
que se tornou um alento a frustração de não ter encontrado metais preciosos ou outro produto tão lucrativo
na região “descoberta”.
Gabarito: D
14. (VUNESP/2015)
A colonização portuguesa do vale do rio Amazonas apresentou um padrão de reconhecimento e
ocupação do território idêntico ao utilizado em outras regiões do Brasil, uma vez que
a) a agricultura de exportação exigiu grandes investimentos em maquinários pesados importados da
Europa.
b) a colonização de povoamento ampliou o mercado consumidor de produtos industrializados
metropolitanos.
c) o vale amazônico foi dividido em várias capitanias hereditárias doadas a fidalgos portugueses.
d) o sistema fluvial da região representou, para a navegação, um prolongamento do litoral atlântico.
e) a escravidão africana foi a mão de obra predominante na extração dos produtos da floresta.
Comentários
A ocupação da região amazônica foi uma dor de cabeça para os portugueses por dois motivos: o terreno
totalmente atípico em relação ao clima europeu, com uma densidade de floresta e umidade que,
literalmente, enlouqueceram os portuguesas; e o segundo ponto foi que o contato com indígena não poderia
ser superficial, uma vez que, a relação era um meio de sobrevivência e de se situar sobre o que acontecia no
ambiente, principalmente, nas melhores áreas de habitação e caminhos entre os rios e igarapés. Assim, o
projeto de colonização só foi de fato incentivado quando se descobriu o mercado amplo que os produtos da
Amazônia poderiam gerar à Coroa. Desta forma, a atuação missionária foi essencial, já que o contato de
aculturamento católico propiciou uma relação de troca por meio da qual apenas os europeus saiam
ganhando.
Sendo assim, podemos nos direcionar às alternativas. Por mais que os interesses na região tenham
crescido com o tempo, principalmente no século XVII, tal empreendimento não era de uma agricultura de
exportação intensa, a ponto de necessitar de maquinários, o que anula a alternativa “a”. Também seria
errado dizer que houve uma colonização de povoamento na região. Até o século XIX somente essas forças
missionárias e pequenos núcleos existiam na região, em que tal povoamento só iria ocorrer, de fato, no ciclo
da borracha.
Outro erro está em dizer que a região da Amazônia passou pela divisão conhecida como capitanias
hereditárias. A região em questão, até o período da União Ibérica, pertencia apenas à Espanha, o que anula
a opção “b”. O trabalho nessa região era praticamente dos indígenas e de poucos brancos, sempre é bom
lembrar que as missões católicas agiam como uma espécie de zona independente nessas áreas, fato que iria
mudar com o período pombalino, o que torna a “e” incorreta.
102/187
Portanto a alternativa correta é a “d”. O escoamento de toda a produção amazônica só podia ser feito
por rio, o que evidencia e muito a necessidade de “aliança” com os indígenas, e que transformou o Amazonas
em um verdadeiro Rio-Mar.
Gabarito: D.
Comentários
O texto apresentado expressa como a relação de Portugal com a região de Angola se deu em um contexto
de exploração da condição humana. Embora a escravidão fosse algo comum dentro das etnias africanas, em
nenhum momento se construiu uma relação de lucro, ou seja, era uma escravidão que ocorria por inimizade
e rivalidade local. Foi a percepção de tal atrito existente entre os povos locais que impulsionou a coroa
portuguesa a explorar lucrativamente a ação de aprisionamento de pessoas, iniciando assim, uma verdadeira
máquina de exploração do africano, cuja única funcionalidade para o português era ser mão de obra.
Dessa forma, a alternativa correta é a “e”, pois o texto em questão mostra como o lucro dentro do
processo de escravidão ocorria. Além de produtos como fumo, armas e bebidas, os africanos eram um
produto rentável e de bastante demanda, o que fez enriquecer e muito não só o Estado Português, como
muitas elites na colônia, além é claro, desses traficantes.
