NRP 07 20220803 Final1
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Título
Os Impactos Sociais e Políticos da Guerra na Ucrânia
Nota Rápida de Prospetiva 07
Data
3 de agosto de 2022
Autoria
Unidade Técnica de Prospetiva e Planeamento (UTPP) – PlanAPP
Nota
Este documento faz parte de um conjunto de Notas Rápidas de Prospetiva que têm por objetivo
analisar os impactos e potenciais respostas à crise gerada pela invasão da Rússia à Ucrânia.
Edição
PlanAPP – Centro de Competências de Planeamento, de Políticas e de Prospetiva da Administração
Pública
Rua Filipe Folque, 44
1069-123, Lisboa
e-mail: utppgeral@planapp.gov.pt
A guerra na Ucrânia está a colocar em causa a segurança alimentar de vários países, estando
prevista uma crise alimentar de grande dimensão.
As guerras têm um grande impacto sobre a população civil, pela destruição de capital humano e
físico, pela escassez de alimentos, combustíveis e outros bens essenciais, pela rutura de mercados
e pela inflação. Por estes motivos, acarretam privações bruscas e brutais, traumas, deslocamento,
desinformação e perda de confiança. Estas perdas de capital humano podem ser irreversíveis e
perdurar ao longo de várias gerações.
Segundo o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), desde o início do
conflito e até 1 de agosto, 10 170 875 pessoas fugiram da Ucrânia (Figura 1) e é provável que este
número continue a aumentar.
Figura 1 – Número de refugiados da Ucrânia por país de acolhimento (24 de fevereiro - 01 de agosto de
2022), em milhares
6000
5084,4
5000
4000
3000
2000 1857,1
1082,6
953,1
1000 627,6
549,3
16,7
0
Polónia Roménia Rússia Hungria Moldova Eslováquia Bielorrússia
Os números da crise atual são consideravelmente mais impressionantes quando comparados com
os de outras crises recentes, como as na Síria e na Venezuela (Figura 2).
1
https://data.unhcr.org/en/situations/ukraine
Fonte: ACNUR
O rápido afluxo de pessoas deslocadas para a parte mais ocidental do território ucraniano e para
os países vizinhos está a sobrecarregar a capacidade de resposta nessas zonas. Por exemplo, mais
de 150 000 ucranianos deslocados vivem agora em Cracóvia, na Polónia, um afluxo que, em
poucas semanas, aumentou a população da cidade em 20%.
Estima-se que cerca de 6,27 milhões de pessoas (valor estimado a 23 de junho de 2022) foram
deslocadas dentro da Ucrânia. Este valor representa 14% da população residente no país. De
acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), cerca de dois terços das crianças
ucranianas estão longe de casa.
Das pessoas deslocadas internamente na Ucrânia, 64% são mulheres. Mais de metade dessas
pessoas relataram dificuldades de acesso a alimentos, 15% querem voltar para casa assim que
possível e 8% sofreram danos no seu alojamento. Até 1 de agosto, cerca de 4,2 milhões de
ucranianos regressaram a casa. Segundo o ACNUR, estes movimentos de regresso podem ser
pendulares e não indicar retornos permanentes, uma vez que a situação na Ucrânia continua
altamente imprevisível2.
2
https://data.unhcr.org/en/situations/ukraine.
Os países de acolhimento dos refugiados da Ucrânia terão que prosseguir um conjunto de políticas
públicas que garantam a integração de pessoas que não se enquadram no padrão típico das
famílias que normalmente emigram, uma vez que se tratam sobretudo de crianças, mulheres e
idosos.
A Organização Internacional para Migrações (OIM) e a Alta-Comissária Adjunta para Proteção do
ACNUR, Gillian Triggs3, alertaram para o aumento do risco de tráfico humano e de exploração
sexual na Ucrânia e na região. Os diversos países estão a desenvolver medidas para prevenir e
combater esses problemas. A UNICEF e o ACNUR estão a aumentar o número de Centros Ponto
Azul (Blue Dot)4 nos países que acolhem refugiados.
