Qualidade de Vida Na Execução Do Trabalho Pastoral
Qualidade de Vida Na Execução Do Trabalho Pastoral
Qualidade de Vida Na Execução Do Trabalho Pastoral
RESUMO
Este artigo tem como objetivo realizar uma revisão da literatura a respeito da Qualidade de vida
na execução do trabalho pastoral e como estes profissionais estão cada vez mais tendenciosos
a doenças e síndromes psicológicas, como a Síndrome de Burnout, através do método de
pesquisa documental e bibliográfica. As atribuições pastorais mudaram muito no decorrer do
tempo, cada vez mais os pastores têm de possuir conhecimentos, habilidades e atitudes além da
função de conduzir um culto e aconselhar pessoas. Simultaneamente cresce a pressão sobre o
profissional e consequentemente sobre a pessoa do pastor, onde muitos por não serem
compreendidos, muito menos assessorados, acarretam sobre si síndromes psicológicas graves e
até em alguns casos praticam o suicídio. Diante disto um levantamento bibliográfico foi
realizado, afim de entender melhor a atividade laboral pastoral. Este artigo proporciona as
igrejas e pastores, ferramentas ao equilíbrio da relação de trabalho pastoral eficaz e humana.
Palavras chave: Qualidade de vida. Pastores. Síndrome de Burnout
Luís Felipe Marques Lima aluno do curso de Pós Graduação Gestão Estratégia de Pessoas e Psicologia
Organizacional EAD. Universidade Metodista de São Paulo. E-mail: luisfelipeml17@hotmail.com
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1. INTRODUÇÃO
como ocorre diretamente com os pastores de igrejas, que muitas vezes necessitam ser
pastoreados, porém não encontram onde e em quem, ou ainda temem pedir ajuda.
O pastor cada vez mais, é cobrado extra espiritualmente, e sim, como cumpridor
de metas. Este tem de ser advogado, psicólogo, político, assistente social etc. (SILVA,
2004).
2. REVISÃO BILIOGRÁFICA
Milkovich e Boudreau (1994. p. 729) afirmam que a Qualidade de vida no trabalho parte
do reconhecimento de que uma pessoa bem treinada e bem posicionada na empresa, estar em
melhor condição para identificar problemas dificilmente localizáveis com relação à qualidade
do produto ou como o trabalho deve ser feito.
Conte (2003.p. 33) define Qualidade de vida no trabalho como um programa que visa
facilitar e satisfazer as necessidades do trabalhador ao desenvolver suas atividades na
organização, tendo como ideia básica o fato de que as pessoas são mais produtivas quanto mais
estiverem satisfeitas e envolvidas com o próprio trabalho.
Hoch (1980. p. 88) afirma que o termo pastor nos dias atuais, é muito geral e serve mais
para descrever a atividade pastoral como um todo, desde a pregação, o ensino, até a
administração duma paróquia. A palavra “pastor” portanto não caracteriza a atividade
específica daquele que se dedica à poimênica. O mesmo autor ainda conceitua poimênica como,
a atividade de alguém que pastoreia um rebanho.
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Ao que diz respeito a qualidade de vida no campo pastoral, Mendes e Silva (2006),
explicam que a organização religiosa moderna vem sofrendo transformações do mundo do
trabalho, resultantes de uma política de mercado que igualmente atingem as organizações
religiosas e que exigem do trabalhador dedicação, competência e eficiência em todas as suas
atividades.
Muito do que vem acontecendo com os pastores nos dias atuais, diante da expectativa
de trabalho do pastor em início de atividade com a realidade na execução dos trabalhos, é dito
similarmente por Ferreira e Mendes (2001.p.96) , diante da [...] discrepância entre a tarefa
prescrita e atividade real, enquanto desencadeadora de um custo psíquico para o trabalhador,
trazendo consequências para a organização do trabalho em termos da natureza da tarefa em si
e das relações socioprofissionais, fazendo com que o sujeito se coloque em estado de esforço
permanente para dar conta da realidade, muitas vezes, incompatível com seus investimentos
psicológicos e seus limites pessoais, gerando sofrimento.