A alternativa “a” não possui sentido, pois em nenhum momento houve uma desarticulação das
colônias portuguesas no período citado. Por mais que, de fato, uma burguesia no Brasil seria constituída por
meio da mão de obra escrava, ela, dentro do contexto apresentado, não construiu nenhum grupo antagônico
a coroa, o que anula a “b”. Tanto a “c” e a “d” não tem sentido, já que o não surgiu uma burguesia
103/187
antiabsolutista, houve uma parceria. Quando a “d”, o sistema escravista entrou em decadência no século
XVIII.
Gabarito: E.
A agromanufatura da cana resultaria em outro produto tão importante quanto o açúcar: a cachaça.
Alambiques proliferaram ao longo dos séculos coloniais. A comercialização da bebida afetava
profundamente a importação de vinhos de Portugal. Esse comércio era obrigatório, pois por meio dos
tributos pagos pelas cotas do vinho importado é que a Coroa pagava as suas tropas na Colônia. A
cachaça produzida aqui passou a concorrer com os vinhos, com vantagens econômicas e culturais. Essa
concorrência comercial entre colônia e metrópole se estendeu para as praças negreiras e rotas de
comercialização de escravos na África portuguesa. A cachaça brasileira, por ser a bebida preferida para
os negócios de compra e venda de escravos africanos, colocou em grande desvantagem a
comercialização dos vinhos portugueses remetidos à África. A longa queda de braço mercantil acabou
favorecendo afinal a cachaça, porque sem ela, nada de escravos, nada de produção na Colônia, com
consequências graves para a arrecadação do reino.
(Ana Maria da Silva Moura. Doce, amargo açúcar. Nossa História, ano 3, no 29, 2006. Adaptado)
A partir dessa breve história da cachaça no Brasil, é correto afirmar que
a) essa produção prejudicou os negócios relacionados ao açúcar, porque desviava parte considerável
da mão de obra e dos capitais, além de incentivar o tráfico negreiro em detrimento do uso do trabalho
compulsório indígena, que mais interessava ao Estado português.
b) esse item motivou recorrentes conflitos entre as elites colonial e metropolitana, condição em parte
solucionada quando as regiões africanas fornecedoras de escravos tornaram-se também produtoras
de cachaça, o que desestimulou a sua produção na América portuguesa.
c) essa bebida tem uma trajetória que comprova a ausência de domínio da metrópole sobre a América
portuguesa, porque as restrições ao comércio e à produção de mercadorias no espaço colonial não
surtiam efeitos práticos e coube aos senhores de engenho impor a ordem na Colônia.
d) esse produto desrespeitava um princípio central nas relações que algumas metrópoles europeias
impunham aos seus espaços coloniais, nesse caso, a quebra do monopólio de grupos mercantis do
reino e a concorrência a produtos da metrópole.
e) essa mercadoria recebeu um impulso importante, mesmo contrariando as determinações
metropolitanas, mas, gradativamente, perdeu a sua importância, em especial quando o tabaco e os
tecidos de algodão assumiram a função de moeda de troca por escravos na África.
Comentários
Segundo o texto, a fabricação de cachaça/aguardente como produto da lavoura canavieira colonial teve
enorme importância não só para o consumo interno, mas também no escambo de escravos africanos.
Concorrendo vantajosamente com os vinhos metropolitanos, o comércio da bebida brasileira feria dois
princípios estabelecidos pelo Pacto Colonial mercantilista: diminuía as rendas da metrópole – inclusive
a arrecadação tributária – e afetava o monopólio português sobre a venda de bebidas na colônia. Assim,
sabemos que a alternativa certa é letra d). Vejamos por que as outras estão erradas:
104/187
a) O Estado Português tinha mais interesse na escravização de africanos e no tráfico negreiro do que
na escravização de indígenas.
b) O texto não menciona qualquer coisa sobre a produção de cachaça na África, ele discorre apenas
sobre o comércio desse produto em território africano.
c) A metrópole esteve muito presente no processo de dominação da colônia.
e) Esse produto não recebeu qualquer estímulo metropolitano.
