AÇÃO - OMISSÃO Inês Morais
AÇÃO - OMISSÃO Inês Morais
AÇÃO - OMISSÃO Inês Morais
Figueiredo Dias:
O conceito de ação ainda subsiste como base autónoma e unitária de construção do sistema
O conceito de ação é importante porque é o mínimo que tem de existir para qualificar um comportamento com
crime.
1. Função de Classificação
Identifica um conceito geral comum tendo uma função classificatória - torna perceptível as características
comuns a todos os crimes
MFP - conceitos de ação da escola clássica e finalista são muito criticados pala função classificatória por não
conseguem especificar dentro de vários géneros
4. Função de Delimitação:
Possibilidade de excluir comportamentos, ad initio, não podem nem deve, constituir ações relevantes para o
direito penal e para a construção dogmática de facto punível
Fronteira entre o relevante e irrelevante da ação
Para a Professora MFP a ação tem sido o conceito que exprime o pressuposto básico da responsabilidade por culpa,
condicionando o tipo de comportamento que em geral pode ser designado como crime.
- Perspetiva ontológica - análise do que caracteriza no seu ser e existência o comportamento como expressão da
ação humana e ação pessoal
A discussão sobre a extensão do conceito de ação é pertinente, desde logo, para análise dos casos de dúvida como
os movimentos reflexos e os automatismos.
O princípio do direito penal do facto faz com que possamos, deste logo, excluir determinadas realidades como por
exemplo aquilo que sejam meras intenções, ou pensamentos ou sonhos.
Estes acontecimentos até podem indicar a perigosidade do agente mas não constituem factos.
A doutrina do facto punível remete apenas para factos, nunca para peras intenções ou pensamentos.
Meras vivencias psíquicas do agente nuca poderão ser consideradas crimes - isto deve-se por razões ligadas ao
princípio da culpa, autonomia e dignidade da pessoa humana.
Caso de Embriaguez:
Teremos sempre um comportamento penalmente relevante - foi o agente que se colocou naquele estado
Movimentos Reflexos:
Comportamentos compelidos por uma força física irresistível em que está fora de causa qualquer comportamento
voluntário.
- Comportamentos insuscetíveis de assimilação pela vontade
- Não intervém a vontade - é um comportamento provocado pelo Sistema nervoso
- Normalmente é inato - mas pode haver certas pré disposições congénitas que levem a atos reflexos
- Todas as pessoas fazem igual, sem exceção, pois é biológico de reação a estímulos
O agente não pratica uma verdadeira ação penalmente relevante, uma vez que não existe qualquer dirigibilidade
ou poder de controlo por parte do mesmo
É uma reação puramente biológica, pelo que, todas as pessoas, em principio, teriam a mesma reação.
Em termos de organização de conceitos, por vezes, a doutrina, divide-os em alguns subtipos como atos reflexos e
atos instintivos.
Atos Instintivos:
- É possível controla-los
- Reação intuitiva no sentido inato
- Não reage porque pensou, vai fazê-lo automaticamente mas não será com a mesma intensidade que nos atos
reflexos
- Ex: Capacidade de resistir à dor de uma queimadura, nem toda a gente tem de reagir da mesma forma
- A sua vontade inconsciente ainda tem forma de intervir
- Mas é possível que se treine para não reagir daquele modo instintivo
Automatismos:
Stranwerth - existência de uma ação independentemente de se poder identificar qualquer estado de consciência
ou de afirmar a possibilidade de uma intervenção controladora da consciência
Doutrina que entende que, mesmo inconsciente, há um direção na vontade - a consciência não é necessária
para que haja uma ação final
Se a divisibilidade é inconsciente, ela poderia ser consciente, logo, estamos perante uma ação
Não secciona o comportamento e vê-lo como um todo dirigido a uma finalidade - foca-se no comportamento
global
Jakobs - seria decisiva, para de enquadrar como ação, a possibilidade de afirmar a concreta evitabilidade
individual do comportamento
Só há automatismo se a consciência não permitir parar/interromper
Relevância do automatismo como independente da globalidade da ação
MFP não exclui que os automatismos podem ser ações mas exclui classificar como ação um automatismo em que
há tempo para a consciência intervir
Critérios não são incompatíveis
A fronteira entre o automatismo que é integrável numa conduta voluntária e aquele que corresponde apenas a um
domínio do corpo sobre a vontade há de depender do grau de previsibilidade da situação ou do estimulo que
suscita o ato.