Krejcir (2016), relata a situação pastoral atual nas igrejas norte americanas, afirmando
que embora, o trato das igrejas e comunidade com os pastores tenham se tornado mais
humanas nos últimos anos tal relação ainda está longe do ideal. O atual afirma que muitas
igrejas incluem noções de liderança equivocada do clero, como a falta de consciência de quais
são os verdadeiros chamados e deveres de um pastor, além de exigências irracionais aos
pastores. Os pastores, por sua vez, estão se esforçando para apaziguar as expectativas da
congregação. Os pastores, por sua vez, enfrentam apatia voluntária, críticas e medo de
mudança.
Diante das pesquisas e estudos realizados por Krejcir (2016.p.2), referentes ao trabalho
pastoral, publicado pelo mesmo em “Statistics on Pastors: 2016 Update”, o autor aponta alguns
resultados de sua pesquisa:
Valente et al. (2018) conceitua Burnout diante da raiz semântica do termo em inglês
burn que significa “queima” e out, que traduzindo para a língua portuguesa, significa “exterior”,
termos estes associados a uma síndrome que denota esgotamento proveniente do desgaste
profissional.
O tema Síndrome de Burnout atualmente é muito discutido sobre ótica de Maslach que
executou estudos relativos sobre o tema, e junto a outros autores consigo, tem se tornado
referência sobre o assunto nos últimos 20 anos (SILVA.2003).
Ainda Maslach e Jackson (1980) apontam que um dos aspectos chaves da Síndrome de
Burnout é o aumento dos sentimentos de exaustão emocional. Assim os recursos emocionais
são esgotados, os trabalhadores começam a se sentir incapazes e esgotados psicologicamente.
Para Carlotto e Gobbi (1999), essa exaustão emocional (Burnout) se refere à sensação
de esgotamento que pode ser físico e mental, bem como a diminuição de energia vital para os
fazeres modernos laborais, sendo que os sentimentos de esgotamento emocional são
transformados em sentimentos de frustação e tensão no trabalho, haja vista que um dos motivos
desse desgaste se dá por conta do conflito pessoal nas relações pessoais.
Diante dos resultados da pesquisa realizada com pastores, Oliveira (2004), expõe que a
vocação principal para um indivíduo se tornar pastor, é a vontade de “servir a Deus e seu
chamado para o ministério”. Ainda nesta pesquisa, os pastores dizem ter amizade com a
comunidade, porém sentem-se muito exigidos e sobrecarregados. Os pastores pesquisados,
alegam em maioria, que sentem dificuldade de administrar seu tempo.
mínimo: dar suporte ao pastor diante dos auxiliares mais próximos do pastor; a igreja deve
colocar padrões de acompanhamento a saúde física do pastor; a igreja deve encorajar o pastor
quanto ao seu crescimento intelectual e profissional; o pastor deve justamente ser recompensado
em termos de salário e moradia etc.
O diálogo com pessoas de confiança pode ser uma boa estratégia para os pastores
lidarem com a Síndrome de Burnout. Tal diálogo pode ser com outros pastores, membros da
igreja, superiores ou amigos. Porém, é preciso existir plena confiança entre estes para que o
diálogo possa servir como uma válvula de escape e surtir o efeito desejado de não adoecer
devido à alta demanda do trabalho ministerial do pastor evangélico (SANTOS e
HONÓRIO,2014).
Segundo Oliveira (2004. p.80) a espiritualização por muitas vezes exacerbada, denuncia
que a dicotomia alma-corpo, persiste com toda intensidade e se refere a alimentação, descanso,
atividades, sexualidade e expressão das emoções.
Krejcir (2016. p.19) aponta diante de seus estudos alguns itens testados e comprovados,
que pastores, líderes e as igrejas podem fazer para oferecer melhores condições a tais
profissionais, evitando assim problemas físicos e psicológicos, tais como a Síndrome de
Burnout. Estas se resumem em:
Quanto ao pastor:
Quanto a igreja
• Apoio da igreja nos trabalhos pastorais, apoiando o profissional
mesmo não gostando deste muitas vezes;
• A igreja e seus membros devem evitar comparar o trabalho de
seus pastores com pastores e trabalhos em outas igrejas;
• Fazer reuniões necessárias e objetivas;
• Respeitar a família do pastor, não achando que esta tem de ser
perfeita, sem erros.
