Referencial Teorico Estagio Suce Monod

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Fundamentação teórica sobre o estágio sucessional e áreas de

monodominância de Astronium urundeuva (M.Allemão) Engl.

Setembro de 2023
1. Contextualização

Conforme conversado em reunião no dia 26 de setembro de 2023, algumas áreas


estavam com uma avaliação não muito clara sobre o estágio sucessional, com isso a
classificação do mesmo esta sendo esclarecida a seguir. Além disso, as áreas com
monodominancia de Astronium urundeuva (M.Allemão) Engl., popularmente conhecida
como aroeira, seriam avaliadas para o melhor entendimento da inclusão dessas áreas na
amostragem, visto as dúvidas que surgiram quanto a classificação do estágio sucessional
dessas áreas.

2. Classificação do Estágio Sucessional

Para a classificação de estágio médio, deve-se adotar a resolução CONAMA nº 29,


de 7 de dezembro de 1994 convalidada em 2006. Essa resolução traz a definição de
vegetação primária e secundária e seus estágios no Bioma de Floresta Atlântica do
Espírito Santo. Ressalta-se que, apesar da resolução de Minas Gerais ser mais recente
(Resolução CONAMA Nº 392, de 25 de junho de 2007), a mesma não reflete os
indicadores que estão sendo avaliados para o projeto em andamento.

Dessa forma, as equipes de campo devem buscar observar as características que


corroboram com o estágio médio. Sabendo que em ambientes naturais as variações
existem e dificilmente haverá uma área que cumpra todos os critérios, deve ser levado
em consideração a resposta obtida para a maioria dos critérios avaliados, tendo todos o
mesmo peso. Ainda, para diferentes fitofisionomias (Floresta Ombrófila, Estacional Semi-
decidual ou Estacional Decidual) as espécies indicadoras também podem variar, sendo
nessa situação aplicada o conhecimento da equipe de campo.

O quadro a seguir mostra a compilação das informações que devem ser avaliadas
nos fragmentos. Na coluna “Estágio médio“ alguns tópicos foram comentados para a
melhor compreensão. Os comentários estão entre parênteses e em itálico.
Estágio Inicial Estágio Médio Estágio Avançado
a) fisionomia herbáceo/ a) fisionomia arbórea e/ou a) fisionomia arbórea
arbustiva de porte baixo, arbustiva predominando dominante sobre as
com altura média variando sobre a herbácea, podendo demais, formando um
até 7 m e cobertura vegetal constituir estratos dossel fechado e
variando de fechada a diferenciados, com altura relativamente uniforme
aberta; média variando de 5 a 13 no porte, com altura
m; (Nesse estágio será média superior a 10 m,
observado estratos da podendo apresentar
vegetação, tendo árvores emergentes
indivíduos herbáceos, ocorrendo com diferentes
arbustivos e arbóreos bem graus de intensidade;
definidos).
b) espécies lenhosas com b) cobertura arbórea b) copas superiores
distribuição diamétrica de variando de aberta a horizontalmente amplas;
pequena amplitude, com fechada, com a ocorrência c) distribuição diamétrica
DAP médio variando de até eventual de indivíduos de grande amplitude com
13 cm e área basal variando emergentes; (Nesse DAP médio superior a 18
entre 2 até 10 m²/ha; estágio o dossel já será cm e área basal superior a
fechado em floresta 18 m²/ha;
ombrófilas tendo a
cobertura de copa fechada
entre 80 a 100%).
c) distribuição
diamétrica apresentando
amplitude moderada, com
DAP médio variando de 10
a 20 cm e área basal
variando entre 10 a 18
m²/ha;
c) epífitas, se existentes, d) epífitas aparecendo com d) epífitas presentes em
são representadas maior número de indivíduos grande número de
principalmente por líquens, e espécies em relação ao espécies e com grande
briófitas e pteridófitas com estágio inicial, sendo mais abundância,
baixa diversidade; abundantes na Floresta principalmente na Floresta
Ombrófila; (Nesse estágio é Ombrófila;
possível observar epífitas
das famílias Bromeliaceae,
Orchidaceae e Araceae.
Comumente são indivíduos
pequenos).
d) trepadeiras, se e) trepadeiras, quando e) trepadeiras geralmente
presentes, são geralmente presentes, podem ser lenhosas, sendo mais
herbáceas; herbáceas ou lenhosas; abundantes e ricas em
(Nesse estágio é possível espécies na Floresta
observar trepadeiras no Estacional;
interior do fragmento,
porém as mesmas não se
fecham como observados
em áreas de bordas, muitas
vezes impedindo o
caminhamento).
e) serapilheira, quando f) serapilheira presente, f) serapilheira abundante;
existente, forma uma variando de espessura de
camada fina pouco acordo com as estações do
decomposta, contínua ou ano e a localização; (Nesse
não; estágio a existência de
serrapilheira ocorre em
praticamente 90% das
áreas, porém a mesma não
é ”fofa”. Ela existe, mas
ainda não forma uma
camada grossa).
f) diversidade biológicag) diversidade biológica g) diversidade biológica
variável com poucas significativa; (geralmente muito grande devido à
espécies arbóreas ouencontrado em todos os complexidade estrutural;
arborescentes, podendo estratos: herbáceo,
apresentar plântulas de arbustivo e arbóreo)
espécies características de
outros estágios;
g) ausência de subosque; h) subosque presente; h) estratos herbáceo,
(diferentes formas de vida arbustivo e um
estarão presentes no sub- notadamente arbóreo;
bosque, normalmente
encontra-se indivíduos de
espécies arbustivas,
subarbustiva e ervas
terrícolas, assim como
pequenas árvores,
plântulas, palmeiras e
indivíduos jovens do
componente arbóreo).
h) espécies pioneiras - i) florestas neste estágio
abundantes; podem apresentar
fisionomia semelhante à
vegetação primária;
- - j) subosque normalmente
menos expressivo do que
no estágio médio;
- - l) dependendo da
formação florestal pode
haver espécies
dominantes;
i) as espécies vegetais que i) as espécies vegetais que m) as espécies vegetais
caracterizam esse estágio caracterizam esse estágio que caracterizam esse
sucessional devem ser sucessional devem ser estágio sucessional
consultadas na resolução. consultadas na resolução. devem ser consultadas na
resolução.
3. Áreas com monodominancia Astronium urundeuva (M.Allemão) Engl.

