Análise 1

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ANÁLISE 1

O trabalho da Bárbara Melo apresenta uma reflexão imagética em relação ao rasgo e a ruína.
As ruínas que foram realizadas pela ação do tempo e construíram uma imagem a partir dessa
reorganização material, sem uma ação específica da mão humana. Já o rasgo trás o elemento
de marcar o papel, porém, é dado a partir da ação de quem manipula os papeis disponíveis.

A fala da P.1 ressalta elementos contemporâneos que podem estar relacionados às obras em
que os espectadores não apenas observam, mas participam ativamente e a sua intervenção é
parte fundamental para a construção artística.

A percepção gerada na professora P.1, podemos assemelhar com a visão do artista Hélio
Oiticica quando desenvolve a concepção da Nova Objetividade em que formula um estado
típico da arte brasileira com algumas características e, dentre elas, está a “participação do
espectador (corporal, tátil, visual, semântica, etc.)”, que supera a ideia da arte estática em
cavalete de pintura. (Oliveira, 2027)

Já o comentário do P.2, destacam-se as imagens por meio da fotografia, o que se relaciona


diretamente com a percepção da imagem e quais provocações visuais que despertaram seu
olhar. Em sua fala, evidenciam-se as relações de memória, da construção imaginativa do
passado vivido naquele ambiente e toda a construção social que a época pode remeter.

Pensar sobre a ruína e imaginar as pessoas que passaram por ali, o que fizeram, em que época
estavam no local e nesta relação com o tempo, nos desparta a possibilidade de imaginar
diversas histórias e personalidades. E no papel há a possibilidade de imaginar qual efeito que o
artista quis deixar em sua produção.

A percepção desta pesquisadora foi o de compreender a produção de Bárbara Melo como


processo e não apenas como um produto acabado, a versão final. Ao contrário de uma
construção rápida, o trabalho da artista demandou muitas ações, entre elas visitas a ruínas, a
matrícula em um curso de mestrado, a viagem para fora do país, o momento de isolamento
social, a oportunidade de criar sozinha para depois abrir o convite para que outros pudessem
participar e, finalmente, estabelecer uma relação concreta com a sua produção artística.

OLIVEIRA, Ana de. Leituras complementares: esquema geral da nova


objetividade. esquema geral da nova objetividade. 2027. Disponível
em: http://tropicalia.com.br/leituras-complementares/esquema-geral-
da-nova-objetividade. Acesso em: 13 jan. 2024.

perceber todo o trabalho da artista como um processo e não apenas como um produto final.
Ao percorrer todas essas etapas para chegar nesta produção. E quando a gente olha, pensa
que foi uma construção muito rápida. Pelo contrário, para que essa produção acontecesse
demandaram muitas ações: estudo, viagem, momento de isolamento social, tempo de criar
sozinha para depois convidar outras pessoas para participarem, pra finalmente, estabelecer
uma relação concreta com a sua produção.
Pensar como a ruína deu esse start

Ver a questão gráfica que a ruína deixa e comparar isso com as marcas que o papel deixa e
como isso tem relação na imagem mesmo

Essa questão de deixar marcado na materialidade, no material – a ruína, o tempo, vai


desgastando e deixa marcado aquela imagem e no papel é você quem está fazendo essa
marcação. No rasgo, é você mesmo que deixa uma marcação no papel e isso também deixa
uma marca visual.

A P1 falou sobre ter uma questão mais contemporânea – acho que ela quis dizer – você fazer
um desenho, não pensando no resultado final, mas sim no processo... então, como esse
processo vai gerar uma coisa que você ainda nem sabe o que é. E a arte é a do processo

P2 fala das questões das fotografias, então, está relacionado à imagem mesmo e da relação
visual que isso provoca. Para o P2 produziu uma relação de momória, de trazer o passado e de
como isso se constrói imaginativamente ---

Pensar sobre a ruína e imaginar as pessoas que passaram por ali, o que fizeram, em que época
estavam por ali e nesta relação com o tempo nos desparta a possibilidade de imaginar diversas
histórias, diversas personalidades que habitavam no local. E no papel há a possibilidade de
imaginar qual efeito, por meio do rasgo, você queira imprimir nele.