A professora utiliza como critérios para resolver estas situações a previsibilidade e a evitabilidade da ação - haverá
ação penalmente relevante quando houver previsibilidade e evitabilidade da situação e dos estímulo que suscita o
facto
MFP entende que estes entendimentos contribuem para saber quando há uma ação.
Hipnose:
Autores tendem a considerar que é penalmente relevante
Roxin:
Considera que a prática de certos factos criminosos sob hipnose seria impossível para certas pessoas - sendo-o
somente para quem fosse capaz de cometer esses atos em estados conscientes.
Sonambulismo:
Autores tendem a dizer que não é penalmente relevante
Ex:Se a pessoa sabe que é sonâmbula, sabe que costuma ser agressiva e deita se com o bastão na mesa de
cabeceira - aqui há previsibilidade
Jacobs:
Critério da evitabilidade - tem a ver com o seu funcionalismo sistémico
O Direito Penal quer garantir a vigência das normas
Só faz sentido garantir essa vigência por referência aos comportamentos que as colocam em causa
Esses são aqueles que a pessoa poderia ter evitado
Roxin:
Não há uma manifestação de personalidade porque está a atuar num mundo que existe, na sua cabeça
Casos em que os agentes se submetem a hipnose para poder praticar certas condutas, ou sendo sonâmbulos,
criarem a possibilidade, com elevada probabilidade, de realizarem uma certa conduta, ou consumindo substancias
para realizar uma conduta.
- Art 20º/4 CP - não exclui explicitamente a capacidade de culpa, não deixando de existir, manifestamente, ação
- O agente tem de querer utilizar intencionalmente o estado em que se colocou
Figueiredo Dias:
Na senda da doutrina germânica, naturalisticamente, existe ação quando há uma introdução positiva de energia,
por parte do agente, que casualmente determina a produção do resultado típico
Este critério tem de ser complementado com uma postura valorativa no sentido social do comportamento -
distinguindo se o ponto de conexão da censurabilidade jurídico-penal se encontra num comportamento ativo ou
omissivo
O critério determinante deverá ser o da criação de perigo
Deve entender-se que há ação sempre que o agente criou ou aumentou o perigo que vem a concretizar-se num
resultado
Deve entender-se que há omissão sempre que o agente não diminuiu o perigo já existente
Kaufman - propondo o principio da subsidariedade - só existe omissão relevante quando o comportamento não
pode ser perspectivado como uma ação.
Eduardo Correia:
Entende que o tipo legal de crime já comporta comandos de ação e comandos de omissão
Quando a norma configura um certo comportamento ao mesmo tempo indica ao agente que este tem o dever de
evitar certo resultado.
A atropela o B - usou o meio de que dispunha para usar a liberdade de tal modo que interferiu com a do outro
Isso é que é importante, não se o faz através da ação ou omissão
As sociedades não podem bastar-se com este dever mínimo tendo em conta a complexidade que têm hoje em dia
Acrescem deveres específicos numa lógica mais institucional e funcional
Em função da posição que ocupam face a potenciais vitimas elas tem deveres acrescidos
Determinadas pessoas têm deveres acrescidos para tutelar a confiança que as pessoas têm relativamente às
instituições
MFP:
Para a Professora, porém, a relevância penal da omissão surge essencialmente como problema a partir da
exigência de um requisito comportamental geral, comum a toda a responsabilidade penal.
Não se pode utilizar uma teoria não naturalista sobre a ação, em geral, e simultaneamente praticar uma distinção
entre ação e omissão naturalista, na interpretação do 10º/2
O art 10º surge como uma cláusula extensiva da tipicidade, permitindo que, preenchidos os seus requisitos, se
puna o agente por comportamento omissivo.
Pode acontecer que dada a configuração da norma em concreto, um comportamento ativo pode ser visto como
uma omissão
Roxin:
É perfeitamente possível submeter uma ação a um tipo omissivo quando tal é imposto por razões normativas
FD:
Casos em que o agente não diminui o perigo que, independentemente dele, afetava um bem jurídico.
