Didática e Metodologia Do Ensino de Artes Visuais
Didática e Metodologia Do Ensino de Artes Visuais
Didática e Metodologia Do Ensino de Artes Visuais
Metodologia do
Ensino de Artes
Indaial – 2020
2a Edição
Elaboração:
Prof.ª Cristiane Kreisch de Andrade
Prof.ª Elisiane Souza Saiber Lopes
A553d
ISBN 978-65-5663-069-4
CDD 707
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
A disciplina de Didática e Metodologia do Ensino de Artes possui grande
importância na formação dos futuros professores. Essa disciplina tem por objetivo
refletir sobre muitos aspectos que envolvem o ato de ensinar e de aprender. A disciplina
didática e metodologia do ensino de arte vai resgatar os fundamentos da prática docente
e discente, abordando sobre vários aspectos desse profissional da educação.
A disciplina tem por objetivo fazer com que você, futuro professor, saiba
que tipo de profissional deseja se tornar, podendo optar pela concepção de ensino e
aprendizagem significativa. Essa disciplina é base para a formação da prática docente,
abordando a história em consonância com as reflexões.
Professor, se você quer ser a diferença na educação, está na hora de refletir sobre
ela. Vamos nos sensibilizar juntos, conhecendo a trajetória desta área de conhecimento
e fazer com que o ensino de arte seja significativo.
GIO
Olá, eu sou a Gio!
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 235
UNIDADE 1 -
DIDÁTICA: CONCEITO,
HISTÓRIA E EVOLUÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
DIDÁTICA E SUA HISTÓRIA
1 INTRODUÇÃO
A didática é parte fundamental da educação. Ela é responsável por direcionar
as concepções das atividades escolares, em especial, orientar os professores em suas
práticas pedagógicas, de um modo geral é a base do trabalho pedagógico.
2 CONCEITO DE DIDÁTICA
O termo “didática” é conhecido desde os antigos gregos e deriva da palavra
Τεχνήδιδακτική (technédidaktiké), que pode ser traduzida como arte ou técnica de
ensinar, fazer aprender e instruir.
O século XVII foi marcado pelo aparecimento de uma nova ordem escolar. Nesse
século, alguns protestantes começam a pensar na organização e na prática escolar,
assim como alguns católicos, que trouxeram muitas contribuições à educação.
3
Foi nesse período que surgiu a didática, com João Amós Comenius. Ele foi o
grande precursor da didática e se dedicou aos seus estudos definindo métodos, etapas
e a organização do trabalho docente no contexto escolar. É dele a definição, talvez
um pouco exagerada, mas que revela bem o espírito de sua obra: a didática é a arte
de ensinar tudo a todos. Segundo o autor, será uma das primeiras, senão a primeira
tentativa de sistematização da pedagogia e da didática (COMENIUS, 2006).
DIDÁTICA MAGNA
ou
Que Deus tenha piedade de nós e nos abençoe! Faça brilhar sobre nós a luz
da sua face e tenha piedade de nós! Para que sobre esta terra possamos conhecer o
teu caminho, ó Senhor, e a tua ajuda salutar a todas as gentes (Salmo 66, 1-2).
FONTE: COMENIUS, I. A. Didáctica magna. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. 595 p. Dispo-
nível em: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/didaticamagna.pdf. Acesso em: 18 out. 2019.
4
ATENÇÃO
Bispo protestante, educador, cientista e escritor checo, Comenius nasceu e estudou entre
1592 e 1670 na Alemanha e na Polônia. Considerado o pai da didática moderna, teve como
principal obra a Didática Magna, escrita entre 1633 e 1638, na qual expõe seus princípios
e suas propostas educacionais (COMENIUS, 2006).
Fonte:<https://pedagogiaaopedaletra.com/wp-content/uploads/2012/05/JanAmosCo-
menius.jpg>. Acesso em: 28 jan. 2019.
Qualquer coisa que se ensine deverá ser ensinada em sua aplicação prática, no seu
uso definido.
Deve-se ensinar de maneira direta e clara.
Ensinar a verdadeira natureza das coisas, partindo de suas causas.
Explicar primeiro os princípios gerais.
Ensinar as coisas em seu devido tempo.
Não abandonar nenhum assunto até sua perfeita compreensão.
Dar a devida importância às diferenças que existem entre as coisas.
FONTE: As autoras
Os princípios de Comenius nos fazem refletir sobre sua proposta de ensino, que,
apesar de técnica, em sua prática nos mostram uma sensibilidade e preocupação com
os objetivos e a própria estrutura de ensino. Podemos perceber uma sensibilidade e o
respeito com o desenvolvimento dos alunos, quando aborda que devemos ensinar as
coisas em seu devido tempo.
5
Voltando ao conceito de didática, alguns autores nos fazem refletir sobre esse
conceito e nos apresentam suas contribuições. Haidt (2001, p.13) aborda como “o
estudo da situação instrucional, isto é, do processo de ensino e aprendizagem, e, nesse
sentido, ela enfatiza a relação professor-aluno”. Dessa forma, a autora nos faz refletir
sobre o processo de aquisição do conhecimento, em detrimento de práticas "técnicas"
e "mecânicas". Para a autora, a didática auxilia o professor na direção e orientação
das tarefas do ensino e da aprendizagem, fundamentando sua prática pedagógica. O
professor Libâneo (2008, p. 5) afirma que:
Podemos perceber que nessa perspectiva a didática deixa de ser uma dis-
ciplina meramente técnica e instrumental. Ser conhecedor da técnica é importante
e necessário no mundo em que vivemos, porém, os aspectos humanos devem ser
6
enfatizados. A formação dos alunos deve ser integral, no sentido de dar suportes téc-
nicos, conceituais, mas, além disso, torná-lo sensível aos aspectos sociais, políticos
e humanos.
7
Numa perspectiva socrática, a educação remete a ideia de uma
discussão sem violência, durante qual os interlocutores procuram
expor seus pontos de vista respectivos, com a ajuda de argumentos
fundados em razões capazes de suscitar a adesão dos participantes.
Essa ideia significa que o processo educativo não pode se limitar a
impor ao aprendiz um ponto de vista que lhe é exterior, um modo de
viver, pensar ou agir ao qual ele deveria submeter-se sem discussão
(TARDIF, 2010, p. 52).
8
Na obra Emílio ou Da Educação (ROUSSEAU, 1999), ele sugere que a educação
deve ser responsável em formar sujeitos que saibam viver em sociedade que é corrupta.
Um dos pensamentos de Rousseau é que as pessoas nascem boas, mas a sociedade as
corrompe, e seus pensamentos serviram de base para a renovação ideológica, como a
Revolução Francesa.
ATENÇÃO
Rousseau nasceu em Genebra, Suíça, em 28 de junho de 1712, faleceu em 2
de julho de 1778, na cidade de Ermenonville, França. É considerado um dos
pensadores iluministas mais influentes.
FONTE: <https://culthistoria.files.wordpress.com/2015/08/jean-jacques-rousseau.
jpg>. Acesso em: 28 jan. 2009.
9
Em sua didática, diz que toda criança, independente do seu nível social, deveria
ter acesso à educação e que a educação deve se dar, respeitando o seu desenvolvimento.
Em sua metodologia não são enfatizadas regras, preocupando-se com princípios e com
as condições que favorecessem o desenvolvimento da aprendizagem. Haidt (2001)
apresenta alguns princípios formulados por Pestalozzi:
A relação entre professor e aluno deve ser baseada no amor e no respeito mútuo.
O professor deve respeitar a individualidade do aluno.
PRINCÍPIOS FORMULADOS POR
ATENÇÃO
Pestalozzi nasceu em Zurique, Suíça, em janeiro de 1748. Faleceu em Brugg, em fevereiro de
1827. Além de teórico da educação e da didática, foi professor. Durante a invasão francesa
que a Suíça sofreu, em 1798, recolheu muitas crianças abandonadas e, além de protegê-
las, educou-as. Suas ideias e métodos influenciaram muito a educação. Até hoje muitas
escolas ainda pautam seu trabalho pedagógico nos pressupostos didáticos de Pestalozzi.
10
Johann Friedrich Herbart (1776-1841) utilizou muito os estudos de Pestalozzi.
A teoria de Herbart é ampla e sofreu bastante influência da psicologia. Sua teoria
apresenta um forte conteúdo moral, enfatizando que a finalidade última da educação é
a formação da moralidade e da virtude, moldando as vontades e desejos das pessoas.
Nesse sentido, a ação pedagógica é guiada por três procedimentos:
• O governo, que representa o controle exercido pelos pais e professores sobre as crian-
ças para adaptá-las às normas do mundo adulto, a fim de viabilizar a escolarização.
• A instrução, principal momento da educação, que deve se basear no interesse, sem
o qual não há garantias da atenção dos alunos, nem de que novas ideias possam
ser assimiladas.
• A disciplina, que, ao contrário do governo (heterônomo), caracteriza a autonomia do edu-
cando em virtude de seu amadurecimento moral. O método didático de Herbart constitui:
vios a respeito do assunto, para criar interesse pelo novo conteúdo a ser estudado.
Apresentação: o novo conteúdo é apresentado, partindo-se do concreto.
HERBART
ATENÇÃO
Herbart nasceu em Oldenburgo, Alemanha, no ano de 1776, e morreu em 1841. Suas
propostas educacionais influenciaram muito a educação durante os séculos XIX e XX. Seu
pensamento é bastante tradicional, colocando os alunos em posição de sujeitos passivos
diante da educação.
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No final do século XIX e início do XX, ocorreu uma transformação na educação,
ou seja, foi um momento de transição da Pedagogia Tradicional para a Pedagogia Nova.
Contrapondo-se ao ensino conservador da pedagogia tradicional, apareceu John Dewey
(1859-1952), que acreditava que a atividade é inerente ao ser humano. A ação precede
o conhecimento e o pensamento. Antes de existir como ser pensante, o homem é um
ser que age. A teoria resulta da prática. Logo, o conhecimento e o ensino devem estar
intimamente relacionados à ação, à vida prática, à experiência (HAIDT, 2001, p. 21).
De acordo com Haidt (2001), Dewey considera o homem um ser social reforçando
o pensamento que a cooperação e o trabalho em grupo são elementos fundamentais da
vida coletiva. Nesse caso, a educação deve organizar-se em torno desses elementos,
tornando o ensino-aprendizagem fruto de um constante construir saberes.
12
ATENÇÃO
John Dewey nasceu em 20 de outubro de 1859, viveu até 1º de junho de 1952. É um
dos mais reconhecidos educadores estadunidenses do século passado. Desenvolveu uma
grande quantidade de obras, que inclui temas como educação, psicologia e filosofia. Ficou
conhecido por sua metodologia que enfocava o desenvolvimento natural das crianças.
4 DIDÁTICA NO BRASIL
No Brasil, a educação formal inicia-se apenas em 1549, com a chegada dos
padres jesuítas, que foram os principais educadores do período colonial, atuando até
1759. Também conhecida como Companhia de Jesus, tinha como objetivo a catequização
dos índios e a sua conversão à religião católica.
13
Nesse momento, o projeto educacional que os jesuítas desenvolviam, não era
somente a catequização dos índios, mas sim um projeto de transformação social dos
indígenas que possuíam uma história, crença e valores. A catequização e conversão
dos indígenas ao cristianismo seguia os padrões culturais e sociais da Europa do
século XVI, com a finalidade de transformar o índio brasileiro em um “homem civilizado”
(NETO; MACIEL, 2008). Os jesuítas utilizaram da cultura indígena suas lendas, crenças e
histórias nativas para criação de peças teatrais e realizações de festas com o intuito de
provar para os índios a existência de Deus.
De acordo com Tardif (2010), os autores desse tratado não pertenciam à elite,
muito pelo contrário, foram pessoas que tiveram uma longa caminhada na educação, e
seus escritos foram fruto de muitos anos de experiência e não se limitavam às abstratas
especulações filosóficas.
14
forma, as aulas eram ministradas de forma expositiva e as atividades eram tomadas
dos alunos oralmente, repetindo o que o professor ensinou. A avaliação, consistia em
verificação do conteúdo anterior, correção, repetição, explicação, interrogação e ditado.
Com a expulsão dos jesuítas, a educação escolar brasileira, quase desapareceu.
De acordo com Tardif (2010), esse saber pedagógico posto em prática teve
como objetivo eliminar o acaso e a desordem, fonte de pecado, regulando cada aspecto
do ensino.
15
Em 1882, Rui Barbosa (1849-1923) começou a desenvolver as ideias da Escola
Nova. Ele foi um grande representante da corrente liberal, propondo reformas educacio-
nais com o objetivo da formação de sujeitos democráticos. Seus pressupostos de en-
sino levavam em consideração as diversidades, respeitando a individualidade do aluno.
A Escola Nova começa a perder sua força a partir da década de 1960 do século
XX, vigorando a Pedagogia Tecnicista, fundamentada nos princípios da psicologia
comportamental ou behaviorista. Dessa forma, a didática que vigorava era embasada
na eficiência e a eficácia do processo ensino-aprendizagem.
Esse breve histórico nos faz refletir sobre os rumos na educação durante os
séculos. Aproximadamente quatro séculos do ensino de arte no Brasil foram baseados,
exclusivamente, na concepção de arte como técnica, e, ainda hoje, encontramos nas
práticas escolares, concepção de ensino de arte que se resumem a atividades técnicas
como ensino do desenho, dos elementos da linguagem visual, descontextualizada da
obra de arte e produção de artefatos, mas principalmente na pintura de desenhos e
figuras mimeografadas.
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Em 1922, em São Paulo, um grupo de artistas modernistas inspirados nos
movimentos artísticos que já aconteciam na Europa, promoveram um grandioso evento,
denominado de Semana de Arte Moderna.
É nessa perspectiva que lutamos para que a didática caminhe nos dias atuais.
Não é possível pensar no ensino de arte em uma perspectiva anterior a isto. Entretanto,
sabemos, hoje, que os métodos e técnicas não são neutros, mas servem a determinados
propósitos. Por isso o “como ensinar” é tão importante quanto o “para que ensinar”.
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• A didática pode ser conceituada como uma disciplina pedagógica que se preocupa
com todo o processo de ensino e aprendizagem, levando em consideração todos
os sujeitos envolvidos no processo, e tem por finalidade a real aprendizagem do
sujeito integral.
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AUTOATIVIDADE
1 Baseados no estudo apresentado ao longo desta unidade, desenvolva um conceito
de didática numa perspectiva de formação integral dos alunos.
I- John Dewey
II- Herbart
III- Rousseau
( ) É um dos educadores mais influentes do século XX, seus estudos deram origem ao
movimento que ficou conhecido pelo nome de Escola Nova.
( ) As pessoas nascem boas, mas a sociedade as corrompe e seus pensamentos.
( ) Sua teoria apresenta um forte conteúdo moral, enfatizando que a finalidade última
da educação é a formação da moralidade e da virtude.
3 Discorra sobre a proposta Ratio Studiorum, utilizado pelos jesuítas aqui no Brasil, e
reflita sobre a escola laica.
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UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico vamos compreender as diferentes concepções pedagógicas que
estão por traz da didática dos professores: sua postura, conduta, convicções, propósitos,
entre outros aspectos, que fazem parte do dia a dia escolar.
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Dessa forma, vale a pena resgatar brevemente a origem do ensino de arte
no Brasil, para podermos compreender a relação com as concepções de ensino que
começaram a vigorar nesse período e se fazem presentes até os dias de hoje nos
contextos escolares.
No ano de 1934, a didática aparece pela primeira vez como disciplina dos cursos
de formação de professores em nível superior, na recém-criada Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.
Segundo Fusari e Ferraz (2001), devemos lembrar que as aulas de Arte são
influenciadas por três pedagogias enunciadas: tradicional, escolanovista e tecnicista,
em maior ou menor grau. Essas três pedagogias, embora escritas separadamente, na
prática se imbricam.
22
de licenciatura em Arte no Brasil vêm, ao longo de sua curta história,
caminhando a reboque das políticas educacionais implantadas,
tentando conjugar estas exigências com as necessidades dos
professores (COUTINHO, 2003, p. 154).
De acordo com Luckesi (1993), são três as tendências que interpretam a questão
da educação na sociedade: “educação como redenção; educação como reprodução; e
educação como transformação da sociedade. [...] A perspectiva redentora se traduz pelas
pedagogias liberais e a perspectiva transformadora pelas pedagogias progressistas”
(LUCKESI, 1993, p. 53).
23
A Pedagogia Liberal enfatizava o pensamento burguês do século XVIII, e
tinha como expoente principal Rousseau (1712-1778). Segundo Schramm (2001), na
visão de Rousseau a educação começa pelo desenvolvimento das sensações e dos
pensamentos, da valorização da espontaneidade e das experiências.
Segundo Libâneo (1990), essa pedagogia sustenta a ideia de que a escola tem
por função preparar os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de acordo com
as aptidões individuais. Isso pressupõe que o indivíduo precisa adaptar-se aos valores
e normas vigentes na sociedade de classe, através do desenvolvimento da cultura
individual. Devido a essa ênfase no aspecto cultural, as diferenças entre as classes
sociais não são consideradas, pois, embora a escola passe a difundir a ideia de igualdade
de oportunidades, não leva em conta a desigualdade de condições.
24
TRADICIONAL ESCOLANOVISTA TECNICISTA
detentor do conhecimento; transmissor; estimula a expressão artística; transmissor e detentor do saber;
não aprende com o aluno; não intervém no processo de maturação; instrutor e técnico do ensino;
PROFESSOR relação marcada pelo autoritarismo; proporciona um ambiente para a produção responsável em modelar o comportamento
o principal aliado é o livro; artística; dos alunos;
silêncio em sala de aula. auxilia o desenvolvimento livre e espontâneo. utiliza técnicas específicas de condicionamento.
considerado uma “tábula rasa”; dever ser estimulado;
“tábula rasa”; comprometido a gravar e se
seus saberes não são valorizados; deve ser tratada como criança, e não como
instrumentalizar de técnicas;
ALUNO sujeito passivo; um pequeno adulto;
reproduz com a máxima perfeição o conteúdo
não questiona; valoriza o caráter psicológico;
explanado.
não participa das aulas. respeita o tempo da criança.
reprodução da técnica;
aquisição de habilidades;
ênfase no “fazer”; focada na emoção e na intuição do aluno; valoriza o livro como um instrumento recurso;
inibi o processo de reflexão; centro das atenções; processo de condicionamento;
METODOLOGIA
não há construção e nem reconstrução do saber; tem liberdade para fazer o seu próprio currículo; uso de reforço das respostas comportamen-
DO ENSINO
preocupação em avançar conteúdos; livre expressão e criação pessoal. tais; mecânica e programada: livros didáticos
exposição verbal; ou manuais instrucionais.
resolução de exercícios;
memorização.
eurocêntrico;
FONTE: As autoras
não possui conteúdos;
conteudista; reprodução de conhecimentos e técnicas;
livre expressão e criação pessoal na produção
a verdade está nos livros; reproduzidas e executadas com perfeição.
CURRÍCULO artística; tudo precisa ser valorizado;
QUADRO 6 – PEDAGOGIA LIBERAL
25
Como já destacamos, as práticas pedagógicas nem sempre contemplam os
exemplos citados, ou ainda, você pode identificar práticas, em sua atuação docente, que
contemplam mais de uma concepção. O mais importante é identificar e refletir sobre sua
atuação, ou seja, o seu propósito de ensinar.
26
PROGRESSISTA LIBERTADORA PROGRESSISTA LIBERTÁRIA CRÍTICO-SOCIAL DOS CONTEÚDOS
relação é horizontal; não há atitudes de obrigações ou ameaças;
o professor deve despertar necessidades, ace-
bom relacionamento é a total identificação ao professor cabe a função de conselheiro ou
lerar e disciplinar os métodos de estudo;
PROFESSOR com o povo; monitor à disposição do grupo;
o professor é um mediador entre o aluno e os
elimina-se, por pressuposto, toda relação de recusa-se qualquer forma de poder ou auto-
conteúdos.
autoridade. ridade.
o diálogo é um método básico; o papel do adulto é insubstituível, mas acentu-
ALUNO sente que pode contar com o professor.
acesso ao professor sempre que necessário. a-se também a participação dos alunos.
subordinam-se aos conteúdos;
uma relação de autêntico diálogo; a base é a vivência grupal sem qualquer forma favorecem a correspondência dos conteúdos
METODOLOGIA DE
os sujeitos do ato de conhecer encontram-se de poder; com os interesses dos alunos;
ENSINO
mediatizados pelo objeto a ser conhecido. os alunos têm liberdade de trabalhar ou não. nem o dogmatismo dos métodos tradicionais,
nem a descoberta.
são os "temas geradores" extraídos da proble-
matização são os conteúdos culturais universais, incor-
as matérias são colocadas à disposição dos
da prática dos alunos; porados pela humanidade que devem ser as-
CURRÍCULO alunos, mas não são exigidas;
o importante não é a transmissão de conteú- similados e não simplesmente reinventados;
o que mais importa é a participação crítica.
dos, mas despertar uma nova relação com a eles não são fechados à realidade social.
experiência vivida.
FONTE: As autoras
a motivação se dá a partir da codificação da
cada conhecimento novo se apoia numa
situação/problema, todas as formas burocráticas institucionalizadas
estrutura cognitiva já existente;
da qual se toma distância para analisá-la cri- comprometem o crescimento pessoal;
o grau de envolvimento depende tanto da
QUADRO 7 – PEDAGOGIA PROGRESSISTA
27
Vale a pena destacar que as Tendências Progressistas têm um papel fundamental
na educação: despertar a reflexão em cursos de formação de professores, na medida em
que o mundo almeja pessoas criativas, inovadoras e empreendedoras para a sociedade.
4 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
As tendências pedagógicas estão relacionadas às concepções de ensino e
de avaliação dos professores, a partir de experiências positivas e negativas enquanto
alunos. A seguir, vamos conhecer algumas concepções e seus propósitos na educação.
Até o início do século XVIII, o desenho era praticado por nobres esclarecidos,
homens da ciência e das letras como disciplina indispensável à ciência e ao conhecimento.
Era visto como estratégia para o enriquecimento das nações. Deste modo, no início do
século XIX, refletindo atitudes internacionais, o Brasil implantou o desenho nas escolas
(BARBOSA, 1999).
28
Com as criações dos sistemas nacionais de ensino, no início do século XX, a
escolarização era colocada como uma das condições da democracia. Instalava-se o
chamado ensino tradicional, cujas origens remontam ao período da Revolução Francesa.
Ele tem como seu principal aliado o livro didático, considerado o detentor de
todas as verdades e do conhecimento absoluto. O livro é sua ferramenta mestre e
o silêncio em sala de aula é algo imposto pela autoridade docente, já que o diálogo
(debates e reflexões) em sala não é estimulado.
O aluno é considerado uma “tabula rasa”, ou seja, “não sabe nada”, e seus saberes
não são valorizados em sala de aula. Ele é um sujeito passivo que não questiona perante
uma dúvida, não participa das aulas, não contribui com suas vivências, mas, o aluno é
um objeto que se retrai cada vez mais perante as dúvidas e dificuldades.
