Aula Extra - Execução Contra Devedor Insolvente
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Autor:
Ricardo Torques
17 de Fevereiro de 2022
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Sumário
2 – Requisitos .............................................................................................................................................. 3
Resumo ................................................................................................................................................................ 8
Lista de questões............................................................................................................................................... 12
Gabarito ........................................................................................................................................................... 13
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A primeira informação que nós devemos conhecer é que não há, no CPC/2015, processo específico para
execução contra devedor insolvente. O art. 1.052 prevê a criação de uma lei específica para tratar sobre o
assunto, no entanto, enquanto não editada essa lei, as execuções contra devedor insolvente são reguladas
pelo Código de Processo Civil antigo, o CPC/1973.
Art. 1.052. Até a edição de lei específica, as execuções contra devedor insolvente, em
curso ou que venham a ser propostas, permanecem reguladas pelo Livro II, Título IV, da
Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973.
O CPC/1973 tem regras específicas sobre a execução contra devedor insolvente, previstas nos arts. 748 a
786-A, e essas regras permanecem em vigor enquanto não houver lei prevendo procedimento novo. Dessa
forma, quando citarmos artigos na sequência, lembre-se que estamos citando artigos do CPC/1973, ok?
Em primeiro lugar, devemos caracterizar a insolvência: há insolvência quando o devedor não tem bens
suficientes para pagar uma dívida exigível. Os seus ativos não são suficientes para arcar com os passivos.
Art. 748. Dá-se a insolvência toda vez que as dívidas excederem à importância dos bens
do devedor.
Como toda execução, o procedimento de execução coletiva é regido pelo princípio da responsabilidade
patrimonial do devedor: todos os bens do devedor respondem à execução, sejam presentes sejam futuros.
Além disso, não podemos perder de mente que o objetivo da execução é satisfazer o crédito dos credores,
portanto, o objetivo final do procedimento é o de expropriar os bens do executado para que se faça a
liquidação e pagamento dos credores.
Por fim, a execução deve estar fundada em título executivo que consubstancie obrigação certa, líquida e
exigível.
Pois bem, na execução individual, a expropriação do executado tem início com a penhora dos bens, sendo
que só serão penhorados bens suficientes para a satisfação da dívida.
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Pelo contrário, na execução coletiva do devedor insolvente, já se parte do pressuposto de que os bens do
executado não são suficientes para o pagamento integral. Assim, o primeiro ato executivo é a arrecadação
geral dos bens do executado, sendo que essa universalidade será utilizada para a satisfação dos credores.
Outra característica da execução contra devedor insolvente é a sua natureza coletiva: essa execução é regida
por princípios de solidariedade entre os credores e da universalidade. A lei dispensa um tratamento
igualitário aos credores a fim de concretizar o princípio da igualdade ou da par conditio creditorum. O
objetivo é evitar que alguns credores vejam seus créditos satisfeitos enquanto outros não consigam fruir do
saldo dos bens do devedor.
Portanto, o que acontece é o seguinte: os bens do devedor insolvente são integrados numa massa que
responderá pelo conjunto dos créditos, observando-se a distribuição equitativa entre os credores do
produto da execução. Através desse procedimento, os credores compartilham tanto os proveitos
decorrentes do patrimônio do executado quanto os prejuízos em razão da sua insolvência.
2 – Requisitos
A insolvência real é a prevista no art. 748: quando ficar comprovado em balanço que as dívidas excedem a
importância dos bens, temos insolvência.
ii) quando for decretada medida cautelar de arrestos dos bens do devedor.
A decisão que decreta a insolvência tem eficácia erga omnes: todos os credores estarão sujeitos aos seus
efeitos, devendo se submeter ao procedimento coletivo.
Antes da decretação da insolvência, as execuções individuais têm curso normal, mas com a sua decretação
tem início a execução coletiva.
Um requisito negativo da execução coletiva é que o devedor não seja empresário: se o devedor for
empresário, incide o procedimento específico da falência, que é regida pela Lei n. 11.101/2005, não se
aplicando o procedimento de execução contra insolvente. O procedimento de execução contra insolvente
se aplica às pessoas jurídicas não empresárias.
