Josiane Veiga - Eita, Porra!
Josiane Veiga - Eita, Porra!
Josiane Veiga - Eita, Porra!
JOSIANE VEIGA
EITA PORRA!
JOSIANE VEIGA
1ª Edição
2020
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou
transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e
gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem autorização
escrita da autora.
Esta é uma obra de ficção. Os fatos aqui narrados são produto da imaginação.
Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real deve ser
considerado mera coincidência.
Título:
EITA PORRA!
Romance / Comédia
ISBN – 9781708152796
Texto Copyright © 2020 por Josiane Biancon da Veiga
Sinopse:
Daniel e Júlia eram amigos de longa data. Ambos atores de um seriado famoso,
mantinham uma relação de respeito e cumplicidade. Até que Júlia, ansiosa para pregar
uma pegadinha no amigo e alavancar seu canal no Youtube, colocou tudo a perder.
Uma confissão falsa transformou suas vidas e agora ela não sabia mais como se
livrar do problema.
Tinha fama, dinheiro, um gato maravilhoso e amigos incríveis. Não queria um
namorado.
Contudo... como conseguiria dizer ao seu melhor amigo que sua declaração de
amor era uma mentira?
Sumário
JOSIANE VEIGA
Nota da Autora
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Catorze
Capítulo Final
Epílogo Minikui
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Nota da Autora
Eu quis começar 2020 com Minikui. Esse é o personagem da minha vida, presente na saga Jishu
e no meu xodó, a Saga Na Karada. Ele também será um personagem super importante no livro que será
lançado em fevereiro de 2020: Apenas Segure a minha mão.
Minikui é um gato rabugento, com donos que o idolatram. Shuichi em Remissão deixava a
própria cama pro gato dormir confortável, Sakamoto, em Kinshi na Karada, amava-o mais que tudo, e
agora Júlia, nossa protagonista, prefere o gato que qualquer outra pessoa.
Percebam que ele não é o protagonista absoluto. Mas, ele modela a personalidade do
protagonista. Essa é a importância dele.
Esse livro é inspirado em uma fanfic de banda velha pra cacete que eu tinha no computador.
Aliás, reaproveitar textos velhos, a maioria escrito à mão em cadernos antigos, está sendo uma
característica da minha vida. Vocês vão ver muito disso em 2020.
Obrigada por mais um ano. Que nossa parceria se estenda para sempre.
Amo vocês ♥
Mil Beijos
Aquele tipo de sorte que você inveja porque nem em mil anos
conseguiria tal coisa. A sorte de criar chances onde só existe erro e
decadência. Sorte...
Assim foi com Júlia Mendes. Ela sempre se destacou desde pequena
pela aparência bonita e pelo lado extrovertido, mas foi pela sorte que foi
descoberta pela agência de talentos.
Estava na escola. Um dia normal como qualquer outro, não fosse a
apresentação reservada aos pais pelo dia da natureza. Ela foi declamar uma
poesia na frente de uma arquibancada lotada, as mãos um tanto trêmulas, a
voz um pouco fanha, quando começou:
“Nós fodemos...”.
Não. Não era fodemos. Era “podemos”, mas isso não importou.
Também não importou que a menina nem soubesse o que significava a
palavra nem porque pensara nela já que a única vez que a vira foi rabiscada
na parede do banheiro da escola.
Contudo, a dissera.
Era sorte.
Naquele mundo difícil de pessoas ainda mais complicadas, ela
encontrou quatro amigos incríveis. Ela descobriu que não precisava rivalizar
para ter sucesso. E ela era feliz.
Sortuda.
Outra coisa que podemos contar sobre Júlia. Ela tinha um pequeno ser
vivo que odiava a raça humana, mas que dividia a vida com a jovem, e que
adorava permanecer em seu colo, analisando a situação e cada instante
transcorrido no universo.
Mais um detalhe sobre Júlia: Ela era um tantinho má. Como Minikui.
Não sabemos dizer se foi o gato que roubou sua personalidade ou se ela que
foi infectada pelo felino.
— Isso é suspeito! — Otávio reclamou, olhando ao redor da sala,
percebendo que havia uma câmera e um pilar lá. — Você está planejando
algo, e eu tenho medo do que é.
***
Ela parecia nervosa, quase tímida, ou pelo menos esperava que Daniel
achasse isso.
— Aqui está bom — Júlia mordeu o lábio para conter um sorriso, mais
uma vez buscando fazer sua expressão preocupada. — Hum, apenas ...
Apenas me dê um minuto. Eu não sei por onde começar... — Ela tomou uma
respiração profunda, tendo que evitar uma gargalhada histérica.
Isso era tão legal! Ela até já conseguia visualizar o título em seu canal
do Youtube: “Vejam a reação de Daniel Trent quando Júlia confessou seu
amor”.
— July...?
— O quê?
Daniel riu sem jeito, um riso que parecia mais apavorado e inseguro
que qualquer outra coisa.
Daniel engasgou.
— Não há câmeras aqui, nem fãs que nos shipam ou coisa do tipo.
Somos só nós, Dani, dois amigos que se conheceram na Agência, que
trabalham juntos a vida toda e que... — Júlia respondeu, ela praticamente
podia ver a fumaça saindo da cabeça de Daniel. Ele obviamente estava
desesperado. — Eu nunca me senti mais idiota ou louca ou sei lá... do que
quando estou com você. Eu queria muito que fôssemos namorados...
Foi realmente difícil não rir das linhas na testa de Daniel, do seu olhar
assustado, do seu corpo trêmulo. Era isso que ela queria! O olhar surpreso no
rosto de seu amigo. Sua mão se moveu lentamente em direção ao bolso do
jeans, alcançando o papel escondido lá. Nele, uma frase escrita: “Você caiu
na minha pegadinha” brilhava com caneta rosa de glitter.
— July! — Algo em sua voz e expressão tinha mudado, mas July tinha
medo de colocar um nome sobre o que era. — Ouvir você dizer isso... É um
sonho?