O custo de processamento e acolhimento, no primeiro ano, dos requerentes de asilo, em 2015-
2016, foi estimado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) em
cerca de 10 000 euros por pedido e, segundo estudos realizados na Alemanha, em até 12 500
euros, dependendo do tipo e da dimensão de apoio (que tem um grau variável) de cada país.
Assim, o fluxo de quase 10,2 milhões de refugiados observado até agora pode resultar num custo
direto, no primeiro ano, de pelo menos 0,25% do PIB da União Europeia (UE) e provavelmente em
muito mais nos principais países de acolhimento (Polónia, Hungria, Roménia, Moldova e
Eslováquia).
Perante a situação humanitária provocada pela guerra na Ucrânia, a 4 de março de 2022 foi
ativada a Diretiva de proteção temporária, com os objetivos de aliviar a pressão sobre os
sistemas de asilo nacionais e de permitir que as pessoas deslocadas beneficiem de direitos
harmonizados em toda a UE.
A UE adotou também um regulamento designado CARE (Ação da Coesão para os Refugiados na
Europa), que permite aos Estados-membros utilizar dinheiro não gasto e não atribuído do
orçamento dos fundos de coesão para 2014-2020. A Comissão Europeia (CE) estima que o
financiamento total a ser desbloqueado por essa via será de cerca de 17 mil milhões de euros e
ajudará a cobrir os custos de alojamento temporário, fornecimento de comida, água, cobertores e
vestuário, aconselhamento psicológico, cuidados médicos, educação, formação, cursos
de línguas e acolhimento de crianças.
Neste âmbito, importa relevar outras dimensões como o aumento do discurso xenófobo na
Hungria e os problemas económicos na Polónia, na Roménia e na Eslovénia. Para que as políticas
e medidas de acolhimento aos refugiados da Ucrânia funcionem nestes países, parte do seu
orçamento deve ser destinado à sensibilização da população local, visto que, não raramente, os
movimentos xenófobos procuram crescer através da crítica à adoção de políticas favoráveis a
migrantes.
3
https://www.unhcr.org/tr/en/34695-statement-on-risks-of-trafficking-and-exploitation-facing-refugees-from-ukraine -
attributed-to-unhcrs-assistant-high-commissioner-for-protection.html
4
Os Centros Ponto Azul são espaços seguros, instalados na fronteira de países vizinhos, que fornecem informação e serviços
básicos aos refugiados, permitindo, por exemplo, a identificação e o registo de crianças não acompanhadas da família, assim como
a ativação de mecanismos de acompanhamento, proteção e encaminhamento de pessoas em situação vulnerável, nomeadamente
crianças e mulheres, atenuando o efeito traumático da guerra e o risco de tráfico ou de exploração dessas pessoas.
5
https://www.voanews.com/a/despite-us-nudging-no-condemnation-of-russia-in-us-asean-summit-/6571143.html
6
Segundo o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, os EUA e os seus aliados (40 países) passaram a reunir-se mensalmente
para discutir o fortalecimento das capacidades militares da Ucrânia contra a Rússia, formando o “grupo de contacto”
(https://www.dn.pt/internacional/dos-tanques-da-alemanha-as-reunioes-mensais-entre-aliados-o-que-saiu-do-encontro-
de-ramstein-14801465.html e https://www.politico.eu/article/ukraine-war-russia-united-states-defense-consultative-group/)
7
https://www.swissinfo.ch/por/guerra-na-ucr%C3%A2nia-destaca-falhas-da-onu/47498702
8
https://ecfr.eu/wp-content/uploads/2022/06/peace-versus-justice-the-coming-european-split-over-the-war-in-
ukraine.pdf.
9
https://observador.pt/2022/07/05/finlandia-e-suecia-mais-perto-da-nato-com-protocolos-de-adesao-assinados-paises-
ganham-estatuto-de-convidado-depois-de/.