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3. DISCUSSÃO
Diante da preocupação particular com os acontecimentos recentes noticiados pela mídia
referentes a problemas psicológicos enfrentados pelos pastores, onde o número de suicídios
vem crescendo ano pós ano, este trabalho justifica-se em entender mais profundamente o que
leva os pastores a ficarem exauridos psicologicamente, como tem sido a rotina de trabalho
destes profissionais, qual o tratamento das igrejas como organizações e comunidade referente
aos pastores e como utilizar deste estudo para ajudar os pastores e comunidades religiosas e
sociais a prevenir , detectar e tratar de maneira mais humana tais profissionais , que se doam de
maneira sublime ao outro.
Quanto a qualidade de vida no campo pastoral, Mendes e Silva (2006) relatam que as
igrejas atualmente sofrem pressões parecidas com a pressão de mercado de organizações que
visam lucro. Consequentemente a cobrança sobre os pastores (profissionais chave nas igrejas),
cresce a cada dia, muitas vezes até de maneira desumana, no cumprimento de metas e demais
atributos propostos pelas igrejas.
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Na mesma linha de Mendes e Silva (2006), o estudo realizado por Krejcir (2016), afirma
como as igrejas muitas vezes não oferecem o suporte necessário e ainda, confundem as
atribuições do profissional pastor. O estudo deste autor, relata que embora as igrejas estejam
melhorando o tratamento para com os pastores diante de estudos realizados nos Estados Unidos
em tempos atrás, o pastor ainda tem carga horária de trabalho superior a legislação, o salário
ainda é incompatível com suas atribuições, e o que mais preocupa e vai na linha deste trabalho:
muitos pastores estão excessivamente fatigados, depressivos, e esgotados física e
psicologicamente.
Oliveira (2004) entende que a comunidade muitas vezes não consegue entender a
definição das atribuições pastorais, o confundindo como “um ser perfeito”, sem erros. O que
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Já Santos e Honório (2014) afirmam que muitos jovens pastores acabam desenvolvendo
problemas psicológicos como a Síndrome de Burnout, por não estarem preparados e nem
maduros o suficiente para a lida diária com as pressões, principalmente no relacionamento com
pessoas.
Para Wohlrabe (2001), as causas do Burnout em pastores, podem ser agrupadas nas
categorias: Fatores ocupacionais e situacionais, fatores interpessoais e sociais, fatores
interpessoais e individuais e fatores espirituais e teológicos.
Diante de diferentes definições das causas apontadas pelos autores citados acima, alguns
pontos são comuns entre tais definições. Tais pontos comuns se relacionam em aspectos chave,
como o relacionamento direto com pessoas, e também na cobrança da comunidade quanto a
pessoa e profissional da figura do pastor.
Concordando com o que diz Benevides (2014), o primeiro passo a evitar a Síndrome de
Burnout, é o conhecimento da mesma, suas causas e consequências, além de medidas de
controle e prevenção.
Posterior a isto cabe significativamente o saber agir das igrejas, quanto organizações e
comunidade religiosa e social, no domo a como tratar os pastores, fornecendo mecanismos que
os auxiliem na proposta de um bom ambiente de trabalho aos pastores.
Diante do papel da igreja, Santos e Honório (2014) alertam, que se as igrejas não
fornecerem um ambiente de trabalho favorável a não instalação da Síndrome de Burnout, haverá
muitos ministros exauridos emocionalmente, despersonalizados e com baixa realização
profissional, o que certamente afetará sua saúde física e mental, bem como a vida dos membros,
das famílias e, até mesmo, da sociedade. Ou seja um pastor doente provoca uma igreja doente.
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Wohlrabe (2001), afirma que a igreja como comunidade deve no mínimo: dar suporte
ao pastor diante dos auxiliares mais próximos do pastor; a igreja deve colocar padrões de
acompanhamento a saúde física do pastor; a igreja deve encorajar o pastor quanto ao seu
crescimento intelectual e profissional; o pastor deve justamente ser recompensado em termos
de salário e moradia etc.
Krejcir (2016), relata que a igreja como comunidade, deve evitar julgamentos e
comparações quanto ao trabalho, e família pastoral, ante a outras igrejas. O autor ainda afirma
que é necessário comprometimento da igreja no apoio do trabalho pastoral.
Wohlrabe (2001), Krejcir (2016) e Santos e Honório (2014), concordam que é papel
mínimo das igrejas, fornecerem condições favoráveis ao desenvolvimento do trabalho pastoral,
principalmente no agir dos membros da igreja na participação das atividades pastorais.