Ele era gay. E um tanto afeminado. Aquilo nunca incomodou Júlia, até
então. Agora, ela queria jogar a revista na cabeça dele apenas por causa da
pergunta.
Ela não namorava. Nunca. Ninguém. Ela tinha orgulho de não precisar
de sentimentos.
— Minikui... — ela levou o gato para seu rosto e aspirou seu perfume.
Júlia não tinha tempo para namorar. Ela trabalhava muito. E nas folgas
ela assistia animes japoneses ou lia livros. Foi assim que ela nomeou o gato.
Deu a ele o mesmo nome do felino do livro Kinshi na Karada, porque aquele
gato era como ela: tinha amor próprio e se bastava.
— Nós não podemos deixar que isso vaze! Nada do que a câmera
gravou pode ser exibido. — July explicou apressadamente.
O homem assentiu.
Ela poderia chutar-se por ter sido tão estúpida. Já tinha feito muita
burrice na sua curta vida, mas essa tinha sido a sua ideia mais infeliz.
Por que não tinha notado antes? Por que não tinha considerado que
Daniel poderia gostar dela?
Daniel era seu melhor amigo. Ela o amava, se importava com ele. Mas,
aquilo não era sentimentos românticos. E agora...? A amizade que eles
nutriram por todos aqueles anos iria ruir se ela confessasse que tudo não
passou de uma brincadeira de mau gosto.
Os olhos de Júlia se abriram quando ela sentiu um toque gentil nos seus
ombros tensos. Era Daniel sentado ao lado dela com o sorriso mais doce e
feliz que ela já tinha visto.
— Ah... oi.
De repente a mão dele subiu até o queixo dela. Seus olhos ainda
preocupados, mas afetuosos. Havia em Júlia uma quantidade de
constrangimento que quase a fez fugir, não fosse o modo como os dedos de
Daniel pareciam queimar de uma maneira cálida.
Ok. Aquela porra era toda estranha, e July não tinha ideia de como
reagir.
— Eu posso?
— Ouça, Dani...
— Hum?
— Isso?
— Temos que dar um nome? Você disse uma vez que não gosta de
chamar alguém de “namorado”, não é? Se sente sufocada. — Ele riu sem
jeito, mas deixou o som morrer. — Eu não sei como nomear. Eu pensei...
Você está feliz?
— Feliz?
Não depois que ele ficou tão feliz. Ao mesmo tempo, ela não poderia
deixar que a mentira continuasse, não é? Isso seria ainda pior!
— Eu só quis dizer... Eu não sei... Fiz algo errado, July? Eu pensei que
você queria ouvir como eu me sentia, mas agora parece como...
Céus, ele parecia muito chateado e July queria dar um soco no próprio
rosto por ser a fonte idiota de todos os problemas que surgiram. Daniel
baixou o olhar novamente, piscando um pouco mais rapidamente do que o
habitual.
— Confessar?
Cada mentira que ela dizia parecia tornar as coisas mais cruéis.
Isso não era mentira, pelo menos. Sua cabeça latejava e a causa mais
provável era o estresse. Distraída pelos seus pensamentos, mal percebeu
quando Daniel levantou-se do seu colo, e então pressionou seus dedos
quentes contra suas têmporas.
Era seu melhor amigo. Ela rapidamente sentiu-se tranquila com o toque
relaxante e fechou os olhos.
Ele perguntou aquilo com tanta simplicidade que Júlia quase esqueceu
o clima que havia entre eles.
— O que somos agora? Eu não acho que temos que nomear nossa
relação ainda — Daniel falou baixinho, como se ele apenas meditasse em voz
alta para si mesmo. — Nós sabemos como nos sentimos — July não tentou
estremecer. — Agora podemos agir sobre isso.
A última coisa que ela precisava era Graça fazendo um escândalo sobre
eles, ou Luís os chamando de repugnantes, ou Otávio sendo todo atrapalhado
e pudico sobre as coisas que antes teria considerado normal. July precisava de
tempo para descobrir como fazer isso funcionar. Mentir para Daniel era
bastante ruim, mas mentir para todo mundo que ela conhecia era mais que
terrível.
— O quê?
— Vocês dois são loucos, sempre com essas mãos bobas e essas
brincadeiras idiotas, mas eu não sou besta o suficiente para pensar que há
realmente alguma coisa acontecendo entre vocês dois. Até porque você não
ama nada nem ninguém.
— Eu não sei se você reparou, mas sou a pior pessoa para você pedir
conselhos amorosos.
— Para começar, deve dizer a verdade para Daniel. Você não está
apaixonada por ele, certo? Bem, então você não pode continuar deixando que
ele acredite que você está. É cruel, e vai ficar pior se ele for enganado por
mais tempo. — De repente gargalhou. — Imagine vocês velhinhos sentados
na varanda de casa vendo os netos brincando no quintal, e então você diz:
“Ei, sabe quando eu disse que te amava? Era uma piada”.
— Não tem graça! — July exclamou. — Mas eu não posso
simplesmente ir lá no camarim e dizer a ele, Otávio! Você não viu seu rosto...
— ela suspirou, passando a mão pelo cabelo. — Daniel está realmente sério
sobre nós.
Não! Não! Não e não! Já estava bem difícil mentir pro amigo, ela não
iria mentir para a mãe dele. Fora que a senhora Maria descobriria a verdade
assim que a visse. A mãe de Daniel era muito perspicaz.
O fotógrafo fez uma pausa para trocar a lente da sua câmera e Daniel
continuou onde ele parou.
***
Otávio piscou.
— Não se envolva! July só tem que lhe dizer a verdade e tudo será
resolvido. Ela não precisa que nós tornarmos as coisas mais complicadas.
— Otávio! — Graça exclamou, soando entre exasperada, horrorizada, e
desesperada. — Você não entendeu nada! E se você fosse apaixonado por
mim, e eu dissesse que te amava também? — Ela estendeu os braços ao redor
do amigo, descansando a cabeça inclinada sobre o ombro do Otávio. — Você
não ficaria suuuuuper feliz?
