Participaçao Nos Lucros
Participaçao Nos Lucros
Participaçao Nos Lucros
RESUMO
A BSTRACT
Collective bargaining about profit sharing, productivity and performance incentives (PSPPI), when
linking a variable wage percentage to profitability, quality and productivity, has become even more
important in a context where organizational innovations demand larger workers’ participation in
management and more workers’ commitment with the enterprise goals. This article is on part of the
author’s Ph.D. thesis and analyses a wide research accomplished in São Paulo and Minas Gerais,
Brazil, from 1995 to 1999. The author organized and analyzed 1.583 clauses of 75 collective
bargaining agreements (at both the enterprise and economic sector levels), encompassing four
dynamic Brazilian economic sectors: automotive, chemical, bank and telecommunication. The research
showed PSPPI programs need to be negotiated with trade unions which have real bargain power in
order to become the formidable managerial tool it can be. If so, there is strong probability of
obtaining more organizational commitment from workers. Our research showed this happened in
the automotive sector, especially in the ABC region (São Paulo) and in second plan in the chemical
sector. On the other hand, in the services sectors the bargaining didn’t happen and PSPPI programs
haven’t launched.
Key words: profit sharing, productivity and performance incentives; collective bargaining; industry
and services; Brazil.
INTRODUÇÃO
C ONSIDERAÇÕES M ETODOLÓGICAS
. a Fiat Automóveis;
. o sindicato dos metalúrgicos de Betim (MG);
. a indústria química do Estado de São Paulo;
. os sindicatos dos químicos do ABC e dos químicos da região metropolitana de
São Paulo;
. os bancos privados, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal;
. os sindicatos dos bancários de todo o país;
. as empresas então denominadas TELEBRÁS, TELERJ, TELEMIG e CRT,
antes da privatização do setor;
. os sindicatos dos trabalhadores em telecomunicações dos Estados de Minas
Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
As técnicas de coleta de informações foram a da análise documental e entre-
vistas semi-estruturadas. Foram tabuladas e analisadas 1.583 cláusulas de 66
acordos coletivos, com negociação entre uma empresa e um sindicato de traba-
lhadores, e 9 convenções coletivas, com negociação setorial/regional ou nacional
centralizada entre sindicatos patronais; dependendo do caso, representam milhares
de empresas e sindicatos de trabalhadores, nos setores escolhidos.
O período pesquisado vai de 1995 a 1998. Para os metalúrgicos de São Paulo e
do ABC, o período pesquisado foi mais abrangente, de 1995 a 1999. Foram rea-
lizadas 39 entrevistas semi-estruturadas com dirigentes sindicais e representan-
tes empresariais dos setores pesquisados.
nos locais de trabalho, por meio das comissões de negociação previstas na legis-
lação sobre a PLR.
“A idéia é não cercear, que cada banco tenha o seu programa. Nós esco-
lhemos o lucro, porque é um dos itens mais importantes na avaliação da
instituição bancária” (empresário entrevistado).
De fato, os empresários do setor bancário estão perdendo ótima oportunidade
para conseguir a adesão do trabalhador aos seus objetivos, quando se negam a
negociar a PLR vinculada a metas com os sindicatos. Impor programas de forma
unilateral a comissões que não têm estabilidade, como se vem fazendo, não caminha
no sentido de um envolvimento de fato do trabalhador, já que comprometimento
pressupõe capacidade de criticar e influir de forma propositiva e independente.
A negociação coletiva centralizada da PLR, em nível nacional, foi mantida até
o fim do período pesquisado. Do ponto de vista sindical, a descentralização das
negociações sobre PLR é inevitável, dada a sua natureza localizada. Para os
sindicalistas bancários entrevistados, não haveria problemas em descentralizar,
desde que princípios gerais fossem estabelecidos em nível nacional, como a ga-
rantia de estabilidade para a comissão de trabalhadores em cada banco, acompa-
nhamento por parte dos sindicatos das eleições dos membros destas comissões e
o fornecimento de todos os dados sobre a situação da empresa.
Nos dois primeiros anos após o Plano Real o aumento real não se deu mais a
título de produtividade, confirmando a tendência empresarial de não mais discutir
essa questão a partir da desindexação da economia, vinculando essa discussão à
concessão da PLR.