Gabarito: D
Como a sociedade do reino e as dos núcleos mais antigos de povoamento – a de Pernambuco, Bahia
ou São Paulo – seguiam, em Minas, os princípios estamentais de estratificação, ou seja, pautavam-se
pela honra, pela estima, pela preeminência social, pelo privilégio, pelo nascimento. A grande diferença
é que, em Minas, o dinheiro podia comprar tanto quanto o nascimento, ou “corrigi-lo”, bem como a
outros “defeitos” (...) Como rezava um ditado na época, “quem dinheiro tiver, fará o que quiser”.
(Laura de Mello e Souza. Canalha indômita. Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 1, n.o 2,
ago. 2005. Adaptado)
No Brasil colonial, tais “defeitos” referem-se
a) aos que fossem acusados pelo Tribunal da Santa Inquisição e aos que estivessem na Colônia sem a
permissão do soberano português.
b) ao exercício de qualquer prática comercial desvin - culada da exportação e à condição de não ser
proprietário de terras e escravos.
c) aos que explorassem ilegalmente o trabalho com - pulsório dos indígenas e aos colonos que não
fizessem parte de alguma irmandade religiosa.
d) aos colonos que se casavam com pessoas vindas da Metrópole e aos que afrontassem, por qualquer
meio, os chamados “homens bons”.
e) aos de sangue impuro, representados pela ascendência moura, africana ou judaica, e aos praticantes
de atividades artesanais ou relacionadas ao pequeno comércio.
Comentários
Essa é uma questão de interpretação de texto basicamente. Bom, o trecho transcrito refere-se à
possibilidade, na sociedade de Minas Gerais, de que as pessoas endinheiradas pudessem alterar dados
de seu nascimento, fazendo desaparecer referências a uma ascendência considerada “impura”,
podendo, dessa forma, “ascender” socialmente (dentro dos padrões de estratificação vigentes na
época).
Gabarito: E
O que queremos destacar com isso é que o tráfico atlântico tendia a reforçar a natureza mercantil da
sociedade colonial: apesar das intenções aristocráticas da nobreza da terra, as fortunas senhoriais
105/187
podiam ser feitas e desfeitas facilmente. Ao mesmo tempo, observa-se a ascensão dos grandes
negociantes coloniais, fornecedores de créditos e escravos à agricultura de exportação e às demais
atividades econômicas. Na Bahia, desde o final do século XVII, e no Rio de Janeiro, desde pelo menos o
início do século XVIII, o tráfico atlântico de escravos passou a ser controlado pelas comunidades
mercantis locais (...). João Fragoso et alii. A economia colonial brasileira (séculos XVI-XIX), 1998.
O texto permite inferir que
a) o tráfico atlântico de escravos prejudicou a economia colonial brasileira porque uma enorme
quantidade de capitais, oriunda da produção agroindustrial, era remetida para a África e para Portugal.
b) as transações comercias envolvendo a África e a América portuguesa deveriam, necessariamente,
passar pelas instâncias governamentais da Metrópole, condição típica do sistema colonial.
c) a monopolização do tráfico negreiro nas mãos de comerciantes encareceu essa mão de obra e
atrasou o desenvolvimento das atividades manufatureiras nas regiões mais ricas da América
portuguesa.
d) as rivalidades econômicas e políticas entre fidalgos e burgueses, no espaço colonial, impediram o
crescimento mais acelerado da produção de outras mercadorias além do açúcar e do tabaco.
e) nem todos os fluxos econômicos, durante o processo de colonização portuguesa na América, eram
controlados pela Coroa portuguesa, revelando uma certa autonomia das elites coloniais em relação à
burguesia metropolitana.