Otávio corou.
— Bem...
— Eu acho que July não vai dizer a verdade dessa forma tão fria.
— Enfim, não importa se ela será gentil com ele ou se ela gritará com
ele, Otávio. De qualquer maneira, Daniel vai ficar magoado. — Fez uma
pausa, pensativa e então seus olhos pareceram brilhar. — Dani é nosso
amigo! Otávio, como ele continuará trabalhando conosco depois disso? E se
o nosso grupo se romper? O que vamos fazer? — Ela agarrou seu amigo
pelos ombros, olhos redondos e inquisidores.
Otávio teria gostado de dizer que Graça estava exagerando... mas ele
engoliu as palavras. Havia algo em Graça que era contagiante.
— Calma, ok? Vamos pensar em alguma coisa.
— Certo.
Só quando ela saiu daquela vez, Otávio pode enfim deixar seu pau
esbanjar xixi.
Capítulo Quatro
— Estou em casa!
July fechou a porta atrás dele. Eles tiraram os sapatos e esperaram por
uma resposta, mas a casa estava escura, e ninguém respondeu.
Ela era virgem. De tudo. Mesmo os poucos beijos que havia trocado,
haviam sido selinhos com ele. Beijão de língua era algo que nunca havia
existido na sua vida.
— Maricas?
— É — confirmou. — Romances.
***
— Otávio! — Uma voz sussurrou.
Otávio espiou sobre o jornal para saber que ele não estava mais
sozinho no camarim.
Otávio nem conseguiu ficar surpreso. Graça era assim, com essa
personalidade vibrante e cheia de ideias novas. Ele gostava dela, sentia-se
confortável com ela, mas queria fugir sempre que ela aparecia com alguma
novidade.
— Graça... Eu não...
— Onde estão todos? Tudo o que precisamos agora é July aqui, assim
podemos dizer-lhe o que está acontecendo!
Dessa forma, toda aquela novidade devia estar sendo incrível para
Graça.
— Acho que não. Leonardo Vieira nem faz parte da emissora que tem
contrato com a nossa agência.
— Estão sim.
Céus, tinha uma porrada de atores que Graça podia usar como exemplo
naquela farsa. Por que diabos ela foi escolher um que não tinha como estar
pegando Júlia?
— O que foi?
— O Leonardo Vieira...
— Meu Deus, não! Eu não vou falar do Leonardo Vieira. Foi seu pior
plano ever!
— July?
Na capa da revista, uma foto dela era destaque. Júlia nem lembrava de
ter dado aquela entrevista.
— Hum... Eu acho que sim. Por quê? Onde você está tentando chegar?
— Você poderia ser mais óbvia, Graça? — Otávio sibilou. — Você vai
fazê-la ficar com raiva de mim por ter te contado.
— O que foi?
— Precisamos conversar.
— O quê?
— Melhor?
— Ah, jura? Um trabalho você não tem? Eu achei que você tinha
compromissos, mas só estou vendo você perambulando de um lado por outro
pelo estúdio.
— July vai fazer uma audição para um filme mais tarde.
— E daí?
***
— Arthur!
Arthur já havia trabalhado com Graça numa novela adolescente que ela
protagonizou. Seu jeito irrequieto havia lhe dado tanta dor de cabeça que
precisou usar tranquilizantes na época. Tudo que buscava agora era ouvir
logo o que a outra tinha a dizer e se livrar da sua presença.
— Ideia?
— Ouvi dizer que você pediu para Júlia vir se apresentar hoje, né?
— Sim, é claro.
— E?
— Essa é uma grande oportunidade para Júlia! Ela vai poder interpretar
uma mulher forte e determinada. E nessa primeira fase, ela vai descobrir o
amor.
— Sério? Ah, eu realmente estou muito animada por isso! Você não
está animado, Otávio? — Ela se virou para Otávio, que permanecia sério. —
Seu maior problema é o ator que precisa considerar para Damon, não é? July
não costuma ter muita química com alguém...
O Renascer do Amor é uma história entre dois jovens que são forçados
a um casamento para gerar um herdeiro para as terras de Bungavília. A
história de época será gravada durante o ano, e terá como protagonistas da
primeira fase Júlia Mendes e Daniel Trent, famosos pela participação em
novelas e também no seriado jovem “Liberdade”.
***
Por sorte, Elza foi forçada ao casamento com Damon e July não
precisaria fingir amor nas primeiras filmagens. Porque já bastava todo o
estresse de aparentar uma namorada comum em meio àquele turbilhão de
emoções.
Pelo que ela sabia, Dani fazia muito sexo com as namoradas. Por que
porra do caralho ele não insistia com ela? Por que se mostrava
compreensivo? Em todas aquelas semanas ela não conseguiu um mísero
motivo para terminar o namoro.
E então veio o convite para o filme. Ela já havia feito a audição porque
considerava Elza um desafio maravilhoso, mas não esperava que seu
companheiro de cena fosse Dani. Em outras circunstâncias ela adoraria
dividir o tempo com o melhor amigo, mas agora estava desesperada e
nervosa.
Ela foi ao petshop como forma de desanuviar dos problemas. Minikui
precisava de novas roupinhas e brinquedos e ela queria fazer uma surpresa. O
shopping estava quase vazio, o que era uma sorte. Com um boné na cabeça,
ela andou tranquilamente e anonimamente pelos corredores.
— Ah! Júlia?
Ela teve o bom senso de não soltar um palavrão em voz alta. Em vez
disso, forçou um sorriso educado em sua expressão de pânico.
July estava ansiosa para arrumar uma desculpa e sumir, mas viu-se a
manter a boca fechada, enquanto a mãe de Daniel a analisava.
Mentir nunca era uma boa saída, mas Júlia estava desesperada para
sumir.
***
***
A porta bateu. Duas vezes. Depois, Daniel entrou, enquanto July estava
terminando de abotoar os botões da camisa.