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Já vimos que a decisão que declara a insolvência é um dos requisitos da execução contra o devedor
insolvente. Portanto, essa declaração (ou decretação) de insolvência tem efeito constitutivo: o efeito
consiste em inaugurar a execução coletiva.
Como todos os credores se sujeitam à execução coletiva, o juízo da execução contra devedor insolvente tem
força atrativa, acumulando a competência para praticar atos de execução em favor de qualquer dos
credores.
Além disso, a declaração de insolvência tem eficácia subjetiva que consiste na perda, por parte do
executado, do poder de administração dos seus bens. A perda do poder de administração perdura até a
liquidação da massa, conforme o art. 752:
Art. 752. Declarada a insolvência, o devedor perde o direito de administrar os seus bens e
de dispor deles, até a liquidação total da massa.
Por isso mesmo, não é o executado que representa a massa, e sim o administrador, que é nomeado pelo
juiz:
A declaração de insolvência pode ser feita a pedido do próprio executado (autoinsolvência) ou por meio de
pedido feito por um dos credores.
Caso o pedido seja formulado pelo próprio devedor, a petição tem alguns requisitos específicos, que estão
previstos no art. 760:
i) a relação nominal de todos os credores, com a indicação do domicílio de cada um, bem
como da importância e da natureza dos respectivos créditos;
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iii) o relatório do estado patrimonial, com a exposição das causas que determinaram a
insolvência.
Quanto ao pedido for formulado por credor, devemos observar, em primeiro lugar, que apenas o credor
quirografário pode requerer a instauração do juízo coletivo: o credor detentor de garantia real ou de
privilégio especial não tem interesse no juízo coletivo, pois tem direito próprio sobre alguns bens do devedor.
Devemos observar também que não é obrigatória a instauração da jurisdição coletiva: o credor, mesmo
conhecendo a situação de insolvência, pode preferir dar sequência à sua execução individual.
De todo modo, quando o pedido é formulado por credor, instaura-se contraditório: o devedor será citado
para opor embargos no prazo de 10 dias, na forma do art. 755:
Art. 755. O devedor será citado para, no prazo de 10 (dez) dias, opor embargos; se os não
oferecer, o juiz proferirá, em 10 (dez) dias, a sentença.
Os embargos podem alegar a matéria comum aos embargos à execução ou podem ser voltados a
demonstrar que não há insolvência.
Em relação à competência para essa execução coletiva, deve-se observar a regra de que é competente o
foro do domicílio do devedor, conforme previsão do caput do art. 760:
Art. 760. A petição, dirigida ao juiz da comarca em que o devedor tem o seu domicílio,
conterá:
Concluindo o juiz pela declaração de insolvência, deverá ainda tomar as providências previstas no art. 761:
ii) mandar expedir edital, convocando os credores para que apresentem, no prazo de 20
(vinte) dias, a declaração do crédito, acompanhada do respectivo título.
As execuções individuais devem ser remetidas ao juízo da insolvência, que tem competência universal. No
entanto, se houver praça ou leilão designado em alguma das execuções, o procedimento irá ter curso até a
arrematação do bem, no entanto, o produto deverá ser revertido à responsabilidade do juízo da insolvência.
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4 – Administração da massa
Já vimos que, com a declaração da insolvência, o devedor perde a administração e a disponibilidade dos
seus bens. Os bens penhoráveis devem ser arrecadados e a massa será administrada por um administrador,
designado pelo juiz na própria decisão de declaração da insolvência.
O administrador deve diligenciar para que os bens permaneçam ativos, produzindo rendas, frutos e produtos
habituais.
A atividade do administrador ocorre sob a direção e superintendência do juiz, na forma do art. 763:
Art. 763. A massa dos bens do devedor insolvente ficará sob a custódia e responsabilidade
de um administrador, que exercerá as suas atribuições, sob a direção e superintendência
do juiz.