Crime de Omissão:
Só numa maioria de casos é que a lei, de forma integral, descreve os pressupostos factícos, de onde resulta o dever
jurídico de atuar. Na maioria, basta a clausula geral do art 10º/2
- É com base nisto que surge a distinção entre crimes omissos puros e impuros
Roxin: não tem correspondência num delito de ação - o delito correspondente de ação não existe
Parte especial referência expressamente a omissão como forma de integração típica, descrevendo os pressupostos
fácticos de onde deriva o dever jurídico de atuar
Nunca se pode dizer que a violação do dever de auxilio - art 200º CP - é uma fonte de posição de garante
Essa violação apenas é uma tipicidade da violação do dever de socorro.
- A posição de garante vem de uma autovinculação implícita
- Dever geral de auxilio não é fonte de posição de garante
Uma das questões levantadas em torno dos crimes de omissão imprópria tinha a ver com as exigências de
determinação típica - envolvendo a problemática da constitucionalidade
Cavaleiro de Ferreira - não é norma incriminadora constitucionalmente válida aquela cujo teor se apaga numa
clausula geral que remeta o seu preenchimento pelo julgador
Essa inconstitucionalidade podia pôr-se pelo art 10º porque não se afirmava por lei certa a realização mediante a
não levitação do resultado
É certo que as normas penais têm de delimitar claramente as proibições e permissões mas os elementos da
factualidade típica fornecem ao interprete e ao aplicado do direito uma base de partida razoável, nomeadamente
no que diz respeito ao caracter jurídico do dever de garante - Figueiredo Dias
Deveres de Garante:
Problema:
Principio da legalidade - nada na lei nos diz quais são os deveres de garante
FD - há 6 deveres de garante - mas o prof não é legislador
Os deveres de garante têm uma cláusula geral no art 10º/2 que deve ser interpretada de uma forma bastante
restritiva
Temos de ser exigentes, só podemos aceitar um dever de garante quando, em termos de valor e de censura,
comissão seja equivalente à ação
Supondo que há um comportamento penalmente relevante e entendemos que há uma omissão, temos em
seguida de ir ver se o agente tinha o dever de praticar alguma ação que omitiu - só assim é que a omissão poderá
ter relevância
Na procura desse dever de atuar vamos ver se é um dever de garante
A maior parte dos casos, os crimes parecem pensados para ações - como? - quem matar - pratica uma ação
Parece mais difícil incluir, à partida, o deixar morrer
Olhando para o art 131º parece que só cabe lá a ação de matar
O art 10º vem dizer que quando o tipo prevê uma ação adequada a um resultado, não só a está a prever como
também compreende a omissão da ação adequada a evitar esse resultado
Mecanismo para fazer equiparação da omissão à ação - que só funciona quando haja esse dever de garante
Homicídio por omissão é um crime de omissão impura - clausula do 10º que nos deixa equiparar a omissão à ação
mas só no caso de ter uma posição de garante
Conjuga-se o tipo da parte especial mas com o art 10º
Isto nunca acontece nos crimes de omissão pura cuja omissão está especificada no tipo!!
MFP - Tem de ser possível verificar, poder ler uma autovinculação da parte do agente - mesmo que seja
implicitamente - so assim se extrai a condição de juridicidade
FD - Relação de solidariedade como princípio genérico que explica as fontes de posição de garante
Proximidade existencial das pessoas
No meu viver da sociedade em relação com todos os outros se gere um dever de solidariedade que nao faz com
que haja sempre um dever jurídico em todas as situações.
1. Ingerência:
Na anterior intervenção geradora de perigos o sujeito é obrigado, como garante, a impedir a produção do
correspondente dano
Quem cria perigo tem o dever de impedir que este venha a converter-se em dano.
Casos em que alguém, com a sua conduta, pôs a vida de outrem em perigo.
Ainda assim, há quem tome posição contra, quem seja anti-ingerência.
A tendência é para lhe introduzir limitações - a ingerência lícita não é um molde para fundar um dever de
impedir um resultado.
Não bastará que o perigo seja adequado, é ainda necessário que ele tenha, ilícita ou inadmissivelmente
sido criado.
Não bastam perigos mínimos - o perigo de causar um prejuízo a outrem deve ser um perigo adequado
Caso da legitima defesa - No intervalo de tempo entre o 1º e o 2º momento fica a pessoa atacada com o
dever de evitar que essas lesões que se venham a repercutir no resultado morte?
Foi a pessoa que se defendeu que criou esse risco - será que faz dela um garante em termos de ingerência?