— Oi — ele cumprimentou com um sorriso leve, começando a tirar
suas próprias roupas com a lentidão de quem está cansado depois de um
longo dia estressante.
Aquilo não era estranho. Desde cedo, Otávio e Luís também trocavam
de roupa perto dela. Eles não tinham muito tempo para pudor, quando
precisavam gravar horas e horas da novela adolescente que participavam.
— Daniel?
— O que é estranho?
— Sim? — Daniel não a deixou ir, apenas soltou sua presa o suficiente
para deixá-la de frente a ele e, em seguida, abraçou-se mais firme, deixando
os corpos colados. — Isso é bom, não é?
— Jura?
— Ele não tem uma dona, ele tem uma propriedade — ela riu, fazendo
uma careta.
— Então está bem, humana, vai lá cuidar do seu senhor — ele brincou.
Júlia não queria magoar Daniel. Eles sempre tiveram uma ótima
amizade, Daniel sempre esteve ao seu lado, sendo um apoio e um
companheiro em sua jornada dentro da Mask Agência. E agora ela podia
perder isso.
Estava desesperada. Era seu melhor amigo, não uma pessoa qualquer.
E depois, como ela conseguiria cruzar por ele nos corredores da Agência? E
gravar as novelas em contrato que eles tinham? Pior, e se ele a odiasse tanto
que nunca mais olhasse para a sua cara?
Minikui miou alto, mordendo com força sua mão, até sangrar. Ela
observou a mão machucada com torpor, pois já era acostumada ao
temperamento tempestuoso do seu gatinho.
Minikui sabia que ela lhe daria banho antes mesmo de entrar com ela
no banheiro. Assim que foi pego no colo, começou-se a retorcer-se, miar alto,
desesperado, e tentar lhe arranhar e morder. Como era acostumada as
mordidas e arranhões, Júlia simplesmente seguiu seu caminho até o banheiro.
***
Para Elza era quase risível que Benjamin, seu primo, lhe questionasse
tal coisa. Uma mulher lá tinha direito de escolha?
— E para quê? O que me importa se terei que casar com Damon Rylee
ou com outro? São todos iguais. Contanto que não me bata já estarei
satisfeita.
***
Valentim era o ator que dava vida a Benjamin, primo de Elza. Ele era o
antagonista daquela história.
— Acredito que Elza sabe que vai transformar a vida de Damon num
inferno. — July riu, franzindo a testa. — Por isso aceita tudo.
July sentiu-se estranha com o comentário. Para ser sincera, ela não
tinha se inteirado muito da história. Essa última cena em particular, o
confronto entre os primos, não conseguiu concentração total. Até porque, a
própria cena lhe lembrava da sua situação. Elza entrava em um casamento
sem amor, enquanto Júlia enfiara-se num namoro com o mesmo sentimento.
Ela amava Daniel. Muito. Mas, não da maneira que o outro esperava.
Talvez não fosse seu olhar, e sim o de Elza. Talvez fosse Elza
sentindo-se estranha perante a doçura inesperada do esposo. Era isso! Tinha
que ser! Ela precisava separar seu personagem de si antes que as coisas
ficassem mais complicadas.
— Nada de especial.
— Como você pode sentar-se por tanto tempo e não ter nada para
pensar?
— Só estou feliz.
Outro breve silêncio caiu entre eles e Daniel percebeu Júlia
contemplativa.
July olhou para ele. Era uma pergunta simples e bastante comum, mas
Daniel havia dito com cuidado, timidamente
Pela Virgem, ela era muito inexperiente. Todo mundo que ela conhecia
tinha uma vida sexual ativa e não tinha vergonha de falar disso. Mas, Júlia só
pensava em gatos, em assistir jogos de futebol e em documentários sobre
teorias da conspiração.
Mas, agora havia Daniel. E com ele havia um namoro. E com esse
namoro, um beijo.
— Além disso, não será nosso beijo, não é? Isso é algo entre os
personagens. Eu vou me manter bem atento a isso. Não quero que nosso
primeiro beijo real, de língua e essas coisas, seja de forma mecânica.
July baixou os olhos, encarando suas mãos unidas. Aquilo era tão
confortável, como se sempre fossem assim. Ela olhou para cima e percebeu
Daniel a encarando. Estremeceu. Em seguida, ele se aproximou, fechando a
lacuna entre eles.
— Dani, o quê...?
Daniel ficou um pouco frustrado, mas não demonstrou. Para ele, estar
perto dela parecia significar mais do que qualquer coisa.
— Minikui terá que aceitá-lo porque esse também será meu filho.
Daniel quase ficou sem palavras diante de tamanha beleza. Céus, ela
era linda. Mais que isso... uma pequena joia perto de um mundo terrível.
A cena, no livro, seria de sexo oral, mas Arthur a modificou para ficar
mais livre ao público. Então, Daniel apenas subiu o corpo, e a tomou nos
lábios.
Não era mais Elza. Ela Júlia. Ela tomou o controle. Ela estava
beijando-o enlouquecidamente.
Daniel estava pressionado contra ela. July podia sentir o tremor de seu
corpo másculo. Ele estava quente, e ele tinha gosto de enxaguante bucal. No
entanto, a estranheza do sabor não era ruim, ao contrário, parecia perfeito.
July sentiu que tinha que saborear o máximo que podia antes de se
desvanecer, como se fosse algo que precisava, não importasse o quê.
Ela levantou um tanto rápido, ansiosa para fugir do que quer que fosse
que aconteceu naquele quarto. Contudo, seu corpo ainda estava entorpecido
pelas sensações recém descobertas e, tão logo se pôs de pé, ela caiu no chão,
afundando-se na escuridão.
Capítulo Nove
Naquele momento houve uma batida leve na porta. July virou a cabeça
para ver Daniel ali em estado de choque aparente. Depois de um instante, ele
pareceu voltar ao normal, indo até ela, quase atirando-se de joelhos ao lado
da cama, olhando para July com um grande sorriso de alívio.