10
https://www.publico.pt/2022/06/02/mundo/noticia/ue-aprova-regulamento-sexto-pacote-sancoes-russia-2008700.
11
https://www.portugal.gov.pt/pt/gc23/comunicacao/comunicado?i=governo-congratula-se-com-a-aprovacao-do-
mecanismo-iberico-que-limita-o-preco-do-gas-para-efeitos-de-producao-de-eletricidade.
As instituições internacionais têm vindo a rever em alta a taxa de inflação estimada para 2022.
Para a Zona Euro, a CE, em julho, previu que esta se venha a situar nos 7,6%12.
A transmissão do choque da guerra irá variar entre os países, dependendo das ligações comerciais
e financeiras, da exposição ao aumento dos preços das commodities e da intensidade da espiral
inflacionista.
A guerra na Ucrânia veio tornar mais difícil o compromisso entre duas necessidades: i) por um lado,
salvaguardar a recuperação económica, apoiar as populações vulneráveis, investir na transição
energética e proteger a população e as economias dos choques provocados pela guerra; ii) por
outro lado, combater a inflação através da subida das taxas de juro, controlar a despesa pública
após um período de despesas de emergência para reduzir os impactos causados pela crise gerada
pela pandemia e reconstruir os amortecedores fiscais.
Num estudo sobre o impacto da guerra na recuperação europeia, o Banco Europeu de
Investimento (BEI) sublinha que o aumento dos preços dos alimentos e energia “vai atingir
duramente as famílias mais pobres” e que o impacto da inflação será “desproporcional” entre os
grupos sociais, bem como entre os Estados-membros13.
Não obstante isto, há a notar que, para tentar suster a pressão inflacionária sobre o preço do crude
– que no final de maio oscilou entre 115 e 120 dólares por barril14 –, a 2 de junho, os países da
Organização dos Países Exportadores de Petróleo e os seus aliados (OPEP+) acordaram o aumento
de 50% da produção diária a partir de julho15. Num momento em que a tendência de depreciação
do euro face ao dólar já fez com que a moeda europeia ficasse abaixo da paridade em relação à
moeda norte-americana – algo inédito nas últimas duas décadas16 –, permanece incerto que
impacto terá este aumento de produção.
Para a Zona Euro, o Banco Central Europeu (BCE), o FMI, a CE e a OCDE reviram em baixa a
estimativa de crescimento do PIB para 2022 face às que realizaram antes do início do conflito
(Tabela 1). Apesar de continuarem a apontar para um crescimento, é esperado que seja menor do
que o de 2021. As projeções destas instituições indicam ainda que esse crescimento seria ainda
mais reduzido se fossem considerados cenários de embargo ou de interrupção das importações
energéticas provindas da Rússia.
12
https://www.europarl.europa.eu/RegData/etudes/BRIE/2020/645716/IPOL_BRI(2020)645716_EN.pdf.
13
https://www.eib.org/en/press/all/2022-268-new-report-the-impact-of-the-war-on-europe-s-economic-recovery
14
https://pt.investing.com/commodities/brent-oil-historical-data.
15
https://expresso.pt/economia/2022-06-02-OPEP--aumenta-producao-de-petroleo-para-648.000-barris-por-dia-4e94231f.
16
https://eco.sapo.pt/2022/07/15/gasolina-desce-pela-sexta-semana-seguida-euro-trava-queda-maior/.
17
World Bank (2022), Europe and Central Asia (ECA) Economic Update, Spring 2022: War in Region, Washington, World Bank.
As projeções de crescimento do PIB realizadas pelo FMI para a economia mundial, para as
economias mais avançados e para os mercados emergentes e economias em desenvolvimento
são significativamente mais baixas do que o crescimento observado em 2021 (Figura 3)22.
6,8
6,1
5,2
4,4
2,4
Fonte: FMI23
18
Banco Central Europeu (2022), ECB staff macroeconomic projections for the euro area, ECB, Frankfurt am Main
19
IMF (2022), Regional Economic Outlook. Europe: Wr Stes Back the European Recovery, Washington, IMF
20
Comissão Europeia (2022), European Economic Forecast, Spring 2022, Institutional Paper 173, Luxembourg: Publications Office
of the European Union.