A empresa Tetra Tech enviou alguns trabalhos de base científica buscando


justificar o uso dessas áreas. Dentre os trabalhos enviados, apenas o trabalho de Oliveira
et al (2014) teve como objetivo específico validar as áreas de monodominancia de aroeira
como fragmentos de estágio médio de regeneração.

O mesmo diz que:

“A classificação do estágio sucessional baseada nos


parâmetros diâmetro médio e altura média da resolução
CONAMA 392, classificou 75% dos fragmentos estudados
como em estágio médio de regeneração. A utilização da
resolução para classificação do estágio sucessional de
florestas monodominadas deve, no entanto, ser avaliada
quanto a sua aplicação.”

Essa citação indica que foram utilizados apenas dois parâmetros, dentre os nove
que devem ser aplicados conforme a lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Sendo
que esse parâmetro foi o que deu a maior porcentagem dos fragmentos em estágio
médio. Ainda, o CONAMA 392 citado pelo autor indica que a espécie pode ser encontrada
tanto em estágio inicial quanto em estágio médio de regeneração.

Ainda:

“Sendo assim, os critérios propostos pela resolução do


CONAMA, estabelecidos para avaliar o estágio sucessional
de florestas não perturbadas, devem ser aplicados com
critério para classificar o estágio sucessional de florestas
perturbadas como é o caso dos fragmentos analisados
neste estudo.”

Afirmando que as áreas são perturbadas.

O mesmo autor ainda cita:

“No médio Rio Doce mineiro, as áreas sob


monodominância de aroeira normalmente estão
relacionadas a processos erosivos do solo, a ambientes de
baixa diversidade (...)”
“Nota-se, entretanto, que tais povoamentos florestais,
apresentam dinâmica, estrutura e composição
divergentes de fragmentos florestais heterogêneos
característicos da Floresta Estacional Semidecidual.”

“A monodominância de Myracrodruon urundeuva no


município de Tumiritinga é caracterizada pela baixa
diversidade, com valores inferiores a outras
monodominâncias descritas na literatura. “

Todas essas citações mostram que a área não se enquadra dentro de um


ecossistema de referência, sendo o principal objetivo do projeto em execução.

Além das conclusões de Oliveira et al (2014), outros trabalhos associam a presença


da espécie a áreas com degradação do solo e da cobertura vegetal (Valente 2005), assim
como a capacidade que a espécie tem de se regenerar de forma natural em solos
degradados devido a presença de processos erosivos ou solos considerados de baixa
qualidade (Venturoli, Fagg, & Felifili, 2011; Volpato & Martins, 2013; Bertonha et
al.,2016).

A espécie tem mais características competidoras do que colonizadora (Ferraz et al


2014), podendo ser encontrada em florestas de estágio intermediário e tardio, porém é
em estágios iniciais que ocorre em maior número (Calvo-Rodrigues et al 2017).