— Cadê o Minikui? — foi tudo que ela indagou, ao perceber que não
estava mais no trailer e o gato não estava com ela.
— Ele ficou no camarim. Dei água e comida para ele, mas achei
melhor não trazê-lo comigo.
— Estou?
July sentiu lágrimas aos olhos. Ela não merecia esse tipo de confissão;
Daniel merecia alguém muito melhor, alguém que não iria machucá-lo como
July estava fazendo. Porque se Daniel sabia ou não da verdade, não
importava, o dano já havia estava feito.
— Por favor, não chore... vou pedir pra alguém buscar seu gato.
July afundou na cama, puxando Daniel com ela. Ela virou a cabeça,
quase se escondendo debaixo da dobra do pescoço Daniel, inalando
profundamente o cheiro do seu cabelo e da sua pele. Ela não se importava se
as coisas tinham começado mal e foi tornando-se um pouco pior, ela só
queria uma noite para recordar porque amanhã não restaria nada.
Amanhã ela lhe diria a verdade. Ele precisava saber. Ela não podia
mais enganá-lo.
***
— Júlia?
— Eu achei que você poderia tentar fugir. — Foi sua resposta. — Nós
duas precisamos ter uma conversa.
***
— Leonardo Vieira?
Luís franziu a testa em confusão. Estava bêbado, mas ainda não era
retardado e conseguia captar as insinuações.
— Que plano?
— July mentiu para Daniel que ela estava apaixonada por ele, ele
acreditou e agora estamos tentando consertar tudo e fazê-la se apaixonar de
verdade!
— Desconsidere isso, você sabe que ela fica louca quando bebe... —
Otávio disse.
Luís ficou para trás, tentando refletir sobre as informações que ele tinha
acidentalmente recebido. Ele estava bêbado, completamente fora de sua
mente, mas de alguma forma ele podia imaginar que aquilo tudo era real.
***
— Então — Ela começou —, ouvi dizer que você está namorando o
meu filho.
July não podia devolver o seu olhar. Ela não parecia chateada, mas ela
também não parecia feliz. Seu tom era decididamente neutro, como se Maria
estivesse tomando o cuidado de esconder suas emoções.
— Mas não demorou muito para descobrir que não era verdade.
— Como?
— E você é a dele, isso não significa que não há espaço para haver
mais.
— Eu não estou pedindo para você viver uma mentira, apenas acho que
você deve considerar seus sentimentos por ele antes de acabar com tudo.
— Mas foi apenas uma brincadeira que saiu do controle. — July disse,
pensamentos no beijo que trocaram no dia anterior, mas ela os empurrou de
lado. — Ele é só meu amigo, nada além disso. Eu estava fazendo uma piada
quando disse que lhe amava. Como eu podia adivinhar que ele nutria algo por
mim?
Maria abriu a boca para dizer alguma coisa, mas ambas congelaram
com o ranger de uma tábua no assoalho da sala. Por um instante houve
silêncio como se todos tivessem medo de descobrir a verdade, mas depois,
July ficou de pé e aproximou-se da sala às pressas. As luzes estavam
apagadas, mas não foi difícil ver a figura apoiando-se fortemente contra a
parede ao lado do armário, em frente à entrada para a cozinha.
— Vá embora.
— Mas...
— Vá agora!
— Por favor, July. — Daniel encontrou seu olhar e sua expressão mais
uma vez fez sua respiração vacilar.
July deu um último olhar para a casa que ela costumava frequentar a
anos. Questionou se essa seria a última vez que estaria lá.
Capítulo Dez
Mas, não era nisso que ele pensava enquanto se sentava no sofá do
camarim.
Já era difícil ser gay. Já era difícil manter sua vida fora dos holofotes.
Já era difícil viver no armário para não perder os contratos importantes com
algumas empresas. Ao menos, dentro do grupo de colegas, ele preferia a paz.
Dessa forma, Luís não pretendia sentar e deixar que os danos fossem
maiores. Ele sabia que o que quer que estivesse contecendo estava destinado
a acabar mal, e isso prejudicaria não só a ele, como também a vários
funcionários da Mask Agência. Tinha empregos em jogo, como aqueles dois
podiam se enredar num namoro furado quando a vida de pessoas dependia de
seu profissionalismo?
— Bom dia — disse Luís, vendo como Daniel saltou ao perceber que
havia outra pessoa no camarim.
— Ah, oi...
— Não importa! Eu pedi sua ajuda e você deixou claro que era
problema meu! Eu até perdoaria se você tivesse se mantido longe, mas agora
eu descubro que Daniel entrou no filme por indicação sua e de Graça! Por
que quiseram piorar as coisas?
— Você está errado! — July exclamou. — Ele era meu amigo e nunca
senti nada além disso, nada além de amizade!
Daniel se levantou, indo para a porta. Luís o seguiu. A porta se abriu e
ele encarou o trio que pareceu engasgar por estarem a tão pouca distância do
outro.
— Nada?
— O quê? — July questionou com a voz rouca, não tenho certeza que
ele tinha ouvido corretamente.
— Desculpe-me.
Daniel socou a parede ao lado dela com força. Ela se assustou e saltou
em direção a Otávio, que logo a teve nos braços.
Nunca, em todos aqueles anos, viu tal reação. Aquela explosão lhe deu
pavor.
— Você é uma cadela egoísta — Daniel disse e ela não podia negar. —
Você brinca com as pessoas como se só seu mundo tivesse valor. Não
lamento que você não goste de mim... Na verdade, eu sei que um dia me
sentirei aliviado. Você não é alguém que vale o sofrimento de outra pessoa.
***
Luís tinha gravações com July naquele dia, mas após saber de tudo –
Daniel lhe contou os detalhes – ele nem conseguia olhar para a cara dela.
Graça e Otávio tentaram impedir uma discussão durante as filmagens, mas
não foram felizes em evitar que os dois saíssem se xingando mutuamente
depois de Luís chamá-la de “vaca”.