Pensa-se a ingerência para situações em que a pessoa perturba as esferas de liberdade - vai-se imiscuir na
esfera do outro - responsável para que essa interferência não se venha a repercutir em lesões na outra esfera
A doutrina tende a dizer que esta ingerência só se traduz num dever de garante quando a ingerência seja
- A pessoa empurra sem querer vê que empurrou e que a outra se está a afogar e vai-se embora aceitando que
ele pode morrer
Ação negligente de homicídio mas o 2º momento é diferente - omissão dolosa - dever de garante por causa da
ingerência e já prevalece o 2º momento porque o homicídio doloso por omissão é mais grave - art 123º +10º
Responsável por uma obra - tempestade - leva a que se deteriorem as condições da obra - não foi ele que fez
isso - mas ele é que é o responsável - se ele não faz nada e um dia cai alguma parte da obra e magoa alguém -
por omissão é responsável por aquele risco por ingerência, devido ao seu dever de garante
3. Laços Familiares
Laços familiares implicam deveres de garantia mas o âmbito em que isso ocorre não foi ainda estabelecido
com a necessária precisão
O núcleo fundamental assenta no vínculo natural dos pais com os filhos - relações de cuidado
Enquanto os filhos, por si só, são incapazes de sobreviver, têm os pais o dever de lhes prestar a colaboração
correspondente às suas necessidades
Nem todos aceitam que das relações conjugais derivam deveres de garante, mas do que não há duvida é
que qualquer dos cônjuges espera auxílio do outro e confia na sua proteção em situações de necessidade,
como coisa natural e justificada - os deveres conjugais determinam, pelo menos, o dever jurídico de ambos se
protegerem e ajudarem, de acordo com as suas forças, em caso de perigo de vida
Estes deveres conjugais relacionam-se com a estreita comunhão de vida e de perigos - relações com
características duradouras, por força da mutua confiança estabelecida
Já não se compreende tão bem um dever reciproco de proteção quando o casamento está desfeito e,
sobretudo, se os cônjuges fizerem vidas separadas.
O Professor Figueiredo Dias estabelece 2 critérios cumulativos para que as relações familiares constituam
deveres de garante:
- Existência de uma relação de proximidade afetiva - tal proximidade não precisa de ser física
- Existência de uma relação de dependência - o laço de consanguinidade não basta para existir o dever de
evitar resultados, um dever de garante - é necessário que haja dependência
5. Deveres de custódia
Caso da babysitter - encarrega-se de substituir os pais, que estão vinculados ao portador do bem jurídico por
um vinculo natural, mas que assume, do mesmo passo, deveres de garante para com a criança.
Se o serviço se inicia, a eventual nulidade do contrato não pode deixar sem efeito a posição de garante
Se o contrato que está por base nesta relação não a vinculasse por alguma razão, ela tinha na mesma a
posição de garante
7. Posições de Monopólio:
Divergência quanto à sua admissibilidade enquanto posições de garante
Taipa de Carvalho - inclui-as no dever geral de garantia, pois não deverá ser o facto de poderem ser vários ou
apenas um a salvar o bem jurídico que fará com que se deva afirmar apenas o dever de auxilio ou o dever de
garante.
Figueiredo Dias - Tal parece estar em contradição com a orientação doutrinária que apela à esfera de domínio
positivo do emitente
Só se pode aplicar subsidiariamente quando não estamos perante mais nenhuma posição de garante
possível
Pressupostos:
- Domínio fáctico absoluto - facilidade de intervir evitando a lesão do bem jurídico - não quer dizer que tenha
de lá estar sozinho, pode estar um grupo de pessoas desde que ele tenha toda a facilidade do mundo em
intervir - não quer dizer domínio exclusivo da situação
- Iminência do perigo - mesmo prestes a concretizar-se
- Desproporção entre o grau de esforço e o grau de perigo mínimo para o agente
Figueiredo Dias - Esta é uma posição de garante - lógica do solidariedade entre os membros da comunidade
Maria Fernanda Palma - Não deve ser vista como um tipo de fonte de posição de garante - Por muito
chocante que seja e que moralmente que exista esse dever, não há posição de garante pelo simples acaso da
pessoa ter passado por ali - não podemos exigir-lhe juridicamente que atue - podemos remeter estas
situações para a omissão do dever de auxilio enquanto omissão pura mas nunca para uma omissão impura,
por meio do art 10º.
Para a professora, não estamos perante uma posição de garante uma vez que a pessoa não se autovinculou de
nenhuma forma para tal
Pode gerar o dever geral de auxílio mas não uma posição de garante