29
Nessa perspectiva, o aluno possui dificuldade em compreender e relacionar os
conteúdos para sua realidade. Vale a pena refletir sobre o processo de exclusão dos
alunos com dificuldades na aprendizagem, ou ainda, dos alunos especiais, que por
muitos séculos foram excluídos do sistema educacional, pois não eram capazes de
avançar como os demais.
O currículo é eurocêntrico, ou seja, a verdade está nos livros e não pode ser
discutida. O currículo é conteudista, ou seja, o professor apenas tem metas e seu maior
objetivo é reproduzir os livros sem pensar na função da arte e proporcionar momentos
para refletir sobre o assunto trabalhado.
Assim, os bons alunos são os que melhor reproduzem. Por isso, a avaliação possui
caráter frenador e é realizada no final do processo de aprendizagem, sendo visto apenas
como um instrumento de coleta de “notas”, classificando os alunos como “bom”, “médio”
ou “inferior”.
30
Devido a todos os aspectos aqui arrolados, o papel e função da educação na
concepção de ensino tradicional, é de fazer com que os alunos sejam cópias fiéis do que
ditaram os professores, chegando à perfeição do original. De promover uma formação
puramente moral e intelectual, lapidando o aluno para a convivência social, tendo como
pressuposto a conservação da sociedade em seu estado atual.
Atualmente, o ensino de arte tradicional ainda possui bastante força nos contex-
tos educacionais, desde a educação básica à educação superior, ele é trabalhado com
frequência por professores que estão no comodismo sem repensar práticas que estimu-
lem a reflexão e o conhecimento de todos os envolvidos. Esses continuam reproduzindo
cópias de atividades que ditam o que deve ser executada, impedindo os alunos desenvol-
verem habilidades, autonomia, iniciativa e sua criatividade. Contudo, outras concepções
de ensino, fizeram e fazem parte de muitas realidades, como veremos a seguir.
A Escola Nova, por sua vez, trouxe para o ensino de arte a ênfase
na percepção, expressão, no estado psicológico das pessoas e suas
experiências individuais, na revelação de emoções, de insights,
de desejos, de motivações experimentadas interiormente pelos
indivíduos (FUSARI; FERRAZ, 1992, p. 28).
31
O processo (atividade gráfica espontânea) tinha prioridade sobre o
produto; e que os conteúdos do ensino deviam ser propostos num
ambiente de liberdade e sem restrições no planejamento, além
das próprias atividades. Essa visão [...] começou a ser questionada
em dois sentidos. Por um lado, destacando que aprendizagem
artística e criatividade não são a mesma coisa, e, por outro, que os
conhecimentos e as habilidades não amadurecem por si mesmas, de
maneira natural, mas sim que se requer uma aprendizagem vinculada
a um processo de ensino (HERNÁNDEZ, 2000, p. 155).
32
Os processos de transmissão-recepção são substituídos pelo processo de elaboração
pessoal e o saber é centrado no sujeito cognoscente” (VEIGA, 1989, p. 50). O centro do
processo de ensino-aprendizagem não é mais o professor, nem o conteúdo, mas o aluno.
Libâneo (2008) aborda que essa didática apresenta muitos aspectos positivos,
pois tem o objetivo de desenvolver a atividade mental e a autonomia dos alunos. É
difícil encontrar professores que apliquem inteiramente o que propõe. Devido a uma
má interpretação, falta de condições materiais, pelas exigências de cumprimento do
currículo e outras razões, o que fica são alguns métodos e técnicas. Assim, muitos
professores utilizam procedimentos e técnicas sem levar em conta seu objetivo principal,
que é levar o aluno a pensar, a raciocinar cientificamente, a desenvolver sua capacidade
de reflexão e a independência de pensamento.
O aluno é considerado um ser que dever ser estimulado a criar. Agora, a criança
deve ser tratada como uma criança, e não como um pequeno adulto. Passa-se a valorizar
o caráter psicológico, a respeitar o tempo da criança.
33
A ênfase nesse processo, nessas atividades ditas expressivas,
sensibilizadoras e criativas difundiu a falsa crença de que o importante
era proporcionar ao indivíduo a oportunidade de criar, de expressar,
sem nenhum tipo de interferência por parte do professor, como se a
criatividade, de reelaborá-la, tal como se trabalhava outras aptidões,
no sentido de que dela resultasse algo significativo (PEREGRINO,
1995, p. 33-34).
34
Aqueles que defendem a Arte na escola meramente para liberar a
emoção devem lembrar que podemos aprender muito pouco sobre
nossas emoções se não formos capazes de refletir sobre elas. Na
educação, o subjetivo, a vida interior e a vida emocional devem progredir,
mas não ao acaso. Se a Arte não é tratada como um conhecimento,
mas somente como um “grito da alma”, não estaremos oferecendo uma
educação nem no sentido cognitivo, nem no sentido emocional. Por
ambas a escola deve se responsabilizar (BARBOSA, 2003, p. 21).
Nos espaços educacionais essa concepção ainda faz parte da prática de alguns
professores. Observamos, nesse contexto, uma desvalorização da disciplina de Arte
concebida atualmente como dotada de conteúdos próprios e partindo do pressuposto
de que deve ser ensinada aos alunos, por meio de uma metodologia apropriada.
Essas situações de Arte nas escolas têm raízes históricas e são frutos das
filosofias que têm marcado a educação em todo país, bem como das noções equivocadas
da arte na sociedade.
35
Em termos de educação, os professores são frequentemente avisados de que
os programas educacionais devem enfatizar o que é básico na educação, que é um
assunto sério, que vivemos num mundo cada vez mais competitivo e que as escolas
devem preparar os alunos para a árdua e competitiva corrida da qual teremos que
participar. Esta é uma reivindicação que é difícil de contestar.
Segundo Eisner (1991), pressupõe-se que os alunos devam saber ler, mas não
deveriam eles também querer ler? E se for esse o caso, que tipo de material? É claro
que desejamos que os alunos escrevam bem, mas será que escrever bem consiste
meramente na capacidade de soletrar corretamente e utilizar a gramática e pontuação
adequadas? Ou significa também ter alguma coisa interessante a dizer? Certamente,
queremos que os alunos saibam calcular corretamente, mesmo na era das calculadoras
portáteis. Mas nós também queremos que eles tenham a capacidade de raciocinar
matematicamente e utilizar sua imaginação matemática para avaliar o que jamais poderá
ser calculado? Em resumo, queremos para os alunos mais do que as simples aptidões
básicas de leitura, escrita e aritmética? Esse era o desejo da maioria dos americanos,
que os alunos não tenham apenas essas qualificações, mas também mentes bem
desenvolvidas, e que estejam aptos a usufruir das benesses intelectuais e artísticas
que nossa nação tem a oferecer.
36
Neste momento, a metodologia de ensino valoriza o livro como um instrumento.
O livro didático torna-se praticamente o único recurso metodológico da prática
pedagógica, pois é produzido no contexto do consumo da “indústria cultural”.
37
5 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS
As concepções pós-modernas de ensino de Arte, tem uma das funções, em
sua missão educacional, ajudar os jovens adquirirem as aptidões, as múltiplas formas
de alfabetização, como as chamamos, que lhes darão um acesso significativo ao capital
cultural. Essas aptidões não são uma consequência natural do amadurecimento. Seu
nível de amadurecimento depende dos tipos de oportunidades que as crianças têm de
adquiri-las ao longo de suas vidas.
Para a maioria das crianças, a escola é fonte importante para adquirir tais
aptidões. Se os jovens não devem ser privados das visões interiores e prazeres das
artes, a presença das artes em nossas escolas é uma necessidade que não podemos
nos dar o luxo de negligenciar (HOFFMANN, 1993).
38
O papel e a função do ensino de arte, nesta perspectiva, é formar o cidadão
ciente de si, seu meio e seu momento histórico, e de formar sujeitos críticos e ativo na
sociedade. A concepção de arte, nesta perspectiva, é a de que ela é conhecimento,
produto constituinte de uma cultura, sociedade e construção histórica. A seguir,
estudaremos as três Tendências Progressistas que foram elegidas para o estudo deste
Livro Didático.
ATENÇÃO
Paulo Reglus Neves Freire, nasceu em 19 de setembro de 1921, em Recife. Morreu alguns
dias depois do lançamento do livro A pedagogia da autonomia, em 1997. Mais conhecido
como Paulo Freire, foi um educador, pedagogo e filósofo brasileiro. Considerado um
dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o
movimento chamado pedagogia crítica. É também o patrono da Educação Brasileira e
defendia como objetivo de a escola ensinar o aluno a "ler o mundo" para poder transformá-
lo. O principal livro de Freire se intitula justamente Pedagogia do Oprimido e os conceitos
nele contidos baseiam boa parte do conjunto de sua obra: Emília Ferreiro, a estudiosa
que revolucionou a alfabetização, Michel Foucault, um crítico da instituição escolar e
Howard Gardner, o cientista das inteligências múltiplas. Ele marcou toda uma geração de
educadores em vários países.
FONTE: <http://www.crub.org.br/wp-content/uploads/2015/09/paulo-freire_Foto_
Arquivo-Instituto-Paulo-Freire.jpg>. Acesso em: 28 jan. 2019.
39
A Tendência Libertadora teve como principal objetivo se preocupar com as reais
condições de vida da população marginalizada, pois nesta perspectiva a educação
só faz sentido se vier a contribuir com a sua emancipação e libertação das pessoas.
"Freire concebia a educação como um processo de conscientização e de liberação, e
consagrou toda sua vida a difundir essa ideia" (TARDIF, 2010, p. 306).
De acordo com Tardif (2010), Paulo Freire se preocupava com a situação das
pessoas excluídas dos planos econômicos, social e cultural, promovendo projetos de
alfabetização de adultos. Segundo ele, a educação de adultos deve se fundamentar
sobre a realidade diária vivida por aqueles que estão aprendendo a ler e a escrever, e não
simplesmente aprender a reconhecer letras, palavras e frases.
Paulo Freire teve suas obras marcadas pela oralidade do diálogo, e seus livros
foram escritos semelhantes a uma conversa, pois ele acreditava que elas deveriam
envolver o leitor na narração. A educação não se restringiu somente a adultos, e vem
ganhando cada vez mais espaço em todo o mundo, entre os educadores que acreditam
na possibilidade da construção de uma sociedade verdadeiramente democrática, tanto
do ponto de vista político quanto econômico, cultural e social.
40
Segundo Tardif (2010), ele propõe uma abordagem que visa a conscientização
por um método dialógico, se opondo a educação tradicional que ele definiu por
educação bancária.
NOTA
Educação bancária trata-se de uma educação que permite depositar,
transferir conhecimentos. Os alunos vão à escola como clientes ao banco:
vêm sacar seu depósito de conhecimentos ou de dinheiro, vêm encher
os bolsos ou a cabeça. Os alunos passivos recebem os depósitos de
conhecimentos fabricados e selecionados previamente pelos mestres.
41
Luckesi (1994) enfatiza que a Pedagogia Libertária se posiciona contra qualquer
tipo de poder ou autoridade. Então, o papel da escola é a concretização da autogestão. A
concepção do indivíduo baseia-se na busca da autonomia. Os conteúdos de ensino são
colocados à disposição e são postos pelas necessidades e pelos interesses do grupo. O
método de ensino é realizado a partir da autonomia e da liberdade dos estudantes, da
vivência do grupo, e os alunos não são subordinados ao professor, mas o professor passa
a assumir o papel de orientador, catalisador, conselheiro a serviço, à disposição do grupo.
A aprendizagem é informal, acontece no grupo. O saber é relevante, principalmente,
pelo seu uso prático.
42
5.3 TENDÊNCIA PROGRESSISTA CRÍTICO-SOCIAL DOS
CONTEÚDOS
A Tendência Crítico-social dos Conteúdos, última das tendências progressistas
que analisaremos, surgiu entre o final dos anos 1970 e início dos anos 1980, do século
XX. As propostas de tendência foram desenvolvidas, no Brasil, por Dermeval Saviani,
o qual se baseia em vários autores, como: Marx, Grasmci, Kosik, Snyders, entre outros.
Junto a Saviani, temos vários outros educadores que elaboram a favor desta corrente,
dos quais destacamos José C. Libâneo, Carlos R. J. Cury e Guiomar N. de Mello.
E continua afirmando:
43
seio da prática social global”, ou seja, uma das mediações pela qual
o aluno, pela intervenção do professor e por sua própria participação
ativa, passa de uma experiência inicialmente confusa e fragmentada
(sincrética) a uma visão sintética, mais organizada e unificada
(LIBÂNEO, 2003, p. 69).
Como a escola é parte integrante do todo social, deve servir aos interesses
populares, garantindo um ensino de qualidade e preparando o aluno para sua inserção
no contexto social, de forma organizada e ativa. O papel do professor é mediar a relação
de troca entre o aluno e o meio, a partir dos conteúdos escolares. Os métodos devem
buscar a coerência entre teoria e prática, a correspondência entre os interesses dos
alunos e a matéria de ensino. A aprendizagem caracteriza-se pela superação da visão
parcial e confusa por uma visão mais elaborada, clara e unificadora.
44
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
45
AUTOATIVIDADE
1 Partindo de suas vivências enquanto estudante, relate alguns momentos de suas
aulas de artes, que tenham transparecido resquícios de algumas das tendências
Liberais, refletindo sobre as práticas de ensino aprendizagem estudadas.
3 Agora é sua vez de vivenciar na prática. Desenvolva uma pequena encenação sobre
alguma das concepções estudadas (liberais ou progressistas) e apresente aos seus
colegas de maneira cênica. Você ainda pode pedir a participação de alguns colegas.
Para deixar sua encenação ainda mais interessante, organize o espaço, vestimentas
e peça para que alguém filme.
46
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
1 INTRODUÇÃO
Agora que você conheceu as concepções de ensino e o papel que cada uma
desempenha na educação, fica mais fácil de refletir sobre o processo de ensino e
aprendizagem. Este tópico vai tratar sobre os conceitos e sobre as diferentes concepções
de avaliação que estão interligadas com as concepções de ensino e aprendizagem.
Vale a pena destacar que nem sempre a proposta educacional de ensino atua junto à
proposta de avaliação. A seguir, vamos conhecer um pouco dessa dinâmica.
2 HISTÓRIA DA AVALIAÇÃO
Nos contextos educacionais, percebemos fortemente a influência da concepção
classificatória nos processos avaliativos. Pode-se mencionar a resistência à mudança e
a falta de formação de professores nessa área como um dos principais motivos para se
proceder nessa perspectiva.
Luckesi (1996) sinaliza para aspectos cristalizados, entendidos por ele como
herança examinatória e de resistência a mudanças. Segundo o autor, os professores
vivenciaram, enquanto eram alunos, uma longa história de abusos dos exames, por isso
replicam inconscientemente o modo examinatório na prática escolar. Essa “herança
psicológica” não apresenta referência de avaliação, mas de exame.
47
Uma outra herança mais abrangente à prática da avaliação está
vinculada à história da avaliação sistematizada nos séculos XVI e
XVII. A elas estão associados conceitos das pedagogias jesuíticas
e comeniana, que projetam nos exames classificatórios o modo
mais adequado e satisfatório de controlar as aprendizagens dos
educandos. A terceira herança é a histórico-social que reproduz o
modelo burguês de sociedade — seletiva e excludente (FERREIRA;
BOFF, 2009, p. 88).
Ferreira e Boff (2009) ainda salientam que, alicerçados nessas heranças, pode-
rosas e conscientes, os instrumentos de avaliação servem muito mais para a coleta de
dados do que para a avaliação propriamente dita, na medida em que apenas sinalizam o
desempenho provisório do aluno e pouco auxiliam na tomada de consciência do processo
nos seus erros, acertos e na possibilidade de novas práticas e na reconstrução de saberes.
48
Para a dificuldade de avançar nessa perspectiva concorrem tanto a cultura
avaliativa herdada da escola tradicional quanto a falta de conhecimento dos professores
sobre as concepções de avaliação presentes nos procedimentos que empregam, ou
seja, falta de formação quanto às possibilidades de contribuição da avaliação para os
processos de ensino-aprendizagem.
No que diz respeito à cultura avaliativa, não podemos esquecer a base autoritária
e disciplinadora que constituiu e que ainda fundamenta a organização pedagógica e
burocrática das escolas de ensino fundamental. As práticas educativas, inclusive as
avaliativas, refletem o caráter sócio-histórico-cultural da educação, do mesmo modo
que esta perpetua e alimenta determinadas práticas sociais.
49
Trabalhar pedagogicamente de acordo com a concepção de avaliação formativa,
não é somente responsabilidade do professor e aluno, mas também da escola, do Estado.
Para que essa prática se efetive, além do professor e alunos como agentes
ativos desse processo, cabe à escola consolidar um projeto formativo, com uma
concepção filosófica e de prática pedagógica voltada para a cidadania. Uma cidadania
mais autônoma, democrática, crítica, ativa em suas funções sociais, dentre outros.
De acordo com Villas Boas (2001), a escola não tem cumprido seu papel de
garantir a aprendizagem aos alunos apresentando o fracasso da escola entendido
como fracasso do aluno. A desconsideração desse direito e desse dever tem induzido
a realização de trabalho padronizado, descomprometido, baseado em relações
verticalizadas e na reprodução do conhecimento, por parte de professores e alunos.
50
Para Villas Boas (2001), três aspectos são fundamentais à prática da avaliação
formativa:
A prática da avaliação formativa não é uma prática ativa nas escolas devido a
uma série de fatores como:
O sistema escolar precisa mudar sua concepção filosófica de que a avaliação con-
siste na obtenção de nota, somente com essa perspectiva é que os professores conse-
guirão efetivar a avaliação formativa na escola. Para tal, são nove as características que
contribuem para a efetivação da avaliação formativa em Arte: impulsiona a aprendizagem;
considera o conhecimento específico de arte; busca a formação crítica; considera o indi-
víduo; integra conteúdos; utiliza diversos instrumentos; é processual; promove autoava-
liação; e possui dimensão política — que serão aprofundadas no capítulo a seguir.
51
3 CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO
Avaliação da aprendizagem nos remete a diferentes metodologias, concepções,
contextos em que pode estar inserida. Para compreender o que fundamenta seus ob-
jetivos e procedimentos, cabe questionar o seu lugar no processo de ensino aprendiza-
gem; ou seja: qual a relação da avaliação com a construção de conhecimento?
52
Quando a avaliação tem por foco a capacidade de reprodução de determinado
conteúdo repassado pelo professor, são bons alunos os de maior capacidade mimética.
Nessa perspectiva, ela é realizada apenas no final do processo de aprendizagem, a fim
de medir seu produto final, atuando como instrumento de coleta de “nota” que classifica
os alunos como “bom”, “médio” ou “inferior”, sem considerar um processo de reflexão
autônomo (LUCKESI, 2000).
As características citadas no Quadro 10, são baseadas nos estudos que apontam
práticas de avaliação tradicional, baseada na comparação e em normas.
“Às vezes, diz-se que essa avaliação é normativa, no sentido de criar uma
distribuição normal. É também comparativa: os desempenhos de alguns se definem em
relação aos desempenhos dos outros mais do que a domínios almejados ou a objetivos”
(PERRENOUD, 2000, p. 66)
53
FIGURA 1 – TRANSFERINDO SABERES
Luckesi (1996) diz que as notas são adoradas por professores e alunos. O
professor adora porque elas mostram seu poder de aprovar ou reprovar, e o aluno vive
em busca de notas mais altas, pois, no cotidiano escolar, quem tem notas mais altas são
considerados mais inteligentes e preparados.
54
3.2 AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA
A concepção de avaliação diagnóstica prevê relação entre o ensino e
aprendizagem. Ela avança na perspectiva de entender o processo de aprendizagem do
estudante, mas não de intervenção na prática docente.
[...] o ato de avaliar não serve como pausa para pensar a prática
e retornar a ela; mas como um meio de julgar a prática e torná-
la estratificada. De fato, o momento de avaliação deveria ser um
“momento de fôlego” na escalada, para, em seguida, ocorrer a
retomada da marcha de forma mais adequada, e nunca como um
ponto definitivo de chegada, especialmente quando o objeto da
ação avaliativa é dinâmico como, no caso, a aprendizagem. Com a
função classificatória, a avaliação não auxilia em nada o avanço e o
crescimento. Somente com a função diagnóstica ela pode servir para
essa finalidade (LUCKESI, 2000, p. 34-35).
55
De acordo com Romão (2002, p. 44):
56
Essa forma de avaliação pode ser utilizada antes e durante o processo ensino-
aprendizagem, tendo diferentes finalidades. Realizada antes do processo, tem como foco
sondar se o aluno apresenta os conhecimentos necessários para que a aprendizagem
possa ser iniciada. Se ocorrer durante o processo, será utilizada para identificar as causas
das falhas de aprendizagem e possibilitar a implementação de recursos para corrigi-las.
É possível observar que a avaliação diagnóstica possui três objetivos:
A avaliação formativa faz com que os alunos passem a perceber seus erros
e acertos, e o mais importante, encontram no professor estímulos para progredir nos
estudos de forma sistemática.
57
Essa avaliação passa a ser de maior responsabilidade do professor que, com
sua sensibilidade e olhar técnico, capta informações que permitem a reformulação do
processo de ensino e aprendizagem com base nas necessidades de cada aluno. Assim,
a avaliação é um instrumento de controle da qualidade na educação, com maior objetivo
um ensino de qualidade em todos os níveis.
Mendez (2007) reforça a ideia que a avaliação deveria ser uma ocasião a mais na
aprendizagem e não uma interrupção do processo de ensino, nem um "prestar de contas"
mecânico e rotineiro "de" e "sobre" o conteúdo acumulado. Ela, em sua função formativa,
deve ir além da prova e da qualificação. Somente a partir de um interesse técnico de
controle se pode confundir o instrumento, exame, com a atividade, avaliação formativa.
O autor ainda aborda que os alunos devem aprender com a avaliação, pois
esta deveria auxiliar na evolução da aprendizagem sobre aquele conteúdo, como uma
maneira de criar os estímulos necessários para continuar aprendendo. A avaliação deve
ser uma ferramenta no processo de aprendizagem, que agrega benefícios não só para
quem aprende, mas também, para quem ensina.
58
Avaliar implica conhecer como os conteúdos de Artes são assimilados
pelos estudantes em cada momento de escolaridade e reconhecer os
limites e a flexibilidade necessária para dar oportunidade à coexistência
de distintos níveis de aprendizagens, num mesmo grupo de alunos.
Para isso, o professor deve saber o que é adequado dentro de um
campo largo de aprendizagem para cada nível escolar, ou seja, o que
é relevante o aluno praticar e saber nessa área (BRASIL, 2001, p. 95).
59
4 INSTRUMENTOS E MÉTODOS DE AVALIAÇÃO NA
APRENDIZAGEM
Após refletir sobre concepções de ensino e avaliação, surge a necessidade de
refletir sobre os instrumentos e critérios de avaliação. Provas escritas, provas orais,
objetivas, mapas conceituais, análise de casos, produção de texto, portfólios, entre
outros, todos são instrumentos que podem, caso sejam bem elaborados, fornecer aos
professores, informações valiosas sobre o processo de ensino e de aprendizagem.