Quanto as ações a serem tomadas pelo próprio pastor, visando evitar o desenvolvimento
de problemas psicológicos, principalmente a Síndrome de Burnout, Santos e Honório (2014)
sugerem ao pastor ter uma válvula de escape ante as pressões diárias. Dentre estas
possibilidades é proposto pelos autores o diálogo, seja com membros da igreja da confiança do
pastor, superiores ou amigos.
Oliveira (2004) destaca que o pastor por cuidar de pessoas exacerbadamente, em muitos
casos, não cuida de si. Deixando deficientes aspectos essências a sua saúde física e emocional
como, alimentação, descanso, sexualidade e expressão de emoções.
Na mesma linha Krejcir (2016), relata que os pastores devem ter salários dignos a sua
categoria, duas folgas semanais mínimas, férias regulares entre outros. Porém o que chama a
atenção na definição do autor quanto aos cuidados do pastor para consigo, é o preparo espiritual
e profissional anterior a execução do trabalho pastoral. O autor notavelmente ainda sugere que
o pastor tenha consigo preparo para saber que deve cuidar de si mesmo e também saber
administrar seu tempo.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por ser um cristão, membro da Igreja Metodista no Brasil há 10 anos, além de ex-aluno
na graduação em Bacharel em Administração na Faculdade Metodista de Birigui e também
cursando pós graduação (este trabalho referente a tal curso) em Gestão Estratégica de pessoas
e Psicologia Organizacional, na Universidade Metodista de São Paulo, resolvi que este trabalho
não seria um simples artigo de Trabalho de Conclusão de Curso , decidi elaborar um estudo que
pode auxiliar a vida dos pastores de várias igrejas diante de sua qualidade de vida no trabalho ,
aliado a demonstrar também as igrejas , como conduzir a relação com o pastor, não só com o
profissional pastor, mas também com a pessoa do pastor.
Baseado nos principalmente nos estudos de Oliveira (2004), pude perceber o quão
grande é o desgaste físico e principalmente emocional de profissionais que lidam, diariamente
com pessoas. É fato que se um cidadão profissionalmente ativo, passa muitas vezes mais tempo
se relacionando com pessoas no trabalho, do que com sua própria família. É fato também que
em muitos casos, os profissionais que possuem em suas atribuições “cuidar de pessoas” como
médicos, professores e líderes religiosos, não administram seu tempo de maneira a possuir em
suas rotinas, atividades que lhes dão prazer, tempo de auto avaliação e reflexão, todas estas
externas a atividade laboral. Diante do exposto, sugiro que estes profissionais, sejam
rotineiramente acompanhados psicologicamente; como o estudo é voltado a atividade laboral
de pastores, sugiro que as igrejas ofereçam aos pastores, acompanhamento psicológico, ajuda.
É necessário que estes profissionais sejam ouvidos com maior frequência, como diz Oliveira
(2004), é necessário que estes profissionais “sejam cuidados”.
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Conduzido pelo método documental e bibliográfico, espera-se que este artigo venha
contribuir nas discussões sobre a Qualidade de vida na execução do trabalho pastoral e como
tais profissionais estão susceptíveis a síndromes psicológicas como a Síndrome de Burnout e
até ao suicídio, com o propósito de traduzir e organizar as convicções de diferentes autores,
bem como servir de referência a outros estudos.
Como sugestão para futuras pesquisas, o assunto poderia ser abordado com estudos
sobre a ótica dos pastores, diante de suas dificuldades na execução de seu trabalho e como
pessoa, aliado também as expectativas das igrejas quanto as responsabilidades e compromissos
do pastor; buscando assim encontrar um ponto de equilíbrio na relação pastor /igreja e
igreja/pastor, servindo assim de parâmetro a várias organizações religiosas no tocante a uma
boa relação de trabalho.
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REFERÊNCIAS
FREUDENBERG, H.J. Staff burn-out. Journal of Social Issues, 1974, vol. 30 (1),
159 - 165.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2008.
LUTZER, Erwin. De Pastor para Pastor. 2. ed. São Paulo: Vida, 2000.
SILVA, Jetro Ferreira da. Síndrome de Burnout entre os pastores da cidade de São
Paulo: causas potenciais e medidas preventivas.2003.142f. Trabalho Conclusão de
curso. Universidade Metodista de São Paulo,2003.
SILVA, Rogério Rodrigues da. Profissão de Pastor :prazer e sofrimento. Uma análise
psicodinâmica do trabalho de líderes religiosos neopentecostais e tradicionais.
Brasília, 2004.
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