Pesquisadora:

ANÁLISE 2
A P1 a partir do seu comentário, é possível perceber que ela caminhava sempre para uma ação
racionalizada, ou seja, o seu rasgo era levado para formas que já existem, por exemplo, a
espiral. E bem provavelmente, isso está relacionado com a sua prática diária, pois em sua
apresentação inicial disse que além de professora de arte é artista e um dos seus trabalhos é
com pintura em tela. Nesse sentido, P.1 que já tem familiaridade com pintura, com as telas,
muito provável, já olhou para os materiais em mãos buscando o aproveitamento máximo em
relação ao espaço, por exemplo.

Em sua fala, percebe-se que concomitantemente à racionalização, existia a tentativa de ser


mais livre em sua produção. Não pensar na trajetória e apenas deixar o seu próprio corpo guiar
o caminho pela materialidade.

Neste sentido, é sempre interessante realizar essa desconstrução, pois em caminhos que já
percorremos cotidianamente, sabemos os pontos positivos e negativos, por onde é melhor
começar e terminar, o que é melhor fazer ou deixar. E quando desbravamos novas
construções, pode nos oferecer boas oportunidades de novas criações e possibilidades.

A fala do P.2 traz elementos relacionados novamente à memória, às ações que realizava
quando criança. E quando ele diz que tenta achar uma forma, sua fala nos transporta para os
momentos em que tentamos encontrar um desenho nas nuvens. Olhar para o alto e tentar
desvendar quais rostos, formas, posições, desenhos podem assemelhar.

E diferente da P.1, em seu comentário percebe-se que não houve racionalização no gesto de
rasgar e, de certa forma, o professor P.1 estava mais livre para ousar em sua criação e depois
do rasgo buscou elementos concretos na observação da sua produção.

Pesquisadora: percebo que em minha produção eu estava mais tímida na forma de rasgar e,
neste sentido, fiquei pensando mais do que rasgando. Muito provável que naquele momento
eu estivesse racionalizando a ação e não querendo encontrar formas, mas agir de forma mais
clara, mais assertiva com o papel.

Essa é uma realidade que encontro muitas vezes em sala de aula, alunos que estão acanhados
na ação por considerar que o seu desenho não é tão bom, que sua produção fica perfeita e por
isso não se permitem apenas fazer.
ANÁLISE 4

Colocar as impressões de quem nunca teve contato com o rasgo, como na idade que eles para
eles foi mais difícil de vencer essa barreira, de fazer uma coisa que não é precisa – como o lápis
dá a precisão

A régua, lápis, a escola em si está para te colocar na linha (com certa rigidez), dentro de um
certo padrão

Minha fala: tenho vários alunos que choram, amassam a folha porque não saiu o desenho
como eles queriam

Aborrecidos, desapontados, frustrados


ANÁLISE 5

Robert: ele selecionou dois instrumentos que, a princípio, não vemos como objetos para
rasgar, mas conseguiu inovar no rasgo utilizando a régua e um pincel de quadro branco. Pelas
imagens é possível perceber que o envelope era de uma gramatura mais grossa e, muito
provavelmente, o professor P.2 teve que concentrar a força e atenção para poder rasgar a
palavra “vida”. É interessante pensar em como o rasgo, neste momento, abriu a possibilidade
de a vida aparecer.

É interessante o quanto as escolhas de papeis do P.2 está associado à sua formação inicial em
música, pois em suas escolhas sempre aparecem alguma forma de partitura, cifras ou letras de
música.

Em relação ao pincel de quadro branco, tanto há a ação do professor em friccionar a ponta da


caneta sobre o papel quanto há ação do tempo da tinta sobre o papel para poder molhar e
romper as fibras do papel e poder perfurar aquela folha.

Ao comparar com as primeiras produções do professor P.2, percebe-se mais ousadia,


elementos novos nas imagens produzidas. O que pode ter relação com as experiências vividas
com o rasgo anteriormente e como a aplicação que realizou em sala de aula com seus
estudantes. As imagens mostram um avanço, no sentido de querer descobrir novos caminhos,
novas propostas.

Pesquisadora: Pode-se perceber as cores primárias nas seleção dos papeis, que já trás um
elemento de cores, diferentemente do que foi apresentado pelo professor P.2. A busca desta
pesquisadora foi tentando encontrar movimentos práticos para a realização dos rasgos com
cada objeto, como uma exploração de movimento, quase como uma missão. Quando
cumprida a missão, o rasgo parava por si só.

Um elemento semelhante em cada imagem produzida por esta pesquisadora foi de que nos
três tem relações de profundidade dos rasgos, conseguimos observar as camadas formadas
por cada objeto.