ATENÇÃO
Pierre Félix Bourdieu (1930- 2002) foi um sociólogo francês. De origem campesina, filósofo de
formação.
O mundo social, para Bourdieu, deve ser compreendido à luz de três conceitos
fundamentais: campo, habitus e capital.
60
Para que um instrumento, qualquer que seja ele, possa cumprir suas finalidades,
algumas respostas para as perguntas que se seguem são essenciais:
De acordo com Villas Boas (2007), a educação brasileira precisa ser repensada,
e um dos componentes de trabalho que precisa ser redimensionada é o processo
avaliativo, que deve fornecer informações para seu início, para a continuidade e sempre
deve acontecer no término do processo.
61
A avaliação que precisamos é aliada do aluno e do professor, pois não se avalia
para punir, classificar, selecionar, nem excluir, mas para incluir todos no processo de
"aprendizagem".
Então, vamos explorar dois instrumentos de avaliação que não são muito
comuns nas escolas, como parte do processo avaliativo, e refletir sobre seus usos. O
portfólio, pouco utilizado na educação e quando utilizado, muitas vezes, possui um
propósito contrário do seu objetivo, fazendo com que ele seja um instrumento de coleta
de notas. Já a autoavaliação, muitas vezes, concentra-se em um bate-papo no final do
processo.
62
NOTA
O que é um portfólio?
Villas Boas (2007) define como uma pasta grande e fina em que artistas
e fotógrafos iniciantes colocam amostras de suas produções, as quais
apresentam a qualidade e a abrangência do seu trabalho, de modo a ser
apreciado por especialistas e professores. Essa rica fonte de informações
permite aos críticos e aos próprios artistas iniciantes, compreenderem
o processo de aprendizagem e oferecem sugestões que encorajam sua
continuidade. Em educação, o portfólio apresenta várias possibilidades,
uma delas é a sua construção pelo aluno. Nesse caso é uma coleção de
suas produções, as quais apresentam as evidências de sua aprendizagem.
É organizado pelo próprio aluno para que ele e o professor, em conjunto,
possam acompanhar o seu processo. É um procedimento de avaliação
que permite aos alunos participar da formulação dos objetivos de sua
aprendizagem e avaliar o seu progresso. Eles são, portanto, participantes
ativos, selecionando amostras do seu trabalho para incluí-las no portfólio.
O uso do portfólio apresenta muitas vantagens e Villas Boas (2004) aponta uma
lista de benefícios se for utilizado na educação:
• Em primeiro lugar, ele beneficia qualquer tipo de aluno: o desinibido, o tímido, o mais
ou menos esforçado, o que gosta de trabalhar em grupo e o que não gosta, o mais
ou menos motivado e interessado pelo trabalho escolar, o que gosta de escrever, e
até o que não gosta, porque ele pode passar a gostar, assim como pode apresentar
suas produções usando outras linguagens. Desenvolvido dessa maneira, o portfó-
lio permite ao aluno acompanhar o desenvolvimento do seu trabalho, de modo a
conhecer suas potencialidades e aspectos que precisam ser melhorados. A grande
contribuição é essa: o aluno não estuda para passar de ano, mas para aprender.
• Em segundo lugar, os alunos declaram sua identidade, isto é, mostram-se não ape-
nas como alunos, mas como sujeitos dispostos a aprender. Sua história de vida
e suas experiências são valorizadas. Ninguém tem motivos para se esconder, se
retrair. O trabalho de todos é encorajado e orientado para o alcance dos objetivos
propostos, que são do conhecimento de todos.
• Em terceiro lugar, o aluno percebe que o trabalho escolar lhe pertence, portanto, ca-
be-lhe assumir responsabilidade pela sua execução. Ele não está fazendo algo para
agradar seus pais e professores, mas em seu próprio benefício. Assim, a atividade
passa a ser prazerosa.
• Em quarto lugar, como o portfólio motiva o aluno a buscar formas diferentes de
aprender, as suas produções revelam suas capacidades e potencialidades, as quais
poderão ser apreciadas por várias pessoas. Amplia-se, assim, a concepção de ava-
liação, que deixa de ter a função de "verificar" a aprendizagem para incorporar a de
possibilitar ao aluno e até mesmo incentivá-lo a mostrar seu progresso e prepará-lo
para comunicar o que aprendeu e a defender suas posições.
63
• Em quinto lugar, o portfólio permite que os pais acompanhem detalhadamente o
trabalho de seus filhos na escola, levando em conta os princípios orientadores des-
se tipo de trabalho, nada melhor que os próprios alunos apresentarem o portfólio
a seus pais, em um encontro dirigido por eles. Geralmente os pais participam de
encontros organizados e conduzidos por professores, sem a presença dos filhos.
Como o portfólio imprime dinâmica diferente ao trabalho escolar, dando chance ao
aluno de ser o autor da sua aprendizagem, também no momento de comunicar aos
pais o progresso que vem alcançando ele é quem deve estar à frente. Desses en-
contros participam os pais do aluno, ele próprio e os professores. O aluno apresenta
o portfólio e, em seguida, os participantes discutem o trabalho realizado, em termos
dos avanços e dos novos encaminhamentos.
De acordo com Villas Boas (2004), esse é um dos momentos mais importantes
da avaliação, pois possibilita ao aluno compartilhar sua aprendizagem com diferentes
sujeitos, passando a valorizar o seu processo de construção. Outro fator que deve
ser elencado é que durante a apresentação o aluno é estimulado a falar sobre o seu
trabalho e, consequentemente, ele passa a comparar suas produções com as anteriores,
discutindo sobre seu desenvolvimento e analisando sua trajetória.
64
Os princípios de construção, reflexão e criatividade abrem caminhos para a
autoavaliação. A autoavaliação é um componente importante, pois o aluno está per-
manentemente avaliando seu progresso. A construção, reflexão e criatividade condu-
zem-nos a desenvolvermos a capacidade de avaliar seu desempenho com o objetivo
de avançar sempre. É uma excelente oportunidade para isso, pois os alunos têm em
mãos todas as atividades e produções, podendo compará-las aos critérios de avaliação
formulados por eles e pelo professor. Por meio dela os alunos reconhecem suas poten-
cialidades e fragilidades. Cabe ao professor estar atento e disponível para ajudá-los a
observar seu crescimento intelectual e registrar suas análises.
E, por fim, outro norteador do trabalho com portfólio é a autonomia, pois o aluno
passa a perceber que pode trabalhar de maneira independente e que não precisa ficar
sempre aguardando a orientação do professor, estimulando-os a terem iniciativas.
65
• Defina quais serão as formas de participação dos alunos. Embora o
portfólio envolva a cooperação dos alunos na tomada de decisões,
isso não significa que cada aluno possa ter um programa individual,
por isso é relevante esclarecer que se trata de cooperação e corres-
ponsabilidade. Discuta e negocie com eles, enfatizando, se necessá
rio, a necessidade de atendimento a normas e critérios da escola.
• Variedade do trabalho: os trabalhos dos alunos devem envolver uma
variedade de formas (escrito, oral, pictórico), uma variedade de tipos
(descritivo, expressivo, analítico, reflexivo) e uma variedade de for
mas de organização dos alunos (individual, em grupos, em dupla).
• Variedade de métodos de avaliação: comentários escritos do
professor, autoavaliação, avaliação por pares, diários de atividades,
apreciações pessoais dos alunos.
• Providencie feedbacks constantes aos alunos durante todo o ano
escolar, para ajudá-los a identificar seus acertos e a superarem
suas dificuldades.
4.2 AUTOAVALIAÇÃO
A avaliação formativa possui alguns instrumentos de avaliação que favorecem o
sucesso e uma aprendizagem significativa, uma delas é a autoavaliação, utilizada como
um mecanismo, auxiliando alunos e, principalmente, os professores, que articulam e
são responsáveis por dar um direcionamento no currículo.
NOTA
O que é autoavaliação?
66
Nas definições de Hernández (2000) e Santos (2008), a autoavaliação contribui
para o progresso da aprendizagem de uma maneira ativa dos sujeitos envolvidos no
processo. Como o próprio nome já diz, a autoavaliação, possibilita que o aluno passe a
refletir sobre seu processo pedagógico e seus resultados, conscientizando sobre seus
avanços, limites e necessidades. Este autojulgamento sobre seu desempenho, gera
um ambiente mais participativo, democrático e divide a responsabilidade da avaliação
com os alunos, "Nesse processo, cabe ao aluno, através de autoquestionamento,
perceber e atribuir significado a tudo o que produziu, possibilitando uma ‘apropriação-
criação de sentido’” (SANTOS, 2008, p. 6).
67
A prática é importante para que eles possam ir aperfeiçoando suas análises sobre
sua vida acadêmica, e aprendam a receber sugestões e críticas desde a escola, mas
vindas com um propósito de formação integral. Para isso é necessário que o professor
desenvolva um roteiro de questões sobre as quais possam se orientar abrangendo
vários aspectos: de cunho científico, pessoal e até ao relacionamento em grupo.
[...] Para tanto, ele precisa considerar que o aluno está acostumado
a “fazer o que lhe mandam”, a “cumprir ordens”, e que não há uma
cultura de autoavaliação e de autorreflexão em nossa sociedade. Esta
forma de avaliação, portanto, deverá ser introduzida pouco a pouco,
começando por solicitar aos alunos que se manifestem sobre o que
mais apreciaram em uma tarefa, como se sentem com relação a ela,
a descreverem como a realizaram e se a fariam diferente se fossem
realizá-la novamente. Nesse processo, cabe ao professor a tarefa de
habituá-los a refletir sobre o trabalho que fizeram, a analisá-lo em
relação a determinados padrões; a se questionar sobre outras formas
de fazer o mesmo trabalho, sempre tendo o cuidado de respeitá-los
cultural e intelectualmente, porque a autoavaliação visa enriquecer a
autoestima do aluno (GREGO, 2013, p. 13).
Para finalizar, mencionamos que essa ferramenta pode ser utilizada em qualquer
nível do ensino, desde a educação infantil até em cursos de formação continuada, mas
sempre deve ser planejada e orientada. Dessa forma, essa prática proporciona aos
alunos o desenvolvimento da autorresponsabilidade e espírito crítico com relações a
vários aspectos do seu desenvolvimento.
• Deixar o aluno dar a sua própria nota: é algo que nada acrescenta à aprendizagem.
Ainda que seja adequado esclarecer os conceitos que justificam a nota, estabelecê-la
é tarefa que cabe apenas ao professor.
• Fazer perguntas genéricas: questões como "O que você aprendeu nesse
semestre?" e "Como avalia sua aprendizagem?" dão margem a respostas vagas.
Quanto mais específicas as indagações, mais o estudante consegue se focar no que
precisa avançar naquele momento.
• Dizer os resultados sem comentar: não adianta arquivar tudo sem se deter no que
foi observado pelos alunos. A autoavaliação serve como uma maneira de promover a
autorregulação. Especialmente no início, o professor tem um papel essencial nesse
processo, debatendo as reflexões de cada estudante e mostrando as dificuldades que
passaram despercebidas.
68
• Deixar tudo para o fim do bimestre: definir um único momento para o aluno pensar
em toda a sua caminhada torna a reflexão mais superficial. É preciso identificar quais
pontos têm de ser melhorados e abordá-los de maneira objetiva ao longo de todo o
aprendizado.
• Exposição dos conteúdos: deixar claro para a turma o que será avaliado é essencial
para que ela tome conhecimento do que aprenderá. É preciso deixar a proposta de
trabalho explícita e, durante as aulas, retomar o que foi apresentado.
• Definição dos critérios: o ideal é que os itens avaliados sejam escolhidos pelos
alunos e pelo professor. Isso pode ser feito em um debate após a parte expositiva, em
que o docente considera as opiniões da classe e aponta outros aspectos não notados.
• Dupla reflexão: primeiro, o aluno reflete para preencher sua parte. Num segundo
momento, o professor o avalia seguindo os mesmos critérios. As divergências e os
pontos fracos indicados por ambos devem ser considerados no encaminhamento de
melhorias.
• Plano de ação: com as duas avaliações feitas, cabe ao professor propor o debate de
alternativas para que o aluno avance. Não adianta querer resolver todos os problemas
de uma vez: é preciso focar o essencial e retomar o que ficou faltando nas aulas
seguintes.
69
FIGURA 2 – MODELO DE AUTOAVALIAÇÃO
70
Existem muitos modelos de fichas e de critérios selecionados para a realização da
autoavaliação, geralmente elas serão desenvolvidas a partir da identidade do professor e
da atividade desenvolvida em sala de aula. Uma etapa é essencial: o encaminhamento de
ações para ajudá-los a progredir em seus pontos fracos apresentados na avaliação. Cabe
ao professor criar estratégias futuras de revisão de conteúdo ou indicações para que os
alunos se aperfeiçoem em suas dificuldades, assumindo, assim, uma proposta formativa.
Perrenoud (1999) afirma que a avaliação formativa contribui para que os alunos
aprendam a se desenvolver e participar ativamente do processo de aprendizagem. Ela se
destaca pelos resultados da regulação do processo de ensino aprendizagem, por meio
de intervenções, desde as observações e todo o processo que orienta a intervenção.
71
As crianças com dificuldade de aprendizagem potencialmente transitórias são
classificadas como: privação cultural, criança hiperativa e distúrbios emocionais reativos
de conduta.
Assencio (2007) recomenda que os professores não devem temer oferecer uma
classificação superior, se isso for importante emocionalmente ao aluno e afirma que as
exclusões devem ser evitadas diante da classe.
72
Deficiência visual (DV): cerca de 1% da população brasileira tem cegueira e
3% baixa visão. O professor possui papel fundamental para esses alunos e capacitar-se
é extremamente necessário. A sala de aula também deve estar preparada para receber
esses alunos, com a finalidade de proporcionar uma boa locomoção com segurança,
os livros didáticos devem ter tons mais contrastantes, com tipos ampliados, melhor
iluminação no ambiente, materiais de suporte como lupas, telescópios, régua, entre
outros. Caso essas tentativas, não sejam suficientes deve-se procurar o sistema Braile,
que necessitará de trabalho de estimulação contínua, abrangendo não só aspectos
acadêmicos, mas também o emocional, o psicomotor, o cognitivo e o social.
O professor que lida com alunos com deficiência auditiva que necessitam
de recursos visuais ou da língua brasileira de sinais para se comunicar, tem que ter
conhecimento dessa língua e da função de um intérprete na sala de aula. Tem que
buscar capacitações para elaborar as adaptações já previstas nos documentos oficiais
de Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) e nos documentos de Adaptações
Curriculares em Ação (1999), que vieram fortalecer o suporte técnico-científico aos
profissionais da educação de uma forma geral.
73
• Variação normal da inteligência: em que se observa atraso no desenvolvimento
neuropsicomotor (DNPM), estando o aluno capacitado a concluir a quarta série
primária do ensino regular e desenvolver vida adulta independente, em funções
simples no mercado de trabalho.
• DM leve: o aluno apresenta DNPM discreto, tem dificuldade no aprendizado
precocemente percebida, necessita de apoio pedagógico específico, mas é
alfabetizável e tem independência quanto a autocuidados.
• DM moderado: o aluno apresenta-se com atraso no DNPM precoce e acentuado,
necessita de acompanhamento multidisciplinar para adquirir atividades básicas da
vida diária, dificilmente é alfabetizável, não consegue adquirir independência e é
produtivo em oficinas obrigadas.
• DM severo: o aluno só consegue a independência quanto a autocuidados em escolas
especializadas e necessita de supervisão frequente.
• DM profundo: a aquisição de marcha independente é pouco provável, sendo o aluno
dependente em todos os aspectos do desenvolvimento. O trabalho tem que ser
individualizado.
74
ter deficiência mental, crises epiléticas e reações comportamentais alteradas. O
prognóstico escolar é reservado, tendo elas importantes dificuldades em aprender e
se manter em sala de aula. Sua inclusão é difícil e podem ser cadeirantes.
• Diparesia: deficiência de movimentação, controle e força muscular dos membros
inferiores, consequente à lesão ou malformação que atinge área subcortical dos
hemisférios cerebrais, especialmente observadas em crianças pré-termo (ou
prematuras). A inteligência e comportamento costumam ser normais, crises
epiléticas são raras. O prognóstico escolar é bom e elas costumam não ter
dificuldades mentais em aprender, mas as condições motoras são ruins. Podem ser
cadeirantes, com coordenação motora muito prejudicada, mas de fácil inclusão, por
apresentar boa capacitação mental.
• Coreoatetosia: deficiência em que os movimentos involuntários são altamente
prejudicados pela presença de movimentos parasitas, transformando o ato de andar,
sentar ou falar em algo totalmente anárquico, com gestos abruptos, presença de
caretas, falta de equilíbrio, quedas e com a postura bizarra. A inteligência pode não
estar comprometida, propiciando um prognóstico escolar bom. Em boa parte destas
crianças, além do aspecto motor, podemos constatar deficiência mental e epilepsia,
tornando a sua inclusão bastante prejudicada (SZPIGEL, 2014).
Os alunos são diferentes uns dos outros, assim, a escola terá propósitos distintos
na vida de cada ser. Cabe a cada professor perceber que em algumas situações ela é
um veículo de socialização e interação social dos pais que buscam incluir seus filhos no
cotidiano social.
75
LEITURA
COMPLEMENTAR
INSTRUMENTOS PARA A AVALIAÇÃO PROCESSUAL EM ARTE
Marisa Szpigel
"Os alunos foram avaliados durante todo o processo". Esta afirmação é feita de
maneira frequente pelos professores, mas pode soar vaga a área de Arte, bem como para
as outras áreas de conhecimento. Apesar disso, refletir sobre a avaliação processual é
muito importante e nos ajuda a observar o lugar que o processo de criação ocupa no
ensino e na aprendizagem dessa disciplina.
76
época. A escola de livre expressão deu um passo importante para aproximar os campos
da arte e educação. Iniciou-se um movimento presente até hoje nas concepções
contemporâneas de ensino de arte.
Nos anos 1980, educadores passaram a entender que a arte tem conteúdos e
objetivos próprios. Impulsionados pelos movimentos empenhados em devolver a arte
para a arte-educação, defendiam que é possível entrelaçar as manifestações artísticas
dos estudantes à de diferentes grupos sociais e épocas diversas. Desse modo, acredi-
tavam que o processo criador também pode ser alimentado por referências externas.
Para esse movimento, a aula de Arte não se restringe mais ao fazer. Por isso,
propõe articular três eixos de aprendizagem para garantir a prática artística: produção,
apreciação e contextualização (contexto de produção e recepção).
Nem sempre é fácil conectá-los, mesmo quando a arte é encarada como área
de conhecimento. Essa tarefa exige planejar propostas que dialoguem com o percurso
de aprendizagem dos alunos e potencializem as conexões entre produção, apreciação e
contextualização. Também precisamos assegurar que as propostas de produção deixem
de ter papel secundário, ficando a serviço de outras aprendizagens, como ocorreu por
muito tempo. Por fim, elas devem ser flexíveis o suficiente para favorecer diferentes
construções, de acordo com os processos individuais e da turma.
77
Um caminho possível é fazer as seguintes interrogações: quais ações levaram
até os produtos finais? Como se dá a relação com eles? Como nos relacionamos com
eles? Como se chegou a concretizações? O que mais se pode aprender a partir deles?
Trazem à tona aquela dimensão subjetiva que é tão difícil de abarcar, mas que
contribui para o aprofundamento dos estudantes na relação com a linguagem da arte. As
artes efêmeras - dança, música e artes cênicas - não geram produtos palpáveis. Concre-
tizam-se no próprio espetáculo, que pode ocorrer na sala de aula e nos corredores da es-
cola, entre outros espaços. Podem também ser repetidos muitas vezes, como um hábito.
78
culos passam a funcionar como instrumentos potentes de autorregulação, favorecendo
as pausas para os alunos refletirem sobre aprendizagens; conquistas e dificuldades;
aspectos que podem ser melhorados e aprofundados; indicações de novas pesquisas. A
turma analisa o processo e o professor ganha a oportunidade de fazer abordagens sig-
nificativas, complexas e, por essa razão, possível de serem planejadas com frequência.
A criação em arte mistura o fazer e o pensar. Por isso, é tão importante reservar
tempo para que os estudantes analisem seu percurso verbalmente, em situações orais
e escritas. Também é preciso propor que os estudantes olhem para o próprio processo
e teorizem sobre suas produções. A pesquisa em arte deve ser complementada com
a pesquisa sobre arte. Para esse exercício de metalinguagem, é fundamental eleger
instrumentos que estejam de acordo com o processo criador das diferentes linguagens.
Embora investiguem processos relativos às artes visuais, o portfólio e o caderno do
artista também podem ser ajustados para serem instrumentos pertinentes à avaliação
de aprendizagem nas outras linguagens.
Assim como Almeida Salles, Hernandez defende o portfólio utilizado nas artes
visuais como instrumento para avaliação. O autor defende que "o portfólio oferece aos
alunos e professores uma oportunidade para refletir sobre o progresso dos estudantes
79
em sua compreensão da realidade, ao mesmo tempo em que possibilita introduzir
mudanças durante o desenvolvimento do programa de ensino. Além disso, permite aos
professores considerarem o trabalho dos alunos não de uma forma pontual e isolada,
como acontece com as provas avaliadoras tradicionais, mas sim no contexto do ensino
e como atividade complexa baseada em elementos e momentos de aprendizagem que
se encontram relacionados".
80
expressar-se, pode mostrar nele próprio o que palavras não abarcam. Movimentos
criados individualmente podem ser experimentados por todos.
FONTE: SZPIGEL, M. Instrumentos para a avaliação processual em arte. Nova Escola, São Paulo, 1° abr.
2014. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/1783/instrumentos-para-a-avaliacao-processual-
-em-arte. Acesso em: 18 set. 2019.
81
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• Avaliação diagnóstica é um momento de fôlego. Ela pode ser utilizada para dois
propósitos, emancipação, repensando estratégias e realizando autorreflexão ou
frenadora, somente atribuindo a nota.
• Toda avaliação, seja ela, objetiva ou dissertativa, mapa conceitual, atividade prática,
deve ter objetivos bem claros e, consequentemente, critérios, direcionando aos
alunos à finalidade da aprendizagem.
• A avaliação de uma criança que apresenta aspectos distintos dos demais deve
receber do professor uma atenção especial. O professor, frente a uma criança com
desempenho escolar inadequado, deve, em primeiro lugar, entender os motivos,
observando se as causas são transitórias ou quando as causas são permanentes.
82
AUTOATIVIDADE
1 Realize uma entrevista com um professor de arte com o seguinte tema: Práticas
de sucesso. Peça que o professor detalhe com máximas informações qual foi a
experiência mais bem-sucedida em suas aulas. Dessa forma, ele vai expor seu plano
de aula e você vai analisar qual a visão, o papel do ensino de arte e a função da
AVALIAÇÃO para aquele professor.
