A Implantação Do Liberalismo em Portugal
A Implantação Do Liberalismo em Portugal
A Implantação Do Liberalismo em Portugal
Ao abrir o século XIX, Portugal parecia escapar aos ventos do liberalismo. O peso do
Antigo Regime fazia-se sentir nas pesadas obrigações senhoriais que condenavam os
camponeses à miséria e na intransigência do absolutismo assente na ação repressiva da
Inquisição, da Real Mesa Censória e da Intendência-geral da Polícia.
No entanto, nos principais centros urbanos, burgueses e intelectuais, muitos deles filiados
em lojas maçónicas, discutiam ideias de mudança. Uma conjuntura favorável abriu
caminho à concretização das suas aspirações, devido, em grande, ao impacto das invasões
francesas.
Fiel à sua velha aliada, mas não querendo hostilizar o imperador dos franceses e arriscar
uma mais que certa invasão da França e da Espanha, o príncipe regente D. João adotou
uma política ambígua. Esta atitude custou ao país, de 1807 a 1811, o flagelo das três
invasões napoleónicas.
O embarque da família real para o Brasil, que de colonia passou a sede de Governo,
permitiu a Portugal manter a independência do Estado. O preço a pagar revelou-se bem
alto. Não só pela devastação e pela destruição causadas por quatro anos de guerra com a
França, mas, especialmente, pelo domínio político e económico que a Inglaterra exerceu,
doravante, entre nós.
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Corte ausente, ingleses presentes
A rebelião em marcha
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Não espanta, portanto, que a preparação da rebelião tenha ficado a cargo da burguesia,
com especial destaque para a que estava radicada no Porto, notável centro de atividade
mercantil.
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A Revolução de 1820 e as dificuldades de implantação da ordem liberal
(1820-1834)
O Vintismo
O eclodir da revolução
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A 15 de setembro foi a vez de Lisboa repetir um pronunciamento militar semelhante ao
do Porto, responsável pela expulsão dos regentes e pela constituição de um governo
interino.
O fracasso desta conspiração permitiu que o “partido civil” tomasse as rédeas do processo
revolucionário.
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As Cortes Constituintes iniciaram, solenemente, os seus trabalhos na sessão preparatória
de 24 de janeiro de 1821, tendo sido admitidos “tantos espectadores quantos permitiu a
capacidades das Galerias”. Na sessão inaugural do dia 26 do mesmo mês, o conde de
Sampaio foi o primeiro a discursar. Perante os deputados, os “Ilustres Representantes da
Nação Portuguesa”, qualificou aquele dia como “glorioso e memorável”.
A Constituição de 1822
Nas primeiras reuniões das Cortes Constituintes, os deputados eleitos juraram ser fieis ao
rei, à Constituição e à religião católica. Entre as suas primeiras iniciativas, estiveram a
nomeação de uma nova regência e a redação de cartas a D. João VI, pondo o monarca a
par dos acontecimentos. Na verdade, o exilio dourado do rei no Brasil, desde 1807,
suscitava preocupações relativamente à sua adesão às mudanças verificadas em Portugal,
na sequencia da Revolução Liberal.
Demasiado progressista para o seu tempo, a Constituição de 1822 foi fruto da ala mais
radical dos deputados presentes às Cortes Constituintes, cuja ação é conhecida por
vintismo. Desde o inicio da reunião da assembleia, tornou-se clara a existência de uma
tendência moderada, respeitadora da monarquia e do catolicismo e que se inclinava para a
adoção de uma Constituição conservadora, e de uma tendência radical, democrática, cujos
principais lideres eram Fernandes Tomás, Ferreira Borges e Borges Carneiro. A fação
radical conseguiu transpor para o texto constitucional as suas conceções políticas e até
religiosas. Com efeito, num claro sinal de tolerância, o artigo 25.º permitia “aos
estrangeiros o exercício particular dos seus respetivos cultos”.
A legislação vintista
No entanto, a “Lei dos Forais” (3 de junho de 1822), mesmo reduzindo para metade as
rendas e pensões devidas pelos agricultores, não agradou ao pequeno campesinato dos
rendeiros por dois motivos: primeiro, as arbitrariedades na conversão das rendas em
prestações fixas em dinheiro; segundo, nas terras não regulamentas por cartas de foral, os
tributos tradicionais mantiveram-se.