Se comparadas as produções dos dois participantes, percebe-se que os rasgos do P.2 são mais
amplos, usam mais o espaço da folha enquanto que os desta pesquisadora estão mais
centralizados. Resgatando as falas iniciais, talvez a mão pesada do P.2 dê essa abertura de
exploração e a timidez do rasgo da pesquisadora conduza para rasgos mais pontuais.

Como já tínhamos tido contato anteriormente, a intenção de fazer algo no papel está um
pouco mais clara na mente dos participantes por conta das outras experiências. Não há mais a
ingenuidade ou a insegurança de começar o rasgo.
ANÁLISE 6

Roberto: É possível perceber o desgaste do tempo no livro escolhido e mais uma vez a seleção
do material está ligado à formação inicial do professor P.2. E por conta do livro já estar em um
certo grau de fragilidade por conta ser mais antigo, o rasgo é produzido com mais facilidade e
dependendo da intencionalidade poder realizado de forma brutal ou sutil.

E como o próprio P.2 comentou em ter o desejo de recriar uma nova partitura, o rasgo gerou
essa possibilidade e, neste caso, sem racionalizar o que tinha na página de trás. Foram
surpresas ao perceber no final qual era essa nova composição, tanto musical quanto visual.

Pesquisadora: Ao contrário da produção do P.2, já rasguei com intencionalidade em


determinados momentos, acredito que porque já sabia como produzir, já havia experimentado
em outras oportunidades e já fui para o rasgo do livro com uma proposta, de certa forma,
estruturada.

Ao observar as três partes da produção desta pesquisadora, daria para supor que cada parte
da produção era uma fase da vida de Yolanda. Quem era Yolanda? Quantos anos tinha? Onde
viveu? Era casada, solteira, viúva?

Analisando a minha própria produção pensei que na figura x, seria a fase inicial da vida de
Yolanda, em seu nascimento, sua infância, suas brincadeiras. Na figura x, em que as páginas
avançam e retrocedem ao mesmo tempo, talvez o tempo de sua juventude em que os
pensamentos estão embaralhados, há vários desejos e muitas descobertas. Alguns momentos
vividos é melhor ser esquecido e o papel alaranjado escondendo a escrita daquele fragmento,
nos trás essa sensação. E finalmente a figura x, que aparece um atravessamento exatamente
no centro das páginas, como um golpe certeiro e ao fundo a cor vermelha, como fosse o fim da
vida de Yolanda.

A sequência das imagens provocam uma narrativa, mais uma vez tanto visual, musical quanto
imaginativa. Tudo pode acontecer no olhar do expectador, bem como pode ser promovidos a
partir de estímulos do mediador, seja ele o professor em sala de aula, um orientador em
museu ou alguém que nos leve a uma análise sobre a imagem que observamos.
ANÁLISE 7

Roberto: Mediante a fala do professor P.2 em que fez alguns graduações e sentiu conexões,
elas são percebidas em suas produções ao longo do grupo de pesquisa artística,
principalmente na figura x que ao retirar fragmentos da partitura já composta, ao final, houve
conexões com outras páginas que completaram os espaços extraídos.

Pesquisadora: Por meio do meu relato, evidencia-se a potência de uma imersão criativa e, no
contexto do rasgo, ao rasgar o Brasil apresenta-se os rasgos que nosso país possui tanto social,
cultural, econômico quanto politicamente. E ao pensar na realidade brasileira e desta
produção, elevar a potência do religar, conectar e recriar. O que para a nossa realidade, será
feita com o tempo. Mais uma vez ele aparece como um elemento essencial na composição.

Acho que a proposta do rasgo é isso, não é jogar fora, é recriar

Montar uma coisa nova, diferente

Para a Laise foi a oportunidade de reconstrução de processo, de perceber novas possibilidades


como alguém que cria.

Por esse motivo a música Oração ao tempo vem de encontro com o que foi vivido, pois é por
meio do tempo que serão construídas e reconstruídas as percepções, experiências, produções
e criações.

O tempo, que a princípio, estava escondido, foi um dos elementos primordiais para a
construção do processo criativo vivido nesta pesquisa. Desde as percepções da Bárbara Melo
por meio das ruínas, observando o que o tempo desgastou, o que foi destruído e gerou uma
nova forma, até o tempo que leva para a tinta do pincel de quadro branco perfurar a folha de
do tempo de investigação que é necessário para se libertar de amarras invisíveis e nos deixar
criar com liberdade.
CONSIDERAÇÃO FINAL

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