Comentários
Mais uma questão que depende bastante do texto. Segundo o autor, o tráfico negreiro e outras
atividades econômicas coloniais escaparam do controle da burguesia portuguesa e mesmo da própria
Coroa. De maneira que passaram para as mãos de grupos locais ligados às práticas comerciais e
financeiras. Isso revelou, de certa forma, uma autonomia das elites coloniais. Vamos para as
alternativas:
a) Incorreta. Esse comércio só não era favorável a Portugal, uma vez que não lucrava em cima dele.
b) Incorreta. O texto mostra justamente que algumas transações fugiam do controle da metrópole.
c) Incorreta. O autor mostra que esse monopólio era quebrado em alguns momentos.
d) Incorreta. O texto não comenta nada sobre isso.
e) Correta, conforme discutimos anteriormente.
Gabarito: E
c) o valor especial adquirido pelo extrativismo no Norte do Brasil, com o guaraná, que concorreu com
os produtos agrícolas tradicionais, como o açúcar, permitiu um rápido desenvolvimento dessa região e
a sua articulação com o restante da colônia.
d) o revigoramento da produção de açúcar e o desenvolvimento do cultivo do algodão decorrentes,
principalmente, de alguns fatos internacionais importantes, em especial, a independência das treze
colônias inglesas e a Revolução Haitiana.
e) o aparecimento do café na pauta de exportações coloniais, o que revolucionou as relações entre o
Estado português e a elite escravista, pois a sustentação econômica da metrópole exigiu o
abrandamento das restrições mercantilistas.
Comentários
Essa é uma questão interessante, chega até a ser um pouco difícil. Para responder, era necessário ter
um bom panorama histórico não só do Brasil, mas também internacional. A questão refere-se ao
Renascimento Agrícola, período da economia colonial brasileira intermediário entre a mineração e o
café (fim do século XVIII – início do século XIX), que se caracterizou pela diversificação da produção.
Mesmo assim, destacaram-se na pauta das exportações, são eles: açúcar, beneficiado pela crise da
produção Antilhana (devido a Revolta Haitiana), e o algodão, exportado para atender à demanda da
indústria têxtil inglesa, uma vez que a Inglaterra vivia a Independência dos EUA, a Revolução Industrial,
entre outros. Tendo isso em mente, sabemos que o gabarito é letra d).
Gabarito: D
[...] se o interesse da Coroa estava centralizado na atividade minerária, ela não poderia negligenciar
outras atividades que garantissem sua manutenção e continuidade. É nesse contexto que a agricultura
deve ser vista integrando os mecanismos necessários ao processo de colonização desenvolvidos na
própria Colônia, uma vez que, voltada para o consumo interno, era um meio de garantir a reprodução
da estrutura social, além de permitir a redução dos custos com a manutenção da força de trabalho
escrava.
Guimarães, C. M. e REIS, F. M. da M. “Agricultura e mineração no século XVIII”, in Resende, m.e.l. e
VILLALTA, L.C. (orgs.) História de Minas Gerais. As minas setecentistas. Belo Horizonte: Autêntica
Editora/Companhia do Tempo, 2007, p. 323.
Assinale a alternativa que interpreta corretamente o texto.
a) Para o desenvolvimento das atividades de exploração das minas foi decisiva a permissão dada pela
metrópole ao desenvolvimento técnico e industrial da região.
b) Os caminhos entre as minas e Salvador, além de escoar a produção mineradora e permitir a entrada
de escravos, ficaram marcados pelo aparecimento de importantes vilas e povoados.
c) A produção agrícola na região das minas desenvolveu-se a ponto de se tornar um dos principais itens
da pauta de produtos exportados no período colonial.
d) Apesar do crescimento da agricultura e da pecuária, o mercado interno não se desenvolveu no Brasil
colonial, cuja produção se manteve estritamente voltada ao mercado externo.