O que Luís não conseguia entender era como Otávio e Graça ainda
estavam tentando defender July, insistindo que ela não tinha intenção de
machucar Daniel.
Pela primeira vez, Luís pensou em sair da Mask. Ele nem conseguia
olhar para July, tamanho nojo que estava da cara dela. Contudo, também não
queria deixar Daniel sozinho para enfrentar a situação.
Em seguida, seus dedos sangraram com a mordida que o felino lhe deu.
***
— Estou fedendo?
July tentou agir como se não se importasse com o fato de Daniel passar
a ignorá-la sempre que eles estavam fora dos estúdios. Apesar de sentir suas
esperanças surgiram sempre que cruzassem pelo corredor, ela se afundava em
tristeza quando ele desviava o caminho ou o rosto, ignorando os olhos
repletos de lágrimas e a dor no coração.
Um dia ela o esperou após uma gravação. Queria falar com ele, mas
Daniel não estava disposto a ouvi-la e simplesmente a deixou falando
sozinha.
Eles se viam todos os dias, mas ainda assim era como se estivessem a
quilômetros de distância.
Daniel não tinha planos de perdoá-la pelo que havia acontecido. Meses
se passaram, as filmagens – com os atores da segunda fase — para o filme
terminaram e o longa entrou em fase de edição, enquanto o grupo de amigos
teve seu seriado renovado para mais uma temporada. Eles estavam ocupados,
constantemente em trabalhos de divulgação, leitura dos projetos, ou em
trabalhos solos, para a publicidade. E, mesmo assim, não houve um único dia
em que July não sentiu falta do melhor amigo e ânsia por tê-lo, dar as mãos
com ele, e dizer-lhe o quanto ela se importava.
***
— Ah, é hoje a pré-estreia do filme? Sério, você está linda! Ela não
está linda, Luís? — dirigiu-se ao outro colega, sentado perto do espelho.
Era difícil acreditar que tanto tempo havia se passado, que o ano foi
gradualmente se aproximando do fim. Mas a dor não havia desaparecido com
o tempo, e July quase desejava que pudesse voltar ao passado e desfazer o
momento em que Daniel descobriu tudo.
Daniel ficou olhando para o lugar vazio onde ela tinha estado, também
parecendo chocado com o que tinha acontecido, como se ele tivesse agido
impulsivamente, sem pensar, antes de estudar as mãos e deixá-las cair para os
lados.
***
Claro, no seriado que eles faziam, Júlia e Daniel não eram um par
romântico, mas seus personagens eram amigos, e havia um certo shipper por
parte dos fãs pelos dois. Isso os fazia praticarem o que se chamava de
“fanservice”, trocas de olhares ou toques em frente às câmeras só para
fazerem os fãs felizes. Mas, nunca houve nada além disso.
Nunca mesmo.
Daniel saia com outras garotas, Júlia conheceu algumas delas, e sempre
se deu bem com todas.
Luís nunca tinha pensado que talvez houvesse algo além de amizade,
antes. Agora que ele considerava isso, algumas coisas no olhar triste de Júlia
começava a fazer sentido.
July era uma estúpida se não havia percebido seus sentimentos. Daniel
era um tolo se não entendeu que a garota o amava. Talvez eles precisassem
de ajuda... Não que ele devesse se envolver, mas...
Ele gostava dos dois. Mais de Daniel. Nunca viu ou sentiu, da parte do
rapaz, qualquer preconceito por sua condição sexual. Daniel sempre o tratou
como um amigo, sempre o respeitou, sempre torceu por ele. Vê-lo tão abatido
nos últimos meses o deixou igualmente triste.
***
Ela percebeu que havia mais poltronas vazias, mas não tinha desculpa
para mandá-lo embora. Assim, balançou a cabeça, mantendo os olhos na tela
em branco.
— Pode — disse.
— E você tem ancas largas apesar de ser magra. Acho que terá muitos
filhos.
***
— Hum?
— Me perdoa.
July suspirou.
***
Foi mais fácil entrar no local do que Luís tinha pensado que seria. Ele
disse para as pessoas que trabalhavam dentro do teatro que tinha esquecido
seu convite, e como ele era uma estrela da emissora, ninguém duvidou dele
ou pensou em verificar seu nome na lista de convidados.
De repente, ele viu July e Daniel sentados lado a lado. Ele não sabia se
era uma obrigação para promover o filme, mas ficou surpreso que nenhum
dos dois parecia incomodado pela presença do outro.
Silenciosamente, ele esquivou-se para baixo para não bloquear a visão
de alguém. Seu plano era se sentar na escada, numa posição onde teria uma
boa visão de seus colegas.
— Luís?
— Oi Valentim.
— Sério?
Luís assentiu. Valentim virou-se para olhar para o par com curiosidade.
Ele tinha uma visão perfeita, e seu sistema funcionou. Luís ficou tão
atento quanto possível, alternando entre ver o filme e assistir as reações de
seus companheiros.
À medida que a tensão sexual entre Elza e Damon crescia, Luís
constatou que Daniel estava seguindo o enredo com os olhos tristes, mas July
ficou a maior parte do tempo olhando para os joelhos, perdida em seus
pensamentos.
Olhando para o par, viu Daniel mudando seu olhar para baixo,
enquanto que July estava olhando para a tela com as sobrancelhas desenhadas
firmemente. Ela estava fisicamente magoada, e sua expressão era a epítome
da confusão.
A janela acima da pia deixava uma fraca luz externa entrar e os olhos
de July ajustaram-se rapidamente. Ela suspirou quando o líquido no copo
terminou de derramar pela sua garganta seca, e o largou na mesa, não
preocupando-se em lavá-lo e guardá-lo.
Depois, rumou para o quarto.
Ela queria dormir, queria que sua mente calasse a boca por, pelo
menos, algumas horas.
July golpeou, tentando jogar o outro corpo longe, mas achando que
havia muito pouco o que ela poderia fazer em sua posição atual.