Por fim, Oliveira 2014, explica em um trecho de sua tese a monodominancia de


aroeira como: “A monodominância de M. urundeuva pode ser explicada pelo conjunto de
características intrínsecas à espécie associadas a características do meio onde a espécie
se desenvolve e modifica. A eficiência reprodutiva, as elevadas taxas de crescimento de
plântulas, a resistência à herbivoria e ataque de patógenos, associadas à tolerância ao
estresse hídrico e a exploração de nichos específicos através de associações com FMA’s,
parece conferir elevado ingresso e sobrevivência de plântulas de M. urundeuva em
sistemas pós-distúrbio e garantir vantagens adaptativas e competitivas frente a outras
espécies. Possíveis efeitos alelopáticos, associados à condição de estresse hídrico, solos
de horizonte a decapitado, com ausência de banco de sementes e ausência de
serrapilheira, e elevada biomassa radicular, parecem modificar condições no sub-bosque,
impedir ou retardar o ingresso de outras plantas, e, desta forma, manter o status quo
monodominante.”

Contudo, entende-se como “monodominante” florestas que apresentam mais de


50% do número de indivíduos da comunidade pertencentes a uma única espécie (Hart
et al. 1989). Diante do exposto, as áreas tidas como monodominante não devem ser
incluídas nos estudos, independente da espécie que apresente esse comportamento, por
não representarem um ambiente de referência e conforme a literatura citada, são áreas
que passaram ou ainda passam por perturbações antrópicas. Salve uma exceção: áreas
cuja espécie monodominante ocorra em densidade de 50 a 75% poderão ser inseridas
no estudo desde que atendam os indicadores a, b, c, d, f, g e h das especificações de
estágio médio ou avançado.

4. Referências

Bertonha, L. J., Freitas, M. L. M., Cambuim, J., Moraes, M. L. T. & Sebbenn, A. M. 2016.
Seleção de progênies de Myracrodruon urundeuva baseada em caracteres
fenológicos e de crescimento para reconstituição de áreas de Reserva Legal.
Scientia Forestalis, 44(109), 95-104.
https://doi.org/10.18671/scifor.v44n109.09.

Calvo-Rodriguez, S., Espírito-Santo, M. M., Nunes, Y. R. F. & Calvo-Alvarado, J. 2017.


Tree diameter growth for three successional stages of Tropical Dry Forest in
Minas Gerais, Brazil. Revista Forestal Mesoamerica na Kurú, 14(35), 24-32.
https://doi.org/10.18845/rfmk.v14i35.3150.

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente, 2000. Resolução nº 392, 25 de Junho


de 2007. Ministério do Meio Ambiente.

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente, 2000. Resolução nº 29, 07 de


Dezembro de 1994. Covalidade 2006. Ministério do Meio Ambiente.

Ferraz, J. S. F., Ferreira, R. L. C., Silva, J. A. A., Meunier, I. M. J. & Santos, M. F. 2014.
Estrutura do componente arbustivo - arbóreo da vegetação em duas áreas de
caatinga, no município de Floresta, Pernambuco. Revista Árvore, 38(6), 1055-
1064. https://doi.org/10.1590/S0100-67622014000600010.

Hart, T. B., Hart, J. A.; Murphy, P. G. 1989. Monodominant and species-rich forests of
the humid tropics: causes for their co-occurrence. The American Naturalist, n.
133, v. 5, p. 613-633.
Oliveira, F.P., Souza, A.L. & Filho, E.I.F. 2014. Caracterização da Monodominância de
Aroeira (Myracrodruon Urundeuva Fr. All.) no Município de Tumiritinga – MG.
Ciência Florestal, Santa Maria, v. 24, n. 2, p. 299-311.

Valente, E.L. 2005. Caracterização da intensidade de degradação do solo e da cobertura


vegetal de uma área no médio Rio Doce, utilizando imagens IKONOS II. 2005.
89 p. Dissertação (Mestrado Solos e Nutrição de Plantas) – Universidade Federal
de Viçosa, Viçosa, 2005.

Venturoli, F., Fagg, C. W. & Felfili, J. M. 2011. Desenvolvimento inicial de Dipteryx alata
Vogel e Myracrodruon urundeuva Allemão em plantio de enriquecimento de uma
floresta estacional semidecídua secundária. Bioscience Journal, 27(3), 482-493.

Volpato, G. H. & Martins, S. 2013. The bird community in naturally regenerating


Myracrodruon urundeuva (Anacardiaceae) forest in Southeastern Brazil. Revista
Biologia Tropical, 61(4), 1585-1595.

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