83
84
UNIDADE 2 —
PLANEJAMENTO: A
ENGRENAGEM DA EDUCAÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
85
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
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86
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
PLANEJAMENTO EDUCACIONAL: A CHAVE
PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos a questão do planejamento. Vamos refletir sobre o
que é planejar, sobre os tipos de planejamento e quais planejamentos utilizamos no
contexto escolar. Inicialmente, refletiremos a respeito do que é planejar. Segundo o
dicionário Michaelis (c2020, s.p.), planejar significa: “1- Ato de planejar; 2- Organização
de uma tarefa com a utilização de métodos apropriados; 3- Determinação de ações para
atingir as metas estipuladas por uma empresa, órgão do governo” etc.
Bons estudos!
87
2 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL
Compreendemos que o ato de planejar consiste em organizar aquilo que
desejamos realizar, mas, para isso, é necessário utilizar meios e/ou estratégias para que
possamos alcançar os objetivos. Segundo Moretto (2014), precisamos levar em conta
alguns fatores necessários para organizar um planejamento, como: onde pretendemos
chegar; quais agentes serão envolvidos nesse planejamento; quais estratégias mais
favoráveis serão utilizadas para que possamos alcançar o que desejamos; quais recursos
serão mais adequados para a realização do planejamento e como será a avaliação desse
processo educacional. É necessário determinar com muita clareza o que realmente
pretendemos alcançar e, por isso, é de extrema importância planejar com eficiência as
ações para que seja possível alcançar o desejado e chegar ao sucesso.
Para Libâneo (1994, p. 22), "o planejamento tem grande importância por tratar-
se de um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente,
articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social". Acerca do
planejamento, podemos compreender que:
FIGURA 1 – PLANEJAMENTO
88
Compreendemos, então, que todo planejamento tem um ponto inicial, porém,
durante o percurso, pode haver algumas surpresas e, por isso, devemos ter um bom
planejamento para saber o que fazer com o imprevisível.
DICAS
Caro acadêmico, leia o livro Planejamento: planejando a educação para o desenvolvimento
de competências, do autor Vasco Pedro Moretto, de 2014. A obra traz como proposta um
planejamento de ações pedagógicas, que busca instruir o aluno a construir os próprios
conhecimentos a partir da elaboração dos saberes sociais, que é mediada pelo professor.
89
2.1 PLANEJAMENTO ESCOLAR
Dessa maneira, devemos levar em conta que o planejamento não acontece e não
ocorre sozinho, precisa de alguns agentes muito importantes para o desenvolvimento
do processo educacional, como professores, alunos e saberes construídos pelas
experiências sociais, históricos, artísticos e culturais.
De acordo com Moretto (2014), a relação que ocorre entre professor e aluno
depende de dois fatos: a formação do professor e o contexto de vida dos alunos. A
formação do professor deve ir além da interiorização e da apropriação de conteúdos
programáticos que serão abordados no processo de ensino.
Cada aluno é diferente na maneira de agir, ser e pensar, também será diferente
nos modos de aprender. Lembrando que, para Moretto (2014), os traços de personalidades
tanto dos alunos como dos educadores são considerados elementos fundamentais na
relação professor-aluno. O autor supracitado complementa que o planejamento das
ações pedagógicas deve levar em conta a singularidade de cada aluno e o modelo
pedagógico que será adotado no processo de ensino.
90
As palavras no contexto escolar têm sentidos elaborados, socializados e
legitimados, quando os professores as compreendem durante sua prática pedagógica,
para que, assim, sejam eficientes e eficazes.
Dessa maneira, Moretto (2014, p. 15) exemplifica que “numa sala de aula, o
professor tem 40 estudantes, ele tem 40 indivíduos (unidades da espécie humana) e
40 sujeitos, cada um com sua história única e diferenciada”. Desse modo, caracterizar
o aluno como sujeito no contexto escolar, segundo o autor, refere-se ao indivíduo com
sua própria história, inserido numa história referente a um grupo social.
Durkheim complementa que uma classe, ou seja, uma sala de aula pode ser
considerada uma pequena sociedade e que não deve ser conduzida como uma simples
aglomeração de indivíduos, pois as crianças dessa classe pensam, agem e sentem
de maneira diferente do que quando estão sós. Numa sala de aula ocorrem diversos
sentimentos e sensações, como “fenômenos de contágios, de desmoralização, de
superexcitação mútua e efervescência salutar” (FILLOUX, 2010, p. 27-28), por isso é
necessário o professor ter um bom planejamento, para saber mediar as situações que
possam ocorrer durante o desenvolvimento do processo de ensino e de aprendizagem.
91
A escola, por sua vez, adquire uma função com foco bem definido,
à luz do conceito de saberes [...], ou seja, cabe a ela o dever de
selecionar, dentre os saberes socialmente construídos, aqueles que
constituem as bases com vistas à introdução dos novos membros da
sociedade no contexto da cultura e dos saberes de seu próprio grupo
social. Esta introdução tem dois objetivos: o primeiro é selecionar
os conteúdos e apresentá-los para que seus membros entendam
os valores e os saberes que identificam seu contexto. O segundo é
desenvolver a capacidade crítica para entender o que seria melhor
para as novas gerações e ser um agente transformador de sua
própria sociedade (MORETTO, 2014, p. 47).
92
É também, no contexto escolar, que as interações ocorrem, promovendo a
construção intersubjetiva de conhecimento entre os alunos. Para que essa construção
de conhecimento ocorra durante o processo de ensino e de aprendizagem, é necessário
que o professor e a escola tenham um bom planejamento. Por isso é importante que
o professor construa um planejamento, enfatizando o que deve nortear as ações
educativas no contexto escolar.
FONTE: <https://www.newsit.gr/wp-content/uploads/2017n/07/19021depy.jpg>.
Acesso em: 11 maio 2020
93
Para o bom desenvolvimento do contexto escolar, é necessário planejar as
ações num bom planejamento, que deve ser um eixo norteador de todo processo
educativo. Nesse momento, abordaremos o Projeto Político-Pedagógico, conhecido
também como PPP, considerado um dos documentos escolares mais importantes para
todo o desenvolvimento do processo educativo.
94
Para iniciar uma discussão acerca de como elaborar o PPP, faz-se necessário
seguir alguns passos:
Podemos verificar que construir um PPP não é uma tarefa tão simples, é preciso
saber exatamente o que se pretende, por isso é importante ter bem estabelecido cada
passo. Saber o que é um projeto; saber a função de um projeto político numa escola; e
saber a finalidade de um projeto pedagógico para uma escola. Então, vamos entender
cada etapa?
Desse modo, o projeto é político por envolver questões sociais, bem como não
deixa de ser pedagógico por envolver questões didáticas-pedagógicas.
95
QUADRO 1 – CARÁTER POLÍTICO E PEDAGÓGICO DO PPP
1) A função social da educação e da escola em uma sociedade cada vez mais ex-
cludente, compreendendo que a educação, como campo de mediações sociais,
define-se sempre por seu caráter intencional e político. Pode, assim, contradito-
riamente, tanto reforçar, manter, reproduzir formas de dominação e de exclusão
como constituir-se em espaço emancipatório, de construção de um novo projeto
social, que atenda às necessidades da maioria da população.
2) A necessária organicidade entre o PPP e os anseios da comunidade escolar, im-
plicando a efetiva participação de todos em todos os seus momentos (elaboração,
implementação, acompanhamento, avaliação). Dessa perspectiva, o projeto se ex-
pressa como uma totalidade (presente-futuro), englobando todas as dimensões
da vida escolar; não se reduz a uma somatória de planos ou de sugestões, não é
transposição ou cópia de projetos elaborados em outras realidades escolares; não é
documento “esquecido em gavetas”.
96
soluções devem surgir do coletivo, através do diagnóstico preciso,
de objetivos a serem alcançados, da discussão, da tomada de
decisão, da execução e da avaliação coletivas. O processo é tão
ou mais importante do que o plano de ação e as propostas que
resultam desse processo (GADOTTI, 2000, p. 1).
97
Trata-se de aprender para conhecer e transformar o mundo em que
se vive. Não se trata, pois, de ensinar e aprender para se adaptar ao
mundo que aí está, mas de capacitar os alunos para que, de modo
crítico, escolham o mundo e as circunstâncias em que querem viver
(PROJETO VIVENCIAL, s.d., p. 9).
98
• Definição dos objetivos: com o diagnóstico bem definido e delimitado, agora é
a vez de estabelecer quais os objetivos que a escola pretende alcançar a curto,
médio e longo prazo. De acordo com Veiga (2000, p. 23), “a escola persegue
finalidades”, ou seja, a escola precisa ter seus objetivos bem definidos. É necessário
decidir, coletivamente, o que se quer reforçar dentro da escola e como detalhar as
finalidades para se atingir a almejada cidadania (VEIGA, 2000, p. 23). Ter clareza
e bem definido os objetivos possibilita também à comunidade escolar definir suas
futuras ações pedagógicas, administrativas e democráticas.
• Organização geral da escola: esse passo é muito importante e requer bastan-
te atenção da comunidade escolar, durante a sua elaboração. Esse passo é refe-
rente à definição da matriz curricular; da carga horária de todos os componentes
do currículo; do calendário escolar, estabelecendo os dias letivos, os eventos de
cunho artístico científico cultural, formação continuada dos professores, entre ou-
tros; deve estabelecer também a formação das classes e agrupamentos dos alunos;
verificar o sistema de avaliação do rendimento escolar, prevendo as recuperações e
reposições de aulas; estabelecer a adaptação de alunos vindos de outras escolas;
e a forma de como será compensada as possíveis ausências, tanto de professores
como de alunos.
• Elaboração do plano de curso: o plano de curso é um documento de trabalho
amplo e serve como um referencial no processo de ensino e de aprendizagem, pois é
por meio desse documento que desencadearão todas as atividades durante um ano
letivo, que assim, almejam alcançar. O plano de curso serve como um planejamento de
trabalho que envolve todas as atividades determinadas de uma disciplina, incluindo
as dependências do ano anterior, tornando o ensino mais eficiente e contínuo.
• Diretrizes pedagógicas da educação: devem ser determinados os conteúdos, bem
como os métodos de ensino. Pode-se adequar os conteúdos à realidade local, ao uso
das tecnologias na educação. Esse item é fundamental no PPP, pois a escola pode
exercer a liberdade na construção de um currículo significativo para a realidade escolar.
FONTE: <https://blog.wpensar.com.br/wp-content/uploads/2017/05/wpensar_blog_post_ppp-04.png>.
Acesso em: 11 maio 2020.
99
A imagem apresenta a relação que deve acorrer numa instituição escolar, em
que todos, compreendendo o que é preconizado no PPP da escola, com o plano de
ação, família, a escola e o processo de ensino e de aprendizagem, na construção e de-
senvolvimento efetivo do PPP, no processo educacional dos alunos, para que estes se
tornam cidadãos críticos, criativos e construtores dos seus conhecimentos, desenvol-
vendo, assim, as suas competências.
4 PLANEJAMENTO CURRICULAR
O planejamento curricular corresponde a um dos níveis do planejamento escolar.
Cabe a esse documento a organização de toda a vida escolar, já que o currículo não
apenas compreende os conteúdos referentes à área de conhecimento escolar, mas
também a própria dinâmica da ação escolar, integrando os elementos que interagem
com a consecução de seus objetivos. Dessa maneira, a proposta curricular inclui as
áreas de estudo, as diferentes metodologias, os conteúdos e o processo de avaliação.
Segundo Gadotti (2000), proposta e projeto são duas coisas totalmente diferentes,
pois o Projeto Político-Pedagógico é considerado amplo e pode abarcar diferentes
perspectivas acerca da escola, ele está permanentemente em construção. Já as pro-
postas têm as dimensões mais limitadas, visto que servem para várias áreas de en-
sino e períodos.
ATENÇÃO
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter
normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens
essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e
modalidades da Educação Básica.
100
O planejamento curricular tem por objetivo orientar o trabalho do professor em
suas práticas pedagógicas, durante o processo de ensino e de aprendizagem. Esse
planejamento corresponde ao:
Essa mediação entre o sujeito com o mundo que o rodeia, necessita de uma
revisão acerca do conceito e do papel referente ao currículo escolar em suas três fontes:
sociológica, epistemológica e psicopedagógica. Vamos conhecer essas três fontes,
acerca do currículo, conforme postula Tyler (2010):
101
QUADRO 2 – FONTES REFERENTE AO CURRÍCULO ESCOLAR
Ralph Tyler, que iniciou a teorização do currículo na década de 1950 nos seus
estudos, elaborou quatro princípios que se constituem de um modelo de currículo
por objetivos que influenciou por vários séculos até a atualidade (KLIEBARD, 2011). Os
princípios elaborados por Tyler são:
102
FIGURA 5 – FASES DA ELABORAÇÃO DO CURRÍCULO
O princípio de Tyler (2010) corresponde aos Estudos dos próprios alunos, fonte
de objetivos educacionais. Nesse princípio, Tyler (2010) menciona que a educação é um
processo que contribui para alterar o pensamento, sentimentos e ações que manifesta
nas pessoas, ou seja, por meio dos objetivos educacionais. “Os estudos acerca dos alu-
nos só sugerem objetivos quando a informação a respeito deles é comparada a alguns
padrões ou normas aceitáveis” (TYLER, 2010, p. 4). Essa diferença chama-se carência.
103
Uma das problemáticas da educação é a canalização dos meios pelos quais as
necessidades são satisfeitas e que ocorra mudança comportamental, ou seja, a carência
está sendo avaliada e os organismos não ficam submetidos a tensões contínuas. Prescott
(1999 apud TYLER, 2010) argumenta que há três tipos de necessidades para pesquisar
quando envolve o estudo dos alunos: as necessidades físicas, sociais e integrativas.
Com interesse pelos alunos com base nos objetivos, Tyler (2010) ressalta
que a educação é considerada um processo ativo, que envolve esforços ativos dos
próprios alunos, pois quando esses interesses são desejáveis, eles podem fornecer o
ponto de partida de uma educação eficaz e eficiente, porém, quando são considerados
indesejáveis, limitados, inadequados, indicam falhas que precisam ser superadas para
que os educandos recebam uma eficiente educação.
104
Tyler (2010) aborda que a formulação adequada de uma filosofia educacional
incluirá as respostas a diversas questões importantes no desenvolvimento do processo
educacional. Para Tyler (2010, p. 5), “a essência de uma filosofia procura definir a natureza
de uma sociedade bem estruturada”, ou seja, é por meio de uma filosofia educacional
bem estruturada que se indica valores considerados satisfatórios e eficazes para uma
sociedade, porque se uma sociedade democrática possui, como base, uma filosofia
educacional, terá como ênfase valores democráticos.
O currículo pode ser considerado como um elo entre a teoria da educação com
a prática escolar, pois é um “instrumento que possibilita necessidades, interesses,
pretensões e a perspectivas da escola em um conjunto de escolhas, ações, ênfases
e omissões” (TYLER, 2010, p. 8). A escola é o lugar que pode desenvolver capacidade
nos alunos, bem como adequar sua maneira de ensinar, selecionar os conteúdos de
modo a contribuírem para as diversas vivências do contexto cultural para o universo
que envolve os alunos.
5 PLANEJAMENTO DE ENSINO
Conhecemos anteriormente a importância que o currículo tem para o contexto
escolar, ele precisa que esteja bem delimitado, com objetivos bem definidos e possíveis de
alcançar, bem como uma boa estrutura organizacional planejada, para que o desenvolvi-
mento educacional da escola seja possível, em diversos momentos durante um ano letivo.
105
O planejamento de ensino ou didático abarca diretamente os professores, pois
segundo Fusari (1992), o planejamento é um processo que envolve a atuação direta dos
professores acerca do cotidiano de sua prática pedagógica, pois direciona para todas as
ações e situações que possa ocorrer durante o processo de ensino e de aprendizagem,
incluindo também a interação entre os professores e seus alunos.
106
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
107
AUTOATIVIDADE
1 O planejamento escolar é a organização necessária para que uma escola funcione e
caminhe saudável, rumo aos seus objetivos. Há mais de uma maneira de elaborar um
planejamento escolar. Planejamento escolar é um termo abrangente que se refere
à estruturação das atividades, decisões e tarefas em uma escola. Qualquer coisa que
aconteça em uma instituição de ensino, deve estar devidamente organizada como
parte de um planejamento escolar geral. Acerca do planejamento educacional e pla-
nejamento escolar, elabore um quadro síntese, pontuando as características.
FONTE: <https://blog.wpensar.com.br/gestao-escolar/
o-que-e-planejamento-escolar-participativo-e-
estrategico/#targetText=Planejamento%20escolar%20
%C3%A9%20um%20termo,de%20um%20planejamento%20
escolar%20geral>. Acesso em: 2 out. 2019.
Planejamento educacional:
Planejamento escolar:
FONTE: <https://www.somospar.com.br/saiba-o-que-e-o-
projeto-politico-pedagogico/>. Acesso em: 11 maio 2020.
108
3 De acordo com Luckesi (2006, p. 112), “o planejamento curricular é uma tarefa
multidisciplinar que tem por objetivo a organização de um sistema de relações lógicas
e psicológicas, dentro de um ou vários campos de conhecimento, de tal modo que se
favoreça, ao máximo, o processo ensino-aprendizagem”. É dessa forma que é feita a
previsão de todas as atividades que o educando realiza sob a orientação da escola
para atingir os fins da educação. Partindo desse pressuposto, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) V – F – V – F.
b) ( ) V – V – V – F.
c) ( ) F – V – F – V.
d) ( ) F – F – F – V.
109
110
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
PLANEJAMENTO E OBJETIVOS: PEÇAS
IMPORTANTES DA EDUCAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, estudaremos a elaboração do planejamento de ensino, suas
características, bem como a importância da elaboração dos objetivos; conheceremos o
que são os objetivos educacionais, os objetivos específicos e os gerais.
Vamos lá?
Vamos conhecê-los!
111
2.1 PLANO DE ENSINO
O plano de ensino é um roteiro organizado das unidades didáticas a serem
objeto de estudo de uma disciplina durante um ano ou semestre letivo, dependendo de
como a escola organiza a seriação de suas turmas.
112
a) Tendo em mente sua concepção de educação e de escola, seu posicionamento com
relação aos objetivos sociais e pedagógicos do ensino e, ainda, seu conhecimento
específico com relação à disciplina que leciona, o professor começa a elaborar o
programa. Para tanto, deve consultar o programa oficial da matéria, o livro didático
escolhido e outros materiais de consulta.
b) Dividem-se os conteúdos da série em questão em unidades didáticas (semelhante
aos capítulos de um livro), subdivididas em tópicos. Este detalhamento deve levar em
conta o nível dos alunos, as condições concretas do desenvolvimento das aulas, os
objetivos gerais da disciplina, a continuidade do programa em relação à série anterior
e ao tempo disponível.
c) Feito isso, o professor fará uma última checagem para verificar se as unidades
formam um todo homogêneo e lógico; se as unidades contêm, de fato, o conteúdo
básico da disciplina; se o tempo planejado é realista; se os tópicos de cada unidade
possibilitam, realmente, a compreensão da ideia central; se os tópicos podem ser
transformados em tarefas de estudo para os alunos e em objetivos de conhecimentos
e habilidades (objetivos específicos).
113
2.1.3 Desenvolvimento metodológico do plano de ensino
Esse componente, como propõe Libâneo (2008), o autor que nos guia nessa
reflexão, dará vida aos objetivos e conteúdos. Antecipa o que professores e alunos farão
no decorrer de uma ou diversas aulas. Os conteúdos e objetivos elaborados pelo profes-
sor devem contribuir para o desenvolvimento intelectual dos alunos, através de tarefas
e atividades que exijam a atividade mental e prática. Segundo Libâneo (2008, p. 159):
114
3 PLANO DE AULA
O plano de aula é um detalhamento do plano de ensino, no qual os tópicos
previstos são sistematizados e especificados, tendo em vista uma situação didática real.
É a descrição do que será desenvolvido em um dia letivo, detalhando-se as atividades
a serem desenvolvidas por alunos e professor. De acordo com Haydt (2000), ao planejar
uma aula, o professor:
Muitos são os modelos utilizados para a confecção dos planos de aula, mas
acreditamos que, qualquer que seja o modelo adotado pelo professor, pelo menos
quatro componentes são indispensáveis:
115
QUADRO 5 – MODELO DE PLANO DE AULA
3 Objetivos específicos
Escrever pontualmente aquilo que você quer e entende ser importante que seus alunos
aprendam, habilidades que devem ser desenvolvidas. Consulte a proposta pedagógica
da escola, a proposta pedagógica do município
4 Conteúdo programático
Listar os conteúdos.
5 Metodologia
Como fazer? Descrever os métodos que serão utilizados nas aulas para trabalhar os
conteúdos de forma a atingir os objetivos propostos. Use como suporte o professor na
escola-campo e os professores de estágio.
6 Avaliação
Descrever a forma que você avaliará os alunos para saber se eles compreenderam
os conteúdos trabalhados. Quais instrumentos avaliativos você utilizará. Quantas
avaliações serão aplicadas.
7 Bibliografia
Listar as fontes bibliográficas que você consultou para preparar suas aulas.
FONTE: <https://www.soescola.com/2017/09/modelo-de-ficha-para-plano-de-aula-2.html>. Acesso em:
12 maio 2020.
Precisamos estar atentos e refletir acerca de questões como: que tipo de mundo
quer ajudar a construir? Para que tipo de cidadão quer este mundo? Quais as possíveis
contribuições da escola? Parafraseando Freire (2001), diríamos que a educação não
muda a sociedade, mas ela muda as pessoas e as pessoas mudam a sociedade.
117
5 OBJETIVOS EDUCACIONAIS
Toda ação pedagógica realizada no contexto escolar atua diretamente no
desenvolvimento individual e social dos alunos, contribuindo para apropriação
dos conhecimentos e experiências acumuladas pelas demais gerações. Podemos
compreender que toda ação docente está direcionada para alcançar necessariamente
os objetivos delimitados, por meio de uma ação intencional e sistemática.
Para que eles possam perceber como o conteúdo está sendo conduzido e o
porquê está sendo estudado. Por meio dessa situação, é reforçado o verdadeiro papel
dos objetivos no processo de ensino e de aprendizagem, pois estabelece uma relação
com o que e como fazer.
Podemos compreender então, que entorno dos objetivos é que está estruturado
todo o trabalho do professor, pois a definição dos objetivos sistemáticos e precisos
contribui para o desenvolvimento de toda a aprendizagem dos alunos, bem como de
toda a organização que estiver para tornar uma aprendizagem agradável e significativa.
Segundo Freitas et al. (2009, p. 14), “[...] o planejamento didático é uma sucessão
de etapas que começa com a definição dos objetivos, passa pela definição dos conteúdos
e dos métodos, pela execução do planejado e finalmente pela avaliação do estudante”.
118
Na educação, a delimitação dos objetivos de aprendizagem postula-se a
estruturação de maneira consciente, o processo educacional de modo a proporcionar
mudanças de pensamento, ações e condutas (FERRAZ; BELHOT, 2010).