107/187
Dos engenhos, uns se chamam reais, outros inferiores, vulgarmente engenhocas. Os reais ganharam
este apelido por terem todas as partes de que se compõem e todas as oficinas, perfeitas, cheias de
grande número de escravos, com muitos canaviais próprios e outros obrigados à moenda; e
principalmente por terem a realeza de moerem com água, à diferença de outros, que moem com
cavalos e bois e são menos providos e aparelhados; ou, pelo menos, com menor perfeição e largueza,
das oficinas necessárias e com pouco número de escravos, para fazerem, como dizem, o engenho
moente e corrente. ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São
Paulo: Edusp. 1982, p. 69. O texto oferece uma descrição dos engenhos no Brasil no início do século
XVIII. A esse respeito é correto afirmar:
a) O engenho de açúcar foi a principal unidade econômica do sertão nordestino durante o período
colonial, permitindo a ocupação dos territórios situados entre o rio São Francisco e o rio Parnaíba.
b) A produção de açúcar no nordeste brasileiro colonial, em larga escala, foi possível graças à
implantação do sistema de fábrica e ao uso do vapor como força motriz nas moendas.
c) Os engenhos da Bahia utilizavam, sobretudo, mão de obra escrava africana, enquanto que nos
engenhos pernambucanos predominava o trabalho indígena.
d) Os grandes engenhos desenvolviam todas as etapas de produção do açúcar, do plantio, passando
pela moagem, a purga, a secagem e até a embalagem.
108/187
e) A produção de açúcar no sistema de “plantation” ficou restrita aos domínios lusitanos das Américas,
durante a época colonial, o que garantiu bons lucros aos produtores locais e aos comerciantes reinóis.
Comentários
O texto discorre sobre as diferenças estruturais entre os engenhos de açúcar brasileiros. Segundo
Antonil, somente os grandes engenhos (denominados “reais” e movidos a água) dispunham de todos
os equipamentos e mão de obra necessários à realização das diversas etapas da produção açucareira.
Tendo isso em mente, sabemos que a alternativa correta é letra d).
Gabarito: D
22. (UNIVESP/2019)
Os historiadores são unânimes em afirmar que Portugal foi o país pioneiro nas Grandes Navegações
europeias entre o final da Idade Média e o início da Idade Moderna.
Esse pioneirismo se deveu, principalmente,
a) à fragmentação do poder real, às disputas comerciais com a Inglaterra, ocorridas ao longo do século
XIII, e à proximidade geográfica entre Portugal e Índia.
b) à centralização monárquica, realizada em Portugal entre os séculos XII e XIV, à posição geográfica
privilegiada e ao aperfeiçoamento das técnicas de navegação a partir do século XV.
c) à adoção do liberalismo econômico, a partir do século XVI, ao fluxo de metais preciosos das colônias
para Portugal e ao investimento estatal na armação de navios mercantes no século XVII.
d) ao tráfico de escravos, cujo fluxo constante ligava África e Europa desde o século XI, e aos
investimentos da burguesia comercial, fortalecida pelos lucros do açúcar produzido no Brasil.
e) ao desenvolvimento da bússola, do astrolábio e do quadrante, invenções de cientistas portugueses
abrigados na Escola de Sagres, pioneira no desenvolvimento de técnicas e instrumentos de navegação
no século XIX.
Comentários
Portugal foi o país pioneiro na navegação ultramarina e conseguiu desenvolver técnicas de navegação e de
orientação próprias ou aprimoradas de outras culturas. Assim o pioneirismo português se deve a vários
fatores, entre eles o processo de reconquista do território ibérico, ao fator geográfico de se localizar
projetado ao Oceano, e ao desenvolvimento de uma filosofia de navegação que desenvolveu tecnologias
próprias, como a caravela, navio pequeno, mas ágil e movido exclusivamente pelo vento. Assim a alternativa
correta é a “b”.
