Mandioca Multiplos Usos Na Transição Agroecológica
Mandioca Multiplos Usos Na Transição Agroecológica
Mandioca Multiplos Usos Na Transição Agroecológica
A produção orgânica de mandioca de mesa em São Paulo pode ser considerada uma
exploração peri-urbana, sendo predominante a utilização da variedade IAC 576-70
www.aptaregional.sp.gov.br
„Amarelinha‟. Os municípios de Mogi Mirim e São Roque abastecem Campinas e São Paulo;
no Cone Leste Paulista, Guaratinguetá e São José dos Campos se destacam e em Santa
Cruzdo Rio Pardo há 100 hectares de mandioca orgânica (cv. IAC 14) resistente à
bacteriose e ao superalongamento, cultivada para exportação de fécula orgânica.
A produção do litoral paulista, embora seja conduzida por caiçaras, não se caracteriza como
orgânica devido o uso do fogo (roça de coivara). No estado do Rio de Janeiro o plantio
destina-se ao consumo in natura e nas formas de farinha e polvilho. Seropédica, na região
metropolitana, é o município que lidera a produção orgânica, realizada por assentados de
reforma agrária com apoio de instituições de ensino, pesquisa e extensão. Registra-se o uso
das variedades IAC 576-70 e Saracura (LOPES, 2003).
Na Região Sul, estado do Paraná, a mandioca lidera a lista de produtos orgânicos mais
cultivados. No ano de 2005 colheram-se 21 mil toneladas desse alimento orgânico (SEAB,
2009), sendo a produção para mesa concentrada na região metropolitana de Curitiba. A
produção de mandioca para a indústria situa-se nos municípios de Loanda e Paranavaí, e
existe uma associação de produtores orgânicos no estado.
Em Santa Catarina, segundo Oltamari et al. (2002), 260 produtores são responsáveis por
1,6 t de raízes orgânicas/ano com a cv. Sangão (EPAGRI) recomendada pelo teor de
matéria seca e resistência à bacteriose.
Na Região Centro Oeste, estado de Mato Grosso do Sul, segundo Sacchi et al (2006), são
preconizadas para fins industriais as cultivares Espeto e Fécula Branca com melhores
rendimentos em Dourados e Campo Grande, e a cv. IAC 90 que supera as demais sob
O sistema de plantio direto (SPD) é uma das formas mais sustentáveis de se praticar a
agricultura, pois preconiza a rotação de culturas e mantêm os resíduos cobrindo o solo. Isso
se reveste de importância para a cultura da mandioca devido às perdas de solo, que pode
atingir 11 t de solo por hectare ao ano (MARGOLIS e CAMPOS FILHO, 1981), relacionado
ao crescimento inicial lento e à reduzida área foliar no início e no final do ciclo, predispondo
à erosão.
No ano de 2008, diversas culturas de cobertura foram avaliadas para o SPD da mandioca
em Pindamonhangaba/SP. A Brachiaria ruziziensis proporcionou maior taxa de cobertura
verde (80%), seguida pelo sorgo. A biomassa do sorgo persistiu por até 90 dias após o
plantio direto da mandioca IAC 576-70, cobrindo o solo por mais tempo. Apesar do aporte de
massa seca aquém do esperado devido à estiagem prolongada (3,7 t/ha de MS), as culturas
de cobertura e o sistema de preparo do solo não influenciaram na produtividade da
mandioca (média 19 t/ha). A maior taxa de decomposição e liberação dos nutrientes ocorreu
entre 30 e 60 dias após o manejo, sendo que o cálcio foi o nutriente que persistiu por mais
tempo na palhada e o potássio foi liberado de maneira mais rápida. O aporte de nutrientes
das plantas de cobertura atendeu entre 10 e 44 % das necessidades da mandioca, sendo os
menores suprimentos para fósforo e os maiores para nitrogênio. O SPD de mandioca é uma
prática importante para reduzir perdas de nutrientes e solo durante o desenvolvimento inicial
da mandioca (MELO et al., 2009).
Consórcio de mandioca com adubos verdes: foi avaliado o manejo orgânico dos clones
de mesa de raízes amarelas - IAC 265-97 e IAC 06-01, comparados à cv. IAC 576-70,
testando-se a adubação com esterco bovino (EB) e os adubos verdes feijão de porco (FP) e
mucuna anã (MA) em consórcio nas entrelinhas da mandioca. Roçados na floração,
aportaram maiores quantidades de massa fresca (7,5 t/ha) e seca (1,3 t/ha) que o esterco e
não prejudicaram a produtividade da mandioca. O esterco aportou maiores quantidades de
P, K e Mg, ao passo que o FP fixou 49 kg/ha de N e reciclou 30 kg/ha de Ca, quatro vezes
mais desse nutriente que o EB.
Consórcio de mandioca com milho e caupi: foram avaliados quatro sistemas para a
mandioca IAC 576-70: monocultivo e consórcios com milho, caupi e milho+caupi. O manejo
orgânico foi padronizado e a área experimental irrigada para reduzir a competição
interespecífica. Do milho, colheram-se espigas verdes e a parte aérea foi acamada na
superfície do solo. O caupi foi incluído como adubo verde, cortado na floração e os resíduos
mantidos na superfície do solo. Ambos os consortes ocuparam as entrelinhas da mandioca
de modo alternado semeados na primeira capina. A cultivar IAC 576-70 se adaptou ao
manejo orgânico com produtividade comercial (31 t/ha) similar entre monocultivo e
consórcio. A inclusão do milho representou renda adicional ao produtor colhendo-se 18.125
espigas/ha o que corresponde a 5,1 t/ha. O caupi aportou 12 t/ha de matéria fresca (44 kg
de N/ha) cobrindo o solo, com potencial controle à erosão.
Considerações Finais
A mandioca de mesa é uma cultura rústica se comparada à maioria das hortícolas. Ela está
adaptada a solos ácidos nas diversas regiões brasileiras. Tem ciclo longo e sem “picos” de
demanda de nutrientes, além de sua associação com fungos micorrízicos e a capacidade
em regular a taxa de crescimento, mantendo adequados níveis de nutrientes nos diferentes
órgãos e tecidos. Por tudo isso é possível recomendá-la como cultura chave para a
transição agroecológica de unidades convencionais em orgânicas.
Referências
MELO, T. J. de.; DEVIDE, A. C. P.; CASTRO, C. M. de; SANT‟ANA, R. F.; FELTRAN, J. C.;
VALLE, T. L. Avaliações preliminares do Plantio Direto de Mandioca IAC 576-70. RAT –
Rev. Raízes e Amidos Tropicais, Botucatu, SP. v.1. p. 246-8. 2009. Disponível
em:http://www.cerat.unesp.br/xiiicbm/artigos.php. Consultado em: 16/09/2010.