Se bem que apresente possibilidades reais para abarcar a negociação sobre
produtividade, a PLR não se incorpora aos salários, razão pela qual reivindica-
ções sobre produtividade continuam nas pautas dos sindicatos dos trabalhadores.
Nos dois primeiros anos depois do Plano Real os químicos continuaram con-
quistando aumentos reais, ainda que residuais. Já nos processos negociais subse-
qüentes (1996/1998), os químicos passaram a sofrer perdas sobre o Índice Nacional
de Preços ao Consumidor (INPC) acumulado. Esse movimento de perdas inicia-se
após o primeiro ano de introdução da PLR. Os empresários entrevistados disseram
claramente que “numa condição como essa era impossível dar aumento real;
então a partir de 1995 nós concedemos um abono referente à PLR”. Fica claro o
caráter de substituição dos aumentos reais pela PLR que, nas convenções centra-
lizadas, não teve nenhuma vinculação com metas, o que seria desejável, tanto do
ponto de vista gerencial, quanto do ponto de vista dos trabalhadores, que têm
por substituir a negociação por reajustes salariais, numa posição coincidente com
os sindicalistas bancários.
Nas convenções coletivas de Betim, no início deste processo, em 1995/1996, a
PLR era maior, de 50% a 70% do salário, além de valer para qualquer empresa.
A partir de 1996/1997, a tônica foi diferenciar o valor a ser pago, de acordo com
o número de empregados (empresas maiores pagaram mais); neste período, a
PLR caiu de valor em cerca de 20% a 25% do salário, e as empresas que conce-
dessem PLR em programas próprios foram autorizadas a descontar o valor pago
por elas dos valores estabelecidos na convenção.
Para os trabalhadores das pequenas empresas, que são a grande maioria na
base do sindicato de Betim, com salários em média de R$300,00, esta garantia de
PLR, mesmo que vinculada a lucros e não a resultados (nas convenções centra-
lizadas, a PLR não esteve relacionada com metas), representou uma vantagem.
A inclusão da PLR na convenção garante a um grande contingente de trabalha-
dores um mínimo que seja de melhoria na remuneração, enquanto os sindicatos
do ABC e de São Paulo precisam desenvolver um trabalho imenso e interminável
para negociar a PLR nas pequenas empresas.
Em termos de oportunidades positivas no novo contexto negocial, a partir da
segunda metade dos anos 90, a PLR é apontada por 90% dos trabalhadores
entrevistados nas três regiões metalúrgicas como o tema mais importante no
período pesquisado. O depoimento extraído da entrevista de um deles é muito
claro a respeito.
“Do ponto de vista de ganhos para o trabalhador, tem-se intensificado mui-
to a questão da PLR, que antes já era uma prática, um abono por resulta-
do. Com a queda da inflação, ela passou a ter um peso significativo, em
média de 1 a 3 salários por ano [...] os trabalhadores puderam, a partir das
informações, da negociação da PLR, ter um conhecimento melhor da em-
presa, dos seus indicadores. E isso tem-se tornado, aqui no ABC, uma
prática bastante forte; está no cotidiano dos trabalhadores” (sindicalista do
ABC entrevistado).
O total dos empresários entrevistados considerou como oportunidades positi-
vas, no novo contexto negocial dos anos 90, tanto a PLR quanto a flexibilização
da jornada. Os empresários entrevistados (75%) também consideraram a PLR
uma inovação organizacional, devido à possibilidade de vinculá-la a metas de
qualidade e produtividade, como enfatiza um empresário entrevistado.
“Antes, com a inflação, chegava a data base você não podia dar um trata-
mento ao salário como gostaria de dar, que seria a remuneração versus o
produto que se faz. Eu percebo, nesses três últimos anos, que as lideranças
mais conscientes da realidade, têm tido uma discussão muito séria a res-
peito da [...] recomposição salarial, dentro de uma visão que não é mais
aquela do resíduo inflacionário colocado no salário e tudo bem, mais um
aumento de [...] produtividade, e fim, está tudo resolvido. Não. Quero
reconhecer isso como um ponto de convergência, porque todos nós temos
que reavaliar a questão salarial, senão perdemos competitividade”
(empresário entrevistado).