Não poderia ser a “a” já que não foi a fragmentação política que auxiliou o processo marítimo, e sim a
formação de um Estado Nacional unificado. Também se exclui a “e” pois o desenvolvimento tecnológico não
ocorreu no século XIX, mas na transição do século XIV para o XV. A “d” está incorreta já que o tráfico de
escravos não envolvia Europa e África, mas América e África, e que em nada tem a ver com o assunto. E se
exclui a “c” já que o liberalismo econômico não era uma doutrina da época, mas, o mercantilismo; bem como
não houve no primeiro século de navegação um tráfico intenso de metais preciosos.
Gabarito: B.
109/187
23. (VUNESP/2017)
Mar português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele espelhou o céu
PESSOA, Fernando. Mensagem. In: Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986.
O poema de Fernando Pessoa refere-se à expansão marítima portuguesa. Nele, o poeta enfatiza
a) os custos humanos que a empreitada marítima legou a Portugal e a coragem desse povo em se
aventurar no desconhecido.
b) as riquezas que as novas colônias da América produziam e sua importância para a economia
portuguesa.
c) a necessidade de se contornar a África e criar uma nova rota marítima para o comércio com as Índias.
d) a diversidade cultural portuguesa e sua influência sobre os povos colonizados nas novas terras.
e) o avanço tecnológico naval português em comparação ao de outros povos europeus.
Comentários
A questão coloca o sacrifício que os portugueses tiveram que enfrentar para poderem ter acesso aos direitos
e aos privilégios das terras além mar. Porém, aqui temos que analisar dois pontos: primeiro, é quem
escreveu, ou seja, Fernando Pessoa escritor e cronista português, seus escritos iam de anedotas do cotidiano
até o sentimento de certo nacionalismo funcional. Em alguns de seus escritos, a grandeza colonial
portuguesa sempre era vista como um ponto de orgulho, e acima de tudo, de saudade do que fomos.
O segundo ponto se refere à relação que Portugal sempre exerceu, seja em seu passado, presente ou futuro
com a colonização, seja na América, África ou Ásia, em que os lusitanos demoraram a se desvencilhar de tal
realidade, tendo cortado os laços com suas colônias sempre tardiamente: no Brasil apenas no século XIX, na
África no meio do século XX e na Ásia somente no século XXI, no Timor Leste. Ou seja, o passado grandioso
português sempre foi uma sombra dentro da nacionalidade do país, e que se refletiu em sua cultura, seja
nas obras de Fernando, ou no Fardo, ritmo musical de lamento e que exalta a saudade.
110/187
Assim, o trecho do poema mostra como houve um sacrifício que deu a Portugal a posse do “mar”, como uma
medida que marcou gerações de portugueses e sendo até hoje um orgulho em comum a todos. Assim a
alternativa correta se torna a “a”, pois de fato o texto exalta a coragem portuguesa de enfrentar o oceano,
e de como isso gerou consequências, porém, necessárias para glória de Portugal.
A opção “b” não possui sentido já que as colônias nem são mencionadas. Assim como não há menção alguma
às rotas que contornam a África, excluindo a “c”. Portugal não é uma população diversa, sendo um pequeno
país lançado ao Atlântico, com pouca variedade linguística ou cultural. E não pode ser a “e”, embora haja
uma exaltação ao país, em nenhum momento existe menção aos avanços tecnológicos de Portugal.
Gabarito: A
24. (VUNESP/2017)
Quanto à economia no século XVI no Brasil, dadas as afirmativas,
I. A agromanufatura do açúcar forneceu a base econômica para a valorização colonial do Brasil.
II. Ao açúcar subordinavam-se o extrativismo do pau-brasil e a pecuária.
III. A utilização, em larga escala, de trabalhadores escravos, a disponibilidade de terras e a expansão do
setor de consumo externo concorreram para o enriquecimento da classe proprietária e da burguesia
comercial portuguesa e flamenga.