Para Ferraz e Belhot (2010), a definição dos objetivos deve ser clara e bem
estruturada, pois considerando a aquisição de conhecimento e de competências
adequados ao perfil dos alunos, direcionará todo o desenvolvimento do processo de
ensino para a escolha adequada de estratégias, métodos, bem como a delimitação dos
conteúdos específicos e do processo avaliativo, que resulta num processo de ensino e
de aprendizagem efetiva, duradoura e significativa.
119
QUADRO 6 – DOMÍNIO ESPECÍFICO DO DESENVOLVIMENTO
Apesar dos três domínios terem sido apresentados juntos, o mais utilizado e
conhecido é o domínio cognitivo, pois muitos educadores se apoiam nesse domínio
para elaborar seu planejamento educacional, que envolve os objetivos, as estratégias e
os sistemas avaliativos (FERRAZ; BELHOT, 2010).
120
QUADRO 7 – VANTAGEM DE UTILIZAR A TAXONOMIA
Segundo Bloom (1956 apud FERRAZ; BELHOT, 2010), muitas pessoas reconhecem
que o modo de aprender difere de uma pessoa para a outra, porém por muito tempo, acredita-
va-se que o motivo pelo qual certa porcentagem dos alunos aprendia, era devido a fatores rela-
cionados a situações diversas, existentes fora do contexto escolar e que, se todos os alunos ti-
vessem a mesma condição de aprendizagem, todos aprenderiam com a mesma competência.
O autor supracitado argumenta ainda que, em seus estudos com sua equipe de
pesquisadores, constataram que “nas mesmas condições de ensino (desconsiderando
as variáveis externas ao ambiente educacional) todos os alunos aprendiam, mas se
diferenciavam em relação ao nível de profundidade e abstração do conhecimento
adquirido” (FERRZ; BELHOT, 2010, p. 423).
Bloom (1956 apud FERRAZ; BELHOT, 2010) aponta que essa diferença está rela-
cionada às características das estratégias que seriam utilizadas, bem como pela organiza-
ção dos processos de aprendizagem referente ao estímulo no desenvolvimento cognitivo.
121
FIGURA 6 – TAXONOMIA DE BLOOM
De acordo com Ferraz e Belhot (2010), acerca do exemplo anterior que apre-
senta a estrutura mais conhecida da Taxonomia de Bloom, referente às seis categorias
(conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação), na verdade abor-
dam que é um pouco mais complexa, pois é dividida em subcategorias com o objetivo
de direcionar a definição dos objetivos, assim como de esclarecer os limites entre eles.
Categorias Descrição
Definição: habilidade de lembrar informações e conteúdos previamente abor-
dados como fatos, datas, palavras, teorias, métodos, classificações, lugares,
regras, critérios, procedimentos etc. A habilidade pode envolver lembrar uma
significativa quantidade de informação ou fatos específicos. O objetivo prin-
cipal desta categoria nível é trazer à consciência esses conhecimentos.
Subcategorias: 1.1 conhecimento específico: conhecimento de terminologia; co-
nhecimento de tendências e sequências; 1.2 conhecimento de formas e significa-
1 Conhecimento dos relacionados às especificidades do conteúdo: conhecimento de convenção;
conhecimento de tendência e sequência; conhecimento de classificação e catego-
ria; conhecimento de critério; conhecimento de metodologia; e 1.3 conhecimento
universal e abstração relacionado a um determinado campo de conhecimento: co-
nhecimento de princípios e generalizações; conhecimento de teorias e estruturas.
Verbos: enumerar, definir, descrever, identificar, denominar, listar, nomear, com-
binar, realçar, apontar, relembrar, recordar, relacionar, reproduzir, solucionar, de-
clarar, distinguir, rotular, memorizar, ordenar e reconhecer.
Definição: habilidade de compreender e dar significado ao conteúdo. Essa
habilidade pode ser demonstrada por meio da tradução do conteúdo com-
preendido para uma nova forma (oral, escrita, diagramas etc.) ou contexto.
2 Compreensão
Nessa categoria, encontra-se a capacidade de entender a informação ou
fato, de captar seu significado e de utilizá-la em contextos diferentes.
Subcategorias: 2.1 translação; 2.2 interpretação e 2.3 extrapolação.
122
Verbos: alterar, construir, converter, decodificar, defender, definir, descrever,
distinguir, discriminar, estimar, explicar, generalizar, dar exemplos, ilustrar,
inferir, reformular, prever, reescrever, resolver, resumir, classificar, discutir,
identificar, interpretar, reconhecer, redefinir, selecionar, situar e traduzir.
Definição: habilidade de usar informações, métodos e conteúdos aprendidos
em novas situações concretas. Isso pode incluir aplicações de regras, méto-
dos, modelos, conceitos, princípios, leis e teorias.
3 Aplicação Verbos: aplicar, alterar, programar, demonstrar, desenvolver, descobrir, dra-
matizar, empregar, ilustrar, interpretar, manipular, modificar, operacionalizar,
organizar, prever, preparar, produzir, relatar, resolver, transferir, usar, cons-
truir, esboçar, escolher, escrever, operar e praticar.
Definição: habilidade de subdividir o conteúdo em partes menores com a fi-
nalidade de entender a estrutura final. Essa habilidade pode incluir a iden-
tificação das partes, análise de relacionamento entre as partes e reconhe-
cimento dos princípios organizacionais envolvidos. Identificar partes e suas
inter-relações. Nesse ponto é necessário não apenas ter compreendido o
conteúdo, mas também a estrutura do objeto de estudo.
4 Análise
Subcategorias: análise de elementos; análise de relacionamentos; e análise
de princípios organizacionais.
Verbos: analisar, reduzir, classificar, comparar, contrastar, determinar, dedu-
zir, diagramar, distinguir, diferenciar, identificar, ilustrar, apontar, inferir, rela-
cionar, selecionar, separar, subdividir, calcular, discriminar, examinar, experi-
mentar, testar, esquematizar e questionar.
Definição: habilidade de agregar e juntar partes com a finalidade de criar um
novo todo. Essa habilidade envolve a produção de uma comunicação única
(tema ou discurso), um plano de operações (propostas de pesquisas) ou
um conjunto de relações abstratas (esquema para classificar informações).
Combinar partes não organizadas para formar um “todo”.
Subcategorias: 5.1 produção de uma comunicação original; 5.2 produção de
5 Síntese
um plano ou propostas de um conjunto de operações; e 5.3 derivação de um
conjunto de relacionamentos abstratos.
Verbos: categorizar, combinar, compilar, compor, conceber, construir, criar,
desenhar, elaborar, estabelecer, explicar, formular, generalizar, inventar, modificar,
organizar, originar, planejar, propor, reorganizar, relacionar, revisar, reescrever,
resumir, sistematizar, escrever, desenvolver, estruturar, montar e projetar.
Definição: habilidade de julgar o valor do material (proposta, pesquisa, projeto)
para um propósito específico. O julgamento é baseado em critérios bem definidos
que podem ser externos (relevância) ou internos (organização) e podem ser
fornecidos ou conjuntamente identificados. Julgar o valor do conhecimento.
6 Avaliação Subcategorias: 6.1 avaliação em termos de evidências internas; e 6.2
julgamento em termos de critérios externos.
Verbos: avaliar, averiguar, escolher, comparar, concluir, contrastar, criticar, decidir,
defender, discriminar, explicar, interpretar, justificar, relatar, resolver, resumir,
apoiar, validar, escrever um review sobre detectar, estimar, julgar e selecionar.
FONTE: Ferraz e Belhot (2010, p. 426)
123
De acordo com Ferraz e Belhot (2010), com a inserção da tecnologia no campo
educacional, era necessário realizar uma reavaliação e/ou uma releitura na pesquisa
original de Bloom para avaliação da necessidade de adaptações.
Essa foi a discussão que o grupo realizou acerca do verbo-substantivo, bem como
a preocupação com relação à observação da prática educacional de como os professores
elaboram seus objetivos específicos e gerais das disciplinas (FERRAZ; BELHOT, 2010).
Dessa maneira, começaram a perceber que mudanças seriam necessárias a se realizar
a partir da taxonomia original. Ferraz e Belhot (2010) mencionam que o primeiro ponto
analisado foi justamente a questão do verbo e sua associação direta com o objetivo
cognitivo, com a avaliação do objetivo e desenvolvimento das competências.
124
QUADRO 9 – MUDANÇAS NA SUBCATEGORIA CONHECIMENTO NO DOMÍNIO COGNITIVO DA TAXONOMIA DE BLOOM
125
5.1 DIMENSÃO DO CONHECIMENTO
A primeira dimensão a ser abordada foi a do conhecimento, que segundo Ferraz e
Belhot (2010), na taxonomia original, a categoria do conhecimento envolvia: a) habilidade de
lembrar especificidades e generalidades de métodos, procedimentos, padrões e instruções; e
b) habilidade de achar, no problema proposto, sinais, dicas, pequenas informações que efetiva-
mente tragam à consciência o aprendizado prévio adquirido, ou seja, conhecimento é o que é
lembrado. Essa observação na nova taxonomia auxiliou a nova equipe a dividir o conhecimento
em dois tipos: o conhecimento como processo e o conhecimento como conteúdo assimilado.
126
• Os aspectos verbais utilizados na categoria Conhecimento foram
mantidos, mas esta foi renomeada para lembrar; compreensão foi
renomeada para entender; e aplicação, análise, síntese e avaliação,
foram alteradas para a forma verbal aplicar, analisar, sintetizar e criar,
por expressarem melhor a ação pretendida e serem condizentes com
o que se espera de resultado a determinado estímulo de instrução.
• As categorias avaliação e síntese (avaliar e criar) foram trocadas
de lugar.
• Os nomes das subcategorias existentes foram alterados para
verbos no gerúndio.
127
Devido ao fato de que alguns conteúdos podem ser mais fáceis de serem
assimilados a partir do estímulo, pois depois de aplicá-lo é possível ser explicado. A nova
estrutura ficou dessa maneira:
Essa figura, conforme postula Ferraz e Belhot (2010), possibilita uma melhor
estruturação dos objetivos educacionais, ao mesmo tempo em que auxilia os educadores
na elaboração do planejamento, na escolha de estratégias e tecnologias educacionais.
6 OBJETIVOS EDUCACIONAIS
Toda e qualquer atividade humana consciente é movida por objetivos, ou seja,
organizamos nossa vida por meio de planejamento, e somente planejamos porque
estabelecemos metas e ou objetivos. Em qualquer ramo de atividade profissional e
mesmo na nossa vida cotidiana estamos constantemente formulando objetivos, ainda
que não os sistematizemos.
128
Os objetivos educacionais expressam um determinado propósito bem definido
referente ao desenvolvimento do potencial humano e que todos os indivíduos adquirem
para poder participar de modo consciente das transformações da sociedade. Para
Libâneo (1994), falar em educação significa afirmar que ela é parte importante das
relações que envolvem o social, a economia, a política e a cultura de cada sociedade.
• O que estudar: vai evidenciar o conteúdo que deve ser ensinado e que por isso é
apropriado pelos alunos.
• Para que estudar: explica a finalidade da aquisição do conteúdo.
129
participar das lutas sociais de transformação da sociedade. “O caráter pedagógico da
prática educativa está, precisamente, em explicitar fins e meios que orientem tarefas da
escola e do professor para aquela direção” (LIBÂNEO, 2008, p. 120). Para o mesmo autor,
a formulação dos objetivos educacionais tem, no mínimo, três referências:
Essas três referências estão interligadas e sujeitas a várias contradições, por isso
não podem ser tomadas isoladamente. Os conteúdos, por exemplo, estão em contradição
tanto com as possibilidades reais dos alunos em assimilá-los quanto com os interesses da
maioria dos membros da sociedade, uma vez que podem ser usados para disseminar a ide-
ologia dos grupos minoritários dominantes. Isso vale também para os valores e ideais pro-
clamados na legislação escolar, pois a legislação pode representar os interesses apenas da
classe dominante, na medida em que a representatividade da maioria não esteja garantida.
Por isso, quando da elaboração dos objetivos, precisamos ter uma postura crítica
em relação a essas três referências, levando em conta nossas opções sociopolíticas. É
importante avaliarmos em que medida os objetivos propostos pelo sistema oficial de
ensino atendem às necessidades e exigências da democratização política e social. Da
mesma forma, na seleção dos conteúdos temos que ter em mente as expectativas e
necessidades dos nossos alunos.
“Os professores que não tomam partido de forma consciente e crítica ante
as contradições sociais acabam repassando para a prática profissional valores, ideais,
concepções sobre a sociedade e sobre a criança contrários aos interesses da população
majoritária da sociedade” (LIBÂNEO, 2008, p. 121).
130
Esses profissionais, ao invés de ajudar os menos favorecidos a conquistar seus
direitos e transformar a sociedade no interesse da maioria, acabam por prestar a eles um
desserviço, contribuindo para que a exploração e a desigualdade se perpetuem. Por isso,
os objetivos educacionais são indispensáveis para o trabalho docente. Neles, o professor
pode explicitar seu posicionamento e suas convicções, e se sua opção sociopolítica for,
de fato, em favor da maioria, seu planejamento de ensino e suas aulas terão essa postura.
7 OBJETIVOS GERAIS
Os objetivos educacionais costumam ser divididos em duas modalidades, em
função dos seus níveis de abrangência: os objetivos gerais e os objetivos específicos.
Esses objetivos têm uma abrangência bastante geral e só podem ser atingidos
em médio ou longo prazo. É possível, ainda, de acordo com o professor Libâneo (2008),
perceber a existência de pelo menos três níveis de alcance para os objetivos gerais,
formulados, respectivamente:
É preciso que o professor forme uma atitude crítica com relação aos objetivos,
de forma a identificar os que convergem para a efetiva democratização escolar e os que
a cerceiam (LIBÂNEO, 2008).
131
O professor precisa conhecer os objetivos determinados pelo sistema educa-
cional, seja na relação com valores, ou o que é estabelecido nas organizações curricula-
res, bem como nos planos de ensino ou de curso, conforme Libâneo (1994, p. 123): “[...]
precisamos saber que concepção de homem e de sociedade caracteriza os documen-
tos oficiais, uma vez que expressam os interesses dominantes dos órgãos públicos”.
Manter uma atitude crítica não é tão simples assim. Se tivermos alguma clareza
em relação a que tipo de sociedade queremos construir e que tipos de opções políticas,
sociológicas e filosóficas nos são necessárias para ajudar a construir essa sociedade
almejada, agir com uma postura crítica fica menos difícil. Libâneo (2008) sugere seis
objetivos educacionais gerais, para auxiliar na formulação dos objetivos específicos e na
seleção dos conteúdos de ensino. Vamos conhecê-los:
• O primeiro sugere “[...] colocar a educação escolar no conjunto das lutas pela
democratização da sociedade” (LIBÂNEO, 2008, p. 124), ou seja, incluir a luta por
uma educação pública, gratuita e de qualidade no conjunto das demais lutas que
buscam a conquista de melhores condições materiais, culturais, políticas etc. Aliás,
uma educação de qualidade pode servir também como um instrumento para as
demais lutas, pois a compreensão da realidade é indispensável para que o aluno se
perceba como sujeito histórico, capaz de, com os demais, transformar a realidade.
• O segundo objetivo “[...] consiste em garantir a todas as crianças, sem nenhuma
discriminação de classe social, cor, religião ou sexo, uma sólida preparação cultural
e científica, através do ensino das matérias” (LIBÂNEO, 2008, p. 124). Faz muito
tempo que se diz que a educação é um direito de todos. Na prática, entretanto,
nem todos têm acesso igual e nem garantia de permanência no sistema escolar.
Construir uma escola que seja, de fato, “para todos” é um grande desafio, do qual
nenhum professor consciente pode fugir.
• O terceiro dos objetivos sugeridos é “[...] assegurar a todas as crianças o máximo de
desenvolvimento de suas potencialidades, tendo em vista auxiliá-las na superação
das desvantagens decorrentes das condições socioeconômicas desfavoráveis”
(LIBÂNEO, 2008, p. 123). Já faz tempo (desde a Escola Nova) que descobrimos que
todas as pessoas têm potencial para aprender, independente de suas condições
prévias. Infelizmente, a maneira como a educação escolar está organizada beneficia
muito mais aqueles cujas condições prévias são melhores. O objetivo de assegurar
a todos o desenvolvimento de suas potencialidades ainda está longe de sua
concretização, mas deve ser uma meta a ser seguida por todos nós, professores.
• O quarto objetivo “[...] é formar nos alunos a capacidade crítica e criativa com rela-
ção às matérias de ensino e à aplicação dos conhecimentos e habilidades em tare-
fas teóricas e práticas” (LIBÂNEO, 2008, p. 124). Temos proclamado aos quatro ven-
132
tos que queremos formar cidadãos críticos e criativos, mas será que sabemos o que
significa isso exatamente? Pensar criticamente é pensar para além da racionalidade
lógica, é conseguir enxergar nas entrelinhas, é perceber quando se está diante de
meias-verdades. Por isso, o ensino de conteúdos apenas não tornará nosso aluno
um pensador crítico. Isso só será possível com a vinculação dos conteúdos científi-
cos à realidade sociopolítica. A criatividade também não é aprendida pela assimila-
ção dos conteúdos. Ela é, acima de tudo, uma postura daqueles que desenvolveram
alguma autonomia intelectual. Essa autonomia intelectual não será construída nos
processos de memorização, mas nos processos de reflexão.
• O quinto objetivo “[...] visa atender à função educativa do ensino, ou seja, a
formação de convicções para a vida coletiva” (LIBÂNEO, 2008, p. 124). Os conteúdos
selecionados e os procedimentos de ensino adotados devem servir não só para
comunicar a ciência aos alunos, mas também para discutir princípios éticos e
valorativos. A vida em sociedade exige muito mais do que os saberes que as ciências
podem prover. É necessário que nossos alunos desenvolvam “[...] qualidades de
caráter, como a honradez, a dignidade, o respeito aos outros, a lealdade”. Somos
membros de uma sociedade pautada por valores que nem sempre servem a uma
convivência coletiva solidária. Estamos impregnados de ideias e condutas que
refletem a selvageria dos postulados do mercado neoliberal, imposto especialmente
por um processo de globalização excludente e extremamente competitivo e, muitas
vezes, nem nos damos conta disso. A escola não é a única responsável por isso e nem
será ela sozinha capaz de nos transformar em seres solidários e sem egoísmo. Nós,
professores, não precisamos, necessariamente, reproduzir a ideologia e os valores
dominantes. Podemos questioná-los e refletir acerca de outras possibilidades de
convívio social e, mais do que isso, podemos estimular a criação de ambientes de
convívio que representem alternativas ao modelo hegemônico.
• O sexto e último objetivo educacional geral proposto por Libâneo refere-se “[...] à
instituição de processos participativos, envolvendo todas as pessoas que direta
ou indiretamente se relacionam com a escola: diretor, coordenador de ensino,
professores, funcionários, alunos e pais” (LIBÂNEO, 2008, p. 124). Esse objetivo, de
certa forma, complementa o que discutimos no parágrafo anterior. Criar ambientes
alternativos, nos quais se exercite a democracia, a cooperação, a participação
efetiva, pode ser de grande valia para que os alunos percebam que outras formas
de gestão são possíveis e que podem ser estendidas a outras esferas da vida social,
inclusive com maior poder instituinte do que a escola.
133
8 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Os objetivos específicos são desdobramentos dos objetivos gerais e são defi-
nidos para uma ou mais aulas, para uma unidade ou até para uma disciplina. Eles particu-
larizam a compreensão referente às relações estabelecidas entre escola e sociedade, em
especial a matéria de ensino. Neles o professor expressa suas expectativas com relação
ao que os alunos devem desenvolver no decorrer do processo de ensino-aprendizagem.
“A cada matéria de ensino correspondem objetivos que expressam resultados a obter:
conhecimentos, habilidades e hábitos, atitudes e convicções, através dos quais se busca
o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas dos alunos” (LIBÂNEO, 2008, p. 126).
Para Piletti (1997), os objetivos podem referir-se aos domínios cognitivo, afetivo
e psicomotor. Vamos entender cada um deles:
134
Como podemos depreender dos exemplos anteriores, são os objetivos específicos
que orientam, de forma mais direta, o processo de ensino, pois fornecem elementos para
a escolha das atividades a serem desenvolvidas com os alunos e os fundamentos para
a realização das avaliações. De acordo com Haydt (2000), a elaboração dos objetivos
específicos ajuda o professor a:
A mesma autora nos oferece algumas sugestões para a definição dos objetivos
específicos, lembrando que a linguagem utilizada deve ser clara e precisa, evitando-se
palavras ambíguas e imprecisas:
135
vários resultados ao mesmo tempo. Essa forma de redação torna a compreensão
mais clara e, inclusive, a elaboração dos objetivos, mais fácil. A elaboração de
objetivos específicos, combinando várias expectativas ao mesmo tempo, além de
dificultar a sua redação, dificulta também o seu entendimento.
• Formular objetivos relevantes e úteis, isto é, que envolvam não apenas a
memorização de informações, mas também habilidades cognitivas e opera-
ções mentais superiores. Os objetivos específicos não devem enfatizar apenas
o conhecimento de determinados fatos ou fenômenos, mas focalizar os processos
mentais superiores, valorizando os mecanismos mais complexos de pensamento.
Turra, Encone e Satánna (1975) também abordam acerca dos objetivos gerais e
específicos. Referente aos objetivos gerais, as autoras mencionam que são complexos
e alcançáveis, porém num determinado período de tempo. Sua finalidade é esclarecer
e definir os diversos níveis de ensino; determinar a contribuição dos cursos e das
disciplinas para a educação. Já os objetivos específicos são considerados mais simples,
concretos e alcançáveis em curto prazo.
136
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
137
AUTOATIVIDADE
1 Os objetivos educacionais descrevem o que os alunos devem saber ou fazer ao final
de uma disciplina e que antes de ingressarem nela ainda não sabiam ou não eram
capazes. Esses objetivos estão relacionados ao desempenho dos alunos e não devem
ser abstratos ou específicos demais. Não devemos pensar nos objetivos educacionais
como uma lista de assuntos ou afazeres da disciplina e sim como habilidades e
competências a serem trabalhadas. Para traçar objetivos significativos, é necessário
considerar a viabilidade destes durante o processo de ensino-aprendizagem.
FONTE: <https://lsinformatica.com.br/objetivos-
educacionais/>. Acesso em: 12 maio 2020.
FONTE: <http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/
modules/galeria/detalhe.php?foto=
436&evento=10>. Acesso em: 12 maio 2020.
138
3 O planejamento de aula é fundamental para que se atinja êxito no processo de ensi-
no-aprendizagem. A sua ausência pode ter como consequência aulas monótonas e
desorganizadas, desencadeando o desinteresse dos alunos pelo conteúdo e tornan-
do as aulas desestimulantes. De acordo com Libâneo (1994, p. 221), “o planejamento
escolar é uma tarefa docente que inclui tanto a previsão das atividades didáticas em
termos de organização e coordenação em face dos objetivos propostos, quanto a sua
revisão e adequação no decorrer do processo de ensino”. Portanto, o planejamento
de aula é um instrumento essencial para o professor elaborar sua metodologia, con-
forme o objetivo a ser alcançado, tendo que ser criteriosamente adequado para as
diferentes turmas, havendo flexibilidade caso necessite de alterações. Partindo desse
pressuposto, elabore em plano de aula com o tema: Arte contemporânea.
