Romeiros Da Ilha São Miguel
Romeiros Da Ilha São Miguel
Romeiros Da Ilha São Miguel
Este movimento que acontece por altura da Quaresma por toda a ilha de São Miguel,
tem as suas origens segundo alguns estudiosos do tema, no longínquo séc. XVI, e a sua
origem associada às manifestações vulcânicas que assolaram a ilha de São Miguel,
designadamente, em 1522 e em 1563 e que arrasaram Vila Franca do Campo, na altura
a capital da ilha.
Naquela altura, qualquer tipo de cataclismo natural era visto como uma punição divina
para os pecados humanos. Este sentimento era apreendido e fomentado pela igreja
como forma de apaziguar essa tal fúria divina. A partir desta altura começaram a
realizar-se romarias a templos marianos espalhados por toda a região, com o objectivo
de pedir protecção da Virgem Maria. Esta tradição reveste-se de um profundo
sentimento penitencial e tem-se mantido praticamente inalterada ao longo dos
tempos, até aos nossos dias.
As romarias quaresmais, efectuam-se por grupos organizados por paróquia ou
freguesia, embora possam acolher romeiros de fora. Constituíam-se como grupos
informais e, nos dias de hoje existe uma preparação para a romaria que se estende ao
longo do ano e apadrinhada pela Igreja. O rancho de romeiros demora uma semana de
caminhada por caminhos e veredas de modo a visitas todos os templos marianos da
ilha. A saída de cada rancho ocorre antes do amanhecer, e a entrada nas localidades
para as pernoitas, acontece logo a seguir ao pôr-do-sol (Trindades). A romaria faz o seu
percurso saindo da freguesia de origem e seguindo um itinerário segundo os ponteiros
do relógio. No derradeiro dia da romaria, os familiares dos romeiros aguardam o
rancho à entrada da freguesia, tomam a refeição com ele, acompanham-no depois na
parte final do percurso e assistem com ele à eucaristia dominical que põe fim à
Romaria.
O romeiro é por princípio um leigo, mas é apoiado durante toda a romaria pelo clero.
A participação na romaria é tida como uma manifestação de fé, com uma profunda
consagração à oração durante toda a romaria, com a tradicional “Avé Maria dos
Romeiros” que é entoada durante todo o percurso. Junto dos templos, existe uma
oração específica de graças e de oferenda à Virgem das suas orações e sacrifícios. Os
romeiros seguem lado a lado, em duas filas com os bordões transportados em posição
quase horizontal do lado de dentro da ala, enquanto os terços são transportados na
outra mão e seguem do lado de fora. Esta formação só é abandonada nas orações
junto ao templo, nas pausas para descanso, ou refeições.
Avé Maria dos Romeiros
O Romeiro apresenta-se sempre com uma indumentária própria: um Xaile, um Bordão,
um Lenço e um Saco ou Sovadeira às costas e um terço na mão. Esta indumentária está
associada em primeiro lugar a factores de ordem prática, mas existe também toda
uma simbologia associada a estes elementos identitários:
Xaile – De protecção contra a intempérie, mas também é associado ao manto que
Cristo ostentava na varanda de Pilatos;
Bordão – constitui uma ajuda para apoiar e facilitar o caminhar do peregrino pelas
veredas e atalhos acidentados da ilha. Também está associado ao ceptro que os
soldados romanos lhe colocaram nas mãos para O ridicularizar junto de Pilatos;
Lenço -Destina-se a protecção do romeiro, mas pode igualmente ser relacionado á
coroa de espinhos.
Saco ou Sovadeira – Elemento para transportado às costas destinado à guarda dos
alimentos e outros pertences do romeiro. Este elemento relaciona o sacrifício do
romeiro, ao suplício do carregar da cruz a caminho do Calvário.
Terço – Tem como finalidade acompanhar a oração e representa também a ligação
entre os irmãos.
As romarias organizam-se segundo uma estrutura específica, seguindo uma hierarquia
e constituída por:
Mestre - que detém a autoridade do rancho e a quem os romeiros devem obediência.
É também o responsável pelo itinerário e logística do rancho, conserva a paz, a
harmonia, o respeito e disciplina, o estado anímico e de saúde dos irmãos.
Contramestre – Tem por função ajudar e coadjuvar o Mestre e na sua ausência,
substituí-lo
Procurador das Almas- tem por missão receber a anotar os pedidos de oração pelo
povo ao longo do percurso ou nas orações nos templos. Normalmente segue na
traseira do rancho para poder receber as intenções dos crentes. O crente deverá rezar
o mesmo número de orações solicitada.
Lembrador (alembrador) das Almas - tem a seu cargo lembrar as orações pedidas.
anunciar e pedir orações especiais dentro da Romaria, deverá ainda fazê-lo à
passagem desta pelos cemitérios. A sua posição é no meio do rancho.
Ajudantes, despenseiros e guias – São romeiros com atribuições informais e que têm
por função ajudar o Mestre na organização da romaria. Os Guias são colocados na
frente do rancho.
Romeiros de São Miguel - Aguarela por Ana Margarida Carvalho
CRÉDITOS
Blog Origens
E-Cultura – Romeiros de São Miguel
Rancho de Romeiros do Santuário de Nossa Senhora da Conceição
Creusa Maria Silva Raposo -Sociedade Ibero-Americana de Antropologia Aplicada-SIAA
Património Cultural Imaterial dos Açores
AS ROMARIAS QUARESMAIS DE SÃO MIGUEL (AÇORES) João Leal