IV. Ainda, nesse período, persistiam os interesses metalistas.
verifica-se que está(ão) correta(s)
a) IV, apenas.
b) I e II, apenas.
c) III e IV, apenas.
d) I, II e III, apenas.
e) I, II, III e IV.
Comentários
Gabarito: E
25. (VUNESP/2015)
A contestação francesa ao Tratado de Tordesilhas teve no monarca Francisco I o mais veemente
representante. Em 1540 chegou a dizer que “‘o sol brilhava tanto para ele como para os outros’ e que
‘gostaria de ver o testamento de Adão para saber de que forma este dividira o mundo...’ Declarou
também que só a ocupação criava o direito, que descobrir um país, isto é, vê-lo ou atravessá-lo, não
constituía um ato de posse e que considerava como domínio estrangeiro unicamente ‘os lugares
habitados e defendidos’. São essas as bases da colonização moderna”. MOUSNIER, Roland. História
Geral das Civilizações. Tomo IV Os Séculos XVI e XVII. Tomo IV. 2 Volumes. São Paulo: Diofel, 1958.
A crítica feita por Francisco I ao Tratado de Tordesilhas baseia-se
a) no uso da força, previsto no Tratado, como forma de efetivar a ocupação das novas terras a serem
descobertas.
b) na existência de documento papal, nunca trazido a público, que determinava em testamento a
divisão do mundo.
c) no fato de apenas países europeus terem direito às terras, deixando de fora os países árabes do
norte da África.
d) na divisão das terras ocidentais entre Portugal e Espanha, sem levar em consideração as demais
nações europeias.
e) na possibilidade de qualquer país ocupar novas terras, desde que as ocupasse de fato segundo as
regras do Tratado.
Comentários
O texto em questão mostra um descontentamento do monarca Francisco I. Além da França outras nações
também questionaram a predestinação dada pelo Vaticano à divisão do mundo entre Portugal e Espanha.
Além disso: se o mundo fosse dividido em dois, estariam estes países na posse tanto de portugueses ou de
espanhóis? O que Francisco I aponta é que deveria haver uma consulta às outras coroas europeias sobre tal
acordo. Como medida reativa, franceses e ingleses iriam patrocinar diversas ações de pirataria sobre as
terras descobertas, isso quando não as ocupava burlando o direito garantido em lei de posse de portugueses
e espanhóis.
112/187
Gabarito: D
"Já se verificando nesta época a diminuição dos produtos das Minas, viu-se o capitão Bom Jardim
obrigado a voltar suas vistas para a agricultura (...) Seus vizinhos teriam feito melhor se tivessem
seguido exemplo tão louvável em vez de desertar o país, quando o ouro desapareceu."
(John Mawe. "Viagens ao Interior do Brasil, principalmente aos Distritos do Ouro e Diamantes".)
Segundo as observações do viajante inglês, os efeitos imediatos da decadência da extração aurífera em
Minas Gerais foram
a) a esterilização do solo mineiro e a queda da produção agropecuária.
b) a crise econômica e a consolidação do poder político das antigas elites mineiras.
c) a instalação de manufaturas e a suspensão dos impostos sobre as riquezas.
d) a conversão agrícola da economia e o esvaziamento demográfico da província.
e) a interrupção da exploração do ouro e a decadência das cidades.
Comentário
Pela interpretação do texto vemos que ele narra uma espécie de evasão populacional com a queda da
extração do ouro. De fato, principalmente pessoas com mais recursos migraram para outras regiões.
Assim, o item D pode ser assinalado. Não houve esterilização do solo com a mineração e, ao contrário do
que propõe o item A, houve aumento da produção agropecuária pois a exportação de couro e carne
ganharam destaque. Além do aumento da produção de milho.
Não havia antigas elites para ocupar o poder de uma região que foi descoberta e desenvolvido devido ao
ouro, por isso, item B está errado.
Como já falamos, no momento da crise a metrópole intensificou a cobrança de impostos. Item C errado.