PLANO DE AULA
CONTEÚDO
OBJETIVOS
GERAL:
ESPECÍFICO:
CONTEÚDO
METODOLOGIA
AVALIAÇÃO
139
140
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
PROCEDIMENTOS DE ENSINO: A PEÇA QUE
ATIVA A EDUCAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos acerca dos conteúdos de ensino, seus elementos,
critérios, bem como sua organização, métodos, procedimentos e técnicas de ensino.
Faremos uma reflexão sobre os conceitos de método e sua classificação.
Bons estudos!
2 CONTEÚDOS DE ENSINO
Vários são os conceitos que tentam dar conta de explicar o que são os conteúdos
de ensino. Alguns enfatizam apenas o conjunto de saberes das matérias de ensino a
serem aprendidos pelos alunos, outros enfatizam aspectos valorativos e experienciais.
141
Como se pode ver, o conceito de conteúdos de ensino de Libâneo é bastante am-
plo. De modo algum limita-se às matérias de ensino. Segundo ele, os conteúdos retratam
a experiência social da humanidade com relação a conhecimentos e modos de ação.
Certas habilidades e hábitos são comuns a todas as matérias, tais como: fazer
relações, diferenciar, comparar, sintetizar. Outros são específicos de determinadas
matérias, tais como: resolução de problemas matemáticos, observação de fenômenos
naturais, utilização de materiais ou equipamentos específicos.
142
estudo e ao trabalho, à convivência social, à responsabilidade pelos seus atos, à pre-
servação da natureza, ao civismo, aos aspectos humanos e sociais dos conhecimentos
científicos” (LIBÂNEO, 2008, p. 131). Tanto as atitudes e as convicções dependem dos
conhecimentos quantos estes influenciam na formação de atitudes e convicções.
a) Validade: deve haver uma relação clara e nítida entre os objetivos a serem alcan-
çados com o ensino e os conteúdos trabalhados. Por isso, os conteúdos devem ser
adequados e vinculados aos objetivos. Assim, em primeiro lugar, os conteúdos têm
validade quando estão inter-relacionados com os objetivos propostos pelo professor.
Em segundo lugar, quando há uma atualização dos conhecimentos do ponto de vista
científico, pois a ciência é muito dinâmica, é necessário que o educador mantenha
sua programação em sintonia com os conhecimentos mais recentes.
b) Utilidade: os conhecimentos são úteis quando podem ser aplicados em situações
novas, quando estão adequados às exigências e condições do meio em que os alunos
vivem, satisfazendo suas necessidades e expectativas; quando têm valor prático e os
ajudam a solucionar problemas da vida cotidiana.
c) Significação: um conteúdo é significativo e interessante para o aluno quando se
relaciona às experiências do seu dia a dia. Por isso, nós, professores, devemos sempre
relacionar os conhecimentos científicos aos conhecimentos e experiências prévias
dos alunos, criando uma ponte entre aquilo que eles já sabem e o desconhecido a ser
aprendido.
d) Adequação ao nível de desenvolvimento do aluno: os conteúdos selecionados
pelos professores devem respeitar o grau de maturidade intelectual dos alunos e o
seu nível de desenvolvimento cognitivo.
e) Flexibilidade: esse critério é atendido sempre que houver possibilidade de fazer
alterações nos conteúdos selecionados. Quando for possível, no decorrer do processo
de ensino-aprendizagem, acrescentar ou suprimir determinados tópicos, a fim de
adaptar os conteúdos às reais condições e necessidades dos alunos.
Ao realizar a seleção dos conteúdos, que pode ser considerado muito importante
e significativa, o professor deve atentar para que esses conteúdos contribuam para
atender às necessidades sociais e individuais dos estudantes, levando em consideração:
vinculação aos objetivos, validade, significância, utilidade, flexibilidade, adequação à
diversidade dos estudantes e adequação ao tempo.
143
2.3 A ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS
Os conteúdos de ensino não podem ser organizados de qualquer maneira.
Devem apresentar uma sequência lógica. Para Haydt (2000), a ordenação dos conteúdos
é feita em dois planos:
Ainda, segundo Haydt (2000), há três critérios básicos para orientar a organização
dos conteúdos: a continuidade, a sequência e a integração. Vamos compreender cada
um deles:
144
3 CONCEITO DE MÉTODO DE ENSINO
A palavra método, que etimologicamente vem do grego denominado de methodos
que significa META (objetivo, finalidade) e HODOS (caminho, intermediação), isto é, caminho
para se atingir um objetivo. Por sua vez, LOGIA quer dizer conhecimento, estudo (MANFRE-
DI, 1993). Dessa forma, podemos concluir que metodologia significa o estudo dos métodos,
dos caminhos que deve ser percorrido para alcançar uma meta e/ou um objetivo. Qual a
diferença entre métodos e metodologia? Vamos compreender essa diferença.
145
Por isso, antes de se constituir em procedimentos, os métodos de ensino
se fundamentam em métodos de reflexão e ação sobre a realidade educacional.
Fundamentam-se, também, sobre a lógica interna e a relação entre os fatos, objetos
e problemas específicos dos conteúdos de ensino, garantindo sempre a vinculação do
processo de conhecimento com a atividade prática.
146
Portanto, os procedimentos de ensino contribuem para que os alunos sejam
sensibilizados por meio dos seus esquemas operatórios de pensamento e, assim,
participem ativamente das experiências no processo de aprendizagem. A aprendizagem
é realizada por meio de conceitos, enunciados e definições, tendo como ponto inicial à
utilização de elementos importantes para o que se deseja ensinar.
147
As técnicas utilizadas durante a prática pedagógica na sala de aula pelos
professores contribuem para o desenvolvimento, para criar condições favoráveis à
aprendizagem. Por meio das técnicas de ensino, é possível possibilitar que os alunos
vivenciem o conteúdo da disciplina.
Na concepção de Veiga (2000), o professor não pode mais ser aquele apenas
com o conteúdo pronto para ensinar, deve ter uma didática diferenciada, sendo o
mediador do processo construtivo, intermediando o acesso do aluno à informação. Com
isso, suas técnicas devem ser constantemente aprimoradas para desenvolver diferentes
métodos e metodologias de ensino e, assim, atender às necessidades que vão surgindo.
148
FIGURA 8 – CLASSIFICAÇÕES PARA OS MÉTODOS DE ENSINO
estão fundamentados na
Métodos verbais tradicionais
epistemologia associacionista
FONTE: As autoras
Libâneo (2008) acerca dos métodos de ensino também propõe outra classifi-
cação, como: método de exposição pelo professor, método de trabalho independente,
método de elaboração conjunta, método de trabalho em grupo e atividades especiais.
Vamos conferir:
149
Método de exposição pelo professor
Exposição verbal
150
Como já dissemos, o método expositivo é largamente difundido na educação esco-
lar. É necessário, então, prestarmos atenção a alguns usos incorretos desse método, tais
como: conduzir os alunos a uma aprendizagem mecânica, na qual apenas memorizam e
decoram regras, fatos e definições, sem uma compreensão efetiva do assunto; usar lin-
guagem inadequada, distante da linguagem habitual dos alunos; usar palavras que não
pertencem ao vocabulário das crianças; apresentar noções que não têm conexão com os
conteúdos estudados anteriormente; expor a matéria sem antes despertar o interesse, a
concentração e a atenção dos alunos; expor a matéria sem a preocupação de atingir cada
aluno, mesmo quando se dirige à classe toda; exigir silêncio com intimidações e ameaças;
usar formas de avaliação que exijam respostas decoradas.
Esse método consiste em tarefas dirigidas e orientadas pelo professor, para que
os alunos as resolvam de forma mais ou menos independente. O seu uso pressupõe
que os alunos já tenham determinados conhecimentos sobre a matéria e conheçam
o método de resolução das tarefas. Também privilegia a atividade mental dos alunos,
desde que não se cometam muitos erros na preparação das atividades. As tarefas
devem levar o aluno a pensar, criar e não a repetir aquilo que o professor disse ou aquilo
que está no livro didático.
151
Para que o trabalho independente cumpra sua função didática, Libâneo (2008)
alerta que o professor precisa: dar tarefas claras, compreensíveis e adequadas, levan-
do em conta a capacidade de raciocínio dos alunos; assegurar condições de trabalho
(matérias, silêncio, local adequado); acompanhar de perto, aproveitar o resultado das
tarefas para toda a classe. Os alunos devem, por sua vez, saber precisamente o que
e como fazer, dominar as técnicas necessárias à efetivação da tarefa e desenvolver
atitudes de ajuda mútua.
Uma das formas mais comuns do trabalho independente é o estudo dirigido, que
pode ser feito individualmente ou em pequenos grupos. O estudo dirigido procura: desen-
volver habilidades e hábitos de trabalho independente; consolidar e sistematizar conheci-
mentos, habilidades e hábitos; possibilitar, a cada aluno, vencer dificuldades, resolvendo
as atividades; possibilitar o desenvolvimento da capacidade de trabalhar de forma livre e
criativa; possibilitar ao professor a observação das dificuldades e progressos de cada aluno.
Esse método é uma ótima maneira de proporcionar uma interação ativa entre
alunos e professor. Pode ser aplicado em diversos momentos do processo de ensino-
aprendizagem, desde a fase inicial, passando pela fase de sistematização, até a fase de
consolidação ou aplicação.
152
se obtenham respostas refletidas, pensadas, que relacionem fatos e fenômenos e que
avaliem criticamente determinada situação. Ainda que as respostas sejam incompletas
ou imaturas, ou que contenham apenas parte da verdade, a atitude do professor deve
ser positiva, evitando desencorajar a classe.
Cada grupo deve ter um coordenador, que poderá ser escolhido pelo grupo
ou indicado pelo professor. O coordenador deve garantir a participação de todos os
membros do grupo na realização das tarefas. É aconselhável, também, que alunos com
diferentes níveis de rendimento escolar participem de um mesmo grupo.
153
A técnica denominada PHILLIPS 6/6 é muito interessante, pois contribui para o
desenvolvimento da criticidade. Os alunos, formados por um grupo de 6, devem explanar
um tema proposto em 6 minutos. Sendo o tempo determinado, os alunos precisam focar
no tema, possibilitando, assim, o desenvolvimento da concentração e atenção. Confira!
154
Como usar a técnica: esta técnica consiste na divisão da classe em grupos de
seis alunos que discutem um assunto durante seis minutos. Serve para: coletar
informações do grupo sobre necessidades, interesses, pontos de vista e sugestões que
podem ser usadas no planejamento do ensino; mobilizar o grupo para a participação,
desde o início do trabalho; e possibilitar uma atitude de receptividade favorável à
aprendizagem. A técnica de Phillips 6-6 apresenta as seguintes vantagens: permite
um máximo de rendimento em um mínimo de tempo; torna possível a participação
de todos os alunos; possibilita um rápido consenso de grupo; evita o monopólio das
discussões por lideranças autocráticas; e auxilia os alunos mais tímidos porque a sua
participação se limita ao pequeno grupo.
Os alunos, por sua vez, terão de: organizar-se rapidamente em grupos de seis;
eleger o coordenador e o secretário-relator; marcar a hora inicial da discussão;
ler o assunto com atenção; manifestar, um de cada vez, sua posição em rela-
ção ao assunto proposto; restringir-se ao minuto de que dispõem para falar;
ouvir atentamente a contribuição do colega, para evitar repetições desnecessárias e
sempre prejudiciais à produção do grupo; reunir as ideias apresentadas, para formula-
rem uma conclusão; e contribuir para a elaboração da conclusão final. O tempo dispo-
nível para discussão, nesta técnica, pode apresentar um empecilho para o progresso do
aluno. Se for necessário, o professor poderá aumentar o tempo de duração da atividade.
155
QUADRO 15 – GRUPO DE COCHICHO
156
QUADRO 16 – TÉCNICA GV-GO
GV-GO
157
DICAS
Para conferir outras técnicas de ensino importantes para o processo de
ensinar e aprender, acesse o site: https://gmagela.wordpress.com/tecnicas-
de-ensino/.
5 ATIVIDADES ESPECIAIS
Libâneo (2008) denomina atividades especiais aquelas que complementam os
métodos de ensino. São exemplos: o estudo do meio, o jornal escolar, o museu, a assembleia
de alunos, a biblioteca, o teatro e a sala informatizada. Dentre as atividades especiais,
Libâneo (2008) destaca o estudo do meio.
O estudo do meio permite que o tema seja estudado na sua relação com os fatos
sociais e com o ambiente. A realização de um estudo do meio supõe algumas fases:
158
LEITURA
COMPLEMENTAR
O QUE ENSINAR EM ARTE
Nas últimas duas décadas, essa situação vem mudando nas escolas brasileiras.
Hoje, a tendência que guia a área é a chamada sociointeracionista, que prega a mistura de
produção, reflexão e apreciação de obras artísticas. É papel da escola ensinar a produção
histórica e social da arte e, ao mesmo tempo, garantir ao aluno a liberdade de imaginar e
edificar propostas artísticas pessoais ou grupais com base em intenções próprias.
159
original). É por isso que, além de desenhos pré-preparados, tantas crianças tenham
sido obrigadas ao longo dos tempos a apenas memorizar textos teatrais e partituras de
música para se apresentar em datas comemorativas – sem falar no treino exaustivo e
mecânico de habilidades manuais em atividades de tecelagem e bordado.
Alguns anos mais tarde, novas concepções foram sendo construídas, abrindo
espaço para a consolidação da perspectiva sociointeracionista, a mais indicada
pelos especialistas hoje por permitir que crianças e jovens não apenas conheçam
as manifestações culturais da humanidade e da sociedade em que estão inseridas,
mas também soltem a imaginação e desenvolvam a criatividade, utilizando todos os
equipamentos e ferramentas a sua disposição.
160
No Brasil, Ana Mae Barbosa formulou a metodologia da proposta triangular (ins-
pirada em ideias norte-americanas e inglesas, recuperou conteúdos e objetivos que ti-
nham sido abandonados pela escola espontaneísta). Ela mostrou que o professor deve-
ria usar o seguinte tripé em classe: o fazer artístico, a história da arte e a leitura de obras.
Reprodução e releitura
Mostrar uma obra de arte, discutir suas características e pedir que cada aluno
faça o mesmo desenho no caderno não é propor uma releitura. Isso é reprodução ou
cópia. Na releitura, parte-se de uma obra para criar outro trabalho (ou seja, o estudante
transforma e interpreta).
161
As quatro grandes linguagens artísticas: dança, artes visuais, teatro e música
162
Já a fase da reflexão é uma espécie de complemento da apreciação. A diferença é
sutil: ela tem lugar quando o estudante analisa o que viu e ouviu. Sabendo que aquele ob-
jeto artístico foi criado em determinado contexto e que faz parte de uma história, torna-se
capaz de entender os significados atribuídos a ele. Daí a importância das discussões em
classe (e da leitura de críticas e resenhas) para todos observarem que há outras maneiras
de entender a arte. Registros escritos também favorecem a expressão de ideias.
1816 – Durante o governo de dom João VI, chega ao Rio de Janeiro a Missão Artística
Francesa e é criada a Academia Imperial de Belas Artes. Seguindo modelos europeus, é
instalado oficialmente o ensino de Arte nas escolas.
1900 – Até o início do Século XX, o ensino do desenho é visto como uma preparação
para o trabalho em fábricas e serviços artesanais. São valorizados o traço, a repetição
de modelos e o desenho geométrico.
1922 – Apesar da efervescência das manifestações da Semana de Arte Moderna, o
ensino segue as tendências da escola tradicional, que defende a necessidade de copiar
modelos para treinar habilidades manuais.
1930 – O compositor Heitor Villa-Lobos, no governo de Getúlio Vargas, institui o
projeto de canto orfeônico nas escolas. São formados corais, que se desenvolvem pela
memorização de letras de músicas de caráter folclórico e cívico.
1935 – O escritor Mario de Andrade, então diretor do Departamento de Cultura do
município de São Paulo, promove um concurso de desenho para crianças com tema
livre. O ganhador recebe uma quantia em dinheiro.
1948 – É criada no Rio de Janeiro a primeira "Escolinha de Arte", com a intenção de
propor atividades para o aluno desenvolver a autoexpressão e a prática. Em 1971, chega
a 32 o número de instituições particulares desse tipo no país.
1960 – As experimentações que marcam a sociedade, como o movimento da bossa
nova, influenciam o ensino de Arte nas escolas de todo o país. É a época da tendência
da livre expressão se expandir pelas redes de ensino.
1971 – Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Educação
Artística (que inclui artes plásticas, educação musical e artes cênicas) passa a fazer
parte do currículo escolar do Ensino Fundamental e Médio.
1973 – Criação dos primeiros cursos de licenciatura em Arte, com dois anos de duração
e voltados à formação de professores capazes de lecionar música, teatro, artes visuais,
desenho, dança e desenho geométrico.
163
1989 – Desde 1982 desenvolvendo pesquisas sobre três ideias (fazer, ler imagens e
estudar a história da arte), Ana Mae Barbosa cria a proposta triangular, que inova ao
colocar obras como referência para os alunos.
1996 – A LDB passa a considerar a Arte como disciplina obrigatória da Educação
Básica. Os Parâmetros Curriculares Nacionais definem que ela é composta por quatro
linguagens: artes visuais, dança, música e teatro.
Tradicional: unânime na maneira de ensinar desde o fim do Século XIX até a década de
1950. Ainda está presente em muitas escolas.
Foco: aprendizado de técnicas e desenvolvimento de habilidades manuais, coordenação
motora e precisão de movimentos para o preparo de um produto final.
Estratégia de ensino: repetição de atividades, cópia de modelos e memorização. O
professor adota a postura de transmissor do conhecimento. Ao aluno, basta absorver
o que é ensinado sem espaço para a contestação. A turma era bem avaliada quando
conseguia reproduzir com rigor as obras de artistas consagrados.
Livre expressão: nasceu por volta de 1960 sob a influência das ideias do movimento
da Escola Nova.
Foco: o que importa não é o resultado, mas o processo e, principalmente, a experiência.
Há a valorização do desenvolvimento criador e da iniciativa do aluno durante as
atividades em classe
Estratégia de ensino: desenho livre e uso variado de materiais. Não há certo ou errado
na maneira de fazer de cada estudante. Ao professor, não cabe corrigir ou orientar os
trabalhos nem mesmo utilizar outras produções artísticas para influenciar a turma. A
ideia é que o estudante exponha suas inspirações internas.
Sociointeracionista: é a tendência atual para o ensino da disciplina. A ideia de
considerar a relação da cultura com os conhecimentos do aluno e as produções
artísticas surgiu na década de 1980.
Foco: favorecer a formação do aluno por meio do ensino das quatro linguagens de Arte:
dança, artes visuais, música e teatro.
Estratégia de ensino: a experiência do aluno e o saber trazido de fora da escola são
considerados importantes e o professor deve fazer a intermediação entre eles. O ensino
é baseado em três eixos interligados: produção (fazer e desenvolver um percurso de
criação), apreciação (interpretar obras artísticas) e reflexão sobre a arte (contextualizar
e pesquisar). Apesar dessa divisão, não deve haver uma ordem rígida ou uma priorização
desses elementos ao longo do ano letivo.
FONTE: SANTO MAURO, B. O que ensinar em Arte: o ensino da área se consolida nas escolas sobre o tripé
apreciação, produção e reflexão. Nova Escola, 1º de março, 2009. https://novaescola.org.br/conteu-
do/1509/o-que-ensinar-em-arte. Acesso em: 13 maio 2020.
164
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• Método de ensino é o caminho que o professor irá utilizar para apresentar aos alunos
o conteúdo de sua disciplina, pois método é a organização das ações a serem
desenvolvidas durante o planejamento de uma determinada disciplina.
165
AUTOATIVIDADE
1 Os conteúdos escolares podem assumir diferentes orientações, conforme as várias
teorias da educação que foram construídas historicamente. A importância de
organizar e selecionar os conteúdos é indiscutível. Alguns educadores acreditam que
a organização do conteúdo se constitui numa só unidade, em que teoria e prática se
fundem, ou seja, no fazer gera-se o saber. Outros procuram redefinir os conteúdos
a partir de um determinado ponto de vista da classe. Existem aqueles que colocam
a sistematização do conhecimento a partir de problemas postos pela prática social.
Disserte sobre o que são os conteúdos de ensino.
FONTE: <https://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-
docente/conteudos-escolares.htm>. Acesso em: 12 maio 2020.
FONTE: <https://ensinointerativo.com.br/os-metodos-de-
ensino-mais-eficientes-para-escolas/>. Acesso em: 12 maio
2020.
a) ( ) V – V – F.
b) ( ) F – V – F.
166
c) ( ) V – F – V.
d) ( ) F – F – V.
FONTE: <http://supervisaoriopreto.blogspot.com/2012/06/
procedimentos-de-ensino-procedimentos.html>. Acesso em:
12 maio 2020.
4 Durante uma aula, o professor pode utilizar várias técnicas como: aula expositiva,
leitura, recursos visuais, aula dialogada, entre outros. Os dados apresentam a
porcentagem do que aprendemos quando lemos, ouvimos, vemos, além das diferentes
combinações dessas técnicas. O gráfico permite refletir acerca da importância de
diversificar as técnicas e recursos didáticos no processo de ensino-aprendizagem.
Escolha uma técnica de ensino e explique como ela é utilizada durante o processo de
ensino e de aprendizagem.
10% lemos
20% ouvimos
30% vemos
50% vemos e
executamos
70% ouvidos e
discutimos
90% ouvimos, vemos
e executamos
167
168
UNIDADE 3 —
O PILAR DA EDUCAÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar
o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
169
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
Acesse o
QR Code abaixo:
170
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
O ENSINO DE ARTE AMPARADO PELA
LEGISLAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
A didática e as metodologias de ensino de arte sempre estiveram aliadas
ao trabalho teórico e prático do professor. Assim como as concepções de ensino,
estratégias, avaliações, técnicas e as maneiras de ensinar são fruto do que o professor
viveu e concebe como significativo, moldando seu propósito e perfil de educador.
171
Desde a Pré-história, o homem buscava, por meio da arte, sua identidade, de-
senvolver-se em sociedade e descobrir-se como ser humano. Ele realizava desenhos,
pinturas e impressões em rochas, expressando códigos, crenças, propriedade e relatan-
do cenas cotidianas.
O conceito “fruir arte” é muito disseminado entre os teóricos, mas você sabe o
que significa? Fruir arte vai além de conhecer e amar obra de arte, esse conceito se re-
fere a conhecer mais a fundo o artista que desenvolveu a obra, conhecer a si próprio e a
sua percepção sobre a obra e o mundo onde ela está inserida. “A arte é, por conseguinte,
uma maneira de despertar o indivíduo para que este dê maior atenção ao seu próprio
processo de sentir” (DUARTE JÚNIOR, 1988, p. 65). Por isso mencionamos que a arte
envolve vários aspectos relacionado à percepção, à emoção, à intuição e à sensibilidade.