— Eu tinha que falar com você, mas levou mais tempo do que eu
esperava então eu vim deitar.
— Do pau oco!
Ela havia tomado alguns drinks na festa. Não diria que estava bêbada,
mas estava triste e o álcool a deixou um pouco alheia.
Ela sentiu lágrimas nos olhos. Logo, foi puxada de encontro ao peito
do amigo. Chorou contra ele, tentando aceitar aquela verdade difícil.
Sim, ela amava Daniel. E sim, ela havia perdido qualquer chance com
ele. Depois do que fizera, como poderiam resgatar aquela relação? Eles
haviam sido muito amigos, Daniel confiara muito nela. Agora, tudo estava
anulado.
— É melhor assim, não é? Fui cruel com seus sentimentos, e não acho
que ele precise de mim para confundi-lo mais. Deixá-lo seguir em frente é o
melhor que posso fazer.
— Se você realmente o ama, você não vai deixá-lo ir. Mesmo que
queira, não vai conseguir.
— July, ele te ama. Ele não te odeia pelo que aconteceu, mas ele está
sofrendo há meses, porque ele acha que você não o ama. Você pode
convencê-lo de que seus sentimentos são reais. Você só precisa tentar. Você
não gostaria de vê-lo sorrir de novo?
— Que bom! Isso não é um filme, você não precisa de um roteiro para
seguir. Diga apenas o que você sente. Não acrescente nada além disso, não
subtraia nada além disso.
— Luís...
— Você sabe onde ele está agora? — July sacudiu a cabeça e Luís
pegou seu telefone celular, discando o número do amigo. — Daniel, oi? Onde
está você? Só para saber... Eu estava saindo para comprar algo e eu vi alguém
que se parecia com você. Ah, acho que não... Esquece, eu te vejo amanhã.
— Ele saiu da festa do filme, e está no táxi, indo para casa. Apanhe um
táxi, intercepte-o antes de chegar. Pegue-o desprevenido.
***
— July? O que você está fazendo aqui? — Só então ela percebeu que
ele tinha fones de ouvidos, os quais arrancou, olhando confuso e assustado
para ela.
Nas mãos, um celular. Havia o brilho de uma música tocando nele. Não
sabia que música era, esperava que fosse romântica.
— Sim?
— Você... — July suou frio, sua mente parecia estar tomada por
confusão e choque. — Isso é o que você quer? Você não está apaixonado por
mim?
— Eu quero que as coisas voltem a ser como eram. Vamos ser amigos
de novo? Será que podemos?
Ela sentiu a boca amargar. Aquele muro foi ela que construiu. Cada
tijolo ali, fora ela que colocou.
Então, se era isso que Daniel queria, se era isso que o faria feliz, ela
não tinha motivos para recusar.
— Você sabe que horas são? —gritou para quem quer que fosse, não se
incomodando com uma saudação.
— Você atendeu... — respondeu uma voz fanha e abatida.
Luís esfregou a testa com a mão livre. Aqueles dois deviam estar em
um quarto naquele momento, não enchendo a cara. Que porra de casal mais
esquisito!
— Mas, não deu certo, então estou tentando que as coisas voltem a
normalidade. Assim, eu pedi a ela para voltarmos a sermos amigos. July disse
que queria o mesmo, então eu penso que tudo vai ficar bem agora.
— July disse isso antes ou depois de você pedir sua amizade? — Luís
resmungou entre os dentes.
— Luís?
***
— Sim?
— Estou.
— Eu?
A música alta ecoou no bar e ela observou a banda que fazia um show
ao vivo. Na semiescuridão do ambiente, suas lágrimas ficaram camufladas.
***
— Eu não sei o que quero, mas eu gosto quando ele está feliz. E isso
pode fazê-lo feliz. Então é tudo que importa.
O rapaz pensou em ir até ela, mas Otávio pegou-o num braço, enquanto
Graça pegou pelo outro e eles o guiaram para fora do camarim.
— Mas eles estão andando em círculos. Isso não vai a lugar nenhum se
não fizermos nada!
— Mas, Luís — Graça olhou para Otávio antes de falar: — Talvez seja
melhor que eles sejam apenas amigos.
Júlia tentou ao máximo que a relação com Daniel voltasse ao que era
antes do seu erro, porém aquela cumplicidade havia sido aniquilada pelas
rachaduras que fingiam não estar lá.
Enquanto os dias foram passando, ela foi murchando como uma flor
sem ser regada. Daniel até lhe sorria ou lhe acenava, amistoso, mas ela sentia
uma réstia de receio em seus olhos, uma mágoa que não se escondia.
Uma noite ele foi embora com uma das figurantes do seriado. Júlia
assistiu os dois saírem de mãos dadas do camarim, e depois se refugiou no
banheiro para chorar porque jamais pensou que a dor de amor pudesse ser tão
física.
***
— Eu não bebi.
— Eu estava pensando...
— Mas eu posso!
—É Daniel?
July continuou.
— Só como amiga.
Otávio riu.
— Dar o primeiro passo? Mas, ele está feliz agora. Ele está saindo com
algumas garotas e sei que está se divertindo. E eu não quero bagunçar tudo de
novo...
— July, pare por um segundo e pense. Você sabe o que realmente vai
fazer Daniel feliz é mais do que apenas a sua amizade. E você tem que parar
de usar a felicidade dele como uma desculpa para sua covardia. Dane-se a
felicidade dele! O que faria você feliz? Pense nisso, porque eu sei que você
não está feliz de como as coisas estão agora.
— Mas ele...
— E você disse que ele está saindo com algumas garotas. É, eu vi.
Contudo, eu também o vi olhando para você com o canto dos olhos, buscando
qualquer traço de ciúme, qualquer resquício de que você também o queira.
Mais duas batidas e a porta se abriu. Daniel estava ali, de pé, olhando
assustado, confuso e um pouco irritado, não vestindo nada além de uma
toalha na cintura fina. Ele estava todo molhado e a garota percebeu que o
havia tirado do banho.