Todos os dirigentes e assessores entrevistados do Sindicato dos Metalúrgicos
de São Paulo enfatizaram a sua autêntica cruzada em defesa da negociação da
PLR em qualquer empresa, independentemente do tamanho. O extrato da
entrevista de um deles atesta claramente a defesa da PLR como fonte de opor-
tunidades para a ação sindical, e os pontos coincidentes com o discurso empre-
sarial da competitividade.
“PLR [...] realmente, a gente entrou de cabeça. Com a inflação caindo,
percebemos que iam endurecer as negociações. Hoje, muitos sindicatos
não conseguem 2, 3%. Nós vimos na PLR uma alternativa de ganhos para
o trabalhador. É também a maneira da gente começar a entrar dentro da
fábrica, fazer com que o trabalhador tenha participação maior no processo
produtivo. Aquele delegado sindical de antigamente, que tinha que saber
fazer uma greve, está numa situação diferente, tem que conhecer o processo
produtivo para discutir programas de metas, qualidade do produto, para
que este seja competitivo!” (sindicalista de São Paulo entrevistado).
Acordos de PLR entre empresas como a Lorenzetti, fábrica de chuveiros, e a
Multibrás, eletrodomésticos, e o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo são exemplos
de como em São Paulo os acordos são vinculados a metas de qualidade e produti-
vidade, além de metas de redução do absenteísmo e dos acidentes de trabalho.
No ABC, as negociações sobre a PLR deram-se de forma totalmente descen-
tralizada, por empresa. A Fiat também negociou PLR em separado, com o sindi-
cato de Betim. A Mercedes-Benz foi a primeira das quatro montadoras a nego-
ciar PLR, em 1993/1994, um ano antes da Medida Provisória do governo sobre a
questão, revelando, mais uma vez, o pioneirismo do sindicalismo do ABC, e o seu
papel de benchmarking sindical no país. A PLR, nessa primeira versão na MBB,
consistia em valor fixo, independentemente de metas. No ano seguinte, também
foi a MBB a precursora, agora na vinculação da PLR a metas de qualidade,
produção e redução do absenteísmo.
Como em São Paulo, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC defendeu a vincu-
lação da PLR a metas desde o primeiro instante, demonstrando perceber as
CONCLUSÕES
ITENS %
Participação nos lucros e resultados 100,00
Qualificação/formação profissional 21,74
Participação do sindicato na introdução de inovações tecnológicas e
organizacionais 17,39
Redução da jornada semanal média de trabalho (sem redução de salário) 17,39
Flexibilização da jornada 17,39
Não houve ganhos advindos do processo negocial no período 8,69
Condições de trabalho 4,35
Fonte: entrevistas com 25 representantes dos trabalhadores dos 7 setores pesquisados.
Obs: A soma da freqüência relativa é superior a 100% por ter sido dada mais de uma resposta.
ITENS %
Participação nos lucros e resultados 100
Flexibilização da jornada 57,14
Fonte: entrevistas com 14 representantes dos empresários dos 7 setores pesquisados.
Obs: A soma da freqüência relativa é superior a 100% por ter sido dada mais de uma resposta.
Essas resistências não impediram que o tema se impusesse nesses dois seto-
res. Ao contrário dos setores metalúrgico e químico pesquisados, os empresários
do setor bancário e de telecomunicações estão perdendo uma ótima oportunida-
de para conseguir a adesão do trabalhador aos seus objetivos, quando se negam
a negociar a PLR vinculada a metas com os sindicatos. A PLR nos setores
bancário e de telecomunicações teve característica de abono, sem vinculação a
metas, vindo a substituir em parte os reajustes salariais.
No setor bancário privado, há programas isolados de PLR que excluem os
sindicatos da negociação e acompanhamento. Nesses casos, a gerência perde
ótima oportunidade de envolver os trabalhadores com os objetivos das empresas
de forma mais duradoura, ao negar-lhes o direito à opinião crítica e coletiva, que
se daria por meio do sindicato, como a pesquisa constatou que ocorre nos setores
metalúrgico e químico do ABC e de São Paulo.
NOTA
1
Correspondente a cerca de um salário médio da categoria no ABC.
R EFERÊNCIAS B IBLIOGRÁFICAS