Os professores de arte que proporcionam aos seus alunos o contato direto com
imagens, objetos artísticos e desenvolvem produções artísticas, esses contribuem para
momentos de criação e de expressão individuais e coletivas.
172
Afinal, qual a função da arte na escola? De acordo com pesquisas e reflexões
de autores d a área, o conhecimento artístico desenvolve a cognição de crianças e
adolescentes, proporcionando conhecimento e expressão, não apenas racional, mas
afetivos e emocionais. A função da arte na educação é essa, desenvolver as diferentes
inteligências (BARBOSA, 2001).
Isso fez com que a maioria dos professores não estivessem preparados para
trabalhar com as diferentes linguagens do ensino da arte, como a lei previa. Nessa
época, então, o ensino da arte voltou-se para uma aprendizagem reprodutiva, técnica e
de livre expressão dos alunos.
173
O movimento Arte-Educação permitiu que se ampliassem as discussões
sobre a valorização e o aprimoramento do professor, que reconhecia o
seu isolamento dentro da escola e a insuficiência de conhecimentos e
competência na área. As ideias e princípios que fundamentam a Arte-
Educação multiplicam-se no País por meio de encontros e eventos pro-
movidos por universidades, associações de arte- educadores, entidades
públicas e particulares, com o intuito de rever e propor novos andamen-
tos à ação educativa em Arte (BRASIL, 1997, p. 25).
174
2.1 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DE ARTE
(PCN – ARTE)
Foi no ano de 1996 que os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte (PCN-
Arte) foram divulgados pela primeira vez no Brasil, em uma versão preliminar para a
discussão entre os professores de Arte de todo o país. Esse documento foi um avanço
para a disciplina de arte, em que foram publicados, além de objetivos, conteúdos e
concepções que contribuíram para um ensino de arte significativo nas escolas.
Essa publicação foi essencial para unificar o ensino de arte no Brasil, pois de acor-
do com Ferraz e Fusari (2009), no momento da divulgação dos PCN, o ensino da arte no
Brasil encontrava-se em grande disparidade: enquanto algumas regiões apresentavam
propostas inovadoras e a valorização do ensino da arte, outras apresentavam falta de
clareza no currículo para o ensino, sendo que o profissional contratado para trabalhar
nessa área, não precisava de formação específica. Para Ferraz e Fusari (2009, p. 57), “os
Parâmetros Curriculares Nacionais foram propostos como diretrizes pedagógicas e consi-
derados um referencial importante para a educação escolar no país, por seu compromisso
de assegurar a democratização e um ensino de qualidade para todos os estudantes”.
175
Esse documento deve ser de conhecimento dos professores e da gestão escolar,
fazendo parte do cotidiano da prática pedagógica. Com isso, cabe aos PCN a tarefa de
rever objetivos, conteúdos, formas de encaminhamento das atividades, expectativas de
aprendizagem, maneiras de avaliar, além da orientação para a elaboração de um plane-
jamento de trabalho em sala de aula. Esse documento motiva os professores a pensar
sobre o ensino e a aprendizagem de arte em uma proposta formativa. A seguir, estuda-
remos a proposta desse documento, mediante as áreas definidas pela Educação Básica.
176
DICAS
Acesse o site e fique por dentro dos objetivos e de tudo que diz respeito ao
PCN de Arte, para o Ensino Fundamental. Disponível em: http://portal.mec.
gov.br/seb/arquivos/pdf/arte.pdf.
Os conteúdos gerais propostos pelos PCN de Arte para o Ensino Fundamental são:
177
Os PCN para o Ensino Médio foram publicados no ano 2000, bem depois dos
PCN para o Ensino Fundamental, após longas décadas de lutas e de sistematizações
para defender o papel da arte na escola. A disciplina de artes está contida na área
de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – Parte II – com as disciplinas de Língua
Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna, Educação Física e Informática.
DICAS
Para acessar o documento PCN-Arte para o Ensino Médio confira o link a
seguir: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/14_24.pdf
178
a) elaborações inventivas com materiais, técnicas e tecnologias disponíveis na
sociedade humana;
b) percepções e elaborações de ideias, de representações imaginativas com significados
das e sobre as realidades da natureza e das culturas;
c) expressões-sínteses de sentimentos, de emoções colhidas da experiência com o
mundo sociocultural.
179
O objetivo desse documento é o de explicitar diretrizes gerais para os professores
e gestores, para promover conhecimento na área artística aos adolescentes, jovens e
adultos, ou seja, a alunos de escolas do Ensino Médio.
DICAS
Caro acadêmico! Acesse a legislação sobre a Educação Brasileira e o
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, e obtenha mais
informações sobre o seu campo de trabalho. Acesse o site do MEC: www.
mec.gov.br.
180
Segundo o RCNEI (1998b, p. 89), “as artes visuais devem ser concebidas como
uma linguagem que tem estrutura e características próprias [...]”. Nesse sentido, a es-
cola deve ser um ambiente cujas atividades pedagógicas e as aprendizagens envolvam
o fazer artístico, a apresentação e a reflexão. Dessa forma, as aulas de artes não devem
assumir papel de coadjuvantes no processo educativo, ou seja, o papel de ilustração de
um conhecimento de outra área, nem deve ser uma atividade artística a fim de reforçar
os conteúdos estudados. Devemos ficar atentos para que professores da educação in-
fantil não façam uso das atividades artísticas somente como uma recompensa após um
estudo intenso de letras, números ou proponham pintura de um desenho com a finali-
dade de firmar um conteúdo estudado. É nessa fase que, muitas vezes, são distribuídas
atividades limitantes e que nada contribuem com o desenvolvimento da criatividade
das crianças, chamados de estereótipo.
181
As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem sentido a
sensações, sentimentos, pensamentos e realidade por meio da
organização de linhas, formas, pontos, tanto bidimensional como
tridimensional, além de volume, espaço, cor e brinquedos, bordados,
entalhes etc. O movimento, o equilíbrio, o ritmo, a harmonia, o
contraste, a continuidade, a proximidade e a semelhança são
atributos da criação artística. A integração entre os aspectos
sensíveis, afetivos, intuitivos, estéticos e cognitivos, assim como
a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter
significativo às Artes Visuais (BRASIL, 1998, p. 79).
Como você pôde perceber, esses três eixos norteiam o trabalho pedagógico da
área de artes, pois compreende o desenvolvimento cultural e histórico das crianças,
através do contato com a obra de arte e sua apreciação, a reflexão acerca do contexto
histórico em que a obra e o artista estavam inseridos, bem como o próprio fazer
artístico da criança.
Dentro dos três eixos norteadores para o trabalho com as artes visuais, este
referencial aponta os objetivos e os conteúdos específicos para esta linguagem,
novamente divididos por faixa etária de zero a três anos e de quatro a seis anos. Como
objetivos das Artes Visuais, segundo o RCNEI (BRASIL, 1998b), temos:
182
QUADRO 3 – OBJETIVOS DAS ARTES VISUAIS
183
A linguagem das artes visuais apontada no RCNEI (BRASIL,1998b) aborda, de
forma específica, o trabalho que vai desde os primeiros contados da criança com os
materiais como giz de cera, tinta e massas de modelar até a apreciação de imagens
propriamente dita. Enfoca o trabalho com o desenho, com a modelagem, com a
escultura, com a pintura de forma contextualizada entre arte, cultura e história, além de
valorizar os espaços e o repertório artístico, e a diversidade de materiais que deve ser
oferecida para as crianças.
DICAS
Você que deseja ler a BNCC na íntegra, acesse os sites:
• http://portal.mec.gov.br/;
• https://bit.ly/3Reyltw;
• http://basenacionalcomum.mec.gov.br/.
184
A BNCC está orientada pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam
à formação humana integral e à construção de uma sociedade justa, democrática e
inclusiva, como também fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da
Educação Básica (DCN) (BRASIL, 2013).
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prevê que o ensino de arte seja
ofertado em uma proposta de “educação integral”, cujo conhecimento em arte contribua
com o desenvolvimento dos alunos em vários aspectos. Referente à arte de uma maneira
global, o aluno deve trazer para sua realidade e refletir sobre várias questões do seu dia
a dia (BRASIL, 2019).
185
Nesse artigo, a LDB deixa claro dois conceitos decisivos para todo o
desenvolvimento da questão curricular no Brasil. O primeiro, já antecipado pela
Constituição, estabelece a relação entre o que é básico-comum e o que é diverso em
matéria curricular: as competências e diretrizes são comuns, os currículos são diversos.
O segundo se refere ao foco do currículo. Ao dizer que os conteúdos curriculares
estão a serviço do desenvolvimento de competências, a LDB orienta a definição das
aprendizagens essenciais e não apenas dos conteúdos mínimos a ser ensinados.
Essas são duas noções fundantes da BNCC. A relação entre o que é básico-
comum e o que é diverso é retomada no Artigo 26 da LDB, que determina que:
186
Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá direitos e
objetivos de aprendizagem do ensino médio, conforme diretrizes
do Conselho Nacional de Educação, nas seguintes áreas do
conhecimento [...]
Art. 36. § 1º A organização das áreas de que trata o caput e das
respectivas competências e habilidades será feita de acordo com
critérios estabelecidos em cada sistema de ensino (BRASIL, 2017).
Dessa forma, a BNCC deverá nortear a formulação dos currículos dos sistemas
das redes escolares de todo o Brasil, indicando as competências e habilidades que se
espera que todos os estudantes desenvolvam ao longo da escolaridade. O documento
está estruturado em:
187
FIGURA 1 – ESTRUTURA DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR
EDUCAÇÃO BÁSICA
COMPETÊNCIAS GERAIS
DA EDUCAÇÃO BÁSICA
ETAPAS
Direitos de
aprendizagem e
desenvolvimento
Competências Competências
específicas específicas
de área de área
Língua
Competências Portuguesa
Matemática
curriculares
Competências
específicas de
componente
Objetivos de
aprendizagem e Unidades Objetos de
Habilidades Habilidades
desenvolvimento temáticas conhecimento
FONTE: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/templates/bncc/images/a-base/img-1.jpg>.
Acesso em: 14 maio 2020
188
A estrutura da base está dividida em três etapas. A coluna verde, Figura 1, cor-
responde à Educação Infantil. Em seguida, a coluna azul compreende o Ensino Funda-
mental e, por fim, a coluna alaranjada, no Ensino Médio. Cada etapa possui suas espe-
cificidades e aborda as habilidades e competências que são utilizadas em cada fase.
IMPORTANTE
No documento da Base Nacional Comum Curricular podemos observar
uma sequência de letras e números, que consistem em um sequenciamento
das aprendizagens expresso por um código. Veja a seguir:
EF 02 CI 01
Foi com os estudos da LDB, de 1996, que a Educação Infantil começa a ganhar
espaço como uma etapa da Educação Básica.
189
Posteriormente, com a promulgação da LDB, em 1996, a Educação In-
fantil passa a ser parte integrante da Educação Básica, situando-se no
mesmo patamar que o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. E a partir
da modificação introduzida na LDB em 2006, que antecipou o acesso
ao Ensino Fundamental para os 6 anos de idade, a Educação Infantil
passa a atender a faixa etária de zero a 5 anos (BRASIL, 2019, p. 35).
190
QUADRO 5 – DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes
linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às
diferenças entre as pessoas.
Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferen-
tes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais,
seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corpo-
rais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais.
Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da
escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida
cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo
diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando.
Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transfor-
mações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela,
ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a
ciência e a tecnologia.
Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções,
sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de
diferentes linguagens.
Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem
positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados,
interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto
familiar e comunitário.
191
DICAS
Para você conhecer os campos de experiências e compreender a forma
como se organizam, acesse o documento da BNCC – Educação Infantil
– na íntegra, no link: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_
docman&view=download&alias=79601-anexo-texto-bncc-reexportado-pdf-
2&category_slug=dezembro-2017-pdf&Itemid=30192.
Esse documento também prevê que as crianças da Educação Infantil devem ser
divididas em diferentes grupos etários, que constituem etapas, objetivos de aprendi-
zagem e desenvolvimento. Dessa forma, a Educação Infantil está organizada em três
grupos por faixa etária, que correspondem às possibilidades de aprendizagem e às ca-
racterísticas do desenvolvimento das crianças.
CRECHES PRÉ-ESCOLA
Crianças bem pequenas
Crianças pequenas
Bebês (0 a 1 ano e 6 meses) (1 ano e 7 meses a 3 anos e
(4 anos a 5 anos e 11 meses)
11 meses)
FONTE: Adaptado de BNCC (2019, p. 24)
Cabe aos professores considerar que o desenvolvimento das crianças não pode
ser considerado de forma rígida, já que há diferenças de ritmo na aprendizagem e no
desenvolvimento que precisam ser consideradas na prática pedagógica.
192
A BNCC propõe que a abordagem das linguagens (Artes Visuais, Dança, Música e
do Teatro) se articule com as seis dimensões do conhecimento. Aponta que não classifica
hierarquia entre essas dimensões e não estipula a ordem que deve ser trabalhada em
sala de aula. De acordo com a (BNCC, 2019, p. 192-193), as seis dimensões da BNCC Arte
são: “criação, crítica, estesia, expressão, fruição e reflexão”.
DICAS
Para você ter acesso ao que prevê cada dimensão do ensino de arte e acesso
ao documento da BNCC Arte – Ensino Fundamental –, acesse o link: http://
www.alex.pro.br/BNCC%20Arte.pdf.
193
Você sabe o que significa competências e habilidades no documento em
questão? Competências são as potencialidades que cada um de nós possui, e as
habilidades é o que as pessoas vão adquirindo ao longo de suas vidas. Por exemplo,
possuímos competência para pensar, para fazer, para interpretar, para discernir etc. As
habilidades são mais específicas e a competência são um conjunto delas. As habilidades
consistem em desenhar, cantar e pintar, que são desenvolvidas por meio da provocação
que os professores fazem em seus alunos, ou seja, por meio do desenvolvimento de
estímulos no processo de ensino e aprendizagem.
Ao mesmo tempo que o professor está ensinando, ele também está desenvol-
vendo suas competências e habilidades. Esse é o papel do professor, o de pensar em
ações para potencializar suas habilidades e competências, bem como a dos seus alunos.
194
Nesse sentido, é fundamental que os estudantes possam assumir o papel
de protagonistas como apreciadores e como artistas, criadores e curadores, de
modo consciente, ético, crítico e autônomo, em saraus, performances, intervenções,
happenings, produções em videoarte, animações, webarte e outras manifestações e/ou
eventos artísticos e culturais, a ser realizados na escola e em outros locais. Assim, devem
poder fazer uso de materiais e instrumentos e recursos convencionais, alternativos e
digitais, em diferentes meios e tecnologias.
195
Considerando esses aspectos, a BNCC da área de Linguagens e suas Tecnologias,
no Ensino Médio, prioriza cinco campos de atuação social.
DICAS
Para você ter acesso aos cinco campos de atuação social e ao documento da
BNCC – Ensino Médio, acesse o link: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/
images/historico/BNCC_EnsinoMedio_embaixa_site_110518.pdf.
196
Compreender as línguas como fenômeno (geo)político, histórico, social,
variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso, reconhecendo-
Competência
as e vivenciando-as como formas de expressões identitárias, pessoais
específica 4
e coletivas, bem como respeitando as variedades linguísticas e agindo
no enfrentamento de preconceitos de qualquer natureza (p. 486).
Compreender os múltiplos aspectos que envolvem a produção de
sentidos nas práticas sociais da cultura corporal de movimento,
Competência
reconhecendo-as e vivenciando-as como formas de expressão de
específica 5
valores e identidades, em uma perspectiva democrática e de respeito à
diversidade (p. 487).
Apreciar esteticamente as mais diversas produções artísticas e
culturais, considerando suas características locais, regionais e globais,
Competência e mobilizar seus conhecimentos sobre as linguagens artísticas para dar
específica 6 significado e (re)construir produções autorais individuais e coletivas,
de maneira crítica e criativa, com respeito à diversidade de saberes,
identidades e culturas (p. 488).
Mobilizar práticas de linguagem no universo digital, considerando as
dimensões técnicas, críticas, criativas, éticas e estéticas, para expandir
Competência
as formas de produzir sentidos, de engajar-se em práticas autorais e
específica 7
coletivas, e de aprender a aprender nos campos da ciência, cultura,
trabalho, informação e vida pessoal e coletiva (p. 489).
FONTE: Adaptado de BNCC (2018)
197
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• Ao longo da história, alguns documentos foram criados pelo Estado e outros com
a participação da sociedade, para que a disciplina de Arte pudesse assegurar
seu espaço, e para que os professores pudessem ser orientados em sua prática
pedagógica.
• O volume três do RCNEI trata das linguagens do movimento, da música e das artes
visuais, linguagens específicas da área de Artes. O desenvolvimento das linguagens
da Arte com as crianças deve acontecer com a articulação entre o apreciar, o refletir
e o fazer arte.
• A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o documento mais atual que nosso
país possui para a Educação Básica. Ele compreender todas as fases da educação
(Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) e oferece aos professores
um suporte para trabalhar estratégias de aprendizagem de uma maneira significativa
na escola.
198
AUTOATIVIDADE
1 De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – Arte, a aprendizagem da
Arte envolve distintos âmbitos de experiência para abarcar o conhecimento artístico.
Fruir arte é um conceito muito utilizado entre os teóricos da área. Associe os itens,
utilizando o código a seguir:
I- Produção.
II- Fruição.
III- Reflexão.
( ) Vai além de conhecer uma obra de arte, esse conceito se refere a conhecer mais
a fundo o artista que desenvolveu a obra, conhecer a si próprio e a sua percepção
sobre a obra e o mundo onde ela está inserida, por meio de leitura da obra de arte.
( ) A experiência de fazer formas artísticas incluindo tudo que entra em jogo nessa
ação criadora: recursos pessoais, habilidades, pesquisa de materiais e técnicas,
a relação entre perceber, imaginar e realizar um trabalho de arte; enquanto fazer
artístico e experiência poética e estética.
( ) A experiência de investigar e contextualizar sobre a arte como objeto de
conhecimento, no qual importam dados sobre a cultura em que o trabalho artístico
foi realizado, a história da arte e os elementos e princípios formais que constituem
a produção artística, tanto de artistas quanto dos próprios alunos.
a) ( ) II – III – I.
b) ( ) II – I – III.
c) ( ) I – III – II.
d) ( ) III – I – II.
199
200
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
ABORDAGEM TRIANGULAR NO ENSINO DE
ARTE
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, o ensino de arte no Brasil possui um denso embasamento teórico
e metodológico. A orientação nacional é que a disciplina deva seguir concepções de
ensino e de aprendizagem fundamentadas em propostas de ensino progressistas,
baseado no desenvolvimento de competências e habilidades, que vão muito além do
executar a técnica e do livre fazer.
2 ABORDAGEM TRIANGULAR
Para iniciar os estudos sobre a abordagem triangular e evidenciar a sua
sistematização, é importante, primeiramente, conhecer a arte-educadora Ana Mae
Tavares Bastos Barbosa (nascida em 1936), que desenvolveu pesquisas comprometida
com o ensino e aprendizagem de artes visuais, tornando-se referência para o ensino de
arte nas escolas do Brasil. Desde a década de 1980, quando sistematizou a abordagem
triangular no Brasil influenciada pelas Escuelas Al Aire Libre mexicanas, do Critical
Studies inglês e do Discipline-Based Arts Education (DBAE) americano, compreendeu
que o conhecimento de arte se constitui a partir de três eixos: contextualização histórica
(conhecer a sua contextualização histórica); fazer artístico (fazer arte); leitura de Imagem
(saber ler uma obra de arte).
201
predominava nas escolas, mais precisamente nas aulas de arte, era o ensino geométrico,
a livre expressão, as produções artísticas alusivas às datas comemorativas, os desenhos
prontos e estereotipados ou, ainda, para complementar o trabalho das demais matérias
do currículo escolar. Para Azevedo (2010), a estruturação da abordagem triangular
aconteceu em uma época que o ensino da arte era dominado pela livre expressão.
Por volta dos anos 1980, o ensino de arte era considerado apenas como passa-
tempo nos ambientes escolares, era visto nas escolas como uma matéria sem conteúdo,
sem conhecimento, sem base teórica, ou seja, “a arte na escola tornou-se ‘o reino do va-
le-tudo’” (AZEVEDO, 2010, p. 85). Neste contexto, a abordagem triangular foi estruturada
configurando-se como uma mudança de rumo dos laços entre a teoria e prática em arte/
educação. Ela foi estruturada em três eixos de ação: ler, contextualizar e produzir.
202
Nesta época, por volta dos anos 1980, em meio a uma crise educacional, no
sentido de que os professores questionavam a polivalência no ensino de arte, a qual
atuavam com todas as linguagens artísticas no ambiente escolar, independentemente
de sua formação ou habilitação, nem apoio ou estrutura educacional, sistematizar um
referencial teórico/metodológico neste contexto, foi fundamental para a valorização do
ensino de arte no Brasil. Podemos dizer, ainda, que:
203
da importância do ato de “ver” e da “leitura” crítica para a integração
do Ensino da Arte, processo mais tarde consumado como Abordagem
Triangular (BREDARIOLLI, 2010 apud BARBOSA, 2010, p. 29).
Assim, basear o ensino de arte “no fazer e ver é o cerne de todas as manifestações
pós-modernas da arte/educação em todo mundo complementa” (BARBOSA, 2012, p.
26). Foi no Museu Arte Contemporânea, em São Paulo (MAC), que a abordagem triangular
foi definitivamente concretizada. Ela foi sistematizada “a partir das condições estéticas
e culturais da pós-modernidade”, a autora complementa explicando que “a abordagem
triangular não foi trazida para o Brasil, pois trazer significaria transportar algo que já
existia. Não existia nenhum sistema teórico/metodológico no Brasil baseado em ações
(fazer-ler-contextualizar)” (BARBOSA, 2012, p. 30), existia apenas um ensino de arte
baseado em atividade educativa, conforme a LDB de 1971 (BRASIL, 1997, p. 28), em que
a arte foi incluída no currículo escolar com o nome de Educação Artística. Deste modo,
a abordagem triangular está estruturada a partir de uma dupla triangulação:
204
Segundo Barbosa (1998), foi através de uma pesquisa acerca da história do
ensino de arte em três países latino-americanos (Argentina, Uruguai e México) que a
autora conheceu as Escuelas al Aire Libre do México, cujo objetivo era de inter-relacionar
a arte como expressão e cultura no processo de ensino e aprendizagem.
Na mesma época, Ana Mae Barbosa fez um curso com o arte-educador Tom Hud-
son, no Rio de Janeiro, onde conheceu outra linha de ensino integradora com a ideia da
arte como expressão e cultura, bem como os textos e as conversas com o arte-educador
David Thistlewood acerca do movimento Critical Studies, na Inglaterra, a auxiliaram na
estruturação dos eixos da abordagem triangular. Segundo Barbosa (1998), o movimento
da crítica literária e ensino da literatura americana em diálogo com as especificidades para
o ensino de Arte no Brasil, inspirou a designação de “leitura de obra de arte”.