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Na verdade, a ação do vintismo revelou-se plena de contradições. Se, no plano político,
foram adotadas medidas inequivocamente liberais, no domínio socioeconómico, a
legislação vintista manifestou-se precária. O facto de muitos deputados serem
proprietários rurais explica a atitude protecionista das Cortes liberais, comprovada pela
continuidade dos privilégios económicos da Companhia da Agricultura das Vinhas do
Alto Douro e pela proibição da importação de produtos como os cereais, o azeite e o
vinho.
A independência do Brasil
A caminho da separação
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efetivamente, restituir o Brasil à condição de colonia, rejeitando o estatuto de “Reino
Unido” de que usufruía.
A resistência ao Libertismo
A oposição absolutista
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A Revolução de 1820 deparou-se com várias dificuldades. Para começar, sucedeu num
tempo em que as grandes potencias procuravam eliminar os vestígios da Revoluçã o
Francesa. Com efeito, vá rios diplomatas portugueses que se opunham à instauraçã o
do Liberalismo no nosso país procuraram apoio externo junto de forças
conservadoras europeias.
O falecimento de D. João VI, em 1826, agravou as tensões que marcavam a cena política.
D.Pedro considerou-se o legitimo herdeiro da Coroa portuguesa e, a 26 de abril,
confirmou a regência provisoria da sua irmã, a infanta D. Isabel Maria. No dia 29,
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outorgou um novo diploma constitucional, mais moderado e conservador – a Carta
Constitucional.
Sendo um diploma outorgado pelos governantes, ao contraio das Constituições, que são
aprovadas pelos representantes do povo, era de esperar uma recuperação do poder real e
dos privilégios da nobreza. Na verdade, a Carta de 1826 representou um manifesto
retrocesso relativamente à Constituição de 1822, introduzindo várias medidas
conservadoras:
As Cortes passaram a funcionar num sistema bicamaral – uma Câmara dos Deputados
eleita através de sufrágio indireto e censitário; uma Câmara dos Pares constituída pela
alta nobreza, o clero, o príncipe real e os infantes, nomeados a título vitalício e
hereditário;
Reforço do poder régio – através do poder moderador, o rei podia nomear os Pares,
convocar as Cortes e dissolver a Câmara dos Deputados, nomear e demitir o Governo
e até vetar a título definitivo as resoluções das Cortes;
Os direitos do indivíduo foram relegados para o fim do diploma.
D.Pedro acabou por abdicar dos seus direitos à Coroa portuguesa na filha mais velha, a
princesa D. Maria da Glória, de 7 anos de idade. Esta deveria celebrar esponsais com seu
tio, o infante D. Miguel, que, ao regressar do seu exilio em Viena de Áustria, juraria o
cumprimento da Carta Constitucional e, de imediato, assumiria a regência do Reino de
Portugal.
A guerra civil
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esta adesão ao Liberalismo foi efémera, porque logo em julho se fez aclamar rei absoluto
por umas Cortes convocadas à maneira tradicional, isto é, por ordens.
Em 1831, D. Pedro abdicou ao trono brasileiro e veio lutar pela restituição à filha do
trono português. Mobilizando influencias diplomáticas nas cortes europeias, conseguiu os
recursos necessários à constituição de um pequeno exército. Em fevereiro de 1832, cerca
de 7500 homens partiram da ilha Terceira, bastião da resistência liberal, desembarcando,
em julho, no Mindelo. Seguiu-se a ocupação da cidade do Porto, contrariando as
expectativas do exército miguelista, concentrado, mas proximidades de Lisboa. Na cidade
do Norte, cercada pouco depois pelas forças absolutistas, viveu-se o episodio mais
dramático do confronto entre liberais e absolutistas – o Cerco do Porto.
A guerra civil durou, ainda, dois longos anos, no decorrer dos quais os exércitos de D.
Pedro organizaram uma expedição ao Algarve e tomaram Lisboa. As batalhas de
Almoster e Asseiceira confirmaram a derrota de D. Miguel, que depôs as armas, assinou a
Convenção Évora Monte e partiu, definitivamente, para o exilio. Definitivamente,
também, o liberalismo instalou-se em Portugal.
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