21
OCDE (2022), OECD Economic Outlook, Volume 2022 Issue 1: Preliminary version, OECD Publishing, Paris,
https://doi.org/10.1787/62d0ca31-en.
22
https://www.imf.org/-/media/Files/Publications/WEO/2022/April/English/text.ashx
23
https://www.imf.org/-/media/Files/Publications/WEO/2022/April/English/text.ashx
As consequências da guerra na Ucrânia têm-se feito sentir ao redor do globo e têm-se refletido
num aumento das tensões sociais. Em países como Paquistão, Peru, Irão, Sri Lanka ou Zimbabué
tem havido protestos, por vezes violentos, devido à inflação, que tem afetado sobretudo os
produtos alimentares. No caso específico do Sri Lanka, após a ocupação do palácio presidencial e
da residência do primeiro-ministro pelos manifestantes, o presidente da república renunciou ao
mandato25.
Os dados divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) indicam
que 90% da população ucraniana poderá enfrentar pobreza e extrema vulnerabilidade económica
caso a guerra se prolongue. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
(FAO) estimou que são necessários mais de 115 milhões de dólares para ajudar os agricultores e as
famílias ucranianas a evitar uma maior deterioração da situação de segurança alimentar e prevenir
a interrupção das cadeias de fornecimento de alimentos no país26.
A ONU estimou que o impacto desta guerra no mercado dos alimentos poderá fazer 7,6 a 13,1
milhões de pessoas passarem fome. Pelo mesmo motivo, a organização Human Rights Watch
(HRW) alertou que milhões de pessoas poderão passar fome em África, um continente onde muitos
países já enfrentam altos níveis de desnutrição e escassez de alimentos devido ao clima e à
pandemia de COVID-1927.
Num ambiente de tensão socioeconómica, a subida dos preços dos alimentos e da energia pode
aumentar, de forma indireta, a agitação social. Uma análise de dados históricos da Conferência
das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD) revela que, em geral, a
agitação social e o aumento do preço das commodities (em especial agroalimentares) estão
altamente correlacionados (Figura 4).
24
https://www.imf.org/-/media/Files/Publications/WEO/2022/April/English/text.ashx
25
https://visao.sapo.pt/atualidade/mundo/2022-07-15-demissao-oficial-do-presidente-do-sri-lanka-
substituicao-deve-demorar-uma-semana/.
26
https://www.fao.org/newsroom/detail/war-in-ukraine-fao-renews-appeal-to-bolster-agriculture-and-
provide-urgent-support-to-vulnerable-rural-households/en
27
https://multinews.sapo.pt/noticias/ucrania-ong-alerta-que-milhoes-poderao-passar-fome-em-africa-
devido-a-guerra/
Primavera Árabe
Guerra na
Ucrânia
Crise
económico- Pandemia de
financeira COVID-19
mundial
Na Europa, em Espanha, a inflação atingiu 10,2% em junho – o máximo desde abril de 198529 –,
tendo-se observado vários protestos contra o aumento do preço dos combustíveis30. A Alemanha
chegou ao valor histórico de inflação de 8,7%, em maio, com uma redução ligeira para 8,2%, em
junho, mês em que entrou em vigor um pacote de medidas de combate à subida dos preços31, e
enfrenta intensos movimentos de protesto.
No Reino Unido, a inflação, em junho, cifrou-se em 9,4%, o valor mais alto desde março de 198232.
Após a criação de um novo imposto sobre a energia, que indignou famílias e empresas que
enfrentam custos energéticos cada vez mais elevados, movimentos sociais e sindicatos
promoveram manifestações que, nas semanas de abril, ocorreram em diversas cidades e vilas
britânicas33.