O Discipline-Based Art Education (DBAE) surgiu nos Estados Unidos, por volta
de 1960. De acordo com Eisner (1997), a arte/educação nos Estados Unidos indicava
uma queda acerca da qualidade no ensino, pois a arte era valorizada apenas para o
desenvolvimento da autoexpressão e da criatividade, ao invés de ser considerada
também como uma área de conhecimento. A preocupação centrava-se na relação entre
a finalidade da arte/educação para os estudantes e os métodos de ensino.
Para Eisner (1997), os quatro elementos do seu projeto são instrumentos que
asseguram a possível experiência por meio da arte, pois ela proporciona uma contribuição
ampla ao desenvolvimento e vivências humanas. Acerca disso, Barbosa postula que:
205
[...] as mudanças provocadas pela Proposta Triangular, afirmaram
que se tratava de adaptação ou cópia do DBAE americano. Ora,
como participante da sociedade pós-moderna, não sou contra
a cópia, desde que inscrita no tempo e na locação adequados e
fruto de reconstrução. O mito da originalidade é modernista, o pós-
modernismo valoriza mais intensamente a elaboração dentre os
processos mentais envolvidos na criatividade. Contudo, diria que a
Proposta Triangular se opõe ao DBAE porque este disciplinariza os
componentes da aprendizagem da arte, separando-os em fazer
artístico, crítica de arte, estética e história da arte, revelando inclusive
um viés modernista na defesa implícita de um currículo desenhado
por disciplinas. É a contradição intrínseca do DBAE, um sistema
para o ensino da arte de ideias pós-modernas, mas de construção
modernista. Enquanto isso, a Proposta Triangular designa ações como
componentes curriculares: o fazer, a leitura e a contextualização
(BARBOSA, 1998, p. 37).
LER FAZER
(LEITURA DE IMAGEM) (PRODUÇÃO ARTÍSTICA)
FONTE: Adaptado de Barbosa (2012)
A abordagem triangular propõe o ensino a partir dos três eixos de ações: ler-
-fazer-contextualizar, que auxiliam os estudantes na compreensão dos conteúdos no
ensino de arte, representada a sua organização estrutural por um triângulo. A triangula-
ção teórico/metodológico já pode ser estruturada em um zigue-zague de movimentos
de ações, pois os eixos não ficam parados, não possuem uma ordem e o processo de
ensino de arte pode tomar diferentes direções.
206
FIGURA 3 – ABORDAGEM TRIANGULAR
FAZER ARTÍSTICO
VER CONTEXTUALIZAR
FONTE: <https://www.researchgate.net/publication/321221763/figure/fig1/AS:563484639612928@1
511356615766/Figura-1-Representacao-grafica-das-dimensoes-da-Abordagem-Triangular-de-Barbosa.
png>. Acesso em: 14 maio 2020.
Compreende-se que o triângulo também possibilita o vai e vem das ações, pois
ele não define onde é o início e o fim, ou seja, por onde o professor pode iniciar sua
prática, apenas apresenta os eixos ler, fazer e contextualizar arte. Desta maneira, arte-
educadores estruturaram uma representação de como os eixos se movimentam neste
processo de ensinar e aprender arte, que segundo Barbosa (2012, p. 33):
207
2.1 LER (LEITURA DE IMAGEM)
Acerca dos eixos sistematizados da abordagem triangular, compreende-se que o
eixo “ler” (leitura de imagem) está direcionado à análise e leitura de obras de arte, procuran-
do instigar o olhar dos alunos para observar as obras de arte e o mundo visual que rodeia o
estudante com outros olhares sem pré-julgamento. Acerca disso, Barbosa (2012) diz:
Neste sentido, podemos compreender que a imagem que está cada vez mais
tomando conta dos espaços em que vivemos, possibilita aos alunos realizar a sua leitura
diante do meio em que vivem, para Barbosa (1998, p. 35), “a alfabetização para a leitura
é fundamental, e a leitura da imagem artística, humanizadora”, por isso é importante
que os estudantes sejam capazes de ler, sejam críticos e, principalmente, entendam as
imagens ao seu redor, para serem capazes de analisar as imagens que os cercam.
Sobre essa temática Barbosa (2010, p. 99), postula que “a arte como linguagem
aguçadora dos sentidos transmite significados que não podem ser transmitidos por meio
de nenhum outro tipo de linguagem, como a discursiva ou científica. Dentre as artes, as
visuais, tendo a imagem como matéria-prima, tornam possível a visualização de quem
somos, de onde estamos e de como sentimos”.
208
2.2 CONTEXTUALIZAR (HISTÓRIA DA ARTE)
O eixo “contextualizar” (história da arte) está relacionado aos estudos atribuídos
à História da Arte que contribuem para o entendimento de que a arte se dá num
contexto, num tempo e num espaço onde se situam as suas obras.
Deste modo, devemos dar acesso aos estudantes as informações que permi-
tem o entendimento do significado sócio-histórico da produção artística realizada em
todos os contextos, pois, segundo Barbosa (1998), contextualizar é estabelecer rela-
ções. Estas relações podem ser de origem histórica, social, psicológica, antropológica,
geográfica, ecológica, biológica etc., associando o pensamento não apenas a uma ma-
téria, mas a um vasto conjunto de saberes, no ensino e aprendizagem de arte. Dessa
maneira, a contextualização é a porta aberta para a interdisciplinaridade. Barbosa (1998,
p. 38) explana que:
209
2.3 FAZER (PRODUÇÃO ARTÍSTICA)
O eixo “fazer” (produção artística) é o momento de transluzir a subjetividade dos
estudantes, pois tem por finalidade a realização de ações educativas, que corroborem
com o desenvolvimento de aprendizagens decorrentes do fazer artístico articulado com
a capacidade de produzir leituras de imagens artísticas, bem como outras imagens da
realidade dos estudantes, as relações conceituais e produção de formas artísticas. Este
eixo refere-se à realização da produção artística, por meio da dança, música, pintura,
desenho, escultura, entre outras, como produzir um texto dando forma a uma ideia
ou com a experiência da leitura de uma obra de arte subjetivamente derivada deste
encontro, tornando-a significativa para o estudante.
210
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• O Discipline-Based Art Education (DBAE) surgiu nos Estados Unidos, por volta de
1960. De acordo com Eisner (1997), a arte/educação, nos Estados Unidos, indicava
uma queda acerca da qualidade no ensino, pois a Arte era valorizada apenas para o
desenvolvimento da autoexpressão e da criatividade, ao invés de ser considerada
também como uma área de conhecimento. A preocupação centrava-se na relação
entre a finalidade da arte/educação para os estudantes e os métodos de ensino. Foi
a mesma preocupação em nosso país que levou a sistematizar essa proposta por
meio da Abordagem Triangular.
211
AUTOATIVIDADE
1 A Abordagem Triangular é utilizada no ensino de Artes com a finalidade de tornar o
ensino mais significativo para o processo de ensino e aprendizagem. Fale sobre ela e
seu principal objetivo na escola. Compartilhe a resposta com sua turma.
( ) Está relacionado aos estudos atribuídos à História da Arte que contribuem para o
entendimento de que a Arte se dá num contexto, num tempo e num espaço onde
se situam as obras de Arte. Partindo desta compreensão, pode ocorrer por meio da
interpretação subjetiva ou social dos estudantes, mediada pela ação do professor.
Deve-se atentar que esse eixo no processo de aprendizagem não se torna apenas
a exposição da biografia e obras dos artistas.
( ) Procura desenvolver a habilidade de ver e descobrir nas obras de Arte e do mundo
visual que rodeia o estudante. Assim, auxilia os estudantes a desenvolver o senso
estético e a capacidade de julgar com discernimento as imagens, por isso devemos
oferecer subsídios estéticos para que eles possam compreender a expressão e
produção artística de diferentes culturas.
( ) É o momento de transluzir a subjetividade dos estudantes, pois tem por finalidade
a realização de ações educativas, que corroborem com o desenvolvimento de
aprendizagens decorrentes da prática, articulado com a capacidade de produzir
leituras de imagens artísticas, bem como outras imagens da realidade dos
estudantes, as relações conceituais e produção de formas artísticas. Realizar
produções artísticas, com a finalidade de não só desenvolver imagens expressivas,
mas também que conscientizem os estudantes de sua capacidade criadora,
imaginativa, perceptiva de realizar um fazer artístico experimentando diferentes
linguagens, matérias e técnicas artísticas.
212
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) II – III – I.
b) ( ) II – I – III.
c) ( ) I – III – II.
d) ( ) III – I – II.
213
214
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
REFLETINDO SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA
1 INTRODUÇÃO
Nesse tópico, abordaremos a importância da ação docente na prática
pedagógica do contexto da sala de aula, com a influência da Abordagem Triangular na
prática pedagógica.
Bons estudos!
215
Para Barbosa (1998, p. 39), “pensar que há uma hierarquia de atividades, isto
é, primeiro a leitura da obra de arte, depois a contextualização e, finalmente, o fazer, a
criação, não é uma interpretação correta”. Não existe uma regra ou uma ordem definida
a ser seguida quando falamos nos eixos da abordagem triangular. Abarcamos que os
eixos são ações e as ações podem acontecer de diferentes maneiras, principalmente no
contexto de uma sala de aula. Machado (2010, p. 73) nos explana que:
Uma bússola é extremamente útil nas mãos de alguém que sabe que
está a caminho, que se sabe um viajante e que se dispõe a enfrentar
obstáculos e descobertas a cada instante, porque uma determinada
intenção anima cada passo a cada parada. Nas mãos de alguém que
não está preparado para viajar, uma bússola é inútil.
216
aprendizagem em arte, pois a contextualização das obras tem como finalidade auxiliar
os estudantes na compreensão daquele contexto, para que faça sentido a ele e, deste
modo, eles possam ter experiências que possibilitem reorganizar o mundo por meio de
seu ponto de vista. Segundo Barbosa (2012, p. 3), “a estimulação do processo criativo
[...] é condição básica para o indivíduo ultrapassar os tradicionais modos de conhecer e
fazer”, ou seja, é preciso que o ensino faça sentido para o estudante, auxiliando o seu
desenvolvimento imaginativo, perceptivo e criador.
Para Barbosa (2012, p. 28), “a leitura social, cultural e estética do meio ambiente
dará sentido ao mundo da leitura verbal”, pois a leitura da imagem contribui no processo
da alfabetização e letramento. Segundo a autora, “não se alfabetiza fazendo apenas
as crianças juntarem as letras. Há uma alfabetização cultural sem a qual a letra pouco
significa” (BARBOSA, 2012, p. 28).
Os estudantes desde muito cedo têm contato com vários tipos de imagens, que
as cercam por todos os lados como placas de trânsito, outdoors, placas de propaganda,
nos jogos de Playstation, rótulos e embalagens de produtos. Por isso é necessário
possibilitar a leitura de mundo para os estudantes, para que possam compreender o
que o olhar vê ao seu redor. Segundo Barbosa (1998), é importante enfatizar a leitura
de imagem na escola, para que os estudantes possam interpretar e compreender o que
estão visualizando. A autora considera fundamental a alfabetização para a leitura de
imagem; esta destaca-se como humanizadora. Barbosa (2012, p. 28) explana que:
217
Deste modo, podemos compreender a importância de trabalhar a visualidade
dos estudantes, e consideramos que seja necessário começar desde os anos iniciais
do Ensino Fundamental. Conforme Barbosa (2012) enfatizou anteriormente, não se
estimula somente a autoestima e o senso de criticidade, mas se auxilia a leitura da
visualidade para o processo de alfabetização, e, principalmente, a leitura de mundo,
na comunicação verbal, pois o conhecimento em arte possibilita à interseção da
experimentação, da decodificação e da informação.
218
não apoio o “deixar fazer” que caracterizou o modernismo da arte/
educação, mas busco uma abordagem que torne a arte não só um
instrumento do desenvolvimento das crianças, mas principalmente
um componente de sua herança cultural. Para isso precisamos da
leitura, da história e do fazer artístico contextualizado desde os
primeiros anos do 1º grau.
Deste modo, a afirmação de Barbosa (1998) corrobora no que diz respeito aos
professores de arte como mediadores do processo de construção do conhecimento,
eles são os condutores e responsáveis pelo sucesso do ensino e da aprendizagem em
arte, sendo um processo transformador, pois auxiliam os estudantes a desenvolver
sensibilidades, saberes práticos e teóricos. Desta maneira, os professores que realmente
conhecem sua área, conseguem identificar os conteúdos necessários de arte que
contribuam de fato com a formação social, cultural e artística dos estudantes.
219
de imagem é descoberta, é busca, é o despertar da capacidade crítica, é tornar uma
experiência significativa para os estudantes, e não apenas uma contemplação passiva
dos elementos da visualidade e históricos da obra.
Barbosa (1998, p. 24) diz que, “numa obra de arte, diferentes atos, episódios,
acontecimentos se mesclam materialmente e fundem-se numa unidade, embora as
partes não desapareçam nem percam seu caráter próprio quando isto sucede”. É no
campo das artes que o processo da experiência significativa se torna mais evidente.
A abordagem triangular, bem como a utilização dos seus eixos, nem sempre é uti-
lizada nas práticas pedagógicas. Isso ocorre devido a vários fatores que podemos atribuir a
este contexto: indisponibilidade de materiais, incluindo as imagens de obras de arte, pou-
co espaço disponível no ambiente escolar, escasso acesso à tecnologia, falta de formação
continuada específica para os(as) professores(as), enfim, estes são alguns aspectos que po-
dem desestruturar o desenvolvimento das aulas, porém podem ser substituídos por outros
de melhor acesso. Importante é permitir aos estudantes o contato com a arte. Não quere-
mos enfatizar o fazer pelo fazer, mas vivenciar, conhecer e sentir a arte no contexto escolar.
220
É importante mencionar a necessidade constante de formações continuadas
para os professores dessa área. Proporcionar momentos de reflexões, de experiências
acerca da área específica, contribui para que os professores vivenciem as linguagens da
arte. Para Ostetto e Leite (2004, p. 23):
221
3 EDUCAÇÃO ESTÉTICA E A PRÁTICA PEDAGÓGICA
Acerca da educação estética, segundo Barbosa (1998, p. 41), “a estética tem
um grande potencial esclarecedor e estimulador do questionamento reflexivo”, pois a
educação estética contribui para a formação do estudante como apreciador de arte,
não no sentido de uma apreciação contemplativa, mas de um apreciador que altera
seu olhar, que o torna sensível, por meio de vivências, por meio de uma experiência
apreciativa, é isso que a contextualização pode possibilitar aos estudantes no contato
com a arte na escola.
Possibilitar aos estudantes a leitura de obras, bem como da sua própria criação,
são momentos estéticos que contribuem para o desenvolvimento integral, ampliando a
visão de mundo e de arte dos estudantes.
Para Barbosa (2012, p.15), “[...] sem a experiência do prazer da arte, por parte de
professores e alunos, nenhuma teoria de arte-educação será reconstrutora”. Por isso,
os professores necessitam desenvolver um ensino de arte que sensibilize seus alunos a
serem conhecedores de arte, não como críticos de arte, mas conhecedores sobre vários
aspectos interculturais da arte na sociedade.
222
4 PROFESSOR REFLEXIVO
Acerca do perfil do professor reflexivo, Nóvoa (s.d.) postula que nesse início
do Século XXI, as preocupações educativas referentes aos professores retornam para
o centro dos estudos e pesquisas. O autor ainda menciona que os “anos 1970 foram
marcados pela racionalização do ensino, a pedagogia por objetivos, a planificação. Os
anos 1980 pelas reformas educativas e pela atenção às questões do currículo. Os anos
1990 pela organização, administração e gestão dos estabelecimentos de ensino. Agora,
parece ter voltado o tempo dos professores”.
Nos anos 1990, surge uma outra característica as competências, que, segundo
Nóvoa (s.d.), assumiu um importante papel acerca da reflexão teórica, bem como nas
reformas educativas.
224
rada por uma trajetória dinâmica de experiências profissionais e por diversas interações
vivenciadas pelos docentes em sua prática profissional. Os caminhos trilhados durante
os processos formativos, bem como da prática pedagógica permitem aos professores
a construção de suas ações pedagógicas e de saberes necessários no cotidiano do
trabalho docente.
225
Para Dewey (1959), sua preocupação referente à educação, procura caracterizar
seu pensamento direcionado para uma filosofia de ação, acerca da utilização da prática
como elemento fundamental para a realização do indivíduo.
Desta maneira, refletir sobre sua ação, sobre seu repertório de conhecimento
acerca da arte e do seu ensino, é auxiliar o professor a refletir sobre sua formação tanto
a inicial quanto a continuada. Assim, é preciso que o professor aprenda a aprender a
ensinar. Segundo Mizukami (2004):
226
contém categorias de conhecimento que subjazem à compreensão
que o professor necessita para promover aprendizagens dos alunos.
Trata-se de um modelo que foi desenvolvido considerando o conceito
de ensino como profissão, envolvendo delimitação de campo de
conhecimento que pode ser sistematizado e partilhado com outros:
os profissionais do ensino necessitam de um corpo de conhecimento
profissional codificado e codificável que os guie em suas decisões
quanto ao conteúdo e à forma de tratá-lo em seus cursos e que
abranja conhecimento pedagógico quanto conhecimento da matéria
(MIZUKAMI, 2004, p. 3-4).
227
A reflexão acontece no momento de situações inesperadas decorrente da ação,
nem sempre o conhecimento na ação é satisfatório, mas ao pensarmos no que estamos
fazendo e quando estamos realizando, poderemos interferir na situação durante o seu
desenvolvimento.
228
LEITURA
COMPLEMENTAR
ARTE NA ESCOLA: PRESSUPOSTOS PRÁTICO-CURRICULARES
FONTE: <https://pensaraeducacao.com.br/rbeducacaobasica/wp-content/uploads/sites/5/2018/06/02-ar-
tes-300x300-e1530211271186.png>. Acesso em: 10 dez. 2019.
Introdução
Ainda que haja diversas leis que tratem da temática e preconizem a existência da
docência de tais conteúdos em salas de aula regulares, a práxis de tais conteúdos ainda
deve ser analisada e observada na ótica de sua eficácia. Ao tratarmos de currículo neste
estudo, é pertinente salientar que não se tem currículo como, apenas, um apanhado
geral de habilidades e competências, mas, um conjunto de saberes significativos
visando a promoção do ser-crítico e emancipado socioculturalmente.
É oportuno que, ao comungar os saberes que traz consigo a prática da sala de aula,
o professor não se esqueça que existe, ainda, o conhecimento que o aluno traz consigo de
sua vivência cotidiana. E aí centra-se importante máxima de toda prática pedagógica: aliar
o conhecimento do aluno ao conteúdo lecionado. É contraproducente, em se tratando do
ensino de Artes, apresentar apenas conteúdos que se centrem na prática curricular e exclu-
am os interesses e conhecimentos dos alunos. Tomando como exemplo o ensino do con-
teúdo musical, numa apreciação dos gêneros musicais nacionais e na percepção de seus
elementos constitutivos, faz-se oportuno trazer às aulas gêneros que os alunos apreciam
e costumam ouvir, e combiná-los ao conteúdo curricular que necessita ser ensinado. Para
Viana (2015, p. 240), a prática da apreciação “torna-se mais rica à medida que as crianças
são capazes de relacionar estes conceitos com suas próprias vivências”.
230
Aliado ao Fazer, o Apreciar é, também, fator fundamental no ensino de Artes:
o docente que oportuniza a seu aluno a experiência da apreciação contribui para uma
releitura crítica da Arte manifestada e para o entendimento do mundo em que vive.
Observe-se uma prática pedagógica, voltando novamente o olhar para a Música, em que
o educador faz a releitura de canções contemporâneas aliando a criticidade ao gênero
musical em estudo; não é, senão, rever, agora com novos olhos, os aspectos que trazem
a canção, e bem como sua adequação social. Mödinger et al. (2012), compreende que
tal prática de apreciação “permite que professores e alunos desenvolvam competências
para ler não só a obra de arte, […] mas também a sua realidade” (2012, p. 35).
Ao passo em que inicia e amplia a visão dos alunos nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, nos anos finais da mesma etapa espera ampliar e criticizar a interação
dos discentes com as Artes. “O diferencial dessa fase está na maior sistematização dos
conhecimentos e na proposição de experiências mais diversificadas” (BRASIL, 2017, p. 203).
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Para cumprir tal premissa, as oito habilidades propostas nas Artes Visuais dirigem
o discente para uma abertura na análise artística, abrangendo obras internacionais,
analisando novos estilos e expressões, combinados a recursos audiovisuais. Tal acesso
também acontece na Dança, em que são incorporados os “elementos constitutivos do
movimento cotidiano” (BRASIL, 2017, p. 205), tanto nacionais quanto internacionais,
conforme preconiza a habilidade 9.
Conclusão
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RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
233
AUTOATIVIDADE
1 A abordagem triangular objetiva a melhoria do ensino da arte, na busca por uma aprendi-
zagem significativa que discute aspectos como a leitura de imagem, a contextualização da
arte e a sua criação. Partindo desse pressuposto, acerca da prática pedagógica com influên-
cia da Abordagem Triangular, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) Cada professor pode dar vida a abordagem conforme suas possibilidades diante
da ação de ensinar arte, o importante é que os estudantes tenham contato com a
experiência de viver arte, de sentir arte e de conhecer a arte.
( ) É uma característica evidente da abordagem triangular, que a leitura de imagem
auxilia no processo do desenvolvimento criativo, pois ela é descoberta, ela instiga
o olhar em cada imagem analisada e contextualizada, e, deste modo, o estudante
descobre algo significativo para suas vivências.
( ) A contextualização possibilita os estudantes a compreensão da história, do social,
da cultural e do artístico, porém não contribui para o desenvolvimento do seu
processo de construção da aprendizagem em arte.
a) ( ) V – V – F.
b) ( ) F – V – F.
c) ( ) F – V – V.
d) ( ) V – F – V.
Ainda com Schön (2000), pode-se refletir sobre a ação quando pensamos, retrospectiva-
mente sobre o que fizemos, de modo a descobrir como nosso ato de conhecer-na-ação
pode ter contribuído para um resultado inesperado. Podemos proceder, dessa forma, após o
fato em um ambiente de tranquilidade ou podemos fazer uma pausa no meio da ação. Para
fazer o que Hannah Arendt (1971) chama de “parar e pensar”. Em ambos os casos, nossa
reflexão não tem qualquer conexão com a ação presente. Como alternativa, podemos re-
fletir no meio da ação, sem interrompê-la. Em um presente-da-ação, um período de tempo
variável com o contexto, durante o qual ainda se pode interferir na situação em desenvolvi-
mento, nosso pensar serve para dar nova forma ao que estamos fazendo, enquanto ainda o
fazemos. Eu diria, em caso como este, que refletimos-na-ação (SCHÖN, 2000. p. 32). Base-
ando-se nesse pressuposto, explique os conceitos de ação de Donald Schön.
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