Com a nomeação do administrador, este será intimado para firmar, no prazo de 24 horas, termo de
compromisso de desempenhar bem e fielmente o cargo.
A remuneração do administrador será arbitrada pelo juiz, com atenção à sua diligência, trabalho e
responsabilidade da função, bem como à importância da massa.
Os credores devem habilitar o seu crédito no processo de execução coletiva no prazo de 20 dias, contados
da publicação do edital de convocação, conforme prevê o art. 761, II:
E se o credor se atrasar?
Nesse caso, aplica-se o art. 784: o credor deverá propor ação autônoma de habilitação do seu crédito para
participar do concurso. Essa ação deve ser proposta antes do rateio final do produto da massa. Então,
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perceba, o credor atrasado poderá participar do concurso, mas sua habilitação será feita em processo
separado.
Nesse caso ele não pode participar do concurso: ele deverá propor uma ação de conhecimento para formar
título executivo judicial, o qual poderá ser cobrado no âmbito do concurso.
Após essa fase de habilitação dos créditos, cada um dos pedidos de habilitação será autuado juntamente
com o respectivo título de crédito.
Concluída a formalização dos pedidos de habilitação, será publicado outro edital para que os credores, no
prazo de 20 dias, aleguem as suas preferências.
Os credores e o devedor também podem impugnar as habilitações de crédito, alegando nulidade, simulação,
fraude ou falsidade.
I - o crédito por despesa de seu funeral, feito segundo a condição do morto e o costume
do lugar;
III - o crédito por despesas com o luto do cônjuge sobrevivo e dos filhos do devedor
falecido, se foram moderadas;
IV - o crédito por despesas com a doença de que faleceu o devedor, no semestre anterior
à sua morte;
VII - o crédito pelos salários dos empregados do serviço doméstico do devedor, nos seus
derradeiros seis meses de vida;
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Com a conclusão do quadro, o juiz abrirá vista do processo, por 10 dias, para eventuais reclamações. As
reclamações devem se referir à feitura do quadro e à classificação dos concorrentes.
Depois de resolvidas eventuais reclamações ao quadro, o juiz deverá proferir decisão de homologação.
Nessa fase, o administrador promove a alienação forçada dos bens da massa para angariar recursos que
serão utilizados para o pagamento dos credores.
Depois que forem alienados todos os bens da massa, se não tiver ocorrido o pagamento integral de todos
os credores, as obrigações não são extintas: o devedor continua obrigado a pagar o restante.
Aliás, os bens adquiridos posteriormente pelo devedor podem ser submetidos ao mesmo procedimento
de execução coletiva, bastando que haja pedido nesse sentido no mesmo processo.
A extinção das obrigações vai ocorrer, no entanto, após o prazo de 5 anos, contados do trânsito em julgado
da decisão que declara o pagamento dos credores com o produto dos bens arrecadados. É o que prevê o art.
778, devendo-se entender que o encerramento do processo de insolvência se refere ao pagamento dos
credores a partir da alienação da massa arrecadada:
É apenas com a publicação dessa decisão que declara a extinção das obrigações que ocorre a extinção do
processo coletivo, uma vez que, antes dessa extinção, é possível a reabertura do processo, caso se
comprove que o devedor adquiriu novos bens penhoráveis.
RESUMO
Hipóteses de presunção de insolvência:
ii) quando for decretada medida cautelar de arrestos dos bens do devedor.
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i) a relação nominal de todos os credores, com a indicação do domicílio de cada um, bem
como da importância e da natureza dos respectivos créditos;
iii) o relatório do estado patrimonial, com a exposição das causas que determinaram a
insolvência.
ii) mandar expedir edital, convocando os credores para que apresentem, no prazo de 20
(vinte) dias, a declaração do crédito, acompanhada do respectivo título.