Cuidado para não confundir decadência com o fim de uma produção. Nem o açúcar e nem o ouro deixou
de serem explorados porque entraram em crise. Ocorre transformações, mas não fim. Assim, o item E
está errado justamente porque afirma que a produção de ouro foi interrompida.
Gabarito: D
113/187
Comentário
Queridos essa era uma questão que poderia ter sido realizada por meio de uma boa interpretação do
excerto de texto e das questões. Mas se você soubesse que o ouro brasileiro foi transferido para Inglaterra
por meio dos acordos que Portugal mantinha com a monarquia britânica ficaria mais fácil e você iria
assinalaria direto o item B: “a transferência do ouro brasileiro para outros países em decorrência de
acordos comerciais internacionais de Portugal”.
O que se afirma no item C é errado e não consta no texto do Padre Antonil, afinal, a falta de
desenvolvimento da colônia é furto da exploração que Portugal impunha aos colonos.
Embora pudesse ser verdade sobre a opulência de funcionários, não é sobre esse assunto o texto de
Antonil.
Por fim, o item E está equivocado pois a metrópole intensificou a cobrança de impostos, e não o contrário
como está expresso nessa alternativa.
Gabarito: B
114/187
A partir de 1750, com os Tratados de Limites, fixou-se a área territorial brasileira, com pequenas
diferenças em relação a configuração atual. A expansão geográfica havia rompido os limites impostos
pelo Tratado de Tordesilhas. No período colonial, os fatores que mais contribuíram para a referida
expansão foram:
a) criação de gado no vale do São Francisco e desenvolvimento de uma sólida rede urbana.
b) apresamento do indígena e constante procura de riquezas minerais.
c) cultivo de cana-de-açúcar e expansão da pecuária no Nordeste.
d) ação dos donatários das capitanias hereditárias e Guerra dos Emboabas.
e) incremento da cultura do algodão e penetração dos jesuítas no Maranhão
Comentário
Só para refrescar a memória, o Tratado de 1750 é o de Madri (volta na aula para ver o mapa). Agora, essa
é aquele tipo de questão que sai misturando informações certas com erradas, até porque os itens elencam
2 fatores, quando o mais comum é falar em 3. Vamos lembrar:
Vejamos os erros:
115/187
Comentário
Queridos e queridas, o mapa está aí de ilustração porque ele não ajuda muita coisa. Portanto, vamos analisar
item por item para ver onde tem informações equivocadas.
• Item A está incorreto, pois as definições do Tratado nunca foram respeitadas, sobretudo, no período
da União Ibérica. No século XVIII, devido a expansão territorial e ocupação de áreas no Sul, Portugal
e Espanha readequaram as definições de fronteira por meio de diversos Tratados. Lembrando:
1715: Tratado de Ultrech
1750: Tratado de Madri
1777: Tratado de Santo Ildefonso
1801: Tratado de Badajós
• A região da Bacia do rio Prata, como vimos, foi ocupada pelos jesuítas e depois por colonos
portugueses que desenvolveram a pecuária. Não se tratou de ocupação de aventureiros, como
sugere o item B.
116/187
• Esse item C
poderia ser
respondido sem o
mapa se você
conhecesse um
pouco da economia,
e da localização da
produção. Assim, o
colonizador que
extraiu o pau-brasil
e desenvolveu a
cana não se fixou no
sertão, mas no
litoral. Se você não
soubesse disso
poderia olhar o
mapa. Coloco um
mapa um pouco
melhor para você
estudar:
• Olha essa adversativa aí na questão “apesar” está esquisita, porque, afinal, foi justamente pelo fato
de a pecuária ser extensiva que possibilitou a interiorização da ocupação tal como acertadamente
propõe a questão. Mas, entre todas as que discutimos, me parece que esse apesar não interferiu na
escolha da banca. Até mesmo devido aos erros dos demais itens, esse apesar ficou irrelevante, apesar
de esquisito.
Gabarito: D
117/187