Em vários países e em vários setores de atividade, desde a ferrovia até à aviação, têm ocorrido
greves com impacto significativo, motivadas pela luta por aumentos salariais, pela melhoria das
condições de trabalho34 e pelo aumento do custo de vida, evidente nos preços crescentes da
alimentação e da energia.
28
https://news.un.org/pages/wp-content/uploads/2022/04/UN-GCRG-Brief-1.pdf
29
https://eco.sapo.pt/2022/06/29/inflacao-em-espanha-supera-os-10-e-esta-em-maximos-de-1985/.
30
https://www.dn.pt/internacional/milhares-de-pessoas-nas-ruas-em-espanha-em-protesto-convocado-pela-extrema-
direita-14696271.html.
31
https://eco.sapo.pt/2022/06/29/inflacao-na-alemanha-desacelera-para-82-em-junho/.
32
https://www.rtp.pt/noticias/economia/inflacao-do-reino-unido-atinge-91-e-e-a-mais-elevada-dos-ultimos-40-
anos_n1414704.
33
https://www.theguardian.com/money/2022/apr/02/protests-energy-prices-cap-uk-electricity-gas-household-bills
34
https://www.bbc.com/news/business-61634959 e https://simpleflying.com/brussels-airlines-unions-seek-ceo-meeting-
after-3-day-strike/.
35
https://www.ft.com/content/d0c5815f-f0a2-49ad-8772-f4b0fbbd2c94 e https://eco.sapo.pt/2022/07/08/alemanha-reduz-
iluminacao-publica-e-raciona-agua-quente-face-a-crise-energetica/.
36
https://www.ft.com/content/736f82b8-932c-408a-bc14-1fadf2f14aa9
À entrada do sexto mês após a invasão russa da Ucrânia, é evidente que a unidade da UE depende
cada vez mais da sua capacidade de promover medidas e soluções que atendam às necessidades
específicas dos Estados-membros e setores de atividade mais afetados diretamente pelo conflito.
A resposta à crise atual implica tanto um esforço humanitário, de apoio aos refugiados ucranianos,
quanto a mitigação dos impactos sociais gerados pela guerra, pela inflação e pela atenuação
do crescimento económico. A prolongarem-se e a agravarem-se estes efeitos – cenário plausível
em caso de diminuição ou interrupção súbita do fornecimento de gás russo aos países da UE –, pode
ser necessária a criação de outro instrumento europeu, de recuperação e resiliência, semelhante ao
que foi criado em reação à pandemia de COVID-19.
Além da tensão internacional, importa não esquecer a tensão inerente às políticas públicas e
medidas que têm vindo a ser prosseguidas. Ao mesmo tempo que é necessário reforçar o
investimento em defesa, manter a aposta nas transições verde e digital e continuar a sustentar
as políticas sociais, apoiando nomeadamente as pessoas mais afetadas pelos efeitos da guerra e
do aumento do custo de vida, importa também manter o equilíbrio entre os esforços orientados para
uma futura recuperação económica e o combate ao aumento da inflação.
Tal como a crise pandémica, a guerra na Ucrânia veio reiterar a evidência de que alguns
acontecimentos ou fenómenos podem causar danos socioeconómicos generalizados e com impacto
profundo. É, por isso, necessária uma estratégia, uma orientação de longo prazo, que antecipe
problemas e riscos, mas também a capacidade de ativar políticas públicas e medidas de reação
a eventos contingentes que permitam manter a coesão social e proteger o regime democrático.
A nova situação geopolítica constitui tanto uma oportunidade quanto um risco para Portugal.
Se, por um lado, o país, pela sua posição atlântica, pode ser uma plataforma privilegiada e segura de
relacionamento com países não-europeus, permitindo a entrada de recursos fundamentais à Europa
– como, por exemplo, fontes de energia –, por outro lado, não deixa de ter um papel exigente em
termos de articulação e equilíbrio entre o processo de integração europeia e a cooperação com os
países da CPLP, vários dos quais não estão alinhados com a política de sanções à Rússia.