I - o crédito por despesa de seu funeral, feito segundo a condição do morto e o costume
do lugar;
III - o crédito por despesas com o luto do cônjuge sobrevivo e dos filhos do devedor
falecido, se foram moderadas;
IV - o crédito por despesas com a doença de que faleceu o devedor, no semestre anterior
à sua morte;
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VII - o crédito pelos salários dos empregados do serviço doméstico do devedor, nos seus
derradeiros seis meses de vida;
QUESTÕES COMENTADAS
1. (Questão inédita – 2022) O procedimento de execução contra devedor insolvente:
a) é regulado expressamente pelo CPC/2015.
b) era regulado pelo CPC/1973, no entanto, esse procedimento não mais se aplica em razão da revogação
desse Código.
c) está previsto no Código Civil.
d) é regulado pelo CPC/1973, uma vez que o CPC/2015 tem norma remissiva que determina que o
procedimento permanece regulado pelo Código anterior enquanto não houve regulamentação específica
por meio de lei nova.
e) é regulado pelo CPC/1973 pois, apesar de este Código ter sido revogado, o CPC/2015 não tem
procedimento que seja correspondente, de modo que a revogação do CPC/1973 não foi integral. A doutrina
se firmou no sentido de que os procedimentos que não tem correspondência no novo Código permanecem
regulados pelo Código anterior.
Comentários
De acordo com o art. 1.052 do CPC/2015, enquanto não houver lei específica, o procedimento de execução
contra devedor insolvente permanece regulado pelo Código de 1973. Trata-se de norma remissiva que
expressamente atribui vigência ao Código anterior:
Art. 1.052. Até a edição de lei específica, as execuções contra devedor insolvente, em
curso ou que venham a ser propostas, permanecem reguladas pelo Livro II, Título IV, da
Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973.
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b) é um procedimento individual, direcionado ao pagamento apenas dos credores que tiverem requerido a
sua instauração.
c) o objetivo desse procedimento não é a satisfação dos credores, e sim a proteção do devedor.
d) para a instauração do procedimento basta que o devedor se atrase no pagamento das suas dívidas, não
sendo necessária a demonstração da situação de insolvência.
e) o procedimento não se aplica às pessoas jurídicas de caráter empresarial.
Comentários
A alternativa A está incorreta. Como toda execução, também a execução contra devedor insolvente só pode
ser instaurada por credor detentor de título executivo.
A alternativa C está incorreta. O objetivo é o pagamento dos credores na medida em que isso seja possível.
A alternativa D está incorreta. Não basta o não pagamento de um título: exige-se a demonstração de
insolvência, consistente na situação em que o passivo é superior ao ativo.
Comentários
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. O próprio devedor pode formular pedido de
declaração de insolvência, a fim de dar início ao procedimento de execução coletiva.
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A alternativa D está incorreta. Os credores atrasados podem formular pedido em ação autônomo para
ingressar no concurso, desde que o pedido seja anterior ao rateio do produto.
A alternativa E está incorreta. As obrigações não são extintas quando não for possível o pagamento integral.
Nesse caso, o procedimento poderá ser reaberto posteriormente, caso o devedor venha a adquirir novos
bens. A extinção das obrigações acontece apenas após o prazo de 5 anos contados do trânsito em julgado
da decisão que deferir o rateio do produtos da alienação dos bens.
LISTA DE QUESTÕES
1. (Questão inédita – 2022) O procedimento de execução contra devedor insolvente:
a) é regulado expressamente pelo CPC/2015.
b) era regulado pelo CPC/1973, no entanto, esse procedimento não mais se aplica em razão da revogação
desse Código.
c) está previsto no Código Civil.
d) é regulado pelo CPC/1973, uma vez que o CPC/2015 tem norma remissiva que determina que o
procedimento permanece regulado pelo Código anterior enquanto não houve regulamentação específica
por meio de lei nova.
e) é regulado pelo CPC/1973 pois, apesar de este Código ter sido revogado, o CPC/2015 não tem
procedimento que seja correspondente, de modo que a revogação do CPC/1973 não foi integral. A doutrina
se firmou no sentido de que os procedimentos que não tem correspondência no novo Código permanecem
regulados pelo Código anterior.
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