Ele sabia quem era aquela garota. E ele a amou mesmo assim. Mas,
agora... estava tudo embaralhado em sua mente. Aquela nem parecia a sua
July, obstinada e sedenta. Sua garota era uma virgem gentil, temerosa em
relacionamentos. A moça (moça? Mulher!) diante dele era alguém que sabia
exatamente o que queria.
A boca máscula se abriu levemente e ele não podia fazer nada além de
se embasbacar com a jovem, sem saber se o que ela dizia era uma nova
brincadeira de má-fé ou não. Seu aperto no pulso July diminuiu e seu olhar
cintilou como se ele estivesse procurando a verdade no olhar ansioso.
July puxou sua própria camisa do pijama para cima. Daniel começou a
empurrar para baixo o cós das calças de July. A garota equilibrou-se
precariamente um pouco para ajudar a empurrá-los para fora com seus pés.
Daniel quase nem percebeu que a tinha despido, levando-a até a cama.
Sua voz era exigente, baixa e forte, mas July podia ouvir o tremor.
Apesar de ser exigente, ainda era seu Daniel. Ainda temia machucá-la.
A moça não sabia o que pensar sobre isso. Ela devia ser grata por
Graça pensar na sua saúde, ou sentir-se insultada porque a outra se envolvera
no que estava acontecendo no quarto?
— Você está bem? — ela indagou a Daniel, percebendo que ele não
fazia menção de voltar a posição anterior.
— Não! — ela negou rápida. — Claro que não! Mas, eu vou entender
se você não quiser me ver, nem me ouvir...
Daniel estava lhe dando uma oportunidade. Isso era importante e ela
sabia disso. Se estragasse isso, provavelmente não haveria outra chance. O
olhar de Daniel foi o suficiente para lhe transmitir a mensagem.
Após uma longa pausa, ela sentiu o calor da mão de Daniel em seu
ombro, puxando-a suavemente para perto. July apenas se deixou ficar
apertada contra o peito nu de Daniel. Ela fungou, mas sufocou as lágrimas,
tentando morder um soluço enquanto ouvia os batimentos cardíacos de
Daniel e sentia a ascensão e a queda de suas costelas abaixo.
Daniel rolou-a para seu lado, um de frente para o outro, e quando July
encontrou seu olhar apenas sabia que estava perdoada. Claro, havia
vulnerabilidade lá, cicatrizes deixadas com seus erros, mas havia também a
confiança e afeto.
Daniel beijou-a devagar. Depois, seu ritmo foi aumentando. E era tão
bom. Era um beijo tão quente, mas, igualmente, tão gentil, que Júlia sentiu-se
languida e acesa.
Apertados um contra o outro como se fossem um só, as coisas
mudaram rapidamente. A coberta e a toalha voaram em direções opostas. July
tomou a liderança, levantando-se acima em seu cotovelo enquanto o beijo
deles assumiu um ar quase frenético.
— Eu sei que você sabe, mas... olha... não tenho nenhuma experiência
com isso.
Algo retumbou em seu estômago e ela sentiu que queria pressa. Queria
que ele se movesse mais rápido. Mas, ao invés de lhe dar isso, Daniel afastou
as mãos e apressou-se a rasgar a embalagem do preservativo.
Ela era virgem. Ele sabia. Precisava ir com calma para não machucá-la.
Como atingiu o limite de quão longe poderia ir, Daniel travou, com
medo de qualquer ação que pudesse ferir a garota respirando superficialmente
abaixo dele. July teve que exortá-lo a se mover e, quando o fez, não pôde
deixar expressar um gemido baixo. As pernas delgadas de July estavam em
volta dele, puxando seus corpos até um ritmo constante, suas estocadas lentas
e profundas.
Havia dor. Mas também havia algo que não dava para ser expresso com
palavras.
Júlia teve de romper o beijo um minuto depois, seu corpo ficou tenso e
quase tremeu violentamente.
Sem experiência, ela não conseguiu segurar o gozo. Seu corpo latejou,
enquanto Daniel dava um urro seco, derramando-se mais.
July estava lá, o corpo suado, sua pele adornada com pequenas
mordidas, seu cabelo estava uma baderna e colado na testa, seus lábios
estavam machucados e um pouco inchados. Ela estava absolutamente
bagunçada, mal conseguia girar sua cabeça e emitir um sorriso através de seu
esgotamento, mas Daniel pegou o brilho nos olhos gentis e pensou que essa
era o momento mais belo que ele já tinha experimentado em sua vida. Seu
coração acelerou, queria que o tempo parasse, pois nem mesmo uma
fotografia poderia captar a perfeição que estava sendo maravilhado.
July suspirou.
— Sim.
O dia estava calmo, como eram, aliás, todos os dias. Havia uma brisa
leve a soprar, o som dos pássaros a cantar e a voz de uma ou outra pessoa
que passava em frente a minha casa. Nada que pudesse me incomodar,
realmente. Espichei meu corpo no sofá que tanto amava e ronronei perante a
boa fase de minha vida.
Oh, quem eu sou? Durante um tempo não tive nome. Hoje eu sou
chamado de Minikui. Mas, esse nome é esquecido na maioria das vezes,
preterido por um sonoro “bebê” que me emputece.
Sim, eu imagino o que você está pensando, caríssimo leitor, e peço que
tire esse sorriso bobo da face. Ora essa! Eu, um ser superior sendo erguido
do chão pela minha tutora e beijado com paixão enquanto escuto aquela
frase ridícula “Meu bebê lindo!”.
Humanos... humanos...
Eu sou um gato. Gatos não nasceram para servir, não nasceram para
serem beijados e mimados como criancinhas bobas.
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Josiane Biancon da Veiga nasceu no Rio Grande do Sul. Desde cedo, apaixonou-se por literatura, e
Aos doze anos, lançou o primeiro livro “A caminho do céu”, e até então já escreveu mais de vinte
livros, dos quais, vários se destacaram em vendas na Amazon Brasileira.